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Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 135
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
A N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O S
D E P R ÉD E P R ÉD E P R ÉD E P R É ---- A D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E S
Resumo
O presente estudo tem como objeto a manipulação do marcador discursivo “aí” em relatos de um filme narrado por
estudantes com idade entre 11 e 12 anos. Foram analisadas variações do marcador com a intenção de observar,
qualitativamente, sua função comunicativa em narrativas de pré-adolescentes. A função mais utilizada do marcador
“aí”, tendo em vista todas as narrativas analisadas, foi a de Introduzir um novo tópico. O Falante 1, por exemplo, a
empregou 5 (cinco) vezes em seu relato. Por outro lado, a função menos observada foi a de Preencher pausa,
totalizando apenas 2 (duas) ocorrências. Além disso, notou-se a ocorrência do marcador com a função de Introduzir
um novo tópico e Indicar incerteza seguida de afirmação em todas as narrativas. O aparato teórico é baseado na
Análise da Conversa. A análise foi feita a partir de gravações em áudio de relatos do filme “A chave do universo”, de
Robert Shaye (2007), assistido em ambiente escolar. Através desse trabalho, concluiu-se que a utilização da
expressão “aí” pelo falante orienta o ouvinte, tornando o discurso mais claro e contribuindo para a organização do
mesmo.
PALAVRAS-CHAVE: Marcador Discursivo; Análise da Conversa; Narrativa.
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES
Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221136
Introdução
Na década de 1990, as pesquisas
relacionadas ao discurso das narrativas
focaram-se na investigação sobre o que as
levaram a participar de forma tão atuante em
nosso dia a dia. Além disso, passou-se a
compreender a narrativa como uma figura
básica de organização entre os seres humanos,
pois, a partir dela, é possível estudar a
sociedade como um todo e considerar a
atividade de contar histórias como uma
prática social.
Nas interações cotidianas, as pessoas
falam com o intuito de comunicar algo a outra
pessoa tanto em espaço e tempo pré-
estabelecidos, como em ocasiões específicas.
Desse modo, falar funciona como um
instrumento de comunicação e vai além do
desempenho linguístico de que cada falante se
serve, ou seja, ultrapassa seu conhecimento
intuitivo e de mundo. Segundo Pedro (1996),
o objetivo fundamental e primordial de ser de
um ato linguístico – enquanto forma de ação
entre indivíduos – é produzir um sentido.
A linguagem, nessa perspectiva, vai
além de uma simples representação do
mundo. Logo que formada pelo falante,
mostra algumas das consequências que essa
percepção de mundo causa na interação.
Neves (1997) afirma que, em qualquer estágio
dessa interação, os interlocutores possuem
estratégias que mantêm entre si relações
comunicativas e sociais de caráter
pragmático. Em outras palavras, ao falar algo
para seu ouvinte, o falante pode ter por
finalidade modificar a informação pragmática
daquele.
Seguindo um viés descritivo baseado
em Marcuschi (1986), Garcez (2001), Koch
(2003), Fávero et al. (2005), dentre outros
autores, essa pesquisa buscou trazer
contribuições para a compreensão dos
benefícios e limitações do uso da partícula
“aí”, especificamente na oralidade de pré-
adolescentes; não importando o ponto de vista
conservador de gramáticos tradicionais, mas o
funcionamento da língua no processo de
comunicação.
O presente estudo justificou-se pelo
uso cada vez mais usual da partícula “aí” na
oralidade do português brasileiro. Essas
expressões são faladas em nosso cotidiano de
forma natural, funcionando como prática
social.
Nessa perspectiva, foi utilizado o
método da Análise da Conversa (AC), cujo
procedimento principal é a gravação em áudio
e a transcrição de dados das narrativas em
análise. Nesse trabalho, optou-se por fazer
apenas a gravação de conversações
espontâneas realizadas em ambiente informal
e transmitidas face a face por estudantes do
Centro Educacional Rainha da Paz, situado no
município de Teixeiras (MG).
O trabalho segue estruturado em
quatro seções, além dessa introdução. Na
seção seguinte, apresenta-se uma revisão
sobre a teoria da AC e das narrativas na
conversação, seguido pela metodologia
Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 137
utilizada no estudo. Na quarta seção, são
apresentados os resultados e a discussão da
análise dos dados. Por fim, apresentam-se as
considerações finais.
Revisão de bibliografia
Com base no panorama da Análise da
Conversa de tradição etnometodológica,
Garcez (2001) afirma que o estilo de um
acontecimento no mundo não deve ser apenas
nomeado como o uso da linguagem
organizado num cenário básico e único. Este
cenário, ou seja, a conversa cotidiana, antes
de ser nomeada, deve ser facilmente
reconhecida. Para que isso ocorra, é de
fundamental importância que se narre
histórias com pelo menos uma oração, no
transcorrer de mais de um turno, e sem que o
narrador deixe de ter a palavra.
Sob a perspectiva da Sociolinguística,
cuja importância é avaliar o nacionalismo de
uma comunidade de fala, considerando a
língua de uma maneira descontraída e
relaxada, Harvey Sacks estudou o “trabalho
interacional” de contar e de ouvir histórias em
conversações espontâneas. Segundo Sacks
([1968] 1992, 1972)1
apud Bastos (2004),
1
SACKS, H. On the analyzabilibty of stories by
children. In: GUMPERZ, John; DELL, Hymes (Org.).
Directions in sociolinguistics: the etnography of
communication. [S.l]: [s.n.], 1972.
SACKS, H. Lecture 1. “Second stories; ‘Mm hm’”;
“Story prefaces; ‘Local news’; Tellability”. In:
SACKS, H. Lectures on conversation. Oxford: Basil
Blackwell, [1968] 1992. v.1.
SACKS, H. Lecture 2. Features of a recognizable
“story”; Story prefaces; Sequential locator terms;
Lawful interruption. In: SACKS, H. Lectures on
quando a conversação acontece de maneira
natural, o narrador precisa conquistar o
espaço e a atenção do ouvinte para narrar suas
histórias. Este, por sua vez, tem que permitir
que a história seja narrada.
Para Bastos (2004), baseado nos
estudos de Sacks, é necessário realizar duas
tarefas para narrar uma história. A primeira
refere-se à solicitação da interrupção
instantânea da troca ordenada de turnos,
garantindo um espaço de tempo razoável para
que se tenha a palavra numa fala mais
extensa, sem que haja um limite no número de
palavras. O importante aqui é que a narrativa
esteja completa. A segunda tarefa diz respeito
ao fato do falante prender a atenção dos
outros participantes para que sua fala não seja
suspensa da troca ordenada de turnos. O
narrador, para conseguir um turno de fala
mais extenso que o comum, exprime um
enunciado e, através deste, sinaliza sua
intenção de produzir uma fala mais extensa.
Outra ocorrência que Sacks leva em
consideração é que as histórias narradas nas
interações cotidianas podem originar outras
narrativas. Essas outras histórias terão
características próprias como, por exemplo, o
fato delas relacionarem-se ao tópico de uma
primeira história e possuírem formas distintas
de voltar nesta primeira. A partir da segunda
história, os interlocutores mostram
compreensão e uma posição a respeito da
primeira.
conversation. Oxford: Basil Blackwell, [1968] 1992.
v.1.
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES
Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221138
Segundo Bastos (2004), as histórias
narradas são colocadas na sequência
conversacional, ou seja, uma primeira história
nunca é igual a uma segunda; os diversos
tipos de prefácios vão ocasionar outras
diversas expressões e opiniões dos ouvintes e,
com certeza, a presença ou carência dessas
manifestações terão impacto nas falas do
narrador. É por esse motivo que os autores
concordam com o fato das narrativas serem
co-construídas.
Histórias narradas mais de uma vez
pela mesma pessoa a diferentes plateias são
analisadas por Norrick (1997, 1998)2
apud
Garcez (2001, p.204). Através desse estudo, o
pesquisador busca provas de composição
talhada inicialmente nas “unidades intocadas
no seu todo”, entretanto, com “subseções
móveis e ajustadas” o quanto for preciso no
que diz respeito ao assunto existente na
narração. As semelhanças mais fortes
encontradas foram nas seções de introdução e
de conclusão da história.
Goodwin (1984)3
e Mandelbaum
(1987)4
apud Garcez (2001) estudaram o uso
das narrativas em histórias recontadas entre
indivíduos que já têm o conhecimento da
história ou já viveram algo parecido. Segundo
Mandelbaum (1987) apud Garcez (2001), o
2
NORRICK, N. R. Twice-told tales: Collaborative
narration of familiar stories. Language and Society
26. p.199-220, 1997.
3
GOODWIN, C. Notes on Story Structure and the
Organization of Participation. In: ATKINSON, J. M.;
HERITAGE, J. (Orgs.). Structures of Social Action.
p.225-246. Cambridge, Cambridge University Press,
1984.
4
MANDELBAUM, J. Couples Sharing Stories.
Communication Quarterly 35, p.14-170, 1987.
co-narrar intensifica a relação entre os
mesmos participantes do grupo que narra,
confirmando assim, que o participante
realmente faz parte e expõe os valores do
grupo. Para Garcez (2001), essas funções são
coerentes ao que Sacks apresentou em seus
trabalhos, já que elas atendem aos propósitos
de intersubjetividade, trocando informações
em si perifericamente.
Por fim, Castelano e Ladeira (2009)
estudaram o uso dos marcadores discursivos
“assim”, “tipo” e “tipo assim” em narrativas
orais de estudantes universitários, mostrando
as suas diversas funções discursivo-
interacionais na sequencialidade da narrativa.
Segundo as autoras, a utilização dessas
partículas expressivas tem relação com o fato
dos interlocutores buscarem um maior grau de
entendimento na conversa.
A AC preocupa-se com os eventos de
fala na interação cotidiana por meio do uso da
linguagem, a partir de palavras, frases,
marcadores conversacionais (MC’s) - como
“né”, “então” e “aí” - e recursos não-verbais,
como as pausas, os risos e os gestos.
De acordo com a AC, marcadores
conversacionais (ou marcadores discursivos,
operadores argumentativos – não há
conformidade na literatura a respeito da
denominação) é uma expressão abrangente
que recupera construções que agem tanto no
plano textual, estabelecendo ligações coesivas
entre partes do texto, como no plano
interpessoal, sustentando a interação
falante/ouvinte e ajudando no planejamento
Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 139
da fala (MARCUSCHI, 1986). Contudo,
nesse trabalho, será considerado apenas o
segundo plano.
Não existe um consenso a respeito da
função dos marcadores, principalmente, em
relação à sintaxe. De acordo com Fávero et al.
(2005), até meados do século XX, a língua
falada foi comparada a um ambiente de
desordem por abranger um alto volume de
elementos pragmáticos – como os
alongamentos de vogais e consoantes, pausas,
repetições, truncamento etc. Entretanto, sob o
ponto de vista da Linguística, Sociologia e da
Antropologia, Harvey Sacks, Emanuel
Schegloff e Gail Jefferson iniciaram seus
estudos sistemáticos a respeito da conversa.
Segundo Marcuschi (1986), os MC’s
podem ser analisados como sinais produzidos
pelos falantes sob os seguintes aspectos:
sustentar o turno, preencher pausas, dar tempo
à organização do pensamento, monitorar o
ouvinte, explicitar intenções, nomear e referir
ações, marcar comunicativamente unidades
temáticas, indicar o início e o final de uma
asserção, dúvida ou indagação, avisar,
antecipar ou anunciar o que será dito, eliminar
posições anteriores, corrigir-se,
autointerpretar-se, reorganizar e reorientar o
discurso etc.
Para Koch (2003), “o texto falado não
é absolutamente caótico, desestruturado,
rudimentar. Ao contrário, ele tem uma
estruturação que lhe é próprio, ditada pelas
circunstâncias sociocognitivas de sua
produção” (p.81). Dessa forma, o importante
é pensarmos no texto como sendo um
conjunto de significados, e não uma soma de
palavras ou sentenças. Torna-se necessário
que esses significados tenham que ser
expressos, por exemplo, através de palavras e
estruturas, para que se tenha comunicação. O
interlocutor tem a necessidade de
compartilhar do conteúdo do texto para que
este tenha sentido, portanto, a noção de texto
está diretamente ligada à de discurso e de suas
manifestações – considerando que a língua é
multifuncional e social. Como afirma Koch
(2003), todos esses elementos têm funções
interligadas, já que fazem parte da produção
ou circunstância de conversação.
De acordo com Marcuschi (2007), “a
passagem do texto oral para o escrito vai
receber interferências mais ou menos
acentuadas a depender do que se tem em
vista, mas não por ser a fala insuficientemente
organizada” (p.47). Sendo assim, os dois tipos
de texto em questão não podem ser
considerados desordenados. Ao deparar-se
com uma transcrição, o leitor, que não
compartilha das informações fornecidas pelo
narrador, pode achar que este não soube
relatá-lo de maneira satisfatória – devido às
inúmeras pausas e repetições – ou não tem
domínio da norma escrita. Entretanto, se esse
mesmo leitor/interlocutor conhece a história,
o texto escrito terá sentido.
Metodologia
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES
Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221140
Este trabalho procurou analisar o uso do
marcador “aí” dentro de um contexto oral,
com base em um corpus qualitativo. Para
tanto, gravações de relatos de um filme foram
realizadas em ambiente informal e
transmitidas face a face por estudantes do 7º
ano do ensino fundamental II. A partir das
gravações em áudio, foram feitas as
transcrições dos textos orais com base na
tabela de Castilho e Preti (FÁVERO et al.
2005, p.118-119).
Foram utilizadas transcrições de três
narrativas de estudantes do Centro
Educacional Rainha da Paz com idade entre
11 e 12 anos. Para desenvolver esse trabalho,
optou-se por textos orais, já que se trata de
uma manifestação linguística informal onde
há maior recorrência do marcador discursivo
de nosso interesse. As análises foram feitas
por meio de gravações em áudio dos relatos
do filme “A chave do universo”, de Robert
Shaye (2007).
De acordo com Fávero et al. (2005),
um evento comunicativo constitui-se de certos
aspectos significativos que interferem nas
condições de produção do texto oral. Tendo
isso em vista, os participantes das narrativas
contidas na presente pesquisa foram
escolhidos de acordo com os seguintes
aspectos: a) situação discursiva informal; b)
evento de fala casual; c) prévio tópico do
evento; d) prévio objetivo do evento; e) pouco
preparo necessário para efetivação do evento;
f) participantes pré-adolescentes; e g) evento
transmitido face a face.
A análise das narrativas produzidas
pelos estudantes permitiu encontrar
acontecimentos sociais altamente
organizados, já que foi possível entender que
o filme conta a história de um casal de irmãos
que descobre uma caixa com uma série de
objetos que lhes atribui algumas habilidades
e, enquanto tentam entender o que está
acontecendo, eles percebem que estão diante
de um mistério que pode significar a salvação
do planeta Terra.
Resultados e discussão
Conforme Marcuschi (1986), quando
excluído, o marcador discursivo “aí” é
totalmente dispensável, ou seja, não faz falta e
nem dá prejuízo de significado ao relato.
Contudo, foram analisados os diversos usos
do marcador “aí” com a intenção de observar,
qualitativamente, sua função comunicativa em
narrativas de pré-adolescentes, tendo em
mente que, na língua falada, as expressões
podem mudar o significado de acordo com o
contexto em que são empregadas.
Por meio da análise foi possível
perceber que a expressão “aí” atua
diretamente na organização da fala. Nessa
perspectiva, as propostas de Marcuschi (1986)
e Fávero et al. (2005) foram adotadas como
base para identificar as funções
desempenhadas pela partícula em estudo
dentro do corpus (Tabela 1).
Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 141
Tabela 1 – Ocorrências e funções das expressões
Ocorrências
Função comunicativa
Falante 1 Falante 2 Falante 3
Introduzir um novo tópico X X X
Preencher pausa X X
Indicar incerteza seguida de afirmação X X X
Fonte: dados da pesquisa.
Conforme os dados da Tabela 1, pôde-
se observar que a expressão “aí” exerceu
todas as funções categorizadas. Porém, o
Falante 3 empregou o marcador apenas para
exercer duas funções comunicativas.
Fonte: dados da pesquisa.
Figura 1 – Número de ocorrências das expressões.
De acordo com os dados da Figura 1, a
função mais utilizada da partícula em estudo,
considerando todos os relatos analisados, foi a
de Introduzir um novo tópico. O Falante 1,
por exemplo, a empregou 5 (cinco) vezes em
seu relato. Por outro lado, a função menos
observada foi a de Preencher pausa,
totalizando apenas 2 (duas) ocorrências. Além
disso, o marcador foi empregado para
Introduzir um novo tópico e Indicar incerteza
seguida de afirmação em todas as narrativas.
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES
Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221142
Marcuschi (1986), em seus estudos
sobre os MC’s, propõe a categorização destes
em dois grupos: sinais produzidos pelos
falantes e sinais produzidos pelo ouvinte.
Entretanto, nessa pesquisa, a expressão “aí”
foi encontrada apenas no primeiro grupo, uma
vez que o ouvinte não interagiu com o falante.
Para o autor, esses sinais são pré-posicionados
no início de unidade comunicativa e orientam
o ouvinte, já que auxiliam na sustentação do
turno, preenchem pausas, dão tempo à
organização do pensamento, explicitam
intenções, indicam início e final de uma
afirmação ou dúvida.
Segundo Fávero et al. (2005), os
marcadores discursivos caracterizam-se como
tal por introduzirem períodos ou parágrafos
que se relacionam com outro que lhes precede
normalmente. São, pois, elementos que
mantêm a relação entre ideias expressas nos
períodos e enquadres distintos, garantindo a
coesão entre eles. Os autores ressaltam, ainda,
que os marcadores “agem como elementos de
segmentação ao mesmo tempo em que
suprem, em certa medida, o papel de
pontuação na fala” (p. 46). Sendo assim, os
marcadores são expressões que auxiliam a
narrativa.
Nas subseções seguintes, as
ocorrências serão explicadas individualmente,
com exemplos de todas as ocorrências
presentes nos relatos. O critério escolhido
para a categorização das expressões foi a
observação das funções pragmáticas ou
comunicativas no contexto das sequências
discursivas.
Introduzir um novo tópico
Grande ocorrência do marcador
discursivo “aí” apareceu na introdução de um
novo tópico, que é um dos aspectos
analisados por Marcuschi (1986) como sinal
produzido pelo falante.
O texto tem início com uma abertura
de um domínio de relato cuja construção é
guiada a partir da expressão “começa com”,
que ativa um modelo cognitivo não idealizado
de narrativa. Como o ouvinte presenciou os
fatos reproduzidos, nota-se que os falantes
omitem alguns dados importantes por saber
que seu ouvinte compartilha das informações
narradas.
Nos trechos seguintes, o marcador “aí”
assinala novas etapas do relato; logo,
introduzem um novo tópico, porque guiam a
abertura de espaços mentais que
contextualizam a entrada de novos
participantes da narrativa ou mesmo novas
ações executadas por eles no domínio do
relato.
Falante 1:
começa com... com... um menino ino pra
esco::::la pra fazê a última prova... pra
entrar de férias... férias... (1) aí na hora que
ele vai ele tava fazeno a prova ele não sabia
muito (2) aí ele pega a cola só que ele não
conseguiu colá... (3) aí ele foi com a irmã
Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 143
dele... aí ele foi pra ca::sa e::... foi pra casa
de::... do pai dele né? Uma chácara que o pai
dele tinha...
Falante 2:
(...) a mãe da garota jogou o coelho no lixo o
garoto pegou o coelho de novo... e depois eles
foram... (4) aí eles foram preso... todos foram
presos por causa::: por causa disso... por
causa do apagão e:: depois eles foram e
voltaram sozinhos o garoto dirigindo o
ônibus com a garotinha pra pega:: o:: resto
das pedras que tavam na casa deles (5) aí
eles viraram no:: no quintal e::: (6) aí a mão
da garotinha ficou agarrada lá dentro... (7) aí
o irmão dela conseguiu tirar e::: e eu não sei
o resto...
Falante 3:
(...) o coelhinho dizia à menininha que ela
falava tudo que ia ia acontecer pra ele e a
menininha falou (8) aí ela falou que que o
coelhinho ele tava ele tava falando que ele
tinha que voltar pro país pro mundo dele
porque ele não tava podendo ir pro futuro
porque ele não tava conseguindo mais ficar lá
(9) aí eles foram e fugiram do local onde o fbi
deixaram os pais e eles e foi pra casa dele
arrumou um esquema lá com as pedras do
baú que ele achou e pôs o coelhinho de volta
pro futuro...
Cronologicamente, o domínio do
relato é anterior ao da conversa, da realidade
dos falantes na época da interação; etapas
marcadas linguisticamente pelo marcador
“aí”. Embora sejam falas pronunciadas por
outras pessoas, o conteúdo proferido é
marcado pela interpretação do falante, pois é
a sua perspectiva que está sendo considerada.
Outro fator a ser analisado é a
mudança de entonação do falante:
Falante 1:
Uma chácara que o pai dele tinha... (10) aí
ele chegô lá:: eles acharo uma caxa... (11) aí
eles pegaro a caxa e levaram pra casa
escondido da mãe deles... aquela caxa era a
chave do uniVERso que tinha::... que era um
tempo atrás era o futuro... era... era o
futuro... da humanidade
A vivacidade ou o baixo tom de voz
ocorre de acordo com a importância dada ao
fato, ou seja, há um contínuo
comprometimento do falante em relação ao
conteúdo reproduzido.
Além disso, observou-se que, dos onze
marcadores exemplificados acima, sete deles
(nº. 1, 3, 4, 6, 7, 10 e 11) são precedidos de
pausas. Essas pausas servem para dar tempo
para o falante organizar e reconstruir falas.
Em todos os casos tem-se uma
sequência que, à primeira vista, seria
classificada sempre como introdução de
novos personagens ou fatos. Contudo, numa
análise mais atenta, percebeu-se uma sutil
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
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presença de outras manifestações que não
apenas a introdução de novos tópicos.
Preencher pausa
Observou-se que, além de Introduzir
um novo tópico, no exemplo (12), o marcador
“aí” também teve a função de preencher
pausa. Ao possibilitar uma pausa na
conversação para a organização da fala, o
marcador dá auxílio para que novas
informações sejam relatadas. Observe:
Falante 2:
(...) ela escondia tudo do:: pai dela... dos pais
deles (12) aí... aí tem o professor do::: do
garoto que foi lá ver o quê que era né? que
ele tava desconfiado (...)
Nesse caso, a expressão “aí” não
possui função sintática na estrutura oracional
e, portanto, tem a característica de marcador
conversacional proposta por Marcuschi
(1986).
Fávero et al. (2005) caracteriza este
marcador como prosódico. Ao usar a
expressão “aí” para proporcionar uma pausa
na conversação, o Falante 2 teve tempo para
organizar o pensamento no momento da fala e
dar continuidade à sua narrativa. Veja outro
exemplo:
Falante 1:
(...) aquela caxa era a chave do uniVERso
que tinha::... que era um tempo atrás era o
futuro... era... era o futuro... da humanidade
(13) aí... tinha várias coisas e deu o maior
poBREma que eles mexiam com aqueles
negócio era tipo::... magia...
Nesse trecho, pode-se notar ainda que
o discurso direto ao longo do relato confere
dramaticidade aos comentários do Falante 1
sobre os fatos que poderiam ser suprimidos
sem prejuízo para a compreensão da narrativa
– “várias coisas”, “maior problema”, “aqueles
negócios”. O falante não se preocupou em ser
específico porque sabia que o ouvinte havia
visto o filme.
Indicar incerteza seguida de afirmação
A última função analisada foi a do
marcador em estudo indicando incerteza
seguida de afirmação. Nesse momento, há
uma mudança de foco e de entonação na fala.
Algumas vezes há aumento da vivacidade ao
fazer a afirmação e, em outras, há confusão na
organização da fala. Como nos exemplos:
Falante 2:
(...) (16) aí foi o::: ela escondia tudo do:: pai
dela... dos pais deles aí... (17) aí tem o
professor do::: do garoto que foi lá ver o quê
que era né? que ele tava desconfiado e:::...
tava desconfiado e:: a mãe tava tipo
escondendo que o garoto não sabia que a
mãe dos dois ainda não tinha contado pra pra
família o quê que era... a mãe da garota
Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 145
jogou o coelho no lixo o garoto pegou o
coelho de novo... e depois eles foram... (...)
Falante 3:
(...) (18) aí quando eles tavam mexendo no::
mexendo nessas coisas é a a fbi né? ela
percebeu que a luz que ele tinha acabado a
luz de toda a cidade todo o estado e:: e foi
vindo da da casa deles (19) aí eles e a família
foi e foi preso né? junto com a junto com a
família dele que foi presa foi um coelhinho e
o coelhinho dizia a menininha que ela falava
tudo que ia ia acontecer pra ele e a
menininha falou (...)
No trecho seguinte, tem-se uma nova
situação. O Falante 1 tem uma sequência de
introdução de tópico, pausa para organização
de fala, seguida de uma afirmação. Observe
no exemplo (15):
Falante 1:
(...) (14) aí ele foi pra ca::sa e::... foi pra
casa de::... do pai dele né? Uma chácara que
o pai dele tinha... (...)(15) aí eles foram no
mar... pra::::... ver o mar né? Lógico (...)
Foi possível notar que, como afirma
Bastos (2004), as narrativas em estudo foram
co-construídas, pois cada falante contou a
história a partir de seu ponto de vista; ou seja,
narrou os acontecimentos que mais lhe
chamaram a atenção no filme.
Considerações finais
A presente pesquisa buscou investigar
o uso do marcador “aí” em narrativas orais de
pré-adolescentes, com o intuito de mostrar
suas funções discursivas para a continuidade
da conversa. A partir dos dados do corpus
analisado, percebeu-se que a partícula
expressiva em estudo assumiu 3 (três) funções
comunicativas: i) Introduzir um novo tópico;
ii) Preencher pausa; e iii) Indicar incerteza
seguida de afirmação.
Dessa forma, os resultados mostraram
que a expressão “aí” exerceu todas as funções
categorizadas. Entretanto, o Falante 3
empregou o marcador apenas para exercer
duas funções comunicativas.
A função comunicativa mais utilizada
do marcador “aí”, tendo em vista todas as
narrativas analisadas, foi a de Introdução de
um novo assunto. O Falante 1, por exemplo, a
empregou 5 (cinco) vezes em seu relato. Por
outro lado, a função menos observada foi a de
Preencher pausa, totalizando apenas 2 (duas)
ocorrências. Além disso, notou-se a ocorrência
do marcador com a função de Introduzir um novo
tópico e Indicar incerteza seguida de afirmação
em todas os relatos.
Pode-se afirmar que a análise das
narrativas produzidas pelos estudantes
permitiu encontrar acontecimentos sociais
altamente organizados, já que foi possível
entender a síntese do filme. Portanto, a
utilização da expressão “aí” pelo falante
orienta o ouvinte, tornando o discurso mais
Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES
Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221146
claro e contribuindo para a organização do
mesmo.
Referências Bibliográficas
1. CASTELANO, Karine Lôbo; LADEIRA,
Wânia Terezinha. Funções discursivo-
interacionais das expressões “assim”, “tipo” e
“tipo assim” em narrativas orais. Revista
Letra Magna, ano 06, ed. 12, p.1-17. 1º
semestre de 2010. Disponível em:
<http://www.letramagna.com/artigo24_XII.pd
f>. Acesso em: 08 mar. 2010.
2. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e
coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
3. FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE,
Maria Lúcia C. V. Oliveira; AQUINO, Zilda
G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o
ensino de língua materna. 5. ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
4. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto
e a construção dos sentidos. 7. ed. São Paulo:
Contexto, 2003.
5. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da
conversação. São Paulo: Ática, 1986.
6. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para
a escrita: atividades de retextualização. São
Paulo: Cortez, 2007.
7. NEVES, Maria Helena de Moura. A
Gramática Funcional. São Paulo: Ed. Martins
Fontes, 1997.
8. PEDRO, Emília Ribeiro. Interação verbal.
In: FARIA, Isabel Hub; PEDRO, Emília
Ribeiro; DUARTE, Inês; GOUVEIA, Carlos
A. M. (Org.). Introdução à Linguística Geral
e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho,
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  • 1. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 135 Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti A N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O SA N Á L I S E D O M A R C A D O R D I S C U R S I V O “ A Í ” E M R E L A T O S D E P R ÉD E P R ÉD E P R ÉD E P R É ---- A D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E SA D O L E S C E N T E S Resumo O presente estudo tem como objeto a manipulação do marcador discursivo “aí” em relatos de um filme narrado por estudantes com idade entre 11 e 12 anos. Foram analisadas variações do marcador com a intenção de observar, qualitativamente, sua função comunicativa em narrativas de pré-adolescentes. A função mais utilizada do marcador “aí”, tendo em vista todas as narrativas analisadas, foi a de Introduzir um novo tópico. O Falante 1, por exemplo, a empregou 5 (cinco) vezes em seu relato. Por outro lado, a função menos observada foi a de Preencher pausa, totalizando apenas 2 (duas) ocorrências. Além disso, notou-se a ocorrência do marcador com a função de Introduzir um novo tópico e Indicar incerteza seguida de afirmação em todas as narrativas. O aparato teórico é baseado na Análise da Conversa. A análise foi feita a partir de gravações em áudio de relatos do filme “A chave do universo”, de Robert Shaye (2007), assistido em ambiente escolar. Através desse trabalho, concluiu-se que a utilização da expressão “aí” pelo falante orienta o ouvinte, tornando o discurso mais claro e contribuindo para a organização do mesmo. PALAVRAS-CHAVE: Marcador Discursivo; Análise da Conversa; Narrativa. Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 2. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221136 Introdução Na década de 1990, as pesquisas relacionadas ao discurso das narrativas focaram-se na investigação sobre o que as levaram a participar de forma tão atuante em nosso dia a dia. Além disso, passou-se a compreender a narrativa como uma figura básica de organização entre os seres humanos, pois, a partir dela, é possível estudar a sociedade como um todo e considerar a atividade de contar histórias como uma prática social. Nas interações cotidianas, as pessoas falam com o intuito de comunicar algo a outra pessoa tanto em espaço e tempo pré- estabelecidos, como em ocasiões específicas. Desse modo, falar funciona como um instrumento de comunicação e vai além do desempenho linguístico de que cada falante se serve, ou seja, ultrapassa seu conhecimento intuitivo e de mundo. Segundo Pedro (1996), o objetivo fundamental e primordial de ser de um ato linguístico – enquanto forma de ação entre indivíduos – é produzir um sentido. A linguagem, nessa perspectiva, vai além de uma simples representação do mundo. Logo que formada pelo falante, mostra algumas das consequências que essa percepção de mundo causa na interação. Neves (1997) afirma que, em qualquer estágio dessa interação, os interlocutores possuem estratégias que mantêm entre si relações comunicativas e sociais de caráter pragmático. Em outras palavras, ao falar algo para seu ouvinte, o falante pode ter por finalidade modificar a informação pragmática daquele. Seguindo um viés descritivo baseado em Marcuschi (1986), Garcez (2001), Koch (2003), Fávero et al. (2005), dentre outros autores, essa pesquisa buscou trazer contribuições para a compreensão dos benefícios e limitações do uso da partícula “aí”, especificamente na oralidade de pré- adolescentes; não importando o ponto de vista conservador de gramáticos tradicionais, mas o funcionamento da língua no processo de comunicação. O presente estudo justificou-se pelo uso cada vez mais usual da partícula “aí” na oralidade do português brasileiro. Essas expressões são faladas em nosso cotidiano de forma natural, funcionando como prática social. Nessa perspectiva, foi utilizado o método da Análise da Conversa (AC), cujo procedimento principal é a gravação em áudio e a transcrição de dados das narrativas em análise. Nesse trabalho, optou-se por fazer apenas a gravação de conversações espontâneas realizadas em ambiente informal e transmitidas face a face por estudantes do Centro Educacional Rainha da Paz, situado no município de Teixeiras (MG). O trabalho segue estruturado em quatro seções, além dessa introdução. Na seção seguinte, apresenta-se uma revisão sobre a teoria da AC e das narrativas na conversação, seguido pela metodologia
  • 3. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 137 utilizada no estudo. Na quarta seção, são apresentados os resultados e a discussão da análise dos dados. Por fim, apresentam-se as considerações finais. Revisão de bibliografia Com base no panorama da Análise da Conversa de tradição etnometodológica, Garcez (2001) afirma que o estilo de um acontecimento no mundo não deve ser apenas nomeado como o uso da linguagem organizado num cenário básico e único. Este cenário, ou seja, a conversa cotidiana, antes de ser nomeada, deve ser facilmente reconhecida. Para que isso ocorra, é de fundamental importância que se narre histórias com pelo menos uma oração, no transcorrer de mais de um turno, e sem que o narrador deixe de ter a palavra. Sob a perspectiva da Sociolinguística, cuja importância é avaliar o nacionalismo de uma comunidade de fala, considerando a língua de uma maneira descontraída e relaxada, Harvey Sacks estudou o “trabalho interacional” de contar e de ouvir histórias em conversações espontâneas. Segundo Sacks ([1968] 1992, 1972)1 apud Bastos (2004), 1 SACKS, H. On the analyzabilibty of stories by children. In: GUMPERZ, John; DELL, Hymes (Org.). Directions in sociolinguistics: the etnography of communication. [S.l]: [s.n.], 1972. SACKS, H. Lecture 1. “Second stories; ‘Mm hm’”; “Story prefaces; ‘Local news’; Tellability”. In: SACKS, H. Lectures on conversation. Oxford: Basil Blackwell, [1968] 1992. v.1. SACKS, H. Lecture 2. Features of a recognizable “story”; Story prefaces; Sequential locator terms; Lawful interruption. In: SACKS, H. Lectures on quando a conversação acontece de maneira natural, o narrador precisa conquistar o espaço e a atenção do ouvinte para narrar suas histórias. Este, por sua vez, tem que permitir que a história seja narrada. Para Bastos (2004), baseado nos estudos de Sacks, é necessário realizar duas tarefas para narrar uma história. A primeira refere-se à solicitação da interrupção instantânea da troca ordenada de turnos, garantindo um espaço de tempo razoável para que se tenha a palavra numa fala mais extensa, sem que haja um limite no número de palavras. O importante aqui é que a narrativa esteja completa. A segunda tarefa diz respeito ao fato do falante prender a atenção dos outros participantes para que sua fala não seja suspensa da troca ordenada de turnos. O narrador, para conseguir um turno de fala mais extenso que o comum, exprime um enunciado e, através deste, sinaliza sua intenção de produzir uma fala mais extensa. Outra ocorrência que Sacks leva em consideração é que as histórias narradas nas interações cotidianas podem originar outras narrativas. Essas outras histórias terão características próprias como, por exemplo, o fato delas relacionarem-se ao tópico de uma primeira história e possuírem formas distintas de voltar nesta primeira. A partir da segunda história, os interlocutores mostram compreensão e uma posição a respeito da primeira. conversation. Oxford: Basil Blackwell, [1968] 1992. v.1. Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 4. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221138 Segundo Bastos (2004), as histórias narradas são colocadas na sequência conversacional, ou seja, uma primeira história nunca é igual a uma segunda; os diversos tipos de prefácios vão ocasionar outras diversas expressões e opiniões dos ouvintes e, com certeza, a presença ou carência dessas manifestações terão impacto nas falas do narrador. É por esse motivo que os autores concordam com o fato das narrativas serem co-construídas. Histórias narradas mais de uma vez pela mesma pessoa a diferentes plateias são analisadas por Norrick (1997, 1998)2 apud Garcez (2001, p.204). Através desse estudo, o pesquisador busca provas de composição talhada inicialmente nas “unidades intocadas no seu todo”, entretanto, com “subseções móveis e ajustadas” o quanto for preciso no que diz respeito ao assunto existente na narração. As semelhanças mais fortes encontradas foram nas seções de introdução e de conclusão da história. Goodwin (1984)3 e Mandelbaum (1987)4 apud Garcez (2001) estudaram o uso das narrativas em histórias recontadas entre indivíduos que já têm o conhecimento da história ou já viveram algo parecido. Segundo Mandelbaum (1987) apud Garcez (2001), o 2 NORRICK, N. R. Twice-told tales: Collaborative narration of familiar stories. Language and Society 26. p.199-220, 1997. 3 GOODWIN, C. Notes on Story Structure and the Organization of Participation. In: ATKINSON, J. M.; HERITAGE, J. (Orgs.). Structures of Social Action. p.225-246. Cambridge, Cambridge University Press, 1984. 4 MANDELBAUM, J. Couples Sharing Stories. Communication Quarterly 35, p.14-170, 1987. co-narrar intensifica a relação entre os mesmos participantes do grupo que narra, confirmando assim, que o participante realmente faz parte e expõe os valores do grupo. Para Garcez (2001), essas funções são coerentes ao que Sacks apresentou em seus trabalhos, já que elas atendem aos propósitos de intersubjetividade, trocando informações em si perifericamente. Por fim, Castelano e Ladeira (2009) estudaram o uso dos marcadores discursivos “assim”, “tipo” e “tipo assim” em narrativas orais de estudantes universitários, mostrando as suas diversas funções discursivo- interacionais na sequencialidade da narrativa. Segundo as autoras, a utilização dessas partículas expressivas tem relação com o fato dos interlocutores buscarem um maior grau de entendimento na conversa. A AC preocupa-se com os eventos de fala na interação cotidiana por meio do uso da linguagem, a partir de palavras, frases, marcadores conversacionais (MC’s) - como “né”, “então” e “aí” - e recursos não-verbais, como as pausas, os risos e os gestos. De acordo com a AC, marcadores conversacionais (ou marcadores discursivos, operadores argumentativos – não há conformidade na literatura a respeito da denominação) é uma expressão abrangente que recupera construções que agem tanto no plano textual, estabelecendo ligações coesivas entre partes do texto, como no plano interpessoal, sustentando a interação falante/ouvinte e ajudando no planejamento
  • 5. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 139 da fala (MARCUSCHI, 1986). Contudo, nesse trabalho, será considerado apenas o segundo plano. Não existe um consenso a respeito da função dos marcadores, principalmente, em relação à sintaxe. De acordo com Fávero et al. (2005), até meados do século XX, a língua falada foi comparada a um ambiente de desordem por abranger um alto volume de elementos pragmáticos – como os alongamentos de vogais e consoantes, pausas, repetições, truncamento etc. Entretanto, sob o ponto de vista da Linguística, Sociologia e da Antropologia, Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson iniciaram seus estudos sistemáticos a respeito da conversa. Segundo Marcuschi (1986), os MC’s podem ser analisados como sinais produzidos pelos falantes sob os seguintes aspectos: sustentar o turno, preencher pausas, dar tempo à organização do pensamento, monitorar o ouvinte, explicitar intenções, nomear e referir ações, marcar comunicativamente unidades temáticas, indicar o início e o final de uma asserção, dúvida ou indagação, avisar, antecipar ou anunciar o que será dito, eliminar posições anteriores, corrigir-se, autointerpretar-se, reorganizar e reorientar o discurso etc. Para Koch (2003), “o texto falado não é absolutamente caótico, desestruturado, rudimentar. Ao contrário, ele tem uma estruturação que lhe é próprio, ditada pelas circunstâncias sociocognitivas de sua produção” (p.81). Dessa forma, o importante é pensarmos no texto como sendo um conjunto de significados, e não uma soma de palavras ou sentenças. Torna-se necessário que esses significados tenham que ser expressos, por exemplo, através de palavras e estruturas, para que se tenha comunicação. O interlocutor tem a necessidade de compartilhar do conteúdo do texto para que este tenha sentido, portanto, a noção de texto está diretamente ligada à de discurso e de suas manifestações – considerando que a língua é multifuncional e social. Como afirma Koch (2003), todos esses elementos têm funções interligadas, já que fazem parte da produção ou circunstância de conversação. De acordo com Marcuschi (2007), “a passagem do texto oral para o escrito vai receber interferências mais ou menos acentuadas a depender do que se tem em vista, mas não por ser a fala insuficientemente organizada” (p.47). Sendo assim, os dois tipos de texto em questão não podem ser considerados desordenados. Ao deparar-se com uma transcrição, o leitor, que não compartilha das informações fornecidas pelo narrador, pode achar que este não soube relatá-lo de maneira satisfatória – devido às inúmeras pausas e repetições – ou não tem domínio da norma escrita. Entretanto, se esse mesmo leitor/interlocutor conhece a história, o texto escrito terá sentido. Metodologia Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 6. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221140 Este trabalho procurou analisar o uso do marcador “aí” dentro de um contexto oral, com base em um corpus qualitativo. Para tanto, gravações de relatos de um filme foram realizadas em ambiente informal e transmitidas face a face por estudantes do 7º ano do ensino fundamental II. A partir das gravações em áudio, foram feitas as transcrições dos textos orais com base na tabela de Castilho e Preti (FÁVERO et al. 2005, p.118-119). Foram utilizadas transcrições de três narrativas de estudantes do Centro Educacional Rainha da Paz com idade entre 11 e 12 anos. Para desenvolver esse trabalho, optou-se por textos orais, já que se trata de uma manifestação linguística informal onde há maior recorrência do marcador discursivo de nosso interesse. As análises foram feitas por meio de gravações em áudio dos relatos do filme “A chave do universo”, de Robert Shaye (2007). De acordo com Fávero et al. (2005), um evento comunicativo constitui-se de certos aspectos significativos que interferem nas condições de produção do texto oral. Tendo isso em vista, os participantes das narrativas contidas na presente pesquisa foram escolhidos de acordo com os seguintes aspectos: a) situação discursiva informal; b) evento de fala casual; c) prévio tópico do evento; d) prévio objetivo do evento; e) pouco preparo necessário para efetivação do evento; f) participantes pré-adolescentes; e g) evento transmitido face a face. A análise das narrativas produzidas pelos estudantes permitiu encontrar acontecimentos sociais altamente organizados, já que foi possível entender que o filme conta a história de um casal de irmãos que descobre uma caixa com uma série de objetos que lhes atribui algumas habilidades e, enquanto tentam entender o que está acontecendo, eles percebem que estão diante de um mistério que pode significar a salvação do planeta Terra. Resultados e discussão Conforme Marcuschi (1986), quando excluído, o marcador discursivo “aí” é totalmente dispensável, ou seja, não faz falta e nem dá prejuízo de significado ao relato. Contudo, foram analisados os diversos usos do marcador “aí” com a intenção de observar, qualitativamente, sua função comunicativa em narrativas de pré-adolescentes, tendo em mente que, na língua falada, as expressões podem mudar o significado de acordo com o contexto em que são empregadas. Por meio da análise foi possível perceber que a expressão “aí” atua diretamente na organização da fala. Nessa perspectiva, as propostas de Marcuschi (1986) e Fávero et al. (2005) foram adotadas como base para identificar as funções desempenhadas pela partícula em estudo dentro do corpus (Tabela 1).
  • 7. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 141 Tabela 1 – Ocorrências e funções das expressões Ocorrências Função comunicativa Falante 1 Falante 2 Falante 3 Introduzir um novo tópico X X X Preencher pausa X X Indicar incerteza seguida de afirmação X X X Fonte: dados da pesquisa. Conforme os dados da Tabela 1, pôde- se observar que a expressão “aí” exerceu todas as funções categorizadas. Porém, o Falante 3 empregou o marcador apenas para exercer duas funções comunicativas. Fonte: dados da pesquisa. Figura 1 – Número de ocorrências das expressões. De acordo com os dados da Figura 1, a função mais utilizada da partícula em estudo, considerando todos os relatos analisados, foi a de Introduzir um novo tópico. O Falante 1, por exemplo, a empregou 5 (cinco) vezes em seu relato. Por outro lado, a função menos observada foi a de Preencher pausa, totalizando apenas 2 (duas) ocorrências. Além disso, o marcador foi empregado para Introduzir um novo tópico e Indicar incerteza seguida de afirmação em todas as narrativas. Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 8. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221142 Marcuschi (1986), em seus estudos sobre os MC’s, propõe a categorização destes em dois grupos: sinais produzidos pelos falantes e sinais produzidos pelo ouvinte. Entretanto, nessa pesquisa, a expressão “aí” foi encontrada apenas no primeiro grupo, uma vez que o ouvinte não interagiu com o falante. Para o autor, esses sinais são pré-posicionados no início de unidade comunicativa e orientam o ouvinte, já que auxiliam na sustentação do turno, preenchem pausas, dão tempo à organização do pensamento, explicitam intenções, indicam início e final de uma afirmação ou dúvida. Segundo Fávero et al. (2005), os marcadores discursivos caracterizam-se como tal por introduzirem períodos ou parágrafos que se relacionam com outro que lhes precede normalmente. São, pois, elementos que mantêm a relação entre ideias expressas nos períodos e enquadres distintos, garantindo a coesão entre eles. Os autores ressaltam, ainda, que os marcadores “agem como elementos de segmentação ao mesmo tempo em que suprem, em certa medida, o papel de pontuação na fala” (p. 46). Sendo assim, os marcadores são expressões que auxiliam a narrativa. Nas subseções seguintes, as ocorrências serão explicadas individualmente, com exemplos de todas as ocorrências presentes nos relatos. O critério escolhido para a categorização das expressões foi a observação das funções pragmáticas ou comunicativas no contexto das sequências discursivas. Introduzir um novo tópico Grande ocorrência do marcador discursivo “aí” apareceu na introdução de um novo tópico, que é um dos aspectos analisados por Marcuschi (1986) como sinal produzido pelo falante. O texto tem início com uma abertura de um domínio de relato cuja construção é guiada a partir da expressão “começa com”, que ativa um modelo cognitivo não idealizado de narrativa. Como o ouvinte presenciou os fatos reproduzidos, nota-se que os falantes omitem alguns dados importantes por saber que seu ouvinte compartilha das informações narradas. Nos trechos seguintes, o marcador “aí” assinala novas etapas do relato; logo, introduzem um novo tópico, porque guiam a abertura de espaços mentais que contextualizam a entrada de novos participantes da narrativa ou mesmo novas ações executadas por eles no domínio do relato. Falante 1: começa com... com... um menino ino pra esco::::la pra fazê a última prova... pra entrar de férias... férias... (1) aí na hora que ele vai ele tava fazeno a prova ele não sabia muito (2) aí ele pega a cola só que ele não conseguiu colá... (3) aí ele foi com a irmã
  • 9. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 143 dele... aí ele foi pra ca::sa e::... foi pra casa de::... do pai dele né? Uma chácara que o pai dele tinha... Falante 2: (...) a mãe da garota jogou o coelho no lixo o garoto pegou o coelho de novo... e depois eles foram... (4) aí eles foram preso... todos foram presos por causa::: por causa disso... por causa do apagão e:: depois eles foram e voltaram sozinhos o garoto dirigindo o ônibus com a garotinha pra pega:: o:: resto das pedras que tavam na casa deles (5) aí eles viraram no:: no quintal e::: (6) aí a mão da garotinha ficou agarrada lá dentro... (7) aí o irmão dela conseguiu tirar e::: e eu não sei o resto... Falante 3: (...) o coelhinho dizia à menininha que ela falava tudo que ia ia acontecer pra ele e a menininha falou (8) aí ela falou que que o coelhinho ele tava ele tava falando que ele tinha que voltar pro país pro mundo dele porque ele não tava podendo ir pro futuro porque ele não tava conseguindo mais ficar lá (9) aí eles foram e fugiram do local onde o fbi deixaram os pais e eles e foi pra casa dele arrumou um esquema lá com as pedras do baú que ele achou e pôs o coelhinho de volta pro futuro... Cronologicamente, o domínio do relato é anterior ao da conversa, da realidade dos falantes na época da interação; etapas marcadas linguisticamente pelo marcador “aí”. Embora sejam falas pronunciadas por outras pessoas, o conteúdo proferido é marcado pela interpretação do falante, pois é a sua perspectiva que está sendo considerada. Outro fator a ser analisado é a mudança de entonação do falante: Falante 1: Uma chácara que o pai dele tinha... (10) aí ele chegô lá:: eles acharo uma caxa... (11) aí eles pegaro a caxa e levaram pra casa escondido da mãe deles... aquela caxa era a chave do uniVERso que tinha::... que era um tempo atrás era o futuro... era... era o futuro... da humanidade A vivacidade ou o baixo tom de voz ocorre de acordo com a importância dada ao fato, ou seja, há um contínuo comprometimento do falante em relação ao conteúdo reproduzido. Além disso, observou-se que, dos onze marcadores exemplificados acima, sete deles (nº. 1, 3, 4, 6, 7, 10 e 11) são precedidos de pausas. Essas pausas servem para dar tempo para o falante organizar e reconstruir falas. Em todos os casos tem-se uma sequência que, à primeira vista, seria classificada sempre como introdução de novos personagens ou fatos. Contudo, numa análise mais atenta, percebeu-se uma sutil Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 10. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221144 presença de outras manifestações que não apenas a introdução de novos tópicos. Preencher pausa Observou-se que, além de Introduzir um novo tópico, no exemplo (12), o marcador “aí” também teve a função de preencher pausa. Ao possibilitar uma pausa na conversação para a organização da fala, o marcador dá auxílio para que novas informações sejam relatadas. Observe: Falante 2: (...) ela escondia tudo do:: pai dela... dos pais deles (12) aí... aí tem o professor do::: do garoto que foi lá ver o quê que era né? que ele tava desconfiado (...) Nesse caso, a expressão “aí” não possui função sintática na estrutura oracional e, portanto, tem a característica de marcador conversacional proposta por Marcuschi (1986). Fávero et al. (2005) caracteriza este marcador como prosódico. Ao usar a expressão “aí” para proporcionar uma pausa na conversação, o Falante 2 teve tempo para organizar o pensamento no momento da fala e dar continuidade à sua narrativa. Veja outro exemplo: Falante 1: (...) aquela caxa era a chave do uniVERso que tinha::... que era um tempo atrás era o futuro... era... era o futuro... da humanidade (13) aí... tinha várias coisas e deu o maior poBREma que eles mexiam com aqueles negócio era tipo::... magia... Nesse trecho, pode-se notar ainda que o discurso direto ao longo do relato confere dramaticidade aos comentários do Falante 1 sobre os fatos que poderiam ser suprimidos sem prejuízo para a compreensão da narrativa – “várias coisas”, “maior problema”, “aqueles negócios”. O falante não se preocupou em ser específico porque sabia que o ouvinte havia visto o filme. Indicar incerteza seguida de afirmação A última função analisada foi a do marcador em estudo indicando incerteza seguida de afirmação. Nesse momento, há uma mudança de foco e de entonação na fala. Algumas vezes há aumento da vivacidade ao fazer a afirmação e, em outras, há confusão na organização da fala. Como nos exemplos: Falante 2: (...) (16) aí foi o::: ela escondia tudo do:: pai dela... dos pais deles aí... (17) aí tem o professor do::: do garoto que foi lá ver o quê que era né? que ele tava desconfiado e:::... tava desconfiado e:: a mãe tava tipo escondendo que o garoto não sabia que a mãe dos dois ainda não tinha contado pra pra família o quê que era... a mãe da garota
  • 11. Revista Discente do CELL – nº 1 - v. 1 – 2011 (publicado no 2º sem. 2012) 145 jogou o coelho no lixo o garoto pegou o coelho de novo... e depois eles foram... (...) Falante 3: (...) (18) aí quando eles tavam mexendo no:: mexendo nessas coisas é a a fbi né? ela percebeu que a luz que ele tinha acabado a luz de toda a cidade todo o estado e:: e foi vindo da da casa deles (19) aí eles e a família foi e foi preso né? junto com a junto com a família dele que foi presa foi um coelhinho e o coelhinho dizia a menininha que ela falava tudo que ia ia acontecer pra ele e a menininha falou (...) No trecho seguinte, tem-se uma nova situação. O Falante 1 tem uma sequência de introdução de tópico, pausa para organização de fala, seguida de uma afirmação. Observe no exemplo (15): Falante 1: (...) (14) aí ele foi pra ca::sa e::... foi pra casa de::... do pai dele né? Uma chácara que o pai dele tinha... (...)(15) aí eles foram no mar... pra::::... ver o mar né? Lógico (...) Foi possível notar que, como afirma Bastos (2004), as narrativas em estudo foram co-construídas, pois cada falante contou a história a partir de seu ponto de vista; ou seja, narrou os acontecimentos que mais lhe chamaram a atenção no filme. Considerações finais A presente pesquisa buscou investigar o uso do marcador “aí” em narrativas orais de pré-adolescentes, com o intuito de mostrar suas funções discursivas para a continuidade da conversa. A partir dos dados do corpus analisado, percebeu-se que a partícula expressiva em estudo assumiu 3 (três) funções comunicativas: i) Introduzir um novo tópico; ii) Preencher pausa; e iii) Indicar incerteza seguida de afirmação. Dessa forma, os resultados mostraram que a expressão “aí” exerceu todas as funções categorizadas. Entretanto, o Falante 3 empregou o marcador apenas para exercer duas funções comunicativas. A função comunicativa mais utilizada do marcador “aí”, tendo em vista todas as narrativas analisadas, foi a de Introdução de um novo assunto. O Falante 1, por exemplo, a empregou 5 (cinco) vezes em seu relato. Por outro lado, a função menos observada foi a de Preencher pausa, totalizando apenas 2 (duas) ocorrências. Além disso, notou-se a ocorrência do marcador com a função de Introduzir um novo tópico e Indicar incerteza seguida de afirmação em todas os relatos. Pode-se afirmar que a análise das narrativas produzidas pelos estudantes permitiu encontrar acontecimentos sociais altamente organizados, já que foi possível entender a síntese do filme. Portanto, a utilização da expressão “aí” pelo falante orienta o ouvinte, tornando o discurso mais Karine Lôbo Castelano, Jaqueline Maria de Almeida e Eliana Crispim França Luquetti
  • 12. ANÁLISE DO MARCADOR DISCURSIVO “AÍ” EM RELATOS DE PRÉ-ADOLESCENTES Revista CELL - www.ichs.ufop.br/cell/ - ISSN: 2179-0221146 claro e contribuindo para a organização do mesmo. Referências Bibliográficas 1. CASTELANO, Karine Lôbo; LADEIRA, Wânia Terezinha. Funções discursivo- interacionais das expressões “assim”, “tipo” e “tipo assim” em narrativas orais. Revista Letra Magna, ano 06, ed. 12, p.1-17. 1º semestre de 2010. Disponível em: <http://www.letramagna.com/artigo24_XII.pd f>. Acesso em: 08 mar. 2010. 2. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991. 3. FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE, Maria Lúcia C. V. Oliveira; AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 4. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003. 5. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1986. 6. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2007. 7. NEVES, Maria Helena de Moura. A Gramática Funcional. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1997. 8. PEDRO, Emília Ribeiro. Interação verbal. In: FARIA, Isabel Hub; PEDRO, Emília Ribeiro; DUARTE, Inês; GOUVEIA, Carlos A. M. (Org.). Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1996. p.449-475.