Este documento discute conceitos semânticos como ambiguidade, deixis e anáfora na língua portuguesa. A ambiguidade ocorre quando um enunciado permite duas ou mais interpretações. A deixis aponta termos anteriormente mencionados na fala ou texto. A anáfora retoma termos anteriores para introduzir novas informações.
2. AMBIGUIDADE
Quando temos um enunciado que permite duas
ou mais leituras.
Ladrões inovam no ataque a mulheres em carro.
Leitura 1: ladrões atacam mulheres que estão nos carros.
Leitura 2: ladrões usam carros para atacar mulheres.
3. AMBIGUIDADE
Duquesa deYork diz que nobreza quer
manchar sua imagem
Leitura 1: duquesa diz que sua imagem está sendo manchada
pela nobreza.
Leitura 2: a nobreza quer sua própria imagem manchada,
segundo disse a duquesa.
Ana foi para a casa de Raquel e disse que vai
ficar lá para ir a uma festa da amiga dela.
Leitura 1: A festa será de uma amiga de Ana.
Leitura 2: A festa será de uma amiga de Raquel.
4. REFLEXÃO SOBRE AMBIGUIDADE
Você lembra de alguma experiência em que
você interpretou mal algo ou você foi mal
interpretado?
5. REFLEXÃO SOBRE AMBIGUIDADE
Quais as leituras que temos das orações
abaixo e como as desambiguamos?
Pelé critica futebol movido por dinheiro
A tarde, Salvador, 6.9.1994
Time pega Flamengo sem cinco titulares
FSP, 1.10.1996
Detido acusado de furto de processos.
FSP, 8.7.2000
6. DÊIXIS
Sua principal missão é apontar um termo
antes citado e saliente na situação.
Pronomes, artigos, alguns advérbios e o
tempo de alguns verbos;
Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
Junto com as outras?
Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir
alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no
lugar do outro dia.
7. DÊIXIS
Os dêiticos fazem com que retomemos um
termo antes citado.
Os dêiticos tem significadoTOTALMENTE
dependente de um referente.
Referente é o termo retomado.
Expõem algumas características do termo:
gênero, número, posição no espaço e vez no
discurso.
8. Equívocos
Luis FernandoVeríssimo
A Espada
Uma família de classe média alta. Pai, mulher, um
filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho
fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O
pai ajuda o filho a guardar os presentes que
ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e
sério, mas pensa: "É o cansaço." Afinal ele
passou o dia correndo de um lado para o
outro, comendo cachorro-quente e sorvete,
brincando com os convidados por dentro e
por fora da casa. Tem que estar cansado.
9. - Quanto presente, hein, filho?
- É.
- E esta espada. Mas que beleza. Esta eu não
tinha visto.
- Pai...
- E como pesa! Parece uma espada de verdade.
É de metal mesmo. Quem foi que deu?
- Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu
assim.
10. ANÁFORA
A anáfora tem a função de retomar um termo
anteriormente citado no texto (escrito ou oral).
Há algumas diferenças básicas entre dêixis e
anáfora: podemos dizer que os elementos
anafóricos retomam algo, mas os dêiticos
apontam um termo saliente no texto.
A anáfora pode introduzir novas informações e
pode ser dotada de algum sentido. Dêiticos não.
Anáforas podem ser feitas através de nomes,
pronomes, perífrases, numerais, advérbios
locativos, sinônimos e hiperônimos.
11. Terra de monstros
Luis FernandoVeríssimo
No seu livro, A história natural dos sentidos,
Diane Ackerman especula sobre o que um
visitante de outra galáxia pensaria do que
comemos. Se o extraterrestre resolvesse dar
um jantar de confraternização na nave-mãe
para representantes de todos os povos da
Terra, teria dificuldade em organizar o menu
e mais dificuldade ainda em conter a ânsia de
vômitos.
12. Sendo um ser perfeito que se alimenta só de
luz líquida, como todos os alienígenas
hipotéticos, nosso visitante não entenderia
como os alemães conseguem comer repolho
azedo com tanta alegria, por que os
americanos chamam o pepino estragado de
pickles e o comem com tudo, os franceses
esperam o peixe apodrecer antes de comê-lo
e os japoneses nem esperam o peixe morrer.
E por que todos se entusiasmam com um
fungo que chamam de champignon e entram
em êxtase com outro chamado "trufa", que é
encontrado embaixo da terra por porcos.
13. Mas o que realmente faria o extraterrestre
correr para o banheiro da nave seria descobrir
que os terrestres espremem um líquido
branco e gorduroso das glândulas mamárias
de um animal chamado "vaca" — e o bebem!
De volta do banheiro, nosso anfitrião talvez
se deparasse com um italiano destrinchando
um passarinho com os dentes e tivesse que
sair correndo outra vez.
14. O visitante não acharia nada de mais com o pão,
o alimento mais simples e são do homem. Mas
ouviria o alemão contar que o pão pumpernickel
tem este nome porque pumper quer dizer "pum"
e Nickel quer dizer o diabo, e que o pão é tão
duro que até o diabo solta puns ao tentar comê-
lo. Isto, aliado ao queijo bolorento e fedorento
que o francês trouxe para comer com o pão,
levaria nosso extraterreno a tomar uma decisão
súbita. Expulsar todo mundo da nave e voltar
voando para a sua galáxia translúcida, longe
destaTerra de monstros.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Terra de monstros
IN: _____ A mesa voadora. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2004.
15. OUTROS EXEMPLOS DE ANÁFORA
Sentenças ou períodos inteiros podem ser
resumidos em uma palavra;
Relações de sentido como sinônimos e
hiperônimos, perífrase, metonímia podem
retomar um termo;
16. ANÁFORA INDIRETA
Existem outras possibilidades de manter a
referenciação no texto através da anáfora
indireta.
Idéias muito próximas;
Elementos que se encaixam numa mesma
categoria;
Noção de “parte-todo” e “todo-parte”;
Esquemas cognitivos sequenciados.
17. BIBLIOGRAFIA
FERRAREZI JUNIOR, Celso. Semântica para a
educação básica: brincando com as palavras. São
Paulo: Contexto, 2002.
ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico:
brincando com as palavras. São Paulo: Contexto,
2002.
____________. Introdução à semântica: brincando
com a gramática. São Paulo: Contexto, 2002.
KOCH, IngedoreVillaça; ELIAS,Vanda Maria. Ler e
escrever: estratégias de produção textual;