O documento discute como a religião usa símbolos para estabelecer disposições e motivações nos homens, legitimando instituições e a ordem social existente. O discurso religioso de um líder católico usa esses símbolos para reforçar valores cristãos e a família tradicional, exercendo violência simbólica ao impor esse modelo como ideal.
2.
A religião assume um papel fundamental nessa
sociedade, ela é um sistema de crenças que ajuda o
homem a superar desafios e a conviver consigo
mesmo e com os outros. Faz com que ele dê sentido a
tudo que está a sua volta, mesmo que o sujeito não se
identifique com uma pertença religiosa, mas ele tem
uma pré-disposição ao sagrado. Ela é uma realidade
que os homens produzem para se entender e se
explicarem a si mesmos no mundo. Criando assim
uma dependência e ao mesmo tempo um universo de
símbolos e crenças.
Introdução
3.
A ideia que temos é perceber a importância e a
simbologia por trás das palavras nos discursos e
como elas influenciam ou não a vida das pessoas. O
discurso religioso é algo determinante no imaginário
e quando esse vem da “Instituição” tem um forte
sentido e assume características legitimadoras na
sociedade.
4.
O indivíduo não é moldado como uma coisa passiva,
inerte. Ao contrário, ele é formado no curso de uma
prolongada conversão (uma dialética, na acepção
literal da palavra) em que é participante. Ou seja, o
mundo social (com as instituições, papéis e
identidades apropriados) não é passivamente
absorvido pelo indivíduo, e sim apropriado
ativamente por ele (BERGER, 1985, p.31).
5.
A sociedade de consumo não valoriza os princípios
da fé e da ética cristã. Entando, a fé preserva-nos da
corrupção e da decadência, conservando a união em
família, o respeito pelos mais velhos, o santo temor a
Deus e ao próximo, sobretudo quando não se sabe se
vamos chegar vivos em casa pela violência
generalizada (PAGOTTO, 11.08.12).
6. “Somente com a graça da fidelidade ao Evangelho de
Jesus será possível resgatar os valores humanos e
cristãos, fortalecendo os vínculos familiares e
sociais” (PAGOTTO, 29.07.12)
Vejam como essas palavras refletem bem o
significado do discurso do líder religioso. O que está
por trás delas é a justificação de uma realidade
predominantemente cristã e que se quer manter tal
ordem social de acordo com os ditames de tal
sistema religiosos. Ela acaba assumindo, nas
palavras dele (Pagotto), o papel de conduzir a
conduta e a fé de todos (até dos que não a têm).
1. O simbólico
7.
(1) um sistema de símbolos que atua para (2)
estabelecer poderosas e duradoras disposições e
motivações para os homens através da (3)
formulação de conceitos de uma ordem de existência
geral e (4) vestindo essas concepções com tal aura de
fatualidade que (5) as disposições e motivações
parecem singularmente realistas. GEERTZ, 2011.p.
67.
8.
Esse poder do símbolo ou poder simbólico é algo que
faz com que se mantenham estruturas e ideologias
de pensamento. Seja pela figura da Instituição, seja
pela referência a um líder carismático que se impõe
pela presença na mídia e por representar uma
maioria que professam o credo a qual ele é o
representante.
9.
A palavra violência deriva do Latim violentia, que
significa veemência, impetuosidade. Mas na sua
origem está relacionada com o termo violação
(violare). É quando uma determinada posição minha
– seja ética ou moral – agrido o outro ou mesmo
tenta invalidar suas posições em detrimento às
minhas. O dicionário de Filosofia define como Ação
contrária à ordem ou à disposição da natureza. Logo
a violência acaba por romper com a ordem e tem
sempre a uma unilateralidade, isso significa dizer
que o discurso religioso que se limita a si mesmo.
2. A violência simbólica
10.
A religião legitima as instituições infundindo-lhes
um status ontológico de validade suprema, isto é,
situando-as um quadro de referência sagrado e
cósmico. As construções históricas da atividade
humana são olhadas de um ponto privilegiado que,
na sua própria autodefinição, transcende a história e
o homem. (BERGER, 1985, p.46).
3. A realidade social
11.
Somente com a graça e a fidelidade ao Evangelho de
Jesus será possível resgatar valores humanos e
cristãos, fortalecendo os vínculos familiares e sociais.
Esse desafio pressupõe a formação de lideranças
cristãs, reaprendendo a conviver na família, na igreja
doméstica, e, extensivamente, numa comunidade
cristã, onde não pode faltar o pão da Palavra de
Deus, da Eucaristia e o pão de cada dia (PAGOTTO,
27.07.12).
12.
Na medida em que a necessidade de um olhar sobre
as questões sociais, ao mesmo tempo apresenta-se o
modelo cristão como o ideal, como arquétipo
simbólico da justiça e da igualdade, na medida em
que esse dito modelo geraria uma harmonia social. O
que contribui para eleger esse sistema sociocultural
como ideal, logo, hegemônico.
13.
A religião é de fato um sistema cultural. Ela se
estrutura, a partir de elementos próprios, que se
autorregulam. Enquanto sistema simbólico é vista
como de fundamental importância para legitimar
“dominações” e até mesmo ideologia – entendendo
como jogo de ideias - Isso significa que, enquanto
criação humana é sujeita a reflexões, análises,
discordâncias e diversas formas de leituras
antropológicas, sociológicas, filosóficas, enfim, das
ciências que têm por princípio o questionamento.
Conclusão
14.
Mediante isso entendemos que nosso objeto de
estudo: a análise dos discursos do líder religioso
católico, mediante a figura carismática de dom Aldo
Pagotto, publicados nos meios de comunicação por
várias vezes nos remontam a elementos diretos de
violência simbólica, daí a importância e a
necessidade de, em uma sociedade plural,
levantarmos tais questões.