O documento analisa a evolução da riqueza na Europa e no mundo entre 2000 e 2019. Apresenta dados mostrando que os maiores níveis de crescimento da riqueza ocorreram entre 2000-2008, antes da crise financeira. Após 2008, observou-se uma forte redução dos níveis de crescimento em todo o mundo, especialmente na Europa. Alguns países como China e Índia tiveram taxas de crescimento mais altas que a média global no período 2008-2019.
Structure and evolution of the various levels of education in the eu
A evolução da riqueza na Europa (2000/19)
1. Grazia.tanta@gmail.com 3/8/2020 1
A evolução da riqueza na Europa (2000/19)
1 – A procura irrestrita de riqueza é uma adição
2 - Os níveis de riqueza na Europa e no mundo
3 - As hierarquias em 2000, 2008 e 2019
ooooooo ||||| ooooooo
1 – A procura irrestrita de riqueza é uma adição
A ideia da “mão invisível” gerada por Adam Smith representa a reprodução de um
determinismo religioso, segundo o qual há divindades caprichosas ou sádicas para
incutir nas pessoas ideias e práticas especificas. A mão invisível representa, pois, uma lei
surgida como algo construído acima das vontades dos humanos que nada podem fazer
para se oporem ou contestarem.
Vigorava então o racionalismo, a procura de leis para interpretar a natureza mas
também as relações entre os humanos, no âmbito do otimismo e, mesmo do
deslumbramento de uma nova camada social, autoconfiante, em franca progressão
quanto a poder político e apropriação de bens e territórios; mesmo que à custa de
guerras de apropriação daqueles, da pilhagem, da pirataria e da escravatura.
Ultrapassadas as lutas religiosas, com os deuses desmaterializados e os altares
despidos, surgiram conceitos a merecer respeito e vénias como integrantes de uma
nova concepção do mundo. A classe dos capitalistas sentia a necessidade não só de
desbravar novas terras, plantas, conhecimentos técnicos e científicos mas, de
conceptualizar à sua atividade no sentido do enriquecimento. Os capitalistas, através de
repúblicas (Holanda e Inglaterra), apossaram-se do poder de estado, mesmo que mais
tarde o devolvessem, a casas reais, como topo da representação do divino mas com um
poder político limitado, para que se não tornasse um empecilho (antes pelo contrário)
à acumulação de capital e simbolizasse a unidade da pátria para a guerra contra a
concorrência.
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Nesta arquitetura inseria-se e tornou-se inquestionável o papel da mão invisível, que se
veio a confundir com a própria noção de mercado, físico e como local de encontro, de
compras e vendas. Porém, a ideia de um preço resultante do livre e igualitário encontro
entre compradores e vendedores veio a ser altamente subvertida e gradualmente
substituída pela intervenção de multinacionais, monopólios, offshores, aparelhos de
Estado, mandarinatos corruptos, poder militar, guerra, acordos internacionais,
agrupamentos de países, criação desregulada de dinheiro e dívida por parte do sistema
financeiro.
Assim, a economia passou da gestão e organização dos bens domésticos, concebida
pelos gregos, tendo como objeto a satisfação das necessidades de uma família, para
uma falsa ciência baseada na criação irrestrita e infinita de riqueza que tem como
medida algo tão grosseiro como o PIB1
. O consumo, fortemente incentivado, tornou-se
uma compulsão; como compulsão se tornou também a restrição e desvalorização dos
salários pelos capitalistas apoiados pelas classes políticas, más gestoras de aparelhos
de Estado no que se refere a necessidades populares mas, ágeis como trampolins para
financiamentos corruptos e empreendimentos sem utilidade pública.
A regulação do mercado consiste no engrandecimento de uma minoria de ricos e em
dificuldades para assalariados (designação que tende a confundir-se com precários) e
toda a panóplia de marginalizados, em países pobres ou ricos, jovens ou velhos, com
ou sem elevadas qualificações. E, como é óbvio, nada disso tem a ver com uma ciência
económica mas com escolhas e decisões políticas, determinadas acima, pelo conhecido
1% de grandes ricos.
A procura da riqueza, de modo irrestrito, corresponde a uma adição. Todas as
necessidades humanas, individuais ou coletivas têm um limite. Daí que seja
absolutamente demencial que o valor atribuído pelo mercado às cinco maiores
empresas globais – Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet e Facebook ($ 5.4 biliões, isto
é, 5.4*10^12)2
seja claramente superior ao PIB da Alemanha ($ 4.0 biliões) ou cerca de
22 vezes o PIB português. Se se pretender personalizar as cinco maiores fortunas
pessoais (Bezos, Gates, Arnaud, Zuckerberg e Ellison), isto é, um total de $ 414000 mil
milhões, encontra-se um valor próximo de dois anos de PIB português.
2 - Os níveis de riqueza na Europa e no mundo
1
No plano de contas da UE (SEC 2010) enquadram-se os gastos militares como … investimento; isto é, a aquisição
de uma bala de canhão é reprodutora de riqueza (leia-se PIB)
2
https://www.visualcapitalist.com/all-of-the-worlds-money-and-markets-in-one-visualization-2020/
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Pretende-se neste documento proceder a uma avaliação das variações da riqueza
média por adulto para os países europeus e alguns outros, de grande relevância –
Brasil, China, EUA e Índia – para além do indicador referido ao Mundo. Por riqueza deve
entender-se o conjunto de imobiliário, ações e outros títulos, equipamento doméstico
e veículos, ouro e joias, depósitos, arte… Em breve, abordaremos, especificamente, a
riqueza financeira média, por adulto.
O período considerado é representado pelo ano 2000, pelo emblemático ano de 2008
e, 2019; o que permite observar a evolução da riqueza por adulto, nos últimos vinte
anos. Todos os elementos de base são retirados dos relatórios anuais produzidos pelo
banco Credit Suisse com o título de “Global Wealth Databook”.
No gráfico I sublinham-se vários aspetos:
Os maiores níveis de crescimento da riqueza observam-se particularmente no
período 2000/2008, o tempo anterior à crise financeira iniciada ainda em 2007 e
que se arrastou nos anos seguintes; e é esse período que sinteticamente reproduz
o essencial do perfil para o período de vinte anos considerado neste estudo.
Entre 2000 e 2008, a nível global, registam-se apenas três situações em que os
níveis de riqueza apresentam um crescimento anual médio inferior ao registado
em 2008/2019 - Islândia (1.6%), EUA (2.1%) e Índia (19.6%). Os dois primeiros, com
os valores mais baixos de acréscimo de riqueza, entre todos os países
considerados, refletem alguma antecipação no desencadear da crise financeira,
normalmente tomada como tendo o ano de 2008 como ponto de partida.
De facto, a Islândia teve a sua crise financeira causada por bolhas bancárias
ancoradas em títulos europeus e americanos que conduziram os ativos dos três
principais bancos a um espantoso aumento de 1000% em quatro anos. A
contabilização desses ganhos especulativos repartidos por cada habitante de
Islândia veio a corresponder a uma delirante dívida média de $ 330000. O delírio
de muitos ancorou-se na fraude de outros pelo que, em 2015 já havia 26
banqueiros e afins envolvidos em penas de prisão3
.
3
https://zap.aeiou.pt/islandia-ja-condenou-26-banqueiros-prisao-pela-crise-financeira-de-2008-86996.
Como é sabido, a interpenetração entre a classe política portuguesa e a pastosa casta judiciária, mantém
em liberdade e no gozo de uma boa vida, desde 2014, o conhecido Ricardo Salgado, sintomaticamente
conhecido por DDT (Dono Disto Tudo). Portugal costuma ser referido como terra de brandos costumes,
sobretudo quando se fala das corruptas estruturas do poder.
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No caso dos EUA, o estoiro dos subprimes ocorreu em julho de 2007 e o seu
principal efeito ocorreu no ano seguinte. A valorização do imobiliário serviu para
que agentes especuladores convencessem pessoas de classe média e média-baixa
a contraírem novas dívidas alicerçadas no valor crescente das suas casas. Quando a
bolha especulativa rebentou, o imobiliário baixou de valor, o desemprego atingiu
muitos mas, as dívidas contraídas mantiveram o seu grau de exigência sem que os
devedores as pudessem pagar. Isso tornou-se emblemático da cadeia da crise
financeira que abalou o mundo, particularmente nos EUA e na Europa.
Há uma forte e generalizada redução dos níveis de crescimento da riqueza no
período 2008/2019 comparativamente ao anterior (2000/2008); este período,
sinteticamente reproduz o essencial do perfil para o período de vinte anos
considerado neste estudo.
Em termos globais, passa-se de um crescimento anual médio da riqueza por
adulto, de 6.8% entre 2000 e 2008 para 4.2% de 2008 para 2019. As excepções a
esse perfil são apenas três, de acréscimos de riqueza no período mais recente –
Islândia (de 1.6% anuais no primeiro período passa para 8.8% no mais recente),
seguindo-se a Índia (14.6% e 19.6% anuais) e os EUA (2.1% para 6.9% de
2000/2008 para 2008/2019.
Para o período 2008/2019 a riqueza por adulto cresceu, na Europa apenas 1.3%,
um valor que fica muito aquém dos 4.2% globais; destacam-se no cenário europeu
a Moldávia e da Bulgária, dois países dos mais pobres da Europa, com aumentos
anuais superiores a 10%.
Em 2019, face a 2008, há alguns casos de redução da riqueza acumulada por
adulto. E, esses casos envolvem países bem conhecidos durante a crise das dívidas
públicas. Chipre, apresenta um decrescimento anual médio da riqueza por adulto
de 1.5%; Grécia -3.3%; Itália, -0.6% de redução média; Espanha, -1.7% de média
anual; e ainda a Turquia com -1.9%. Como é sabido, a Irlanda deglutiu bem a
intervenção num grande banco falido e, Portugal vai sobrevivendo, com um baixo
nível de criação (registada) de riqueza, de salários e com elevado pendor para a
emigração para além dos omnipresentes e intocáveis gangs partidários de
corruptos, salafrários ou imbecis; … havendo ainda muita justaposição entre essas
categorias.
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É evidente a estagnação na criação de riqueza na Europa em geral no período
2008/2019 (1.3%), em contraste com a média mundial e com os quatro grandes
países selecionados - China (20.4%), Índia (19.6%) e ainda pelos EUA (6.9%) e Brasil
(6.3% anuais). Sublinhe-se a estagnação evidenciada no Japão, com 0.3% como
média anual do acréscimo de riqueza.
Se a estagnação na globalidade da Europa é evidente, contempla contudo,
diferentes situações. Por um lado, apresentam-se os países europeus mais pobres,
do Leste, com crescimento dos níveis de riqueza acima da média global. São eles, a
Albânia, a Bielorrússia, a Moldávia, o Montenegro, a Rússia e a Ucrânia, para além
da Islândia e da Suíça; com baixos níveis de criação de riqueza, entre os não
integrados na UE, contam-se a Noruega e a Sérvia.
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No gráfico acima, destacamos, em síntese:
Os maiores níveis de crescimento da riqueza observam-se particularmente no
período 2000/2008, o anterior à crise financeira iniciada ainda em 2007 e que se
arrastou nos anos seguintes; e é esse período que, sinteticamente, reproduz o
essencial do contributo para o perfil do período de vinte anos considerado neste
texto.
Fogem a esse perfil vários países que nos referidos vinte anos potenciaram
elevados aumentos da riqueza - China, Índia, Moldávia e Bulgária. Como é
evidente, o período 2008/2019 não é o que mais se notabiliza pelo crescimento de
riqueza somente surgindo a Islândia nessa situação, como foi referido atrás. É
também neste período que se registam as quebras na riqueza acumulada de países
como Chipre, Grécia, Itália, Espanha e Turquia, como referido atrás.
3 - As hierarquias em 2000, 2008 e 2019
Sinteticamente, segue-se a hierarquia dos países quanto aos níveis de riqueza tomando
como base o parâmetro mundial (100= média mundial em cada um dos anos). Adiante
apontaremos alguns factos mais notáveis.
Riqueza por adulto
Afastamentos e aproximações face à média mundial
2000 2008 2019
Ucrânia 2,8 Índia 9,5 Ucrânia 12,4
Moldávia 3,1 Moldávia 11,4 Moldávia 17,3
BieloRússia 6,3 Ucrânia 13,7 Índia 20,6
Sérvia 6,6 BieloRússia 21,0 BieloRússia 23,4
Índia 6,8 Brasil 28,7 Brasil 33,2
Rússia 6,9 China 37,2 Turquia 34,4
Bulgária 12,2 Rússia 39,3 Sérvia 35,4
China 13,7 Bulgária 41,4 Rússia 38,6
Roménia 15,7 Sérvia 46,0 Albânia 44,3
Montenegro 20,5 Albânia 49,5 Bulgária 60,2
Albânia 21,0 Roménia 63,0 Roménia 60,8
Brasil 22,4 Turquia 63,8 Hungria 62,6
Letónia 26,0 Hungria 67,4 Lituânia 70,9
Estónia 30,1 Lituânia 71,1 Montenegro 75,5
Lituânia 33,8 Letónia 75,6 Polónia 81,7
Rep. Checa 37,2 Rep. Checa 77,2 China 82,6
Turquia 37,5 Montenegro 78,5 Letónia 85,2
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Hungria 38,4 Estónia 87,1 Croácia 88,6
Croácia 48,3 Polónia 97,3 Rep. Checa 91,3
Eslováquia 51,0 Croácia 117,8 Eslováquia 93,4
Polónia 51,8 Eslováquia 119,1 Estónia 110,7
Eslovénia 117,8 Malta 211,1 Grécia 135,7
Chipre 148,1 Eslovénia 220,4 Chipre 164,0
Portugal 167,1 Portugal 243,1 Eslovénia 172,9
Malta 167,2 Chipre 284,9 Portugal 185,0
Grécia 227,2 Finlândia 304,1 Malta 202,6
Finlândia 233,8 Grécia 309,1 Finlândia 258,5
Suécia 246,5 Suécia 340,2 Espanha 292,9
Espanha 246,7 Alemanha 366,1 Alemanha 305,8
Alemanha 305,7 Islândia 398,0 Itália 330,5
Irlanda 329,1 Grã-Bretanha 416,6 Japão 336,1
Noruega 333,7 Bélgica 454,6 Bélgica 347,4
França 336,5 Irlanda 454,9 Suécia 374,4
Áustria 341,6 Japão 474,4 Noruega 377,3
Dinamarca 351,9 Noruega 498,8 Irlanda 384,4
Bélgica 376,7 Áustria 504,8 Áustria 388,0
Itália 382,0 EUA 508,3 França 389,7
Holanda 420,2 Itália 513,7 Holanda 393,9
Luxemburgo 437,4 Espanha 524,1 Grã-Bretanha 395,3
Grã-Bretanha 473,8 Dinamarca 539,2 Dinamarca 400,9
Islândia 544,6 Holanda 552,8 Luxemburgo 505,3
Japão 611,1 França 565,3 Islândia 537,6
EUA 670,7 Luxemburgo 684,5 EUA 610,3
Suíça 736,6 Suíça 812,6 Suíça 797,0
Europa 198,2 Europa 279,0 Europa 217,3
MUNDO 100 MUNDO 100 MUNDO 100
$ 31415 $ 48507 $ 70849
Vários países apresentam evidentes melhorias na posição hierárquica. Uns, são
países relativamente pobres e que subiram na hierarquia acima gerada –
Bulgária, China, Estónia, Letónia, Montenegro Rep. Checa e Roménia; outros,
tomados como ricos, melhoraram também a sua posição – Áustria, Dinamarca,
França, Irlanda (a despeito da crise financeira), Noruega e Suécia.
Os casos de recuo na hierarquia contemplam, essencialmente, países mais
pobres – Brasil, Hungria, Lituânia, Polónia, Turquia; e ainda a Bélgica.
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A posição de Portugal não sofre grandes mudanças; porém, ultrapassa a Grécia,
esmagada pela troika.
A Espanha mostra significativo acréscimo de riqueza em 2008 mas decai
substancialmente em 2019, enquanto os EUA apresentam a situação inversa.
A Grã-Bretanha e a Islândia apresentam fortes perdas de posição em 2008 mas
recuperam claramente em 2019, voltando para posições próximas das
observadas em 2000 no âmbito das hierarquias evidenciadas acima. Com a Itália
sucede o inverso, estabilidade em 2000 e 2008 e forte quebra em 2019.
O Japão desce na sua posição hierárquica em 2008 e 2019 enquanto, pelo
contrário, a Suíça se consolida como “o cofre-forte mundial” aumentando as
suas distâncias sobre a concorrência.
Não se pode dizer que o capitalismo apresente a mesma face ou, a mesma dinâmica,
em todas as latitudes ou longitudes. A diversidade e as desigualdades são a forma de
se manter vivo e atuante; capaz mesmo de considerar a pandemia como fonte de
negócios.
(continua)
Outros documentos em:
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