1. INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE DISCURSO
O efeito ideológico de deslocamento no
discurso da imprensa sobre o MST: de pobres
da terra a baderneiros
2. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
Roteiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
3. Linguagem? Língua?
langage langue
São a mesma coisa?
Parte-se do francês “langage”,
Sendo mais geral do que “langue”,
Outro par do sistema binário.
Lyons (1981)
4. Linguagem? Língua?
São a mesma coisa?
Linguagem é mais geral!
Aplica-se a sistemas de comunicação
Artificiais Naturais
5. Linguagem? Língua?
São a mesma coisa?
Linguagem é mais geral!
Aplica-se a sistemas de comunicação
Artificiais Naturais
12. Mas, tudo é coletivo?
Mas, tudo é individual?
?
13. A LINGUAGEM EM QUESTÃO
Há diversas formas de se estudar a linguagem
Trata do DISCURSO. A palavra discurso,
etimologicamente, tem a idéia de:
A Análise do Discurso (AD), como o próprio nome
indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora
estes dois campos lhe interessem.
curso;
Percurso;
Correr por;
Movimento.
14. DISCURSO: palavra em movimento, prática de linguagem. Com
o estudo do discurso, observa-se o homem falando.
15. A Análise do Discurso (AD) não trabalha com a língua
enquanto sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com
maneiras de significar, com homens falando, considerando a
produção de sentidos.
1) Leva em conta o homem na sua história;
2) Considera os processos e condições de produção da
linguagem;
3) Estuda a relação entre os sujeitos e a língua que falam;
4) Estuda as situações em que se produz o dizer.
16. Para encontrar as regularidades da linguagem em sua
produção, o analista de discurso relaciona a língua com sua
exterioridade.
17. Isso significa dizer que o discurso não é transparente!
Há sempre algo além da materialidade...
18. Orlandi afirma que o objeto específico da AD é o discurso e
não a língua.
Em relação ao deslocamento, segundo Osakabe,
uma teoria linguística desde que vise ao discurso (isto é, desde que
coloque como objeto explicativo não a frase, mas o discurso)
necessariamente terá outros fundamentos que aqueles propostos
quer pelo estruturalismo, quer pela linguística gerativo-
transformacional (Osakabe, 1986:38)
Sua unidade de análise é o TEXTO e não o SIGNO ou a
FRASE.
TEXTO, na AD, é considerado “não em seu aspecto
extensional, mas qualitativo, como unidade signficativa da
linguagem em uso, logo unidade de análise pragmática”
(Orlandi, 1986:107)
Há um deslocamento quanto a unidade de análise
(frase/texto), o que indica uma diferença metodológica em
relação ao objeto de análise.
19. A noção de discurso, em sua definição, distancia-se da
concepção clássica como esquema elementar da comunicação,
que dispõe seus elementos, definindo o que é mensagem.
Emissor Receptor
Código
Mensagem
Referente
Canal
20. Para AD, não se trata apenas de transmissão de informação,
nem há essa linearidade na disposição dos elementos, como se
o processo fosse serializado.
Emissor e receptor se alternam. Eles realizam ao mesmo
tempo o processo de significação.
21. Desse modo, não se trata de transmissão de informação
apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que põe em
relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história,
temos um complexo processo de constituição desses sujeitos e
produção de sentidos.
22. Desse modo, não se trata de transmissão de informação
apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que põe em
relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história,
temos um complexo processo de constituição desses sujeitos e
produção de sentidos.
23. A linguagem serve para comunicar e para não comunicar.
As relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos
e seus efeitos são múltiplos e variados. Daí a definição de
discurso:
O DISCURSO É EFEITO DE SENTIDO ENTRE LOCUTORES.
25. Outro problema é confundir “discurso” com “fala”,
conforme a dicotomia proposta por Saussure.
O discurso não corresponde à noção de “fala”, pois não se
trata de opô-lo à “língua”, como sendo um sistema.
IMPORTANTE!!
26. Não considerar o discurso como “fala”, apenas uma
ocorrência casual, individual, realização do sistema, fato
histórico, a-sistemático.
O discurso apresenta suas regularidades, seu funcionamento
que é possível apreender se não opomos o social e o
histórico, o sistema e a realização, o subjetivo ao objetivo, o
processo ao produto.
27. A AD relaciona língua e discurso.
O discurso não é visto como liberdade em ato, totalmente
sem condicionantes linguísticos ou determinações históricas.
A língua não é vista como totalmente fechada em si mesma,
sem falhas ou equívocos.
1 + 1 = 3
28. IMPORTANTE
A Análise do Discurso é diferente da Análise de Conteúdo.
Análise de Conteúdo
Procura extrair sentidos dos textos, respondendo à questão:
O QUE ESTE TEXTO QUER DIZER?
29. Análise do Discurso
Considera que a linguagem não é transparente. Desse modo ela
não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do
outro lado. A questão que ela coloca é:
COMO ESTE TEXTO SIGNIFICA?
30. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
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31.
32. INTERDISCURSO E INTRADISCURSO
O fato de que há um já-dito que sustenta a possibilidade mesma
de todo o dizer é fundamental para se compreender o
funcionamento do discurso, a sua relação com os sujeitos e com a
ideologia.
33. INTERDISCURSO E INTRADISCURSO
A observação do interdiscurso nos permite remeter o dizer de
um texto a toda uma filiação de dizeres, a uma memória, e a
identificá-lo em sua historicidade, em sua significância, mostrando
seus compromissos políticos e ideológicos.
34. INTERDISCURSO E INTRADISCURSO
Disso se deduz que há uma relação entre o já-dito e o que se
está dizendo que é o que existe entre o interdiscurso e o
intradiscurso ou, em outras palavras, entre a constituição do
sentido e sua formulação.
35.
36. RESUMINDO
Interdiscuro é o lugar de formação do preconstruído.
Funciona como regulador do deslocamento das fronteiras de uma
formação discursiva (FD).
Controla as reconfigurações e permite a incorporação de
preconstruídos que lhe são exteriores.
Reconfiguração permite redefinições, apagamentos, esquecimentos
entre os elementos de saber de uma FD.
37. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
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38.
39. QUESTIONAMENTOS?
O que permite ao surfista o uso de determinados enunciados e não
outros?
O que permite ao professor do ensino básico o uso de determinados
enunciados e não outros?
O que permite ao professor universitário determinados enunciados e
não outros?
40. QUESTIONAMENTOS?
Todos são inscritos em posições que lhes permitem determinados
discursos e não permitem outros determinados discursos.
Como isso se dá?
A PARTIR DA INSCRIÇÃO NAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS (FD)
41. FOUCAULT (1969)
Uma Formação Discursiva não é atemporal.
Conta com regularidades próprias a processos temporais (há
dinamismo), estabelece articulações entre diferentes séries de
acontecimentos discursivos.
Foucault: “uma FD não é o texto ideal, contínuo, sem asperezas. É
um espaço de dissensões múltiplas, um conjunto de oposições cujos
níveis e papeis devem ser descritos.”
43. Formação Discursiva
É um conjunto de enunciados que provêm do mesmo sistema. (o
que é permitido e o que não é permitido?)
O princípio de DISPERSÃO e de REPARTIÇÃO dos enunciados é
o que delimita uma FD, de tal forma que sua DEMARCAÇÃO
revela o nível do enunciado e a descrição dos enunciados indica
a maneira pela qual se organiza o nível enunciativo,
possibilitando a individuação de uma FD.
44. Formação Discursiva
É um conjunto de enunciados que provêm do mesmo sistema. (o
que é permitido e o que não é permitido?)
45. IMPORTANTE!
Um ENUNCIADO pertence a uma FD, como uma FRASE
pertence a um TEXTO. A REGULARIDADE de uma frase é
definida pelas leis de uma língua, enquanto a regularidade dos
enunciados é definida pela formação discursiva que estabelece,
para enunciados, uma lei de coexistência.
46. PÊCHEUX (1983)
Uma FD propõe “um corpus fechado”, um espaço discursivo
dominado por condições estáveis e homogêneas, e a análise
discursiva limita-se a construir sítios de IDENTIDADE
parafrásticas intersequenciais” (GADET & HAK, 1990).
47. PÊCHEUX (1983)
Retoma as noções de processo discursivo de FD. Reforça sua
natureza DISCURSIVO-IDEOLÓGICA, relacionando-a com a
questão do SENTIDO e do SUJEITO DO DISCURSO.
Uma palavra, uma expressão ou mesmo uma proposição NÃO
TEM SENTIDO PRÓPRIO LITERAL. Seu sentido decorre das
RELAÇÕES que tais elementos linguísticos mantêm com outros
elementos pertencentes à mesma FD.
49. PÊCHEUX (1983)
Retoma as noções de processo discursivo de FD. Reforça sua
natureza DISCURSIVO-IDEOLÓGICA, relacionando-a com a
questão do SENTIDO e do SUJEITO DO DISCURSO.
50. PÊCHEUX (1983)
Uma palavra, uma expressão ou mesmo uma proposição NÃO
TEM SENTIDO PRÓPRIO LITERAL. Seu sentido decorre das
RELAÇÕES que tais elementos linguísticos mantêm com outros
elementos pertencentes à mesma FD.
51. ENFIM...
Toda FD dissimula, pela aparente TRANSPARÊNCIA DO
SENTIDO que aí se constituiu, sua dependência em relação ao
complexo dominante das FD que, por sua vez, são projeções do
complexo das FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS (FI).
52. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
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53. “As ideologias são libertadoras quando se fazem e opressoras
depois de feitas”
54. O que é ideologia?
Como se identifica com o discurso?
Ideologia e discurso são possíveis?
55. PÊCHEUX E FUCHS (1975)
A espécie discursiva pertence ao gênero ideológico.
“cada Formação Ideológica (FI) constitui um conjunto complexo
de atitudes e de representações que não são INDIVIDUAIS NEM
UNIVERSAIS, mas que se relacionam mais ou menos
diretamente a posições de classes em conflito, umas em relação
às outras.”
56. PÊCHEUX E FUCHS (1975)
Não são elementos discursivos, são exteriores às FD, porém se
“refletem” em seu interior.
Determinam o que PODE E O QUE DEVE ser dito em uma
manifestação discursiva, em uma certa relação de lugar, no
interior de um aparelho ideológico e inscrito em uma relação de
classes.
57. PÊCHEUX E FUCHS (1975)
O sentido de uma manifestação discursiva é decorrente de sua
FD.
Uma manifestação discursiva inserida em diferentes FD
produzirá sentidos diversos.
O sentido se constitui a partir das relações que as diferentes
expressões mantêm entre si, no interior de cada FD, a qual, por
sua vez, está determinada pela FI que provém.
61. Esses são traços que presidem os PROCESSOS DISCURSIVOS e
podem ser definidos como “relações de parafrasagem interiores
à matriz de sentido de uma FD” (PÊCHEUX E FUCHS)
62. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
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64. Os processos discursivos têm origem no sujeito?
Ou são determinados pela FD em que o falante se insere?
65.
66. O sujeito falante tem a “ilusão discursiva” não apenas de ser a
fonte do sentido, mas também de ter domínio de tudo aquilo
que diz.
Tem a ilusão de ser o mestre absoluto de seu próprio processo de
enunciação, dominando as estratégias discursivas necessárias
para dizer o que pretende.
67. Esses esquecimentos apontam para a constituição psíquica e
ideológica do sujeito discursivo, que é interpelado a tomar
posição na FD que o determina e que corresponde a seu lugar na
formação social.
Essa formação é responsável pelo modo de produção da
sociedade em que vive.
68. O sujeito é essencialmente representação, dependendo das
formas de linguagem que ele enuncia (pai, aluno, assistente
social) e de fato que o enunciam (pai, aluno, assistente social).
Constrói sua relação com o simbólico.
69. - Discurso: diferente de língua e fala?
- Interdiscurso, o que é e como funciona?
- Formações Discursivas: o lugar do sujeito.
- Formações Ideológicas: o lugar do sujeito discursivo.
- Sujeito: como se constitui?
- Exemplo de Análise do Discurso.
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ESTADO DO RIO DE JANEIRO
70. O texto refere-se ao discurso jornalístico, acerca do MST, de
dois veículos de comunicação escrita:
a) Folha de São Paulo
b) Revista Veja
De onde falam esses veículos?
Onde se situa o MST?
71. A serviço do Brasil: qual Brasil?
De onde se fala?
73. Discurso jornalístico trabalha com segmentação: “MORRE fulano de tal...”
MST: voz ativa.
Megainvasão: potencialização da ação.
Estado petista: governado pelo PT ou o estado todo petista?
76. Discurso
religioso
Por que não
enxadas?
Teologia da
Libertação
Função
agente
Remete-se a questões
anteriores: socialismo,
luta de classes e
outros campos
semânticos
Atualidade do tema:
reforma agrária
Imaginário
do
agricultor.
Pauperização
no conceito
PRIMEIRAS
REPORTAGENS SOBRE
O MST
78. Hino da
Independência A terra é
independência
TERRA
Poder político
Status social
Direito de
cobrar impostos
Feudalismo
(opressão)
PRIMEIRAS
REPORTAGENS SOBRE
O MST
79. Há uma dupla construção do sentido:
“olhai os pobres” e “essa brava gente brasileira”
Autores atribuem, também, o “brava gente” ao caráter
violento.
80.
81. Caráter subjetivo – foge do
princípio da neutralidade
Deslocamento de sentidos:
de “pobres” e “brava
gente” a violentos,
sequestradores etc
82.
83. Qual é o limite?
Quem determina o limite?
Discurso jurídico, discurso
da ordem
Flagrante: Art. 30 CPP
Invasão: art. 50 CP
Crime de guerra
Art. 47 da 4ª Convenção
de Haia
Chantagem: art. 158 CP
Deslocamento de sentidos:
Deslegitimar o MST