Este documento discute a influência da fonologia na escrita das crianças. Ele explica que as crianças devem aprender as regras fonológicas da língua portuguesa para melhor desenvolver suas habilidades de escrita. Além disso, destaca que as vogais átonas /i/ e /u/ são sempre escritas como "e" e "o" e que os educadores devem respeitar as variações regionais ao invés de forçar pronúncias artificiais.
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
A influência da fonologia na escrita das crianças
1. A INFLUÊNCIA DA FONOLOGIA NA ESCRITA DAS CRIANÇAS
FOLADOR, Giovana
Se a escola tem por objetivo ensinar como a língua funciona, deve incentivar a fala e
mostrar como ela funciona. Na verdade, uma língua vive na fala das pessoas e só aí se realiza
plenamente. A escrita preserva uma língua como um objeto inanimado, fossilizado
(CAGLIARI, 1989, p.52).
A Fonologia é uma palavra formada por elementos gregos fono (som, voz) e logia
(estudo). E os Fonemas são considerados as menores unidades sonoras da fala. Articulados e
combinados formam as sílabas. Na escrita, os fonemas são representados por sinais gráficos
chamados letras.
Frequentemente, as escolas têm organizado sua prática de alfabetização apresentando
primeiro as vogais (a, e, i, o, u) e adotando uma abordagem que considera a existência de
apenas cinco vogais na língua portuguesa. Entretanto, é preciso atentar para o fato de que,
embora só haja cinco letras para representar as vogais, o português tem, de acordo com vários
estudiosos do sistema fonológico da língua, no mínimo sete vogais orais e cinco vogais
nasalizadas.
Exemplo:
Orais: a, é, ê, i, ó, ô, u (ato, fé, vê, vi, só, jogo, uva).
Nasais: ã, ê, i, õ, u (lã, vento, sim, bom, fundo).
Uma regularidade para os aprendizes da escrita de diferentes regiões do Brasil é que
os fonemas /i/ e /u/ átonos que vêm em final de palavra, como em vale e bolo, são sempre
grafados, respectivamente, com E e O.
O educador certamente estará favorecendo o aprendizado da escrita se respeitar essa
característica legítima da fala de diferentes regiões do país – ao invés de pretender obrigar as
crianças a falar artificialmente como se escreve (“valê”, “bolô”) – e se possibilitar aos alunos
descobrir essa regra.
É preciso que o educador verifique também se a criança identifica com as rimas, as
sílabas e sons existentes no início, no meio e no final de palavras compostas com sons
semelhantes e diferentes, a segmentação oral de palavras em sílabas, a segmentação oral de
frases em palavras.
Quando essas vogais são tônicas, serão sempre grafadas como E ou O, não
importando o timbre nem a posição na palavra (cabelo, panela; cachorro, cartola; metro,
mesa; moda, morro). Quando essas vogais são átonas e ocupam a posição final na palavra, são
pronunciadas como [i] ou [u], e são sempre grafadas como E ou O, respectivamente (alicate,
maluco).
O importante é entender que, compreendendo essa regra, não há mais necessidade de
obrigar crianças, por exemplo, a adotar pronúncias artificiais como “ô patô nada nô lagô”,
nem de considerar que a fala delas é errada porque não corresponde à escrita.
Restam, então, as dificuldades para a leitura e a escrita de E e O quando são vogais
átonas e vêm antes da sílaba tônica da palavra. Os problemas que aparecem diante de palavras
como pepino, tomate, docinho vão variar conforme a pronúncia regional. Assim, para crianças
que falam normalmente [pipino] ou [ducinho], a convenção ortográfica, nesses casos, pode
parecer mais complicada e será necessária maior atenção no trabalho em sala de aula.