O documento discute a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, seu objetivo de preparar alunos para o mercado de trabalho e contemplar as dimensões individual, social e profissional da aprendizagem. Também aborda as contribuições de Paulo Freire para a EJA, especialmente seu enfoque de reconhecer os educandos como sujeitos culturais.
1. O educando do EJA, realidade que o cerca e suas necessidades.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda é vista por muitos como uma
forma de alfabetizar quem não teve oportunidade de estudar na infância ou
aqueles que por algum motivo tiveram que abandonar a escola. Tendo como
principal objetivo a preparação dos alunos para o mercado de trabalho.
O EJA atende em sua maioria, trabalhadores mal qualificados, privados ao
acesso a cultura e aos bens sociais. Muitos tiveram que se afastar ou nunca
foram à escola, por iniciar precocemente no mercado de trabalho. Quanto ao
público mais jovem, estão em buscar alternativas de melhores condição de
emprego ou até mesmo a conquista do primeiro emprego, outros vêm em busca
do diploma escolar que ficou para traz em razão de repetências ou desistência no
ensino regular, ou ainda na intenção de ampliar a escolaridade.
O EJA contempla a aprendizagem contínua, que possui três dimensões: a
individual, a social e a profissional.
Na individual, considera a pessoa com ser capaz de construir sua própria
identidade, aprendendo sobre si e sobre o mundo.
Na vida social, um cidadão, para ser ativo e participativo, necessita ter acesso a
informações e saber avaliar criticamente o que acontece.
Na profissional se inclui a aprendizagem para o mercado de trabalho.
Existe uma grande vontade política de reduzir as estatísticas de analfabetismo no
Brasil, pois um país em desenvolvimento constante, não quer ter sua imagem
marcada por ter um número significativo de pessoas analfabetas.
O EJA tem grande importância no campo pedagógico, pois “a alfabetização
representa o alicerce do processo de Educação, o portal pelo qual é necessário
passar para poder continuar aprendendo”. (Timothy Ireland - Diretor do
Departamento de EJA do Ministério da Educação (MEC) de 2004 a 2007).
A Proposta Curricular para alunos do EJA
“Os produtos possíveis da educação escolar não se reduzem ao aprendizado da
leitura, escrita e Matemática” (MEC- proposta Curricular para o EJA 1º
segmento).
O aluno do EJA traz consigo uma bagagem de experiências que envolvem
conhecimentos e saberes vividos ao longo dos anos, e ainda sua própria leitura
de mundo. A atenção dos educadores deve aproveitar esse conhecimento para
valorizar as atividades do cotidiano, estabelecendo relação entre o senso comum
e a ciência.
Língua Portuguesa
A área de Língua Portuguesa abrange o desenvolvimento da linguagem oral o
desenvolvimento da escrita e leitura.
O modo de falar das pessoas analfabetas ou pouco escolarizadas é a expressão
mais forte de toda a bagagem cultural que possuem, de suas experiências de
vida.O trabalho pedagógico na área de Língua Portuguesa deve acolher a
diversidade, propiciando aos educando a ampliação de suas formas de expressão,
possibilitando- lhes o uso de modos de falar adequados a diferentes situações e
intenções comunicativas.
Quando a escrita, muitos alunos já conhecem algumas letras e sabem assinar seu
próprio nome, sendo assim, no processo de aprendizagem da língua escrita, é
preciso que o aluno consiga distinguir o funcionamento da representação das
letras e de que forma elas poderão ser utilizadas em diferentes textos e intenções
2. comunicativas.
A Língua Portuguesa tem como objetivo formar bons leitores e produtores de
textos, que saibam apreciar suas qualidades, encontrar e compreender
informações escritas e expressar-se de forma clara e adequada à intenção
comunicativa.
Matemática
Geralmente o aluno do EJA já consegue fazer alguns cálculos e medições,
embora ainda não domine os códigos matemáticos completamente.No dia a dia,
eles fazem compras, usam transporte público e trabalham na construção civil e
em outras áreas nas quais a Matemática está muito presente. Isso deve ser levado
em conta antes de planejar as atividades da disciplina, é fundamental para que
todos os estudantes aprendam, de verdade, a lidar com os conceitos e generalizar
os conhecimentos que possuem para empregá-los em outras situações.
Estudos da Sociedade e da Natureza
Todo o processo de iniciação dos jovens e adultos trabalhadores no mundo da
leitura e da escrita deve contribuir para o aprimoramento de sua formação como
cidadãos, como sujeitos de sua própria história e da história de seu tempo.
A proposta curricular para essa área, além de propiciar o acesso a informações
relativas às suas vivências imediatas, espera-se estimular o interesse dos alunos
por abordagens mais abrangentes sobre a realidade, familiarizando-os, de modo
bastante introdutório, com alguns conceitos e procedimentos das ciências sociais
e naturais, bem como oferecendo oportunidades de acesso ao patrimônio
artístico e cultural.
O que o aluno vai aprender nessa área?
A área de Estudos da Sociedade e da Natureza busca desenvolver valores,
conhecimentos e habilidades que ajudem os alunos a compreender criticamente a
realidade em que vivem e nela inserir-se de forma mais consciente e
participativa.
Assim ele aprenderá a recuperar sua autoestima, sua identidade pessoal e
cultural através da rememoração de suas histórias de vida, de seus projetos e
expectativas.Ao recuperarem suas histórias de vida, os alunos podem localizar
data e local de nascimento, os vários locais de moradia, motivos das mudanças
realizadas, situação familiar, vida profissional e escolar e tantas outras
informações relevantes.
Através dessas atividades, será possível ampliar as noções de tempo e espaço,
conhecer unidades de medida do tempo cronológico, de extensão e de área,
desenvolver habilidades de orientação e representação espacial, introduzir
conceitos relacionados à cultura, ao mundo do trabalho, aos processos
migratórios e à urbanização.
Essa também pode ser uma oportunidade prestar aos alunos informações sobre
os documentos pessoais (certidão de nascimento e casamento, RG, CPF, Carteira
Profissional, Certificado de Reservista etc.), suas utilidades e meios de obtenção.
O aluno vai aprender sobre o corpo humano e suas necessidades onde serão
destacados aspectos relativos à nutrição, reprodução e preservação da saúde,
visando fomentar atitudes positivas com relação à manutenção da qualidade de
vida individual e coletiva.
Propõe-se ainda que se abordem as necessidades das diferentes fases do
desenvolvimento, especialmente da infância, no sentido de promover uma
educação voltada à paternidade e maternidade responsáveis.
O aluno também vai aprender o conceito de cultura, pois ele permite
compreender o sentido dos atos humanos como frutos da convivência social a
fim de que entendam que a identidade dos diversos grupos sociais é garantida
3. pelo conjunto de conhecimentos, crenças, moral, costumes, leis e hábitos
desenvolvidos pelos seus integrantes. São esses elementos que lhes conferem
traços próprios, diferenciando-os de outros.
A cultura constitui dinamicamente a identidade dos povos e por isso mesmo é
mantida com zelo por eles. No trabalho com os alunos jovens e adultos esse
ponto precisa ser tratado com especial atenção. A constituição da identidade
nacional, algo construído cotidianamente, não pode ocorrer à custa da
eliminação das marcas de qualquer dos povos ou grupos que compõem a
sociedade brasileira. O respeito e a consideração pelo modo de ser do outro deve
ser desenvolvido como um valor constitutivo da democracia.
Enfim, o aluno aprenderá que a cultura é o modo como nos relacionamos com a
natureza à nossa volta e com a nossa própria natureza.
Paulo Freire e sua contribuição para a Educação de Jovens e Adultos.
“Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o
que ensinar, há sempre o que aprender”
Paulo Freire
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil começou a ganhar força na década de
40, com a luta dos educadores em favor da melhoria da educação nacional e da
criação de políticas públicas para acabar com a enorme porcentagem de
analfabetos no país.
Começou a desenvolver-se uma educação a partir de atividades de alfabetização,
dentro de uma concepção universal de ensino, que poderia ajudar os menos
favorecidos a participar da sociedade.
A partir dos anos 60 é que Paulo Freira e sua equipe de trabalho, apresentam
uma nova proposta de educação com um enfoque político, relacionado à
identidade cultural do alfabetizando no processo emancipatório de luta, na
procurade diminuir o distanciamento cultural e social do analfabeto, vivente de
um mundo letrado, na busca de seu espaço por uma vida melhor, que minimize a
violência cultural da exclusão, da discriminação, da opressão.
O desafio proposto por Freire era conceber a alfabetização de adultos para além
da aquisição e produção de conhecimentos cognitivos, mesmo sendo estes
necessários e imprescindíveis. A alfabetização e a educação de adultos deveriam
partir sempre de um exame crítico da realidade existencial dos educandos, da
identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de superá-los.
Além da dimensão social e política, os ideais pedagógicos que se difundiam
tinham um forte componente ético, implicando um profundo comprometimento
do educador com os educandos. Os analfabetos deveriam ser reconhecidos como
homens e mulheres produtivos, que possuíam uma cultura. Dessa perspectiva,
Paulo Freire criticou a chamada educação bancária, que considerava o analfabeto
rejeitado.
Discorrer sobre Freire não é apenas falar de um educador competente, coerente,
ético, de grandes contribuições na área educacional. É constatar, também, as
transformações ocorridas na linha pedagógico-administrativa, causadas pela sua
visão de mundo que não permite que a escola puna os que já sofrem pelas suas
condições precárias de vida.
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