SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
Imprensa internacional arrasa
discurso de Cavaco
RTP27 Out, 2015, 10:22 | Eleições Legislativas 2015
| Rafael Marchante - Reuters
Portugal votou, Cavaco falou e o mundo reagiu. Depois da
imprensa e dos comentadores nacionais, também lá fora se
multiplicam as reações ao discurso do Presidente. Das mais
diversas proveniências, da esquerda à direita, o Presidente da
República é trucidado por boa parte da imprensa internacional.
À cabeça das publicações mais críticas encontra-se o conceituado diário britânico The
Telegraph, primeiro com um artigo da autoria de Ambrose Evans-Pritchard, que
começa por conceder: "O presidente Cavaco Silva pode ter razão ao calcular que um
Governo socialista em aliança com os comunistas precipitaria um confronto de
primeira grandeza com os mandarins da austeridade da UE".
O "monstro" que Bruxelas criou
Aquilo que classifica como "o grande plano de reflação keynesiana do sr. Costa",
acrescenta Evans-Pritchard, seria "inteiramente incompatível" com os mandamentos
austeritários vindos de Bruxelas.
Acontece que, ainda segundo Evans-Pritchard, "o demencial tratado orçamental obriga
Portugal a cortar a dívida até 60 por cento do PIB nos próximos 20 anos numa
permanente armadilha de austeridade, e a fazê-lo exactamente da mesma forma como
toda a Europa do sul está a tentar fazê-lo, e tudo sobre um pano de fundo de
poderosas forças deflacionárias à escala mundial".
E comenta: "A estratégia de combater o massivo fardo da dívida do país através de
um permanente apertar do cinto é em larga medida auto-destrutiva, visto que o efeito
de um PIB nominalmente estagnado agrava a dinâmica da crise".
O articulista considera que "Portugal vai precisar de uma reestruturação da dívida
quando vier o próximo abanão global". E lembra que "não há qualquer hipótese de a
Alemanha concordar com uma união fiscal europeia em tempo útil para impedir que
isto aconteça".
À vista desta análise, não surpreende a conclusão política: "O sr. Cavaco Silva está
realmente a usar o cargo para impor uma agenda política reaccionária, no interesse
dos credores e do establishment da zona euro e travestindo tudo isto com
assinalával Chutzpah [nota do tradutor: descaramento] como defesa da democracia".
A concluir, Evans-Pritchard nota que "os conservadores portugueses e os seus media
comportam-se como se a esquerda não tivesse direito legítimo a assumir o poder, e
devesse ser mantida ao largo por todos os meios. Estes reflexos são conhecidos - e
arrepiantes - para qualquer pessoa familiarizada com a História ibérica do século XX,
ou da América Latina". E mais adiante: "Bruxelas criou realmente um monstro".
Cavaco inventou "um papão"
Também no mesmo The Telegraph, um outro artigo de Mehreen Khan nota que o
discurso de Cavaco excluiu do poder a aliança de esquerda e, portanto, "não admira
que esta posição tenha reforçado a esquerda radical no país".
A autora lembra que, "até à eleição deste mês, Portugal era considerado excepcional
na Europa mediterrânica pela evidente inexistência de um movimento populista anti-
austeridade nos moldes de Podemos em Espanha, ou com a popularidade do Syriza
na Grécia".
"O seu obediente Governo era considerado 'mais troika do que a troika' pela sua
zelosa aplicação dos cortes draconianos na despesa e pelos aumentos de impostos
num afã de agradar aos credores".
"Ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de
esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi
pintado pelo presidente Cavaco Silva"
Agora, que a crise está declarada, sucede que, "ao contrário dos governos
tecnocráticos na Itália e na Grécia, Bruxelas não tem as suas impressões digitais
sobre a arma em Portugal". Isto porque, explica, a actual crise "é inteiramente
fabricada pelas elites políticas [portuguesas]".
Entretanto, trata-se de uma crise que "tem profundas consequências para a
democracia no resto da zona euro", como parece denunciar a nervosa reação do
presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, ao comentar que "não gosta" do que
vê em Portugal.
A concluir, afirma Mehreen Khan que, "ironicamente, muitos observadores notam que
a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado
pelo presidente Cavaco Silva. Mas a intransigência dele bem poderá desencadear
precisamente o tipo de forças anti-UE que supostamente lhe tiram o sono".
"Jogo perigoso"
Na versão francófona do diário multinacional La Tribune, Romaric Godin, comenta que
"o cálculo do presidente da República pode parecer de vistas curtas", mas, na
verdade, "visa ganhar tempo para permitir uma dissolução do parlamento logo que
seja possível, ou seja, seis meses depois da eleição presidencial prevista para
janeiro".
Esta atitude mostra que "a direita portuguesa tenta contornar a votação de 4 de
outubro instrumentalizando o euro e a UE. Ao fazer da moção de rejeição um voto por
ou contra o euro, o inquilino do Palácio de Belém tenta dar à direita a maioria que as
urnas não lhe deram". E este jogo, "a médio prazo, parece muito perigoso".
O presidente menos querido de sempre
No diário convservador alemão Tagesspiegel, Elisa Simantke considera que "uma
coisa é certa: seja como for que a luta pelo poder agora desencadeada em Portugal
venha a resolver-se, o presidente Aníbal Cavaco Silva só pode perder. Já hoje o
septuagenário de 76 anos é o presidente da República menos estimado que Portugal
alguma vez teve". E contrasta esta cordial detestação do presidente com as taxas de
popularidade que, considera, tinha nos anos 80 e 90 o Cavaco primeiro-ministro.
Entre os motivos para a antipatia por Cavaco Silva, cita a autora o modo "como ele
fundamentou a sua decisão [de reconduzir Passos Coelho]. Disse ele que um Governo
em aliança com forças anti-troika põe em perigo a 'segurança nacional', quando é de
importância vital a colaboração com os investidores".
Um ataque à democracia
Na imprensa norte-americana, destaca-se o artigo de Daniel Marans, no Huffington
Post, ao fazer notar como "o dilema colocado na ordem do dia em Portugal mostra
como as imposições económicas da zona euro minam o empenhamento na
democracia".
E cita o historiador António Costa Pinto, apoiante declarado da coligação encabeçada
por Passos Coelho, que no entanto declarou àquele jornal norte-americano o seu
repúdio pela tentativa de Cavaco Silva para ostracizar os partidos de esquerda.
Segundo Costa Pinto, "o presidente não pode excluir da democracia portuguesa dois
partidos - o Bloco de Esquerda e dos comunistas - que representam um milhão de
eleitores e 20 por cento do eleitorado português".
"Golpe de Estado silencioso"
Um golpe de Estado. Silencioso, mas um golpe de Estado. É a expressão usada pelo
economista Jacques Sapir num artigo de opinião publicado no site da revista
francesa Marianne. Sapir censura a decisão de Cavaco Silva mas concentra críticas
na “antidemocrática” União Europeia.
O economista começa por defender que é falsa a ideia de que a coligação Portugal à
Frente venceu as eleições, uma vez que “uma maioria dos eleitores portugueses votou
contra as medidas de austeridade”.
“Qualquer outra decisão assemelha-se a um ato inconstitucional,
um ‘golpe de Estado’”.
O economista aponta que o Presidente da República “não tem o poder de interpretar
as intenções futuras para se opor à vontade dos eleitores” e que, a ser apresentado
um acordo para um executivo de esquerda, Cavaco “deve dar-lhe uma oportunidade”.
“Qualquer outra decisão assemelha-se a um ato inconstitucional, um ‘golpe de
Estado’”, aponta Sapir.
O ensaísta justifica a decisão de Cavaco Silva em rejeitar uma coligação de esquerda
pelo receio de entrar em “confronto” com a União Europeia e o Eurogrupo. Jacques
Sapir compara mesmo a atual situação ao impasse grego que marcou o último ano e
culminou com a assinatura do terceiro resgate.
O economista rejeita que Portugal seja a prova de que a austeridade resulta,
apontando para o crescimento “muito precário” da economia e para os números do
défice, da dívida pública e da taxa de desemprego. A culpa, defende Sapir, é da pouca
produtividade do trabalho, cimentada numa mão-de-obra “mal ou pouco qualificada” e
na falta de investimento.
“Nas décadas de 1980 e 1990, Portugal conseguiu acomodar a sua baixa
produtividade com a desvalorização da moeda. Desde 1999 e com a entrada no euro,
isto é impossível”, ressalva, voltando a apontar armas à moeda e às instituições
europeias.
“A responsabilidade do euro na situação económica de Portugal é inegável. Mas a
responsabilidade das autoridades europeias no caos económica e político que poderá
ocorrer é igualmente certa”.
A morna defesa de Cavaco no NYT
A única e muito relativa excepção aqui recenseada para este tom condenatório na
imprensa internacional é o relato de Raphael Minder no New York Times, ao afirmar
que António Costa está a aplicar "uma estratégia de alto risco" que poderia levar o PS
a "perder ainda mais votos se outras eleições forem convocadas em breve".
Além disso, o articulista daquele diário norte-americano subscreve a expectativa
patenteada pelo presidente da República quanto a uma eventual rebelião dos
deputados do PS, ao citar a opinião de um analista do Eurasia Group, Federico Santi,
segundo o qual “quadros mais moderados [do PS] estão cada vez menos à vontade
com a orientação que Costa tomou".
O jornalista do New York Times reconhece, contudo, que esta apreciação de Santi foi
anterior ao discurso de Cavaco - o que poderá fazer toda a diferença.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusO que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusGRAZIA TANTA
 
O sistema financeiro, o primeiro ditador global 2
O sistema financeiro, o primeiro ditador global   2O sistema financeiro, o primeiro ditador global   2
O sistema financeiro, o primeiro ditador global 2GRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
A decrepitude periférica
A decrepitude periféricaA decrepitude periférica
A decrepitude periféricaGRAZIA TANTA
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaGRAZIA TANTA
 
É o clima, estúpido!
É o clima, estúpido!É o clima, estúpido!
É o clima, estúpido!GRAZIA TANTA
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial GRAZIA TANTA
 
O desenvolvimento do subdesenvolvimento
O desenvolvimento do subdesenvolvimentoO desenvolvimento do subdesenvolvimento
O desenvolvimento do subdesenvolvimentoSinapsa
 
Bloqueio político e económico. política de esquerda
Bloqueio político e económico. política de esquerdaBloqueio político e económico. política de esquerda
Bloqueio político e económico. política de esquerdaGRAZIA TANTA
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política GRAZIA TANTA
 
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)GRAZIA TANTA
 
Demografia na Europa – um mundo de desigualdades
Demografia na Europa – um mundo de desigualdadesDemografia na Europa – um mundo de desigualdades
Demografia na Europa – um mundo de desigualdadesGRAZIA TANTA
 
O futuro precário do estado nação - 3
O  futuro precário do estado nação - 3O  futuro precário do estado nação - 3
O futuro precário do estado nação - 3GRAZIA TANTA
 
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaGRAZIA TANTA
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaGRAZIA TANTA
 
3 D deficits, dívida, desigualdades
3 D   deficits, dívida, desigualdades3 D   deficits, dívida, desigualdades
3 D deficits, dívida, desigualdadesGRAZIA TANTA
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-GRAZIA TANTA
 
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlas
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlasNovo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlas
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlasGRAZIA TANTA
 

Mais procurados (20)

O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusO que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
 
O sistema financeiro, o primeiro ditador global 2
O sistema financeiro, o primeiro ditador global   2O sistema financeiro, o primeiro ditador global   2
O sistema financeiro, o primeiro ditador global 2
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
A decrepitude periférica
A decrepitude periféricaA decrepitude periférica
A decrepitude periférica
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à solta
 
É o clima, estúpido!
É o clima, estúpido!É o clima, estúpido!
É o clima, estúpido!
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
 
O desenvolvimento do subdesenvolvimento
O desenvolvimento do subdesenvolvimentoO desenvolvimento do subdesenvolvimento
O desenvolvimento do subdesenvolvimento
 
Bloqueio político e económico. política de esquerda
Bloqueio político e económico. política de esquerdaBloqueio político e económico. política de esquerda
Bloqueio político e económico. política de esquerda
 
Relatório totalitário
Relatório totalitárioRelatório totalitário
Relatório totalitário
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política
 
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
 
Demografia na Europa – um mundo de desigualdades
Demografia na Europa – um mundo de desigualdadesDemografia na Europa – um mundo de desigualdades
Demografia na Europa – um mundo de desigualdades
 
O futuro precário do estado nação - 3
O  futuro precário do estado nação - 3O  futuro precário do estado nação - 3
O futuro precário do estado nação - 3
 
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
 
3 D deficits, dívida, desigualdades
3 D   deficits, dívida, desigualdades3 D   deficits, dívida, desigualdades
3 D deficits, dívida, desigualdades
 
Manifesto economistas
Manifesto economistasManifesto economistas
Manifesto economistas
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
 
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlas
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlasNovo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlas
Novo Banco, BES, BPN uma sucessão de burlas
 

Destaque (12)

António Lobo Antunes
António Lobo AntunesAntónio Lobo Antunes
António Lobo Antunes
 
Don Corleone
Don CorleoneDon Corleone
Don Corleone
 
Rombo de Monteiro
Rombo de MonteiroRombo de Monteiro
Rombo de Monteiro
 
Faz hoje 30 anos que a praia do osso da baleia
Faz hoje 30 anos que a praia do osso da baleiaFaz hoje 30 anos que a praia do osso da baleia
Faz hoje 30 anos que a praia do osso da baleia
 
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitosAdivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
 
3Com 160088000
3Com 1600880003Com 160088000
3Com 160088000
 
Lições preliminares de direito
Lições preliminares de direitoLições preliminares de direito
Lições preliminares de direito
 
Fatiga
FatigaFatiga
Fatiga
 
Σωστή Διατροφή
Σωστή ΔιατροφήΣωστή Διατροφή
Σωστή Διατροφή
 
Sachin updated Resume
Sachin updated ResumeSachin updated Resume
Sachin updated Resume
 
La globalización.pptx
La globalización.pptxLa globalización.pptx
La globalización.pptx
 
Qualidade5s
Qualidade5sQualidade5s
Qualidade5s
 

Semelhante a Imprensa internacional critica Cavaco

Cronica em tempo de guerra
Cronica em tempo de guerraCronica em tempo de guerra
Cronica em tempo de guerrahalm145
 
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob Riemen
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob RiemenMario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob Riemen
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob RiemenGiba Canto
 
D.O.: guerra epistolar ...
D.O.: guerra epistolar ...D.O.: guerra epistolar ...
D.O.: guerra epistolar ...pr_afsalbergaria
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Elisio Estanque
 
Orlando stiebler conhecimentos gerais - bndes
Orlando stiebler   conhecimentos gerais - bndesOrlando stiebler   conhecimentos gerais - bndes
Orlando stiebler conhecimentos gerais - bndesGilberto Vieira
 
Perdão da dívida não é solução
Perdão da dívida  não é solução Perdão da dívida  não é solução
Perdão da dívida não é solução pr_afsalbergaria
 
Perdão da dívida não é solução
Perdão da dívida  não é solução Perdão da dívida  não é solução
Perdão da dívida não é solução pr_afsalbergaria
 
Inconfidencia 236 cor
Inconfidencia 236 corInconfidencia 236 cor
Inconfidencia 236 corLucio Borges
 
Publica%c3%a7%c3%a3o+message
Publica%c3%a7%c3%a3o+messagePublica%c3%a7%c3%a3o+message
Publica%c3%a7%c3%a3o+messageISSUU48
 
140827 jornalismo politico-historiaeprocesso
140827 jornalismo politico-historiaeprocesso140827 jornalismo politico-historiaeprocesso
140827 jornalismo politico-historiaeprocessoUNIP-jornalismo2013
 
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09RicardoCastorp
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...GRAZIA TANTA
 
O crescimento da indústria da mídia
O crescimento da indústria da mídiaO crescimento da indústria da mídia
O crescimento da indústria da mídiaLuci Bonini
 

Semelhante a Imprensa internacional critica Cavaco (20)

Cronica em tempo de guerra
Cronica em tempo de guerraCronica em tempo de guerra
Cronica em tempo de guerra
 
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob Riemen
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob RiemenMario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob Riemen
Mario Soares fala sobre "O Retorno do Fascismo" de Rob Riemen
 
Normandia & Visões
Normandia & VisõesNormandia & Visões
Normandia & Visões
 
Segurança Social ...
Segurança Social ...Segurança Social ...
Segurança Social ...
 
D.O.: guerra epistolar ...
D.O.: guerra epistolar ...D.O.: guerra epistolar ...
D.O.: guerra epistolar ...
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
 
Repórter Capixaba 92.pdf
Repórter Capixaba 92.pdfRepórter Capixaba 92.pdf
Repórter Capixaba 92.pdf
 
Orlando stiebler conhecimentos gerais - bndes
Orlando stiebler   conhecimentos gerais - bndesOrlando stiebler   conhecimentos gerais - bndes
Orlando stiebler conhecimentos gerais - bndes
 
Perdão da dívida não é solução
Perdão da dívida  não é solução Perdão da dívida  não é solução
Perdão da dívida não é solução
 
Perdão da dívida não é solução
Perdão da dívida  não é solução Perdão da dívida  não é solução
Perdão da dívida não é solução
 
Texto 2- 2ºBimestre
Texto 2- 2ºBimestreTexto 2- 2ºBimestre
Texto 2- 2ºBimestre
 
O panelaço da barriga cheia e do ódio
O panelaço da barriga cheia e do ódioO panelaço da barriga cheia e do ódio
O panelaço da barriga cheia e do ódio
 
Inconfidencia 236 cor
Inconfidencia 236 corInconfidencia 236 cor
Inconfidencia 236 cor
 
Publica%c3%a7%c3%a3o+message
Publica%c3%a7%c3%a3o+messagePublica%c3%a7%c3%a3o+message
Publica%c3%a7%c3%a3o+message
 
140827 jornalismo politico-historiaeprocesso
140827 jornalismo politico-historiaeprocesso140827 jornalismo politico-historiaeprocesso
140827 jornalismo politico-historiaeprocesso
 
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09
Entrevista JAS. "Visão" 17.09.09
 
B7
B7B7
B7
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
 
O crescimento da indústria da mídia
O crescimento da indústria da mídiaO crescimento da indústria da mídia
O crescimento da indústria da mídia
 
Reporter Capixaba 95.pdf
Reporter Capixaba 95.pdfReporter Capixaba 95.pdf
Reporter Capixaba 95.pdf
 

Mais de Do outro lado da barricada (20)

Barcaça16.pdf
Barcaça16.pdfBarcaça16.pdf
Barcaça16.pdf
 
BARCAÇA_01
BARCAÇA_01BARCAÇA_01
BARCAÇA_01
 
BARCAÇA_01
BARCAÇA_01BARCAÇA_01
BARCAÇA_01
 
BARCAÇA
BARCAÇABARCAÇA
BARCAÇA
 
BARCAÇA
BARCAÇABARCAÇA
BARCAÇA
 
Barcaça 15 ago 2021
Barcaça 15 ago 2021Barcaça 15 ago 2021
Barcaça 15 ago 2021
 
BARCAÇA
BARCAÇABARCAÇA
BARCAÇA
 
BARCAÇA
BARCAÇABARCAÇA
BARCAÇA
 
Liberdade de imprensa
Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa
Liberdade de imprensa
 
A CEE e o PREC
A CEE e o PRECA CEE e o PREC
A CEE e o PREC
 
Roa x2 x5
Roa x2 x5Roa x2 x5
Roa x2 x5
 
PIEPE-ESCOLAS
PIEPE-ESCOLASPIEPE-ESCOLAS
PIEPE-ESCOLAS
 
Manual PIEPE 2020/2021
Manual PIEPE 2020/2021Manual PIEPE 2020/2021
Manual PIEPE 2020/2021
 
Assassinato de delgado
Assassinato de  delgadoAssassinato de  delgado
Assassinato de delgado
 
Sorteio 500 miragem
Sorteio 500 miragemSorteio 500 miragem
Sorteio 500 miragem
 
Guia requerimento online subsidio desemprego 19-05-2020
Guia requerimento online subsidio desemprego 19-05-2020Guia requerimento online subsidio desemprego 19-05-2020
Guia requerimento online subsidio desemprego 19-05-2020
 
Perguntas frequentes matriculas_2020_21
Perguntas frequentes matriculas_2020_21Perguntas frequentes matriculas_2020_21
Perguntas frequentes matriculas_2020_21
 
Despacho n.º 6608-B/2020
Despacho n.º 6608-B/2020Despacho n.º 6608-B/2020
Despacho n.º 6608-B/2020
 
REGRESSO ÀS AULAS COMO?
REGRESSO ÀS AULAS COMO?REGRESSO ÀS AULAS COMO?
REGRESSO ÀS AULAS COMO?
 
Limpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolar
Limpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolarLimpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolar
Limpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolar
 

Imprensa internacional critica Cavaco

  • 1. Imprensa internacional arrasa discurso de Cavaco RTP27 Out, 2015, 10:22 | Eleições Legislativas 2015 | Rafael Marchante - Reuters Portugal votou, Cavaco falou e o mundo reagiu. Depois da imprensa e dos comentadores nacionais, também lá fora se multiplicam as reações ao discurso do Presidente. Das mais diversas proveniências, da esquerda à direita, o Presidente da República é trucidado por boa parte da imprensa internacional. À cabeça das publicações mais críticas encontra-se o conceituado diário britânico The Telegraph, primeiro com um artigo da autoria de Ambrose Evans-Pritchard, que começa por conceder: "O presidente Cavaco Silva pode ter razão ao calcular que um Governo socialista em aliança com os comunistas precipitaria um confronto de primeira grandeza com os mandarins da austeridade da UE". O "monstro" que Bruxelas criou Aquilo que classifica como "o grande plano de reflação keynesiana do sr. Costa", acrescenta Evans-Pritchard, seria "inteiramente incompatível" com os mandamentos austeritários vindos de Bruxelas. Acontece que, ainda segundo Evans-Pritchard, "o demencial tratado orçamental obriga Portugal a cortar a dívida até 60 por cento do PIB nos próximos 20 anos numa permanente armadilha de austeridade, e a fazê-lo exactamente da mesma forma como toda a Europa do sul está a tentar fazê-lo, e tudo sobre um pano de fundo de poderosas forças deflacionárias à escala mundial". E comenta: "A estratégia de combater o massivo fardo da dívida do país através de
  • 2. um permanente apertar do cinto é em larga medida auto-destrutiva, visto que o efeito de um PIB nominalmente estagnado agrava a dinâmica da crise". O articulista considera que "Portugal vai precisar de uma reestruturação da dívida quando vier o próximo abanão global". E lembra que "não há qualquer hipótese de a Alemanha concordar com uma união fiscal europeia em tempo útil para impedir que isto aconteça". À vista desta análise, não surpreende a conclusão política: "O sr. Cavaco Silva está realmente a usar o cargo para impor uma agenda política reaccionária, no interesse dos credores e do establishment da zona euro e travestindo tudo isto com assinalával Chutzpah [nota do tradutor: descaramento] como defesa da democracia". A concluir, Evans-Pritchard nota que "os conservadores portugueses e os seus media comportam-se como se a esquerda não tivesse direito legítimo a assumir o poder, e devesse ser mantida ao largo por todos os meios. Estes reflexos são conhecidos - e arrepiantes - para qualquer pessoa familiarizada com a História ibérica do século XX, ou da América Latina". E mais adiante: "Bruxelas criou realmente um monstro". Cavaco inventou "um papão" Também no mesmo The Telegraph, um outro artigo de Mehreen Khan nota que o discurso de Cavaco excluiu do poder a aliança de esquerda e, portanto, "não admira que esta posição tenha reforçado a esquerda radical no país". A autora lembra que, "até à eleição deste mês, Portugal era considerado excepcional na Europa mediterrânica pela evidente inexistência de um movimento populista anti- austeridade nos moldes de Podemos em Espanha, ou com a popularidade do Syriza na Grécia". "O seu obediente Governo era considerado 'mais troika do que a troika' pela sua zelosa aplicação dos cortes draconianos na despesa e pelos aumentos de impostos num afã de agradar aos credores". "Ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado pelo presidente Cavaco Silva" Agora, que a crise está declarada, sucede que, "ao contrário dos governos tecnocráticos na Itália e na Grécia, Bruxelas não tem as suas impressões digitais sobre a arma em Portugal". Isto porque, explica, a actual crise "é inteiramente fabricada pelas elites políticas [portuguesas]". Entretanto, trata-se de uma crise que "tem profundas consequências para a democracia no resto da zona euro", como parece denunciar a nervosa reação do presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, ao comentar que "não gosta" do que vê em Portugal. A concluir, afirma Mehreen Khan que, "ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado pelo presidente Cavaco Silva. Mas a intransigência dele bem poderá desencadear precisamente o tipo de forças anti-UE que supostamente lhe tiram o sono". "Jogo perigoso"
  • 3. Na versão francófona do diário multinacional La Tribune, Romaric Godin, comenta que "o cálculo do presidente da República pode parecer de vistas curtas", mas, na verdade, "visa ganhar tempo para permitir uma dissolução do parlamento logo que seja possível, ou seja, seis meses depois da eleição presidencial prevista para janeiro". Esta atitude mostra que "a direita portuguesa tenta contornar a votação de 4 de outubro instrumentalizando o euro e a UE. Ao fazer da moção de rejeição um voto por ou contra o euro, o inquilino do Palácio de Belém tenta dar à direita a maioria que as urnas não lhe deram". E este jogo, "a médio prazo, parece muito perigoso". O presidente menos querido de sempre No diário convservador alemão Tagesspiegel, Elisa Simantke considera que "uma coisa é certa: seja como for que a luta pelo poder agora desencadeada em Portugal venha a resolver-se, o presidente Aníbal Cavaco Silva só pode perder. Já hoje o septuagenário de 76 anos é o presidente da República menos estimado que Portugal alguma vez teve". E contrasta esta cordial detestação do presidente com as taxas de popularidade que, considera, tinha nos anos 80 e 90 o Cavaco primeiro-ministro. Entre os motivos para a antipatia por Cavaco Silva, cita a autora o modo "como ele fundamentou a sua decisão [de reconduzir Passos Coelho]. Disse ele que um Governo em aliança com forças anti-troika põe em perigo a 'segurança nacional', quando é de importância vital a colaboração com os investidores". Um ataque à democracia Na imprensa norte-americana, destaca-se o artigo de Daniel Marans, no Huffington Post, ao fazer notar como "o dilema colocado na ordem do dia em Portugal mostra como as imposições económicas da zona euro minam o empenhamento na democracia". E cita o historiador António Costa Pinto, apoiante declarado da coligação encabeçada por Passos Coelho, que no entanto declarou àquele jornal norte-americano o seu repúdio pela tentativa de Cavaco Silva para ostracizar os partidos de esquerda. Segundo Costa Pinto, "o presidente não pode excluir da democracia portuguesa dois partidos - o Bloco de Esquerda e dos comunistas - que representam um milhão de eleitores e 20 por cento do eleitorado português". "Golpe de Estado silencioso" Um golpe de Estado. Silencioso, mas um golpe de Estado. É a expressão usada pelo economista Jacques Sapir num artigo de opinião publicado no site da revista francesa Marianne. Sapir censura a decisão de Cavaco Silva mas concentra críticas na “antidemocrática” União Europeia. O economista começa por defender que é falsa a ideia de que a coligação Portugal à Frente venceu as eleições, uma vez que “uma maioria dos eleitores portugueses votou contra as medidas de austeridade”. “Qualquer outra decisão assemelha-se a um ato inconstitucional, um ‘golpe de Estado’”. O economista aponta que o Presidente da República “não tem o poder de interpretar as intenções futuras para se opor à vontade dos eleitores” e que, a ser apresentado um acordo para um executivo de esquerda, Cavaco “deve dar-lhe uma oportunidade”. “Qualquer outra decisão assemelha-se a um ato inconstitucional, um ‘golpe de Estado’”, aponta Sapir.
  • 4. O ensaísta justifica a decisão de Cavaco Silva em rejeitar uma coligação de esquerda pelo receio de entrar em “confronto” com a União Europeia e o Eurogrupo. Jacques Sapir compara mesmo a atual situação ao impasse grego que marcou o último ano e culminou com a assinatura do terceiro resgate. O economista rejeita que Portugal seja a prova de que a austeridade resulta, apontando para o crescimento “muito precário” da economia e para os números do défice, da dívida pública e da taxa de desemprego. A culpa, defende Sapir, é da pouca produtividade do trabalho, cimentada numa mão-de-obra “mal ou pouco qualificada” e na falta de investimento. “Nas décadas de 1980 e 1990, Portugal conseguiu acomodar a sua baixa produtividade com a desvalorização da moeda. Desde 1999 e com a entrada no euro, isto é impossível”, ressalva, voltando a apontar armas à moeda e às instituições europeias. “A responsabilidade do euro na situação económica de Portugal é inegável. Mas a responsabilidade das autoridades europeias no caos económica e político que poderá ocorrer é igualmente certa”. A morna defesa de Cavaco no NYT A única e muito relativa excepção aqui recenseada para este tom condenatório na imprensa internacional é o relato de Raphael Minder no New York Times, ao afirmar que António Costa está a aplicar "uma estratégia de alto risco" que poderia levar o PS a "perder ainda mais votos se outras eleições forem convocadas em breve". Além disso, o articulista daquele diário norte-americano subscreve a expectativa patenteada pelo presidente da República quanto a uma eventual rebelião dos deputados do PS, ao citar a opinião de um analista do Eurasia Group, Federico Santi, segundo o qual “quadros mais moderados [do PS] estão cada vez menos à vontade com a orientação que Costa tomou". O jornalista do New York Times reconhece, contudo, que esta apreciação de Santi foi anterior ao discurso de Cavaco - o que poderá fazer toda a diferença.