O documento discute a inspiração divina da Bíblia, definindo-a como a ação de Deus em mover os autores humanos a escreverem os livros sagrados. A Bíblia é vista como um livro divino e humano, sendo Deus o autor principal e os autores humanos instrumentos ativos na escrita, preservando suas características culturais e estilos. A inspiração incide em todas as faculdades humanas na composição do texto sagrado.
2. Por “inspiração” entendemos a ação particular de Deus sobre algumas pessoas.
Deus inspirou algumas pessoas para AGIR. Por exemplo: Abraão, Moisés e muitos outros;
Inspirou outras para FALAR. Por exemplo, os profetas
Inspirou outros para ESCREVER. Esses são os hagiógrafos, ou autores sagrados, que escreveram a
Bíblia.
3. Ao falar de Inspiração da Sagrada Escritura, entende-se inspiração para
escrever a Bíblia. A Igreja herdou dos judeus a crença que seus livros sagrados foram
escritos por inspiração divina.
Não existem, no Antigo Testamento, textos explícitos que falem da inspiração
divina. Porém, à proporção que os livros do Antigo Testamento se formavam, crescia
sempre mais, entre os judeus, a crença na inspiração divina.
Assim, o rei Josias fez uma grande reforma religiosa em Judá, baseando no livro
da Aliança, encontrado no Templo em Jerusalém (2Rs 23) . Sabemos, hoje, que esse livro é
o Deuteronômio.
Esdras leu ao povo “o Livro da Lei de Moisés que o Senhor mandou a Israel”. Esse
livro de Moisés, hoje, é identificado com todo o Pentateuco. Os rabinos chegaram a afirmar
que a Torá (o Pentateuco), tinha sido escrita pelo próprio Deus, antes da criação do Mundo.
Por acreditar na origem divina de seus livros sagrados, os judeus ficaram conhecidos como
“Povo do Livro”.
4. Tanto Jesus como os apóstolos acreditavam que as Escrituras eram
livros sagrados. Várias vezes encontramos afirmações de que Deus ou o
Espírito Santo falou através de Moisés, de Davi ou dos Profetas.
É certo que, para Jesus e para a Igreja Primitiva, as Escrituras são
livros sagrados onde se encontra a palavra de Deus.
5. O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum (III, 11), diz:
“As verdades divinamente reveladas que estão contidas e expressas nos livros da
Sagrada Escritura foram escritas por inspiração do Espírito Santo. A Santa Mãe
Igreja, por fé apostólica, considera sagrados e canônicos todos os livros inteiros,
seja do Antigo como no Novo Testamento com todas as suas partes, porque escritos
por inspiração do Espírito Santo, tem Deus por autor e como tais foram dados a
Igreja. Para a composição dos Livros Sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se
serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, afim de que, Ele
agindo neles, escrevessem como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele
queria que fossem escritos”
6. Resumindo, Deus é o autor da Bíblia. Mas, para dirigir o texto, serviu-se de homens. Por
isso, a Bíblia é um livro divino e humano.
Mas como entender a inspiração? Alguns afirmam que a inspiração é um dom natural, como
oratória, a pintura, a culinária e entre outras. Para outros é um dom sobrenatural, um carisma divino,
concedido a quem Deus escolheu.
A principio, entendeu-se a inspiração como sendo um DITADO. Deus teria ditado, palavra por
palavra, e o autor humano teria escrito tudo com fidelidade. Para outros, Deus teria inspirado apenas a
MENSAGEM, as idéias, deixando ao homem a expressão verbal das mesmas.
7. Hoje com base em vários documentos da Igreja, entendemos a inspiração
com a explicação da “CAUSA INSTRUMENTAL”, isto é, Deus é a causa principal e
primeira na composição da Bíblia. Foi Ele quem moveu os homens a escrever. O
homem é a causa instrumental, isto é, o instrumento de Deus para escrever o texto.
Quando escrevemos, a ação é da caneta ou do lápis. Mas eles não escrevem sem a
nossa contribuição. Assim o resultado de um texto é da pessoa e também da caneta.
8. Porém, o homem não pode ser comparado à caneta ou a qualquer outro instrumento,
porque ele possui vontade própria, imaginação, memória, fantasia e etc. Não é um instrumento passivo
e inerte na mão de Deus. É sim, um instrumento, mas um instrumento ativo, e por isso escreveu, como
verdadeiro autor, tudo o que o autor principal, Deus, queria. A Bíblia é, pois, um livro divino porque Deus
é seu autor principal, mas também um livro humano, pois é fruto da ação do homem.
A inspiração incide sobre todas as faculdades do escritor, imaginação, conhecimento,
memória, vontade e faculdades executivas. Porém, cada autor humano continuou filho do seu tempo, de
sua cultura e escreveu com os conhecimentos que possuía. O texto bíblico reflete o estilo e a cultura
de cada autor humano. Não existe livro mais inspirado que outro. Existem, sim, autores humanos
diferentes entre si, vivendo em épocas e lugares diferentes, com graus de cultura diferentes. Os
“erros” de história, geografia, ciências e outros que encontramos na Bíblia se devem a limitação dos
autores humanos
9. Sabemos que a Sagrada Escritura é obra de muitas pessoas. Todas elas, desde que
influíram no texto sagrado, foram inspiradas, mesmo que a contribuição do autor tenha sido uma frase,
um retoque. Do mesmo modo, todos os livros inteiros são inspirados. A inspiração atinge a totalidade
da Bíblia e não só algumas partes mais importantes.
A conseqüência mais importante da inspiração é que a Bíblia, por ter Deus como autor
principal, não pode conter erro algum, até pouco tempo atrás falava-se de IERRANCIA , isto é, a
ausência de erro na Bíblia. Mas basta ler alguns textos para se notar uma série de erros nos mais
diversos assuntos. Hoje após o Concilio Vaticano II, fala-se de VERDADE BÍBLICA. A Bíblia não é um livro
de história, nem de ciências naturais ou de psicologia.
10. A Verdade que a Bíblia quer ensinar é religiosa, importante para nossa
salvação. Portanto, não devemos procurar nela outras verdades. Os erros que
ela contem são devidos aos conhecimentos limitados de seus autores humanos.
Aliás, não deveríamos falar em erros mas em ignorância. O erro existe quando,
sabendo a verdade, se ensina o falso. A ignorância consiste em não saber e em
não afirmar . Os autores humanos não pretendiam ensinar o falso, mas
ignoravam muitas coisas que nós hoje conhecemos.
11. A verdade bíblica não deve ser buscada em apenas um versículo, parágrafo ou capitulo da
Bíblia. Deve ser buscada na sua totalidade. Porque Deus não se revela de uma só vez. Mas o faz aos
poucos, à proporção que o homem pode compreender. Houve um progresso na revelação e na
pedagogia divina. Por isso a moral do Antigo Testamento é imperfeita em comparação com a moral
evangélica. O próprio mistério de Deus vai se esclarecendo pouco a pouco. A Abraão, Deus se revela
como um entre muitos outros deuses. A Moisés, como o único Deus. Somente Jesus nos revela o
mistério profundo de Deus Uno e Trino. Portanto, é preciso tomar a Bíblia na sua totalidade para
conhecer a verdade que Deus quis que fosse escrita para a nossa Salvação