O poema descreve a morte de um jovem soldado em uma planície abandonada. Simboliza a brevidade da vida através de objetos como uma cigarreira dada pela mãe e um lenço dado por uma criada. Conclui com o contraste entre as preces da família em casa e a dura realidade do soldado morto longe de casa.
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Análise do poema "O menino de sua mãe", de Fernando Pessoa - Ortónimo
1. No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado –
Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
“O menino da sua mãe”, de Fernando Pessoa – Ortónimo
Apresentação realizada por ----------- N.º9 12.ºD
2. No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado –
Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
1.ªParte
2.ªParte3.ªParte
Descrição realista do cenário: a planície e o soldado Discuso emotivo/valorativo: dor da família e juventude do rapaz
Conclusão dramática do poema: constraste entre
a realidade e as preces da família
Estrutura Interna
3. No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado –
Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
descrição espacial
descrição temporal
antítese
hipálage
descrição
do soldado
hiperbato
hipálage
hipálage
descrição
do soldado
descrição do
espaço e do
tempo
o soldado encontra-se debilitado/enfraquecido por estar
esváído em sangue
algo debilitado, sem força ou energia
1.ª Parte
adjetivação intensa frases declarativas
caráter meramente descritivo
desta 1.ª parte
• Presença das sensações táteis: “a
morna brisa aquece”;
• Presença das sensações visuais: “raia-
lhe a farda o sangue;
•
4. No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado –
Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
2.ª Parte
efemeridade
da vida do
soldado aparte; pergunta retórica
relação entre o
soldado e a sua
mãe
exclamações; perplexidade do suj. poético
ligação entre a
cigarreira e a mãe
contraste entre o
bom estado da
cigarreira e a morte
do rapaz
surgimento físico da
cigarreira
hipálage
Simboliza o
amor, o carinho
materno e a
efemeridade da
vida (através da
figura da mãe)
surgimento físico do
lenço
ligação entre o
lenço e a criada
hipálage
Simboliza o
carinho, a
proteção, a
pureza, a
inocência e a
brevidade da
vida (através
da figura da
criada)
• Acentuação do dramatismo
através do surgimento das
figuras da mãe e da criada e da
sua relação com a cigarreira e o
lenço, respetivamente
• Alternância entre o presente e o
passado: contraste entre a
angústia da morte e a felicidade
dos tempos em que o rapaz
estava junto da família
5. No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado –
Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
3.ª Parte
• Exclamações nos versos 27 e 28 servem para transmitir a dor, não só
da família, mas também do próprio sujeito poético.
• Pode-se traçar uma comparação entre o apodrecimento do corpo do
soldado (verso 29) com a degradação do Império pelo qual perdeu a
vida (verso 28).
• A substituição da expressão “arrefece” (verso 5) pela expressão
“apodrece” (verso 29) deve-se ao facto de, ao longo do poema, se ter
vindo a aumentar o dramatismo e, consequentemente, o realismo da
ação.
• Além disso, o verbo “arrefecer” remete-nos para um corpo morto,
ainda quente, que devido à morte, vai arrefecendo lentamente; em
contrapartida, o verbo “apodrecer” indica já o início da decomposição
desse mesmo corpo, o que comprova a passagem do tempo à medida
que a descrição prossegue.
acentuação do
dramatismo através das
preces vãs da família
acentuação do dramatismo
atribuição da culpa, por
parte do suj. poético, de
todo aquele dramatismo
governantes /
nação pela qual o
soldado perdeu a
vida
contraste entre as preces
e a inevitável realidade
surgimento do segundo espaço
da ação
6. Estrutura Externa
• Seis quintilhas;
• Versos hexassilábicos (seis sílabas métricas);
• Esquema rimático: a b a a b;
• Trata-se de um poema de base narrativa, com:
• Rima cruzada entre os 1.º e 3.º versos de cada estrofe;
• Rima interpolada entre os 2.º e 5º versos de cada estrofe;
• Rima emparelhada entre os 3.º e 4.º versos de cada estrofe;
• Rima pobre entre os versos 1 e 3 (“abandonado” e “trespassado”), por exemplo;
• Rima rica entre os versos 6 e 8 (“sangue” e “exangue”), por exemplo.
• Narrador: o sujeito poético (subjetivo; emite juízos de valor);
• Ação: a morte do soldado;
• Personagens: soldado, mãe, criada e Império;
• Espaço: “plaino abandonado” (verso 1) / “lá longe, em casa” (verso 26).
Ligação entre o poema e o autor (Fernando Pessoa)
Podemos, de facto, relacionar este poema com a própria vida de Fernando
Pessoa. Desta forma, o tema da infância enquanto idade perfeita e feliz, um paraíso
perdido e irrecuperável, poderá relacionar-se com os seus primeiros cinco anos de vida,
marcados pela felicidade, amor, bem-estar e proteção que a família lhe proporcionava:
vivia com a presença do pai, da mãe, das duas velhas criadas e da avó.
No entanto, o seu pai morre. Mais tarde morre o irmão, o que o faz sentir novamente
o amor e o carinho maternos. Apesar disso, esses sentimentos acabam por ser efémeros
visto que a sua mãe se apaixona por outro homem e ele terá que abandonar Portugal e ir
viver para a África do Sul.
Assim sendo, a morte do soldado poderá relacionar-se com a morte do pai ou
do irmão, e a angústia de querer voltar ao passado poderá relacionar-se com a
mesma angústia que ele sente ao desejar voltar a ter a sua família unida e feliz
como antigamente.
Características do Ortónimo
Ao longo deste poema, deparamo-nos com
características do ortónimo que são
transversais aos restantes poemas da sua
autoria.
A infância, por exemplo, símbolo da
inocência, da inconsciência, da felicidade e da
alegria – neste poema, simbolizados pela
cigarreira, pelo lenço e pelas representações do
passado vivido junto da família –, acaba por se
representar como algo longínquo e
irrecuperável, o que gera nostalgia e um
contraste com a consciência dos tempos de
adulto que provoca dor, bem como a
sensação de desconhecimento de si mesmo
e de perda da identidade.