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Este documento foi elaborado com o
propósito de facilitar a elaboração de
fichasrelativas à obra “O ano da morte de
Ricardo Reis”. Para além disto, tem
tambémo intuitode permitiruma melhor
orientação na leitura daqueles que
pretendem ler a obra. Remarco que este
documento foi elaborado por uma aluna
e,por isso, a leitura e o basear no mesmo
é da inteiraresponsabilidade e escolha do
leitor. Espero que apreciem.
“O ano da
morte de
Ricardo Reis”
Resumos
NataliaLorenaSuciu
Conteúdo
Contextualização histórica.................................................................................................2
O romance O ano da Morte de Ricardo Reis .......................................................................3
Capitulo I .........................................................................................................................4
Capitulo II.........................................................................................................................5
Capitulo III........................................................................................................................7
Contextualização histórica
A cidade de Lisboa, na qual Ricardo Reis desembarca, a 29 de dezembro de 1935,-
regresso do Brasil, para onde viajou em 1919, última data na qual se conhecem noticias
deste heterónimo- encontra-se deserta, imóvel, cinzenta, triste, chuvosa e, pouco
atrativa, um quase degradado.
Para além disto, Lisboa é representada como uma cidade de contrastes. A
existência abundante de cafés luxuosos e a representação de um progresso nacional
definido pelo Estado Novo contrasta com:
 A sujidade e o barulho dos mercados;
 Os bairros pobres e degradados que eram, na verdade, a situação real do
país que o Estado Novo não demonstrava existir;
 Os bairros dos proscritos: a Mouraria.
Complementando o contraste físico da cidade, Lisboa era também local de
contrastes sociais acentuados, onde uma burguesia abastada e uma classe média
remediada (classe de cidadãos que ressurgiram de situação económicas decadentes)
contrastam com a pobreza extrema e os miseráveis que se tornavam no “incómodo da
sociedade”, mas, não eram referidos pelo regime Salazarista.
Por fim, as festividades como o Ano Novo, Carnaval e Páscoa, bem como as
manifestações de apoio ao regime, nada tinham a ver com a tristeza, desalento, a fome
e com as vitimas das inundações- devido às chuvas intensas, as inundações tornaram-se
um grande problema, não só para as vitimas dos mesmos que perderam as suas casas e
vidas com o transbordar do Tejo, mas também os agricultores e trabalhadores rurais
que viram as suas produções em risco.
O estado do tempo, a descrição do local e o ambiente sentido em Lisboa, é uma
metáfora do regime Salazarista, ou seja, uma metáfora do Estado Novo. É uma
metáfora no sentido em que, tal como o ambiente mórbido da cidade, o Estado
Novo cercava os cidadãos portugueses, reprimindo-os e retirando-lhes a vontade e
força de lutar pela mudança, de modo a reverter a situação em que se encontram-
situação representada, metaforicamente, pelo mau tempo.
O romance O ano da Morte de Ricardo Reis
Para melhor entender o romance, existe a necessidade de compreender a figura
do heterónimo de Ricardo Reis. O poeta Fernando Pessoa diz ter criado Ricardo Reis a 8
de março de 1914 (dia ao qual chamou de “triunfal”) e, com ele, foram criadas mais
duas figuras, a de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Relativamente a Ricardo Reis,
Pessoa cria-o de forma diferente de si mesmo em todos os planos que o constituem
(físico, cultural, etc.).
Ainda que Ricardo Reis seja um heterónimo criado por Fernando Pessoa, José
Saramago, ao escrever o romance, não estava obrigado a seguir os critérios elaborados
pelo poeta acerca da sua personagem, mas, no entanto, não se afastou muito da figura
criada por Pessoa. Porém, ao longo da história, vão sendo atribuídas a Ricardo Reis
atitudes, decisões, ideias e sentimentos que Saramago decide atribuir-lhe.
É de salientar que José Saramago acompanhou a vaga de popularidade que surgiu
em torno de Fernando Pessoa, nos anos 80, pois nessa altura foram assinalados os
50 anos da sua morte e os 100 anos do seu nascimento (1888). Chama-se ainda a
atenção para o detalhe que Fernando Pessoa morre em 1935 e, Ricardo Reis,
desembarca em Lisboa a 29 de dezembro de 1935. Esta data é propositadamente
escolhida por José Saramago, talvez por representar na volta Ricardo Reis a
Portugal, o renascimento/ encarnação de Fernando Pessoa.
Para além disto, é importante referir que no 2º capitulo da obra, após a
deambulação por Lisboa, Ricardo Reis lê a noticia da morte de Fernando Pessoa e
visita o seu tumulo e, no 3º capitulo, existe realmente um encontro físico do
heterónimo com Fernando Pessoa, o qual só é visível para Ricardo Reis.
Saramago transforma Fernando Pessoa numa personagem desta obra, criando uma
interação entre Ricardo Reis e o falecido Pessoa.
Capitulo I
O romance tem inicio a 29 de dezembro de 1935 com a chegada de Ricardo Reis a
Lisboa,num dia chuvoso, cinzento e triste. Instala-seno Hotel Bragança,com vista sobre
o Cais Sodré e o rio Tejo. À hora do jantar avista uma jovem a terminar a sua sopa,
Marcenda.
O Cais do Sodré é o local da primeira instalação de Ricardo Reis, em Lisboa, assim
que o mesmo desembarca. Não é ao acasoque a personagemescolhe um localcom vista
para o rio, isto demarca a forma como a visão é fundamental no reencontro do
heterónimo com Lisboa- chama-se a atenção que Ricardo Reis, nesta obra, é uma
personagem independente do poeta ortónimo e, ainda que exista ao longo da obra uma
comunicação e ligação entre ambos, o heterónimo tem vontades e decisões próprias.
O primeiro gesto do personagem, aquando da sua instalação no Hotel Bragança-
ainda que com o mesmo nome, este não deve ser confundido com o hotel descrito em
“Os Maias- foi abrir uma das janelas e proceder à observação não só do rio Tejo mas
também à dos restantes hóspedes, do gerente, dos criados, etc.
Em seguida, aquando da hora de jantar, e já situado na sua mesa, R. Reis vai
observando os diferentes hóspedes que chegam para a refeição. Uma das hóspedes que
sesentara com o paina mesaem frente, chamou a atenção do personagem- o seu nome
era Marcenda, mas R. Reis só descobre mais tarde numa conversa com Lídia, uma
empregada do hotel.
No portode Lisboa,no momentode desembarque,ocorre a chegadade um navioinglês,
HighlandBrigade,repletode estrangeiros- faz-se umapequenareferênciaaalemães,
francesese ingleses.Neste momento,enfatiza-seocaraterdegradante da cidade de Lisboa
que causa mau estarnos recém-chegados,nãosópeloambiente cinzentoe triste, mas
tambémpelascondiçõesdaalfândega(local de passagemparaembarcarou desembarcar),
uma barracada velha,compouca luminosidade e cheirodesagradável.
Capitulo II
Após a instalação de R. Reis no Hotel Bragança, inicia-se a fase da deambulação
pelas ruas de Lisboa. Estamos a 30 de dezembro e o personagem lê a noticia da morte
de Fernando Pessoa. Este é o primeiro passeio que Ricardo Reis efetua, passando pelo
Chiado, subindo até à Praça Luís de Camões onde observa a estátua do poeta, o que o
leva a fazer reflexões sobre o significado que o poeta tem para a Nação, sobre a
importância da epopeia e aquilo que ela representa, relembra a história de Portugal, os
mitos e heróis do passado. Neste episódio, as reflexões do heterónimo são não só um
símbolo da pátria, mas também um símbolo de contestação contra o regime. Relembra-
se um passado glorioso em contraste com um presente degradado social, politica e
economicamente. A estátua de Camões representa assim o passado onde Portugal
resplandecia, daí a “claridade branca por trás de Luís de Camões, um nimbo”. O autor
dá a alcunha de D’Artagnan a Camões por estesegurar na mão direita uma espada. Estes
símbolos da história de Portugal, na época descrita em “Os Lusíadas” é uma manobra
de fortalecimento do regime usada por Salazar.
Após a leitura da noticia da morte do poeta Fernando Pessoa, Ricardo Reis
desloca-se ao Cemitério dos Prazeres, situado no limite do bairro do Campo de Ourique.
Este é o local de sepultura de Pessoa. Em seguida regressa de táxi para o Hotel onde
conhece Lídia e acaba por se informar sobre Marcenda- é através de Lídia que R. Reis
descobre que Marcenda é o nome da rapariga que comera a sopa no capitulo anterior.
É importante citar que R. Reis vai ter dois casos amorosos, um com cada uma das
empregadas, ao longo do romance.
Marcenda- provocava em R. Reis uma estranheza pelo seu nome gerundivo, original
e fatídico (significa “aquela que deve murchar”). Proveniente de Coimbra, de boas
famílias, bela e débil, o que favorece a aproximação dos dois, visto a semelhança
social, contrastando com o afastamento físico dado à idade de R. Reis, 25 anos mais
velho. A sua mão esquerda está paralisada desde a morte da mãe (fez-se referencia
à mão paralisada no jantar do 1º capitulo em que está a mesa com o pai acabando
de comer a sopa) que remete para a carência e fragilidade da personagem. É
submissa ao pai e incapaz de tomar as próprias decisões e simboliza o amor
imaterial e platónico (incapaz de se realizar).
Lídia- provoca em R. Reis uma estranheza relacionada com a memória dos poemas
dele enquanto heterónimo de Fernando Pessoa (nas odes de R. Reis ela é referida, de
modo subentendido, a beleza dela é o que o atrai). É uma criada do hotel, o que
significa que provém duma condição social inferior à do personagem, pronunciando
um desequilíbrio na relação amorosa. É independente, trabalhadora e responsável
(aceita as consequências dos seus atos). É uma mulher cujo físico atraí R. Reis, é
excecional pela sua produção de juízos de valor singulares e interessantes. Simboliza
o amor incondicional, desinteressado e libertador.
Capitulo III
Estamos no dia da Passagem de Ano (dia de Ano Novo), e como já referido
anteriormente, esta data na obra é uma das datas importantes das celebrações festivas
presentes na obra. A 31 de dezembro de 1935, Ricardo Reis procede a uma nova
deambulação por Lisboa, no período da noite da passagemde ano. Nesta noite, neste
capitulo, Reis volta ao Cemitério dos Prazeres, aqui ocorre o primeiro encontro entre o
heterónimo e o ortónimo, Ricardo Reis e Fernando Pessoa.
O reencontro dos dois segue um trajeto temporal desde a separação de ambos,
em 1919, com a ida de R. Reis para o Brasil, até ao seu regresso na data da morte do
ortónimo. Deste modo, o encontro dos dois é propositado, o reencontro da criação com
o criador- mas nunca esquecendo que neste contexto Fernando Pessoa é uma
personagem independente de R. Reis, mas, no entanto, apenas Reis consegue ver
Pessoa. O dialogo entre os dois, no cemitério, é extremamente importante e resume
todo o carater de reflexão e pensamento critico de Ricardo Reis.

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O ano da morte de r. reis

  • 1. Este documento foi elaborado com o propósito de facilitar a elaboração de fichasrelativas à obra “O ano da morte de Ricardo Reis”. Para além disto, tem tambémo intuitode permitiruma melhor orientação na leitura daqueles que pretendem ler a obra. Remarco que este documento foi elaborado por uma aluna e,por isso, a leitura e o basear no mesmo é da inteiraresponsabilidade e escolha do leitor. Espero que apreciem. “O ano da morte de Ricardo Reis” Resumos NataliaLorenaSuciu
  • 2. Conteúdo Contextualização histórica.................................................................................................2 O romance O ano da Morte de Ricardo Reis .......................................................................3 Capitulo I .........................................................................................................................4 Capitulo II.........................................................................................................................5 Capitulo III........................................................................................................................7
  • 3. Contextualização histórica A cidade de Lisboa, na qual Ricardo Reis desembarca, a 29 de dezembro de 1935,- regresso do Brasil, para onde viajou em 1919, última data na qual se conhecem noticias deste heterónimo- encontra-se deserta, imóvel, cinzenta, triste, chuvosa e, pouco atrativa, um quase degradado. Para além disto, Lisboa é representada como uma cidade de contrastes. A existência abundante de cafés luxuosos e a representação de um progresso nacional definido pelo Estado Novo contrasta com:  A sujidade e o barulho dos mercados;  Os bairros pobres e degradados que eram, na verdade, a situação real do país que o Estado Novo não demonstrava existir;  Os bairros dos proscritos: a Mouraria. Complementando o contraste físico da cidade, Lisboa era também local de contrastes sociais acentuados, onde uma burguesia abastada e uma classe média remediada (classe de cidadãos que ressurgiram de situação económicas decadentes) contrastam com a pobreza extrema e os miseráveis que se tornavam no “incómodo da sociedade”, mas, não eram referidos pelo regime Salazarista. Por fim, as festividades como o Ano Novo, Carnaval e Páscoa, bem como as manifestações de apoio ao regime, nada tinham a ver com a tristeza, desalento, a fome e com as vitimas das inundações- devido às chuvas intensas, as inundações tornaram-se um grande problema, não só para as vitimas dos mesmos que perderam as suas casas e vidas com o transbordar do Tejo, mas também os agricultores e trabalhadores rurais que viram as suas produções em risco. O estado do tempo, a descrição do local e o ambiente sentido em Lisboa, é uma metáfora do regime Salazarista, ou seja, uma metáfora do Estado Novo. É uma metáfora no sentido em que, tal como o ambiente mórbido da cidade, o Estado Novo cercava os cidadãos portugueses, reprimindo-os e retirando-lhes a vontade e força de lutar pela mudança, de modo a reverter a situação em que se encontram- situação representada, metaforicamente, pelo mau tempo.
  • 4. O romance O ano da Morte de Ricardo Reis Para melhor entender o romance, existe a necessidade de compreender a figura do heterónimo de Ricardo Reis. O poeta Fernando Pessoa diz ter criado Ricardo Reis a 8 de março de 1914 (dia ao qual chamou de “triunfal”) e, com ele, foram criadas mais duas figuras, a de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Relativamente a Ricardo Reis, Pessoa cria-o de forma diferente de si mesmo em todos os planos que o constituem (físico, cultural, etc.). Ainda que Ricardo Reis seja um heterónimo criado por Fernando Pessoa, José Saramago, ao escrever o romance, não estava obrigado a seguir os critérios elaborados pelo poeta acerca da sua personagem, mas, no entanto, não se afastou muito da figura criada por Pessoa. Porém, ao longo da história, vão sendo atribuídas a Ricardo Reis atitudes, decisões, ideias e sentimentos que Saramago decide atribuir-lhe. É de salientar que José Saramago acompanhou a vaga de popularidade que surgiu em torno de Fernando Pessoa, nos anos 80, pois nessa altura foram assinalados os 50 anos da sua morte e os 100 anos do seu nascimento (1888). Chama-se ainda a atenção para o detalhe que Fernando Pessoa morre em 1935 e, Ricardo Reis, desembarca em Lisboa a 29 de dezembro de 1935. Esta data é propositadamente escolhida por José Saramago, talvez por representar na volta Ricardo Reis a Portugal, o renascimento/ encarnação de Fernando Pessoa. Para além disto, é importante referir que no 2º capitulo da obra, após a deambulação por Lisboa, Ricardo Reis lê a noticia da morte de Fernando Pessoa e visita o seu tumulo e, no 3º capitulo, existe realmente um encontro físico do heterónimo com Fernando Pessoa, o qual só é visível para Ricardo Reis. Saramago transforma Fernando Pessoa numa personagem desta obra, criando uma interação entre Ricardo Reis e o falecido Pessoa.
  • 5. Capitulo I O romance tem inicio a 29 de dezembro de 1935 com a chegada de Ricardo Reis a Lisboa,num dia chuvoso, cinzento e triste. Instala-seno Hotel Bragança,com vista sobre o Cais Sodré e o rio Tejo. À hora do jantar avista uma jovem a terminar a sua sopa, Marcenda. O Cais do Sodré é o local da primeira instalação de Ricardo Reis, em Lisboa, assim que o mesmo desembarca. Não é ao acasoque a personagemescolhe um localcom vista para o rio, isto demarca a forma como a visão é fundamental no reencontro do heterónimo com Lisboa- chama-se a atenção que Ricardo Reis, nesta obra, é uma personagem independente do poeta ortónimo e, ainda que exista ao longo da obra uma comunicação e ligação entre ambos, o heterónimo tem vontades e decisões próprias. O primeiro gesto do personagem, aquando da sua instalação no Hotel Bragança- ainda que com o mesmo nome, este não deve ser confundido com o hotel descrito em “Os Maias- foi abrir uma das janelas e proceder à observação não só do rio Tejo mas também à dos restantes hóspedes, do gerente, dos criados, etc. Em seguida, aquando da hora de jantar, e já situado na sua mesa, R. Reis vai observando os diferentes hóspedes que chegam para a refeição. Uma das hóspedes que sesentara com o paina mesaem frente, chamou a atenção do personagem- o seu nome era Marcenda, mas R. Reis só descobre mais tarde numa conversa com Lídia, uma empregada do hotel. No portode Lisboa,no momentode desembarque,ocorre a chegadade um navioinglês, HighlandBrigade,repletode estrangeiros- faz-se umapequenareferênciaaalemães, francesese ingleses.Neste momento,enfatiza-seocaraterdegradante da cidade de Lisboa que causa mau estarnos recém-chegados,nãosópeloambiente cinzentoe triste, mas tambémpelascondiçõesdaalfândega(local de passagemparaembarcarou desembarcar), uma barracada velha,compouca luminosidade e cheirodesagradável.
  • 6. Capitulo II Após a instalação de R. Reis no Hotel Bragança, inicia-se a fase da deambulação pelas ruas de Lisboa. Estamos a 30 de dezembro e o personagem lê a noticia da morte de Fernando Pessoa. Este é o primeiro passeio que Ricardo Reis efetua, passando pelo Chiado, subindo até à Praça Luís de Camões onde observa a estátua do poeta, o que o leva a fazer reflexões sobre o significado que o poeta tem para a Nação, sobre a importância da epopeia e aquilo que ela representa, relembra a história de Portugal, os mitos e heróis do passado. Neste episódio, as reflexões do heterónimo são não só um símbolo da pátria, mas também um símbolo de contestação contra o regime. Relembra- se um passado glorioso em contraste com um presente degradado social, politica e economicamente. A estátua de Camões representa assim o passado onde Portugal resplandecia, daí a “claridade branca por trás de Luís de Camões, um nimbo”. O autor dá a alcunha de D’Artagnan a Camões por estesegurar na mão direita uma espada. Estes símbolos da história de Portugal, na época descrita em “Os Lusíadas” é uma manobra de fortalecimento do regime usada por Salazar. Após a leitura da noticia da morte do poeta Fernando Pessoa, Ricardo Reis desloca-se ao Cemitério dos Prazeres, situado no limite do bairro do Campo de Ourique. Este é o local de sepultura de Pessoa. Em seguida regressa de táxi para o Hotel onde conhece Lídia e acaba por se informar sobre Marcenda- é através de Lídia que R. Reis descobre que Marcenda é o nome da rapariga que comera a sopa no capitulo anterior. É importante citar que R. Reis vai ter dois casos amorosos, um com cada uma das empregadas, ao longo do romance. Marcenda- provocava em R. Reis uma estranheza pelo seu nome gerundivo, original e fatídico (significa “aquela que deve murchar”). Proveniente de Coimbra, de boas famílias, bela e débil, o que favorece a aproximação dos dois, visto a semelhança social, contrastando com o afastamento físico dado à idade de R. Reis, 25 anos mais velho. A sua mão esquerda está paralisada desde a morte da mãe (fez-se referencia à mão paralisada no jantar do 1º capitulo em que está a mesa com o pai acabando de comer a sopa) que remete para a carência e fragilidade da personagem. É submissa ao pai e incapaz de tomar as próprias decisões e simboliza o amor imaterial e platónico (incapaz de se realizar).
  • 7. Lídia- provoca em R. Reis uma estranheza relacionada com a memória dos poemas dele enquanto heterónimo de Fernando Pessoa (nas odes de R. Reis ela é referida, de modo subentendido, a beleza dela é o que o atrai). É uma criada do hotel, o que significa que provém duma condição social inferior à do personagem, pronunciando um desequilíbrio na relação amorosa. É independente, trabalhadora e responsável (aceita as consequências dos seus atos). É uma mulher cujo físico atraí R. Reis, é excecional pela sua produção de juízos de valor singulares e interessantes. Simboliza o amor incondicional, desinteressado e libertador.
  • 8. Capitulo III Estamos no dia da Passagem de Ano (dia de Ano Novo), e como já referido anteriormente, esta data na obra é uma das datas importantes das celebrações festivas presentes na obra. A 31 de dezembro de 1935, Ricardo Reis procede a uma nova deambulação por Lisboa, no período da noite da passagemde ano. Nesta noite, neste capitulo, Reis volta ao Cemitério dos Prazeres, aqui ocorre o primeiro encontro entre o heterónimo e o ortónimo, Ricardo Reis e Fernando Pessoa. O reencontro dos dois segue um trajeto temporal desde a separação de ambos, em 1919, com a ida de R. Reis para o Brasil, até ao seu regresso na data da morte do ortónimo. Deste modo, o encontro dos dois é propositado, o reencontro da criação com o criador- mas nunca esquecendo que neste contexto Fernando Pessoa é uma personagem independente de R. Reis, mas, no entanto, apenas Reis consegue ver Pessoa. O dialogo entre os dois, no cemitério, é extremamente importante e resume todo o carater de reflexão e pensamento critico de Ricardo Reis.