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A influência da língua portuguesa nas línguas bantu faladas
em Moçambique: o caso da língua xichangana1
Alexandre António Timbane
Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Rosane de Andrade Berlinck
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Resumo. Moçambique tem uma grande diversidade linguística. No 3º Seminário da Padronização
de línguas bantu moçambicanas realizado em 2008 foram padronizadas ortograficamente 17
línguas de grupo bantu (Ngunga e Faquir). O português é a língua oficial, porém não é materna
para a maioria da população (Constituição). O português é falado especialmente por pessoas
escolarizadas e/ou por aquelas que moram na zona urbana. A língua xichangana é uma língua
bantu (a 2ª língua mais falada em Moçambique) que se modifica nos últimos anos, sobretudo a
nível lexical, fruto do contato com o português. A pesquisa objetiva conhecer e explicar as
influências português no xichangana. Através de corpus extraído em gravações de conversas
informais em xichangana e do levantamento lexical no Dicionário changana-português (Sitoe)
verificou-se como os empréstimos não só provêm do português, mas também do inglês e do
afrikaans. A integração ocorre ortográfico e foneticamente na maior parte dos casos e que esses
fenómenos não empobrecem, mas sim enriquecem o xichangana. Muitos empréstimos são
necessários, pois não existe o equivalente em xichangana porque retratam realidades novas,
resultados da expansão das novas tecnologias. Constata-se que há mudanças significativas nos
sobrenomes resultado do aportuguesamento.
Palavras-chave: Moçambique, Influência, Português, Língua Xichangana
Abstract. Mozambique has a great linguistic diversity. At the 3rd Seminar on the Standardization of
Bantu Mozambican Languages, in 2008, 17 languages of the Bantu group were standardized (Ngunga
and Faquir). Portuguese is the official language but it is not maternal for the majority of the
population (Constituição) Portuguese is spoken especially by educated people and/or by those living in
urban areas. The xichangana language is a Bantu language (the 2nd most spoken language in
Mozambique) that has changed in recent years, especially at the lexical level, due to the contact with
Portuguese. This research aims to understand and explain the influences of Portuguese in
xichangana. Through a corpus extracted in recordings of informal conversations in xichangana and
of the lexical survey in the Dicionário changana-português, (Sitoe) we established how linguistic borrowing
derives not only from Portuguese, but also from English and Afrikaans. The integration of
loanwords takes place orthographically and phonetically in most cases. These phenomena do not
impoverish, but rather enrich xichangana. Many loanwords are necessary as there is no equivalent in
xichangana. The loanwords portray new realities, resulting from the expansion of new technologies.
It is observed that there are significant changes in surnames resulting from Portuguesecizing.
Keywords: Mozambique, Influence, Portuguese, xichangana language
106 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
Moçambique (tal como todos países africanos) tem uma diversidade linguística
resultado da história da formação do povo africano, que é composta por etnias
e grupos populacionais com características distintas. Se África é ‘o berço da
humanidade’, segundo Diop, então é verdade afirmar que o ser humano surgiu e
logo inventou uma língua que serviu para a comunicação entre membros da
comunidade. Constituirá verdade afirmar que a língua é o espelho da cultura de
um povo e é através da língua que se transmite as regras de ser e de estar na
comunidade. Em Moçambique não foi exceção, pois o país conta com cerca de
vinte Línguas Bantu (LB) espalhadas pelas dez províncias que concorrem com a
Língua Portuguesa (LP), que tem o estatuto de língua oficial segundo a
Constituição da República de Moçambique, embora não sendo a língua materna da
maioria da população moçambicana, tal como os dados do Instituto Nacional de
Estatística de Moçambique de 2019 apontam. Para a presente pesquisa
adotaremos o termo ‘línguas bantu’ posicionando-se e apoiando os argumentos
de Dimande (s.p.) e Chimbutana (40) que defendem que a língua não pertence a
um único indivíduo (pessoa), mas sim a uma comunidade linguística (pessoas) e,
portanto, não se pode considerar o singular do género língua ntu que na tradução
seria ‘língua de (uma) pessoa’. O correto é ‘língua bantu’ quando quiser referir-
se a uma única língua, como por exemplo, o bitonga. Este é o singular. Quando
se fizer referência a várias línguas (plural) será ‘línguas bantu’ com o morfema do
plural na palavra ‘língua como já se viu, mantendo-se a palavra bantu2 pois ela
quer dizer apenas pessoas” (Dimande s.p.).
O termo ‘bantu’ é usado nos estudos da linguística africana para se referir a um
grupo de línguas compostas por cerca de 600 línguas faladas por pouco mais de
220 milhões de pessoas numa vasta região da África contemporânea, que se estende
desde o sul de uma linha que vai desde os Montes Camarões (a sul da Nigéria), junto
à Costa Atlântica, até a foz do Rio Tana, na República do Quênia, abrangendo países
da África Central e Austral (Ngunga, Introdução à linguística bantu 35).
A LP é falada especialmente por pessoas alfabetizadas e/ou por aquelas que
moram nas zonas urbanas. Mas também, o número de falantes da LP como
língua materna vem aumentando, segundo Gonçalves (4), fato que é
impulsionado pelo planejamento linguístico3 (Calvet 15; Severo 453) pela
educação inclusiva, massiva bem como do aumento dos meios de comunicação
tais como a rádio, o jornal, a televisão e a internet. Vejamos o crescimento de
falantes de línguas maternas, língua segunda e línguas bantu em Moçambique,
segundo dados dos censos populacionais de 1980, 1997, 2007 e 2017
apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique:
Quadro I: Crescimento dos falantes do português e das LB
Estatuto da
língua
% falantes em
1980
% de falantes
em 1997
% de falantes
em 2007
% de falantes
em 2017
Português L2 24,4 39 50,3 60,3
Português L1 1,2 6,5 10,7 16,5
Línguas bantu 98,8 93,5 89,3 81,2
Fonte: INE (64 e 68) e Timbane (A variação e a mudança lexical 36)
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 107
Os dados apresentados no Quadro I mostram o perigo que as LB correm ou
correrão ao longo dos próximos anos. De 1980 até 2017 houve uma redução do
número de falantes das LB como língua materna fato que consideramos ‘tendência
perigosa’ num espaço onde há valorização do português em detrimento das línguas
africanas. A política e o planejamento linguístico interferem e marcam a valorização
ou desvalorização das línguas. Mas as LB ainda resistem face à expansão da LP,
pois a língua materna mais usada ainda é o emakhuwa (26,3%) falada ao norte do
país4 do país por cerca de 5.307.378 pessoas; em segundo lugar está a língua
xichangana5 (com cerca de 11,4%) falada no sul por cerca de 1.660.319 pessoas e
em terceiro lugar, o cisena (com cerca de 7,8%), uma língua falada por 1.314.190
pessoas na região central6 de Moçambique. É preciso, reconhecer a existência
considerável da comunidade asiática radicada em Moçambique desde os tempos
da colonização. Esta comunidade é falante das línguas urdu e gujarati, para além
do hindi e do árabe utilizados nas religiões de origem asiática e no comércio. A
Índia tem 22 línguas, segundo Abbi (2012) e é muito provável que hajam imigrantes
falantes dessas diversas línguas indianas ao longo do vasto país que se estende
desde o Rio Rovuma até à Província de Maputo. A língua xichangana, que é objeto
do nosso estudo, é falada especificamente nas províncias de Maputo, de Gaza e
parte da província de Inhambane. Os limites linguísticos são diferentes de limites
políticos. Por isso a língua xichangana também é falada nos países vizinhos de
Moçambique: África do Sul e Zimbábue (Sitoe).
O número crescente de cidadãos alfabetizados (a maioria jovens) favorece
a mistura de línguas, providenciando em muitos casos mudanças linguísticas por
meio do processo de empréstimos vindos do português, inglês e afrikaans, entre
outras, para a língua xichangana. Uma das características comuns das línguas é a
capacidade de evoluir (perda/ganho de certos traços linguísticos) ao longo do
tempo, fato que não é mau, errado, feio, mas sim um destino normal de todas as
línguas vivas. São transformações que aparecem de forma discreta, quase
imperceptíveis e que mais tarde se generalizam em toda a comunidade linguística.
Nesta pesquisa, pretendemos explicar como o português empresta as várias
unidades lexicais para o xichangana bem como os processos da sua integração.
Será demonstrado como os tabus étnicos e os empréstimos podem influenciar
nas mudanças linguísticas dentro de um grupo linguístico.
O trabalho apresenta cinco seções tratando em primeiro lugar da situação
sociolinguística de Moçambique com maior incidência na língua xichangana e
destacando a origem, as variantes, a localização geográfica e as relações com a
LP. Debate-se sobre as várias teorias, com particular atenção para questões que
abordam as mudanças e as interferências linguísticas por meio de empréstimos
e estrangeirismos. Para além disso apresenta-se a metodologia, os resultados e
as considerações finais.
Contextualização sociolinguística
Segundo Labov, todo o sistema linguístico está sujeito a variação e a mudança.
Existe um sistema linguístico, que é virtual/abstrato onde cada falante busca as
108 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
regras da gramática assim como o vocabulário. O vocabulário está na
individualidade e o léxico está no sistema. Nenhuma língua em uso está isenta à
influência de fatores internos e externos à língua porque existe uma estreita relação
entre ela e a organização sociocultural. Em muitas sociedades, a língua tem um
valor mais importante até porque ela identifica um povo socialmente marcado. Os
vachangana (=povo dos changana; plural de muchangana)7 são um grupo étnico
localizado no sul de Moçambique que partilham a mesma cultura, hábitos e
principalmente a mesma língua. Os vachangana falam a língua xichangana; os varonga
falam a língua xironga; os vatswa falam língua xitswa e assim sucessivamente.
Os povos bantu são por natureza de tradição oral. As obras mais antigas
escritas em língua xichangana datam do séc. XIX com a elaboração das primeiras
bíblias e livrinhos de catequese e de orações. Nessa altura, a produção escrita tinha
como objetivo evangelizar e civilizar religiosamente povos africanos que eram
consideradas ‘selvagens’. O ensino colonial era obrigatoriamente feito em português
e o xichangana era conotado como “dialeto”. Era uma atitude preconceituosa que
visava inferiorizar o homem africano e sua língua/tradição, pois existe uma
diferença clara entre língua e dialeto sob o ponto de análise linguístico.
O período do desprezo pelas LB iniciou no período colonial e se estende até
trinta anos após a independência alcançada em junho de 1975. Foi em 1989 que
se realizou o 1º Seminário sobre a Padronização da Ortografia das Línguas
Moçambicanas liderado por docentes e pesquisadores da Universidade Eduardo
Mondlane-Moçambique. Antes desse período havia muita disparidade na
ortografia, tal como ficou demonstrado no exemplo da palavra xichangana
discutida na introdução deste trabalho. O 2º Seminário (ocorrido em 1999) trouxe
mais debates sobre os aspectos cruciais discutidos em 1989. O 3º e último
Seminário realizado em 2008 veio “sistematizar as experiências acumuladas desde
então tentado buscar consensos sobre os aspectos que ainda se revelavam
problemáticos” (Ngunga e Faquir 4). Segundo os mesmos linguistas, o xichangana
já é língua de ensino em 23 escolas a título experimental num sistema conhecido
como educação bilíngue, fato que consideramos positivo quando se fala em
preservação das línguas africanas e redução de reprovações que ocorrem pelo
fraco domínio do português como língua oficial e obrigatória nas escolas. De
referir que o xichangana é a língua materna de muitas crianças na região sul de
Moçambique com mais incidência nas zonas suburbanas e rurais. Antes de mais,
é necessário deixar claro qual é a origem do xichangana, sua localização geográfica
e o convívio com a LP.
A Origem da Língua xichangana
A maioria das línguas existentes no mundo estão classificadas e organizadas em
grupos, sub-grupos, famílias e sub-famílias. A maior parte das línguas africanas já
está classificada desde as décadas 50 e 60 descritas na sua maioria por europeus,
missionários e outros pesquisadores curiosos da época (Lyons). A língua
xichangana não podia fugir à regra e assim, ela nasceu das LB. A palavra bantu
significa “pessoas”. Segundo Greenberg, as línguas africanas se dividem em quatro
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 109
grandes famílias e subfamílias: Afro-asiática (Semítica, Egípcia, Cushítica, Berber e
Chádica), Nilo-sahariana (Songhai, Sahariana, Maban, Fur, Chari-Nilo, Koman),
Congo-kordofaniana (Níger-Congo, Kordofaniana) e Koi/San (Khoi, San,
Sandawe, Iraqw, Hatsa ou Hadza).
É da subfamília Niger-Congo que surgem as LB. Ngunga (Introdução à
linguística bantu, 50–53) mostrou que essas línguas receberam este nome devido a
existência de características comuns; entre elas se destaca: a) possuir um sistema
de gêneros gramaticais, em número não inferior a cinco; b) ter vocabulário
comum a outras línguas, a partir do qual se pode formular hipóteses sobre a
possível existência de uma língua ancestral comum; e c) ter um conjunto de
radicais invariáveis a partir dos quais a maior parte das palavras se forma por
aglutinação de afixos: uma estrutura básica do tipo consoante-vogal-consoante
ou ainda juntando-lhes sufixos gramaticais formam-se bases verbais.
As LB, segundo Guthrie, são classificadas em 15 zonas codificadas por
letras maiúsculas: A, B, C, D, E, F, G, K, L, M, N, P, R, S (ctd. in Ngunga,
Introdução à linguística bantu 45–54). Cada grupo de língua foi codificado por um
número decimal sufixado à letra do código da respectiva zona. Com o
mapeamento de Guthrie, Moçambique ficou abrangido por quatro zonas que
são: G, P, N, S. Assim, as línguas faladas em Moçambique ficaram distribuídas
da seguinte forma: Zona G: Grupo Swahile (G40), Zona P: Grupo Yao (P20),
Zona N: Grupo Nyanja (N30), Zona S: Grupo Shona (S10), Grupo Tswa-Ronga
(S50) e Grupo Copi (S60). Assim, a língua xichangana (S53) faz parte do grupo
Tswa-Ronga juntamente com Xitswa (S51), Xigwamba (S52), Xironga (S54). No
território moçambicano, o xichangana (S.53) possui cinco variantes, conforme
mostra o quadro a seguir:
Quadro II: Variantes do xichangana
VARIANTES LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
xihlanganu Distritos de Namaacha, Moamba e Magude
xidzonga Distritos de Magude, Bilene e parte de Massingir
xin’walungu Distrito de Massingir
xibila Distritos de Limpopo e parte de Chibuto
xihlengwe Distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala,
Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculo e Govuro
Fonte: Sitoe (7)
É preciso sublinhar que a localização não é clara, uma vez que os falantes se
deslocam constantemente de uma província para a outra ou mesmo de um distrito
para o outro devido a vários fatores. Esse deslocamento é justificado pela
instabilidade política, pela guerra e calamidades naturais que sempre assolaram
aquele país. Hoje, o xichangana tem empréstimos do português, do inglês, do
afrikaans e do isizulu (estas três últimas línguas oficiais na África do Sul). É
importante mostrar algumas particularidades do xichangana: Segundo resultados
110 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
do 3º Seminário da Ortografia das Línguas Moçambicanas, o xichangana tem 46
grafemas do alfabeto muitos deles inexistentes em português. Segundo Ngunga e
Faquir, há consoantes especiais como é o caso das “implosivas [ɓ] e [ɗ] que se
escrevem b’ e d’, respectivamente para se distinguirem das oclusivas [b] e [d] que
se escrevem b e d, respectivamente”. São exemplos de b’ava (pai), ku bava (ser
amargo), d’okomela (fruto) e faduku (lenço). Outro aspeto especial a considerar são
os cliques velar não-vozeado [!], velar vozeado [g!] e velar nasal [ɧ!] são grafados
como q, gq e n’q como nos exemplos:8 xiqamelo (travesseiro), n’gqhondho (juízo),
n’qolo (carroça). É frequente se ver a pré-nasalização nas consoantes b, f, p e v:
mpumga (arroz), mbuti (cabrito), nfenhe (macaco), mpsandla (rã), mvhuche (carvão em
pó), mpfula (chuva).
Durante muitos anos (décadas 60, 70 e 80) muitos moçambicanos
deslocavam-se para África do Sul, com objetivo de obter emprego nas minas de
ouro e de carvão. Na região sul do país era tradição que os jovens fossem trabalhar
nas minas antes do casamento. O regresso desse grupo moçambicanos das minas
da África do Sul (na maioria homens e jovens) trouxe mudanças bruscas do
xichangana principalmente nas províncias de Maputo e de Gaza. Sitoe apresentou
que 13,5% de verbetes eram empréstimos: 385 do português, 243 do zulu, 167 do
inglês e 83 do afrikaans. Os dados aqui apresentados resultam da nossa pesquisa
que consistiu na contagem desses itens lexicais para se chegar ao resultado
apresentado. A maior parte desses empréstimos preenchem lacunas lexicais para
descrever realidades novas ou mesmo antigas. Mas também há casos de abandono
de palavras já existentes em xichangana.
Relações entre o português e o xichangana no mesmo espaço geográfico
A LP, por ter estatuto de língua oficial, tem muito prestígio em Moçambique,
principalmente nas zonas urbanas. O português não escapa às interferências das
LB, tal como explica Ngunga (“Interferências de línguas moçambicanas” 7–20).
Ainda sobre os estrangeirismos e os empréstimos linguísticos no português
falado em Moçambique, há que salientar o trabalho de Timbane que explica
como as unidades lexicais vindas do inglês e das LB se integram no português
formando o que se denomina por Português de Moçambique.
O português é falado por uma minoria, o que leva com que as pessoas sintam
necessidade de usá-la em situações oficiais para se beneficiar dos serviços públicos,
como é o caso de cartórios, bancos, ministérios entre outros. As crianças das
regiões rurais só falam o português na escola, na sala de aulas com o professor,
reservando o xichangana para comunicações do dia a dia, nos trabalhos domésticos
até na comunicação com colegas da turma. Nas conversas informais, fora do
recinto escolar, as crianças usam o xichangana que é a língua materna. Segundo
Timbane, nas cidades o cenário é bem diferente, pois “as crianças da cidade falam
a LP em casa em 92,4%. Isto quer dizer que os pais ensinam português às crianças
desde a tenra idade” (O Ensino da língua portuguesa). Essa situação é oposta às regiões
rurais, daí o impacto o fracasso escolar causado pela obrigatoriedade do uso do
português (Timbane, O Ensino da língua portuguesa na 1ª classe 65).9
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 111
A política linguística10 determinou as funções de cada uma das línguas na
sociedade: o português como língua de prestígio e as línguas bantu sem nenhum
estatuto. Cada uma das línguas atua no devido lugar segundo situações. Por
exemplo, em discursos políticos junto às povoações rurais da etnia vachangana há
obrigação de existir um tradutor ou intérprete para fazer chegar a mensagem à
população. Por vezes alguns líderes políticos, em momento de campanha eleitoral,
se sentem ‘obrigados’ a falar xichangana como forma de mostrar sua identidade e
sinal de pertença junto aos eleitores. No comércio formal e informal é frequente
ouvir mais xichangana do que português. A Rádio Moçambique possui em cada
província um emissor provincial que transmite seus programas em línguas locais
fato que consideramos positivo na divulgação das línguas bantu. Outro caso mais
interessante a observar é dos moçambicanos de origem asiática (mais conhecidos
como monhés) que se sentem estimulados à aprender xichangana para melhor se
comunicarem com os clientes falantes desta língua. Na província e na cidade de
Maputo, comerciantes nigerianos e de outras nacionalidades aprendem xichangana
para que possam interagir com seus clientes na maioria falantes do xichangana.
Não se pode distanciar a língua da cultura e do meio ambiente envolvente.
Os estudos das relações entre língua e meio ambiente (ecolinguística)
discutidos com pormenor por Sapir, Calvet (Pour une écologie des langues), Couto, e
Mufwene mostram como o espaço geográfico e ambiental influenciam nos usos
linguísticos. Os ecossistemas natural, mental e social interagem entre si,
criando relações que se dão entre indivíduos pertencentes a um povo que se
localiza num espaço/território. Isso significa também que o “ecossistema
linguístico local (comunidade de fala) em que se dá a ecologia da interação
comunicativa é constituído por qualquer agrupamento de pessoas (P) que
convivam de modo duradouro em determinado espaço (T) e que interajam (L) e
até em comunidade de comunicação” (Couto et al.). Desta forma o sotaque
moçambicano é influenciado pelas línguas locais, o léxico é influenciado pelos
contextos específicos daquele povo havendo decalques e transferências das LB
para o português formando o que Timbane designa por português de
Moçambique (Que português se fala em Moçambique?). Por exemplo, as palavras
cacana (prato feito à base de momordica balsamina), matapa (prato feito à base de
folhas de mandioca), massala (fruto da árvore strychnos spinosa) não são
conhecidas no Brasil, do mesmo modo as palavras jaburu, gambá, mamão,
pocan, pé de moleque são desconhecidas em Moçambique.
O léxico de uma língua, segundo Sapir, reflete o ambiente físico e social dos
falantes (44). Sapir dá exemplo dos índios nutka habitantes de uma tribo costeira
que possuem termos específicos para nomear diversas espécies de animais que
habitam naquele espaço. O estudo apresentado por Quiraque analisa a estrutura
morfo-lexical de provérbios em língua tewe e suas estratégias de (não)
correspondência no português usado no Brasil revelou que o meio social em que
a comunidade linguística está inserida influencia na criação dos provérbios.11 Os
provérbios só ‘fazem sentido’ quando interpretados dentro do contexto social,
cultural e ambiental próprios.
112 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
A variação linguística nas línguas naturais e os empréstimos lexicais
A variação e a mudança linguísticas
Descrever fenômenos linguísticos de uma determinada língua sem ter em conta o
contexto sócio-cultural pode se tornar perigoso. A língua e a cultura se
complementam porque a língua é, por excelência, uma instituição social e,
portanto, ao se proceder a seu estudo, é indispensável que se leve em conta
variáveis extralinguísticas, socioeconômicas e históricas – que lhe condicionam a
evolução e explicam, em parte sua dialetação regional e social (Bortoni-Ricardo 31).
Concordamos com a perspectiva de Bortoni-Ricardo, pois os contextos sociais
comparticipam na variação e na mudança das línguas aos níveis: fonético-
fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical e estilístico-pragmático. Há
que considerar vários fatores que comparticipam na variação: a origem geográfica,
o status econômico, o nível de escolaridade, a idade, o sexo, as redes sociais,
mercado de trabalho entre muitos outros.
A sociolinguística, segundo Joyce,
revela o papel ativo da língua na formação do grupo social e das identidades
individuais. Ela indica também de que forma os fenômenos linguísticos são realidades
sociais, o resultado de mudanças sociais que ambos refletem e moldam”. (209)
Isso significa que não existe uma língua que seja um sistema uno, invariado
e rígido. Para Rodrigues, todas as língusa comportam variações de duas ordens:
em função do falante e em função do ouvinte (11). Quando Rodrigues fala de
função do falante refere-se às variantes espaciais, variantes de classe social,
variantes de grupos de idade, variantes de sexo e variantes de gerações. A segunda
função se refere à variação de formalismo, de modalidade e de sintonia.
Naro fundamenta que não é necessário que seja especialista em línguas para
perceber que as línguas mudam. Basta comparar o português e o latim para
notarmos as diferenças em todos níveis. Muitos linguistas provaram que as línguas
não são estáticas. Paiva e Duarte mostram que a predominância de uma
determinada variante linguística na fala de pessoas coloca o pesquisador frente a
duas possibilidades: instalação gradual de uma nova variante na língua ou;
diferenciação linguística etária que se repete a cada geração. Quer dizer, os falantes
de uma língua alteram seu comportamento linguístico ao longo do seu percurso da
vida, sem que se observem alterações no sistema (179).
Bagno parte em defesa da “mudança linguística” afirmando que “toda
língua muda com o tempo”, ou melhor “os falantes mudam a língua o tempo
todo” (41–42). O autor defende ainda que não existe língua sem falantes, por
isso “não é a língua que muda […] são os falantes, em sociedade, que mudam a
língua. E essa mudança não é para melhor, nem para pior: é mudança
simplesmente” (42). O português brasileiro é diferente do europeu porque a
variedade brasileira resulta da miscelânea de línguas africanas, línguas europeias
e línguas indígenas.
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 113
As mudanças não ocorrem por acaso. Elas são resultado da interação entre
mecanismos cognitivos que processam a linguagem dentro do nosso cérebro e
fatores sociais ou culturais. A forma como se fala o xichangana atualmente não está
errada, nem tão pouco. Os falantes inseridos da sociedade criaram essas novas
formas para sua língua. Lyons, por exemplo, se limita a mencionar quatro
processos que ilustram a mudança. Ele mostra que as mudanças podem ser
explicadas por processos de assimilação (transformação de sons idênticos ou
semelhantes a outros, em função de situação ou modo de articulação); haplologia
(perda de uma ou duas sílabas foneticamente semelhantes em uma seqüência),
analogia e empréstimo (194). O autor acrescenta que “um dos sintomas desse
processo de mudança linguística é o que se chama comumente de hipercorreção”
(23). As mudanças lexicais que apresentaremos neste trabalho são hipercorreções
que ocorrem na fala da classe média e frequentemente na de pessoas instruídas. Os
empréstimos em estudo aparecem exclusivamente com pessoas que têm noções
básicas da LP e incorporam-nos na língua xichangana originando esse fenómeno.
Apoiando-nos em Weinreich et al, afirmamos que a mudança linguística
começa quando “a generalização de uma alternância particular num dado grupo da
comunidade de fala toma uma direção e assume o caráter de uma diferenciação
ordenada” (125–126). Na verdade, a generalização da mudança linguística através
da estrutura linguística não é uniforme nem instantânea. Ela envolve a covariação
de mudanças associadas durante substanciais períodos de tempo, e está refletida na
difusão de isoglossas por áreas do espaço geográfico.
Temos que considerar três tipos de interferências numa língua: interferências
fônicas, interferências sintáticas e interferências lexicais. As interferências são, na
verdade, casos isolados (individuais). Acontecem de forma particular enquanto os
empréstimos estão no coletivo. Calvet sustenta que essas interferências passam a
ser empréstimos quando a comunidade linguística consente e aceita aquelas
interferências que partiram de um indivíduo (Sociolinguística: uma introdução crítica 39).
Os empréstimos que serão apresentados nesta pesquisa revelam ainda esse
dinamismo que as línguas possuem em diferentes grupos sociais.
Limites de línguas naturais
Os limites geográficos são diferentes dos limites linguísticos em África. Por
exemplo, a língua swahili (língua do grupo bantu) para além de ser falada em
Moçambique também é falada na Uganda, na República Democrática do Congo,
nas zonas urbanas do Burundi e de Ruanda, no sul da Somália, na Zâmbia, no sul
da Etiópia, em Madagáscar e nas Ilhas Comores (Whiteley 12). É língua oficial do
Quênia, Tanzânia e Uganda. O xichangana, que é objeto de estudo, também é
falado na Suazilândia, no Zimbábue e na África do Sul.
As línguas sempre têm limitações dependendo dos contextos sociais e
culturais em que estão inseridas. Por exemplo, em português não tem palavra para
se referir a uma cerimônia de evocação dos antepassados (ku pahla). Em xichangana
não existe uma palavra para designar “garfo.” São limites que são superados através
do processo de empréstimos e estrangeirismos lexicais.
114 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
Calvet defende a existência de milhares de línguas que permitem diariamente
a milhões de falantes comunicar-se de maneira satisfatória em seu ambiente social
tradicional, mas que são incapazes de assegurar uma comunicação científica (As
políticas linguísticas 65). Isso acontece porque as línguas vão se adaptando sempre
segundo as condições sociais, econômicas, políticas, culturais e até econômicas dos
seus falantes. Essas condições aceleram o surgimento do novo léxico e outras
variações e mudanças que dão novo rumo à língua. Isso ainda obriga a intervenção
de políticas linguísticas que decidem equipar a língua para ser utilizada na
Matemática, Química, Biologia, Informática, entre outras áreas.
A língua xichangana também tem muitas limitações sobretudo nas áreas de
ciências e tecnologias. O estatuto de língua regional deixa-a impedida de “evoluir,”
pois é de menor relevo para os falantes. Poucos se interessam (principalmente
políticos) pela promoção, ensino, desenvolvimento e manutenção das línguas
autóctones. Há pouca literatura em xichangana, pois os falantes têm uma cultura
oral (oratura), além disso, o nível de escolaridade dos falantes é limitado.
Empréstimos e seus tipos
Bloomfield define empréstimo como “adoção de traços lingüísticos diversos dos
que pertencem ao sistema que recebe” (ctd. in Bonatti 79).12 O empréstimo pode
resultar de condicionamento social ou geográfico, como pode ser feito de simples
contato. Define-se por empréstimo, o processo de entrada de palavras,
expressões ou ideias provenientes de outras línguas. Na verdade, por esses
processos a língua se adapta a novas situações de cultura ou procura dar maior
expressividade à comunicação. O fenômeno aconteceu/acontece no português
do Brasil. Vários exemplos de palavras ilustram como a LP falada no Brasil
emprestou palavras do inglês e de línguas indígenas. Mas é preciso sublinhar que
os estrangeirismos não ocorreram apenas do inglês só. Ilari mostra que o
português do Brasil emprestou também do francês, do italiano, do alemão, das
línguas africanas e das línguas indígenas brasileiras (73).
As palavras drinque, deletar, logar, escanear, printar e craque são alguns
exemplos de empréstimos provenientes do inglês: drink, login, scanner, print e crack
respectivamente, unidade lexicais no português do Brasil e que sofreram
adaptação gráfica. As unidades lexicais marketing, pendrive, ranking, show e game são
estrangeirismos, pois estas foram emprestadas do inglês sem sofrer alguma
alteração na sua ortografia nem fonética (Timbane, “Os estrangeirismos e os
empréstimos”. O mesmo acontece com palavras latinas mais usadas no
português atual (campus, curriculum, dominus, bônus, corpus) que até preservam a sua
gramática (plural campi, curricula, domini, bônus, corpora). Os empréstimos e os
estrangeirismos podem ser necessários (quando não existe seu equivalente na
língua de chegada) ou de luxo (quando existe seu equivalente, mas usado por
razões de estilo/prestígio). Segundo Preti, “a língua oral é a mais suscetível de
expressar variações e nela os critérios de aceitabilidade social são mais elásticos.
Principalmente a nível lexical […] e a dinâmica sociedade contemporânea é bem
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 115
expressa na transformação do léxico, não só na criação neológica dos vocábulos
científicos, mas principalmente, na linguagem coloquial” (53).
É nessa esfera que os empréstimos ocorrem, de forma consciente ou não
marcando assim um futuro da língua bem diferente. Na verdade, o léxico de uma
língua, “tende a renovar-se e a ampliar-se, em decorrência de contatos linguísticos
e interculturais e de necessidades de nomeação de novos referentes da realidade
circundante, como também pode manter-se conservador em comunidades isoladas
geograficamente e pouco expostas a avanços tecnológicos, a meios de
comunicação de massa” (Isquerdo 11).
A ação dos empréstimos afeta muitas vezes as duas línguas. Enquanto, os
empréstimos do português afetam a língua xichangana, o xichangana afeta a LP,
fato demonstrado por Ngunga (Interferências de línguas moçambicanas) e Ngunga e
Simbine. As línguas são dinâmicas e “não há barragem nem represa capaz de
impedir o fluxo da língua, seu avanço, suas modificações enquanto houver gente
falando uma determinada língua, ela sofrerá variação, modificações,
transformações e mudanças” (Bagno 157). O empréstimo lexical por vezes, tem
a função de preencher a lacuna de um significante quando a comunidade
lingüística recebe um novo significado. As línguas de países cultural e
cientificamente mais desenvolvidos contribuem com maior número de
empréstimos às demais línguas do mundo porque tais empréstimos acompanham
os novos avanços atingidos nesses países e exportados ao resto do mundo.
Metodologia
Segundo Paiva e Duarte há duas maneiras para o estudo da variação: tempo real
de longa duração e tempo real de curta duração (182–190). O método de análise
de fenômenos linguísticos em “tempo real de longa duração” se caracteriza pela
observação controlada de fenômenos no período temporal: décadas, séculos, etc.
Pode-se observar diacronicamente. O segundo método, que é “o tempo real de
curta duração”, foi o mais adequado para o nosso estudo. Recolhemos vocábulos
em conversas de 10 jovens (sendo 5 do sexo masculino e 5 feminino) de 15 a 25
anos e de 6 adultos (2 homens e 4 mulheres) de 50 a 60 anos. A razão da escolha
dessas idades se deveu a teoria de que o “processo de aquisição da linguagem se
encerra mais ou menos no começo da puberdade (15 anos) e que a partir desse
momento a língua do indivíduo fica essencialmente estável” (Naro 44).
É preciso sublinhar que homens e mulheres não falam da mesma maneira.
Segundo Paiva, para além do timbre e altura da voz, há ainda aspectos culturais,
políticos e sociais que diferenciam a fala do homem com a da mulher em várias
sociedades (33). É importante incluir neste leque, os tabus e mitos, pois também
comparticipam muito na mudança linguística. Paiva conclui que “as diferenças
mais evidentes entre a fala de homens e mulheres se situam no plano lexical” (33)
Nessa perspectiva, a autora mostra que as mulheres não trariam muitos assuntos
importantes relativos a mudança lexical no xichangana. Os povos falantes de
xichangana são da linhagem patrilinear, daí o domínio do homem com relação à
mulher em toda a região sul de Moçambique, o que significa que as mulheres se
116 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
comunicam mais no contexto familiar somente. Esta é a razão pela qual preferimos
“trabalhar” só com homens nas nossas pesquisas. Questões de tabus, mitos
também interferem em estudos linguísticos. Foi um estudo qualitativo onde
pudemos comparar léxicos de épocas diferentes.
Apresentação e discussão dos dados
O léxico da língua portuguesa no xichangana
O léxico é a face mais visível da língua e é através dele que se constrói frases e/ou
discursos. Os traços culturais de uma comunidade linguística se refletem no léxico
utilizado que por vezes é intraduzível, pois é específico. O léxico fica armazenado
no sistema e cada falante busca palavras para formar o seu vocabulário. Observa-
se que realidades inexistentes na língua são emprestadas de outras línguas sem
prejuízo do sistema, pois isso está previsto. Prestemos atenção ao Quadro III. Ele
mostra as unidades lexicais recolhidas do xichangana falado por jovens e adultos
com menos de 50 anos.
Quadro III: Empréstimos do português no xichangana
A escrita de palavras neste quadro procurou-se aproximar à fonologia. Esse
posicionamento resulta do fato de que as palavras são de origem estrangeira e ao
chegar no xichangana se integram adaptando elementos fonológicos e gráficos.
Olhando para a primeira coluna, parecem palavras do português. Mas estas
palavras são do xichangana e algumas delas já registradas no Dicionário changana-
português de Sitoe. No quadro III pode-se notar facilmente que o xichangana
Xichangana Português
(europeu)
Xichangana Português
(europeu)
panelà panela obrà obra
ku passarà passar (engomar) mangà manga
sopà sopa lixù lixo
tintà tinta gàràdè grade
pawù pão padirinyù padrinho
ku vhotà vota mategà manteiga
sumù sumo bankù banco
sobirinyù sobrinho vizinyù vizinho
saladà salada operaçawù operação
fofu fósforo fugawù fogão
peresù preço sinorà cenoura
panù pano sã maçã
xitaratù estrada uvhà uva
paratù prato titiya titia
papayà papaia lapì lápis
papelà papel selularì celular
pedererù pedreiro komputadori computador
orù ouro ku batizarà (ou ku
babatisa)
batizar
fotù foto ku gozàrà gozar
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 117
emprestou muitas palavras do português. Essas palavras não existiam no léxico
do xichangana antes da chegada dos portugueses. Por exemplo, o objeto
correspondente à “panela” já existia no vocabulário dos falantes do xichangana
há muito tempo e se chamava mbità. A palavra mais usual nos tempos de hoje é
panelà (empréstimo de luxo) ao invés de mbità, a palavra original nesta língua. Um
outro exemplo que ilustra o mesmo fenômeno linguístico é do objeto
correspondente a “prato” na LP. Antigamente, chamava-se ngelò e hoje é mais
comum pronunciar-se paratò. Hoje, ngèlò é reservado para “prato feito de
madeira” (com característica tradicional) e pàràtò para o mais convencional (de
vidro, de alumínio, de barro ou outro material que não seja madeira. É preciso
ressaltar que a estrutura silábica é consoante-vogal (C-V-C-V-) o que faz com
que na palavra “prato” do português seja pronunciado e escrito assim: paràtò em
xichangana. O mesmo acontece com: tamborì (tambor), pirimò (primo), garàdè
(grade), etc.
As palavras como hàhànè (tia), muyakelànè (vizinho), nsilà (lixo) também são
pouco usadas nestas últimas décadas e são substituídas por titiyà, vizinyù e lixù
respectivamente emprestadas do português. A presença do prefixo ku- nos
verbos kupassara, kuvhota, kubatizarà e kugozara se justifica pela marcação do
infinitivo dos verbos na língua xichangana. Os radicais desses verbos serão passar-
, vhot-, batizar- e gozar-. O “a” final em todos os verbos se chama ‘vogal final’.
Aqui temos exemplos da integração dos verbos no xichangana. As mudanças
começam assim, de forma simples, discreta e depois ganham forma e consolidam
provocando o fenômeno da desneologização.
Empréstimos de palavras do português para o changana
Empréstimo da preposição “leswakù” (para). Segundo Cunha e Cintra a preposição
“para” na LP tráz noção de movimento onde há “tendência para o limite,
finalidade, direção, perspectiva. Distingue-se de a por comportar um traço
significativo que implica maior destaque do ponto de partida com predominância
da idéia de direção sobre a do término do movimento”
Na língua xichangana, “para” significa leswakù. Com o contato entre o
xichangana e o português, criaram-se interferências que resultaram no desuso da
preposição leswakù que foi substituída por “pàrà”. Por exemplo: “Estude muito
para que tenha sucesso.” Corresponde em xichangana a Dondza ngopfu leswakù
u ta hùmelela. Mas agora as pessoas falam assim: dondza ngopfu pàrà u ta humelela.
O “pàrà” hoje é mais frequente entre os falantes do changana.
Mudança do verbo “poder”. É frequente ouvir nos falantes de xichangana, o emprego
do verbo poder, exclusivamente nas frases interrogativas.
(1) Podi ni teka pawu? (Posso levar pão?)
(2) Podi ni famba nayè? (Posso ir com ele?)
(3) Mina na teka bòmù. Podi? (Eu levo o limão. Posso?)
118 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
Este podi vem claramente do verbo poder na forma imperativa (posso?) do
português. Não é flexionado como verbo em xichangana, mas, sim, é uma
partícula que inicia a interrogação. Serve para introduzir uma frase interrogativa
ou um questionamento.
Mudança de substantivo “sèkwà” (pato). Observemos a frase seguinte: Teka a patù
ledzì (ou lerhi)! que significa “Leva este pato” no português. Repare que a palavra
patù utilizada na frase em xichangana tem o seu sinônimo nessa língua. O “pato”
em xichangana chama-se sèkwà, mas os falantes já não usam essa palavra,
preferindo assim empréstimo de palavra do português. A frase deveria ficar
assim: Teka a sèkwà ledzì. Mesmo os idosos utilizam a palavra sèkwà raramente.
Esse exemplo da palavra sèkwa extraída do Dicionário changana-português (Sitoe
207) mostra como os empréstimos do português enriquecem as línguas bantu
moçambicanas. A vinda de palavra do português para as línguas bantu
moçambicanas é um processo normal que ocorre em todas as línguas em uso.
Mudança da preposição “kuyatlasà” (até). Precisamos deixar claro que kuyatlasà (ou
kuyafika) corresponde à preposição até em português. É uma preposição
formada a partir do prefixo ku- que faz réplica nos verbos y- e tlas- , isto é, kuya
(ir) + kutlasa (chegar). Fica fácil compreender esse fenômeno se pensarmos em
xichangana porque se pensarmos em português não faz sentido porque
*irchegar não pode ser preposição. Vejamos os exemplos a seguir:
Ex.1: Hina hi ta famba kuyatlasa Maputo (Nós iremos até Maputo)
Ex.2: Langusela m’pfula kusukela ka nweti ya dzivamisoko kuyatlasa ka mawuwani (Aguarde
a chuva desde o mês de abril até julho)
A preposição kuyatlasa é usada para indicar a distância (Ex.1) e o tempo
(Ex.2). Hoje, os falantes mais jovens do xichangana já não usam essa palavra,
mas sim a palavra emprestada do português até. Vejamos a frase: Hina hi ta famba
atè Maputo (Nós iremos até Maputo). A preferência pelo empréstimo vindo
português se justifica pelo prestigio que o português e pelo estilo. Trata-se de um
empréstimo de luxo, uma vez que existe a palavra correspondente em
xichangana, mas os falantes integraram a palavra estrangeira até, fenômeno que
enriquece e nem prejudica a língua.
Que fique clara a ideia de que o uso da preposição apresentada no parágrafo
anterior é diferente do uso nos casos do verbo ir no infinitivo+infinitivo= fim
ou objetivo (intenção) como por exemplo: ku ya twa (ir ouvir), ku ya tsema (ir
cortar), ku ya vona (ir ver), ku ya phasa (ir pescar), ku ya lhota (ir caçar), ku ya hinguela
(ir ouvir) que também ocorrem nesta língua. O importante é pensar em
xichangana e descrever sem fazer comparações (nem traduções) a partir de
línguas europeias.
Mudança de substantivo “xivhimbò” (tampa). Às vezes, o desconhecimento do léxico
da língua xichangana, faz com que os falantes recorram ao léxico do português
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 119
para completar suas frases/ideias. Um exemplo mais comum é o da palavra
xivhimbò. Só os mais idosos é que conhecem esta palavra. Jovens e adultos com
menos de 45 anos nas nossas pesquisas mostraram desconhecimento desta
palavra: Bhèkà tampa leyò! (põe essa tampa) ao invés de Bhèka xivhimbò lexò!
Acontece o mesmo fenômeno com as palavras: sòlèsòlè (camarão), cokolovondzò (ser
insignificante), rìfèndze (desleixo) e muitas outras.
Mudança do adjetivo “kahlè” (bom). Os falantes de xichangana tendem a emprestar
o adjetivo “bom” da LP. Então a frase se forma assim: Swi bom! Ao invés de swi
kàhlè do xichangana mais “puro”, que significa “É bom”. As palavras do
xichangana leswaku vs para, xivhimbò vs tampa, sekwà vs patu são variantes da
mesma língua porque são duas formas diferentes que permitem dizer “a mesma
coisa”. Os jovens e os adultos escolarizados são criativos, escolhem empréstimos
de português na sua fala enquanto os idosos não têm alternativas devido ao seu
nível de escolaridade.
O aportuguesamento dos sobrenomes e o parentesco dos vatchangana13
Mudança Fonética e Ortográfica dos Sobrenomes no xichangana
Segundo fontes orais, uma das causas fundamentais da mudança dos sobrenomes
é a dificuldade que os portugueses tinham em escrever em xichangana. Os grupos
consonânticos bv, bz,dl, dz, gq, hl, n’, n’q, ny, pf, ps, sv, tl, ts, vh, xj, zv são
frequentes no xichangana e não existem na LP. Ao registar os nomes dos cidadãos
nos cartórios e nos registos notariais tiveram que inventar outra escrita bem
diferente que provocou mudanças nos sobrenomes. Para melhor compreendermos
esta questão, observemos o quadro abaixo:
Quadro IV: Mudanças de sobrenomes
Nome original Nome atual Observação
Màwùndlànà14 Monjane Sobrenome e nome da etnia
Màzvàyà15 Mabjaia Sobrenome e nome da etnia
Mànyìsà16 Manhiça Sobrenome, nome da etnia e de distrito
Matsòlò17 Matola Sobrenome e nome da etnia e de cidade
Nwàmbà18 Moamba Sobrenome e nome da etnia e de cidade
Mbowànè19 Boane Sobrenome e nome da etnia e de distrito
O quadro IV, mostra as mudanças que ocorreram nos sobrenomes dos povos
do grupo bantu espalhados no sul de Moçambique. Reparemos como o sobrenome
“Matsòlo” mudou ortográfica e foneticamente ao longo dos tempos. Quase que já
não se ouve falantes a pronunciar “Matsòlo”, mas sim “Matola”. O nome matsòlo
significa “joelhos” em português, pois tsòlo é singular de matsòlo. O nome identifica
o espaço, o ambiente. Outro exemplo apresentado no quadro acima é màwùndlànà
que significa ‘aquele que cuida’. Provem do verbo ku wùndla que significa ‘criar’.
A primeira padronização das LB em Moçambique teve lugar em 1989. No
entanto, a escrita chegou com os portugueses por volta de 1900 e assim os
120 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
sobrenomes ficaram “adulterados” na sua forma escrita, influenciando a oral
também. Imaginemos o quão foi difícil registrar esses apelidos changanas nos
cartórios e registros notariais. Essa dificuldade obrigou a alteração ortográfica de
muitos apelidos até hoje. Vejamos alguns nomes de regiões, como é o caso de Manyìsà
(região onde vivem pessoas com apelido Manyìsà) e hoje se escreve “Manhiça”. A
organização tradicional dos changanas era baseada por tribos. As pessoas viviam
organizados com base nas relações de parentesco (sobretudo por indicação do
sobrenome), mas essa organização se desfez logo após a independência.
Labov adverte que a “língua é uma forma de comportamento social” (257).
Se os pais falantes de xichangana usam a palavra patu ao invés da palavra sèkwa,
por exemplo, os seus filhos usarão patu e não conhecerão a palavra sèkwa. Quer
dizer, se os pais (adultos) preferem a palavra “tampa” no lugar da palavra
xivhimbò, as crianças não conhecerão nem utilizarão esta palavra. Este
comportamento acelera a mudança. A LP falada em Moçambique também tem
recebido unidades lexicais vindas do xichangana. É o caso de: dumba-nengue
(mercado informal), matapa (prato feito de folhas de mandioqueira), txova
(carroça de mão) e capulana (pano colorido usado por mulheres para amarrar na
cintura, para embalar o bêbê ou para fazer roupas).
Relação de parentesco
Na cultura dos vachangana, o irmão do pai chama-se bàvhà (pai). Quer dizer, o
tio e pai devem ser chamados “pais”. Mas o irmão da mãe é chamado málumè e
corresponde a “tio” no português. Na verdade, “tio” na etnia xichangana é irmão
da mãe somente. Assim, não existe tio da parte do pai, pois este é pai. Muitos
falantes do xichangana utilizam a palavra portuguesa tiyú (empréstimo do
português-tio) para designar tanto irmão do pai como para o da mãe.
Um outro embaraço referente à cultura é relativo ao termo de parentesco
referente a “primo”. Os filhos do tio paterno são chamados “irmãos” (vamakwèrù)
no xichangana. Por não existir uma designação própria para distinguir “irmão”
(do mesmo pai) do “primo” emprestou-se a palavra pirimù (primo). Assim, é mais
usual ouvir a palavra pirimù (plural vapirimù) nos falantes jovens e adultos da etnia
xichangana atualmente.
Considerações finais
A variação e a mudança das línguas ao longo do tempo e o seu eventual
desdobramento em novas línguas são fenômenos linguísticos recorrentes na nossa
sociedade. Em sociedades onde a tradição escrita é quase inexistente, muitas vezes
se recorre a fontes orais. Mas fontes orais não conservam a língua tal como as
fontes escritas.
As línguas são dinâmicas e tendem variar tendo em conta as condições
sociais, políticas em cada sociedade. Falantes jovens tendem a incorporar unidades
lexicais vindas do português para o xichangana, muitas vezes impulsionados pelo
prestígio que o português tem, primeiro por ser língua oficial de Moçambique e
segundo, por ser a língua materna da maioria dos jovens que moram nas zonas
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 121
urbanas e suburbanas. Vejamos alguns exemplos: prisorì (professor), xikolò (escola),
mezà (mesa), bandetchà (bandeija), bombà (bomba). Falantes com mais de 60 anos
tendem a conservar o léxico do xichangana enquanto que jovens e adultos
procuram inovar com a importação de termos do português.
Para além dos empréstimos do português, o xichangana tem empréstimos
vindos de outras línguas. Podemos citar exemplos de buluku, do afrikaans broek
(calças); tafula, do afrikaans tafel (mesa); do inglês khiya, do inglês key=chave;
basikeni, do inglês bicycle-bicicleta; thawula, do inglês towel=toalha, mubedu, do inglês
bed=cama). Ngunga e Simbine (2012) na “Gramática descritiva da língua changana”
apresentam vários casos de mudanças do xichangana a nível morfológico, sintático
e fonético e ortográfico.
O xichangana falado na África do Sul também recebe influências do inglês,
do português e de outras línguas faladas naquele país. A situação de multilinguismo
em Moçambique é tão vasta de tal forma que política e o planejamento linguístico
ainda resistem em reconhecer as LB como oficiais. É de louvar a coragem e o
desafio que a África do Sul, a Tanzânia, o Quênia, o Lesoto, a Uganda outros países
africanos tiveram ao reconhecer a importância das línguas africanas através da
oficialização.
Tal como apontam Couto & Couto e Sapir, o meio ambiente desempenha
um papel importante na formação lexical de uma língua. Muitas palavras estão
intimamente ligadas aos contextos socioculturais e ambientais em que os falantes
estão envolvidos. Fica clara a ideia de que os estrangeirismos ou empréstimos
também são influenciados pelo ambiente. As palavras matapa, cacana,
xiguinya referem-se a pratos confeccionados no grupo tsonga. São palavras que
foram integradas na língua portuguesa. Se formos a comparar o xichangana de
Moçambique e o xichangana da África do Sul, observaremos que são variantes
de uma mesma língua. Os meios ambientes e os usos moldam as formas léxico-
semânticos dos dois espaços geográficos. Fica clara a ideia de que as
características gramaticais serão iguais diferenciando-se nas escolhas e usos das
unidades léxico-semânticos.
Muitos significados (que são meramente linguísticos) estão intimamente
ligados à cultura. Câmara Jr. define a cultura como o conjunto de tudo o que o
homem criou (no mundo físico e biológico) na base das suas faculdades humanas.
Sendo assim, Câmara Jr. advoga que a língua é resultado da cultura. Enquanto, no
português designamos a mesinha que fica na ‘sala de estar’ como “mesinha do
centro” os franceses chamam de “mesa baixa” (table basse). Este exemplo, ilustra
como para um mesmo objeto a atribuição do nome se liga à forma como a cultura.
Enquanto no português do Brasil, a primeira refeição do dia se chama “café da
manhã” (mesmo que não haja café, talvez um suco e bolo apenas) em Portugal se
chama “pequeno-almoço” e em Angola e Moçambique se chama “matabicho”. O
uso dessas palavras, em cada um dos lugares geográficos, resulta da concepção do
mundo ligada à cultura.
A língua possui regras que a princípio devem ser respeitados pelos falantes
para que haja intercompreensão. Portanto, o português de Moçambique carrega
122 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)
essa identidade da moçambicanidade que passa pela adaptação ou ainda
incorporação de empréstimos de outras línguas que estão em contato com o
português. Dados do Recenseamento populacional realizado em 2017 revelam
como as línguas africanas resistem face à imposição da política linguística que
instituiu o português como a única língua oficial do país. O português continua
sendo língua dominante e hegemônica nas áreas urbanas, devido ao privilégio
atribuído pela constituição da República de Moçambique. Se a educação é a base
de desenvolvimento de qualquer nação, precisamos refletir sobre como integrar as
diversas línguas bantu moçambicanos no ensino para que não sejam marginalizadas
O português é tão importante para a pátria moçambicana quanto as línguas
autoctones do grupo bantu. O importante seria incluí-las no ensino especialmente
nas primeiras séries de ensino fundamental e médio por forma a que não haja
ruptura brusca da saída de língua bantu para a língua oficial. Quando se proíbe o
uso de línguas bantu nas escolas, está se criando um contrapeso além de
intolerância linguística.
Notas
1 Agradecimentos especiais à Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck pela sábia e profunda orientação
da minha tese do doutoramento defendida com êxito em 2013. Agradecimentos ao CNPq pela bolsa
concedida aos estudantes africanos em especial aos de Moçambique, da qual fui contemplado.
2 Grifo do autor.
3 Planejamento Linguístico é a “… implementação das decisões sobre a língua através de estratégias
(políticas), como as políticas educacionais, com vistas a influenciar o comportamento dos sujeitos
em relação à aquisição e uso dos códigos linguísticos…” (Cooper, ctd. in Severo 452).
4 Província de Nampula (variantes: emakhuwa, enahara, esaaka, esankaci, emarevoni, elomwe); Cabo
Delgado (variantes: emeetto, essanka); Niassa (variantes: exirima, emakhuwa, emeetti); Zambézia
(variantes: emakhuwa, elomwe, emarevoni). (Ngunga e Faquir 71–72).
5 Há controvérsias quanto à grafia do nome “xichangana”. Alguns linguistas escrevem “xangan”,
“changana”, outros “chichangana” ou “xangana”. Mesmo com a padronização das LB prevalece a
dificuldade. Por opção, neste trabalho utilizaremos a grafia “xichangana” com “xi” seguindo os
argumentos do Sitoe (309) que defende que “no proto-bantu os membros de certas classes naturais
podiam ser incluídos numa mesma classe nominal com base no fator semântico, havendo assim as
classes dos seres humanos (classes 1 e 2, mu/va), das plantas (classes 3 e 4, mu/mi), dos nomes de
línguas, de usos e costumes (classe 7 e 8, xi/svi), de animais (classe 9 e 10, yi[n]/ti[n]), dos locativos
(classes 16, 17 e 18, ha, ku e mu), etc.”
6 Províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia (variantes: sena tonga, sena caia, sena bangwe, sena
pondzo, sena gombe e sena gorongozi) (Ngunga e Faquir 120–121).
7 Os prefixos mu- e va- são prefixos para marca de singular e plural.
8 Exemplos de Ngunga e Faquir (228).
9 Pesquisa feita em 3 escolas primárias do 1º grau (ensino fundamental, o contexto brasileiro) da cidade
de Maputo de 2008 a 2009 (Escola Primária do 1º grau de Maxaquene, 3 de Fevereiro e Alto-Maé).
10 Política linguística “… prática de caráter estatal-legislativo, debruçando-se, por exemplo, sobre a
oficialização de línguas, a escolha de alfabeto para a representação gráfica de uma língua, a
hierarquização formal das línguas (línguas de trabalho, oficiais, nacionais, por exemplo), entre
outros” (Severo 451); as políticas linguísticas são decisões políticas (Calvet, As políticas linguísticas 11).
11 Falada na província de Manica por cerca de 1,7% (Ngunga, Introdução à linguística bantu) e partes da
República do Zimbabwe.
12 A este fenômeno, Neves deu o nome de estrangeirismo e defende que estes se destinam ao “uso
exclusivo da forma original; a concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma
forma com grafia aportuguesada; concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma
forma traduzida ou equivalente em português; e uso exclusivo de forma aportuguesada/portuguesa
Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 123
de palavras originadas de palavra estrangeira, com desaparecimento total da forma gráfica original”
(249–266).
13 Vatchangana é um termo usado para designar a etnia ou grupos populacionais falantes da língua
xichangana.
14 Tradução literal: aquele que cria, aquele que tem hábito de criar outro ser (seja criança, jovem ou
adulto). Provem do verbo ku wundla (criar).
15 Sem tradução literal segundo as pesquisas.
16 Tradução literal: apele que junta unidade separadas. Vem do verbo ku manyisa (juntar, apertar).
17 Tradução literal: aquele que respeita o outro. Que se coloca de joelho perante o outro em sinal de
respeito. Provem do substantivo joelho (tsòlò).
18 Tradução literal: proveniente do substantivo “caleira” (nwamba).
19 Tradução literal: proveniente da planta comestível chamada mbòwa (abóbora).
Obras Citadas
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Bagno, Marcos. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. Parábola, 2010.
Bonatti, Mário. Aculturação linguística. FSFCLL, 1974.
Bortoni-Ricardo, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística & Educação. Parábola, 2006.
Calvet, Louis-Jean. As políticas linguísticas. Parábola, 2007.
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A influência da língua portuguesa nas línguas bantu faladas em Moçambique: o caso da língua xichangana

  • 1. 105 A influência da língua portuguesa nas línguas bantu faladas em Moçambique: o caso da língua xichangana1 Alexandre António Timbane Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira Rosane de Andrade Berlinck Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Resumo. Moçambique tem uma grande diversidade linguística. No 3º Seminário da Padronização de línguas bantu moçambicanas realizado em 2008 foram padronizadas ortograficamente 17 línguas de grupo bantu (Ngunga e Faquir). O português é a língua oficial, porém não é materna para a maioria da população (Constituição). O português é falado especialmente por pessoas escolarizadas e/ou por aquelas que moram na zona urbana. A língua xichangana é uma língua bantu (a 2ª língua mais falada em Moçambique) que se modifica nos últimos anos, sobretudo a nível lexical, fruto do contato com o português. A pesquisa objetiva conhecer e explicar as influências português no xichangana. Através de corpus extraído em gravações de conversas informais em xichangana e do levantamento lexical no Dicionário changana-português (Sitoe) verificou-se como os empréstimos não só provêm do português, mas também do inglês e do afrikaans. A integração ocorre ortográfico e foneticamente na maior parte dos casos e que esses fenómenos não empobrecem, mas sim enriquecem o xichangana. Muitos empréstimos são necessários, pois não existe o equivalente em xichangana porque retratam realidades novas, resultados da expansão das novas tecnologias. Constata-se que há mudanças significativas nos sobrenomes resultado do aportuguesamento. Palavras-chave: Moçambique, Influência, Português, Língua Xichangana Abstract. Mozambique has a great linguistic diversity. At the 3rd Seminar on the Standardization of Bantu Mozambican Languages, in 2008, 17 languages of the Bantu group were standardized (Ngunga and Faquir). Portuguese is the official language but it is not maternal for the majority of the population (Constituição) Portuguese is spoken especially by educated people and/or by those living in urban areas. The xichangana language is a Bantu language (the 2nd most spoken language in Mozambique) that has changed in recent years, especially at the lexical level, due to the contact with Portuguese. This research aims to understand and explain the influences of Portuguese in xichangana. Through a corpus extracted in recordings of informal conversations in xichangana and of the lexical survey in the Dicionário changana-português, (Sitoe) we established how linguistic borrowing derives not only from Portuguese, but also from English and Afrikaans. The integration of loanwords takes place orthographically and phonetically in most cases. These phenomena do not impoverish, but rather enrich xichangana. Many loanwords are necessary as there is no equivalent in xichangana. The loanwords portray new realities, resulting from the expansion of new technologies. It is observed that there are significant changes in surnames resulting from Portuguesecizing. Keywords: Mozambique, Influence, Portuguese, xichangana language
  • 2. 106 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) Moçambique (tal como todos países africanos) tem uma diversidade linguística resultado da história da formação do povo africano, que é composta por etnias e grupos populacionais com características distintas. Se África é ‘o berço da humanidade’, segundo Diop, então é verdade afirmar que o ser humano surgiu e logo inventou uma língua que serviu para a comunicação entre membros da comunidade. Constituirá verdade afirmar que a língua é o espelho da cultura de um povo e é através da língua que se transmite as regras de ser e de estar na comunidade. Em Moçambique não foi exceção, pois o país conta com cerca de vinte Línguas Bantu (LB) espalhadas pelas dez províncias que concorrem com a Língua Portuguesa (LP), que tem o estatuto de língua oficial segundo a Constituição da República de Moçambique, embora não sendo a língua materna da maioria da população moçambicana, tal como os dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique de 2019 apontam. Para a presente pesquisa adotaremos o termo ‘línguas bantu’ posicionando-se e apoiando os argumentos de Dimande (s.p.) e Chimbutana (40) que defendem que a língua não pertence a um único indivíduo (pessoa), mas sim a uma comunidade linguística (pessoas) e, portanto, não se pode considerar o singular do género língua ntu que na tradução seria ‘língua de (uma) pessoa’. O correto é ‘língua bantu’ quando quiser referir- se a uma única língua, como por exemplo, o bitonga. Este é o singular. Quando se fizer referência a várias línguas (plural) será ‘línguas bantu’ com o morfema do plural na palavra ‘língua como já se viu, mantendo-se a palavra bantu2 pois ela quer dizer apenas pessoas” (Dimande s.p.). O termo ‘bantu’ é usado nos estudos da linguística africana para se referir a um grupo de línguas compostas por cerca de 600 línguas faladas por pouco mais de 220 milhões de pessoas numa vasta região da África contemporânea, que se estende desde o sul de uma linha que vai desde os Montes Camarões (a sul da Nigéria), junto à Costa Atlântica, até a foz do Rio Tana, na República do Quênia, abrangendo países da África Central e Austral (Ngunga, Introdução à linguística bantu 35). A LP é falada especialmente por pessoas alfabetizadas e/ou por aquelas que moram nas zonas urbanas. Mas também, o número de falantes da LP como língua materna vem aumentando, segundo Gonçalves (4), fato que é impulsionado pelo planejamento linguístico3 (Calvet 15; Severo 453) pela educação inclusiva, massiva bem como do aumento dos meios de comunicação tais como a rádio, o jornal, a televisão e a internet. Vejamos o crescimento de falantes de línguas maternas, língua segunda e línguas bantu em Moçambique, segundo dados dos censos populacionais de 1980, 1997, 2007 e 2017 apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique: Quadro I: Crescimento dos falantes do português e das LB Estatuto da língua % falantes em 1980 % de falantes em 1997 % de falantes em 2007 % de falantes em 2017 Português L2 24,4 39 50,3 60,3 Português L1 1,2 6,5 10,7 16,5 Línguas bantu 98,8 93,5 89,3 81,2 Fonte: INE (64 e 68) e Timbane (A variação e a mudança lexical 36)
  • 3. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 107 Os dados apresentados no Quadro I mostram o perigo que as LB correm ou correrão ao longo dos próximos anos. De 1980 até 2017 houve uma redução do número de falantes das LB como língua materna fato que consideramos ‘tendência perigosa’ num espaço onde há valorização do português em detrimento das línguas africanas. A política e o planejamento linguístico interferem e marcam a valorização ou desvalorização das línguas. Mas as LB ainda resistem face à expansão da LP, pois a língua materna mais usada ainda é o emakhuwa (26,3%) falada ao norte do país4 do país por cerca de 5.307.378 pessoas; em segundo lugar está a língua xichangana5 (com cerca de 11,4%) falada no sul por cerca de 1.660.319 pessoas e em terceiro lugar, o cisena (com cerca de 7,8%), uma língua falada por 1.314.190 pessoas na região central6 de Moçambique. É preciso, reconhecer a existência considerável da comunidade asiática radicada em Moçambique desde os tempos da colonização. Esta comunidade é falante das línguas urdu e gujarati, para além do hindi e do árabe utilizados nas religiões de origem asiática e no comércio. A Índia tem 22 línguas, segundo Abbi (2012) e é muito provável que hajam imigrantes falantes dessas diversas línguas indianas ao longo do vasto país que se estende desde o Rio Rovuma até à Província de Maputo. A língua xichangana, que é objeto do nosso estudo, é falada especificamente nas províncias de Maputo, de Gaza e parte da província de Inhambane. Os limites linguísticos são diferentes de limites políticos. Por isso a língua xichangana também é falada nos países vizinhos de Moçambique: África do Sul e Zimbábue (Sitoe). O número crescente de cidadãos alfabetizados (a maioria jovens) favorece a mistura de línguas, providenciando em muitos casos mudanças linguísticas por meio do processo de empréstimos vindos do português, inglês e afrikaans, entre outras, para a língua xichangana. Uma das características comuns das línguas é a capacidade de evoluir (perda/ganho de certos traços linguísticos) ao longo do tempo, fato que não é mau, errado, feio, mas sim um destino normal de todas as línguas vivas. São transformações que aparecem de forma discreta, quase imperceptíveis e que mais tarde se generalizam em toda a comunidade linguística. Nesta pesquisa, pretendemos explicar como o português empresta as várias unidades lexicais para o xichangana bem como os processos da sua integração. Será demonstrado como os tabus étnicos e os empréstimos podem influenciar nas mudanças linguísticas dentro de um grupo linguístico. O trabalho apresenta cinco seções tratando em primeiro lugar da situação sociolinguística de Moçambique com maior incidência na língua xichangana e destacando a origem, as variantes, a localização geográfica e as relações com a LP. Debate-se sobre as várias teorias, com particular atenção para questões que abordam as mudanças e as interferências linguísticas por meio de empréstimos e estrangeirismos. Para além disso apresenta-se a metodologia, os resultados e as considerações finais. Contextualização sociolinguística Segundo Labov, todo o sistema linguístico está sujeito a variação e a mudança. Existe um sistema linguístico, que é virtual/abstrato onde cada falante busca as
  • 4. 108 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) regras da gramática assim como o vocabulário. O vocabulário está na individualidade e o léxico está no sistema. Nenhuma língua em uso está isenta à influência de fatores internos e externos à língua porque existe uma estreita relação entre ela e a organização sociocultural. Em muitas sociedades, a língua tem um valor mais importante até porque ela identifica um povo socialmente marcado. Os vachangana (=povo dos changana; plural de muchangana)7 são um grupo étnico localizado no sul de Moçambique que partilham a mesma cultura, hábitos e principalmente a mesma língua. Os vachangana falam a língua xichangana; os varonga falam a língua xironga; os vatswa falam língua xitswa e assim sucessivamente. Os povos bantu são por natureza de tradição oral. As obras mais antigas escritas em língua xichangana datam do séc. XIX com a elaboração das primeiras bíblias e livrinhos de catequese e de orações. Nessa altura, a produção escrita tinha como objetivo evangelizar e civilizar religiosamente povos africanos que eram consideradas ‘selvagens’. O ensino colonial era obrigatoriamente feito em português e o xichangana era conotado como “dialeto”. Era uma atitude preconceituosa que visava inferiorizar o homem africano e sua língua/tradição, pois existe uma diferença clara entre língua e dialeto sob o ponto de análise linguístico. O período do desprezo pelas LB iniciou no período colonial e se estende até trinta anos após a independência alcançada em junho de 1975. Foi em 1989 que se realizou o 1º Seminário sobre a Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas liderado por docentes e pesquisadores da Universidade Eduardo Mondlane-Moçambique. Antes desse período havia muita disparidade na ortografia, tal como ficou demonstrado no exemplo da palavra xichangana discutida na introdução deste trabalho. O 2º Seminário (ocorrido em 1999) trouxe mais debates sobre os aspectos cruciais discutidos em 1989. O 3º e último Seminário realizado em 2008 veio “sistematizar as experiências acumuladas desde então tentado buscar consensos sobre os aspectos que ainda se revelavam problemáticos” (Ngunga e Faquir 4). Segundo os mesmos linguistas, o xichangana já é língua de ensino em 23 escolas a título experimental num sistema conhecido como educação bilíngue, fato que consideramos positivo quando se fala em preservação das línguas africanas e redução de reprovações que ocorrem pelo fraco domínio do português como língua oficial e obrigatória nas escolas. De referir que o xichangana é a língua materna de muitas crianças na região sul de Moçambique com mais incidência nas zonas suburbanas e rurais. Antes de mais, é necessário deixar claro qual é a origem do xichangana, sua localização geográfica e o convívio com a LP. A Origem da Língua xichangana A maioria das línguas existentes no mundo estão classificadas e organizadas em grupos, sub-grupos, famílias e sub-famílias. A maior parte das línguas africanas já está classificada desde as décadas 50 e 60 descritas na sua maioria por europeus, missionários e outros pesquisadores curiosos da época (Lyons). A língua xichangana não podia fugir à regra e assim, ela nasceu das LB. A palavra bantu significa “pessoas”. Segundo Greenberg, as línguas africanas se dividem em quatro
  • 5. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 109 grandes famílias e subfamílias: Afro-asiática (Semítica, Egípcia, Cushítica, Berber e Chádica), Nilo-sahariana (Songhai, Sahariana, Maban, Fur, Chari-Nilo, Koman), Congo-kordofaniana (Níger-Congo, Kordofaniana) e Koi/San (Khoi, San, Sandawe, Iraqw, Hatsa ou Hadza). É da subfamília Niger-Congo que surgem as LB. Ngunga (Introdução à linguística bantu, 50–53) mostrou que essas línguas receberam este nome devido a existência de características comuns; entre elas se destaca: a) possuir um sistema de gêneros gramaticais, em número não inferior a cinco; b) ter vocabulário comum a outras línguas, a partir do qual se pode formular hipóteses sobre a possível existência de uma língua ancestral comum; e c) ter um conjunto de radicais invariáveis a partir dos quais a maior parte das palavras se forma por aglutinação de afixos: uma estrutura básica do tipo consoante-vogal-consoante ou ainda juntando-lhes sufixos gramaticais formam-se bases verbais. As LB, segundo Guthrie, são classificadas em 15 zonas codificadas por letras maiúsculas: A, B, C, D, E, F, G, K, L, M, N, P, R, S (ctd. in Ngunga, Introdução à linguística bantu 45–54). Cada grupo de língua foi codificado por um número decimal sufixado à letra do código da respectiva zona. Com o mapeamento de Guthrie, Moçambique ficou abrangido por quatro zonas que são: G, P, N, S. Assim, as línguas faladas em Moçambique ficaram distribuídas da seguinte forma: Zona G: Grupo Swahile (G40), Zona P: Grupo Yao (P20), Zona N: Grupo Nyanja (N30), Zona S: Grupo Shona (S10), Grupo Tswa-Ronga (S50) e Grupo Copi (S60). Assim, a língua xichangana (S53) faz parte do grupo Tswa-Ronga juntamente com Xitswa (S51), Xigwamba (S52), Xironga (S54). No território moçambicano, o xichangana (S.53) possui cinco variantes, conforme mostra o quadro a seguir: Quadro II: Variantes do xichangana VARIANTES LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA xihlanganu Distritos de Namaacha, Moamba e Magude xidzonga Distritos de Magude, Bilene e parte de Massingir xin’walungu Distrito de Massingir xibila Distritos de Limpopo e parte de Chibuto xihlengwe Distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala, Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculo e Govuro Fonte: Sitoe (7) É preciso sublinhar que a localização não é clara, uma vez que os falantes se deslocam constantemente de uma província para a outra ou mesmo de um distrito para o outro devido a vários fatores. Esse deslocamento é justificado pela instabilidade política, pela guerra e calamidades naturais que sempre assolaram aquele país. Hoje, o xichangana tem empréstimos do português, do inglês, do afrikaans e do isizulu (estas três últimas línguas oficiais na África do Sul). É importante mostrar algumas particularidades do xichangana: Segundo resultados
  • 6. 110 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) do 3º Seminário da Ortografia das Línguas Moçambicanas, o xichangana tem 46 grafemas do alfabeto muitos deles inexistentes em português. Segundo Ngunga e Faquir, há consoantes especiais como é o caso das “implosivas [ɓ] e [ɗ] que se escrevem b’ e d’, respectivamente para se distinguirem das oclusivas [b] e [d] que se escrevem b e d, respectivamente”. São exemplos de b’ava (pai), ku bava (ser amargo), d’okomela (fruto) e faduku (lenço). Outro aspeto especial a considerar são os cliques velar não-vozeado [!], velar vozeado [g!] e velar nasal [ɧ!] são grafados como q, gq e n’q como nos exemplos:8 xiqamelo (travesseiro), n’gqhondho (juízo), n’qolo (carroça). É frequente se ver a pré-nasalização nas consoantes b, f, p e v: mpumga (arroz), mbuti (cabrito), nfenhe (macaco), mpsandla (rã), mvhuche (carvão em pó), mpfula (chuva). Durante muitos anos (décadas 60, 70 e 80) muitos moçambicanos deslocavam-se para África do Sul, com objetivo de obter emprego nas minas de ouro e de carvão. Na região sul do país era tradição que os jovens fossem trabalhar nas minas antes do casamento. O regresso desse grupo moçambicanos das minas da África do Sul (na maioria homens e jovens) trouxe mudanças bruscas do xichangana principalmente nas províncias de Maputo e de Gaza. Sitoe apresentou que 13,5% de verbetes eram empréstimos: 385 do português, 243 do zulu, 167 do inglês e 83 do afrikaans. Os dados aqui apresentados resultam da nossa pesquisa que consistiu na contagem desses itens lexicais para se chegar ao resultado apresentado. A maior parte desses empréstimos preenchem lacunas lexicais para descrever realidades novas ou mesmo antigas. Mas também há casos de abandono de palavras já existentes em xichangana. Relações entre o português e o xichangana no mesmo espaço geográfico A LP, por ter estatuto de língua oficial, tem muito prestígio em Moçambique, principalmente nas zonas urbanas. O português não escapa às interferências das LB, tal como explica Ngunga (“Interferências de línguas moçambicanas” 7–20). Ainda sobre os estrangeirismos e os empréstimos linguísticos no português falado em Moçambique, há que salientar o trabalho de Timbane que explica como as unidades lexicais vindas do inglês e das LB se integram no português formando o que se denomina por Português de Moçambique. O português é falado por uma minoria, o que leva com que as pessoas sintam necessidade de usá-la em situações oficiais para se beneficiar dos serviços públicos, como é o caso de cartórios, bancos, ministérios entre outros. As crianças das regiões rurais só falam o português na escola, na sala de aulas com o professor, reservando o xichangana para comunicações do dia a dia, nos trabalhos domésticos até na comunicação com colegas da turma. Nas conversas informais, fora do recinto escolar, as crianças usam o xichangana que é a língua materna. Segundo Timbane, nas cidades o cenário é bem diferente, pois “as crianças da cidade falam a LP em casa em 92,4%. Isto quer dizer que os pais ensinam português às crianças desde a tenra idade” (O Ensino da língua portuguesa). Essa situação é oposta às regiões rurais, daí o impacto o fracasso escolar causado pela obrigatoriedade do uso do português (Timbane, O Ensino da língua portuguesa na 1ª classe 65).9
  • 7. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 111 A política linguística10 determinou as funções de cada uma das línguas na sociedade: o português como língua de prestígio e as línguas bantu sem nenhum estatuto. Cada uma das línguas atua no devido lugar segundo situações. Por exemplo, em discursos políticos junto às povoações rurais da etnia vachangana há obrigação de existir um tradutor ou intérprete para fazer chegar a mensagem à população. Por vezes alguns líderes políticos, em momento de campanha eleitoral, se sentem ‘obrigados’ a falar xichangana como forma de mostrar sua identidade e sinal de pertença junto aos eleitores. No comércio formal e informal é frequente ouvir mais xichangana do que português. A Rádio Moçambique possui em cada província um emissor provincial que transmite seus programas em línguas locais fato que consideramos positivo na divulgação das línguas bantu. Outro caso mais interessante a observar é dos moçambicanos de origem asiática (mais conhecidos como monhés) que se sentem estimulados à aprender xichangana para melhor se comunicarem com os clientes falantes desta língua. Na província e na cidade de Maputo, comerciantes nigerianos e de outras nacionalidades aprendem xichangana para que possam interagir com seus clientes na maioria falantes do xichangana. Não se pode distanciar a língua da cultura e do meio ambiente envolvente. Os estudos das relações entre língua e meio ambiente (ecolinguística) discutidos com pormenor por Sapir, Calvet (Pour une écologie des langues), Couto, e Mufwene mostram como o espaço geográfico e ambiental influenciam nos usos linguísticos. Os ecossistemas natural, mental e social interagem entre si, criando relações que se dão entre indivíduos pertencentes a um povo que se localiza num espaço/território. Isso significa também que o “ecossistema linguístico local (comunidade de fala) em que se dá a ecologia da interação comunicativa é constituído por qualquer agrupamento de pessoas (P) que convivam de modo duradouro em determinado espaço (T) e que interajam (L) e até em comunidade de comunicação” (Couto et al.). Desta forma o sotaque moçambicano é influenciado pelas línguas locais, o léxico é influenciado pelos contextos específicos daquele povo havendo decalques e transferências das LB para o português formando o que Timbane designa por português de Moçambique (Que português se fala em Moçambique?). Por exemplo, as palavras cacana (prato feito à base de momordica balsamina), matapa (prato feito à base de folhas de mandioca), massala (fruto da árvore strychnos spinosa) não são conhecidas no Brasil, do mesmo modo as palavras jaburu, gambá, mamão, pocan, pé de moleque são desconhecidas em Moçambique. O léxico de uma língua, segundo Sapir, reflete o ambiente físico e social dos falantes (44). Sapir dá exemplo dos índios nutka habitantes de uma tribo costeira que possuem termos específicos para nomear diversas espécies de animais que habitam naquele espaço. O estudo apresentado por Quiraque analisa a estrutura morfo-lexical de provérbios em língua tewe e suas estratégias de (não) correspondência no português usado no Brasil revelou que o meio social em que a comunidade linguística está inserida influencia na criação dos provérbios.11 Os provérbios só ‘fazem sentido’ quando interpretados dentro do contexto social, cultural e ambiental próprios.
  • 8. 112 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) A variação linguística nas línguas naturais e os empréstimos lexicais A variação e a mudança linguísticas Descrever fenômenos linguísticos de uma determinada língua sem ter em conta o contexto sócio-cultural pode se tornar perigoso. A língua e a cultura se complementam porque a língua é, por excelência, uma instituição social e, portanto, ao se proceder a seu estudo, é indispensável que se leve em conta variáveis extralinguísticas, socioeconômicas e históricas – que lhe condicionam a evolução e explicam, em parte sua dialetação regional e social (Bortoni-Ricardo 31). Concordamos com a perspectiva de Bortoni-Ricardo, pois os contextos sociais comparticipam na variação e na mudança das línguas aos níveis: fonético- fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical e estilístico-pragmático. Há que considerar vários fatores que comparticipam na variação: a origem geográfica, o status econômico, o nível de escolaridade, a idade, o sexo, as redes sociais, mercado de trabalho entre muitos outros. A sociolinguística, segundo Joyce, revela o papel ativo da língua na formação do grupo social e das identidades individuais. Ela indica também de que forma os fenômenos linguísticos são realidades sociais, o resultado de mudanças sociais que ambos refletem e moldam”. (209) Isso significa que não existe uma língua que seja um sistema uno, invariado e rígido. Para Rodrigues, todas as língusa comportam variações de duas ordens: em função do falante e em função do ouvinte (11). Quando Rodrigues fala de função do falante refere-se às variantes espaciais, variantes de classe social, variantes de grupos de idade, variantes de sexo e variantes de gerações. A segunda função se refere à variação de formalismo, de modalidade e de sintonia. Naro fundamenta que não é necessário que seja especialista em línguas para perceber que as línguas mudam. Basta comparar o português e o latim para notarmos as diferenças em todos níveis. Muitos linguistas provaram que as línguas não são estáticas. Paiva e Duarte mostram que a predominância de uma determinada variante linguística na fala de pessoas coloca o pesquisador frente a duas possibilidades: instalação gradual de uma nova variante na língua ou; diferenciação linguística etária que se repete a cada geração. Quer dizer, os falantes de uma língua alteram seu comportamento linguístico ao longo do seu percurso da vida, sem que se observem alterações no sistema (179). Bagno parte em defesa da “mudança linguística” afirmando que “toda língua muda com o tempo”, ou melhor “os falantes mudam a língua o tempo todo” (41–42). O autor defende ainda que não existe língua sem falantes, por isso “não é a língua que muda […] são os falantes, em sociedade, que mudam a língua. E essa mudança não é para melhor, nem para pior: é mudança simplesmente” (42). O português brasileiro é diferente do europeu porque a variedade brasileira resulta da miscelânea de línguas africanas, línguas europeias e línguas indígenas.
  • 9. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 113 As mudanças não ocorrem por acaso. Elas são resultado da interação entre mecanismos cognitivos que processam a linguagem dentro do nosso cérebro e fatores sociais ou culturais. A forma como se fala o xichangana atualmente não está errada, nem tão pouco. Os falantes inseridos da sociedade criaram essas novas formas para sua língua. Lyons, por exemplo, se limita a mencionar quatro processos que ilustram a mudança. Ele mostra que as mudanças podem ser explicadas por processos de assimilação (transformação de sons idênticos ou semelhantes a outros, em função de situação ou modo de articulação); haplologia (perda de uma ou duas sílabas foneticamente semelhantes em uma seqüência), analogia e empréstimo (194). O autor acrescenta que “um dos sintomas desse processo de mudança linguística é o que se chama comumente de hipercorreção” (23). As mudanças lexicais que apresentaremos neste trabalho são hipercorreções que ocorrem na fala da classe média e frequentemente na de pessoas instruídas. Os empréstimos em estudo aparecem exclusivamente com pessoas que têm noções básicas da LP e incorporam-nos na língua xichangana originando esse fenómeno. Apoiando-nos em Weinreich et al, afirmamos que a mudança linguística começa quando “a generalização de uma alternância particular num dado grupo da comunidade de fala toma uma direção e assume o caráter de uma diferenciação ordenada” (125–126). Na verdade, a generalização da mudança linguística através da estrutura linguística não é uniforme nem instantânea. Ela envolve a covariação de mudanças associadas durante substanciais períodos de tempo, e está refletida na difusão de isoglossas por áreas do espaço geográfico. Temos que considerar três tipos de interferências numa língua: interferências fônicas, interferências sintáticas e interferências lexicais. As interferências são, na verdade, casos isolados (individuais). Acontecem de forma particular enquanto os empréstimos estão no coletivo. Calvet sustenta que essas interferências passam a ser empréstimos quando a comunidade linguística consente e aceita aquelas interferências que partiram de um indivíduo (Sociolinguística: uma introdução crítica 39). Os empréstimos que serão apresentados nesta pesquisa revelam ainda esse dinamismo que as línguas possuem em diferentes grupos sociais. Limites de línguas naturais Os limites geográficos são diferentes dos limites linguísticos em África. Por exemplo, a língua swahili (língua do grupo bantu) para além de ser falada em Moçambique também é falada na Uganda, na República Democrática do Congo, nas zonas urbanas do Burundi e de Ruanda, no sul da Somália, na Zâmbia, no sul da Etiópia, em Madagáscar e nas Ilhas Comores (Whiteley 12). É língua oficial do Quênia, Tanzânia e Uganda. O xichangana, que é objeto de estudo, também é falado na Suazilândia, no Zimbábue e na África do Sul. As línguas sempre têm limitações dependendo dos contextos sociais e culturais em que estão inseridas. Por exemplo, em português não tem palavra para se referir a uma cerimônia de evocação dos antepassados (ku pahla). Em xichangana não existe uma palavra para designar “garfo.” São limites que são superados através do processo de empréstimos e estrangeirismos lexicais.
  • 10. 114 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) Calvet defende a existência de milhares de línguas que permitem diariamente a milhões de falantes comunicar-se de maneira satisfatória em seu ambiente social tradicional, mas que são incapazes de assegurar uma comunicação científica (As políticas linguísticas 65). Isso acontece porque as línguas vão se adaptando sempre segundo as condições sociais, econômicas, políticas, culturais e até econômicas dos seus falantes. Essas condições aceleram o surgimento do novo léxico e outras variações e mudanças que dão novo rumo à língua. Isso ainda obriga a intervenção de políticas linguísticas que decidem equipar a língua para ser utilizada na Matemática, Química, Biologia, Informática, entre outras áreas. A língua xichangana também tem muitas limitações sobretudo nas áreas de ciências e tecnologias. O estatuto de língua regional deixa-a impedida de “evoluir,” pois é de menor relevo para os falantes. Poucos se interessam (principalmente políticos) pela promoção, ensino, desenvolvimento e manutenção das línguas autóctones. Há pouca literatura em xichangana, pois os falantes têm uma cultura oral (oratura), além disso, o nível de escolaridade dos falantes é limitado. Empréstimos e seus tipos Bloomfield define empréstimo como “adoção de traços lingüísticos diversos dos que pertencem ao sistema que recebe” (ctd. in Bonatti 79).12 O empréstimo pode resultar de condicionamento social ou geográfico, como pode ser feito de simples contato. Define-se por empréstimo, o processo de entrada de palavras, expressões ou ideias provenientes de outras línguas. Na verdade, por esses processos a língua se adapta a novas situações de cultura ou procura dar maior expressividade à comunicação. O fenômeno aconteceu/acontece no português do Brasil. Vários exemplos de palavras ilustram como a LP falada no Brasil emprestou palavras do inglês e de línguas indígenas. Mas é preciso sublinhar que os estrangeirismos não ocorreram apenas do inglês só. Ilari mostra que o português do Brasil emprestou também do francês, do italiano, do alemão, das línguas africanas e das línguas indígenas brasileiras (73). As palavras drinque, deletar, logar, escanear, printar e craque são alguns exemplos de empréstimos provenientes do inglês: drink, login, scanner, print e crack respectivamente, unidade lexicais no português do Brasil e que sofreram adaptação gráfica. As unidades lexicais marketing, pendrive, ranking, show e game são estrangeirismos, pois estas foram emprestadas do inglês sem sofrer alguma alteração na sua ortografia nem fonética (Timbane, “Os estrangeirismos e os empréstimos”. O mesmo acontece com palavras latinas mais usadas no português atual (campus, curriculum, dominus, bônus, corpus) que até preservam a sua gramática (plural campi, curricula, domini, bônus, corpora). Os empréstimos e os estrangeirismos podem ser necessários (quando não existe seu equivalente na língua de chegada) ou de luxo (quando existe seu equivalente, mas usado por razões de estilo/prestígio). Segundo Preti, “a língua oral é a mais suscetível de expressar variações e nela os critérios de aceitabilidade social são mais elásticos. Principalmente a nível lexical […] e a dinâmica sociedade contemporânea é bem
  • 11. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 115 expressa na transformação do léxico, não só na criação neológica dos vocábulos científicos, mas principalmente, na linguagem coloquial” (53). É nessa esfera que os empréstimos ocorrem, de forma consciente ou não marcando assim um futuro da língua bem diferente. Na verdade, o léxico de uma língua, “tende a renovar-se e a ampliar-se, em decorrência de contatos linguísticos e interculturais e de necessidades de nomeação de novos referentes da realidade circundante, como também pode manter-se conservador em comunidades isoladas geograficamente e pouco expostas a avanços tecnológicos, a meios de comunicação de massa” (Isquerdo 11). A ação dos empréstimos afeta muitas vezes as duas línguas. Enquanto, os empréstimos do português afetam a língua xichangana, o xichangana afeta a LP, fato demonstrado por Ngunga (Interferências de línguas moçambicanas) e Ngunga e Simbine. As línguas são dinâmicas e “não há barragem nem represa capaz de impedir o fluxo da língua, seu avanço, suas modificações enquanto houver gente falando uma determinada língua, ela sofrerá variação, modificações, transformações e mudanças” (Bagno 157). O empréstimo lexical por vezes, tem a função de preencher a lacuna de um significante quando a comunidade lingüística recebe um novo significado. As línguas de países cultural e cientificamente mais desenvolvidos contribuem com maior número de empréstimos às demais línguas do mundo porque tais empréstimos acompanham os novos avanços atingidos nesses países e exportados ao resto do mundo. Metodologia Segundo Paiva e Duarte há duas maneiras para o estudo da variação: tempo real de longa duração e tempo real de curta duração (182–190). O método de análise de fenômenos linguísticos em “tempo real de longa duração” se caracteriza pela observação controlada de fenômenos no período temporal: décadas, séculos, etc. Pode-se observar diacronicamente. O segundo método, que é “o tempo real de curta duração”, foi o mais adequado para o nosso estudo. Recolhemos vocábulos em conversas de 10 jovens (sendo 5 do sexo masculino e 5 feminino) de 15 a 25 anos e de 6 adultos (2 homens e 4 mulheres) de 50 a 60 anos. A razão da escolha dessas idades se deveu a teoria de que o “processo de aquisição da linguagem se encerra mais ou menos no começo da puberdade (15 anos) e que a partir desse momento a língua do indivíduo fica essencialmente estável” (Naro 44). É preciso sublinhar que homens e mulheres não falam da mesma maneira. Segundo Paiva, para além do timbre e altura da voz, há ainda aspectos culturais, políticos e sociais que diferenciam a fala do homem com a da mulher em várias sociedades (33). É importante incluir neste leque, os tabus e mitos, pois também comparticipam muito na mudança linguística. Paiva conclui que “as diferenças mais evidentes entre a fala de homens e mulheres se situam no plano lexical” (33) Nessa perspectiva, a autora mostra que as mulheres não trariam muitos assuntos importantes relativos a mudança lexical no xichangana. Os povos falantes de xichangana são da linhagem patrilinear, daí o domínio do homem com relação à mulher em toda a região sul de Moçambique, o que significa que as mulheres se
  • 12. 116 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) comunicam mais no contexto familiar somente. Esta é a razão pela qual preferimos “trabalhar” só com homens nas nossas pesquisas. Questões de tabus, mitos também interferem em estudos linguísticos. Foi um estudo qualitativo onde pudemos comparar léxicos de épocas diferentes. Apresentação e discussão dos dados O léxico da língua portuguesa no xichangana O léxico é a face mais visível da língua e é através dele que se constrói frases e/ou discursos. Os traços culturais de uma comunidade linguística se refletem no léxico utilizado que por vezes é intraduzível, pois é específico. O léxico fica armazenado no sistema e cada falante busca palavras para formar o seu vocabulário. Observa- se que realidades inexistentes na língua são emprestadas de outras línguas sem prejuízo do sistema, pois isso está previsto. Prestemos atenção ao Quadro III. Ele mostra as unidades lexicais recolhidas do xichangana falado por jovens e adultos com menos de 50 anos. Quadro III: Empréstimos do português no xichangana A escrita de palavras neste quadro procurou-se aproximar à fonologia. Esse posicionamento resulta do fato de que as palavras são de origem estrangeira e ao chegar no xichangana se integram adaptando elementos fonológicos e gráficos. Olhando para a primeira coluna, parecem palavras do português. Mas estas palavras são do xichangana e algumas delas já registradas no Dicionário changana- português de Sitoe. No quadro III pode-se notar facilmente que o xichangana Xichangana Português (europeu) Xichangana Português (europeu) panelà panela obrà obra ku passarà passar (engomar) mangà manga sopà sopa lixù lixo tintà tinta gàràdè grade pawù pão padirinyù padrinho ku vhotà vota mategà manteiga sumù sumo bankù banco sobirinyù sobrinho vizinyù vizinho saladà salada operaçawù operação fofu fósforo fugawù fogão peresù preço sinorà cenoura panù pano sã maçã xitaratù estrada uvhà uva paratù prato titiya titia papayà papaia lapì lápis papelà papel selularì celular pedererù pedreiro komputadori computador orù ouro ku batizarà (ou ku babatisa) batizar fotù foto ku gozàrà gozar
  • 13. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 117 emprestou muitas palavras do português. Essas palavras não existiam no léxico do xichangana antes da chegada dos portugueses. Por exemplo, o objeto correspondente à “panela” já existia no vocabulário dos falantes do xichangana há muito tempo e se chamava mbità. A palavra mais usual nos tempos de hoje é panelà (empréstimo de luxo) ao invés de mbità, a palavra original nesta língua. Um outro exemplo que ilustra o mesmo fenômeno linguístico é do objeto correspondente a “prato” na LP. Antigamente, chamava-se ngelò e hoje é mais comum pronunciar-se paratò. Hoje, ngèlò é reservado para “prato feito de madeira” (com característica tradicional) e pàràtò para o mais convencional (de vidro, de alumínio, de barro ou outro material que não seja madeira. É preciso ressaltar que a estrutura silábica é consoante-vogal (C-V-C-V-) o que faz com que na palavra “prato” do português seja pronunciado e escrito assim: paràtò em xichangana. O mesmo acontece com: tamborì (tambor), pirimò (primo), garàdè (grade), etc. As palavras como hàhànè (tia), muyakelànè (vizinho), nsilà (lixo) também são pouco usadas nestas últimas décadas e são substituídas por titiyà, vizinyù e lixù respectivamente emprestadas do português. A presença do prefixo ku- nos verbos kupassara, kuvhota, kubatizarà e kugozara se justifica pela marcação do infinitivo dos verbos na língua xichangana. Os radicais desses verbos serão passar- , vhot-, batizar- e gozar-. O “a” final em todos os verbos se chama ‘vogal final’. Aqui temos exemplos da integração dos verbos no xichangana. As mudanças começam assim, de forma simples, discreta e depois ganham forma e consolidam provocando o fenômeno da desneologização. Empréstimos de palavras do português para o changana Empréstimo da preposição “leswakù” (para). Segundo Cunha e Cintra a preposição “para” na LP tráz noção de movimento onde há “tendência para o limite, finalidade, direção, perspectiva. Distingue-se de a por comportar um traço significativo que implica maior destaque do ponto de partida com predominância da idéia de direção sobre a do término do movimento” Na língua xichangana, “para” significa leswakù. Com o contato entre o xichangana e o português, criaram-se interferências que resultaram no desuso da preposição leswakù que foi substituída por “pàrà”. Por exemplo: “Estude muito para que tenha sucesso.” Corresponde em xichangana a Dondza ngopfu leswakù u ta hùmelela. Mas agora as pessoas falam assim: dondza ngopfu pàrà u ta humelela. O “pàrà” hoje é mais frequente entre os falantes do changana. Mudança do verbo “poder”. É frequente ouvir nos falantes de xichangana, o emprego do verbo poder, exclusivamente nas frases interrogativas. (1) Podi ni teka pawu? (Posso levar pão?) (2) Podi ni famba nayè? (Posso ir com ele?) (3) Mina na teka bòmù. Podi? (Eu levo o limão. Posso?)
  • 14. 118 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) Este podi vem claramente do verbo poder na forma imperativa (posso?) do português. Não é flexionado como verbo em xichangana, mas, sim, é uma partícula que inicia a interrogação. Serve para introduzir uma frase interrogativa ou um questionamento. Mudança de substantivo “sèkwà” (pato). Observemos a frase seguinte: Teka a patù ledzì (ou lerhi)! que significa “Leva este pato” no português. Repare que a palavra patù utilizada na frase em xichangana tem o seu sinônimo nessa língua. O “pato” em xichangana chama-se sèkwà, mas os falantes já não usam essa palavra, preferindo assim empréstimo de palavra do português. A frase deveria ficar assim: Teka a sèkwà ledzì. Mesmo os idosos utilizam a palavra sèkwà raramente. Esse exemplo da palavra sèkwa extraída do Dicionário changana-português (Sitoe 207) mostra como os empréstimos do português enriquecem as línguas bantu moçambicanas. A vinda de palavra do português para as línguas bantu moçambicanas é um processo normal que ocorre em todas as línguas em uso. Mudança da preposição “kuyatlasà” (até). Precisamos deixar claro que kuyatlasà (ou kuyafika) corresponde à preposição até em português. É uma preposição formada a partir do prefixo ku- que faz réplica nos verbos y- e tlas- , isto é, kuya (ir) + kutlasa (chegar). Fica fácil compreender esse fenômeno se pensarmos em xichangana porque se pensarmos em português não faz sentido porque *irchegar não pode ser preposição. Vejamos os exemplos a seguir: Ex.1: Hina hi ta famba kuyatlasa Maputo (Nós iremos até Maputo) Ex.2: Langusela m’pfula kusukela ka nweti ya dzivamisoko kuyatlasa ka mawuwani (Aguarde a chuva desde o mês de abril até julho) A preposição kuyatlasa é usada para indicar a distância (Ex.1) e o tempo (Ex.2). Hoje, os falantes mais jovens do xichangana já não usam essa palavra, mas sim a palavra emprestada do português até. Vejamos a frase: Hina hi ta famba atè Maputo (Nós iremos até Maputo). A preferência pelo empréstimo vindo português se justifica pelo prestigio que o português e pelo estilo. Trata-se de um empréstimo de luxo, uma vez que existe a palavra correspondente em xichangana, mas os falantes integraram a palavra estrangeira até, fenômeno que enriquece e nem prejudica a língua. Que fique clara a ideia de que o uso da preposição apresentada no parágrafo anterior é diferente do uso nos casos do verbo ir no infinitivo+infinitivo= fim ou objetivo (intenção) como por exemplo: ku ya twa (ir ouvir), ku ya tsema (ir cortar), ku ya vona (ir ver), ku ya phasa (ir pescar), ku ya lhota (ir caçar), ku ya hinguela (ir ouvir) que também ocorrem nesta língua. O importante é pensar em xichangana e descrever sem fazer comparações (nem traduções) a partir de línguas europeias. Mudança de substantivo “xivhimbò” (tampa). Às vezes, o desconhecimento do léxico da língua xichangana, faz com que os falantes recorram ao léxico do português
  • 15. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 119 para completar suas frases/ideias. Um exemplo mais comum é o da palavra xivhimbò. Só os mais idosos é que conhecem esta palavra. Jovens e adultos com menos de 45 anos nas nossas pesquisas mostraram desconhecimento desta palavra: Bhèkà tampa leyò! (põe essa tampa) ao invés de Bhèka xivhimbò lexò! Acontece o mesmo fenômeno com as palavras: sòlèsòlè (camarão), cokolovondzò (ser insignificante), rìfèndze (desleixo) e muitas outras. Mudança do adjetivo “kahlè” (bom). Os falantes de xichangana tendem a emprestar o adjetivo “bom” da LP. Então a frase se forma assim: Swi bom! Ao invés de swi kàhlè do xichangana mais “puro”, que significa “É bom”. As palavras do xichangana leswaku vs para, xivhimbò vs tampa, sekwà vs patu são variantes da mesma língua porque são duas formas diferentes que permitem dizer “a mesma coisa”. Os jovens e os adultos escolarizados são criativos, escolhem empréstimos de português na sua fala enquanto os idosos não têm alternativas devido ao seu nível de escolaridade. O aportuguesamento dos sobrenomes e o parentesco dos vatchangana13 Mudança Fonética e Ortográfica dos Sobrenomes no xichangana Segundo fontes orais, uma das causas fundamentais da mudança dos sobrenomes é a dificuldade que os portugueses tinham em escrever em xichangana. Os grupos consonânticos bv, bz,dl, dz, gq, hl, n’, n’q, ny, pf, ps, sv, tl, ts, vh, xj, zv são frequentes no xichangana e não existem na LP. Ao registar os nomes dos cidadãos nos cartórios e nos registos notariais tiveram que inventar outra escrita bem diferente que provocou mudanças nos sobrenomes. Para melhor compreendermos esta questão, observemos o quadro abaixo: Quadro IV: Mudanças de sobrenomes Nome original Nome atual Observação Màwùndlànà14 Monjane Sobrenome e nome da etnia Màzvàyà15 Mabjaia Sobrenome e nome da etnia Mànyìsà16 Manhiça Sobrenome, nome da etnia e de distrito Matsòlò17 Matola Sobrenome e nome da etnia e de cidade Nwàmbà18 Moamba Sobrenome e nome da etnia e de cidade Mbowànè19 Boane Sobrenome e nome da etnia e de distrito O quadro IV, mostra as mudanças que ocorreram nos sobrenomes dos povos do grupo bantu espalhados no sul de Moçambique. Reparemos como o sobrenome “Matsòlo” mudou ortográfica e foneticamente ao longo dos tempos. Quase que já não se ouve falantes a pronunciar “Matsòlo”, mas sim “Matola”. O nome matsòlo significa “joelhos” em português, pois tsòlo é singular de matsòlo. O nome identifica o espaço, o ambiente. Outro exemplo apresentado no quadro acima é màwùndlànà que significa ‘aquele que cuida’. Provem do verbo ku wùndla que significa ‘criar’. A primeira padronização das LB em Moçambique teve lugar em 1989. No entanto, a escrita chegou com os portugueses por volta de 1900 e assim os
  • 16. 120 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) sobrenomes ficaram “adulterados” na sua forma escrita, influenciando a oral também. Imaginemos o quão foi difícil registrar esses apelidos changanas nos cartórios e registros notariais. Essa dificuldade obrigou a alteração ortográfica de muitos apelidos até hoje. Vejamos alguns nomes de regiões, como é o caso de Manyìsà (região onde vivem pessoas com apelido Manyìsà) e hoje se escreve “Manhiça”. A organização tradicional dos changanas era baseada por tribos. As pessoas viviam organizados com base nas relações de parentesco (sobretudo por indicação do sobrenome), mas essa organização se desfez logo após a independência. Labov adverte que a “língua é uma forma de comportamento social” (257). Se os pais falantes de xichangana usam a palavra patu ao invés da palavra sèkwa, por exemplo, os seus filhos usarão patu e não conhecerão a palavra sèkwa. Quer dizer, se os pais (adultos) preferem a palavra “tampa” no lugar da palavra xivhimbò, as crianças não conhecerão nem utilizarão esta palavra. Este comportamento acelera a mudança. A LP falada em Moçambique também tem recebido unidades lexicais vindas do xichangana. É o caso de: dumba-nengue (mercado informal), matapa (prato feito de folhas de mandioqueira), txova (carroça de mão) e capulana (pano colorido usado por mulheres para amarrar na cintura, para embalar o bêbê ou para fazer roupas). Relação de parentesco Na cultura dos vachangana, o irmão do pai chama-se bàvhà (pai). Quer dizer, o tio e pai devem ser chamados “pais”. Mas o irmão da mãe é chamado málumè e corresponde a “tio” no português. Na verdade, “tio” na etnia xichangana é irmão da mãe somente. Assim, não existe tio da parte do pai, pois este é pai. Muitos falantes do xichangana utilizam a palavra portuguesa tiyú (empréstimo do português-tio) para designar tanto irmão do pai como para o da mãe. Um outro embaraço referente à cultura é relativo ao termo de parentesco referente a “primo”. Os filhos do tio paterno são chamados “irmãos” (vamakwèrù) no xichangana. Por não existir uma designação própria para distinguir “irmão” (do mesmo pai) do “primo” emprestou-se a palavra pirimù (primo). Assim, é mais usual ouvir a palavra pirimù (plural vapirimù) nos falantes jovens e adultos da etnia xichangana atualmente. Considerações finais A variação e a mudança das línguas ao longo do tempo e o seu eventual desdobramento em novas línguas são fenômenos linguísticos recorrentes na nossa sociedade. Em sociedades onde a tradição escrita é quase inexistente, muitas vezes se recorre a fontes orais. Mas fontes orais não conservam a língua tal como as fontes escritas. As línguas são dinâmicas e tendem variar tendo em conta as condições sociais, políticas em cada sociedade. Falantes jovens tendem a incorporar unidades lexicais vindas do português para o xichangana, muitas vezes impulsionados pelo prestígio que o português tem, primeiro por ser língua oficial de Moçambique e segundo, por ser a língua materna da maioria dos jovens que moram nas zonas
  • 17. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 121 urbanas e suburbanas. Vejamos alguns exemplos: prisorì (professor), xikolò (escola), mezà (mesa), bandetchà (bandeija), bombà (bomba). Falantes com mais de 60 anos tendem a conservar o léxico do xichangana enquanto que jovens e adultos procuram inovar com a importação de termos do português. Para além dos empréstimos do português, o xichangana tem empréstimos vindos de outras línguas. Podemos citar exemplos de buluku, do afrikaans broek (calças); tafula, do afrikaans tafel (mesa); do inglês khiya, do inglês key=chave; basikeni, do inglês bicycle-bicicleta; thawula, do inglês towel=toalha, mubedu, do inglês bed=cama). Ngunga e Simbine (2012) na “Gramática descritiva da língua changana” apresentam vários casos de mudanças do xichangana a nível morfológico, sintático e fonético e ortográfico. O xichangana falado na África do Sul também recebe influências do inglês, do português e de outras línguas faladas naquele país. A situação de multilinguismo em Moçambique é tão vasta de tal forma que política e o planejamento linguístico ainda resistem em reconhecer as LB como oficiais. É de louvar a coragem e o desafio que a África do Sul, a Tanzânia, o Quênia, o Lesoto, a Uganda outros países africanos tiveram ao reconhecer a importância das línguas africanas através da oficialização. Tal como apontam Couto & Couto e Sapir, o meio ambiente desempenha um papel importante na formação lexical de uma língua. Muitas palavras estão intimamente ligadas aos contextos socioculturais e ambientais em que os falantes estão envolvidos. Fica clara a ideia de que os estrangeirismos ou empréstimos também são influenciados pelo ambiente. As palavras matapa, cacana, xiguinya referem-se a pratos confeccionados no grupo tsonga. São palavras que foram integradas na língua portuguesa. Se formos a comparar o xichangana de Moçambique e o xichangana da África do Sul, observaremos que são variantes de uma mesma língua. Os meios ambientes e os usos moldam as formas léxico- semânticos dos dois espaços geográficos. Fica clara a ideia de que as características gramaticais serão iguais diferenciando-se nas escolhas e usos das unidades léxico-semânticos. Muitos significados (que são meramente linguísticos) estão intimamente ligados à cultura. Câmara Jr. define a cultura como o conjunto de tudo o que o homem criou (no mundo físico e biológico) na base das suas faculdades humanas. Sendo assim, Câmara Jr. advoga que a língua é resultado da cultura. Enquanto, no português designamos a mesinha que fica na ‘sala de estar’ como “mesinha do centro” os franceses chamam de “mesa baixa” (table basse). Este exemplo, ilustra como para um mesmo objeto a atribuição do nome se liga à forma como a cultura. Enquanto no português do Brasil, a primeira refeição do dia se chama “café da manhã” (mesmo que não haja café, talvez um suco e bolo apenas) em Portugal se chama “pequeno-almoço” e em Angola e Moçambique se chama “matabicho”. O uso dessas palavras, em cada um dos lugares geográficos, resulta da concepção do mundo ligada à cultura. A língua possui regras que a princípio devem ser respeitados pelos falantes para que haja intercompreensão. Portanto, o português de Moçambique carrega
  • 18. 122 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) essa identidade da moçambicanidade que passa pela adaptação ou ainda incorporação de empréstimos de outras línguas que estão em contato com o português. Dados do Recenseamento populacional realizado em 2017 revelam como as línguas africanas resistem face à imposição da política linguística que instituiu o português como a única língua oficial do país. O português continua sendo língua dominante e hegemônica nas áreas urbanas, devido ao privilégio atribuído pela constituição da República de Moçambique. Se a educação é a base de desenvolvimento de qualquer nação, precisamos refletir sobre como integrar as diversas línguas bantu moçambicanos no ensino para que não sejam marginalizadas O português é tão importante para a pátria moçambicana quanto as línguas autoctones do grupo bantu. O importante seria incluí-las no ensino especialmente nas primeiras séries de ensino fundamental e médio por forma a que não haja ruptura brusca da saída de língua bantu para a língua oficial. Quando se proíbe o uso de línguas bantu nas escolas, está se criando um contrapeso além de intolerância linguística. Notas 1 Agradecimentos especiais à Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck pela sábia e profunda orientação da minha tese do doutoramento defendida com êxito em 2013. Agradecimentos ao CNPq pela bolsa concedida aos estudantes africanos em especial aos de Moçambique, da qual fui contemplado. 2 Grifo do autor. 3 Planejamento Linguístico é a “… implementação das decisões sobre a língua através de estratégias (políticas), como as políticas educacionais, com vistas a influenciar o comportamento dos sujeitos em relação à aquisição e uso dos códigos linguísticos…” (Cooper, ctd. in Severo 452). 4 Província de Nampula (variantes: emakhuwa, enahara, esaaka, esankaci, emarevoni, elomwe); Cabo Delgado (variantes: emeetto, essanka); Niassa (variantes: exirima, emakhuwa, emeetti); Zambézia (variantes: emakhuwa, elomwe, emarevoni). (Ngunga e Faquir 71–72). 5 Há controvérsias quanto à grafia do nome “xichangana”. Alguns linguistas escrevem “xangan”, “changana”, outros “chichangana” ou “xangana”. Mesmo com a padronização das LB prevalece a dificuldade. Por opção, neste trabalho utilizaremos a grafia “xichangana” com “xi” seguindo os argumentos do Sitoe (309) que defende que “no proto-bantu os membros de certas classes naturais podiam ser incluídos numa mesma classe nominal com base no fator semântico, havendo assim as classes dos seres humanos (classes 1 e 2, mu/va), das plantas (classes 3 e 4, mu/mi), dos nomes de línguas, de usos e costumes (classe 7 e 8, xi/svi), de animais (classe 9 e 10, yi[n]/ti[n]), dos locativos (classes 16, 17 e 18, ha, ku e mu), etc.” 6 Províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia (variantes: sena tonga, sena caia, sena bangwe, sena pondzo, sena gombe e sena gorongozi) (Ngunga e Faquir 120–121). 7 Os prefixos mu- e va- são prefixos para marca de singular e plural. 8 Exemplos de Ngunga e Faquir (228). 9 Pesquisa feita em 3 escolas primárias do 1º grau (ensino fundamental, o contexto brasileiro) da cidade de Maputo de 2008 a 2009 (Escola Primária do 1º grau de Maxaquene, 3 de Fevereiro e Alto-Maé). 10 Política linguística “… prática de caráter estatal-legislativo, debruçando-se, por exemplo, sobre a oficialização de línguas, a escolha de alfabeto para a representação gráfica de uma língua, a hierarquização formal das línguas (línguas de trabalho, oficiais, nacionais, por exemplo), entre outros” (Severo 451); as políticas linguísticas são decisões políticas (Calvet, As políticas linguísticas 11). 11 Falada na província de Manica por cerca de 1,7% (Ngunga, Introdução à linguística bantu) e partes da República do Zimbabwe. 12 A este fenômeno, Neves deu o nome de estrangeirismo e defende que estes se destinam ao “uso exclusivo da forma original; a concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma forma com grafia aportuguesada; concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma forma traduzida ou equivalente em português; e uso exclusivo de forma aportuguesada/portuguesa
  • 19. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 123 de palavras originadas de palavra estrangeira, com desaparecimento total da forma gráfica original” (249–266). 13 Vatchangana é um termo usado para designar a etnia ou grupos populacionais falantes da língua xichangana. 14 Tradução literal: aquele que cria, aquele que tem hábito de criar outro ser (seja criança, jovem ou adulto). Provem do verbo ku wundla (criar). 15 Sem tradução literal segundo as pesquisas. 16 Tradução literal: apele que junta unidade separadas. Vem do verbo ku manyisa (juntar, apertar). 17 Tradução literal: aquele que respeita o outro. Que se coloca de joelho perante o outro em sinal de respeito. Provem do substantivo joelho (tsòlò). 18 Tradução literal: proveniente do substantivo “caleira” (nwamba). 19 Tradução literal: proveniente da planta comestível chamada mbòwa (abóbora). Obras Citadas Abbi, Anvita. “Languages of Índia an Índia as a linguística área.” Jawaharla Nehru University, 2012. <http://www.andamanese.net/Languages%20of%20India%20and%20India%20as%20a% 20linguistic%20area.pdf>. Accessed 12 November 2017. Bagno, Marcos. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. Parábola, 2010. Bonatti, Mário. Aculturação linguística. FSFCLL, 1974. Bortoni-Ricardo, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística & Educação. Parábola, 2006. Calvet, Louis-Jean. As políticas linguísticas. Parábola, 2007. ---. Sociolinguística: uma introdução crítica. Parábola, 2002. ---. Pour une écologie des langues du monde. Plon, 1999. Câmara Jr., Joaquim Mattoso. “Língua e cultura.” Revista Letras, 1995, vol.4, pp. 51–59. Chimbutana, Feliciano. “Línguas bantu ou línguas bantas.” Revista Tempo, 1991, no. 1083, pp. 40–42. Constituição da República de Moçambique. Imprensa Nacional, 2004. Couto, Hildo Honório do. Ecolinguística: estudo das relações entre língua e meio ambiente. Thesaurus, 2007. Couto, Hildo Honório do, e Elza Kioko N. N. Couto. “Por uma análise do discurso ecológica.” Ecolinguística: Revista Brasileira De Ecologia E Linguagem, 2015, vol. 1, no. 1, pp. 82–104. Couto, Hildo Honório do, et al. Por uma análise do discurso ecológica ade. Pontes, 2015. Cunha, Celso, and Luis Filipe L. Cintra. Nova gramática do portugués contemporáneo. 5th ed., Lexikon, 2007. Dimande, Germano Maússe. “Debate línguas bantu ou bantas.” Revista Tempo, 19 September 1991, sp. Diop, Cjeikh Anta. A origem africana da civilização: mito e verdade. Tradução de Mercer Cook. Presence Africaine, 1967. Gonçalves, Perpétua. “Lusofonia em Moçambique com ou sem glotofagia?” 2º Congresso Internacional de Linguística Histórica, 7 February 2012, USP, São Paulo. Conference Presentation. Greenberg, Joseph H., editor. Universals of Languages. MIT Press, 1963. Ilari, Rodolfo. Introdução ao Estudo do Léxico: brincando com as palavras. Contexto, 2010. Instituto Nacional de Estatística de Moçambique. Recenseamento Geral da População 2017. INE, 2019. ---. Recenseamento Geral da População 2007. INE, 2007. ---. Recenseamento Geral da População 1997. INE, 1997. ---. Recenseamento Geral da População 1980. INE, 1980 Isquerdo, Aparecida A. “Brasileirismos, regionalismos e americanismos: desafios e implicações para a lexicografia brasileiro.” Teoria e análise lingüísticas: novas trilhas, edited by Marymarcia Guedes et al., Cultura Acadêmica, 2006, pp.11–29. Joyce, Patrik. “O inglês do povo: língua e classe na Inglaterra (1840-1920).” Linguagem, indivíduo e sociedade. Edited by Peter Burque, and Roy Porter, UNESP, 1993, pp. 207–258. Labov, William. Padrões sociolinguísticos. Parábola, 2008. Lyons, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Ltc, 1987. Mufwene, Salikoko S. “Ecologia da língua: algumas perspectivas evolutivas.” O paradigma ecológico para as ciencias da linguagem: ensaios ecolinguísticos clásicos e contemporáneos, edited by Hildo Couto et al., vol 2. UFG, 2016, pp. 473–500. Naro, Anthony J. “O dinamismo das línguas.” Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação, edited by Maria Cecília Mollica and Maria Luiza Braga, Contexto, 2004, pp. 43–50.
  • 20. 124 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019) Neves, Maria Helena de M. Ensino de língua e vivência de linguagem: temas em confronto. Contexto, 2010. Ngunga, Armindo. Introdução à linguística bantu. 2nd. ed., Imprensa universitária, 2014. ---. “Interferências de línguas moçambicanas em português falado em Moçambique.” Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane, vol. 1, no. 0, 2012, pp. 7–20. Ngunga, Armindo, and Osvaldo G. Faquir. Padronização da ortografia de línguas moçambicanas: Relatório do 3º Seminário. Centro de Estudos Africanos (CEA) – UEM, 2011. Ngunga, Armindo, and Madalena Cintia Simbine. Gramática descritiva da língua changana. Centro de Estudos Afriacanos (CEA) – UEM, 2012. Paiva, Maria da Conceição da. “Transcrição de dados linguísticos.” Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação, edited by Maria Cecília Mollica Maria Luiza Braga, Contexto, 2004, pp.135–146. Paiva, Maria da Conceição da, e Maria Eugenia L Duarte. “Mudança lingüística: observações no tempo real.” Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação, edited by Maria Cecília Mollica and Maria Luiza Braga, Contexto, 2004, pp.179–190. Preti, Dino. “Variação lexical e prestígio social.” Léxico na língua oral e na escrita, edited by Dino Preti, Humanistas, 2003, pp. 47–69. Quiraque, Zacarias Alberto Sozinho. Estudo morfo-lexical de provérbios em língua tewe e suas estratégias de (não) correspondência no português usado no Brasil. 2017, Universidade Federal de Goiás, MA thesis. Rodrigues, Aryon D. “Problemas relativos à descrição do português contemporâneo como língua padrão no Brasil.” Linguística da norma, edited by Marcos Bagno, Loyola, 2004, pp. 11–26. Sapir, Edward. “Língua e ambiente.” Lingüística como ciência Ensaios. Livraria Acadêmica, 1969. pp. 43–62. Severo, Cristine. “Política (s) linguística (s) e questões de poder.” Revista Alfa vol. 57, no. 2, 2013, pp. 451–473. Sitoe, Bento. Dicionário changana-portutguês. Texto Editores, 2012. Timbane, Alexandre António. “Que português se fala em Moçambique? Uma análise sociolinguística da variedade em uso.” Revista Vocábulo, vol.7, 2014, s.p. ---. A variação e a mudança lexical da língua portuguesa em Moçambique. 2013, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. PhD dissertation. ---. “Os estrangeirismos e os empréstimos no português falado em Moçambique.” Revista Via Literae, vol. 4, no.1, 2012, pp. 5–24. ---. O Ensino da língua portuguesa na 1ª classe num contexto sociolinguístico urbano: o caso da cidade de Maputo. 2009, Universidade Eduardo Mondlane, MA thesis. Weinreich, Uriel, et al. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Parábola, 2006. Whiteley, Wilfred. Swahili- The Rise of a National Language. Methuen & Co, 1973. Alexandre António Timbane é professor de sociolinguística e Introdução à linguística bantu na Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Campus dos Malês, Bahia, Brasil. Pós-Doutor em Estudos Ortográficos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP (2015), Pós-Doutor em Linguística Forense pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC (2014), Doutor em Linguística e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP, Mestre em Linguística e Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane. É membro do Grupo de pesquisa “África-Brasil: produção de conhecimento, sociedade civil, desenvolvimento e cidadania global”. Rosane de Andrade Berlinck é professora assistente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Sociolinguística e Lingüística Histórica, atuando nos seguintes temas: português brasileiro, morfologia verbal, morfossintaxe (concordância), sintaxe (ordem, predicação,
  • 21. Alexandre Timbane e Rosane Berlinck / A influência da língua portuguesa │ 125 complementação), variação e mudança lingüísticas, correlações entre gênero textual, estilo, norma(s) e variação/mudança linguística. É mestra em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1988), doutora em Lingüística, pela Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica (1995) e pós- doutorada no Sociolinguistics Laboratory, da University of Ottawa, Canadá.