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                 transformar em crise económica e, a seguir, vir uma        é referido. Talvez por não ser demasiado agradável”
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                 cessário, lançando dinheiro de um helicóptero, se ne-      união monetária terá sido um passo maior que a per-
                 cessário, mas que a Europa se afundará num pântano,        na. Podemos ter um pequeno exemplo das tensões
                 vítima de uma Banco Central incapaz de reagir contra       que poderá criar: quando a Islândia desvalorizou a
PÁG.             os dogmas, um governo económico ausente e de uma
                 crise económica que é também ideológica. Sobrevi-
                                                                            sua moeda, criou controlo de capitais para evitar a
                                                                            fuga, o que aconteceu? Deixou de pagar aos credores


08               rá, então, o momento em que a Alemanha terá de
                 assumir se quer salvar o euro e esta versão de União
                 Europeia.
                 Já chegou este momento antecipado, entre outros,
                                                                            externos. Isto é: todos aqueles bancos que estavam
                                                                            altamente endividados deixaram de pagar aos bancos
                                                                            ingleses e holandeses. Foi enorme o grau de recrimi-
                                                                            nação que existiu na altura contra a Islândia, um país
                 em Janeiro de 2008, por Ken Rogoff e Wim Buiter?           de 300 mil pessoas. Com este quadro de ‘pequeno
                 Pedro Braz Teixeira, que foi adjunto da então ministra     país vs potência europeia’, imaginar este cenário re-
                 das Finanças Manuela Ferreira Leite e investigador do      produzido à escala de vários países europeus é, real-
                 NECEP, Núcleo de Estudos Económicos da Universidade        mente, muito complicado” afirmou o especialista em
                 Católica, e Luciano Amaral, professor da Faculdade         História Económica.
                 de Economia da Universidade Nova de Lisboa, analisa-
                 ram o futuro da moeda única no espaço de debate de         “Fukushima monetário”
                 domngo, entre as 12h00 e as 13h00, na Renascença.
                 Luciano Amaral sustentou a tese de que “as soluções        “Um cenário com os alemães a assistirem à falência
                 que estão a ser seguidas apenas adiam a união orça-        do Bundesbank, um dos mais simbólicos pilares da sua
                 mental ou a desagregação”.                                 estrutura pública, política e cultural do pós-guerra,
                 “Qual é o problema da união bancária?”, questionou         irá provocar um choque profundo. Já alguém desig-
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                 camente impossível. Como convencer um mineiro ale-         solução é um fim ordenado do euro ou um fim desor-
                 mão, um agricultor alemão, um operário a contribuir        denado e caótico. Acho que são as duas hipóteses que
                 para a Grécia, que é considerada - com razão - um          existem, porque não há condições políticas de cons-
                 poço sem fundo? Para o eleitorado alemão é difícil         truir a integração política, orçamental, bancária. Não
                 perceber. Julgo que a Europa enfrenta sérios riscos        prevejo nenhum calendário, mas gostava muito que se
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                 Teixeira, autor do livro “O fim do euro em Portugal”.       No quadro das responsabilidades a apurar no cenário
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                 do ‘adeus’ da Grécia ao Euro. “É impossível criar um       tifica um velho problema fundado num certo arbítrio
                 muro de protecção à volta da Grécia. Entendo que a         típico da construção europeia. “Não houve, propria-
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                 da Zona Euro. Em particular, do Bundesbank. Quan-          determinada estrutura institucional, pensando, como
                 do os alemães virem que o seu querido Bundesbank           se faz muitas vezes na Europa, ‘faz-se e, depois, sur-
                 faliu, devido à Grécia, imagine-se como irão reagir.       ge aparecer a solução’. É a teoria das crises: faz-se e
                 Não consigo perceber porque é que este cenário não é       depois há-de aparecer um problema e resolve-se, na
                 abordado. Os capitais próprios dos bancos centrais eu-     altura, porque tudo se resolve na Europa’”.


                                                                                          r/com renascença comunicação multimédia, 2012

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Debate sobre o futuro do euro após a crise da Grécia e os riscos de desintegração da zona do euro

  • 1. INTERNACIONAL Debate na Renascença “Fukushima monetário” precipita fim do euro? » José Bastos ropeus são muitíssimo inferiores aos créditos da Gré- Fórum Mundial de Davos, Janeiro de 2009. A economia cia. A Grécia não vai conseguir pagar. É impossível à recupera do susto causado pela falência do Leehman Grécia conseguir pagar aqueles créditos e, portanto, Brothers. Nesses dias, em contra-corrente, dois eco- qualquer pequeno perdão que se conceda vai limpar nomistas Ken Rogoff, de Harvard, e Wim Buiter, do esses capitais próprios dos bancos centrais. Tenho di- Citigroup, alertam para o risco da crise bancária se ficuldade em perceber porque é que este tema não transformar em crise económica e, a seguir, vir uma é referido. Talvez por não ser demasiado agradável” fenomenal crise de dívida pública, dessas que se dão afirma o economista. uma vez em cada século. Para Luciano Amaral, o eventual fim do euro constitui- Rogoff e Buiter antecipam que os EUA vão contornar rá “um grande retrocesso”. a tempestade, porque a Reserva Federal fará o ne- “A confirmar-se esse cenário, a construção desta cessário, lançando dinheiro de um helicóptero, se ne- união monetária terá sido um passo maior que a per- cessário, mas que a Europa se afundará num pântano, na. Podemos ter um pequeno exemplo das tensões vítima de uma Banco Central incapaz de reagir contra que poderá criar: quando a Islândia desvalorizou a PÁG. os dogmas, um governo económico ausente e de uma crise económica que é também ideológica. Sobrevi- sua moeda, criou controlo de capitais para evitar a fuga, o que aconteceu? Deixou de pagar aos credores 08 rá, então, o momento em que a Alemanha terá de assumir se quer salvar o euro e esta versão de União Europeia. Já chegou este momento antecipado, entre outros, externos. Isto é: todos aqueles bancos que estavam altamente endividados deixaram de pagar aos bancos ingleses e holandeses. Foi enorme o grau de recrimi- nação que existiu na altura contra a Islândia, um país em Janeiro de 2008, por Ken Rogoff e Wim Buiter? de 300 mil pessoas. Com este quadro de ‘pequeno Pedro Braz Teixeira, que foi adjunto da então ministra país vs potência europeia’, imaginar este cenário re- das Finanças Manuela Ferreira Leite e investigador do produzido à escala de vários países europeus é, real- NECEP, Núcleo de Estudos Económicos da Universidade mente, muito complicado” afirmou o especialista em Católica, e Luciano Amaral, professor da Faculdade História Económica. de Economia da Universidade Nova de Lisboa, analisa- ram o futuro da moeda única no espaço de debate de “Fukushima monetário” domngo, entre as 12h00 e as 13h00, na Renascença. Luciano Amaral sustentou a tese de que “as soluções “Um cenário com os alemães a assistirem à falência que estão a ser seguidas apenas adiam a união orça- do Bundesbank, um dos mais simbólicos pilares da sua mental ou a desagregação”. estrutura pública, política e cultural do pós-guerra, “Qual é o problema da união bancária?”, questionou irá provocar um choque profundo. Já alguém desig- o docente da Nova, para responder: “A Alemanha sus- nou este quadro como um ‘Fukushima monetário’. Ou peita, e todos nós já percebemos que é assim, que a seja: quando surgiu o desastre nuclear no Japão em união bancária, em última instância, é uma espécie poucos dias a opinião pública alemã mudou a sua opi- de união orçamental por via escondida, porque o me- nião face ao nuclear. O governo de Merkel foi obrigado canismo de estabilidade europeu é baseado nos orça- a rever completamente a sua política face à energia mentos nacionais. A tensão do momento, na Europa, é nuclear. Uma queda do Bundesbank pode levar o go- entre a força para a união orçamental e a força para a verno alemão a mudar radicalmente a sua visão face separação destes países. A actual via intermédia que ao Euro e dizer ‘acabou, vamos sair do Euro’”, receia está a ser seguida pelas autoridades é apenas um adia- Braz Teixeira, numa lógica que antecipa o fim da mo- mento da aplicação de uma destas duas soluções”. eda única. “No Orçamento Federal, o cenário seria a Alemanha O economista não compromete a opinião do fim do e outros países serem contribuintes líquidos de Portu- euro com limites temporais, mas não acredita na gal, da Grécia e de outros países. Esse quadro é politi- integração orçamental. “O que a Europa tem como camente impossível. Como convencer um mineiro ale- solução é um fim ordenado do euro ou um fim desor- mão, um agricultor alemão, um operário a contribuir denado e caótico. Acho que são as duas hipóteses que para a Grécia, que é considerada - com razão - um existem, porque não há condições políticas de cons- poço sem fundo? Para o eleitorado alemão é difícil truir a integração política, orçamental, bancária. Não perceber. Julgo que a Europa enfrenta sérios riscos prevejo nenhum calendário, mas gostava muito que se de desagregação”, defendeu, por sua vez, Pedro Braz estivesse já a preparar o fim ordenado do Euro”. Teixeira, autor do livro “O fim do euro em Portugal”. No quadro das responsabilidades a apurar no cenário Braz Teixeira não acredita na suavização dos efeitos limite do fim da moeda única, Luciano Amaral iden- do ‘adeus’ da Grécia ao Euro. “É impossível criar um tifica um velho problema fundado num certo arbítrio muro de protecção à volta da Grécia. Entendo que a típico da construção europeia. “Não houve, propria- saída da Grécia da Zona Euro irá levar – devido aos cré- mente, uma intenção deliberada de criar uma coisa ditos que tem – à falência de todos os bancos centrais horrível. Houve um voluntarismo inicial em criar uma da Zona Euro. Em particular, do Bundesbank. Quan- determinada estrutura institucional, pensando, como do os alemães virem que o seu querido Bundesbank se faz muitas vezes na Europa, ‘faz-se e, depois, sur- faliu, devido à Grécia, imagine-se como irão reagir. ge aparecer a solução’. É a teoria das crises: faz-se e Não consigo perceber porque é que este cenário não é depois há-de aparecer um problema e resolve-se, na abordado. Os capitais próprios dos bancos centrais eu- altura, porque tudo se resolve na Europa’”. r/com renascença comunicação multimédia, 2012