O artigo critica as políticas de austeridade do governo de Passos Coelho por estarem a "matar a economia para pagar o despesismo público", sugerindo que deveria cortar gastos com projetos culturais e fundações privadas. Também critica o PCP e BE por agora se oporem a essas mesmas políticas de direita que permitiram chegar ao governo.
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Miguel Sousa Tavares: Morte certa, ressurreição
duvidosa
Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt)
ontem às 11:56
1 O discurso de Pedro Passos Coelho aos portugueses foi um texto bem escrito, bem elaborado, bem argumentado e lido
com convicção e coragem - porque não era fácil. Essa é a grande qualidade de Passos Coelho: ele até pode estar errado
em tudo, mas sente-se que acredita no que diz e está de boa-fé.
2 O que ele agora nos veio dizer foi isto: "morram primeiro, que eu ressuscito-vos depois". E nós nada mais podemos
fazer do que esperar que, contra toda a lógica, ele possa ter razão, no fim de tudo. Porque não temos alternativa (ou
temos, e chama-se António José Seguro, o que vem a dar no mesmo ou pior). A aposta é que, matando a economia, se
restauram as finanças públicas. A Bélgica, a França, a Itália, a Inglaterra, os Estados Unidos, todos eles têm um
problema de défice e de dívida soberana igual ou pior do que o nosso. Não é só Portugal ou os PIGS. A diferença é que
eles têm capacidade de retomar o crescimento e, por essa via, resolver o défice, e nós não. Subindo sem parar os
impostos a todos os que ainda produzem, massacrando o consumo interno, o Governo está a matar a economia para
pagar o despesismo público. O que eu gostaria de ter ouvido, e não ouvi, era o PM declarar, por exemplo: "Acabou-se
Guimarães-Capital da Cultura, acabou-se o Museu Berardo, acabou-se o Metropolitano do Porto, acabou-se a Moda
Lisboa, acabaram-se os dinheiros públicos para Fundações privadas, acabaram-se os avales do Estado às dívidas da
Madeira" (nem uma palavra de Passos Coelho sobre isso).
3 Já basta e ofende a desculpa da herança do anterior governo. Primeiro, porque juraram que não o fariam; segundo,
porque só mostra que nada sabiam do estado do país e não estavam preparados para governar, mas apenas para
ocupar o poder; terceiro, porque, que se tenha percebido, o tal buraco inesperado de 3000 milhões decorre, todo ele, da
privatização do BPN, nas condições definidas por este Governo, e das dívidas escondidas do querido Jardim, criatura
emérita do PSD. E resta este facto: desde que o actual Governo tomou posse, todos os indicadores económicos da
conjuntura não fizeram senão agravar-se - todos, sem excepção.
E, depois de quatro ou cinco aumentos de impostos sucessivos, a receita fiscal do Estado decresce, em lugar de subir (e
não nos venham dizer que a culpa é de Sócrates).
4 Anuladas todas as deduções fiscais nos dois últimos escalões do IRS e generalizado o aumento do IVA para o escalão
máximo de 23% sobre a restauração e o pequeno comércio está aberta a porta para a fuga fiscal. Por mais bonito que
seja o discurso e por mais séria que seja a convicção dos seus autores nenhuma redenção virá do massacre da
economia leal e do estímulo à economia paralela.
5 Mas o mais extraordinário do anúncio das grandes linhas do OE para 2012 foram as reacções do PCP e do BE.
Disseram eles, ofendidos e exaltados, que estas "políticas de direita" são insustentáveis, um "roubo aos trabalhadores", o
"caminho para o desastre", etc. e tal. Como? Peço perdão: não foram eles que votaram o derrube do governo PS, abrindo
caminho a um governo de direita? Esperavam o quê - uma solução mais suave que o saudoso PEC 4, que tão
entusiasticamente chumbaram?
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Artigo publicado na edição impressa do Expresso de 15 de Outubro de 2011
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=print&op=view&fokey=ex.stories/681065&sid=ex.... 18-10-2011