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1. Por que a Europa passa por uma crise?
A formação de uma crise financeira na zona do euro deu-se, fundamentalmente, por
problemas fiscais. Alguns países, como a Grécia, gastaram mais dinheiro do conseguiram
arrecadar por meio de impostos nos últimos anos. Para se financiar, passaram a acumular
dívidas. Assim, a relação do endividamento sobre PIB de muitas nações do continente
ultrapassou significativamente o limite de 60% estabelecido no Tratado de Maastricht, de
1992, que criou a zona do euro. No caso da economia grega, exemplo mais grave de
descontrole das contas públicas, a razão dívida/PIB é mais que o dobro deste limite. A
desconfiança de que os governos da região teriam dificuldade para honrar suas dívidas
fez com que os investidores passassem a temer possuir ações, bem como títulos públicos
e privados europeus.




2. Quando os investidores passaram a desconfiar da Europa?
Os primeiros temores remontam 2007 quando existiam suspeitas de que o mercado
imobiliário dos Estados Unidos vivia uma bolha. Temia-se que bancos americanos e
também europeus possuíam ativos altamente arriscados, lastreados em hipotecas de baixa
qualidade. A crise de 2008 confirmou as suspeitas e levou os governos a injetarem
trilhões de dólares nas economias dos países mais afetados. No caso da Europa, a
iniciativa agravou os déficits nacionais, já muito elevados. Em fevereiro de 2010, uma
reportagem do The New York Times revelou que a Grécia teria fechado acordos com o
banco Goldman Sachs com o objetivo de esconder parte de sua dívida pública. A notícia
levou a Comissão Européia a investigar o assunto e desencadeou uma onda de
desconfiança nos mercados. O clima de pessimismo foi agravado em abril pelo
rebaixamento, por parte das agências de classificação de risco, das notas dos títulos
soberanos de Grécia, Espanha e Portugal.




3. Quais países se encontram em situação de risco na Europa e por quê?
Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - que formam o chamado grupo dos PIIGS -
são os que se encontram em posição mais delicada dentro da zona do euro, pois foram os
que atuaram de forma mais indisciplinada nos gastos públicos e se endividaram
excessivamente. Além de possuírem elevada relação dívida/PIB, estes países possuem
pesados déficits orçamentários ante o tamanho de suas economias. Como não possuem
sobras de recursos (superávit), entraram no radar da desconfiança dos investidores. Para
este ano, as projeções da Economist Intelligence Unit apontam déficits/PIB de 8,5% para
Portugal, 19,4% para Irlanda, 5,3% para Itália, 9,4% para Grécia e 11,5% para Espanha.
5.A crise financeira pode afetar a economia real da Europa?
A desconfiança em relação à Europa pode disseminar pânico no mercado e fazer com que
bancos fiquem excessivamente cautelosos ou até parem de liberar crédito para empresas e
clientes. Os investidores, ao venderem ações e títulos europeus, provocam fuga de
capitais da região. Sem poder provocar uma maxidesvalorização do euro, haja vista que
isso prejudicaria aqueles países que têm as contas controladas, a opção é impor sacrifícios
à população, como corte de salários e congelamento de benefícios sociais. Tudo isso
implica menos dinheiro para fazer a economia girar - justo num momento em que a zona
do euro precisa crescer e aumentar sua arrecadação para diminuir o endividamento. O
risco é a criação de um círculo vicioso, em que uma estagnação ou, até mesmo, uma
recessão, prejudique os esforços de ajuste fiscal - o que levaria a medidas de austeridade
ainda mais severas, mais recessão, e assim por diante. Num segundo momento, a Europa,
como um dos maiores mercados consumidores do mundo, diminuiria o ritmo de
importação de bens e serviços e prejudicaria a dinâmica econômica global.




Por que o euro se desvaloriza?
A possibilidade de que governos e empresas da região tornem-se insolventes faz com boa
parte dos investidores simplesmente não queira ficar exposta ao risco de ações e títulos
europeus. Na primeira metade do ano, o que se viu foi um movimento de venda destes
papéis e fuga para ativos considerados seguros, como os títulos do Tesouro norte-
americano. Tal movimento, de procura por dólares e abandono do euro, fez com que a
cotação da moeda européia atingisse valores historicamente baixos. As moedas também
refletem o vigor das economias. Assim, argumentam os analistas, a tendência de longo
prazo é de fortalecimento do dólar e das moedas dos países emergentes (real inclusive),
enquanto a Europa não conseguir resolver seus problemas fiscais e criar condições para
um crescimento econômico mais acentuado.


Maio de 2010

Crise na Europa
A Europa, sempre lembrada como uma região de altíssimo desenvolvimento econômico e
bem-estar social, agora tem sua imagem associada a turbulências de mercado. Entenda
como o descontrole das contas públicas e as particularidades políticas do continente
conduziram a zona do euro a uma crise financeira que levará anos para ser totalmente
superada.

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  • 1. 1. Por que a Europa passa por uma crise? A formação de uma crise financeira na zona do euro deu-se, fundamentalmente, por problemas fiscais. Alguns países, como a Grécia, gastaram mais dinheiro do conseguiram arrecadar por meio de impostos nos últimos anos. Para se financiar, passaram a acumular dívidas. Assim, a relação do endividamento sobre PIB de muitas nações do continente ultrapassou significativamente o limite de 60% estabelecido no Tratado de Maastricht, de 1992, que criou a zona do euro. No caso da economia grega, exemplo mais grave de descontrole das contas públicas, a razão dívida/PIB é mais que o dobro deste limite. A desconfiança de que os governos da região teriam dificuldade para honrar suas dívidas fez com que os investidores passassem a temer possuir ações, bem como títulos públicos e privados europeus. 2. Quando os investidores passaram a desconfiar da Europa? Os primeiros temores remontam 2007 quando existiam suspeitas de que o mercado imobiliário dos Estados Unidos vivia uma bolha. Temia-se que bancos americanos e também europeus possuíam ativos altamente arriscados, lastreados em hipotecas de baixa qualidade. A crise de 2008 confirmou as suspeitas e levou os governos a injetarem trilhões de dólares nas economias dos países mais afetados. No caso da Europa, a iniciativa agravou os déficits nacionais, já muito elevados. Em fevereiro de 2010, uma reportagem do The New York Times revelou que a Grécia teria fechado acordos com o banco Goldman Sachs com o objetivo de esconder parte de sua dívida pública. A notícia levou a Comissão Européia a investigar o assunto e desencadeou uma onda de desconfiança nos mercados. O clima de pessimismo foi agravado em abril pelo rebaixamento, por parte das agências de classificação de risco, das notas dos títulos soberanos de Grécia, Espanha e Portugal. 3. Quais países se encontram em situação de risco na Europa e por quê? Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - que formam o chamado grupo dos PIIGS - são os que se encontram em posição mais delicada dentro da zona do euro, pois foram os que atuaram de forma mais indisciplinada nos gastos públicos e se endividaram excessivamente. Além de possuírem elevada relação dívida/PIB, estes países possuem pesados déficits orçamentários ante o tamanho de suas economias. Como não possuem sobras de recursos (superávit), entraram no radar da desconfiança dos investidores. Para este ano, as projeções da Economist Intelligence Unit apontam déficits/PIB de 8,5% para Portugal, 19,4% para Irlanda, 5,3% para Itália, 9,4% para Grécia e 11,5% para Espanha.
  • 2. 5.A crise financeira pode afetar a economia real da Europa? A desconfiança em relação à Europa pode disseminar pânico no mercado e fazer com que bancos fiquem excessivamente cautelosos ou até parem de liberar crédito para empresas e clientes. Os investidores, ao venderem ações e títulos europeus, provocam fuga de capitais da região. Sem poder provocar uma maxidesvalorização do euro, haja vista que isso prejudicaria aqueles países que têm as contas controladas, a opção é impor sacrifícios à população, como corte de salários e congelamento de benefícios sociais. Tudo isso implica menos dinheiro para fazer a economia girar - justo num momento em que a zona do euro precisa crescer e aumentar sua arrecadação para diminuir o endividamento. O risco é a criação de um círculo vicioso, em que uma estagnação ou, até mesmo, uma recessão, prejudique os esforços de ajuste fiscal - o que levaria a medidas de austeridade ainda mais severas, mais recessão, e assim por diante. Num segundo momento, a Europa, como um dos maiores mercados consumidores do mundo, diminuiria o ritmo de importação de bens e serviços e prejudicaria a dinâmica econômica global. Por que o euro se desvaloriza? A possibilidade de que governos e empresas da região tornem-se insolventes faz com boa parte dos investidores simplesmente não queira ficar exposta ao risco de ações e títulos europeus. Na primeira metade do ano, o que se viu foi um movimento de venda destes papéis e fuga para ativos considerados seguros, como os títulos do Tesouro norte- americano. Tal movimento, de procura por dólares e abandono do euro, fez com que a cotação da moeda européia atingisse valores historicamente baixos. As moedas também refletem o vigor das economias. Assim, argumentam os analistas, a tendência de longo prazo é de fortalecimento do dólar e das moedas dos países emergentes (real inclusive), enquanto a Europa não conseguir resolver seus problemas fiscais e criar condições para um crescimento econômico mais acentuado. Maio de 2010 Crise na Europa A Europa, sempre lembrada como uma região de altíssimo desenvolvimento econômico e bem-estar social, agora tem sua imagem associada a turbulências de mercado. Entenda como o descontrole das contas públicas e as particularidades políticas do continente conduziram a zona do euro a uma crise financeira que levará anos para ser totalmente superada.