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Carlos Alberto Santos Costa
REPRESENTAÇÕES RUPESTRES NO PIEMONTE DA CHAPADA DIAMANTINA
(BAHIA, BRASIL)
Dissertação de doutoramento em História, especialidade
Arqueologia, apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, sob a orientação da Professora
Doutora Maria da Conceição Lopes e do Professor Doutor
Carlos Alberto Etchevarne, financiada pelo Instituto de
Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra.
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2012
iii
Ao Júlio,
pelo exemplo de vida!
iv
AGRADECIMENTOS
Laroyê Exu! Okê arô Oxossi! Epa epa Babá!
Estes últimos cinco anos conformaram um turbilhão em minha vida. A quantidade de
acontecimentos paralelos de cunho pessoal e profissional foi tão grande que se me arriscar a
quantificar certamente me perderei. Mas, no meio de todos os acontecimentos ter a
incumbência de fazer uma tese, de fato, é uma situação que beira a loucura. A tese é o
momento em que viramos zumbis de nós mesmos, ficamos ensimesmados, dormimos e
acordamos com os mesmos pensamentos e objetivos. Felizmente, no meio das formalidades
acadêmicas inventaram os agradecimentos, momento em que tentamos retomar as nossas
capacidades mentais de interação com o mundo, tiramos os olhos da tela da carroça digital e
rememoramos as pessoas que passaram em nossas vidas e se fizeram importantes, não pelo
auxílio que poderiam dar, mas pela genuína manifestação de amizade que dispensaram. O que
seria de nós se não existissem os amigos? É este momento que nos faz perceber o quanto
precisamos dos outros.
Iniciemos fazendo os agradecimentos institucionais. À equipe do Centro de Estudos
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto / Instituto de Arqueologia, da
Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra (UC) o meu agradecimento por apostarem
nesta pesquisa de doutoramento, possibilitando que o projeto fosse executado sem entraves,
com fluidez, tranquilidade e muito respeito. No âmbito da UC o Instituto de Investigação
Interdisciplinar (III) proporcionou o amparo monetário com uma bolsa de doutoramento, para
que pudesse me dedicar à pesquisa. Iniciativas como esta são necessárias, pois dão aos
indivíduos apoiados a tranquilidade para que possam se dedicar à pesquisa e,
consequentemente, fomentar o desenvolvimento científico. No âmbito do III a presença
atenta, ágil e gentil da Dra. Helena Salgado não poderia ser esquecida; aliás, trata-se de um
exemplo a ser observado com atenção pela Universidade de Coimbra, pelos méritos de sua
atuação profissional.
No plano institucional cabe também citar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da
Bahia, que concedeu uma bolsa de iniciação científica para que pudéssemos dispor de um
estudante remunerado apoiando a execução do trabalho. Da mesma forma agradeço a gentil
Profa. Miriam Guerra do Campus Jacobina, da Universidade Estadual da Bahia, a quem
v
admiro e tenho como amiga, que sempre se colocou à disposição para auxiliar,
proporcionando o amparo institucional na região para a realização das pesquisas.
Aos colegas da campanha de campo de julho de 2009 das escavações da Pax Julia, em Beja,
pelos momentos de intercâmbio e aprendizado, me receberam de braços abertos e muito
acresceram na minha formação arqueológica. Devo citar, especialmente, o Andrezinho, o
Ricardo, o Thiago e a Ana que sempre lembro com muito carinho, em face dos profissionais e
pessoas exemplares que são.
Ao Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa, da Universidade Federal da Bahia, ao Prof.
Dr. Onildo Araújo da Silva, da Universidade Estadual de Feira de Santana e ao Prof. Dr.
Benjamim Bley de Brito Neves, da Universidade de São Paulo, agradeço por me atenderem
prontamente quando solicitados para explicações acerca do contexto geológico do Piemonte
da Chapada Diamantina, fornecendo explicações e mesmo indicando e/ou disponibilizando
bibliografias.
Embora este agradecimento seja atemporal em relação a este trabalho, é passível de menção a
Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) que possibilitou que no segundo
semestre do ano 2004 uma das disciplinas de campo do Mestrado em Arqueologia, da
Universidade Federal de Pernambuco, fosse realizada nas suas dependências, em São
Raimundo Nonato, Piauí, proporcionando uma das escolas profissionais nas quais atuei com
os estudos dos representações rupestres. Nesta ocasião participei de inúmeros trabalhos,
quando também pude acompanhar profissionais como Niède Guidon, Anne Marie Pessis,
Gabriela Martín, Conceição Meneses Lage, Gisele Felice e Celito Kestering.
Aos senhores Adroaldo Muritiba e Ademário Barbosa que “abriram as portas” de Jacobina,
disponibilizaram seus arquivos particulares, deram apoio, informações, indicaram pessoas e
locais que, sem dúvida, foram fundamentais para a realização desta pesquisa.
À minha equipe, Pedro dos Santos e Gilcimar Costa Barbosa por terem “vestido a camisa”
deste projeto. Pedro é uma pessoa simples e de imenso coração. Seu conhecimento do
território do Piemonte da Chapada Diamantina foi fundamental, sem o qual as andanças nesta
região para localização e estudo dos sítios arqueológicos teria sido uma tarefa impossível. E
Gilcimar, na ocasião estudante de graduação e bolsista de iniciação científica junto ao projeto
de doutoramento, hoje amigo e colega de profissão, o parceiro de todas as horas,
vi
extremamente atento e responsável. Nos trabalhos de campo participaram pontualmente
Leandro Max Peixoto e Murilo Muritiba Araújo, para os quais também agradeço.
Agradeço aos colegas e amigos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia que sempre
estiveram presentes, dando forças e mesmo provendo de maneira direta apoio institucional
para a execução deste trabalho: André, Camila, Danillo, Georgina, Gildo, Juliana, Lélia,
Paulinha, Rita Dias, Ricardo, Suzane, Wilson e Xavier. Lembro, também, dos colegas do
Curso de Graduação em Museologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia que não
pouparam esforços em prover as condições institucionais favoráveis para que eu pudesse
finalizar a dissertação de doutoramento e mesmo me ausentar em alguns momentos para as
pesquisas e trabalhos científicos.
Aos colegas e amigos Prof. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Freire (Freire), Profa. Dra. Elizabete de
Castro Mendonça (Bete) e Profa. Dra. Alejandra Saladino (Ale) que sempre motivaram a
finalização do doutoramento com manifestações sinceras de apoio e de amizade. Agradeço
também aos colegas e amigos Alvandyr, Mirta e Aurea do Grupo de Pesquisas Bahia
Arqueológica pelo apoio à pesquisa.
À Profa. Dra. Águeda Vilhena-Vialou e ao Prof. Dr. Denis Vialou, ambos do Museu de
História Natural de Paris, que me proporcionaram a primeira incursão sistemática com as
representações rupestres na missão franco-brasileira de 2002, no estado do Mato Grosso,
quando durante 40 dias pude “imergir” na observação das pinturas. Sem dúvida, o
aprendizado que lá obtive foi fundamental no treino do olhar para as representações. Mais
tarde, em janeiro de 2007, quando prestei seleção para o Doutorado em História, concentração
em Arqueologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Prof. Dr.
Vialou se disponibilizou pronta e gentilmente a me orientar, aceitando o meu pedido com a
alegria, a leveza de ser e o bom humor que lhes são peculiares. Apesar de aprovado na
seleção, naquele ano o programa de pós-graduação não recebeu as cotas de bolsas de estudos
de doutoramento da CAPES e do CNPq, o que me impossibilitou a realização dos estudos e,
por sua vez, me frustrou da possibilidade de realizar uma pesquisa sob a observação do
professor. Outras razões, que a professora e o professor conhecem, poderiam ser citadas. Mas,
prefiro sintetizar registrando o meu sincero agradecimento, as boas lembranças, o carinho e o
respeito que tenho pelo casal Vialou.
vii
Ao amigo Humberto Augusto Rodrigues Alves, o Betinho. Ainda que esteja distante da
realidade deste trabalho, e talvez por isso, não dimensione o quanto a sua presença foi
importante neste caminho. Neste meio tempo me inseriu no mundo dos guzeratistas, deu e dá
ensinamentos importantes, estabeleceu diálogos intermináveis sobre nossa paixão comum,
criou parcerias e proporcionou em sua arribana momentos únicos de convivência, que encaro
com muito ludismo e prazer. Obrigado amigo por me permitir participar desse mundo
maravilhoso, incompreendido pela maioria, mas adorado por quem o vive!
À Profa. Dra. Maria do Rosário Gonçalves de Carvalho, que me forneceu explicações e
disponibilizou bibliografias sobre discussões antropológicas da noção de tradição, presentes
no texto. Além disso, me permitiu dispor de convivências comuns, da sua fiel amizade, de
ensinamentos e de conselhos para possibilitar um caminhar fluído na vida acadêmica. Nós,
menos experientes, sabemos a importância de ter uma figura como a “Pró. Rosário” dando
valiosos ensinamentos, a partir de suas ações, de como seguir uma vida universitária tendo
como norte a busca pela excelência acadêmica, a seriedade, a ética, a decência, a firmeza e,
sobretudo, sem “estrelismos”, com valorização dos indivíduos, com leveza e com humildade.
Ao colega, amigo e ‘cumpadre’ Prof. Dr. Luydy Abraham Fernandes, ou apenas Luydy, que
na sua infinita seriedade, discrição e desprendimento sempre soube manifestar a sua amizade
incondicional. Sem pestanejar me substituiu em minhas ausências profissionais, teve a imensa
atenção em conversar, discutir, ler meus “debuxos” e apresentar relevantes contribuições.
‘Cumpadre’, meus sinceros agradecimentos!
Aos ‘meus’ – minhas famílias nuclear e adquirida – que estiveram emocionalmente presentes:
D. Nília, D. Iza, S. Braz, Branilson, Binha, Lêda, Kito, Zane, Cauet, Bruhno, Valentina,
Gabriela, Graziela, Débora, Maíra, Eron, S. Nelson, D. Glória e Fernanda.
Ao meu pai intelectual, padrinho e avô adquirido de minha princesa, o Prof. Dr. Carlos
Alberto Etchevarne, também orientador desta pesquisa, a quem devo a inserção na
arqueologia num ambiente no qual a formação específica é inexistente, com quem convivo
nos últimos 15 anos, tendo o prazer de partilhar da sua generosidade intelectual. Com ele
alimento a mais pura, genuína e verdadeira amizade.
À minha orientadora de doutorado, a Profa. Dra Maria da Conceição Lopes, a querida “Ção”,
qualquer agradecimento é pouco. Ética, rápida, direta, segura e, sobretudo, delicada. É
incrível a quantidade de coisas de grande vulto que consegue fazer, sem se esquecer dos
viii
pequenos detalhes, sobretudo aqueles que passariam despercebidos para qualquer um, que
envolve o trato com as pessoas. Mulher especial, humana, de uma humildade pessoal e
profissional incomparável, acessível, disponível e que tive a honra de conhecer, conviver e
contar com a sua amizade nos últimos anos. Ção, embora dispense este momento, e mesmo
sabendo que tem ciência disto, prefiro registrar a admiração e respeito que tenho por você.
Saiba que reconheço e procurarei honrar tudo que aprendi contigo com fidelidade!
Gostaria de me encaminhar para a finalização de meus agradecimentos de outra forma, mas o
destino nos “pregou uma peça” e nos reservou este momento. No meio do processo de
doutoramento perdi (na verdade perdemos) uma das pessoas mais especiais que conheci: Júlio
César Mello de Oliveira, cuja infindável generosidade não poderá ser expressa num papel,
mas o seu exemplo estará para sempre marcado em minha vida! Ainda que me falte maestria
literária para falar o mínimo do que este homem significa para mim, poderia passar páginas e
mais páginas falando dele. Mas prefiro resgatar uma pequena história que ilustra bem uma de
suas maiores qualidades: a atenção às pessoas.
A primeira vez que estive em Jacobina, município epicentro desta pesquisa, em outubro de
2007 o Júlio estava lá, juntamente com a Pró. Rosário e com o Prof. Carlos. Embora eu já
tivesse um objeto definido de estudo de doutoramento junto à Universidade de Coimbra,
depois da uma visita à região do Piemonte da Chapada Diamantina – quando estávamos no
hotel, situado no alto da Serra de Jacobina, e presenteados por um belíssimo pôr do sol de
primavera na caatinga, que se escondia por trás da Serra do Tombador – o Júlio se voltou para
mim e resolveu me convencer de que a minha pesquisa de doutorado deveria ser realizada ali.
Seu único argumento era de que naquela região o meu trabalho teria mais sentido, pois o
flagrante descaso e a depredação do patrimônio arqueológico privavam a população de
conhecer e se identificar com este legado, que poderia se perder sem ser conhecido. O pano de
fundo que sustentava os seus argumentos era um só: os indivíduos que perdiam com a
destruição do patrimônio. Para Júlio a arqueologia não fazia sentido se não tivesse em sua
práxis um fim social direto. Aceitei a sua sugestão e o resultado é esta tese de doutorado.
Mas, tenho como filosofia de vida a idéia de que pessoas especiais devem ser lembradas de
maneira especial. Justamente por isso, Júlio é sempre lembrado por mim com muita vida. Não
seria demais, portanto, agradecer a minha pequena Júlia, que não tem a mínima idéia do que é
um doutorado, mas, sem dúvida, sentiu os efeitos dele a partir das minhas necessárias
ausências, quando tive que privá-la de minha atenção. Querida, papai lhe ama!
ix
E, falando em amor, a Faby, à mulher que me deu este maravilhoso presente, a nossa
pequenina, que também leu meus rascunhos, realizou sugestões e tantas outras questões
acadêmicas. Mas, além disso, me escolheu para compartilhar uma vida em comum, e me
suporta com um misto de braveza e ternura. Querida, te amo!
Epa Babá! Okê Odé! Cobarô Exu!
São Salvador da Baía de Todos os Santos, outono de 2012.
Carlos Costa.
x
RESUMO
COSTA, Carlos Alberto Santos. Representações rupestres no Piemonte da Chapada
Diamantina, Bahia, Brasil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (tese de doutorado).
O objeto de estudo desta pesquisa são os sítios de representações rupestres do Piemonte da
Chapada Diamantina. O problema inicial de investigação parte da discussão da noção de
tradição na arqueologia brasileira e da sua aplicação nos estudos das representações rupestres
no Nordeste do país. Este caminho levou a constatação de que os signos geométricos
identificados são estudados de maneira parcial, em decorrência da dificuldade de apreensão de
seus conteúdos e por dispor de formas representadas universalmente, argumento contrário a
perspectiva de construção de cenários arqueológicos regionais. Na contramão desta
compreensão, neste trabalho buscou-se verificar se os signos geométricos identificados no
Piemonte apresentavam repertórios gráficos significativos, de maneira a se constituir como
elementos para construção de cenários arqueológicos regionais.
Para atingir este objetivo partimos para a observação da paisagem do Piemonte da Chapada
Diamantina, quando levantamos dados sobre a sua conformação (geotectônica, geologia,
geomorfologia, solos, hidrografia, clima, vegetação, paleopaisagem e uso atual), conduzindo à
compreensão dos locais escolhidos pelos grupos humanos para a ocupação e entendendo os
fatores que evidenciam a relação de reciprocidade entre o homem e o meio. Com esta base,
estudamos os sítios rupestres, supondo existir significados subjacentes às pinturas e adotando
a noção de gramática para análise das 49 jazidas arqueológicas levantadas. A partir desta
perspectiva, foi possível indicar três perfis gráficos específicos para a região, provavelmente
fruto de uma sucessão de momentos distintos de ocupação do território, dentre os quais o mais
expressivo é formado quase exclusivamente por símbolos geométricos.
A partir do estudo de caso é possível concluir que as representações geométricas constituem
importantes fontes para construção de panoramas arqueológicos regionais, além dos dados
possibilitarem induzir diretrizes específicas para a observação da região e, consequentemente,
para a continuidade futura dos estudos arqueológicos no Piemonte da Chapada Diamantina.
Palavras-chave: Piemonte da Chapada Diamantina; representações rupestres; geométrico;
arqueologia baiana.
xi
ABSTRACT
COSTA, Carlos Alberto Santos. Rock representations in the Piedmont of Chapada
Diamantina, Bahia, Brazil. Coimbra: FLUC, 2012, 479p. (doctoral dissertation).
The object of this research are the sites of rock art representations of Piedmont in Chapada
Diamantina. The initial investigation problem of the discussion of the notion of tradition in
Brazilian archeology and its application in the study of representations rock in the Northeast.
This path led to the finding that the geometric signs are identified partially, due to the
difficulty of understanding its contents and submit forms represented universally argument
against the prospect of building regional archaeological scenarios. Contrary to this
understanding, this study sought to determine whether the signs identified in Piedmont
geometric graphs showed significant repertoire, so as to constitute elements for construction
of regional archaeological scenarios.
To achieve this goal we set for the observation of the Piedmont landscape of Chapada
Diamantina, when we lift data on their conformation (geotectonic, geology, soils, hydrology,
climate, vegetation, paleopaisagem and current use), leading to the understanding of the sites
chosen by human groups for the occupation and understanding the factors that highlight the
reciprocal relationship between man and environment. On this basis, we studied the cave
sites, assuming there are meanings behind the paintings and embracing the notion of grammar
for the analysis of 49 archaeological sites raised. From this perspective, it was possible to
indicate three graphic profiles specific to the region, probably the result of a succession of
distinct periods of occupation of the territory, among which the most significant is formed
almost exclusively by geometric symbols.
From the case study we conclude that the representations are important sources for
construction of regional archaeological panoramas, plus the data make possible to induce
specific guidelines for the observation of the region and, consequently, for the future
continuation of archaeological studies in Diamantina Plateau Piedmont.
Keywords: Piedmont of Chapada Diamantina; rock representations; geometry; Bahia
archeology.
xii
RÉSUMÉ
COSTA, Carlos Alberto Santos. Représentations rupestres dans le Piémont de la Chapada
Diamantina, Bahia, Brésil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (thèse de doctorat).
L'objet d'étude de cette thèse sont les sites de représentations rupestres du Piémont de la
Chapada Diamantina, dans l'Etat de Bahia, au Brésil. La question initiale de l'enquête part
d'une discussion autour de la notion de tradition dans l'archéologie brésilienne et de son
application dans les études des représentations rupestres dans le Nordeste du pays. Ce
cheminement mène à la constatation que les signes géométriques identifiés sont étudiés de
manière partielle, em raison de la difficulté d'apréhension de ses contenus et car ceux-ci
présentent des formes représentées universellement, argument contraire à la perspective de
construction de scènes archéologiques régionales. A l'opposé de cette compréhension, ce
travail cherche a vérifier si les signes géométriques identifiés dans le Piémont présentaient des
répertoires graphiques significatifs, de manière à se constituer comme des éléments pertinents
pour la construction de scènes archéologiques régionales.
Pour atteindre cet objectif, nous avons observé le paysage du Piémont de la Chapada
Diamantina, en réunissant un ensemble de données sur sa conformation (géotechtonique,
géologie, géomorphologie, sols, hydrographie, climat, végétation, paléo-paysage et usage
actuel), conduisant à la compréhension des lieux choisis par les groupes humains pour
l'occupation et en incluant les facteurs qui mettent en évidence la relation de réciprocité entre
l'homme et l'environnement. Une fois cette base établie, nous avons étudié les sites rupestres,
en supposant qu'il existe des significations sous-jacentes aux peintures et en adoptant la
notion de grammaire pour l'analyse des 49 sites archéologiques inventoriés. A partir de cette
perspective, il a été possible d'indiquer trois profils graphiques spécifiques pour la région,
probablement fruits d'une succession de moments distincts d'occupation du territoire, parmi
lesquels le plus expressif est formé presque exclusivement de symboles géométriques.
A partir de cette étude de cas, il est possible de conclure que les représentations géométriques
constituent d'importantes sources pour la construction de panoramas archéologiques
régionaux, outre le fait que les données permettent d'induire des lignes directrices spécifiques
pour l'observation de la région et, par conséquent, pour la continuité future des études
archéologiques dans le Piémont de la Chapada Diamantina.
Mots-clés: Piémont de la Chapada Diamantina; représentations rupestres; géométriques;
archéologie du Bahia.
xiii
RESUMEN
COSTA, Carlos Alberto Santos. Representaciones rupestres del Piemonte de la Chapada
Diamantina, Bahía, Brasil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (tesis doctoral).
El objeto de estudio de esta investigación son los sitios rupestres del Piemonte de la Chapada
Diamantina. La problemática de estudio parte de la discusión de la noción de tradición en
Arqueología brasileña e de su aplicación en los estudios de representaciones rupestres en el
Nordeste del país. Este camino llevó a la constatación de que los signos geométricos
identificados son estudiados de manera parcial, en función de la dificultad de aprehensión de
sus contenidos y por disponer de formas representadas universalmente. En el sentido contrario
de esta posición, este trabajo buscó verificar si los signos geométricos identificados en el
Piemonte presentaban repertorios gráficos significativos, de manera a constituir elementos
claves para la construcción de escenarios arqueológicos regionales.
Para alcanzar este objetivo partimos de la observación del paisaje del Piemonte de la Chapada
Diamantina, para lo cual levantamos datos sobre su total conformación geotécnica, geológica,
geomorfológica, pedológica, hidrográfica, climatológica florística, paleopaisagística y de
ocupación actual del suelo, lo que condujo a la comprensión de los locales elegidos por los
grupos humanos para la ocupación y al entendimiento de los factores que evidencian la
relación de reciprocidad entre el hombre y su medio. Con esta base, estudiamos los sitios
rupestres, presuponiendo la existencia de lo significados subyacentes a las pinturas y
adoptando la noción de gramática para el análisis de los 49 yacimientos registrados. A partir
de esta perspectiva, fue posible indicar tres perfiles gráficos específicos para la región,
probablemente fruto de una sucesión de momentos distintos de ocupación del territorio, entre
los cuales el más expresivo es el formado casi que exclusivamente por símbolos geométricos.
A partir de este estudio de caso es posible concluir que las representaciones geométricas
constituyen importantes fuentes para la construcción de panoramas arqueológicos regionales,
además de que los datos posibilitaron la inducción de directrices específicas para la
observación de la región e, consecuentemente, para la continuación futura de los estudios
arqueológicos en el Piemonte de la Chapada Diamantina.
Palabras claves: Piemonte de la Chapada Diamantina; representaciones rupestres; motivos
geométricos; arqueología bahiana.
xiv
SUMÁRIO
Lista de imagens ................................................................................................................... xvi
Lista de tabelas ................................................................................................................... xxvi
Lista de gráficos................................................................................................................. xxvii
Introdução.............................................................................................................................. 01
Capítulo I: Tradição, tradições, Bahia e alguns problemas: a construção do
objeto de pesquisa.................................................................................................................. 08
1.1. A noção de tradição arqueológica................................................................................ 09
1.2. As representações rupestres no Nordeste brasileiro .................................................... 20
1.3. Os estudos das representações rupestres na Bahia....................................................... 47
1.4. O problema de pesquisa e a hipótese de trabalho........................................................ 67
Capítulo II: A paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina....................................... 71
2.1. A noção de paisagem em arqueologia ......................................................................... 71
2.2. Aspectos geotectônicos e geológicos........................................................................... 79
2.3. Aspectos geomorfológicos e solos............................................................................... 87
2.4. Aspectos hidrográficos e climáticos .......................................................................... 100
2.5. Aspectos da cobertura vegetal ................................................................................... 115
2.6. Aspectos da paleopaisagem ....................................................................................... 120
2.7. Aspectos da paisagem atual....................................................................................... 124
Capítulo III: Sítios rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina............................. 143
3.1. Diretrizes para a observação dos sítios rupestres....................................................... 143
3.2. Os trabalhos e os procedimentos de campo e laboratório.......................................... 150
3.3. Os resultados.............................................................................................................. 170
Considerações finais ............................................................................................................ 207
Referências bibliográficas................................................................................................... 213
xv
Apêndices...............................................................................................................................240
Apêndice 1: Ficha de registro de sítios com representações rupestres..............................240
Apêndice 2: Tabela de síntese dos dados levantados nos sítios do Piemonte da
Chapada Diamantina, Bahia ..............................................................................................386
Apêndice 3: Análises quantitativa, percentual e gráfica dos dados sistematizados
na tabela disponível no apêndice 2 ................................................................................... 391
Apêndice 4: Tabelas individuais de análise dos signos.................................................... 394
Apêndice 5a: Tabela de ocorrência dos signos por unidade geomorfológica
arqueológica...................................................................................................................... 458
Apêndice 5b: Tabela de ocorrência dos signos por sítio .................................................. 459
Apêndice 5c: Tabela de recorrência dos signos por sítio.................................................. 460
Apêndice 6: Análises quantitativa, percentual e gráfica dos dados sistematizados
nas tabelas disponíveis no apêndice 4............................................................................... 461
Apêndice 7: Mapa com a localização dos sítios identificados no Piemonte da
Chapada Diamantina. Fonte: Google earth, acessado em março de 2012........................ 478
Apêndice 8: CD com as imagens geradas durante a pesquisa.......................................... 479
xvi
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM 1: Indicação da área de pesquisa no território sul-americano. Em azul,
sobre o mapa da Bahia, estão ressaltadas as cidades de Caém, Caldeirão Grande,
Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba e Saúde, no Piemonte da Chapada
Diamantina. FONTE: www.ibge.gov.br. Trabalho gráfico: Autor. ........................................ 03
IMAGEM 2: À esquerda distribuição das tradições rupestres no Brasil excetuando
a área amazônica, de acordo com André Prous. À direita distribuição das tradições
rupestre no Brasil, de acordo com Maria Dulce Gaspar. Fontes: PROUS, 1992;
GASPAR, 2003. ...................................................................................................................... 14
IMAGEM 3: Representações emblemáticas da tradição Nordeste: a) costa a costa
em São Raimundo Nonato, Piauí; b) variações do costa a costa em Carnaúba dos
Dantas, Rio Grande do Norte; c) ação cerimonial com representação de criança no
centro em Parelhas e Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte; d) ação
cerimonial com representação de criança no centro em São Raimundo Nonato,
Piauí; e) ação cerimonial com representação de crianças no centro em Lençóis,
Bahia. Fonte: MARTÍN, 1999, p. 253-254. ............................................................................ 24
IMAGEM 4: Exemplares da tradição Nordeste do Parque Nacional Serra da
Capivara: a) Toca da Extrema II, cena de ritual em torno de uma árvore, considerada
emblemática da tradição; b) Toca do Boqueirão da Pedra Furada, cena de sexo; c)
Toca da Entrada do Baixão da Vaca, figuras humanas e figuras mascaradas
provavelmente em atividade ritual. Fonte: PESSIS, 2003. ..................................................... 25
IMAGEM 5: Representações do estilo Serra da Capivara em São Raimundo
Nonato, Piauí: a) provável cena cerimonial em torno de uma árvore, sítio Toca do
Nilson do Boqueirão da Pedra Solta; b) cena de sexo com gigantismo na
representação do falo, sítio Toca do Sobradinho; c) cena de sexo com gigantismo na
representações do falo e da vulva, sítio Toca da Entrada do Baixão da Vaca. Fonte:
PESSIS, 2003. ......................................................................................................................... 27
IMAGEM 6: Representações do estilo Serra Branca em São Raimundo Nonato,
Piauí: a) Toca do Varedão X; b) Toca do Morcego. Fonte: PESSIS, 2003............................. 28
IMAGEM 7: Painéis da tradição Agreste: a) sítio Bom Jesus da Lapa, Santana do
Mato, Rio Grande do Norte; b) sítio Pedra Redonda, Pedra, Pernambuco; c) sítio
xvii
Toca da Entrada do Baixão da Vaca, São Raimundo Nonato, Piauí; d) Lajedo da
Soledade, Apodi, Rio Grande do Norte; e) sítio Santa Marta, Iaraquara, Bahia.
Fontes: MARTÍN, 1999; ETCHEVARNE, 2007.................................................................... 33
IMAGEM 8: Painéis da tradição São Francisco: a) sítio Lapa do Caboclo, em
Januária, Minas Gerais; b) sítio não identificado, em Coribe, Bahia; c) detalhe do
sítio Lapa do Caboclo, em Januária, Minas Gerais; d) sítio Poções, em Gentio do
Ouro, Bahia. Fontes: PROUS, 1992; MARTÍN, 1999; JORGE et al., 2007;
ETCHEVARNE, 2007. ........................................................................................................... 36
IMAGEM 9: Painéis da tradição Astronômica: a) Maria Beltão à frente de painel
do sítio Toca do Cosmos, Central, Bahia; b) sítio Grota do Veinho, Ourolândia,
Bahia. Fontes: http://www.cbarqueol.org.br; ETCHEVARNE, 2007..................................... 39
IMAGEM 10: Imagens do sítio Buraco d’Água registradas por Carlos Ott em
Campo Formoso, Bahia. FONTE: OTT, 1945. ....................................................................... 48
IMAGEM 11: Sítios pesquisados por Valentín Calderón: à esquerda, detalhe de um
painel com sobreposições, na Serra da Lagoa da Velha em Morro do Chapéu; à
direita, um detalhe de um painel pictórico do sítio São Gonçalo, em Sento Sé. Fotos:
Fabiana Comerlato, 2005; Arquivos do MAE/Ufba................................................................ 49
IMAGEM 12: Sítios de gravura do submédio São Francisco, na área de Itaparica: à
esquerda, sítio Itacoatiara I, na Serra do Curral em Rodelas, onde se veem os blocos
de gravuras e pilões encontrados nas escavações arqueológicas; à direita, sítio
Bebedouro das Pedras, onde aparecem gravuras sobre laje, encontradas no distrito
de Tapera em Rodelas. Fonte: ETCHEVARNE, 1995, p. 292-293. ....................................... 52
IMAGEM 13: Com o intuito de dar uma noção da área de ocorrência dos sítios de
representações rupestres, apresentamos a identificação no mapa do relevo da Bahia
das cidades nas quais foram localizados sítios rupestres entre o século XIX e 2012.
FONTE: Relevo SRTM da EMBRAPA.................................................................................. 67
IMAGEM 14: Províncias estruturais brasileiras, dentre as quais se ressalta a de
número 8, que corresponde ao cráton de São Francisco. Fonte: BIZZI et al., 2003, p.
xiii............................................................................................................................................ 80
IMAGEM 15: Limites, conformação geológica e compartimentos tectônicos do
cráton de São Francisco. Fonte: KOSIN et al., 2003, p. 16..................................................... 81
xviii
IMAGEM 16: Diferentes unidades estruturais da porção norte do cráton de São
Francisco, esquematizando as suas idades geológicas e geotectonismo. Fonte:
BARBOSA et al., 2003, p. 9-10. ............................................................................................. 82
IMAGEM 17a: Recorte da carta geológica Jacobina - Folha SC.24-Y-C,
apresentando, especificamente, a área da pesquisa. Fonte: SAMPAIO et al., 2001. .............. 86
IMAGEM 17b: Legenda da imagem 17a............................................................................... 87
IMAGEM 18: Unidades morfológicas que compõem o relevo do estado da Bahia.
Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007,
consultado em www.sei.gov.ba.br em janeiro de 2011........................................................... 18
IMAGEM 19: Perfil de uma das vertentes extremamente íngremes da Serra de
Jacobina, vista da comunidade de Bananeira. Fonte: Autor, setembro de 2009. .................... 91
IMAGEM 20: Relação estabelecida entre a densidade da drenagem d’água e a
declividade e comprimento das vertentes. Fonte: CHRISTOFOLETTI, 2009 [1980],
p. 60. ........................................................................................................................................ 91
IMAGEM 21: Modelo de desenvolvimento das vertentes de Lester King. Fonte:
CHRISTOFOLETTI, 2009 [1980], p. 40. ............................................................................... 93
IMAGEM 22: Perfil da escarpa da Serra do Tombador observado a partir da área
de São Judas Tadeu. Foto: Autor, fevereiro de 2009............................................................... 93
IMAGEM 23: Vista panorâmica em 180º, a partir da Serra do Tombador – no
trecho chamado por locais de Serra do Cílio –, da superfície de aplainamento que
caracteriza a Depressão Sertaneja na área de pesquisa. Ao fundo, em último plano,
vê-se a sequência da Serra de Jacobina. Foto e montagem: Autor, setembro de 2009. .......... 97
IMAGEM 24: Recorte da carta Relevo SRTM da Embrapa. A cuesta orientada
SSW–NNE na porção esquerda da imagem é a Serra do Tombador. Ainda à
esquerda, sobre a Serra do Tombador, está a chapada. A cadeia de montanhas
orientada N-S na porção centro-direita da imagem é a Serra de Jacobina. No entorno
da Serra de Jacobina está a Depressão Sertaneja. Fonte:
<http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>, consultado em janeiro de 2011............................ 99
IMAGEM 25: Bacias hidrográficas da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br>
em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 101
xix
IMAGEM 26: Microbacia do rio Salitre. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do
Estado da Bahia – SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009,
consultado em <www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011.................................................. 104
IMAGEM 27: Bacia do rio Itapicuru. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do
Estado da Bahia – SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009,
consultado em <www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011.................................................. 108
IMAGEM 28: Bacia do rio Paraguaçu, com destaque do Autor para a microbacia
do rio Jacuípe, ao norte. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia –
SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009, consultado em
<www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011. ......................................................................... 112
IMAGEM 29: Rede de drenagem do estado da Bahia onde se evidencia a
convergência espacial dos rios Salitre (em verde), Itapicuru (em azul) e Jacuípe (em
vermelho). Desenho: Autor, baseado no mapa rodoviário do Departamento Nacional
de Infra-Estrutura de Transporte (DNIT), 2002. ................................................................... 114
IMAGEM 30: Tipologias climáticas da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br>
em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 115
IMAGEM 31: Cobertura vegetal da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br>
em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 117
IMAGEM 32: Mapa do relevo do estado da Bahia com a distribuição dos fósseis de
megafauna. Em vermelho a cidade de Jacobina, em azul as demais cidades. Fonte:
mapa gerado pelo autor baseado em informações de VIANA et al., 2007, p. 802................ 122
IMAGEM 33: Esqueleto de preguiça gigante (Eremotherium) do município de
Jacobina, em exposição no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Abaixo, à esquerda,
um esqueleto de tigre dente de sabre (Smilodon). Fonte: SILVA, 2010, p. 171. .................. 122
IMAGEM 34: Em Miguel Calmon retirada de pedras de meio-fio. Foto: Autor,
fevereiro de 2009................................................................................................................... 125
IMAGEM 35: Três Coqueiros, extração de pedras de piso para pavimentação. Foto:
Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 125
xx
IMAGEM 36: Fole em funcionamento num abrigo na área de São Judas Tadeu,
sobre a Serra do Tombador. Na sequência de imagens, da esquerda para a direita,
percebem-se: visão geral do funcionamento da oficina; homem manobrando o fole;
homem malhando uma ponteira sobre uma bigorna; ponteiras esfriando sobre uma
rocha, ao lado de um galão de água. Fotos: Autor, fevereiro de 2009. ................................. 127
IMAGEM 37: Fazenda Caldeirão IV unidade 1, onde se vêem um fole em desuso,
no canto inferior esquerdo, e as paredes do abrigo atingidas pela fuligem. Foto:
Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 127
IMAGEM 38: Complexo Tombador unidade 5, onde se percebem um fole em
desuso, no canto inferior esquerdo, e as paredes do abrigo totalmente impregnadas
por fuligem. Foto: Maria da Conceição Lopes, janeiro de 2010........................................... 127
IMAGEM 39: Barragem do Cantinho, acampamento improvisado com parede de
alvenaria num abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009..................... 129
IMAGEM 40: Três Coqueiros I, acampamento improvisado com paredes e teto
feitos com placas rochosas. Foto: Autor, setembro de 2009. ................................................ 129
IMAGEM 41: Serra do Cílio III, acampamento improvisado com lona plástica num
abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009. ........................................... 129
IMAGEM 42: Fazenda Caldeirão I unidade 1, acampamento improvisado com lona
plástica num abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................... 129
IMAGEM 43: Montagem fotográfica. Rio Preto III, abrigo com pinturas demolido
e em processo de fatiamento para confecção de placas rochosas destinadas à
pavimentação. Fotos: Autor, janeiro de 2010........................................................................ 131
IMAGEM 44: Barragem do Cantinho, pinturas depredadas através de queima do
painel. Foto: Autor, setembro de 2009. ................................................................................. 131
IMAGEM 45: Fazenda Caldeirão 4 unidade 2, pintura na entrada do abrigo
depredada por picoteamento. Foto: Autor, janeiro de 2010. ................................................. 132
IMAGEM 46: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 180º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, na divisa entre Jacobina e Miguel Calmon, onde se percebe a
destruição do ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, fevereiro de 2009. ................. 133
xxi
IMAGEM 47: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, na área de São Judas Tadeu, onde se percebe a destruição do
ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, fevereiro de 2009......................................... 133
IMAGEM 48: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, na área de Três Coqueiros, onde se percebe a destruição do
ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, setembro de 2009......................................... 133
IMAGEM 49: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 180º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, próximo à divisa entre Jacobina e Mirangaba, onde se
percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal, defronte do sítio Fazenda
Caldeirão II; o setor destruído contrasta com a área preservada da Fazenda do Dr.
Flávio, em segundo plano. Fotos: Autor, setembro de 2009................................................. 134
IMAGEM 50: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 270º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, na divisa entre Jacobina e Mirangaba, onde se percebe a
destruição do ambiente pela mineração ilegal defronte do sítio Rio Preto I. Fotos:
Autor, janeiro de 2010........................................................................................................... 134
IMAGEM 51: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa
da Serra do Tombador, em Mirangaba, onde se percebe a destruição do ambiente
pela mineração ilegal. Fotos: Autor, janeiro de 2010............................................................ 134
IMAGEM 52: Passivo de mineração a céu aberto na área de Yamana Gold, na
Serra de Jacobina. Foto: Almacks Luiz, junho de 2009, disponível em
<http://almacks1.fotoblog.uol.com.br>, acessado em junho de 2011. .................................. 137
IMAGEM 53: Área destinada à segunda barragem de rejeitos da produção mineral
da Yamana Gold. Foto: Jeanne Dias, dezembro de 2008...................................................... 137
IMAGEM 54: Indústria que a Yamana Gold utiliza para beneficiamento do ouro.
Foto: Greciane Nascimento, dezembro de 2008.................................................................... 137
IMAGEM 55: Entrada de uma das áreas de mineração subterrânea da Yamana
Gold. Foto: Fabiana Comerlato, dezembro de 2008.............................................................. 137
IMAGEM 56: Exemplo da tomada fotográfica do ambiente circundante a partir do
sítio Igrejinha. O conjunto de imagens acima apresenta como elas são geradas em
campo; abaixo uma panorâmica de 180º a partir da fotomontagem. Notar que os
xxii
limites da área de visualização são os próprios limites do suporte rochoso. Fotos e
montagem: Autor, fevereiro de 2009..................................................................................... 158
IMAGEM 57: Exemplo da tomada fotográfica da unidade
geomorfológica/arqueológica do sítio Morro do Cruzeiro I. Na primeira imagem,
tomada da esquerda para a direita; na segunda imagem, tomada frontal; e na terceira
imagem, tomada da direita para a esquerda. Fotos: Autor, setembro de 2009...................... 159
IMAGEM 58: Exemplo da tomada fotográfica de um painel e de signos no mesmo
painel no sítio Fazenda Caldeirão I unidade 1. Foto: Autor, setembro de 2009. .................. 159
IMAGEM 59: Exemplo de croqui do sítio Barragem do Cantinho. Croqui: Autor.
Reprodução digital: Gilcimar Barbosa e Carlos Costa.......................................................... 161
IMAGEM 60: Distribuição dos sítios levantados na área de pesquisa. O conjunto
de sítios alinhado à esquerda está sobre a Serra do Tombador. Os demais estão
distribuídos na Serra de Jacobina (feição do relevo na porção direita da imagem), no
Planalto sobre a Serra do Tombador e na Depressão Sertaneja (espaço entre a Serra
do Tombador e a Serra de Jacobina). Um mapa mais detalhado da distribuição dos
sítios encontra-se no apêndice 8 deste trabalho..................................................................... 171
IMAGEM 61: Fenda da unidade 2 do sítio Serra do Cílio III. Foto: Autor, setembro
de 2009. ................................................................................................................................. 178
IMAGEM 62: Parede do sítio Bananeira. Foto: Autor, setembro de 2009.......................... 178
IMAGEM 63: Abrigo do sítio Pé de Serra. Foto: Autor, fevereiro de 2009........................ 178
IMAGEM 64: Lapa do sítio As Moitas unidade 2: Foto: Autor, janeiro de 2010. .............. 178
IMAGEM 65: Gruta do sítio São Judas Tadeu I. Foto: Autor, fevereiro de 2009............... 179
IMAGEM 66: Loca da unidade 5 do sítio Tombador Alto. Foto: Autor, fevereiro de
2009. ...................................................................................................................................... 179
IMAGEM 67: Caverna da unidade 2 do sítio Igrejinha. Foto: Autor, fevereiro de
2009. ...................................................................................................................................... 179
IMAGEM 68: Matacão do sítio Pilões. Foto: Autor, fevereiro de 2009.............................. 179
IMAGEM 69: Exemplares dos signos preferencialmente representados nos tetos:
signo 5, Igrejinha unidade 2; signo 7, Macaqueiras; signo 8, As Moitas unidade 5;
signo 9, Tombador Alto unidade 5; signo 11, Olhos D’água II; signo 12, Pé de
xxiii
Serra; signo 13, Olhos D’água I unidade 4; signo 14, Cambaitira I unidade 2; signo
15, Cambaitira I unidade 2; signo 20, Serra do Tamanco unidade 2; signo 21, Olhos
D’água I unidade 4; signo 22, Rio Preto IV. Fotos: Autor.................................................... 192
IMAGEM 70: Exemplares dos signos representados preferencialmente nas paredes:
signo 1, Pé de Serra; signo 2, Rio Preto IV; signo 3, Tombador Alto unidade 2;
signo 4, São Judas Tadeu IV unidade 2; signo 6, Igrejinha unidade 2; signo 16,
Tombador Alto unidade 5; signo 19, Pé de Serra; signo 25, Bananeira. Fotos: Autor. ........ 193
IMAGEM 71: Exemplares dos signos representados tanto em paredes quanto nos
tetos: signo 10, Fazenda Caldeirão I unidade 2; signo 17, Igrejinha unidade 2; signo
18, Cambaitira I unidade 2. Fotos: Autor.............................................................................. 193
IMAGEM 72: Detalhes de pigmentos aplicados utilizando-se diferentes técnicas: a)
pigmento aplicado com o uso dos dedos, sítio Cambaitira I unidade 1; b) pigmento
aplicado com técnica crayon, pedra seca aplicada no suporte ao modo de um giz,
sítio São Judas Tadeu I; c) pigmento aplicado com pincel fino, sítio Tombador Alto
unidade 6. Fotos: Autor. ........................................................................................................ 194
IMAGEM 73: Signos feitos nas diferentes cores identificadas: a) vermelho, sítio
Fazenda Caldeirão I; b) amarelo, sítio Cambaitira I unidade 2; c) preto, sítio Seixos;
d) branco, sítio Pé de Serra. Fotos: Autor.............................................................................. 195
IMAGEM 74: Exemplares com o uso do amarelo, do preto e do branco na
representação: A, B e C referem-se a representações com a associação de linhas
retas, dos sítios Cambaitira I unidade 1, Serra do Cílio III unidade 2 e Tombador
Alto unidade 3, respectivamente; C, D e E são representações tendo como base um
círculo, identificadas nos sítios Pé de Serra, Cambaitira I unidade 1 e Igrejinha,
respectivamente. Fotos: Autor............................................................................................... 196
IMAGEM 75: Sítio Cambaitira I unidade 1. Na imagem da esquerda, indica-se a
posição do painel principal do sítio. À direita, o painel. Fotos: Autor, fevereiro de
2009. ...................................................................................................................................... 197
IMAGEM 76: Sítio Jenipapo. Na imagem da esquerda, uma visão geral do abrigo.
Na direita um dos conjuntos pictóricos identificados no sítio. Fotos: Autor, setembro
de 2009. ................................................................................................................................. 198
xxiv
IMAGEM 77: Exemplares dos signos ocorrentes: signo 23, Cambaitira III unidade
2; signo 24, Tombador Alto unidade 3; signo 26, Rio Preto II; signo 27, Tombador
Alto unidade 6; signo 28, Seixos; signo 29, Tombador Alto unidade 6; signo 30,
Serra do Cílio III unidade 2. Fotos: Autor............................................................................. 200
IMAGEM 78: Sítio Cambaitira I unidade 1. No detalhe é possível se perceber 5
momentos pictóricos, apresentados do mais antigo ao mais recente: uma linha
vermelha esmaecida sob as imagens, seguida pelas figuras pretas, cobertas pelas
representações em vermelho intenso, depois amarelo e, finalmente, linhas pretas
aplicadas em crayon. Fotos: Autor, fevereiro de 2009.......................................................... 203
IMAGEM 79: Sítio Cambaitira I unidade 1. No detalhe vemos, do mais antigo ao
mais recente: uma linha horizontal vermelha esmaecida na porção direita da
imagem; um pente desenhado em um vermelho alaranjado; pinturas em amarelo;
uma grade preta aplicada em crayon; pinturas em vermelho intenso; por fim, crayon
preto na porção direita da imagem. Fotos: Autor, fevereiro de 2009.................................... 203
IMAGEM 80: Sítio Tombador Alto unidade 6. Rabiscos feitos em crayon sobre
pinturas de representações humanas feitas com pincel fino. Foto: Autor, fevereiro de
2009. ...................................................................................................................................... 203
IMAGEM 81: Sítio Jenipapo. Linhas em crayon complementam figura aplicada
com o uso dos dedos. Foto: Autor, setembro de 2009........................................................... 203
IMAGEM 82: Sítio Cambaitira I unidade 1, exemplo em que pinturas geométricas
diferentes se sobrepõem. No detalhe a imagem em preto é complementada pela em
amarelo. Ambas se sobrepõem a um signo diferente aplicado em vermelho. Foto:
Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 204
IMAGEM 83: Sítio Pé de Serra, exemplo em que um signo com linhas vermelhas
se sobrepõem a uma sequência de pontos em branco. Foto: Autor, fevereiro de 2009......... 204
IMAGEM 84: Sítio Tombador Alto unidade 6, onde é possível se ver o resultado
final da sucessão de momentos pictóricos. Foto: Autor, fevereiro de 2009.......................... 204
IMAGEM 85: Sítio Cambaitira I unidade 2. Painel com representações geométricas
feitas com o uso dos dedos em situação de sobreposição. Foto: Autor, setembro de
2009. ...................................................................................................................................... 205
xxv
IMAGEM 86: Sítio Serra do Cílio III unidade 2, em que um signo geométrico se
encontra ao lado de um conjunto de figurativos esmaecidos na parte direita superior
da imagem. Foto: Autor, setembro de 2009. ......................................................................... 205
xxvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Geomorfologia, litologia, relevo e arqueologia................................................. 97
TABELA 2: Unidades geomorfológicas/arqueológicas......................................................... 98
TABELA 3: População e densidade demográfica na área de pesquisa................................ 130
TABELA 4: Sítios rupestres localizados no Piemonte da Chapada Diamantina,
Bahia, Brasil .......................................................................................................................... 152
TABELA 5: Tabela de classificação dos signos................................................................... 165
TABELA 6: Tabela dos signos ocorrentes organizada segundo a sua recorrência.............. 189
TABELA 7: Tabela dos signos ocorrentes organizada segundo a sua recorrência.............. 190
xxvii
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Interesse pelo estudo dos sítios de representações rupestres na Bahia
entre 1966 e 2011 .................................................................................................................... 65
GRÁFICO 2: Distribuição dos sítios nas diferentes feições geomorfológicas do
relevo ..................................................................................................................................... 172
GRÁFICO 3: Suporte rochoso............................................................................................. 173
GRÁFICO 4: Topografia ..................................................................................................... 174
GRÁFICO 5: Hidrografia .................................................................................................... 175
GRÁFICO 6: Unidades geomorfológicas/arqueológicas..................................................... 176
GRÁFICO 7: Visualização .................................................................................................. 180
GRÁFICO 8: Visibilidade ................................................................................................... 181
GRÁFICO 9: Visualização dos painéis ............................................................................... 181
GRÁFICO 10: Orientação ................................................................................................... 183
GRÁFICO 11: Deterioração por agentes naturais ............................................................... 184
GRÁFICO 12: Deterioração por ação antrópica.................................................................. 185
GRÁFICO 13: Recorrência e ocorrências dos signos nos sítios.......................................... 186
GRÁFICO 14: Proporção dos signos de acordo com a sua macro classificação................. 187
GRÁFICO 15: Proporção dos signos de acordo com o seu aparecimento .......................... 187
GRÁFICO 16: Ocorrência dos signos ................................................................................. 188
GRÁFICO 17: Comparação entre ocorrência e recorrência................................................ 189
GRÁFICO 18: Total geral dos signos.................................................................................. 191
INTRODUÇÃO
As representações rupestres constituem uma das principais evidências da presença humana no
passado. Esta afirmação é sem dúvida adequada para o território brasileiro, uma vez que esta
categoria da cultura material conforma um dos principais documentos acerca das ocupações
humanas ocorridas em períodos pré-coloniais e que mais persistem no tempo, em função da
natureza dos materiais minerais que majoritariamente as constituem, por se encontrarem em
locais reservados e/ou de escassa acessibilidade. Apesar destas excepcionais características,
podemos dizer que se trata de documentos arqueológicos de difícil apreensão do ponto de
vista científico, por expressarem conteúdos simbólicos desconhecidos e, em contraponto,
porque os detentores dos mecanismos de leitura de seus significados não existem mais. Ou
seja, entre o documento arqueológico do passado e aquele que foi transmitido para o presente,
existe um imenso processo de formação de heranças, cuja abordagem e compreensão no
presente se tornam bastante complexas.
As primeiras notas sobre representações rupestres na Europa e na América do Sul datam do
século XVI. Contudo, as pesquisas específicas das representações rupestres nestes continentes
surgem a partir da segunda metade do século XIX, com efetivo desenvolvimento a partir do
século XX (PROUS, 1992, p. 509; SANCHIDRIÁN, 2001, p. 23-31). Deste segundo
momento se destacam os trabalhos de André Leroi-Gourhan e Annette Laming-Emperaire,
cujas obras são consideradas marcos para o desenvolvimento moderno dos estudos das
representações rupestres, uma vez que abrem novas possibilidades interpretativas da arte
pleistocênica na Europa, distanciando-se da noção mágico-religiosa atribuída às
2
interpretações até aquele momento e chamando a atenção para a estruturação reconhecida nos
elementos artísticos dos painéis (LAMING-EMPERAIRE, 1962; LEROI-GOURHAN, 1965,
1984; SANCHIDRIÁN, 2001; TRIGGER, 2004).
Seus trabalhos, sem dúvida, tiveram enorme repercussão na construção de metodologias
adequadas para as investigações voltadas para as representações rupestres e na formulação de
pressupostos orientados à observação dos grafismos. No Brasil, especificamente, a
contribuição do pensamento destes autores teve influência direta. A Annette Laming-
Emperaire, especialmente, coube a coordenação e a formação de equipes para a realização dos
primeiros trabalhos arqueológicos sistemáticos sob a influência da escola francesa, nas
décadas de 60 e 70 do século XX, sendo atribuídas a ela as principais diretrizes que
perdurariam e se imporiam como norteadoras do olhar para as representações rupestres
(PROUS, 1992, p. 17). Por isso, não seria exagerado dizer que, hoje, as maiores equipes que
trabalham com representações rupestres no Brasil derivam, de maneira direta, de uma
formação francesa.
No estado da Bahia os primeiros trabalhos arqueológicos orientados para a abordagem desta
categoria da cultura material datam da década de 60 do século XX. No entanto, seu
desenvolvimento mais significativo viria a ocorrer no florescer do século XXI. Disto resulta
que, quando consideradas as dimensões deste território, a quantidade de trabalhos
arqueológicos é ínfima (COSTA, 2005, p. 139-157; ETCHEVARNE, 2006, p. 45). Sendo
assim, também não seria exagerado dizer que a maior parte do estado é inexplorada do ponto
de vista arqueológico. Foi justamente esta condição que nos fez, em 2007, apresentar à
Universidade de Coimbra uma proposta de pesquisa de doutoramento para o nordeste do
estado, que seria realizada no município de Santa Brígida (COSTA, 2007c). Entretanto, já no
início do doutoramento em Arqueologia no Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras,
tivemos conhecimento de uma região igualmente desconhecida do estado, que se encontrava
em risco de desaparição em decorrência de um continuado processo de destruição ambiental,
onde nossa ação seria mais necessária e, além disso, estava sendo solicitada.
Agregadas essas novas razões, migramos nossos esforços para a essa região conhecida
geograficamente como Piemonte da Chapada Diamantina, onde passamos a desenvolver a
pesquisa de doutoramento. A área de recorte deste trabalho está situada no limite oriental da
Chapada Diamantina e compreende os municípios de Jacobina, Miguel Calmon, Caldeirão
Grande, Saúde, Caém e Mirangaba. A área considerada aqui tem aproximados 70 x 80 km de
3
extensão e está situada entre a borda leste da Chapada Diamantina – na feição geológica
conhecida como Serra do Tombador – e a Serra de Jacobina. Tal área está contida na
mesorregião do Centro-Norte baiano, que, por sua vez, é formada pela união de 80 municípios
agrupados em cinco microrregiões, entre as quais se encontra a de Jacobina.
IMAGEM 1: Indicação da área de pesquisa no território sul-americano. Em azul, sobre o mapa da Bahia, estão
ressaltadas as cidades de Caém, Caldeirão Grande, Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba e Saúde, no Piemonte
da Chapada Diamantina. FONTE: www.ibge.gov.br. Trabalho gráfico: Autor.
Os objetivos iniciais de nossa abordagem previam mapear os sítios de representações
rupestres, investigar a paisagem envolvente e as formas de apropriação dos suportes rochosos,
as técnicas de preparação do suporte e de aplicação dos pigmentos ou de incisão das gravuras,
identificar os motivos pintados ou gravados, bem como suas disposições nos painéis,
finalizando com a associação das diferentes variáveis apreendidas com o intuito de interpretar
as ocupações humanas ocorridas nesta região. Além disso, motivava-nos a possibilidade de
ampliar o conhecimento sobre a ocupação pré-colonial do território baiano, contribuindo, no
final da cadeia de produção de conhecimento, para os processos educativos e para a formação
social/cidadã. Especificamente, vimos em nossa área de trabalho dados privilegiados que nos
possibilitavam discutir axiomas consagrados para os estudos das representações rupestres no
Nordeste brasileiro, de maneira que a nossa contribuição poderia não se restringir à área de
pesquisa, mas ter efeitos para além desta área, questionando conhecimentos estabelecidos com
críticas e lançando o olhar para ausências fundamentais nos estudos realizados. Foi dessa
forma que chamamos a atenção para a observação dos signos geométricos, majoritariamente
identificados nos sítios do Piemonte da Chapada Diamantina. Portanto, foram essas
orientações técnicas e ideológicas que conduziram a formulação desta tese.
4
Este trabalho está formalmente dividido em três capítulos. O primeiro – Tradição, tradições,
Bahia e alguns problemas: a construção do objeto de pesquisa – destina-se a construir o objeto
de pesquisa, evidenciar os problemas e a hipótese que norteiam a tese de doutorado. Para
tanto, inicialmente discute as bases sobre as quais se assenta o conhecimento acerca de
representações rupestres no Nordeste brasileiro, abordando as perspectivas teóricas que
orientam os estudos, incidindo sobre a observação da noção de tradição arqueológica imposta
para as representações rupestres. Na sequência apresenta as tradições rupestres criadas para o
Nordeste brasileiro e explora os impactos deste conhecimento sobre a observação dos sítios de
pinturas e gravuras rupestres nesta região. Neste âmbito, questiona ainda a aplicação das
tradições criadas para áreas específicas do Nordeste em contextos distintos daqueles para os
quais foram elaboradas, bem como apresenta como um dos problemas das aplicações
inadequadas a ausência de estudos específicos dos signos geométricos. Como consequência
lógica dessa argumentação e encaminhando-se para a compreensão da área de pesquisa,
segue-se abordando os estudos sobre representações rupestres realizados no estado da Bahia a
partir de uma bibliometria da produção escrita sobre o assunto – artigos, papers, livros, teses,
dissertações, laudos técnicos e relatórios. Com os dados até aqui disponíveis são apresentados
o objeto de estudo, os problemas e a hipótese dessa pesquisa.
O segundo capítulo – A paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina – propõe-se a abordar
o delineamento paisagístico da região geográfica onde se encontram os sítios pesquisados.
Inicia-se esclarecendo a noção de paisagem utilizada para a apreensão da região de estudo,
que dará, por sua vez, subsídios para a compreensão das variáveis que serão consideradas para
versar, na sequência, sobre o Piemonte: geotectônica, geologia, geomorfologia, solos,
hidrografia, clima e vegetação. Além das informações naturais sobre a paisagem atual,
apresentamos dados, ainda que incipientes, que permitem compreender a paleopaisagem desta
região no final do Pleistoceno e durante o Holoceno, e aspectos relacionados ao uso humano
da paisagem atual, que se interpõem como condicionantes metodológicos à pesquisa.
O terceiro capítulo – Sítios rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina – destina-se a
relatar o estudo específico dos sítios de pinturas rupestres identificados na área de recorte da
pesquisa. Desta maneira, discute-se a noção de gramática aplicada aos sítios de representações
rupestres, que se apresenta como alternativa teórico-metodológica à apreensão de sítios com
signos geométricos. Segue-se a apresentação dos procedimentos de campo e laboratório que
possibilitaram levantar e sistematizar parte dos dados empíricos que dão base à tese. Finaliza
com os resultados, analisando a partir de gráficos, de percentuais, de dados quantitativos
5
absolutos e de dados qualitativos os contextos arqueológicos, primeiro sob o prisma da
paisagem de inserção dos sítios, depois pela leitura da cultura material. É com esta base que
serão esboçados os diferentes perfis gráficos identificados para o Piemonte da Chapada
Diamantina, um modelo sucessório de ocupação, bem como uma hipótese acerca de uma
possibilidade de ocupação em longo prazo na região.
Após os três principais capítulos da tese de doutoramento se encontram: as “Considerações
finais”, em que buscamos responder à hipótese da pesquisa, apresentada no primeiro capítulo,
além de dar encaminhamentos para a continuidade das investigações; as “Referências
bibliográficas”, que estão sistematizadas de maneira alfabética e abrangem as referências
escritas, cartográficas, legais e de sites oficiais utilizadas durante a pesquisa; e, finalmente, os
“Apêndices”, que contêm todos os dados criados em decorrência dos trabalhos de campo e de
laboratório, referidos no terceiro capítulo.
Antes de avançar para o texto do primeiro capítulo, cabem esclarecimentos de duas noções
que já se fazem presentes no trabalho. Ao falar de representações rupestres1
, estamos nos
referindo especificamente aos desenhos, grafismos ou figuras aplicadas pela técnica aditiva
(pigmentos) ou subtrativa (gravuras) sobre suportes rochosos fixos encontrados em diferentes
paisagens. Trata-se de um segmento da cultura material reconhecido como pinturas e/ou
gravuras rupestres, deixadas por populações que existiram em períodos pré-coloniais. Esta
categoria da cultura material é classicamente conhecida como “arte rupestre”. No entanto,
como entendemos que o conceito de arte tem sentidos e apreensões distintas para os mais
variados grupos humanos do globo terrestre e para as diferentes culturas, acreditamos que,
apesar de compreensível, resulta inadequado o seu uso para as pinturas e gravuras
identificadas no Brasil.
Primeiro porque pelas datações conhecidas, a distância cronológica entre as populações que
fizeram as representações rupestres (todas extintas) e os atuais grupos indígenas brasileiros é
muito grande, de forma a não ser possível estabelecer relações, o que fragilizaria a realização
de analogias etnográficas que conduzissem a algum tipo de interpretação direta para a
determinação do teor artístico dos grafismos. Segundo, porque os dados arqueológicos não
possibilitam reconhecer o uso conferido aos sítios rupestres, muito menos os sentidos
atribuídos. Terceiro, e mais contundente, os estudos das representações rupestres estão em
1
Denis Vialou, professor do Museu de História Natural de Paris, entende que o termo representação rupestre refere-se “a
manifestação gráfica de uma representação mental” (apud COMERLATO, 2005, p. 11; VIALOU, 2005, 1999, 1987).
6
fase considerada inicial no Brasil. Logo, falar em arte, na nossa ótica, significa interpretar
antes de reconhecer o universo abordado.
Isto, por sua vez, não quer dizer que não admitamos a intenção estética associada às pinturas e
gravuras rupestres. Em muitos casos isto é evidente para qualquer observador. Mas, entre a
presença ou a ausência de noções estéticas que apelem para a apreensão sensorial do belo e a
noção de arte para as diferentes culturas, existe uma imensa distância que nos faz entender
como injustificada a adoção do termo “arte” para referir-se aos sítios de pinturas e gravuras
rupestres e, assim, nos faz optar por outro conceito. Nesse sentido, a adoção do termo
“representação rupestre” resulta do entendimento de que, independentemente do que
signifiquem as pinturas e gravuras, elas, de fato, representam alguma coisa, desde a ausência
de significados, conteúdos corriqueiros e/ou cotidianos, até mesmo conteúdos gráficos
complexos com elaboradas abstrações e teor significativo que demandem apreensão relacional
das paisagens, dos grupos humanos e das suas produções materiais. Ou seja, em qualquer
situação, quem determinará possíveis sentidos das representações serão os estudos
arqueológicos que, porventura, possibilitarão inferir a ausência de significados, sentidos
artísticos, educativos, corriqueiro, comunicativo, mítico-religioso, entre tantos outros que
possam ser conjecturados2
.
A segunda noção referida que estará presente no trabalho é a de “pré-colonial”. Utilizamos
este termo em detrimento de pré-histórico não como oposição, mas como adequação às
especificidades da arqueologia brasileira. Isto porque, o termo pré-histórico advém de uma
longa e histórica prática arqueológica realizada na Europa, e pressupõe todo período anterior
ao surgimento da escrita como elemento de determinação do período de tempo que o conceito
compreende. Como no caso do Brasil os grupos humanos anteriores à chegada dos
colonizadores europeus não detinham os mecanismos da escrita, como detinham há muito
tempo os do Velho Mundo, entendemos o termo pré-colonial como mais justo, uma vez que
leva em consideração a história local como parâmetro de determinação do lapso de tempo que
ele abrange. Assim, considera-se o advento da conquista do território brasileiro por grupos
europeus, notadamente os portugueses, como demarcador do final do período pré-colonial e
início do colonial. Ademais, como a conquista do território foi se dando de maneira gradual, a
2
Como exemplo da multiplicidade de sentidos que os objetos artísticos podem ter, argumentaria Maria da Conceição Lopes,
professora da Universidade de Coimbra: “Reconhece-se numa multiplicidade de suportes e expressões formais de conteúdo
tangível ou intangível, no fundo de dissimulados e escuros abrigos e/ou grutas, em abertos, exprimindo vontades, pedidos,
homenagens e credos, ou exibindo-se em opulência, propagandeando os poderes que a patrocinam, em objetos cotidianos, de
grande e pequeno tamanho, de adorno, de culto, de qualidade mágicas ou simbólicas, de veneração ou apenas de
embelezamento” (LOPES, 2008, p. 7).
7
data limite de avanço e domínio do território também se pode adequar em função das
especificidades históricas.
Por fim, uma última observação, primordial para este trabalho de doutoramento, diz respeito
àquilo que em nome de uma lógica positivista implícita é constantemente negligenciado na
formulação dos trabalhos acadêmicos, que é a participação efetiva de instituições e de
indivíduos na construção científica. Desta maneira, é necessário dizer que este trabalho nasce
de um esforço particular de cooperação internacional entre diferentes equipes, da
Universidade de Coimbra (através do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de
Coimbra e Porto) e da Universidade Federal da Bahia (a partir do Laboratório de Arqueologia
e do Grupo de Pesquisas Bahia Arqueológica)3
, conduzido pela Profa. Dra. Maria da
Conceição Lopes e pelo Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne, respectivamente, com o sentido
de qualificar quadros humanos orientados para a lida com o patrimônio arqueológico.
3
Cooperação esta que tinha motivação em outras empreitadas acadêmicas, a exemplo do Fórum Luso Brasileiro de
Arqueologia Urbana, realizado no ano de 2006 na Bahia, no ano de 2008 em Coimbra e no ano de 2011 em Recife.
CAPÍTULO I
TRADIÇÃO, TRADIÇÕES, BAHIA E ALGUNS PROBLEMAS:
A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA
O presente capítulo destina-se a apresentar a problemática associada ao objeto de pesquisa.
Para tanto inicialmente fará uma abordagem do arcabouço conceitual no qual se assenta a
construção dos dados arqueológicos associados aos estudos das representações rupestres no
Brasil, especificamente discutindo a noção de tradição arqueológica. Na sequência,
apresentará as diferentes tradições definidas para o Nordeste brasileiro, exercendo a crítica
necessária a este modelo classificatório e criando os primeiros elementos para a definição do
objeto de estudo e a formulação do problema de pesquisa, colocando em evidência questões
de ordem prática nas definições das tradições, em especial aquela rotulada como Geométrica.
Em caráter de revisão bibliográfica, fará então um breve histórico das pesquisas realizadas no
estado da Bahia. Este corpus inicial de informações faz-se necessário para que haja elementos
mínimos para a identificação do problema de pesquisa e a formulação de uma resposta inicial
à problemática (a hipótese de trabalho) que irá conduzir parte do nosso olhar ao longo da
redação.
9
1.1. A NOÇÃO DE TRADIÇÃO ARQUEOLÓGICA
Esclarecer a noção de tradição arqueológica deriva da necessidade de demonstrar como este
conceito é apreendido na arqueologia brasileira, haja vista que guarda diferenças em relação
àqueles utilizados na antropologia e na história, que são noções mais divulgadas e conhecidas
nas ciências humanas4
. Além disto, entender este conceito do ponto de vista arqueológico é
necessário porque as representações rupestres no Brasil têm sido estudadas a partir da
ordenação em categorias crono-estilísticas denominadas de tradições.
Consta que a noção de tradição foi introduzida na arqueologia americana na década de 40 do
século XX em trabalhos realizados por Gordon Willey no Peru (COSENS & SEDA, 1990, p.
36). A apreensão do termo por Willey baseava-se na ideia de que a arqueologia se fundamenta
basicamente em três dimensões: tempo (sequenciais, regionais e locais), espaço (localidade,
região e área) e forma (componente e fase), sendo que as noções de horizonte, tradição e
clímax correspondem aos mecanismos de interação das três dimensões (WILLEY &
PHILLIPS, 1953). Tradição, neste sentido, correspondia a uma das variáveis de um corpo
metodológico que tinha a função de explicar os contextos arqueológicos, observando as
formas da cultura material inseridas num espaço específico e com sequências temporais
associadas às regiões5
. Nesta mesma linha de raciocínio, Gordon Childe, nos trabalhos
realizados na Europa, chamou de “cultura arqueológica” o “grupo de artefatos que ocorre de
modo associado e que expressa tradições sociais comuns que unem um povo” (CHILDE apud
WICHERS, 2010, p. 43). Essas influências seriam, portanto, compreendidas como as raízes
desta discussão na arqueologia brasileira.
4
De acordo com Caroline Luvizotto e José Poker, a tradição se apresenta como “(...) um conjunto de sistemas simbólicos que
são passados de geração a geração e que tem um caráter repetitivo. A tradição deve ser considerada dinâmica e não estática,
uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo futuro. A tradição coordena a ação que
organiza temporal e espacialmente as relações dentro da comunidade e é um elemento intrínseco e inseparável da mesma. (...)
Seu caráter repetitivo denota atualização dos esquemas de vida. Isto significa que a tradição é uma orientação para o passado,
justamente porque o passado tem força e influência relevantes sobre o curso das ações presentes. (...) A tradição também se
reporta ao futuro, ou melhor, indica como organizar o mundo para o tempo futuro, que não é concebido como algo distante e
separado, ele está diretamente ligado a uma linha contínua que envolve o passado e o presente. Esta linha é a tradição. Ela
persiste e é (re)modelada e (re)inventada a cada geração. Neste sentido, pode-se dizer que não há um corte profundo, ruptura
ou descontinuidade absoluta entre o passado, o presente e o futuro” (LUZIVOTTO & POKER, 2009, p. 4-5). Para outras
discussões acerca do termo tradição, sugerimos a leitura das obras: “A invenção das tradições”, de Eric John Earnest
Hobsbawm & Terence Ranger (São Paulo: Paz e Terra, 2002); “Esboço de uma teoria geral da magia”, de Marcel Mauss
(Lisboa: Edições 70, 2000); “A busca da África no candomblé: tradição e poder no Brasil”, de Stefania Capone (Rio de
Janeiro: Contra Capa Livraria / Pallas, 2004); ou mesmo a leitura do artigo “O ethos sanjoanense: tradição e mudança em
uma ‘cidade pequena’”, de Márcio Caniello (In: Mana [online], vol.9, n.1. Rio de Janeiro: Museu Nacional / UFRJ, p. 31-56,
2003).
5
Bruce Trigger teceu o seguinte comentário ao trabalho de Gordon Willey: “Culturas, assim como tipos de artefatos, foram
consideradas quer como persistindo (possivelmente com lentas modificações) de modo a formar tradições, quer a propagar-se
geograficamente de modo a criar horizontes culturais – um dos artifícios para alinhar tradições cronologicamente”
(TRIGGER, 2004, p. 186).
10
Entretanto, sabe-se que efetivamente a noção de tradição foi inserida na arqueologia brasileira
entre 1965 e 1970, durante o desenvolvimento do Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas (Pronapa), idealizado e financiado pelo Smithsonian Institution, sob a
coordenação dos arqueólogos norte-americanos Betty Jane Meggers e Clifford Evans.
Naquele momento, o objetivo geral do programa foi o de construir um panorama acerca da
ocupação pré-colonial do território brasileiro, utilizando recursos metodológicos que incluíam
a criação de tipologias cerâmicas (EVANS & MEGGERS, 1965). A tipologia, nesse programa,
correspondia a um método quantitativo/qualitativo destinado ao estabelecimento de
cronologias culturais, baseada, fundamentalmente, na elaboração da seriação dos artefatos
feita a partir da abordagem proposta pelo arqueólogo, também norte-americano, James Alfred
Ford (FORD 1954, 1961). Esse método ficou largamente conhecido como método Ford.
As tipologias criadas durante o Pronapa foram elaboradas através do levantamento extensivo
de diversas regiões do território, durante o qual os sítios cerâmicos identificados seriam
amostralmente escavados; os “cacos” coletados, classificados através da seriação e, com estes
resultados, criou-se uma sequência de tradições e fases (EVANS & MEGGERS, 1965). Estas
duas categorias são hierarquizadas por Meggers & Evans da seguinte maneira:
Quando os restos arqueológicos que representam uma única tradição cultural
cobrem uma área extensa (...), distinções relativamente pequenas em traços
cerâmicos ou no padrão das freqüências dos tipos cerâmicos tem que ser
empregadas para se estabelecer diferenciações geográficas e cronológicas
das fases (MEGGERS & EVANS, 1970, p. 92).
O pressuposto básico da divisão por “tipos” fundamentava-se na ideia de que o
desenvolvimento humano ocorreria a partir de critérios difusionistas e evolucionistas, de
forma que as seriações refletiriam diferenças ou mudanças culturais das populações pré-
coloniais no tempo e no espaço. Neste aspecto, o conceito de “tipo” utilizado por Meggers &
Evans preconiza que:
Um tipo cerâmico, definido em termos evolucionistas (...), é uma tradição
(uma seqüência temporal de vasilhames) evoluindo separadamente de outras,
e com o seu próprio papel evolutivo unitário e suas próprias tendências (...).
A determinação da validade para tal tipo cerâmico seria sua significação
cronológica, sua capacidade de refletir e, por isso, mostrar mudança através
do tempo (MEGGERS & EVANS, 1970, p. 8).
11
Como se pode perceber, Meggers & Evans não definem, diretamente, tradição, mas utilizam-
na como recurso para o estabelecimento dos limites do conceito de tipo. Embora não houvesse
um conceito preciso, a noção de tradição como uma categoria classificatória englobando os
tipos iria impregnar a arqueologia brasileira. Isto porque, como parte do Pronapa ocorreu um
amplo projeto de treinamento de profissionais atuantes em diversas regiões do Brasil, com
vistas a qualificá-los para os procedimentos do programa e, consequentemente, atingir o
objetivo de reconhecimento extensivo das populações passadas. Desta maneira, ante a
amplitude e objetivos, o Pronapa deixou marcas na construção dos cenários pré-coloniais e na
formação arqueológica no Brasil, com bases empiristas calcadas em descrições técnicas dos
materiais arqueológicos, que seriam traduzidas em tradições e fases arqueológicas6
.
É justamente em decorrência dos objetivos do Pronapa que seriam criados conceitos
norteadores, com a possibilidade de rápida aplicação e identificação de atributos da cultura
material, em campo, pelos membros do programa. Como exemplos destas definições,
derivadas destes manuais, podemos citar: tipo, definido como o “grupo de características
comuns, que distinguem determinados artefatos, ou seus restos, de outros semelhantes”; fase
vista como “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de habitação, relacionado no
tempo e no espaço, num ou mais sítios”; tradição, compreendida como o “grupo de elementos
ou técnicas que se distribuem com persistência temporal”; e, por fim, horizonte, como o
“conjunto de tradições que ocupam o mesmo núcleo temporal relativo em seqüências
arqueológicas, que se apresentam em várias áreas geográficas” (CHMYZ, 1966, p. 14-20).
Como não há, objetivamente, discussões associadas aos conceitos apresentados e verificadas
ambiguidades que impossibilitem compreender os seus exatos limites – haja vista derivarem
dos manuais didáticos publicados durante o Pronapa e para os seus membros –, torna-se
difícil entender quais as aplicabilidades das definições para a leitura e interpretação das
populações passadas.
Derivado deste contexto, o primeiro autor que, de fato, se deteve na discussão do conceito de
tradição na arqueologia brasileira foi o arqueólogo espanhol Valentín Rafael Simon Joaquim
Calderón de la Vara, mais conhecido como Valentín Calderón, da Universidade Federal da
Bahia, a partir de suas observações das pinturas rupestres de sítios baianos (MARTÍN, 1999,
6
Exemplo disto são os manuais terminológicos sucessivamente publicados por membros do Pronapa (CHMYZ, 1966, 1969;
CHMYZ et al., 1976; SIMÕES, 1972).
12
p. 240). Fruto da sua experiência na arqueologia7
e da sua participação no Pronapa, Calderón
adaptou a noção de tradição trabalhada nos estudos cerâmicos para as pinturas rupestres,
quando a definiu como:
(...) o conjunto de características que se reflete em diferentes sítios ou
regiões, associadas de maneira similar, atribuindo cada uma delas ao
complexo cultural de grupos étnicos diferentes que as transmitiam e
difundiam, gradualmente modificadas, através do tempo e do espaço”
(CALDERÓN, 1983 [1967], p. 13).
Calderón partia do pressuposto de que a similaridade nas características técnicas e
morfológicas de determinadas categorias de cultura material, verificadas em diferentes sítios,
era indicativa da ocupação do território por grupos humanos que comungavam de aspectos
culturais comuns, atribuindo a esta semelhança a presença de grupos étnicos específicos que
teriam vivido numa dada região e num dado tempo. Seguindo as orientações do Pronapa,
Calderón chamou de “fase” as mudanças verificadas na cultura material ao longo do tempo,
que representam momentos históricos observados no âmbito de uma tradição arqueológica,
fruto de mobilidade específica regional (CALDERÓN, 1983 [1967], p. 13). Com estas
orientações, Calderón viria a definir na Bahia as tradições “realista” – posteriormente
redefinida como “naturalista” – e “simbolista” (COSTA, 2005, p. 145).
Objetivamente, as tradições rupestres definidas por Calderón não tiveram repercussão nem
uso por outros arqueólogos. Apesar disto, é inegável o fato de Valentín Calderón ter
introduzido a noção de tradição nos estudos de representações rupestres; noção esta que foi, e
é, amplamente difundida e utilizada.
Após a contribuição de Valentín Calderón, o uso e a disseminação sistemáticos das
classificações das tradições rupestres no Brasil ocorreram, de fato, nas décadas de 70 e 80 do
século XX, a partir dos estudos realizados por diferentes arqueólogos, tais como: tradição
Meridional definida por Pedro Augusto Menz Ribeiro na década de 70 para identificar
gravuras geométricas lineares, localizadas no Vale do Jacuí, Rio Grande do Sul, indo em
direção ao território argentino; tradição Litorânea catarinense estudada por João Alfredo Rohr
e por André Prous na década de 70, caracterizada por gravuras geométricas situadas,
7
Calderón, antes de se radicar na Bahia, trabalhou com dois eminentes arqueólogos espanhóis: Pedro Bosch Gimpera,
professor do Colégio de México, de quem era considerado discípulo e amigo; e Hugo Obermaier, quando atuou como
ajudante em Altamira.
13
majoritariamente, em ilhas marinhas; tradição Geométrica, estudada nas décadas de 70 e 80,
que corresponde a sítios de pinturas rupestres identificados em quase todos os estados do
Brasil, descrita, portanto, por diversos autores (João Alfredo Rohr, Desidério Aytai, Walter
Piazza, Solange Calderalli, Guy Christian Collet, Pedro Ignácio Schmitz, Milton Parnes e
Alfredo Mendonça Souza, entre outros); tradição Planalto, descrita por André Prous nas
décadas de 70 e 80, que tem expressão no norte do Paraná até o oeste da Bahia, concentrando-
se em Minas Gerais, caracterizada por representações zoomorfas; tradição Nordeste, definida
por Niède Guidon na década de 80 para identificar representações do Piauí, mas com
expressão em todos os estados do Nordeste brasileiro, indo até o norte de Minas Gerais,
definidas por motivos figurativos miniaturizados, finamente executadas, representando cenas;
tradição Agreste, definida por Alice Aguiar Cavalcanti no início da década de 80 para indicar
grafismos dos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte,
reconhecidas por representações cheias, de grande dimensão, biomorfas e em posições
“estáticas”; tradição São Francisco, reconhecida por André Prous no Vale do rio São
Francisco nos estados da Bahia, Minas Gerais e Sergipe, caracterizada por grafismos abstratos
cuidadosamente executados, simétricos, policrômicos intercalados com zoomorfos e
antropomorfos; tradição Itaquatiara8
, reconhecida em todo o Brasil, representada por sítios de
gravuras rupestres, incluindo-se, no seu âmbito, a chamada tradição Amazônica; entre tantas
outras de menor expressão e uso (CAVALCANTI, 1996; COLONELLI & MAGALHÃES,
1975; ETCHEVARNE, 2007, p. 38-77; JORGE et al., 2007, p. 144-235; MARTÍN, 1999, p.
251-304; PESSIS, 2003, p. 79-106; PROUS, 1994, p. 77-144; PROUS, 1992, p. 511-530).
8
O termo é encontrado nos diferentes autores com duas grafias: Itaquatiara ou Itacoatiara. Utilizaremos apenas a primeira
grafia para manter uniformidade na redação e porque é a forma mais utilizada entre os autores.
14
IMAGEM 2: À esquerda, distribuição das tradições rupestres no Brasil excetuando a área amazônica, de acordo
com André Prous. À direita, distribuição das tradições rupestres no Brasil, de acordo com Maria Dulce Gaspar.
Fontes: PROUS, 1992; GASPAR, 2003.
Estes dados demonstram e confirmam a amplitude que tomou a noção de tradição na
arqueologia brasileira, passando a se configurar como um pilar para o reconhecimento das
representações rupestres das diferentes populações pré-coloniais. Apesar desta ampla
disseminação da ideia, no cômputo destes estudos, em decorrência da verificação das
limitações conceituais apresentadas e da maior ou menor popularidade da produção de alguns
arqueólogos, um processo de ressignificação e relativização do conceito de tradição passaria a
ocorrer.
No Nordeste brasileiro, nos estudos realizados no Parque Nacional Serra da Capivara, a
arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon – professora aposentada da École des Hautes
Études en Sciences Sociales, na França, e presidente da Fundação Museu do Homem
Americano no Piauí, Brasil – adotou a noção de tradição para identificar as grandes classes
das representações rupestres que compunham “identidades” de caráter geral, quando os
grafismos identificados seriam reunidos em tipos, que levariam em consideração a proporção
relativa que esses tipos guardam entre si. Desta maneira, agregaria as pinturas e gravuras em
quatro grandes tradições, definidas como Nordeste, Agreste, Geométrica e Itaquatiara
(GUIDON, 1989, p. 5-10). Ou seja, Niède Guidon toma a noção de tradição unicamente como
uma grande categoria taxonômica da cultura material, sem, explicitamente, entrar no mérito
da correspondência entre a cultura material e os grupos étnicos específicos. No entanto, fica
15
implícita em sua construção a consideração da existência de: 1) unidades gráficas, uma vez
que cria as tradições a partir da definição de tipos; 2) espaço, na medida em que concentra
suas observações num território específico; 3) e tempo, já que busca sempre amparo das
sobreposições e das datações de sítios para a determinação das tradições.
Destes estudos derivariam, por exemplo, dois outros conceitos associados: subtradição e
estilo. A subtradição corresponde a diferenças nas apresentações gráficas de um mesmo tema
numa tradição, mas associada à distribuição geográfica desta diferença. Trata-se do
refinamento da descrição de uma tradição, quando começam a ser notadas distinções com
expressão regional na sua conformação interna. Por sua vez, o conceito de estilo reflete
particularidades que se manifestam no plano técnico de manufatura e apresentação gráfica.
Trata-se de um nível classificatório, cujo objetivo é recuperar variações das dimensões
plásticas, temática e de apresentação gráfica numa subtradição (PESSIS, 1992, p. 50-52).
Por seu turno, o arqueólogo francês André Prous, professor titular da Universidade Federal de
Minas Gerais, além de afirmar que a ideia de tradição rupestre pressupõe “(...) uma certa
permanência de traços distintivos, geralmente temáticos”, consideraria que esta noção refere-
se a:
(...) uma aproximação, já que existe sempre uma certa variabilidade intra-
regional, que pode demonstrar evoluções culturais no tempo, no espaço, ou
funções distintas. Além disto, se reconhecemos tradições regionais, suas
manifestações podem se misturar ou se superpor, particularmente nos
territórios fronteiriços (PROUS, 1992, p. 511).
Ao considerar a noção de “permanência de traços distintivos”, fica explícita na definição de
André Prous a existência de uma unidade gráfica transmitida ao longo do tempo, que define,
posteriormente, como cultural, ainda que coloque em evidência a subjetividade do arqueólogo
na construção de uma “aproximação”. Também relativiza esta unidade cultural, chamando a
atenção para outras situações culturais que poderiam levar à ocorrência de representações de
grupos distintos no mesmo espaço, nas situações em que o território fora ocupado por
sociedades diferentes. Ainda que os traços culturais sejam colocados como um fundamento
relativo, já que poderiam estar misturados, as noções de tempo e espaço permanecem
invariáveis no conceito. Para uma aplicação técnica do conceito de tradição, que possibilitasse
a apreensão, em campo, dos limites entre as diferentes tradições, Prous apontaria
subclassificações deste conceito, agregando a ele a noção de estilos e fácies. Diria o autor:
16
A tradição (...) [reúne] (...) componentes gráficos com atributos
suficientemente peculiares para serem opostos aos outros conjuntos
definidos, sugerindo uma base mitológica ou conceitual comum; os estilos
(...) [correspondem] (...) ao desenvolvimento de aspectos originais dentro da
mesma tradição; as fácies (...) [caracterizam-se] (...) por variantes menores,
em geral ligadas à interpretação local de uma mesma temática (PROUS,
1992, p. 113).
Por sua vez, o conceito de tradição aplicado às representações rupestres apresentado pela
arqueóloga espanhola Gabriela Martín, professora da Universidade Federal de Pernambuco,
aponta a tradição como:
(...) a representação visual de todo universo simbólico primitivo que pode ter
sido transmitido durante milênios sem que, necessariamente, as pinturas de
uma tradição pertençam aos mesmos grupos étnicos, além do que poderiam
estar separados por cronologias muito distantes (MARTÍN, 1999, p. 240).
Apesar de retomar a noção de grupos étnicos trabalhada por Calderón, o conceito de tradição
de Martín, em termos semânticos, aproxima-se daquele apresentado por André Prous.
Primeiro, porque a noção de grupos étnicos é ampla em ambos os autores; em Martín esta
noção é colocada com o sentido de abrir a possibilidade de intervenção de outros grupos na
confecção e uso das representações rupestres, bem como considera Prous ao afirmar que as
manifestações de diferentes grupos culturais “podem se misturar ou se superpor (...) nos territórios
fronteiriços”. Segundo, porque a ideia de “transmissão ao longo do tempo” de Martín equivale
à de “permanência” de Prous. Terceiro, porque a variável espaço é considerada pelos dois
autores na realização dos seus estudos. A diferença, no entanto, reside no fato de que a noção
de tempo aplicada à ideia de tradição de Martín é relativa, uma vez que a autora considera a
possibilidade de tradições iguais poderem ser expressas anacronicamente, em lapsos de
tempos diferentes, inclusive cronologicamente muito distantes. Neste aspecto em especial,
visão semelhante tem a arqueóloga francesa Anne Marie Pessis, professora da Universidade
Federal de Pernambuco, quando determina que:
(...) o que se procura estabelecendo tradições é a integração de obras gráficas
pertencentes a um mesmo grupo cultural, independente da unidade
cronológica, e identificar as características dos registros próprios do meio
cultural ao qual os autores pertenciam (PESSIS, 1992, p. 46).
17
Com esta afirmação de Pessis fica explícita a relação direta entre tradição arqueológica e
grupos culturais específicos – ainda que não se saiba qual grupo cultural esteja sendo
abordado –, o que equivale à noção de grupos étnicos trabalhada por Calderón. Mas o que
queremos ressaltar na pesquisadora é a possibilidade de um grupo cultural específico persistir
com expressões culturais semelhantes em tempos distintos, inclusive cronologicamente muito
distantes. Neste sentido, cabe dizer que esta ótica é baseada na possibilidade de permanência
por um lapso de tempo grande de uma mesma tradição, que vai evoluindo ao longo do tempo;
é esta diretriz evolucionista que irá conduzir, por exemplo, os olhares de Calderón, Guidon,
Martín, Pessis e Prous.
Vanessa Linke e Andrei Isnardis, pesquisadora e professor da Universidade Federal de Minas
Gerais, apresentam uma leitura tecnicista do termo tradição que relativiza uma série de
certezas implícitas, uma vez que o consideram uma categoria classificatória utilizada apenas
como ferramenta metodológica que permite demonstrar “aspectos do registro arqueológico
com expressivas profundidade temporal e distribuição geográfica”. Ou seja, não se trata,
necessariamente, da leitura de um grupo cultural específico, senão do reconhecimento pelo
arqueólogo de regularidades no registro arqueológico. Para os autores a noção de tradição
reflete:
(...) conjuntos de recorrências que expressam as normas pelas quais agem as
culturas ou grupos culturais e que orientam a produção da cultura material
(...). As diferenças e similitudes entre conjuntos gráficos seriam indicativas
de uma afinidade cultural existente ou ausente. Assim (...), é possível que
haja uma expressiva afinidade cultural, entre grupos autores de uma mesma
Tradição, e uma igualmente expressiva diferença no repertório cultural,
ligado aos grafismos rupestres entre grupos humanos autores de figuras
atribuídas a Tradições distintas (LINKE & ISNARDIS, 2008, p. 33).
Com esta aplicação, Linke & Isnardis não criam critérios fechados na definição de tradição,
pois reconhecem as limitações do conceito ao chamar a atenção para a complexidade de
situações sociais que poderiam levar a semelhanças e diferenças na forma de representar.
Assim, nem uma (semelhanças) nem a outra (diferenças) condição podem, efetivamente, ser
consideradas determinantes para a segregação autoral das pinturas e gravuras por culturas ou
etnias (LINKE & ISNARDIS, 2008, p. 33-35).
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001. tese de carlos costa

  • 1.
  • 2. Carlos Alberto Santos Costa REPRESENTAÇÕES RUPESTRES NO PIEMONTE DA CHAPADA DIAMANTINA (BAHIA, BRASIL) Dissertação de doutoramento em História, especialidade Arqueologia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação da Professora Doutora Maria da Conceição Lopes e do Professor Doutor Carlos Alberto Etchevarne, financiada pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra. Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2012
  • 3.
  • 5. iv AGRADECIMENTOS Laroyê Exu! Okê arô Oxossi! Epa epa Babá! Estes últimos cinco anos conformaram um turbilhão em minha vida. A quantidade de acontecimentos paralelos de cunho pessoal e profissional foi tão grande que se me arriscar a quantificar certamente me perderei. Mas, no meio de todos os acontecimentos ter a incumbência de fazer uma tese, de fato, é uma situação que beira a loucura. A tese é o momento em que viramos zumbis de nós mesmos, ficamos ensimesmados, dormimos e acordamos com os mesmos pensamentos e objetivos. Felizmente, no meio das formalidades acadêmicas inventaram os agradecimentos, momento em que tentamos retomar as nossas capacidades mentais de interação com o mundo, tiramos os olhos da tela da carroça digital e rememoramos as pessoas que passaram em nossas vidas e se fizeram importantes, não pelo auxílio que poderiam dar, mas pela genuína manifestação de amizade que dispensaram. O que seria de nós se não existissem os amigos? É este momento que nos faz perceber o quanto precisamos dos outros. Iniciemos fazendo os agradecimentos institucionais. À equipe do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto / Instituto de Arqueologia, da Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra (UC) o meu agradecimento por apostarem nesta pesquisa de doutoramento, possibilitando que o projeto fosse executado sem entraves, com fluidez, tranquilidade e muito respeito. No âmbito da UC o Instituto de Investigação Interdisciplinar (III) proporcionou o amparo monetário com uma bolsa de doutoramento, para que pudesse me dedicar à pesquisa. Iniciativas como esta são necessárias, pois dão aos indivíduos apoiados a tranquilidade para que possam se dedicar à pesquisa e, consequentemente, fomentar o desenvolvimento científico. No âmbito do III a presença atenta, ágil e gentil da Dra. Helena Salgado não poderia ser esquecida; aliás, trata-se de um exemplo a ser observado com atenção pela Universidade de Coimbra, pelos méritos de sua atuação profissional. No plano institucional cabe também citar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, que concedeu uma bolsa de iniciação científica para que pudéssemos dispor de um estudante remunerado apoiando a execução do trabalho. Da mesma forma agradeço a gentil Profa. Miriam Guerra do Campus Jacobina, da Universidade Estadual da Bahia, a quem
  • 6. v admiro e tenho como amiga, que sempre se colocou à disposição para auxiliar, proporcionando o amparo institucional na região para a realização das pesquisas. Aos colegas da campanha de campo de julho de 2009 das escavações da Pax Julia, em Beja, pelos momentos de intercâmbio e aprendizado, me receberam de braços abertos e muito acresceram na minha formação arqueológica. Devo citar, especialmente, o Andrezinho, o Ricardo, o Thiago e a Ana que sempre lembro com muito carinho, em face dos profissionais e pessoas exemplares que são. Ao Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa, da Universidade Federal da Bahia, ao Prof. Dr. Onildo Araújo da Silva, da Universidade Estadual de Feira de Santana e ao Prof. Dr. Benjamim Bley de Brito Neves, da Universidade de São Paulo, agradeço por me atenderem prontamente quando solicitados para explicações acerca do contexto geológico do Piemonte da Chapada Diamantina, fornecendo explicações e mesmo indicando e/ou disponibilizando bibliografias. Embora este agradecimento seja atemporal em relação a este trabalho, é passível de menção a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) que possibilitou que no segundo semestre do ano 2004 uma das disciplinas de campo do Mestrado em Arqueologia, da Universidade Federal de Pernambuco, fosse realizada nas suas dependências, em São Raimundo Nonato, Piauí, proporcionando uma das escolas profissionais nas quais atuei com os estudos dos representações rupestres. Nesta ocasião participei de inúmeros trabalhos, quando também pude acompanhar profissionais como Niède Guidon, Anne Marie Pessis, Gabriela Martín, Conceição Meneses Lage, Gisele Felice e Celito Kestering. Aos senhores Adroaldo Muritiba e Ademário Barbosa que “abriram as portas” de Jacobina, disponibilizaram seus arquivos particulares, deram apoio, informações, indicaram pessoas e locais que, sem dúvida, foram fundamentais para a realização desta pesquisa. À minha equipe, Pedro dos Santos e Gilcimar Costa Barbosa por terem “vestido a camisa” deste projeto. Pedro é uma pessoa simples e de imenso coração. Seu conhecimento do território do Piemonte da Chapada Diamantina foi fundamental, sem o qual as andanças nesta região para localização e estudo dos sítios arqueológicos teria sido uma tarefa impossível. E Gilcimar, na ocasião estudante de graduação e bolsista de iniciação científica junto ao projeto de doutoramento, hoje amigo e colega de profissão, o parceiro de todas as horas,
  • 7. vi extremamente atento e responsável. Nos trabalhos de campo participaram pontualmente Leandro Max Peixoto e Murilo Muritiba Araújo, para os quais também agradeço. Agradeço aos colegas e amigos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia que sempre estiveram presentes, dando forças e mesmo provendo de maneira direta apoio institucional para a execução deste trabalho: André, Camila, Danillo, Georgina, Gildo, Juliana, Lélia, Paulinha, Rita Dias, Ricardo, Suzane, Wilson e Xavier. Lembro, também, dos colegas do Curso de Graduação em Museologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia que não pouparam esforços em prover as condições institucionais favoráveis para que eu pudesse finalizar a dissertação de doutoramento e mesmo me ausentar em alguns momentos para as pesquisas e trabalhos científicos. Aos colegas e amigos Prof. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Freire (Freire), Profa. Dra. Elizabete de Castro Mendonça (Bete) e Profa. Dra. Alejandra Saladino (Ale) que sempre motivaram a finalização do doutoramento com manifestações sinceras de apoio e de amizade. Agradeço também aos colegas e amigos Alvandyr, Mirta e Aurea do Grupo de Pesquisas Bahia Arqueológica pelo apoio à pesquisa. À Profa. Dra. Águeda Vilhena-Vialou e ao Prof. Dr. Denis Vialou, ambos do Museu de História Natural de Paris, que me proporcionaram a primeira incursão sistemática com as representações rupestres na missão franco-brasileira de 2002, no estado do Mato Grosso, quando durante 40 dias pude “imergir” na observação das pinturas. Sem dúvida, o aprendizado que lá obtive foi fundamental no treino do olhar para as representações. Mais tarde, em janeiro de 2007, quando prestei seleção para o Doutorado em História, concentração em Arqueologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Prof. Dr. Vialou se disponibilizou pronta e gentilmente a me orientar, aceitando o meu pedido com a alegria, a leveza de ser e o bom humor que lhes são peculiares. Apesar de aprovado na seleção, naquele ano o programa de pós-graduação não recebeu as cotas de bolsas de estudos de doutoramento da CAPES e do CNPq, o que me impossibilitou a realização dos estudos e, por sua vez, me frustrou da possibilidade de realizar uma pesquisa sob a observação do professor. Outras razões, que a professora e o professor conhecem, poderiam ser citadas. Mas, prefiro sintetizar registrando o meu sincero agradecimento, as boas lembranças, o carinho e o respeito que tenho pelo casal Vialou.
  • 8. vii Ao amigo Humberto Augusto Rodrigues Alves, o Betinho. Ainda que esteja distante da realidade deste trabalho, e talvez por isso, não dimensione o quanto a sua presença foi importante neste caminho. Neste meio tempo me inseriu no mundo dos guzeratistas, deu e dá ensinamentos importantes, estabeleceu diálogos intermináveis sobre nossa paixão comum, criou parcerias e proporcionou em sua arribana momentos únicos de convivência, que encaro com muito ludismo e prazer. Obrigado amigo por me permitir participar desse mundo maravilhoso, incompreendido pela maioria, mas adorado por quem o vive! À Profa. Dra. Maria do Rosário Gonçalves de Carvalho, que me forneceu explicações e disponibilizou bibliografias sobre discussões antropológicas da noção de tradição, presentes no texto. Além disso, me permitiu dispor de convivências comuns, da sua fiel amizade, de ensinamentos e de conselhos para possibilitar um caminhar fluído na vida acadêmica. Nós, menos experientes, sabemos a importância de ter uma figura como a “Pró. Rosário” dando valiosos ensinamentos, a partir de suas ações, de como seguir uma vida universitária tendo como norte a busca pela excelência acadêmica, a seriedade, a ética, a decência, a firmeza e, sobretudo, sem “estrelismos”, com valorização dos indivíduos, com leveza e com humildade. Ao colega, amigo e ‘cumpadre’ Prof. Dr. Luydy Abraham Fernandes, ou apenas Luydy, que na sua infinita seriedade, discrição e desprendimento sempre soube manifestar a sua amizade incondicional. Sem pestanejar me substituiu em minhas ausências profissionais, teve a imensa atenção em conversar, discutir, ler meus “debuxos” e apresentar relevantes contribuições. ‘Cumpadre’, meus sinceros agradecimentos! Aos ‘meus’ – minhas famílias nuclear e adquirida – que estiveram emocionalmente presentes: D. Nília, D. Iza, S. Braz, Branilson, Binha, Lêda, Kito, Zane, Cauet, Bruhno, Valentina, Gabriela, Graziela, Débora, Maíra, Eron, S. Nelson, D. Glória e Fernanda. Ao meu pai intelectual, padrinho e avô adquirido de minha princesa, o Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne, também orientador desta pesquisa, a quem devo a inserção na arqueologia num ambiente no qual a formação específica é inexistente, com quem convivo nos últimos 15 anos, tendo o prazer de partilhar da sua generosidade intelectual. Com ele alimento a mais pura, genuína e verdadeira amizade. À minha orientadora de doutorado, a Profa. Dra Maria da Conceição Lopes, a querida “Ção”, qualquer agradecimento é pouco. Ética, rápida, direta, segura e, sobretudo, delicada. É incrível a quantidade de coisas de grande vulto que consegue fazer, sem se esquecer dos
  • 9. viii pequenos detalhes, sobretudo aqueles que passariam despercebidos para qualquer um, que envolve o trato com as pessoas. Mulher especial, humana, de uma humildade pessoal e profissional incomparável, acessível, disponível e que tive a honra de conhecer, conviver e contar com a sua amizade nos últimos anos. Ção, embora dispense este momento, e mesmo sabendo que tem ciência disto, prefiro registrar a admiração e respeito que tenho por você. Saiba que reconheço e procurarei honrar tudo que aprendi contigo com fidelidade! Gostaria de me encaminhar para a finalização de meus agradecimentos de outra forma, mas o destino nos “pregou uma peça” e nos reservou este momento. No meio do processo de doutoramento perdi (na verdade perdemos) uma das pessoas mais especiais que conheci: Júlio César Mello de Oliveira, cuja infindável generosidade não poderá ser expressa num papel, mas o seu exemplo estará para sempre marcado em minha vida! Ainda que me falte maestria literária para falar o mínimo do que este homem significa para mim, poderia passar páginas e mais páginas falando dele. Mas prefiro resgatar uma pequena história que ilustra bem uma de suas maiores qualidades: a atenção às pessoas. A primeira vez que estive em Jacobina, município epicentro desta pesquisa, em outubro de 2007 o Júlio estava lá, juntamente com a Pró. Rosário e com o Prof. Carlos. Embora eu já tivesse um objeto definido de estudo de doutoramento junto à Universidade de Coimbra, depois da uma visita à região do Piemonte da Chapada Diamantina – quando estávamos no hotel, situado no alto da Serra de Jacobina, e presenteados por um belíssimo pôr do sol de primavera na caatinga, que se escondia por trás da Serra do Tombador – o Júlio se voltou para mim e resolveu me convencer de que a minha pesquisa de doutorado deveria ser realizada ali. Seu único argumento era de que naquela região o meu trabalho teria mais sentido, pois o flagrante descaso e a depredação do patrimônio arqueológico privavam a população de conhecer e se identificar com este legado, que poderia se perder sem ser conhecido. O pano de fundo que sustentava os seus argumentos era um só: os indivíduos que perdiam com a destruição do patrimônio. Para Júlio a arqueologia não fazia sentido se não tivesse em sua práxis um fim social direto. Aceitei a sua sugestão e o resultado é esta tese de doutorado. Mas, tenho como filosofia de vida a idéia de que pessoas especiais devem ser lembradas de maneira especial. Justamente por isso, Júlio é sempre lembrado por mim com muita vida. Não seria demais, portanto, agradecer a minha pequena Júlia, que não tem a mínima idéia do que é um doutorado, mas, sem dúvida, sentiu os efeitos dele a partir das minhas necessárias ausências, quando tive que privá-la de minha atenção. Querida, papai lhe ama!
  • 10. ix E, falando em amor, a Faby, à mulher que me deu este maravilhoso presente, a nossa pequenina, que também leu meus rascunhos, realizou sugestões e tantas outras questões acadêmicas. Mas, além disso, me escolheu para compartilhar uma vida em comum, e me suporta com um misto de braveza e ternura. Querida, te amo! Epa Babá! Okê Odé! Cobarô Exu! São Salvador da Baía de Todos os Santos, outono de 2012. Carlos Costa.
  • 11. x RESUMO COSTA, Carlos Alberto Santos. Representações rupestres no Piemonte da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (tese de doutorado). O objeto de estudo desta pesquisa são os sítios de representações rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina. O problema inicial de investigação parte da discussão da noção de tradição na arqueologia brasileira e da sua aplicação nos estudos das representações rupestres no Nordeste do país. Este caminho levou a constatação de que os signos geométricos identificados são estudados de maneira parcial, em decorrência da dificuldade de apreensão de seus conteúdos e por dispor de formas representadas universalmente, argumento contrário a perspectiva de construção de cenários arqueológicos regionais. Na contramão desta compreensão, neste trabalho buscou-se verificar se os signos geométricos identificados no Piemonte apresentavam repertórios gráficos significativos, de maneira a se constituir como elementos para construção de cenários arqueológicos regionais. Para atingir este objetivo partimos para a observação da paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina, quando levantamos dados sobre a sua conformação (geotectônica, geologia, geomorfologia, solos, hidrografia, clima, vegetação, paleopaisagem e uso atual), conduzindo à compreensão dos locais escolhidos pelos grupos humanos para a ocupação e entendendo os fatores que evidenciam a relação de reciprocidade entre o homem e o meio. Com esta base, estudamos os sítios rupestres, supondo existir significados subjacentes às pinturas e adotando a noção de gramática para análise das 49 jazidas arqueológicas levantadas. A partir desta perspectiva, foi possível indicar três perfis gráficos específicos para a região, provavelmente fruto de uma sucessão de momentos distintos de ocupação do território, dentre os quais o mais expressivo é formado quase exclusivamente por símbolos geométricos. A partir do estudo de caso é possível concluir que as representações geométricas constituem importantes fontes para construção de panoramas arqueológicos regionais, além dos dados possibilitarem induzir diretrizes específicas para a observação da região e, consequentemente, para a continuidade futura dos estudos arqueológicos no Piemonte da Chapada Diamantina. Palavras-chave: Piemonte da Chapada Diamantina; representações rupestres; geométrico; arqueologia baiana.
  • 12. xi ABSTRACT COSTA, Carlos Alberto Santos. Rock representations in the Piedmont of Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Coimbra: FLUC, 2012, 479p. (doctoral dissertation). The object of this research are the sites of rock art representations of Piedmont in Chapada Diamantina. The initial investigation problem of the discussion of the notion of tradition in Brazilian archeology and its application in the study of representations rock in the Northeast. This path led to the finding that the geometric signs are identified partially, due to the difficulty of understanding its contents and submit forms represented universally argument against the prospect of building regional archaeological scenarios. Contrary to this understanding, this study sought to determine whether the signs identified in Piedmont geometric graphs showed significant repertoire, so as to constitute elements for construction of regional archaeological scenarios. To achieve this goal we set for the observation of the Piedmont landscape of Chapada Diamantina, when we lift data on their conformation (geotectonic, geology, soils, hydrology, climate, vegetation, paleopaisagem and current use), leading to the understanding of the sites chosen by human groups for the occupation and understanding the factors that highlight the reciprocal relationship between man and environment. On this basis, we studied the cave sites, assuming there are meanings behind the paintings and embracing the notion of grammar for the analysis of 49 archaeological sites raised. From this perspective, it was possible to indicate three graphic profiles specific to the region, probably the result of a succession of distinct periods of occupation of the territory, among which the most significant is formed almost exclusively by geometric symbols. From the case study we conclude that the representations are important sources for construction of regional archaeological panoramas, plus the data make possible to induce specific guidelines for the observation of the region and, consequently, for the future continuation of archaeological studies in Diamantina Plateau Piedmont. Keywords: Piedmont of Chapada Diamantina; rock representations; geometry; Bahia archeology.
  • 13. xii RÉSUMÉ COSTA, Carlos Alberto Santos. Représentations rupestres dans le Piémont de la Chapada Diamantina, Bahia, Brésil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (thèse de doctorat). L'objet d'étude de cette thèse sont les sites de représentations rupestres du Piémont de la Chapada Diamantina, dans l'Etat de Bahia, au Brésil. La question initiale de l'enquête part d'une discussion autour de la notion de tradition dans l'archéologie brésilienne et de son application dans les études des représentations rupestres dans le Nordeste du pays. Ce cheminement mène à la constatation que les signes géométriques identifiés sont étudiés de manière partielle, em raison de la difficulté d'apréhension de ses contenus et car ceux-ci présentent des formes représentées universellement, argument contraire à la perspective de construction de scènes archéologiques régionales. A l'opposé de cette compréhension, ce travail cherche a vérifier si les signes géométriques identifiés dans le Piémont présentaient des répertoires graphiques significatifs, de manière à se constituer comme des éléments pertinents pour la construction de scènes archéologiques régionales. Pour atteindre cet objectif, nous avons observé le paysage du Piémont de la Chapada Diamantina, en réunissant un ensemble de données sur sa conformation (géotechtonique, géologie, géomorphologie, sols, hydrographie, climat, végétation, paléo-paysage et usage actuel), conduisant à la compréhension des lieux choisis par les groupes humains pour l'occupation et en incluant les facteurs qui mettent en évidence la relation de réciprocité entre l'homme et l'environnement. Une fois cette base établie, nous avons étudié les sites rupestres, en supposant qu'il existe des significations sous-jacentes aux peintures et en adoptant la notion de grammaire pour l'analyse des 49 sites archéologiques inventoriés. A partir de cette perspective, il a été possible d'indiquer trois profils graphiques spécifiques pour la région, probablement fruits d'une succession de moments distincts d'occupation du territoire, parmi lesquels le plus expressif est formé presque exclusivement de symboles géométriques. A partir de cette étude de cas, il est possible de conclure que les représentations géométriques constituent d'importantes sources pour la construction de panoramas archéologiques régionaux, outre le fait que les données permettent d'induire des lignes directrices spécifiques pour l'observation de la région et, par conséquent, pour la continuité future des études archéologiques dans le Piémont de la Chapada Diamantina. Mots-clés: Piémont de la Chapada Diamantina; représentations rupestres; géométriques; archéologie du Bahia.
  • 14. xiii RESUMEN COSTA, Carlos Alberto Santos. Representaciones rupestres del Piemonte de la Chapada Diamantina, Bahía, Brasil. Coimbra: FLUC, 2012, 479 p. (tesis doctoral). El objeto de estudio de esta investigación son los sitios rupestres del Piemonte de la Chapada Diamantina. La problemática de estudio parte de la discusión de la noción de tradición en Arqueología brasileña e de su aplicación en los estudios de representaciones rupestres en el Nordeste del país. Este camino llevó a la constatación de que los signos geométricos identificados son estudiados de manera parcial, en función de la dificultad de aprehensión de sus contenidos y por disponer de formas representadas universalmente. En el sentido contrario de esta posición, este trabajo buscó verificar si los signos geométricos identificados en el Piemonte presentaban repertorios gráficos significativos, de manera a constituir elementos claves para la construcción de escenarios arqueológicos regionales. Para alcanzar este objetivo partimos de la observación del paisaje del Piemonte de la Chapada Diamantina, para lo cual levantamos datos sobre su total conformación geotécnica, geológica, geomorfológica, pedológica, hidrográfica, climatológica florística, paleopaisagística y de ocupación actual del suelo, lo que condujo a la comprensión de los locales elegidos por los grupos humanos para la ocupación y al entendimiento de los factores que evidencian la relación de reciprocidad entre el hombre y su medio. Con esta base, estudiamos los sitios rupestres, presuponiendo la existencia de lo significados subyacentes a las pinturas y adoptando la noción de gramática para el análisis de los 49 yacimientos registrados. A partir de esta perspectiva, fue posible indicar tres perfiles gráficos específicos para la región, probablemente fruto de una sucesión de momentos distintos de ocupación del territorio, entre los cuales el más expresivo es el formado casi que exclusivamente por símbolos geométricos. A partir de este estudio de caso es posible concluir que las representaciones geométricas constituyen importantes fuentes para la construcción de panoramas arqueológicos regionales, además de que los datos posibilitaron la inducción de directrices específicas para la observación de la región e, consecuentemente, para la continuación futura de los estudios arqueológicos en el Piemonte de la Chapada Diamantina. Palabras claves: Piemonte de la Chapada Diamantina; representaciones rupestres; motivos geométricos; arqueología bahiana.
  • 15. xiv SUMÁRIO Lista de imagens ................................................................................................................... xvi Lista de tabelas ................................................................................................................... xxvi Lista de gráficos................................................................................................................. xxvii Introdução.............................................................................................................................. 01 Capítulo I: Tradição, tradições, Bahia e alguns problemas: a construção do objeto de pesquisa.................................................................................................................. 08 1.1. A noção de tradição arqueológica................................................................................ 09 1.2. As representações rupestres no Nordeste brasileiro .................................................... 20 1.3. Os estudos das representações rupestres na Bahia....................................................... 47 1.4. O problema de pesquisa e a hipótese de trabalho........................................................ 67 Capítulo II: A paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina....................................... 71 2.1. A noção de paisagem em arqueologia ......................................................................... 71 2.2. Aspectos geotectônicos e geológicos........................................................................... 79 2.3. Aspectos geomorfológicos e solos............................................................................... 87 2.4. Aspectos hidrográficos e climáticos .......................................................................... 100 2.5. Aspectos da cobertura vegetal ................................................................................... 115 2.6. Aspectos da paleopaisagem ....................................................................................... 120 2.7. Aspectos da paisagem atual....................................................................................... 124 Capítulo III: Sítios rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina............................. 143 3.1. Diretrizes para a observação dos sítios rupestres....................................................... 143 3.2. Os trabalhos e os procedimentos de campo e laboratório.......................................... 150 3.3. Os resultados.............................................................................................................. 170 Considerações finais ............................................................................................................ 207 Referências bibliográficas................................................................................................... 213
  • 16. xv Apêndices...............................................................................................................................240 Apêndice 1: Ficha de registro de sítios com representações rupestres..............................240 Apêndice 2: Tabela de síntese dos dados levantados nos sítios do Piemonte da Chapada Diamantina, Bahia ..............................................................................................386 Apêndice 3: Análises quantitativa, percentual e gráfica dos dados sistematizados na tabela disponível no apêndice 2 ................................................................................... 391 Apêndice 4: Tabelas individuais de análise dos signos.................................................... 394 Apêndice 5a: Tabela de ocorrência dos signos por unidade geomorfológica arqueológica...................................................................................................................... 458 Apêndice 5b: Tabela de ocorrência dos signos por sítio .................................................. 459 Apêndice 5c: Tabela de recorrência dos signos por sítio.................................................. 460 Apêndice 6: Análises quantitativa, percentual e gráfica dos dados sistematizados nas tabelas disponíveis no apêndice 4............................................................................... 461 Apêndice 7: Mapa com a localização dos sítios identificados no Piemonte da Chapada Diamantina. Fonte: Google earth, acessado em março de 2012........................ 478 Apêndice 8: CD com as imagens geradas durante a pesquisa.......................................... 479
  • 17. xvi LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1: Indicação da área de pesquisa no território sul-americano. Em azul, sobre o mapa da Bahia, estão ressaltadas as cidades de Caém, Caldeirão Grande, Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba e Saúde, no Piemonte da Chapada Diamantina. FONTE: www.ibge.gov.br. Trabalho gráfico: Autor. ........................................ 03 IMAGEM 2: À esquerda distribuição das tradições rupestres no Brasil excetuando a área amazônica, de acordo com André Prous. À direita distribuição das tradições rupestre no Brasil, de acordo com Maria Dulce Gaspar. Fontes: PROUS, 1992; GASPAR, 2003. ...................................................................................................................... 14 IMAGEM 3: Representações emblemáticas da tradição Nordeste: a) costa a costa em São Raimundo Nonato, Piauí; b) variações do costa a costa em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte; c) ação cerimonial com representação de criança no centro em Parelhas e Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte; d) ação cerimonial com representação de criança no centro em São Raimundo Nonato, Piauí; e) ação cerimonial com representação de crianças no centro em Lençóis, Bahia. Fonte: MARTÍN, 1999, p. 253-254. ............................................................................ 24 IMAGEM 4: Exemplares da tradição Nordeste do Parque Nacional Serra da Capivara: a) Toca da Extrema II, cena de ritual em torno de uma árvore, considerada emblemática da tradição; b) Toca do Boqueirão da Pedra Furada, cena de sexo; c) Toca da Entrada do Baixão da Vaca, figuras humanas e figuras mascaradas provavelmente em atividade ritual. Fonte: PESSIS, 2003. ..................................................... 25 IMAGEM 5: Representações do estilo Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, Piauí: a) provável cena cerimonial em torno de uma árvore, sítio Toca do Nilson do Boqueirão da Pedra Solta; b) cena de sexo com gigantismo na representação do falo, sítio Toca do Sobradinho; c) cena de sexo com gigantismo na representações do falo e da vulva, sítio Toca da Entrada do Baixão da Vaca. Fonte: PESSIS, 2003. ......................................................................................................................... 27 IMAGEM 6: Representações do estilo Serra Branca em São Raimundo Nonato, Piauí: a) Toca do Varedão X; b) Toca do Morcego. Fonte: PESSIS, 2003............................. 28 IMAGEM 7: Painéis da tradição Agreste: a) sítio Bom Jesus da Lapa, Santana do Mato, Rio Grande do Norte; b) sítio Pedra Redonda, Pedra, Pernambuco; c) sítio
  • 18. xvii Toca da Entrada do Baixão da Vaca, São Raimundo Nonato, Piauí; d) Lajedo da Soledade, Apodi, Rio Grande do Norte; e) sítio Santa Marta, Iaraquara, Bahia. Fontes: MARTÍN, 1999; ETCHEVARNE, 2007.................................................................... 33 IMAGEM 8: Painéis da tradição São Francisco: a) sítio Lapa do Caboclo, em Januária, Minas Gerais; b) sítio não identificado, em Coribe, Bahia; c) detalhe do sítio Lapa do Caboclo, em Januária, Minas Gerais; d) sítio Poções, em Gentio do Ouro, Bahia. Fontes: PROUS, 1992; MARTÍN, 1999; JORGE et al., 2007; ETCHEVARNE, 2007. ........................................................................................................... 36 IMAGEM 9: Painéis da tradição Astronômica: a) Maria Beltão à frente de painel do sítio Toca do Cosmos, Central, Bahia; b) sítio Grota do Veinho, Ourolândia, Bahia. Fontes: http://www.cbarqueol.org.br; ETCHEVARNE, 2007..................................... 39 IMAGEM 10: Imagens do sítio Buraco d’Água registradas por Carlos Ott em Campo Formoso, Bahia. FONTE: OTT, 1945. ....................................................................... 48 IMAGEM 11: Sítios pesquisados por Valentín Calderón: à esquerda, detalhe de um painel com sobreposições, na Serra da Lagoa da Velha em Morro do Chapéu; à direita, um detalhe de um painel pictórico do sítio São Gonçalo, em Sento Sé. Fotos: Fabiana Comerlato, 2005; Arquivos do MAE/Ufba................................................................ 49 IMAGEM 12: Sítios de gravura do submédio São Francisco, na área de Itaparica: à esquerda, sítio Itacoatiara I, na Serra do Curral em Rodelas, onde se veem os blocos de gravuras e pilões encontrados nas escavações arqueológicas; à direita, sítio Bebedouro das Pedras, onde aparecem gravuras sobre laje, encontradas no distrito de Tapera em Rodelas. Fonte: ETCHEVARNE, 1995, p. 292-293. ....................................... 52 IMAGEM 13: Com o intuito de dar uma noção da área de ocorrência dos sítios de representações rupestres, apresentamos a identificação no mapa do relevo da Bahia das cidades nas quais foram localizados sítios rupestres entre o século XIX e 2012. FONTE: Relevo SRTM da EMBRAPA.................................................................................. 67 IMAGEM 14: Províncias estruturais brasileiras, dentre as quais se ressalta a de número 8, que corresponde ao cráton de São Francisco. Fonte: BIZZI et al., 2003, p. xiii............................................................................................................................................ 80 IMAGEM 15: Limites, conformação geológica e compartimentos tectônicos do cráton de São Francisco. Fonte: KOSIN et al., 2003, p. 16..................................................... 81
  • 19. xviii IMAGEM 16: Diferentes unidades estruturais da porção norte do cráton de São Francisco, esquematizando as suas idades geológicas e geotectonismo. Fonte: BARBOSA et al., 2003, p. 9-10. ............................................................................................. 82 IMAGEM 17a: Recorte da carta geológica Jacobina - Folha SC.24-Y-C, apresentando, especificamente, a área da pesquisa. Fonte: SAMPAIO et al., 2001. .............. 86 IMAGEM 17b: Legenda da imagem 17a............................................................................... 87 IMAGEM 18: Unidades morfológicas que compõem o relevo do estado da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em www.sei.gov.ba.br em janeiro de 2011........................................................... 18 IMAGEM 19: Perfil de uma das vertentes extremamente íngremes da Serra de Jacobina, vista da comunidade de Bananeira. Fonte: Autor, setembro de 2009. .................... 91 IMAGEM 20: Relação estabelecida entre a densidade da drenagem d’água e a declividade e comprimento das vertentes. Fonte: CHRISTOFOLETTI, 2009 [1980], p. 60. ........................................................................................................................................ 91 IMAGEM 21: Modelo de desenvolvimento das vertentes de Lester King. Fonte: CHRISTOFOLETTI, 2009 [1980], p. 40. ............................................................................... 93 IMAGEM 22: Perfil da escarpa da Serra do Tombador observado a partir da área de São Judas Tadeu. Foto: Autor, fevereiro de 2009............................................................... 93 IMAGEM 23: Vista panorâmica em 180º, a partir da Serra do Tombador – no trecho chamado por locais de Serra do Cílio –, da superfície de aplainamento que caracteriza a Depressão Sertaneja na área de pesquisa. Ao fundo, em último plano, vê-se a sequência da Serra de Jacobina. Foto e montagem: Autor, setembro de 2009. .......... 97 IMAGEM 24: Recorte da carta Relevo SRTM da Embrapa. A cuesta orientada SSW–NNE na porção esquerda da imagem é a Serra do Tombador. Ainda à esquerda, sobre a Serra do Tombador, está a chapada. A cadeia de montanhas orientada N-S na porção centro-direita da imagem é a Serra de Jacobina. No entorno da Serra de Jacobina está a Depressão Sertaneja. Fonte: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>, consultado em janeiro de 2011............................ 99 IMAGEM 25: Bacias hidrográficas da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br> em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 101
  • 20. xix IMAGEM 26: Microbacia do rio Salitre. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia – SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009, consultado em <www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011.................................................. 104 IMAGEM 27: Bacia do rio Itapicuru. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia – SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009, consultado em <www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011.................................................. 108 IMAGEM 28: Bacia do rio Paraguaçu, com destaque do Autor para a microbacia do rio Jacuípe, ao norte. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia – SEMA / Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, 2009, consultado em <www.inga.ba.gov.br> em janeiro de 2011. ......................................................................... 112 IMAGEM 29: Rede de drenagem do estado da Bahia onde se evidencia a convergência espacial dos rios Salitre (em verde), Itapicuru (em azul) e Jacuípe (em vermelho). Desenho: Autor, baseado no mapa rodoviário do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (DNIT), 2002. ................................................................... 114 IMAGEM 30: Tipologias climáticas da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br> em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 115 IMAGEM 31: Cobertura vegetal da Bahia. Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, 2007, consultado em <www.sei.gov.ba.br> em janeiro de 2011. ............................................................................................................... 117 IMAGEM 32: Mapa do relevo do estado da Bahia com a distribuição dos fósseis de megafauna. Em vermelho a cidade de Jacobina, em azul as demais cidades. Fonte: mapa gerado pelo autor baseado em informações de VIANA et al., 2007, p. 802................ 122 IMAGEM 33: Esqueleto de preguiça gigante (Eremotherium) do município de Jacobina, em exposição no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Abaixo, à esquerda, um esqueleto de tigre dente de sabre (Smilodon). Fonte: SILVA, 2010, p. 171. .................. 122 IMAGEM 34: Em Miguel Calmon retirada de pedras de meio-fio. Foto: Autor, fevereiro de 2009................................................................................................................... 125 IMAGEM 35: Três Coqueiros, extração de pedras de piso para pavimentação. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 125
  • 21. xx IMAGEM 36: Fole em funcionamento num abrigo na área de São Judas Tadeu, sobre a Serra do Tombador. Na sequência de imagens, da esquerda para a direita, percebem-se: visão geral do funcionamento da oficina; homem manobrando o fole; homem malhando uma ponteira sobre uma bigorna; ponteiras esfriando sobre uma rocha, ao lado de um galão de água. Fotos: Autor, fevereiro de 2009. ................................. 127 IMAGEM 37: Fazenda Caldeirão IV unidade 1, onde se vêem um fole em desuso, no canto inferior esquerdo, e as paredes do abrigo atingidas pela fuligem. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 127 IMAGEM 38: Complexo Tombador unidade 5, onde se percebem um fole em desuso, no canto inferior esquerdo, e as paredes do abrigo totalmente impregnadas por fuligem. Foto: Maria da Conceição Lopes, janeiro de 2010........................................... 127 IMAGEM 39: Barragem do Cantinho, acampamento improvisado com parede de alvenaria num abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009..................... 129 IMAGEM 40: Três Coqueiros I, acampamento improvisado com paredes e teto feitos com placas rochosas. Foto: Autor, setembro de 2009. ................................................ 129 IMAGEM 41: Serra do Cílio III, acampamento improvisado com lona plástica num abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009. ........................................... 129 IMAGEM 42: Fazenda Caldeirão I unidade 1, acampamento improvisado com lona plástica num abrigo com pinturas rupestres. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................... 129 IMAGEM 43: Montagem fotográfica. Rio Preto III, abrigo com pinturas demolido e em processo de fatiamento para confecção de placas rochosas destinadas à pavimentação. Fotos: Autor, janeiro de 2010........................................................................ 131 IMAGEM 44: Barragem do Cantinho, pinturas depredadas através de queima do painel. Foto: Autor, setembro de 2009. ................................................................................. 131 IMAGEM 45: Fazenda Caldeirão 4 unidade 2, pintura na entrada do abrigo depredada por picoteamento. Foto: Autor, janeiro de 2010. ................................................. 132 IMAGEM 46: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 180º do alto da escarpa da Serra do Tombador, na divisa entre Jacobina e Miguel Calmon, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, fevereiro de 2009. ................. 133
  • 22. xxi IMAGEM 47: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa da Serra do Tombador, na área de São Judas Tadeu, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, fevereiro de 2009......................................... 133 IMAGEM 48: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa da Serra do Tombador, na área de Três Coqueiros, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, setembro de 2009......................................... 133 IMAGEM 49: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 180º do alto da escarpa da Serra do Tombador, próximo à divisa entre Jacobina e Mirangaba, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal, defronte do sítio Fazenda Caldeirão II; o setor destruído contrasta com a área preservada da Fazenda do Dr. Flávio, em segundo plano. Fotos: Autor, setembro de 2009................................................. 134 IMAGEM 50: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 270º do alto da escarpa da Serra do Tombador, na divisa entre Jacobina e Mirangaba, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal defronte do sítio Rio Preto I. Fotos: Autor, janeiro de 2010........................................................................................................... 134 IMAGEM 51: Montagem fotográfica. Vista panorâmica em 360º do alto da escarpa da Serra do Tombador, em Mirangaba, onde se percebe a destruição do ambiente pela mineração ilegal. Fotos: Autor, janeiro de 2010............................................................ 134 IMAGEM 52: Passivo de mineração a céu aberto na área de Yamana Gold, na Serra de Jacobina. Foto: Almacks Luiz, junho de 2009, disponível em <http://almacks1.fotoblog.uol.com.br>, acessado em junho de 2011. .................................. 137 IMAGEM 53: Área destinada à segunda barragem de rejeitos da produção mineral da Yamana Gold. Foto: Jeanne Dias, dezembro de 2008...................................................... 137 IMAGEM 54: Indústria que a Yamana Gold utiliza para beneficiamento do ouro. Foto: Greciane Nascimento, dezembro de 2008.................................................................... 137 IMAGEM 55: Entrada de uma das áreas de mineração subterrânea da Yamana Gold. Foto: Fabiana Comerlato, dezembro de 2008.............................................................. 137 IMAGEM 56: Exemplo da tomada fotográfica do ambiente circundante a partir do sítio Igrejinha. O conjunto de imagens acima apresenta como elas são geradas em campo; abaixo uma panorâmica de 180º a partir da fotomontagem. Notar que os
  • 23. xxii limites da área de visualização são os próprios limites do suporte rochoso. Fotos e montagem: Autor, fevereiro de 2009..................................................................................... 158 IMAGEM 57: Exemplo da tomada fotográfica da unidade geomorfológica/arqueológica do sítio Morro do Cruzeiro I. Na primeira imagem, tomada da esquerda para a direita; na segunda imagem, tomada frontal; e na terceira imagem, tomada da direita para a esquerda. Fotos: Autor, setembro de 2009...................... 159 IMAGEM 58: Exemplo da tomada fotográfica de um painel e de signos no mesmo painel no sítio Fazenda Caldeirão I unidade 1. Foto: Autor, setembro de 2009. .................. 159 IMAGEM 59: Exemplo de croqui do sítio Barragem do Cantinho. Croqui: Autor. Reprodução digital: Gilcimar Barbosa e Carlos Costa.......................................................... 161 IMAGEM 60: Distribuição dos sítios levantados na área de pesquisa. O conjunto de sítios alinhado à esquerda está sobre a Serra do Tombador. Os demais estão distribuídos na Serra de Jacobina (feição do relevo na porção direita da imagem), no Planalto sobre a Serra do Tombador e na Depressão Sertaneja (espaço entre a Serra do Tombador e a Serra de Jacobina). Um mapa mais detalhado da distribuição dos sítios encontra-se no apêndice 8 deste trabalho..................................................................... 171 IMAGEM 61: Fenda da unidade 2 do sítio Serra do Cílio III. Foto: Autor, setembro de 2009. ................................................................................................................................. 178 IMAGEM 62: Parede do sítio Bananeira. Foto: Autor, setembro de 2009.......................... 178 IMAGEM 63: Abrigo do sítio Pé de Serra. Foto: Autor, fevereiro de 2009........................ 178 IMAGEM 64: Lapa do sítio As Moitas unidade 2: Foto: Autor, janeiro de 2010. .............. 178 IMAGEM 65: Gruta do sítio São Judas Tadeu I. Foto: Autor, fevereiro de 2009............... 179 IMAGEM 66: Loca da unidade 5 do sítio Tombador Alto. Foto: Autor, fevereiro de 2009. ...................................................................................................................................... 179 IMAGEM 67: Caverna da unidade 2 do sítio Igrejinha. Foto: Autor, fevereiro de 2009. ...................................................................................................................................... 179 IMAGEM 68: Matacão do sítio Pilões. Foto: Autor, fevereiro de 2009.............................. 179 IMAGEM 69: Exemplares dos signos preferencialmente representados nos tetos: signo 5, Igrejinha unidade 2; signo 7, Macaqueiras; signo 8, As Moitas unidade 5; signo 9, Tombador Alto unidade 5; signo 11, Olhos D’água II; signo 12, Pé de
  • 24. xxiii Serra; signo 13, Olhos D’água I unidade 4; signo 14, Cambaitira I unidade 2; signo 15, Cambaitira I unidade 2; signo 20, Serra do Tamanco unidade 2; signo 21, Olhos D’água I unidade 4; signo 22, Rio Preto IV. Fotos: Autor.................................................... 192 IMAGEM 70: Exemplares dos signos representados preferencialmente nas paredes: signo 1, Pé de Serra; signo 2, Rio Preto IV; signo 3, Tombador Alto unidade 2; signo 4, São Judas Tadeu IV unidade 2; signo 6, Igrejinha unidade 2; signo 16, Tombador Alto unidade 5; signo 19, Pé de Serra; signo 25, Bananeira. Fotos: Autor. ........ 193 IMAGEM 71: Exemplares dos signos representados tanto em paredes quanto nos tetos: signo 10, Fazenda Caldeirão I unidade 2; signo 17, Igrejinha unidade 2; signo 18, Cambaitira I unidade 2. Fotos: Autor.............................................................................. 193 IMAGEM 72: Detalhes de pigmentos aplicados utilizando-se diferentes técnicas: a) pigmento aplicado com o uso dos dedos, sítio Cambaitira I unidade 1; b) pigmento aplicado com técnica crayon, pedra seca aplicada no suporte ao modo de um giz, sítio São Judas Tadeu I; c) pigmento aplicado com pincel fino, sítio Tombador Alto unidade 6. Fotos: Autor. ........................................................................................................ 194 IMAGEM 73: Signos feitos nas diferentes cores identificadas: a) vermelho, sítio Fazenda Caldeirão I; b) amarelo, sítio Cambaitira I unidade 2; c) preto, sítio Seixos; d) branco, sítio Pé de Serra. Fotos: Autor.............................................................................. 195 IMAGEM 74: Exemplares com o uso do amarelo, do preto e do branco na representação: A, B e C referem-se a representações com a associação de linhas retas, dos sítios Cambaitira I unidade 1, Serra do Cílio III unidade 2 e Tombador Alto unidade 3, respectivamente; C, D e E são representações tendo como base um círculo, identificadas nos sítios Pé de Serra, Cambaitira I unidade 1 e Igrejinha, respectivamente. Fotos: Autor............................................................................................... 196 IMAGEM 75: Sítio Cambaitira I unidade 1. Na imagem da esquerda, indica-se a posição do painel principal do sítio. À direita, o painel. Fotos: Autor, fevereiro de 2009. ...................................................................................................................................... 197 IMAGEM 76: Sítio Jenipapo. Na imagem da esquerda, uma visão geral do abrigo. Na direita um dos conjuntos pictóricos identificados no sítio. Fotos: Autor, setembro de 2009. ................................................................................................................................. 198
  • 25. xxiv IMAGEM 77: Exemplares dos signos ocorrentes: signo 23, Cambaitira III unidade 2; signo 24, Tombador Alto unidade 3; signo 26, Rio Preto II; signo 27, Tombador Alto unidade 6; signo 28, Seixos; signo 29, Tombador Alto unidade 6; signo 30, Serra do Cílio III unidade 2. Fotos: Autor............................................................................. 200 IMAGEM 78: Sítio Cambaitira I unidade 1. No detalhe é possível se perceber 5 momentos pictóricos, apresentados do mais antigo ao mais recente: uma linha vermelha esmaecida sob as imagens, seguida pelas figuras pretas, cobertas pelas representações em vermelho intenso, depois amarelo e, finalmente, linhas pretas aplicadas em crayon. Fotos: Autor, fevereiro de 2009.......................................................... 203 IMAGEM 79: Sítio Cambaitira I unidade 1. No detalhe vemos, do mais antigo ao mais recente: uma linha horizontal vermelha esmaecida na porção direita da imagem; um pente desenhado em um vermelho alaranjado; pinturas em amarelo; uma grade preta aplicada em crayon; pinturas em vermelho intenso; por fim, crayon preto na porção direita da imagem. Fotos: Autor, fevereiro de 2009.................................... 203 IMAGEM 80: Sítio Tombador Alto unidade 6. Rabiscos feitos em crayon sobre pinturas de representações humanas feitas com pincel fino. Foto: Autor, fevereiro de 2009. ...................................................................................................................................... 203 IMAGEM 81: Sítio Jenipapo. Linhas em crayon complementam figura aplicada com o uso dos dedos. Foto: Autor, setembro de 2009........................................................... 203 IMAGEM 82: Sítio Cambaitira I unidade 1, exemplo em que pinturas geométricas diferentes se sobrepõem. No detalhe a imagem em preto é complementada pela em amarelo. Ambas se sobrepõem a um signo diferente aplicado em vermelho. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................... 204 IMAGEM 83: Sítio Pé de Serra, exemplo em que um signo com linhas vermelhas se sobrepõem a uma sequência de pontos em branco. Foto: Autor, fevereiro de 2009......... 204 IMAGEM 84: Sítio Tombador Alto unidade 6, onde é possível se ver o resultado final da sucessão de momentos pictóricos. Foto: Autor, fevereiro de 2009.......................... 204 IMAGEM 85: Sítio Cambaitira I unidade 2. Painel com representações geométricas feitas com o uso dos dedos em situação de sobreposição. Foto: Autor, setembro de 2009. ...................................................................................................................................... 205
  • 26. xxv IMAGEM 86: Sítio Serra do Cílio III unidade 2, em que um signo geométrico se encontra ao lado de um conjunto de figurativos esmaecidos na parte direita superior da imagem. Foto: Autor, setembro de 2009. ......................................................................... 205
  • 27. xxvi LISTA DE TABELAS TABELA 1: Geomorfologia, litologia, relevo e arqueologia................................................. 97 TABELA 2: Unidades geomorfológicas/arqueológicas......................................................... 98 TABELA 3: População e densidade demográfica na área de pesquisa................................ 130 TABELA 4: Sítios rupestres localizados no Piemonte da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil .......................................................................................................................... 152 TABELA 5: Tabela de classificação dos signos................................................................... 165 TABELA 6: Tabela dos signos ocorrentes organizada segundo a sua recorrência.............. 189 TABELA 7: Tabela dos signos ocorrentes organizada segundo a sua recorrência.............. 190
  • 28. xxvii LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1: Interesse pelo estudo dos sítios de representações rupestres na Bahia entre 1966 e 2011 .................................................................................................................... 65 GRÁFICO 2: Distribuição dos sítios nas diferentes feições geomorfológicas do relevo ..................................................................................................................................... 172 GRÁFICO 3: Suporte rochoso............................................................................................. 173 GRÁFICO 4: Topografia ..................................................................................................... 174 GRÁFICO 5: Hidrografia .................................................................................................... 175 GRÁFICO 6: Unidades geomorfológicas/arqueológicas..................................................... 176 GRÁFICO 7: Visualização .................................................................................................. 180 GRÁFICO 8: Visibilidade ................................................................................................... 181 GRÁFICO 9: Visualização dos painéis ............................................................................... 181 GRÁFICO 10: Orientação ................................................................................................... 183 GRÁFICO 11: Deterioração por agentes naturais ............................................................... 184 GRÁFICO 12: Deterioração por ação antrópica.................................................................. 185 GRÁFICO 13: Recorrência e ocorrências dos signos nos sítios.......................................... 186 GRÁFICO 14: Proporção dos signos de acordo com a sua macro classificação................. 187 GRÁFICO 15: Proporção dos signos de acordo com o seu aparecimento .......................... 187 GRÁFICO 16: Ocorrência dos signos ................................................................................. 188 GRÁFICO 17: Comparação entre ocorrência e recorrência................................................ 189 GRÁFICO 18: Total geral dos signos.................................................................................. 191
  • 29. INTRODUÇÃO As representações rupestres constituem uma das principais evidências da presença humana no passado. Esta afirmação é sem dúvida adequada para o território brasileiro, uma vez que esta categoria da cultura material conforma um dos principais documentos acerca das ocupações humanas ocorridas em períodos pré-coloniais e que mais persistem no tempo, em função da natureza dos materiais minerais que majoritariamente as constituem, por se encontrarem em locais reservados e/ou de escassa acessibilidade. Apesar destas excepcionais características, podemos dizer que se trata de documentos arqueológicos de difícil apreensão do ponto de vista científico, por expressarem conteúdos simbólicos desconhecidos e, em contraponto, porque os detentores dos mecanismos de leitura de seus significados não existem mais. Ou seja, entre o documento arqueológico do passado e aquele que foi transmitido para o presente, existe um imenso processo de formação de heranças, cuja abordagem e compreensão no presente se tornam bastante complexas. As primeiras notas sobre representações rupestres na Europa e na América do Sul datam do século XVI. Contudo, as pesquisas específicas das representações rupestres nestes continentes surgem a partir da segunda metade do século XIX, com efetivo desenvolvimento a partir do século XX (PROUS, 1992, p. 509; SANCHIDRIÁN, 2001, p. 23-31). Deste segundo momento se destacam os trabalhos de André Leroi-Gourhan e Annette Laming-Emperaire, cujas obras são consideradas marcos para o desenvolvimento moderno dos estudos das representações rupestres, uma vez que abrem novas possibilidades interpretativas da arte pleistocênica na Europa, distanciando-se da noção mágico-religiosa atribuída às
  • 30. 2 interpretações até aquele momento e chamando a atenção para a estruturação reconhecida nos elementos artísticos dos painéis (LAMING-EMPERAIRE, 1962; LEROI-GOURHAN, 1965, 1984; SANCHIDRIÁN, 2001; TRIGGER, 2004). Seus trabalhos, sem dúvida, tiveram enorme repercussão na construção de metodologias adequadas para as investigações voltadas para as representações rupestres e na formulação de pressupostos orientados à observação dos grafismos. No Brasil, especificamente, a contribuição do pensamento destes autores teve influência direta. A Annette Laming- Emperaire, especialmente, coube a coordenação e a formação de equipes para a realização dos primeiros trabalhos arqueológicos sistemáticos sob a influência da escola francesa, nas décadas de 60 e 70 do século XX, sendo atribuídas a ela as principais diretrizes que perdurariam e se imporiam como norteadoras do olhar para as representações rupestres (PROUS, 1992, p. 17). Por isso, não seria exagerado dizer que, hoje, as maiores equipes que trabalham com representações rupestres no Brasil derivam, de maneira direta, de uma formação francesa. No estado da Bahia os primeiros trabalhos arqueológicos orientados para a abordagem desta categoria da cultura material datam da década de 60 do século XX. No entanto, seu desenvolvimento mais significativo viria a ocorrer no florescer do século XXI. Disto resulta que, quando consideradas as dimensões deste território, a quantidade de trabalhos arqueológicos é ínfima (COSTA, 2005, p. 139-157; ETCHEVARNE, 2006, p. 45). Sendo assim, também não seria exagerado dizer que a maior parte do estado é inexplorada do ponto de vista arqueológico. Foi justamente esta condição que nos fez, em 2007, apresentar à Universidade de Coimbra uma proposta de pesquisa de doutoramento para o nordeste do estado, que seria realizada no município de Santa Brígida (COSTA, 2007c). Entretanto, já no início do doutoramento em Arqueologia no Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras, tivemos conhecimento de uma região igualmente desconhecida do estado, que se encontrava em risco de desaparição em decorrência de um continuado processo de destruição ambiental, onde nossa ação seria mais necessária e, além disso, estava sendo solicitada. Agregadas essas novas razões, migramos nossos esforços para a essa região conhecida geograficamente como Piemonte da Chapada Diamantina, onde passamos a desenvolver a pesquisa de doutoramento. A área de recorte deste trabalho está situada no limite oriental da Chapada Diamantina e compreende os municípios de Jacobina, Miguel Calmon, Caldeirão Grande, Saúde, Caém e Mirangaba. A área considerada aqui tem aproximados 70 x 80 km de
  • 31. 3 extensão e está situada entre a borda leste da Chapada Diamantina – na feição geológica conhecida como Serra do Tombador – e a Serra de Jacobina. Tal área está contida na mesorregião do Centro-Norte baiano, que, por sua vez, é formada pela união de 80 municípios agrupados em cinco microrregiões, entre as quais se encontra a de Jacobina. IMAGEM 1: Indicação da área de pesquisa no território sul-americano. Em azul, sobre o mapa da Bahia, estão ressaltadas as cidades de Caém, Caldeirão Grande, Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba e Saúde, no Piemonte da Chapada Diamantina. FONTE: www.ibge.gov.br. Trabalho gráfico: Autor. Os objetivos iniciais de nossa abordagem previam mapear os sítios de representações rupestres, investigar a paisagem envolvente e as formas de apropriação dos suportes rochosos, as técnicas de preparação do suporte e de aplicação dos pigmentos ou de incisão das gravuras, identificar os motivos pintados ou gravados, bem como suas disposições nos painéis, finalizando com a associação das diferentes variáveis apreendidas com o intuito de interpretar as ocupações humanas ocorridas nesta região. Além disso, motivava-nos a possibilidade de ampliar o conhecimento sobre a ocupação pré-colonial do território baiano, contribuindo, no final da cadeia de produção de conhecimento, para os processos educativos e para a formação social/cidadã. Especificamente, vimos em nossa área de trabalho dados privilegiados que nos possibilitavam discutir axiomas consagrados para os estudos das representações rupestres no Nordeste brasileiro, de maneira que a nossa contribuição poderia não se restringir à área de pesquisa, mas ter efeitos para além desta área, questionando conhecimentos estabelecidos com críticas e lançando o olhar para ausências fundamentais nos estudos realizados. Foi dessa forma que chamamos a atenção para a observação dos signos geométricos, majoritariamente identificados nos sítios do Piemonte da Chapada Diamantina. Portanto, foram essas orientações técnicas e ideológicas que conduziram a formulação desta tese.
  • 32. 4 Este trabalho está formalmente dividido em três capítulos. O primeiro – Tradição, tradições, Bahia e alguns problemas: a construção do objeto de pesquisa – destina-se a construir o objeto de pesquisa, evidenciar os problemas e a hipótese que norteiam a tese de doutorado. Para tanto, inicialmente discute as bases sobre as quais se assenta o conhecimento acerca de representações rupestres no Nordeste brasileiro, abordando as perspectivas teóricas que orientam os estudos, incidindo sobre a observação da noção de tradição arqueológica imposta para as representações rupestres. Na sequência apresenta as tradições rupestres criadas para o Nordeste brasileiro e explora os impactos deste conhecimento sobre a observação dos sítios de pinturas e gravuras rupestres nesta região. Neste âmbito, questiona ainda a aplicação das tradições criadas para áreas específicas do Nordeste em contextos distintos daqueles para os quais foram elaboradas, bem como apresenta como um dos problemas das aplicações inadequadas a ausência de estudos específicos dos signos geométricos. Como consequência lógica dessa argumentação e encaminhando-se para a compreensão da área de pesquisa, segue-se abordando os estudos sobre representações rupestres realizados no estado da Bahia a partir de uma bibliometria da produção escrita sobre o assunto – artigos, papers, livros, teses, dissertações, laudos técnicos e relatórios. Com os dados até aqui disponíveis são apresentados o objeto de estudo, os problemas e a hipótese dessa pesquisa. O segundo capítulo – A paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina – propõe-se a abordar o delineamento paisagístico da região geográfica onde se encontram os sítios pesquisados. Inicia-se esclarecendo a noção de paisagem utilizada para a apreensão da região de estudo, que dará, por sua vez, subsídios para a compreensão das variáveis que serão consideradas para versar, na sequência, sobre o Piemonte: geotectônica, geologia, geomorfologia, solos, hidrografia, clima e vegetação. Além das informações naturais sobre a paisagem atual, apresentamos dados, ainda que incipientes, que permitem compreender a paleopaisagem desta região no final do Pleistoceno e durante o Holoceno, e aspectos relacionados ao uso humano da paisagem atual, que se interpõem como condicionantes metodológicos à pesquisa. O terceiro capítulo – Sítios rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina – destina-se a relatar o estudo específico dos sítios de pinturas rupestres identificados na área de recorte da pesquisa. Desta maneira, discute-se a noção de gramática aplicada aos sítios de representações rupestres, que se apresenta como alternativa teórico-metodológica à apreensão de sítios com signos geométricos. Segue-se a apresentação dos procedimentos de campo e laboratório que possibilitaram levantar e sistematizar parte dos dados empíricos que dão base à tese. Finaliza com os resultados, analisando a partir de gráficos, de percentuais, de dados quantitativos
  • 33. 5 absolutos e de dados qualitativos os contextos arqueológicos, primeiro sob o prisma da paisagem de inserção dos sítios, depois pela leitura da cultura material. É com esta base que serão esboçados os diferentes perfis gráficos identificados para o Piemonte da Chapada Diamantina, um modelo sucessório de ocupação, bem como uma hipótese acerca de uma possibilidade de ocupação em longo prazo na região. Após os três principais capítulos da tese de doutoramento se encontram: as “Considerações finais”, em que buscamos responder à hipótese da pesquisa, apresentada no primeiro capítulo, além de dar encaminhamentos para a continuidade das investigações; as “Referências bibliográficas”, que estão sistematizadas de maneira alfabética e abrangem as referências escritas, cartográficas, legais e de sites oficiais utilizadas durante a pesquisa; e, finalmente, os “Apêndices”, que contêm todos os dados criados em decorrência dos trabalhos de campo e de laboratório, referidos no terceiro capítulo. Antes de avançar para o texto do primeiro capítulo, cabem esclarecimentos de duas noções que já se fazem presentes no trabalho. Ao falar de representações rupestres1 , estamos nos referindo especificamente aos desenhos, grafismos ou figuras aplicadas pela técnica aditiva (pigmentos) ou subtrativa (gravuras) sobre suportes rochosos fixos encontrados em diferentes paisagens. Trata-se de um segmento da cultura material reconhecido como pinturas e/ou gravuras rupestres, deixadas por populações que existiram em períodos pré-coloniais. Esta categoria da cultura material é classicamente conhecida como “arte rupestre”. No entanto, como entendemos que o conceito de arte tem sentidos e apreensões distintas para os mais variados grupos humanos do globo terrestre e para as diferentes culturas, acreditamos que, apesar de compreensível, resulta inadequado o seu uso para as pinturas e gravuras identificadas no Brasil. Primeiro porque pelas datações conhecidas, a distância cronológica entre as populações que fizeram as representações rupestres (todas extintas) e os atuais grupos indígenas brasileiros é muito grande, de forma a não ser possível estabelecer relações, o que fragilizaria a realização de analogias etnográficas que conduzissem a algum tipo de interpretação direta para a determinação do teor artístico dos grafismos. Segundo, porque os dados arqueológicos não possibilitam reconhecer o uso conferido aos sítios rupestres, muito menos os sentidos atribuídos. Terceiro, e mais contundente, os estudos das representações rupestres estão em 1 Denis Vialou, professor do Museu de História Natural de Paris, entende que o termo representação rupestre refere-se “a manifestação gráfica de uma representação mental” (apud COMERLATO, 2005, p. 11; VIALOU, 2005, 1999, 1987).
  • 34. 6 fase considerada inicial no Brasil. Logo, falar em arte, na nossa ótica, significa interpretar antes de reconhecer o universo abordado. Isto, por sua vez, não quer dizer que não admitamos a intenção estética associada às pinturas e gravuras rupestres. Em muitos casos isto é evidente para qualquer observador. Mas, entre a presença ou a ausência de noções estéticas que apelem para a apreensão sensorial do belo e a noção de arte para as diferentes culturas, existe uma imensa distância que nos faz entender como injustificada a adoção do termo “arte” para referir-se aos sítios de pinturas e gravuras rupestres e, assim, nos faz optar por outro conceito. Nesse sentido, a adoção do termo “representação rupestre” resulta do entendimento de que, independentemente do que signifiquem as pinturas e gravuras, elas, de fato, representam alguma coisa, desde a ausência de significados, conteúdos corriqueiros e/ou cotidianos, até mesmo conteúdos gráficos complexos com elaboradas abstrações e teor significativo que demandem apreensão relacional das paisagens, dos grupos humanos e das suas produções materiais. Ou seja, em qualquer situação, quem determinará possíveis sentidos das representações serão os estudos arqueológicos que, porventura, possibilitarão inferir a ausência de significados, sentidos artísticos, educativos, corriqueiro, comunicativo, mítico-religioso, entre tantos outros que possam ser conjecturados2 . A segunda noção referida que estará presente no trabalho é a de “pré-colonial”. Utilizamos este termo em detrimento de pré-histórico não como oposição, mas como adequação às especificidades da arqueologia brasileira. Isto porque, o termo pré-histórico advém de uma longa e histórica prática arqueológica realizada na Europa, e pressupõe todo período anterior ao surgimento da escrita como elemento de determinação do período de tempo que o conceito compreende. Como no caso do Brasil os grupos humanos anteriores à chegada dos colonizadores europeus não detinham os mecanismos da escrita, como detinham há muito tempo os do Velho Mundo, entendemos o termo pré-colonial como mais justo, uma vez que leva em consideração a história local como parâmetro de determinação do lapso de tempo que ele abrange. Assim, considera-se o advento da conquista do território brasileiro por grupos europeus, notadamente os portugueses, como demarcador do final do período pré-colonial e início do colonial. Ademais, como a conquista do território foi se dando de maneira gradual, a 2 Como exemplo da multiplicidade de sentidos que os objetos artísticos podem ter, argumentaria Maria da Conceição Lopes, professora da Universidade de Coimbra: “Reconhece-se numa multiplicidade de suportes e expressões formais de conteúdo tangível ou intangível, no fundo de dissimulados e escuros abrigos e/ou grutas, em abertos, exprimindo vontades, pedidos, homenagens e credos, ou exibindo-se em opulência, propagandeando os poderes que a patrocinam, em objetos cotidianos, de grande e pequeno tamanho, de adorno, de culto, de qualidade mágicas ou simbólicas, de veneração ou apenas de embelezamento” (LOPES, 2008, p. 7).
  • 35. 7 data limite de avanço e domínio do território também se pode adequar em função das especificidades históricas. Por fim, uma última observação, primordial para este trabalho de doutoramento, diz respeito àquilo que em nome de uma lógica positivista implícita é constantemente negligenciado na formulação dos trabalhos acadêmicos, que é a participação efetiva de instituições e de indivíduos na construção científica. Desta maneira, é necessário dizer que este trabalho nasce de um esforço particular de cooperação internacional entre diferentes equipes, da Universidade de Coimbra (através do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto) e da Universidade Federal da Bahia (a partir do Laboratório de Arqueologia e do Grupo de Pesquisas Bahia Arqueológica)3 , conduzido pela Profa. Dra. Maria da Conceição Lopes e pelo Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne, respectivamente, com o sentido de qualificar quadros humanos orientados para a lida com o patrimônio arqueológico. 3 Cooperação esta que tinha motivação em outras empreitadas acadêmicas, a exemplo do Fórum Luso Brasileiro de Arqueologia Urbana, realizado no ano de 2006 na Bahia, no ano de 2008 em Coimbra e no ano de 2011 em Recife.
  • 36. CAPÍTULO I TRADIÇÃO, TRADIÇÕES, BAHIA E ALGUNS PROBLEMAS: A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA O presente capítulo destina-se a apresentar a problemática associada ao objeto de pesquisa. Para tanto inicialmente fará uma abordagem do arcabouço conceitual no qual se assenta a construção dos dados arqueológicos associados aos estudos das representações rupestres no Brasil, especificamente discutindo a noção de tradição arqueológica. Na sequência, apresentará as diferentes tradições definidas para o Nordeste brasileiro, exercendo a crítica necessária a este modelo classificatório e criando os primeiros elementos para a definição do objeto de estudo e a formulação do problema de pesquisa, colocando em evidência questões de ordem prática nas definições das tradições, em especial aquela rotulada como Geométrica. Em caráter de revisão bibliográfica, fará então um breve histórico das pesquisas realizadas no estado da Bahia. Este corpus inicial de informações faz-se necessário para que haja elementos mínimos para a identificação do problema de pesquisa e a formulação de uma resposta inicial à problemática (a hipótese de trabalho) que irá conduzir parte do nosso olhar ao longo da redação.
  • 37. 9 1.1. A NOÇÃO DE TRADIÇÃO ARQUEOLÓGICA Esclarecer a noção de tradição arqueológica deriva da necessidade de demonstrar como este conceito é apreendido na arqueologia brasileira, haja vista que guarda diferenças em relação àqueles utilizados na antropologia e na história, que são noções mais divulgadas e conhecidas nas ciências humanas4 . Além disto, entender este conceito do ponto de vista arqueológico é necessário porque as representações rupestres no Brasil têm sido estudadas a partir da ordenação em categorias crono-estilísticas denominadas de tradições. Consta que a noção de tradição foi introduzida na arqueologia americana na década de 40 do século XX em trabalhos realizados por Gordon Willey no Peru (COSENS & SEDA, 1990, p. 36). A apreensão do termo por Willey baseava-se na ideia de que a arqueologia se fundamenta basicamente em três dimensões: tempo (sequenciais, regionais e locais), espaço (localidade, região e área) e forma (componente e fase), sendo que as noções de horizonte, tradição e clímax correspondem aos mecanismos de interação das três dimensões (WILLEY & PHILLIPS, 1953). Tradição, neste sentido, correspondia a uma das variáveis de um corpo metodológico que tinha a função de explicar os contextos arqueológicos, observando as formas da cultura material inseridas num espaço específico e com sequências temporais associadas às regiões5 . Nesta mesma linha de raciocínio, Gordon Childe, nos trabalhos realizados na Europa, chamou de “cultura arqueológica” o “grupo de artefatos que ocorre de modo associado e que expressa tradições sociais comuns que unem um povo” (CHILDE apud WICHERS, 2010, p. 43). Essas influências seriam, portanto, compreendidas como as raízes desta discussão na arqueologia brasileira. 4 De acordo com Caroline Luvizotto e José Poker, a tradição se apresenta como “(...) um conjunto de sistemas simbólicos que são passados de geração a geração e que tem um caráter repetitivo. A tradição deve ser considerada dinâmica e não estática, uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo futuro. A tradição coordena a ação que organiza temporal e espacialmente as relações dentro da comunidade e é um elemento intrínseco e inseparável da mesma. (...) Seu caráter repetitivo denota atualização dos esquemas de vida. Isto significa que a tradição é uma orientação para o passado, justamente porque o passado tem força e influência relevantes sobre o curso das ações presentes. (...) A tradição também se reporta ao futuro, ou melhor, indica como organizar o mundo para o tempo futuro, que não é concebido como algo distante e separado, ele está diretamente ligado a uma linha contínua que envolve o passado e o presente. Esta linha é a tradição. Ela persiste e é (re)modelada e (re)inventada a cada geração. Neste sentido, pode-se dizer que não há um corte profundo, ruptura ou descontinuidade absoluta entre o passado, o presente e o futuro” (LUZIVOTTO & POKER, 2009, p. 4-5). Para outras discussões acerca do termo tradição, sugerimos a leitura das obras: “A invenção das tradições”, de Eric John Earnest Hobsbawm & Terence Ranger (São Paulo: Paz e Terra, 2002); “Esboço de uma teoria geral da magia”, de Marcel Mauss (Lisboa: Edições 70, 2000); “A busca da África no candomblé: tradição e poder no Brasil”, de Stefania Capone (Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Pallas, 2004); ou mesmo a leitura do artigo “O ethos sanjoanense: tradição e mudança em uma ‘cidade pequena’”, de Márcio Caniello (In: Mana [online], vol.9, n.1. Rio de Janeiro: Museu Nacional / UFRJ, p. 31-56, 2003). 5 Bruce Trigger teceu o seguinte comentário ao trabalho de Gordon Willey: “Culturas, assim como tipos de artefatos, foram consideradas quer como persistindo (possivelmente com lentas modificações) de modo a formar tradições, quer a propagar-se geograficamente de modo a criar horizontes culturais – um dos artifícios para alinhar tradições cronologicamente” (TRIGGER, 2004, p. 186).
  • 38. 10 Entretanto, sabe-se que efetivamente a noção de tradição foi inserida na arqueologia brasileira entre 1965 e 1970, durante o desenvolvimento do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa), idealizado e financiado pelo Smithsonian Institution, sob a coordenação dos arqueólogos norte-americanos Betty Jane Meggers e Clifford Evans. Naquele momento, o objetivo geral do programa foi o de construir um panorama acerca da ocupação pré-colonial do território brasileiro, utilizando recursos metodológicos que incluíam a criação de tipologias cerâmicas (EVANS & MEGGERS, 1965). A tipologia, nesse programa, correspondia a um método quantitativo/qualitativo destinado ao estabelecimento de cronologias culturais, baseada, fundamentalmente, na elaboração da seriação dos artefatos feita a partir da abordagem proposta pelo arqueólogo, também norte-americano, James Alfred Ford (FORD 1954, 1961). Esse método ficou largamente conhecido como método Ford. As tipologias criadas durante o Pronapa foram elaboradas através do levantamento extensivo de diversas regiões do território, durante o qual os sítios cerâmicos identificados seriam amostralmente escavados; os “cacos” coletados, classificados através da seriação e, com estes resultados, criou-se uma sequência de tradições e fases (EVANS & MEGGERS, 1965). Estas duas categorias são hierarquizadas por Meggers & Evans da seguinte maneira: Quando os restos arqueológicos que representam uma única tradição cultural cobrem uma área extensa (...), distinções relativamente pequenas em traços cerâmicos ou no padrão das freqüências dos tipos cerâmicos tem que ser empregadas para se estabelecer diferenciações geográficas e cronológicas das fases (MEGGERS & EVANS, 1970, p. 92). O pressuposto básico da divisão por “tipos” fundamentava-se na ideia de que o desenvolvimento humano ocorreria a partir de critérios difusionistas e evolucionistas, de forma que as seriações refletiriam diferenças ou mudanças culturais das populações pré- coloniais no tempo e no espaço. Neste aspecto, o conceito de “tipo” utilizado por Meggers & Evans preconiza que: Um tipo cerâmico, definido em termos evolucionistas (...), é uma tradição (uma seqüência temporal de vasilhames) evoluindo separadamente de outras, e com o seu próprio papel evolutivo unitário e suas próprias tendências (...). A determinação da validade para tal tipo cerâmico seria sua significação cronológica, sua capacidade de refletir e, por isso, mostrar mudança através do tempo (MEGGERS & EVANS, 1970, p. 8).
  • 39. 11 Como se pode perceber, Meggers & Evans não definem, diretamente, tradição, mas utilizam- na como recurso para o estabelecimento dos limites do conceito de tipo. Embora não houvesse um conceito preciso, a noção de tradição como uma categoria classificatória englobando os tipos iria impregnar a arqueologia brasileira. Isto porque, como parte do Pronapa ocorreu um amplo projeto de treinamento de profissionais atuantes em diversas regiões do Brasil, com vistas a qualificá-los para os procedimentos do programa e, consequentemente, atingir o objetivo de reconhecimento extensivo das populações passadas. Desta maneira, ante a amplitude e objetivos, o Pronapa deixou marcas na construção dos cenários pré-coloniais e na formação arqueológica no Brasil, com bases empiristas calcadas em descrições técnicas dos materiais arqueológicos, que seriam traduzidas em tradições e fases arqueológicas6 . É justamente em decorrência dos objetivos do Pronapa que seriam criados conceitos norteadores, com a possibilidade de rápida aplicação e identificação de atributos da cultura material, em campo, pelos membros do programa. Como exemplos destas definições, derivadas destes manuais, podemos citar: tipo, definido como o “grupo de características comuns, que distinguem determinados artefatos, ou seus restos, de outros semelhantes”; fase vista como “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de habitação, relacionado no tempo e no espaço, num ou mais sítios”; tradição, compreendida como o “grupo de elementos ou técnicas que se distribuem com persistência temporal”; e, por fim, horizonte, como o “conjunto de tradições que ocupam o mesmo núcleo temporal relativo em seqüências arqueológicas, que se apresentam em várias áreas geográficas” (CHMYZ, 1966, p. 14-20). Como não há, objetivamente, discussões associadas aos conceitos apresentados e verificadas ambiguidades que impossibilitem compreender os seus exatos limites – haja vista derivarem dos manuais didáticos publicados durante o Pronapa e para os seus membros –, torna-se difícil entender quais as aplicabilidades das definições para a leitura e interpretação das populações passadas. Derivado deste contexto, o primeiro autor que, de fato, se deteve na discussão do conceito de tradição na arqueologia brasileira foi o arqueólogo espanhol Valentín Rafael Simon Joaquim Calderón de la Vara, mais conhecido como Valentín Calderón, da Universidade Federal da Bahia, a partir de suas observações das pinturas rupestres de sítios baianos (MARTÍN, 1999, 6 Exemplo disto são os manuais terminológicos sucessivamente publicados por membros do Pronapa (CHMYZ, 1966, 1969; CHMYZ et al., 1976; SIMÕES, 1972).
  • 40. 12 p. 240). Fruto da sua experiência na arqueologia7 e da sua participação no Pronapa, Calderón adaptou a noção de tradição trabalhada nos estudos cerâmicos para as pinturas rupestres, quando a definiu como: (...) o conjunto de características que se reflete em diferentes sítios ou regiões, associadas de maneira similar, atribuindo cada uma delas ao complexo cultural de grupos étnicos diferentes que as transmitiam e difundiam, gradualmente modificadas, através do tempo e do espaço” (CALDERÓN, 1983 [1967], p. 13). Calderón partia do pressuposto de que a similaridade nas características técnicas e morfológicas de determinadas categorias de cultura material, verificadas em diferentes sítios, era indicativa da ocupação do território por grupos humanos que comungavam de aspectos culturais comuns, atribuindo a esta semelhança a presença de grupos étnicos específicos que teriam vivido numa dada região e num dado tempo. Seguindo as orientações do Pronapa, Calderón chamou de “fase” as mudanças verificadas na cultura material ao longo do tempo, que representam momentos históricos observados no âmbito de uma tradição arqueológica, fruto de mobilidade específica regional (CALDERÓN, 1983 [1967], p. 13). Com estas orientações, Calderón viria a definir na Bahia as tradições “realista” – posteriormente redefinida como “naturalista” – e “simbolista” (COSTA, 2005, p. 145). Objetivamente, as tradições rupestres definidas por Calderón não tiveram repercussão nem uso por outros arqueólogos. Apesar disto, é inegável o fato de Valentín Calderón ter introduzido a noção de tradição nos estudos de representações rupestres; noção esta que foi, e é, amplamente difundida e utilizada. Após a contribuição de Valentín Calderón, o uso e a disseminação sistemáticos das classificações das tradições rupestres no Brasil ocorreram, de fato, nas décadas de 70 e 80 do século XX, a partir dos estudos realizados por diferentes arqueólogos, tais como: tradição Meridional definida por Pedro Augusto Menz Ribeiro na década de 70 para identificar gravuras geométricas lineares, localizadas no Vale do Jacuí, Rio Grande do Sul, indo em direção ao território argentino; tradição Litorânea catarinense estudada por João Alfredo Rohr e por André Prous na década de 70, caracterizada por gravuras geométricas situadas, 7 Calderón, antes de se radicar na Bahia, trabalhou com dois eminentes arqueólogos espanhóis: Pedro Bosch Gimpera, professor do Colégio de México, de quem era considerado discípulo e amigo; e Hugo Obermaier, quando atuou como ajudante em Altamira.
  • 41. 13 majoritariamente, em ilhas marinhas; tradição Geométrica, estudada nas décadas de 70 e 80, que corresponde a sítios de pinturas rupestres identificados em quase todos os estados do Brasil, descrita, portanto, por diversos autores (João Alfredo Rohr, Desidério Aytai, Walter Piazza, Solange Calderalli, Guy Christian Collet, Pedro Ignácio Schmitz, Milton Parnes e Alfredo Mendonça Souza, entre outros); tradição Planalto, descrita por André Prous nas décadas de 70 e 80, que tem expressão no norte do Paraná até o oeste da Bahia, concentrando- se em Minas Gerais, caracterizada por representações zoomorfas; tradição Nordeste, definida por Niède Guidon na década de 80 para identificar representações do Piauí, mas com expressão em todos os estados do Nordeste brasileiro, indo até o norte de Minas Gerais, definidas por motivos figurativos miniaturizados, finamente executadas, representando cenas; tradição Agreste, definida por Alice Aguiar Cavalcanti no início da década de 80 para indicar grafismos dos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, reconhecidas por representações cheias, de grande dimensão, biomorfas e em posições “estáticas”; tradição São Francisco, reconhecida por André Prous no Vale do rio São Francisco nos estados da Bahia, Minas Gerais e Sergipe, caracterizada por grafismos abstratos cuidadosamente executados, simétricos, policrômicos intercalados com zoomorfos e antropomorfos; tradição Itaquatiara8 , reconhecida em todo o Brasil, representada por sítios de gravuras rupestres, incluindo-se, no seu âmbito, a chamada tradição Amazônica; entre tantas outras de menor expressão e uso (CAVALCANTI, 1996; COLONELLI & MAGALHÃES, 1975; ETCHEVARNE, 2007, p. 38-77; JORGE et al., 2007, p. 144-235; MARTÍN, 1999, p. 251-304; PESSIS, 2003, p. 79-106; PROUS, 1994, p. 77-144; PROUS, 1992, p. 511-530). 8 O termo é encontrado nos diferentes autores com duas grafias: Itaquatiara ou Itacoatiara. Utilizaremos apenas a primeira grafia para manter uniformidade na redação e porque é a forma mais utilizada entre os autores.
  • 42. 14 IMAGEM 2: À esquerda, distribuição das tradições rupestres no Brasil excetuando a área amazônica, de acordo com André Prous. À direita, distribuição das tradições rupestres no Brasil, de acordo com Maria Dulce Gaspar. Fontes: PROUS, 1992; GASPAR, 2003. Estes dados demonstram e confirmam a amplitude que tomou a noção de tradição na arqueologia brasileira, passando a se configurar como um pilar para o reconhecimento das representações rupestres das diferentes populações pré-coloniais. Apesar desta ampla disseminação da ideia, no cômputo destes estudos, em decorrência da verificação das limitações conceituais apresentadas e da maior ou menor popularidade da produção de alguns arqueólogos, um processo de ressignificação e relativização do conceito de tradição passaria a ocorrer. No Nordeste brasileiro, nos estudos realizados no Parque Nacional Serra da Capivara, a arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon – professora aposentada da École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, e presidente da Fundação Museu do Homem Americano no Piauí, Brasil – adotou a noção de tradição para identificar as grandes classes das representações rupestres que compunham “identidades” de caráter geral, quando os grafismos identificados seriam reunidos em tipos, que levariam em consideração a proporção relativa que esses tipos guardam entre si. Desta maneira, agregaria as pinturas e gravuras em quatro grandes tradições, definidas como Nordeste, Agreste, Geométrica e Itaquatiara (GUIDON, 1989, p. 5-10). Ou seja, Niède Guidon toma a noção de tradição unicamente como uma grande categoria taxonômica da cultura material, sem, explicitamente, entrar no mérito da correspondência entre a cultura material e os grupos étnicos específicos. No entanto, fica
  • 43. 15 implícita em sua construção a consideração da existência de: 1) unidades gráficas, uma vez que cria as tradições a partir da definição de tipos; 2) espaço, na medida em que concentra suas observações num território específico; 3) e tempo, já que busca sempre amparo das sobreposições e das datações de sítios para a determinação das tradições. Destes estudos derivariam, por exemplo, dois outros conceitos associados: subtradição e estilo. A subtradição corresponde a diferenças nas apresentações gráficas de um mesmo tema numa tradição, mas associada à distribuição geográfica desta diferença. Trata-se do refinamento da descrição de uma tradição, quando começam a ser notadas distinções com expressão regional na sua conformação interna. Por sua vez, o conceito de estilo reflete particularidades que se manifestam no plano técnico de manufatura e apresentação gráfica. Trata-se de um nível classificatório, cujo objetivo é recuperar variações das dimensões plásticas, temática e de apresentação gráfica numa subtradição (PESSIS, 1992, p. 50-52). Por seu turno, o arqueólogo francês André Prous, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, além de afirmar que a ideia de tradição rupestre pressupõe “(...) uma certa permanência de traços distintivos, geralmente temáticos”, consideraria que esta noção refere- se a: (...) uma aproximação, já que existe sempre uma certa variabilidade intra- regional, que pode demonstrar evoluções culturais no tempo, no espaço, ou funções distintas. Além disto, se reconhecemos tradições regionais, suas manifestações podem se misturar ou se superpor, particularmente nos territórios fronteiriços (PROUS, 1992, p. 511). Ao considerar a noção de “permanência de traços distintivos”, fica explícita na definição de André Prous a existência de uma unidade gráfica transmitida ao longo do tempo, que define, posteriormente, como cultural, ainda que coloque em evidência a subjetividade do arqueólogo na construção de uma “aproximação”. Também relativiza esta unidade cultural, chamando a atenção para outras situações culturais que poderiam levar à ocorrência de representações de grupos distintos no mesmo espaço, nas situações em que o território fora ocupado por sociedades diferentes. Ainda que os traços culturais sejam colocados como um fundamento relativo, já que poderiam estar misturados, as noções de tempo e espaço permanecem invariáveis no conceito. Para uma aplicação técnica do conceito de tradição, que possibilitasse a apreensão, em campo, dos limites entre as diferentes tradições, Prous apontaria subclassificações deste conceito, agregando a ele a noção de estilos e fácies. Diria o autor:
  • 44. 16 A tradição (...) [reúne] (...) componentes gráficos com atributos suficientemente peculiares para serem opostos aos outros conjuntos definidos, sugerindo uma base mitológica ou conceitual comum; os estilos (...) [correspondem] (...) ao desenvolvimento de aspectos originais dentro da mesma tradição; as fácies (...) [caracterizam-se] (...) por variantes menores, em geral ligadas à interpretação local de uma mesma temática (PROUS, 1992, p. 113). Por sua vez, o conceito de tradição aplicado às representações rupestres apresentado pela arqueóloga espanhola Gabriela Martín, professora da Universidade Federal de Pernambuco, aponta a tradição como: (...) a representação visual de todo universo simbólico primitivo que pode ter sido transmitido durante milênios sem que, necessariamente, as pinturas de uma tradição pertençam aos mesmos grupos étnicos, além do que poderiam estar separados por cronologias muito distantes (MARTÍN, 1999, p. 240). Apesar de retomar a noção de grupos étnicos trabalhada por Calderón, o conceito de tradição de Martín, em termos semânticos, aproxima-se daquele apresentado por André Prous. Primeiro, porque a noção de grupos étnicos é ampla em ambos os autores; em Martín esta noção é colocada com o sentido de abrir a possibilidade de intervenção de outros grupos na confecção e uso das representações rupestres, bem como considera Prous ao afirmar que as manifestações de diferentes grupos culturais “podem se misturar ou se superpor (...) nos territórios fronteiriços”. Segundo, porque a ideia de “transmissão ao longo do tempo” de Martín equivale à de “permanência” de Prous. Terceiro, porque a variável espaço é considerada pelos dois autores na realização dos seus estudos. A diferença, no entanto, reside no fato de que a noção de tempo aplicada à ideia de tradição de Martín é relativa, uma vez que a autora considera a possibilidade de tradições iguais poderem ser expressas anacronicamente, em lapsos de tempos diferentes, inclusive cronologicamente muito distantes. Neste aspecto em especial, visão semelhante tem a arqueóloga francesa Anne Marie Pessis, professora da Universidade Federal de Pernambuco, quando determina que: (...) o que se procura estabelecendo tradições é a integração de obras gráficas pertencentes a um mesmo grupo cultural, independente da unidade cronológica, e identificar as características dos registros próprios do meio cultural ao qual os autores pertenciam (PESSIS, 1992, p. 46).
  • 45. 17 Com esta afirmação de Pessis fica explícita a relação direta entre tradição arqueológica e grupos culturais específicos – ainda que não se saiba qual grupo cultural esteja sendo abordado –, o que equivale à noção de grupos étnicos trabalhada por Calderón. Mas o que queremos ressaltar na pesquisadora é a possibilidade de um grupo cultural específico persistir com expressões culturais semelhantes em tempos distintos, inclusive cronologicamente muito distantes. Neste sentido, cabe dizer que esta ótica é baseada na possibilidade de permanência por um lapso de tempo grande de uma mesma tradição, que vai evoluindo ao longo do tempo; é esta diretriz evolucionista que irá conduzir, por exemplo, os olhares de Calderón, Guidon, Martín, Pessis e Prous. Vanessa Linke e Andrei Isnardis, pesquisadora e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, apresentam uma leitura tecnicista do termo tradição que relativiza uma série de certezas implícitas, uma vez que o consideram uma categoria classificatória utilizada apenas como ferramenta metodológica que permite demonstrar “aspectos do registro arqueológico com expressivas profundidade temporal e distribuição geográfica”. Ou seja, não se trata, necessariamente, da leitura de um grupo cultural específico, senão do reconhecimento pelo arqueólogo de regularidades no registro arqueológico. Para os autores a noção de tradição reflete: (...) conjuntos de recorrências que expressam as normas pelas quais agem as culturas ou grupos culturais e que orientam a produção da cultura material (...). As diferenças e similitudes entre conjuntos gráficos seriam indicativas de uma afinidade cultural existente ou ausente. Assim (...), é possível que haja uma expressiva afinidade cultural, entre grupos autores de uma mesma Tradição, e uma igualmente expressiva diferença no repertório cultural, ligado aos grafismos rupestres entre grupos humanos autores de figuras atribuídas a Tradições distintas (LINKE & ISNARDIS, 2008, p. 33). Com esta aplicação, Linke & Isnardis não criam critérios fechados na definição de tradição, pois reconhecem as limitações do conceito ao chamar a atenção para a complexidade de situações sociais que poderiam levar a semelhanças e diferenças na forma de representar. Assim, nem uma (semelhanças) nem a outra (diferenças) condição podem, efetivamente, ser consideradas determinantes para a segregação autoral das pinturas e gravuras por culturas ou etnias (LINKE & ISNARDIS, 2008, p. 33-35).