Registrar historicamente a situação da Rede de Atenção Psicossocial de Osasco/SP e empoderar pessoas usuárias para participação social. Compartilhar conhecimentos entre usuários e produzir documentário sobre os problemas e soluções da rede. A experiência do Coletivo CLASSE LIVRE promoveu a participação de usuários em conferências e conselhos de saúde.
1. Manifesto! Pela Saúde Mental em Osasco/SP
Autores: Coletivo CLASSE LIVRE - Eduardo Real;
Eduardo Hess; Fabiana Medrado; Kleber Inocêncio;
Júlio Murça; Victor Alexander.
2. • Formação e Educação Permanente
para a participação social
• Educação popular em saúde,
mobilização comunitária, análises
situacionais de saúde em uma
perspectiva participativa
3. Ao final de 2021, contexto de pandemia, alguns de nós, pessoas usuáries da Rede de Atenção Psicossocial-RAPS do
Município de Osasco, começamos a dialogar sobre a questão da saúde mental em nosso território, provocades pelas
dificuldades que tínhamos em acessar os equipamentos e serviços de forma integral e pelo anúncio da 5° Conferência
Nacional de Saúde Mental, decidimos dialogar para além do consultório, sobre o sucateamento da Rede, falta de
equipamentos, falta de profissionais, pouco investimento, precarização do trabalho e atendimento, desinteresse e/ou
omissão política. Nossos encontros começaram a ser além das reuniões terapêuticas nos Centros de Atenção
Psicossocial-CAPS. Passamos a nos encontrar de forma espontânea, presencial e virtual e ao longo dos dias sentimos
grande necessidade de nos aprofundar sobre os problemas e buscar soluções de forma coletiva.
4. Então, nasce o Coletivo CLASSE LIVRE. O nome do coletivo parte da reflexão que, como classe trabalhadora,
adoecemos e sofremos com as mazelas do sistema capitalista que nos explora. Mesmo sistema que ao nos adoecer,
nos aprisiona e descarta, inclusive em manicômios. Portanto, o nome do Coletivo reflete primeiramente nossa
indignação, em segundo nosso desejo por uma sociedade sem exploração, com igualdade, sem manicômios e sem
prisões. Através do compartilhamento de saberes e práticas antimanicomiais e críticas ao sistema gerador do
sofrimento e aprisionamento, nosso Coletivo formou uma Rede de apoios para toda pessoa em sofrimento mental
que esteja nele ou fora dele, que quisesse lutar contra o desmonte da Rede de Cuidado em Liberdade. O primeiro
resultado desses encontros foi a construção de um documentário, amador, experimental, que refletisse o resultado
de nosso aprofundamento como usuáries da Rede sobre os temas.
5. A Rede de Atenção Psicossocial de Osasco enfrenta sérios problemas e isso afeta diretamente na vida de pessoas que
necessitam de um cuidado em saúde mental e nós usuários e usuárias dos poucos serviços prestados pelo município
sentimos na pele as dificuldades. Temos em nosso Município apenas 3 Centros de Atenção Psicossocial, todos na
região central ou próximo, sendo que deveriam ser pelo menos 10 equipamentos deste tipo. Quem mora na periferia
do município não consegue chegar, mesmo com indicação da Rede Básica de Saúde. Já nas Unidades Básicas de Saúde
faltam profissionais em Saúde Mental e estratégias de cuidado a quem necessita.
Temos um Pronto Socorro referência em saúde mental que funciona onde era uma cadeia e pacientes são atendidos
em celas de forma muito precária. Não temos leito em Hospital Geral e quando precisamos de internação ficamos a
mercê das Comunidades Terapêuticas, onde, além do "tratamento" ser prolongado, fora do território, carrega um
histórico de violências e violações aos direitos humanos. Ao mesmo tempo, principalmente nos últimos quatro anos,
assistimos além do desmonte intencional da RAPS, congelamento ou interrupção dos poucos investimentos em todo
tipo de equipamento público de cuidado em liberdade e grandes investimentos em comunidades terapêuticas.
Portanto, todo esse descaso, sentido principalmente por nós usuáries, justificou a mobilização e formação do Coletivo.
6. Registrar historicamente a situação da Rede
de Atenção Psicossocial Osasco e a
conjuntura nacional sobre Saúde Mental
Compartilhar conhecimentos entre
pessoas usuárias da Rede e divulgar os
resultados.
Apontar soluções de acordo com as
análise.
Utilizar o registro da situação da Rede
para comparação.
7.
8. Promoção da participação social no conhecimento e fiscalização das Políticas Públicas de Saúde Mental do
Município de Osasco, através do envolvimento de usuáries da Rede de Atenção Psicossocial no projeto
documentário Manifesto! Pela Saúde Mental Osasco, feito através de forma experimental, amadora, com
utilização dos próprios celulares dos participantes, da coleta de informações nas redes, de uma serie de
diálogos com trabalhadoras e outras pessoas usuárias.
Visitas guiadas aos equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial por usuáries de
outros equipamentos. Ex. Pessoa CAPS Álcool Drogas visita e conhece CAPS Adulto.
Aprendizado sobre a história da Rede de Atenção Psicossocial e Luta Antimanicomial
através de visitas palestras, livres temáticas, compartilhamento de material.
Oportunidade de inserção de usuáries em Conferências, Conselhos, Movimentos de
Luta Antimanicomial e Antiproibicionista e outros espaços de participação social.
9. Para sensibilização sobre o tema e as problemáticas diversas
pessoas , principalmente usuárias, foram convidadas a participar
inicialmente das rodas de conversa nos próprios equipamentos de
Saúde Mental. Após a formação do Coletivo foi criada página em
redes sociais para divulgação de posts criados pelos próprios e
interação com outros movimentos. Transversal foram realizadas
reuniões temáticas em diversos espaços, como por exemplo no
Albergue Municipal sobre Saúde Mental da População em Situação
de Rua ou virtuais, sobre a legislação referente ao SUS e RAPS.
Além disso, as pessoas que compunham tiveram oportunidade de
conhecer Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde.
10.
11. O primeiro resultado
alcançado foi o
documentário qual
nos propomos,
lançado na II
Conferência
Municipal de Saúde
Mental Osasco, nas
redes do Coletivo e
YouTube.
O segundo resultado
alcançado foi a
ampla divulgação da
problemática
enfrentada pela
população de Osasco
no campo da Saúde
Mental.
O terceiro resultado foi
a capacitação de muitas
pessoas usuárias para
construção de Políticas
Públicas em saúde
mental em espaços
como Conselhos e
Conferências de Saúde
O quarto resultado foi,
que através da produção
do documentário,
pessoas usuárias da Rede
e ligadas ao Coletivo
além de interagir com
outros movimentos,
foram eleitas delegadas
nas Conferências e
conselheiras de Saúde.
12. A formação do Coletivo CLASSE LIVRE e a produção do documentário
Manifesto! Pela Saúde Mental em Osasco Osasco/SP marcou em nosso
Município a Luta Antimanicomial e a luta contra o desmonte do SUS,
empoderando usuáries da Rede de Atenção Psicossocial para Participação
Social no debate e nos espaços de construção de Políticas Públicas em Saúde
Mental. Além disso, deixamos um registro histórico sobre o cenário municipal
num importante campo da saúde afim de reclamar melhorias.
13. Sim, consideramos a experiência inovadora pois
insere pessoas usuárias da Rede Pública de saúde
mental, público historicamente invisibilizado e
oprimido dentro de espaços, em espaços de
participação, controle social e as empodera para
além da crítica!
14. Esperamos que o documentário continue servindo ao propósito de
empoderar pessoas usuárias para, através do aprofundamento do
conhecimento da realidade local e Nacional, exerçam com plenitude
a participação e controle social na defesa do SUS, da RAPS e do
CUIDADO EM LIBERDADE.
Os desafios ainda são grandes, a Rede de Atenção Psicossocial em
nosso Município, Osasco/SP, do estado e nacionalmente, ainda
sofrem depois de terem sido severamente atacadas, enquanto
políticas de encarceramento, privação da Saúde e políticas de
desmonte foram amplamente incentivadas e precisamos ficar
atentos visando a reconstrução e fortalecimento do projeto de
Cuidado em Liberdade de pessoas em sofrimento mental.