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OPINIÃO                                                                          Relatório totalitário


                                         José Miguel Sardica
                      Professor da Universidade Católica Portuguesa


            O apocalíptico relatório do FMI divulgado na se-          democracia, com direito à opinião, à indignação,
            mana passada caiu como uma bomba em Portu-                ao protesto, à greve, a exprimir desagrado e des-
            gal. Parece que a versão inicial do documento             contentamento, com sindicatos organizados, com
            era ainda mais drástica do que a que a imprensa           jornais que escrevem o que querem, com fazedo-
            divulgou, em mais uma falha de comunicação do             res de opinião que dizem o que sentem e que fa-
            Governo. O que veio a público é no entanto sufi-           zem agenda e mobilização. Habituámo-nos a um
            ciente para alarmar todos: cortes permanentes             padrão de vida e é humano e natural, porque a
            de 15% a 20% nas pensões e salários, aumento da           democracia consciencializou as pessoas e melho-
            idade da reforma, supressão definitiva dos 13.º e          rou as suas vidas, não o querermos perder. O que
PÁG.        14.º meses (ou indexação dos mesmos ao PIB), re-          quero dizer com isto é que a magnitude, a bruta-


03
            dução de uns 100 mil funcionários públicos e nova         lidade, o radicalismo dos cortes que o FMI sugere
            vaga de aumentos, tudo para cortar em definitivo           e que o governo irá, ou não, executar na íntegra
            4 mil milhões de euros anuais na despesa públi-           é de tal ordem que não é realizável em demo-
            ca. Tão depressa como chegou, o relatório do FMI          cracia. O verdadeiro dilema é afinal tão simples
            tornou-se logo um enjeitado. A oposição vai fazer-        e tão aterrador quanto este. Nenhum plano de
            lhe guerra aberta, os barões do PSD já abriram a          ajustamento extremista resistirá ao vendaval de
            trincheira da crítica e o CDS já veio dizer que o         contestação que aí vem, numa escalada de ten-
            documento é um simples parecer “técnico” e que            são e de proto-desobediência civil que tornarão o
            o Governo (ou seja, Vítor Gaspar) terá de ter em          país ingovernável. Mais do que inconstitucional,
            conta o que é política e socialmente razoável.            o plano do FMI é socialmente suicidário e politi-
            Percebe-se o incómodo que reina nas cúpulas do            camente impossível – a não ser… em ditadura. Os
            poder – e por poder entendo aqui os partidos di-          saudosistas do defunto Estado Novo gostam mui-
            tos do arco da governação, com os seus barões             to de lembrar os méritos de Salazar como “mago
            e comentadores e também o Presidente da Re-               das finanças” e a forma salvífica como o sábio de
            pública, ou seja, todos os que em alguma altura           Coimbra resgatou os portugueses do caos e os
            e de alguma maneira ocuparam cargos políticos             reeducou na ordem, oferecendo à nação o equi-
            no Portugal europeu. É um incómodo duplo – por            líbrio das contas públicas depois da “balbúrdia”
            aquilo que o relatório do FMI revela e por aquilo         republicana. Terá sido assim, numa versão sim-
            que ele implica. O que o documento revela é o             plista da história. Esquecem-se de salientar que
            absoluto desvario com que o país foi governado, à         Salazar pôde fazer o que fez porque não tinha a
            vez, por PSD, CDS e PS até ao aperto para que to-         democracia à porta de São Bento. Não é “mago
            dos eles nos lançaram. Lida sem paixões, a prosa          das finanças” quem quer, mas quem pode. E como
            do FMI é o maior libelo acusatório jamais feito à         tenho para mim que a democracia é insubstituí-
            classe política portuguesa. Mas é mais do que isso        vel, convém que os culpados do pântano – todos
            – e o mais é sombrio. Vivemos, felizmente, em             eles – percebam que não podem tudo.




           Leilão de dívida
           Portugal foi buscar 2.500 milhões e pagou menos juros
           O Tesouro português colocou, esta manhã, 2.500 mi-         euros, com a taxa de juro média a fixar-se nos 0,667%,
           lhões de euros em dívida a três, doze e dezoito meses      contra 1,936% de juro fixado na última colocação a três
           pagando taxas de juro consideravelmente mais baixas        meses, realizada a 21 de Novembro do ano passado.
           do que nas últimas operações para colocar dívida com       No prazo a 12 meses, Portugal colocou 1.200 milhões
           prazos semelhantes.                                        de euros, com a taxa de juro a fixar-se nos 1,609%, o
           Segundo a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida      que compara com 2,101% fixados a 17 de Outubro.
           Pública, as taxas de juro chegaram a cair mais de um       Nos Bilhetes de Tesouro com prazo a 18 meses, Portugal
           ponto percentual na maturidade mais longa, 18 meses,       conseguiu colocar mil milhões de euros, pagando uma
           e ficar em quase um terço no prazo mais curto.              taxa de juro média de 1,963%, abaixo dos 2,99% regis-
           No prazo a três meses, Portugal colocou 300 milhões de     tados no leilão de 21 de Novembro.


                                                                                   r/com renascença comunicação multimédia, 2013

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Relatório totalitário

  • 1. OPINIÃO Relatório totalitário José Miguel Sardica Professor da Universidade Católica Portuguesa O apocalíptico relatório do FMI divulgado na se- democracia, com direito à opinião, à indignação, mana passada caiu como uma bomba em Portu- ao protesto, à greve, a exprimir desagrado e des- gal. Parece que a versão inicial do documento contentamento, com sindicatos organizados, com era ainda mais drástica do que a que a imprensa jornais que escrevem o que querem, com fazedo- divulgou, em mais uma falha de comunicação do res de opinião que dizem o que sentem e que fa- Governo. O que veio a público é no entanto sufi- zem agenda e mobilização. Habituámo-nos a um ciente para alarmar todos: cortes permanentes padrão de vida e é humano e natural, porque a de 15% a 20% nas pensões e salários, aumento da democracia consciencializou as pessoas e melho- idade da reforma, supressão definitiva dos 13.º e rou as suas vidas, não o querermos perder. O que PÁG. 14.º meses (ou indexação dos mesmos ao PIB), re- quero dizer com isto é que a magnitude, a bruta- 03 dução de uns 100 mil funcionários públicos e nova lidade, o radicalismo dos cortes que o FMI sugere vaga de aumentos, tudo para cortar em definitivo e que o governo irá, ou não, executar na íntegra 4 mil milhões de euros anuais na despesa públi- é de tal ordem que não é realizável em demo- ca. Tão depressa como chegou, o relatório do FMI cracia. O verdadeiro dilema é afinal tão simples tornou-se logo um enjeitado. A oposição vai fazer- e tão aterrador quanto este. Nenhum plano de lhe guerra aberta, os barões do PSD já abriram a ajustamento extremista resistirá ao vendaval de trincheira da crítica e o CDS já veio dizer que o contestação que aí vem, numa escalada de ten- documento é um simples parecer “técnico” e que são e de proto-desobediência civil que tornarão o o Governo (ou seja, Vítor Gaspar) terá de ter em país ingovernável. Mais do que inconstitucional, conta o que é política e socialmente razoável. o plano do FMI é socialmente suicidário e politi- Percebe-se o incómodo que reina nas cúpulas do camente impossível – a não ser… em ditadura. Os poder – e por poder entendo aqui os partidos di- saudosistas do defunto Estado Novo gostam mui- tos do arco da governação, com os seus barões to de lembrar os méritos de Salazar como “mago e comentadores e também o Presidente da Re- das finanças” e a forma salvífica como o sábio de pública, ou seja, todos os que em alguma altura Coimbra resgatou os portugueses do caos e os e de alguma maneira ocuparam cargos políticos reeducou na ordem, oferecendo à nação o equi- no Portugal europeu. É um incómodo duplo – por líbrio das contas públicas depois da “balbúrdia” aquilo que o relatório do FMI revela e por aquilo republicana. Terá sido assim, numa versão sim- que ele implica. O que o documento revela é o plista da história. Esquecem-se de salientar que absoluto desvario com que o país foi governado, à Salazar pôde fazer o que fez porque não tinha a vez, por PSD, CDS e PS até ao aperto para que to- democracia à porta de São Bento. Não é “mago dos eles nos lançaram. Lida sem paixões, a prosa das finanças” quem quer, mas quem pode. E como do FMI é o maior libelo acusatório jamais feito à tenho para mim que a democracia é insubstituí- classe política portuguesa. Mas é mais do que isso vel, convém que os culpados do pântano – todos – e o mais é sombrio. Vivemos, felizmente, em eles – percebam que não podem tudo. Leilão de dívida Portugal foi buscar 2.500 milhões e pagou menos juros O Tesouro português colocou, esta manhã, 2.500 mi- euros, com a taxa de juro média a fixar-se nos 0,667%, lhões de euros em dívida a três, doze e dezoito meses contra 1,936% de juro fixado na última colocação a três pagando taxas de juro consideravelmente mais baixas meses, realizada a 21 de Novembro do ano passado. do que nas últimas operações para colocar dívida com No prazo a 12 meses, Portugal colocou 1.200 milhões prazos semelhantes. de euros, com a taxa de juro a fixar-se nos 1,609%, o Segundo a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida que compara com 2,101% fixados a 17 de Outubro. Pública, as taxas de juro chegaram a cair mais de um Nos Bilhetes de Tesouro com prazo a 18 meses, Portugal ponto percentual na maturidade mais longa, 18 meses, conseguiu colocar mil milhões de euros, pagando uma e ficar em quase um terço no prazo mais curto. taxa de juro média de 1,963%, abaixo dos 2,99% regis- No prazo a três meses, Portugal colocou 300 milhões de tados no leilão de 21 de Novembro. r/com renascença comunicação multimédia, 2013