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ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ
SERVE?
ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ SERVE?
Marinho Celestino de Souza Filho[1]
Quadro nenhum está acabado,
disse certo pintor;
Se pode sem fim continuá-lo,
primeiro, ao além de outro quadro
que, feito a partir de tal forma,
tem, na tela, oculta, uma porta
que dá a um corredor
que leva a outra e a muitas portas.
João Cabral de Melo Neto
Resumo: Neste breve ensaio, pretendo mostrar o que é e para quê serve a Análise do Discurso,
pretendo, ainda, fornecer um modelo de análise sob uma perspectiva discursiva, conforme a
proposta de Michel Pechêux, além de oferecer ao leitor alguns conceitos básicos inseridos no
bojo desta disciplina.
Palavras-chave: Concepções de linguagem, Análise do Discurso, origem e importância da
Análise do Discurso e modelo de análise.
Abstract: In this brief rehearsal, I intend to show what it is and for serves the Discourse
Analysis, intend, yet, supply an analysis model under a discursive perspective, as the proposal
of Michel Pechêux, besides offering to the reader some basic concepts inserted in the bulge of
this discipline.
Key-words: language conceptions, Discourse Analysis, source and importance of the Analysis of
the Discourse and model of analysis.
INTRODUÇÃO
Antes de tratarmos (neste trabalho) da Análise do Discurso, primeiramente, devemos ter em
nosso universo mental concepções adequadas de linguagem que devem permear um trabalho
sério com a nossa principal ferramenta de trabalho; a saber; a linguagem humana.
Por isso para estudarmos, adequadamente, certa língua, devemos, antes de mais nada,
estipular critérios técnicos, científicos para tal estudo, critérios estes, criados por Ferdinand
Saussure, famoso lingüista franco-suíço, considerado o pai da ciência que estuda a linguagem
humana, isto é, a Lingüística.
Estes critérios são conhecidos na Lingüística como Diacronia e Sincronia[2], depois disso temos
que ter em nosso universo mental concepções claras de linguagem.
Em vista disso, trataremos dessas concepções de linguagem no decorrer deste trabalho e a
seguir tentaremos mostrar o que elas têm a ver com um ensino produtivo de nossa língua e, a
posteriori, com a Análise do Discurso.
Segundo Kock (1997:9) há três concepções de linguagem no decorrer da história da
humanidade:
“a. como representação(“espelho”) do mundo e do pensamento;”
“b. como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;”
“c. como forma (“lugar”) de ação ou interação;”
Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais nos interessa para este trabalho
seria a terceira, apesar de não só a primeira, como também a segunda serem muito
defendidas, atualmente, por isso, centrará o nosso trabalho naquela concepção de linguagem,
ainda assim comentaremos as três.
Vejamos: a primeira afirma que a linguagem seria, exclusivamente, para representar o mundo,
isto é, a realidade a qual nos cerca e aquilo que pensamos sobre a mesma, ou seja, seria uma
espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos, ou não, os
quais nos rodeiam.
Já a segunda seria uma linguagem centrada apenas na comunicação, a linguagem funcionaria
tão somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor
perfeitos, ideais, todavia; basta uma análise da realidade (ainda que superficial) para
percebemos que nem a linguagem e nem o processo de comunicação são tão simples assim
como quer a teoria da comunicação.
A terceira concepção, que a nosso ver é a mais interessante, a linguagem seria fruto de uma
interação entre enunciador/ enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, etc.
Prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de
comunicação, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e neste caso a
linguagem estaria, intrinsecamente, ligada com o contexto sócio-histórico-ideológico do qual
participa.
Logo, para um estudo mais sério, profundo, profícuo e produtivo de nossa língua materna,
deveríamos embasar o ensino-aprendizagem do português considerando as três concepções de
linguagem, citadas, anteriormente, aproveitando, dessa forma, o que cada uma dessas
concepções tem de relevante; isto é, no caso da primeira concepção: a linguagem como
expressão do pensamento, deve-se ensinar aos discentes a organizarem melhor e com mais
lógica, exatidão e clareza seus pensamentos, e em se tratando da segunda, a linguagem como
“ferramenta”, “instrumento” de comunicação, podemos ensinar aos nossos alunos a se
comunicarem melhor e, adequadamente, em todas as situações de interação social por que
passam.
Desse modo, também estaríamos fazendo uso da terceira concepção de linguagem: que seria a
linguagem como forma, lugar de ação/ interação social entre os indivíduos, ou seja, utilizando
ao mesmo tempo e de maneira adequada as três concepções de linguagem, estaremos
propiciando, certamente, um ensino mais produtivo de nossa língua materna. E qual a relação
destas três concepções de linguagem com a Análise do Discurso?
A relação se dará através da terceira concepção de linguagem, uma vez que para a Análise do
Discurso interessa, principalmente, esta concepção de linguagem, porque, segundo esta
concepção, o indivíduo age, reage e interage através da linguagem, a saber; as pessoas não só
consideram a comunicação, a expressão do pensamento, mas também consideram o lugar de
onde estão falando, as imagens que os interlocutores têm de si, dos outros e ainda o contexto
sócio-histórico-ideológico no qual estão inseridos.
1. Sobre a questão da análise do discurso: origem e importância.[3]
Trataremos, neste momento, da origem e da importância da Análise do Discurso, que
doravante será abreviada por A.D, por uma questão de economia lingüística.
Sendo assim, estaremos mostrando um breve histórico da A. D, vejamos.
Origem:
berço – retórica clássica de Aristóteles, porque para este filósofo os recursos retóricos e a
persuasão em contextos públicos marcavam a argumentação da época;
segunda metade do século XX, os estudos inerentes ao discurso eram direcionados pela análise
filológica que examinava o texto à luz da história;
formalistas russos – a análise de textos foi especialmente inspirada no trabalho de Propp (1958)
sobre a morfologia dos contos russos que proporcionou um dos primeiros impulsos para a
análise sistemática do discurso narrativo. Os formalistas russos contribuíram muito para os
estudos discursivos com conceitos importantes, tais como: literariedade, verossimilhança e
intertextualidade;
estruturalismo:um dos movimentos tradicionais, porém, devido ao seu caráter monológico, não
ultrapassou em seus estudos o nível da frase. O texto não foi prioridade em suas investigações,
uma vez que o objeto das pesquisas estruturais era a fala e não a escrita, os pesquisadores
estruturalistas analisavam, praticamente, tudo: o número de fonemas, os morfemas, os
sintagmas contidos na frase, mas, não ultrapassavam em suas análises os limites da sentença
ou frase. Por isso, durante o movimento estruturalista, a análise centrou-se na frase e não no
texto;
simultaneamente, a este momento histórico da lingüística, o único movimento a considerar o
texto como unidade de análise foi a Tagmênica, teoria analítica criada pelo lingüista norte-
americano Kenneth L. Pike. (que usou o termo tagmema, menor unidade significativa de uma
forma gramatical, sua correlação seria a de função ou classe gramatical em nossa língua.) cuja
intenção era traduzir os evangelhos para as línguas indígenas; por isso, os estudos de textos
desse período, tornaram-se, sem sombra de dúvida, fator relevante para os estudos discursivos,
a posteriori;
em 1950, nos estados unidos, Harris publica a obra intitulada Discourse Analysis que mostra
como analisar enunciados lingüísticos que vão além da frase;
os trabalhos de Roman Jakobson que vincularam o conceito de função da linguagem aos
estudos da língua, ao lado das propostas de Benveniste (1974) para o estudo da enunciação,
foram de extremo valor para o desenvolvimento da análise do discurso. Além disso, é
Benveniste (1974) que instaura um momento de fertilidade para os estudos discursivos, ao
definir enunciação como um processo de apropriação da língua, ou seja, a língua, vista sob este
prisma, é apenas uma possibilidade que ganha realidade somente no ato enunciativo ao
expressar sua relação com o mundo. Assim o referente, nesse caso, o mundo deixa de estar
fora da linguagem para incorporar-se à enunciação;
Acrescente-se ainda que a valorização do sujeito-locutor, ou melhor, a construção do sentido
passa por essa noção de sujeito-locutor. E isto se torna uma das contribuições mais
significativas para a Análise do Discurso, porque, consoante Benveniste, o sujeito deixa marcas,
rastros de sua presença nos enunciados por ele produzidos.
Diante do exposto, resta-nos, agora, mostrar a Análise do Discurso de origem francesa tal como
é concebida, hoje:
vínculo: tradição intelectual européia – busca no texto a reconstrução histórica do sujeito, ao
unir a reflexão do texto com a história, a linha francesa resgata a interdisciplinaridade em
análise do discurso, porque, o discurso passa a ser também objeto de estudo de historiadores e
psicólogos, por isso, tanto o marxismo quanto a psicanálise fazem parte dos estudos
discursivos;
por outro lado, a França, cuja tradição é literária, também contribuiu muito com os principais
fundamentos para a Análise do Discurso.
Michel Pêcheux, em 1969 na França, lança bases para uma análise automática do discurso.
Sendo assim, procuraremos, através desse trabalho, mostrar não só a origem da A.D, mas
também sua importância para o estudo da linguagem humana, porque, como vimos, antes da
A.D os estudos lingüísticos não ultrapassavam, praticamente, o nível da frase ou da sentença.
2. CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DO MARXISMO E DA PSICANÁLISE PARA A
ANÁLISE DO DISCURSO.
A seguir, veremos algumas das contribuições da Lingüística, do Marxismo e da Psicanálise para
a A. D.
a) Lingüística: pelo conceito de Estrutura e ainda por ser uma ciência da linguagem, garantindo,
assim, à Análise do Discurso certo rigor científico. As análises, agora, são transfrásticas, isto é,
vão além da frase.
b) Marxismo: Althusser em Aparelhos Ideológicos do Estado amplia o conceito de ideologia de
Marx, apesar de esse conceito ser altamente produtivo para a Análise do Discurso, porque,
segundo Marx e Engels a ideologia deve ser identificada com a separação que se faz entre
produção das idéias e as condições sociais e históricas em que são produzidas.
Logo, o que interessa para a Análise do Discurso no Marxismo é, justamente, essa relação da
ideologia com as condições sociais da produção do discurso e da História.
c) Psicanálise: a partir da descoberta do Inconsciente em Freud, o conceito de Sujeito sofre
uma alteração drástica nas Ciências Humanas.
Em vista disso, Lacan ao reler Freud busca no Estruturalismo, embasado em Saussure e
Jakobson um novo conceito de Inconsciente, ou seja, para Lacan o Inconsciente se estrutura a
partir de uma cadeia de significantes cuja principal característica seria a repetição e a
interferência no discurso efetivo, como se houvesse sempre ali um já-dito, um discurso
atravessado por outro discurso, isto é, o discurso Inconsciente.
Dessa forma, percebemos que as contribuições das áreas do conhecimento, acima
mencionadas: Lingüística, Marxismo e Psicanálise ajudaram (e muito) a desenvolver os estudos
inerentes ao discurso.
3. SOBRE A QUESTÃO DE ALGUNS CONCEITOS NA ANÁLISE DO DISCURSO.
A seguir trataremos de alguns conceitos concernentes à Análise do Discurso, que não é como
muita gente pensa uma disciplina autônoma, mas, uma fusão de três ramos distintos do
conhecimento científico, a saber, Lingüística, Marxismo e Psicanálise.
A Análise do Discurso pode ser considerada uma escola de origem européia, cujo pai Michel
Pêcheux lança bases para esta escola em 1969, ou de origem americana, iniciada por Harris,
em 1952, com a Obra Discourse Analysis.
Logo, a grande “sacada” [4] da A.D - Análise do Discurso seria de não mais embasar os
estudos lingüísticos no nível da frase, ou sentença isolada; agora; os estudos lingüísticos estão
no nível do discurso ou do texto.
Por isso, mostraremos, abaixo, alguns conceitos referentes a esta área tão relevante para o
estudo da linguagem humana, ou seja, conceituações referentes aos estudos ligados ao campo
do discurso, serão estes os principais conceitos que veremos:
a) Assujeitamento Ideológico: consiste em fazer com que cada indivíduo, inconscientemente,
seja levado a ocupar seu lugar na sociedade, identificando, assim, com grupos ou classes
sociais.
b) Autor: função social do sujeito que pode e deve ser definido pela escola, atravessado pela
exterioridade e pelas exigências de coerência, não - contradição, etc.
c) Condições de Produção: instância verbal da produção do discurso, determinadas pelo
contexto sócio-histórico-ideológico, os interlocutores, o lugar de onde falam à imagem que
fazem de si e do outro e do referente.
d) Diálogo: em sentido estrito, comunicação verbal entre duas pessoas, sentido amplo, como
quer Baktin, é toda comunicação verbal qualquer, forma de interação. Compreende, assim,
estritamente, um enunciado, um enunciador e um enunciatário.
e) Enunciação: emissão de um conjunto de enunciados que é produto da interação verbal de
indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá no aqui e agora sem jamais se repetir,
marca-se, exclusivamente, embora não somente, pela singularidade.
f) Enunciador: é o produtor do enunciado, isto é, o ponto de vista do locutor dependendo da
posição social que ocupa.
g) Formação Discursiva: é o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social historicamente
determinado e atravessado por uma formação ideológica. num mesmo texto podem aparecer
formações discursivas diferentes, acarretando, dessa forma, com isso, variações de sentido.
h) Formação Social: é o lugar onde se estabelecem as relações entre as classes sociais
historicamente definidas, mantendo entre si relações de aliança, antagonismo ou dominação.
i) Interdiscursividade: relação de um discurso com outros discursos.
j) Interlocução: processo de interação entre os indivíduos os quais podem usar tanto a
linguagem verbal, quanto a não-verbal.
k) Intertexto: relação de um texto com outros textos.
l) Língua: sob uma perspectiva discursiva, seria a realização concreta da fala, resultante de uma
relação não-excludente, ou seja, porque não há língua sem fala, e nem fala sem língua, uma
depende da outra para existir, a saber; a língua está para a fala, assim como a fala está para a
língua.
m) Linguagem: sob uma perspectiva do discurso, seria fruto da interação entre sujeitos
socialmente, historicamente e ideologicamente constituídos.
n) Locutor: função enunciativa que o sujeito falante exerce.
o) Polifonia: conceito criado, inicialmente, por Baktin que o aplicou à literatura, retomado,
posteriormente, por Ducrot que lhe deu um tratamento lingüístico, ou melhor, refere-se ao fato
de todo discurso está construído pelo discurso do outro, toda fala atravessada pela fala do
outro.
p) Pré-construído: todo discurso pressupõe outro discurso que lhe é anterior.
q) Regras de formação: regras constitutivas de uma formação discursiva, conceitos e diversas
estratégias capazes de explicitar, descrever uma formação discursiva, permitindo ou excluindo
certos temas ou teorias.
r) Sentido: está intrinsecamente ligado com a formação discursiva da qual participa, produzido
no processo de interlocução e atravessado pelas condições de produção (contexto sócio-
histórico-ideológico) do discurso.
s) Sujeito: sobre uma perspectiva discursiva, deixa de assumir uma noção idealista, imanente, o
sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente e interpelado pela
ideologia, ou seja, não há ideologia sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Por isso, o sujeito
não é a fonte, a origem dos sentidos, porque à sua fala atravessam outras falas, outras vozes,
enfim; outros dizeres e por que não dizer até outros não-dizeres.
t) Forma sujeito: conceito criado por Pêcheux para indicar que o sujeito é afetado pela
ideologia.
u) Superfície discursiva: constituída por um conjunto de enunciados pertencentes a uma mesma
formação discursiva.
v) Texto: unidade complexa constituída de regularidades e irregularidades cuja análise implica
suas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico, situação, interlocução),
conforme Orlandi de natureza intervalar, já que como objeto teórico não apresenta uma
unidade completa em si mesma, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos
interlocutores. E como objeto empírico de análise, pode ser considerado algo acabado, pronto
com começo, meio e fim.
w) Tipos de esquecimento: segundo Michel Pêcheux (1975), em sua obra intitulada por
“Semântica e Discurso”, traduzida por Orlandi e outros, podemos distinguir duas formas de
esquecimento:
x) Esquecimento 1 – também chamado de esquecimento ideológico, é da instância do
inconsciente, resultante do modo pelo qual a ideologia nos afeta.
y) Esquecimento 2 – é da ordem da enunciação, já que ao falarmos dizemos de uma maneira e
não de outra, estabelecemos, assim, verdadeiras relações parafrásticas as quais indicam que os
dizeres sempre podem ser outros.
Sabendo que o discurso é a matéria prima para o analista, faz-se, nesse momento, necessário
conceituar esse termo, tarefa árdua[5]por si só.
Segundo Orlandi (2001:21), discurso seria “o efeito de sentidos entre locutores.” Considerando
o Contexto Sócio-Histórico-Ideológico (condições sociais, a História Oficial e também a História
particular de cada pessoa, por fim, a ideologia que permeia as relações humanas) no qual o
discurso e o Sujeito estão inseridos, a saber; o discurso seria o resultado, a conseqüência do
efeito de sentido sobre os locutores.
Diante do exposto, tentaremos mostrar como funciona uma análise sob uma perspectiva
discursiva, isto é, tentaremos fornecer um modelo de análise embasado na linha européia de
Análise do Discurso, cujo pai é Michel Pêcheux.
4. ANÁLISE DO DISCURSO SOB UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA DA PROPAGANDA
DO JORNAL DA FOLHA DE SÃO PAULO.
A Análise do Discurso de origem francesa, atualmente, é um dos métodos mais utilizados para
analisar discursos, sejam eles orais ou não. Sem querer esgotar um discurso, mas, procurando
nele (no discurso) os prováveis sentidos que assume ou pode assumir, sem deixar de
considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está
inserido.
Além disso, procura analisar, ainda, (quase) todos os tipos de discurso possíveis, tais como:
político, pedagógico, científico, literário, das propagandas, etc.
Desse modo, analisaremos o discurso de uma propaganda do Jornal da Folha de São Paulo, isto
é, uma propaganda da Folha contida na própria Folha.
Conforme, dissemos anteriormente, o método de análise contemplará a escola francesa de
Análise do Discurso, cujos procedimentos mostraremos a seguir:
a - através de paráfrases[6] e metáforas, tentar-se-á mostrar os prováveis e até “improváveis”
efeitos de sentidos do discurso (matéria prima do analista). No que se refere principalmente à
pluralidade, várias possibilidades de leituras que um discurso pode assumir ou não;
b- através da compreensão e do entendimento das relações de inserção e de inter-ação
estabelecidas do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico, ou seja, a história de cada
sujeito, o papel que desempenha na sociedade, a posição social e a ideologia que permeia as
relações humanas, influenciando os sujeitos a tomarem certas atitudes e não outras.
Diante do exposto, resta-nos partir para a análise, propriamente dita; a propaganda que
analisaremos é a seguinte:
“Não é só a cabeça do leitor da
Folha que é mais aberta.
A mão também.”
(Imprensa, ano V, mês 11, nº 51, P 101. Folha de São Paulo).
Primeiramente, por meio da paráfrase e da metáfora, tentaremos mostrar alguns dos prováveis
efeitos de sentidos da referida propaganda.
Parafraseando-a “Não é só o intelecto do leitor da Folha que é mais aguçado.
O bolso também.”
Metaforicamente, obtemos:
a- “Não é só a cabeça do leitor da Folha que é mais aberta.” Equivale ao intelecto mais
aguçado, isto é, pessoas mais bem preparadas no que tangem à informação.
b- “A mão também”. Implica que não importa o preço que se tem de pagar, se o mais
relevante, importante é o nível de qualidade das informações prestadas.
Diante disso, falta-nos ainda discutir a relação do sujeito com o Contexto sócio-histórico-
ideológico no qual está inserido e as condições de produção desse tão referido discurso.
As condições de produção foram as seguintes:
a- o discurso foi produzido por um enunciador que trabalha na Folha de São Paulo; ou não;
porque a propaganda pode ter sido encomendada a alguém pela Folha, isto é, solicitada a um
“free lancer”, por exemplo.
b- o discurso foi escrito (e não oralizado) no próprio Jornal, visando, assim, a aumentar
significativamente o número de leitores da Folha;
c- O discurso é sobre o próprio Jornal.
Quanto ao contexto sobre o qual nos referimos acima, o discurso dessa propaganda pretende
atingir o sujeito/Leitor que está inserido na história da humanidade, concomitantemente, com a
sua própria história.
Sendo assim, torna-se imprescindível e relevante que este sujeito esteja (supostamente) bem
informado e não se importe com o preço que tem de pagar por informações de alto nível e de
excelente qualidade que (talvez) só poderão ser encontradas na Folha de São Paulo, além disso
o que se pretende, praticamente, é aumentar de forma significativa o número de assinantes
desse Jornal, ou seja, a vendagem desse periódico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que se disse (e até do que não se disse, dizendo) percebemos a grande importância
da Análise do Discurso para o desenvolvimento dos estudos lingüísticos, ou melhor, notamos a
relevância da A. D no que tange ao estudo deste fantástico, intrigante, instigante mundo que é
a linguagem humana.
REFERÊNCIAS
BAKTIN, Mikhail (1997). Marxismo e Filosofia da linguagem. 8 ed. São Paulo: Hucitec.
BENVENISTE, E. (1989). Problemas de Lingüística Geral II. Campinas: Pontes. (trad. bras. de
Problêmes de linguistique générale II, 1974.)
BRANDÃO, Helena H. Nagamine (1988). Introdução à análise do discurso. 7ed. Campinas:
Editora da UNICAMP.
CARDOSO, Sílvia Helena Barbi (1999). Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica.
CITELLI, Adilson (1995). Linguagem e Persuasão. 10 ed. São Paulo: Ática.
COSERIU, Eugenio (1998). Semántica Estructural y Semántica Cognitiva. In: MIRANDA, Luis;
Orellana, Amanda (Eds.) (1988). Actas Del II Congreso Nacional de Investigaciones Lingüístico-
Filológicas. Peru: Ed. De la Universidad Ricardo Palma.
FERRAREZI Jr, Celso (2003). Livres Pensares. Porto Velho: Edufro.
FREGE, Gottlob (1978). Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Cultrix.
GUIRALD, Pierre (1975). A Semântica. Trad. e Adapt: M.E. Mascarenhas. Rio de Janeiro: Difel.
ILARI, Rodolfo & GERALDI João Wanderley (1999). Semântica. 10 ed. Série Princípios. São
Paulo:Ática.
INDURSKY, Freda & FERREIRA, Maria Cristina Leandro (Org). (1999). Os múltiplos territórios da
Análise do Discurso. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto.
KOCH, Ingedore Villaça ( 1996). A Inter-ação pela linguagem. 3 ed. São Paulo: Contexto.
LOPES, Edward (2004). Fundamentos da Lingüística Contemporânea. 22ed. São Paulo: Cultrix.
MAINGUENEAU, Dominique (1977). Novas tendências em análise do discurso. 3ed. Campinas:
Pontes.
ORLANDI, Eni Pulcinelli (2001). Análise do discurso: princípios e procedimentos. 3ed. Campinas:
Pontes.
____________________. (1983). A Linguagem e seu funcionamento. 4ed. Campinas: Pontes.
____________________. (1996). Interpretação. Vozes: Rio de Janeiro.
____________________. (1993). Discurso e Leitura. 2ed. São Paulo: Cortez.
PÊCHEUX, Michel. (1995). Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas:
Editora da UNICAMP.
_______________. (1997). Discurso: estrutura ou acontecimento. 2ed. Campinas: Pontes.
PARTEE, Bárbara H. (1997). The development of formal Semantics in Linguistic Theory. In:
Lappin, Shalom (Ed.) (1998). The Handbook of Contemporary Semantic Theory. Massachusetts:
Blackwell Publishers.
POSSENTI, Sírio (1993). Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes.
PROPP, V. (1958). Morphology of the folktale. Bloomington: Indiana University Press.
[1] Professor de Língua Portuguesa na Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná -
RO e da E.E.E. Fundamental e Médio Governador Coronel Jorge Teixeira de Oliveira. E-mail:
marola_5@hotmail.com, fones: 69-3421-32-99 ou 99094301.
[2] Diacronia seria o estudo histórico, evolutivo de uma língua, comparando-a em época e
tempo distintos. Já a Sincronia seria recortar a língua em uma dada época ou tempo e estudá-
la, considerando, apenas, só esta época ou tempo, previamente; estabelecidos.
[3] Estarei tratando, neste trabalho, da Análise do Discurso, não pretendendo com isto, lançar
algo novo, inédito, apenas, simplesmente; refletindo sobre este fenômeno maravilhoso: a
linguagem humana.
[4] “Sacada” no sentido de descoberta.
[5] Verificando o Houaiss, encontrei, aproximadamente, dez acepções diferentes para o termo
discurso.
[6] Apesar de um considerado número de trabalhos publicados na área da Lingüística e dos
avanços inerentes ao estudo do discurso, não temos, ainda, critérios adequados para afirmar
que uma paráfrase seja melhor do que outra, isto é, não há algum critério,seja semântico, seja
pragmático, seja discursivo, seja lingüístico, até agora, o qual poderá nos garantir que uma
paráfrase seja tão boa quanto ao enunciado original, ou tão ruim.
Postado por Blog do Professor Marinho às 21:17

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Análise do discurso

  • 1. ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ SERVE? ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ SERVE? Marinho Celestino de Souza Filho[1] Quadro nenhum está acabado, disse certo pintor; Se pode sem fim continuá-lo, primeiro, ao além de outro quadro que, feito a partir de tal forma, tem, na tela, oculta, uma porta que dá a um corredor que leva a outra e a muitas portas. João Cabral de Melo Neto Resumo: Neste breve ensaio, pretendo mostrar o que é e para quê serve a Análise do Discurso, pretendo, ainda, fornecer um modelo de análise sob uma perspectiva discursiva, conforme a proposta de Michel Pechêux, além de oferecer ao leitor alguns conceitos básicos inseridos no bojo desta disciplina. Palavras-chave: Concepções de linguagem, Análise do Discurso, origem e importância da Análise do Discurso e modelo de análise. Abstract: In this brief rehearsal, I intend to show what it is and for serves the Discourse Analysis, intend, yet, supply an analysis model under a discursive perspective, as the proposal of Michel Pechêux, besides offering to the reader some basic concepts inserted in the bulge of this discipline. Key-words: language conceptions, Discourse Analysis, source and importance of the Analysis of the Discourse and model of analysis. INTRODUÇÃO Antes de tratarmos (neste trabalho) da Análise do Discurso, primeiramente, devemos ter em nosso universo mental concepções adequadas de linguagem que devem permear um trabalho sério com a nossa principal ferramenta de trabalho; a saber; a linguagem humana. Por isso para estudarmos, adequadamente, certa língua, devemos, antes de mais nada, estipular critérios técnicos, científicos para tal estudo, critérios estes, criados por Ferdinand Saussure, famoso lingüista franco-suíço, considerado o pai da ciência que estuda a linguagem humana, isto é, a Lingüística. Estes critérios são conhecidos na Lingüística como Diacronia e Sincronia[2], depois disso temos que ter em nosso universo mental concepções claras de linguagem. Em vista disso, trataremos dessas concepções de linguagem no decorrer deste trabalho e a seguir tentaremos mostrar o que elas têm a ver com um ensino produtivo de nossa língua e, a posteriori, com a Análise do Discurso. Segundo Kock (1997:9) há três concepções de linguagem no decorrer da história da humanidade: “a. como representação(“espelho”) do mundo e do pensamento;” “b. como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;” “c. como forma (“lugar”) de ação ou interação;” Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais nos interessa para este trabalho seria a terceira, apesar de não só a primeira, como também a segunda serem muito defendidas, atualmente, por isso, centrará o nosso trabalho naquela concepção de linguagem, ainda assim comentaremos as três.
  • 2. Vejamos: a primeira afirma que a linguagem seria, exclusivamente, para representar o mundo, isto é, a realidade a qual nos cerca e aquilo que pensamos sobre a mesma, ou seja, seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos, ou não, os quais nos rodeiam. Já a segunda seria uma linguagem centrada apenas na comunicação, a linguagem funcionaria tão somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor perfeitos, ideais, todavia; basta uma análise da realidade (ainda que superficial) para percebemos que nem a linguagem e nem o processo de comunicação são tão simples assim como quer a teoria da comunicação. A terceira concepção, que a nosso ver é a mais interessante, a linguagem seria fruto de uma interação entre enunciador/ enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, etc. Prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e neste caso a linguagem estaria, intrinsecamente, ligada com o contexto sócio-histórico-ideológico do qual participa. Logo, para um estudo mais sério, profundo, profícuo e produtivo de nossa língua materna, deveríamos embasar o ensino-aprendizagem do português considerando as três concepções de linguagem, citadas, anteriormente, aproveitando, dessa forma, o que cada uma dessas concepções tem de relevante; isto é, no caso da primeira concepção: a linguagem como expressão do pensamento, deve-se ensinar aos discentes a organizarem melhor e com mais lógica, exatidão e clareza seus pensamentos, e em se tratando da segunda, a linguagem como “ferramenta”, “instrumento” de comunicação, podemos ensinar aos nossos alunos a se comunicarem melhor e, adequadamente, em todas as situações de interação social por que passam. Desse modo, também estaríamos fazendo uso da terceira concepção de linguagem: que seria a linguagem como forma, lugar de ação/ interação social entre os indivíduos, ou seja, utilizando ao mesmo tempo e de maneira adequada as três concepções de linguagem, estaremos propiciando, certamente, um ensino mais produtivo de nossa língua materna. E qual a relação destas três concepções de linguagem com a Análise do Discurso? A relação se dará através da terceira concepção de linguagem, uma vez que para a Análise do Discurso interessa, principalmente, esta concepção de linguagem, porque, segundo esta concepção, o indivíduo age, reage e interage através da linguagem, a saber; as pessoas não só consideram a comunicação, a expressão do pensamento, mas também consideram o lugar de onde estão falando, as imagens que os interlocutores têm de si, dos outros e ainda o contexto sócio-histórico-ideológico no qual estão inseridos. 1. Sobre a questão da análise do discurso: origem e importância.[3] Trataremos, neste momento, da origem e da importância da Análise do Discurso, que doravante será abreviada por A.D, por uma questão de economia lingüística. Sendo assim, estaremos mostrando um breve histórico da A. D, vejamos. Origem: berço – retórica clássica de Aristóteles, porque para este filósofo os recursos retóricos e a persuasão em contextos públicos marcavam a argumentação da época; segunda metade do século XX, os estudos inerentes ao discurso eram direcionados pela análise filológica que examinava o texto à luz da história; formalistas russos – a análise de textos foi especialmente inspirada no trabalho de Propp (1958) sobre a morfologia dos contos russos que proporcionou um dos primeiros impulsos para a análise sistemática do discurso narrativo. Os formalistas russos contribuíram muito para os estudos discursivos com conceitos importantes, tais como: literariedade, verossimilhança e intertextualidade; estruturalismo:um dos movimentos tradicionais, porém, devido ao seu caráter monológico, não
  • 3. ultrapassou em seus estudos o nível da frase. O texto não foi prioridade em suas investigações, uma vez que o objeto das pesquisas estruturais era a fala e não a escrita, os pesquisadores estruturalistas analisavam, praticamente, tudo: o número de fonemas, os morfemas, os sintagmas contidos na frase, mas, não ultrapassavam em suas análises os limites da sentença ou frase. Por isso, durante o movimento estruturalista, a análise centrou-se na frase e não no texto; simultaneamente, a este momento histórico da lingüística, o único movimento a considerar o texto como unidade de análise foi a Tagmênica, teoria analítica criada pelo lingüista norte- americano Kenneth L. Pike. (que usou o termo tagmema, menor unidade significativa de uma forma gramatical, sua correlação seria a de função ou classe gramatical em nossa língua.) cuja intenção era traduzir os evangelhos para as línguas indígenas; por isso, os estudos de textos desse período, tornaram-se, sem sombra de dúvida, fator relevante para os estudos discursivos, a posteriori; em 1950, nos estados unidos, Harris publica a obra intitulada Discourse Analysis que mostra como analisar enunciados lingüísticos que vão além da frase; os trabalhos de Roman Jakobson que vincularam o conceito de função da linguagem aos estudos da língua, ao lado das propostas de Benveniste (1974) para o estudo da enunciação, foram de extremo valor para o desenvolvimento da análise do discurso. Além disso, é Benveniste (1974) que instaura um momento de fertilidade para os estudos discursivos, ao definir enunciação como um processo de apropriação da língua, ou seja, a língua, vista sob este prisma, é apenas uma possibilidade que ganha realidade somente no ato enunciativo ao expressar sua relação com o mundo. Assim o referente, nesse caso, o mundo deixa de estar fora da linguagem para incorporar-se à enunciação; Acrescente-se ainda que a valorização do sujeito-locutor, ou melhor, a construção do sentido passa por essa noção de sujeito-locutor. E isto se torna uma das contribuições mais significativas para a Análise do Discurso, porque, consoante Benveniste, o sujeito deixa marcas, rastros de sua presença nos enunciados por ele produzidos. Diante do exposto, resta-nos, agora, mostrar a Análise do Discurso de origem francesa tal como é concebida, hoje: vínculo: tradição intelectual européia – busca no texto a reconstrução histórica do sujeito, ao unir a reflexão do texto com a história, a linha francesa resgata a interdisciplinaridade em análise do discurso, porque, o discurso passa a ser também objeto de estudo de historiadores e psicólogos, por isso, tanto o marxismo quanto a psicanálise fazem parte dos estudos discursivos; por outro lado, a França, cuja tradição é literária, também contribuiu muito com os principais fundamentos para a Análise do Discurso. Michel Pêcheux, em 1969 na França, lança bases para uma análise automática do discurso. Sendo assim, procuraremos, através desse trabalho, mostrar não só a origem da A.D, mas também sua importância para o estudo da linguagem humana, porque, como vimos, antes da A.D os estudos lingüísticos não ultrapassavam, praticamente, o nível da frase ou da sentença. 2. CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DO MARXISMO E DA PSICANÁLISE PARA A ANÁLISE DO DISCURSO. A seguir, veremos algumas das contribuições da Lingüística, do Marxismo e da Psicanálise para a A. D. a) Lingüística: pelo conceito de Estrutura e ainda por ser uma ciência da linguagem, garantindo, assim, à Análise do Discurso certo rigor científico. As análises, agora, são transfrásticas, isto é, vão além da frase. b) Marxismo: Althusser em Aparelhos Ideológicos do Estado amplia o conceito de ideologia de
  • 4. Marx, apesar de esse conceito ser altamente produtivo para a Análise do Discurso, porque, segundo Marx e Engels a ideologia deve ser identificada com a separação que se faz entre produção das idéias e as condições sociais e históricas em que são produzidas. Logo, o que interessa para a Análise do Discurso no Marxismo é, justamente, essa relação da ideologia com as condições sociais da produção do discurso e da História. c) Psicanálise: a partir da descoberta do Inconsciente em Freud, o conceito de Sujeito sofre uma alteração drástica nas Ciências Humanas. Em vista disso, Lacan ao reler Freud busca no Estruturalismo, embasado em Saussure e Jakobson um novo conceito de Inconsciente, ou seja, para Lacan o Inconsciente se estrutura a partir de uma cadeia de significantes cuja principal característica seria a repetição e a interferência no discurso efetivo, como se houvesse sempre ali um já-dito, um discurso atravessado por outro discurso, isto é, o discurso Inconsciente. Dessa forma, percebemos que as contribuições das áreas do conhecimento, acima mencionadas: Lingüística, Marxismo e Psicanálise ajudaram (e muito) a desenvolver os estudos inerentes ao discurso. 3. SOBRE A QUESTÃO DE ALGUNS CONCEITOS NA ANÁLISE DO DISCURSO. A seguir trataremos de alguns conceitos concernentes à Análise do Discurso, que não é como muita gente pensa uma disciplina autônoma, mas, uma fusão de três ramos distintos do conhecimento científico, a saber, Lingüística, Marxismo e Psicanálise. A Análise do Discurso pode ser considerada uma escola de origem européia, cujo pai Michel Pêcheux lança bases para esta escola em 1969, ou de origem americana, iniciada por Harris, em 1952, com a Obra Discourse Analysis. Logo, a grande “sacada” [4] da A.D - Análise do Discurso seria de não mais embasar os estudos lingüísticos no nível da frase, ou sentença isolada; agora; os estudos lingüísticos estão no nível do discurso ou do texto. Por isso, mostraremos, abaixo, alguns conceitos referentes a esta área tão relevante para o estudo da linguagem humana, ou seja, conceituações referentes aos estudos ligados ao campo do discurso, serão estes os principais conceitos que veremos: a) Assujeitamento Ideológico: consiste em fazer com que cada indivíduo, inconscientemente, seja levado a ocupar seu lugar na sociedade, identificando, assim, com grupos ou classes sociais. b) Autor: função social do sujeito que pode e deve ser definido pela escola, atravessado pela exterioridade e pelas exigências de coerência, não - contradição, etc. c) Condições de Produção: instância verbal da produção do discurso, determinadas pelo contexto sócio-histórico-ideológico, os interlocutores, o lugar de onde falam à imagem que fazem de si e do outro e do referente. d) Diálogo: em sentido estrito, comunicação verbal entre duas pessoas, sentido amplo, como quer Baktin, é toda comunicação verbal qualquer, forma de interação. Compreende, assim, estritamente, um enunciado, um enunciador e um enunciatário. e) Enunciação: emissão de um conjunto de enunciados que é produto da interação verbal de indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá no aqui e agora sem jamais se repetir, marca-se, exclusivamente, embora não somente, pela singularidade. f) Enunciador: é o produtor do enunciado, isto é, o ponto de vista do locutor dependendo da posição social que ocupa. g) Formação Discursiva: é o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social historicamente determinado e atravessado por uma formação ideológica. num mesmo texto podem aparecer formações discursivas diferentes, acarretando, dessa forma, com isso, variações de sentido. h) Formação Social: é o lugar onde se estabelecem as relações entre as classes sociais historicamente definidas, mantendo entre si relações de aliança, antagonismo ou dominação. i) Interdiscursividade: relação de um discurso com outros discursos.
  • 5. j) Interlocução: processo de interação entre os indivíduos os quais podem usar tanto a linguagem verbal, quanto a não-verbal. k) Intertexto: relação de um texto com outros textos. l) Língua: sob uma perspectiva discursiva, seria a realização concreta da fala, resultante de uma relação não-excludente, ou seja, porque não há língua sem fala, e nem fala sem língua, uma depende da outra para existir, a saber; a língua está para a fala, assim como a fala está para a língua. m) Linguagem: sob uma perspectiva do discurso, seria fruto da interação entre sujeitos socialmente, historicamente e ideologicamente constituídos. n) Locutor: função enunciativa que o sujeito falante exerce. o) Polifonia: conceito criado, inicialmente, por Baktin que o aplicou à literatura, retomado, posteriormente, por Ducrot que lhe deu um tratamento lingüístico, ou melhor, refere-se ao fato de todo discurso está construído pelo discurso do outro, toda fala atravessada pela fala do outro. p) Pré-construído: todo discurso pressupõe outro discurso que lhe é anterior. q) Regras de formação: regras constitutivas de uma formação discursiva, conceitos e diversas estratégias capazes de explicitar, descrever uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias. r) Sentido: está intrinsecamente ligado com a formação discursiva da qual participa, produzido no processo de interlocução e atravessado pelas condições de produção (contexto sócio- histórico-ideológico) do discurso. s) Sujeito: sobre uma perspectiva discursiva, deixa de assumir uma noção idealista, imanente, o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente e interpelado pela ideologia, ou seja, não há ideologia sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Por isso, o sujeito não é a fonte, a origem dos sentidos, porque à sua fala atravessam outras falas, outras vozes, enfim; outros dizeres e por que não dizer até outros não-dizeres. t) Forma sujeito: conceito criado por Pêcheux para indicar que o sujeito é afetado pela ideologia. u) Superfície discursiva: constituída por um conjunto de enunciados pertencentes a uma mesma formação discursiva. v) Texto: unidade complexa constituída de regularidades e irregularidades cuja análise implica suas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico, situação, interlocução), conforme Orlandi de natureza intervalar, já que como objeto teórico não apresenta uma unidade completa em si mesma, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos interlocutores. E como objeto empírico de análise, pode ser considerado algo acabado, pronto com começo, meio e fim. w) Tipos de esquecimento: segundo Michel Pêcheux (1975), em sua obra intitulada por “Semântica e Discurso”, traduzida por Orlandi e outros, podemos distinguir duas formas de esquecimento: x) Esquecimento 1 – também chamado de esquecimento ideológico, é da instância do inconsciente, resultante do modo pelo qual a ideologia nos afeta. y) Esquecimento 2 – é da ordem da enunciação, já que ao falarmos dizemos de uma maneira e não de outra, estabelecemos, assim, verdadeiras relações parafrásticas as quais indicam que os dizeres sempre podem ser outros. Sabendo que o discurso é a matéria prima para o analista, faz-se, nesse momento, necessário conceituar esse termo, tarefa árdua[5]por si só. Segundo Orlandi (2001:21), discurso seria “o efeito de sentidos entre locutores.” Considerando o Contexto Sócio-Histórico-Ideológico (condições sociais, a História Oficial e também a História particular de cada pessoa, por fim, a ideologia que permeia as relações humanas) no qual o
  • 6. discurso e o Sujeito estão inseridos, a saber; o discurso seria o resultado, a conseqüência do efeito de sentido sobre os locutores. Diante do exposto, tentaremos mostrar como funciona uma análise sob uma perspectiva discursiva, isto é, tentaremos fornecer um modelo de análise embasado na linha européia de Análise do Discurso, cujo pai é Michel Pêcheux. 4. ANÁLISE DO DISCURSO SOB UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA DA PROPAGANDA DO JORNAL DA FOLHA DE SÃO PAULO. A Análise do Discurso de origem francesa, atualmente, é um dos métodos mais utilizados para analisar discursos, sejam eles orais ou não. Sem querer esgotar um discurso, mas, procurando nele (no discurso) os prováveis sentidos que assume ou pode assumir, sem deixar de considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está inserido. Além disso, procura analisar, ainda, (quase) todos os tipos de discurso possíveis, tais como: político, pedagógico, científico, literário, das propagandas, etc. Desse modo, analisaremos o discurso de uma propaganda do Jornal da Folha de São Paulo, isto é, uma propaganda da Folha contida na própria Folha. Conforme, dissemos anteriormente, o método de análise contemplará a escola francesa de Análise do Discurso, cujos procedimentos mostraremos a seguir: a - através de paráfrases[6] e metáforas, tentar-se-á mostrar os prováveis e até “improváveis” efeitos de sentidos do discurso (matéria prima do analista). No que se refere principalmente à pluralidade, várias possibilidades de leituras que um discurso pode assumir ou não; b- através da compreensão e do entendimento das relações de inserção e de inter-ação estabelecidas do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico, ou seja, a história de cada sujeito, o papel que desempenha na sociedade, a posição social e a ideologia que permeia as relações humanas, influenciando os sujeitos a tomarem certas atitudes e não outras. Diante do exposto, resta-nos partir para a análise, propriamente dita; a propaganda que analisaremos é a seguinte: “Não é só a cabeça do leitor da Folha que é mais aberta. A mão também.” (Imprensa, ano V, mês 11, nº 51, P 101. Folha de São Paulo). Primeiramente, por meio da paráfrase e da metáfora, tentaremos mostrar alguns dos prováveis efeitos de sentidos da referida propaganda. Parafraseando-a “Não é só o intelecto do leitor da Folha que é mais aguçado. O bolso também.” Metaforicamente, obtemos: a- “Não é só a cabeça do leitor da Folha que é mais aberta.” Equivale ao intelecto mais aguçado, isto é, pessoas mais bem preparadas no que tangem à informação. b- “A mão também”. Implica que não importa o preço que se tem de pagar, se o mais relevante, importante é o nível de qualidade das informações prestadas. Diante disso, falta-nos ainda discutir a relação do sujeito com o Contexto sócio-histórico- ideológico no qual está inserido e as condições de produção desse tão referido discurso. As condições de produção foram as seguintes: a- o discurso foi produzido por um enunciador que trabalha na Folha de São Paulo; ou não; porque a propaganda pode ter sido encomendada a alguém pela Folha, isto é, solicitada a um “free lancer”, por exemplo. b- o discurso foi escrito (e não oralizado) no próprio Jornal, visando, assim, a aumentar significativamente o número de leitores da Folha; c- O discurso é sobre o próprio Jornal.
  • 7. Quanto ao contexto sobre o qual nos referimos acima, o discurso dessa propaganda pretende atingir o sujeito/Leitor que está inserido na história da humanidade, concomitantemente, com a sua própria história. Sendo assim, torna-se imprescindível e relevante que este sujeito esteja (supostamente) bem informado e não se importe com o preço que tem de pagar por informações de alto nível e de excelente qualidade que (talvez) só poderão ser encontradas na Folha de São Paulo, além disso o que se pretende, praticamente, é aumentar de forma significativa o número de assinantes desse Jornal, ou seja, a vendagem desse periódico. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que se disse (e até do que não se disse, dizendo) percebemos a grande importância da Análise do Discurso para o desenvolvimento dos estudos lingüísticos, ou melhor, notamos a relevância da A. D no que tange ao estudo deste fantástico, intrigante, instigante mundo que é a linguagem humana. REFERÊNCIAS BAKTIN, Mikhail (1997). Marxismo e Filosofia da linguagem. 8 ed. São Paulo: Hucitec. BENVENISTE, E. (1989). Problemas de Lingüística Geral II. Campinas: Pontes. (trad. bras. de Problêmes de linguistique générale II, 1974.) BRANDÃO, Helena H. Nagamine (1988). Introdução à análise do discurso. 7ed. Campinas: Editora da UNICAMP. CARDOSO, Sílvia Helena Barbi (1999). Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica. CITELLI, Adilson (1995). Linguagem e Persuasão. 10 ed. São Paulo: Ática. COSERIU, Eugenio (1998). Semántica Estructural y Semántica Cognitiva. In: MIRANDA, Luis; Orellana, Amanda (Eds.) (1988). Actas Del II Congreso Nacional de Investigaciones Lingüístico- Filológicas. Peru: Ed. De la Universidad Ricardo Palma. FERRAREZI Jr, Celso (2003). Livres Pensares. Porto Velho: Edufro. FREGE, Gottlob (1978). Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Cultrix. GUIRALD, Pierre (1975). A Semântica. Trad. e Adapt: M.E. Mascarenhas. Rio de Janeiro: Difel. ILARI, Rodolfo & GERALDI João Wanderley (1999). Semântica. 10 ed. Série Princípios. São Paulo:Ática. INDURSKY, Freda & FERREIRA, Maria Cristina Leandro (Org). (1999). Os múltiplos territórios da Análise do Discurso. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto. KOCH, Ingedore Villaça ( 1996). A Inter-ação pela linguagem. 3 ed. São Paulo: Contexto. LOPES, Edward (2004). Fundamentos da Lingüística Contemporânea. 22ed. São Paulo: Cultrix. MAINGUENEAU, Dominique (1977). Novas tendências em análise do discurso. 3ed. Campinas: Pontes. ORLANDI, Eni Pulcinelli (2001). Análise do discurso: princípios e procedimentos. 3ed. Campinas: Pontes. ____________________. (1983). A Linguagem e seu funcionamento. 4ed. Campinas: Pontes. ____________________. (1996). Interpretação. Vozes: Rio de Janeiro. ____________________. (1993). Discurso e Leitura. 2ed. São Paulo: Cortez. PÊCHEUX, Michel. (1995). Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Editora da UNICAMP. _______________. (1997). Discurso: estrutura ou acontecimento. 2ed. Campinas: Pontes. PARTEE, Bárbara H. (1997). The development of formal Semantics in Linguistic Theory. In: Lappin, Shalom (Ed.) (1998). The Handbook of Contemporary Semantic Theory. Massachusetts: Blackwell Publishers. POSSENTI, Sírio (1993). Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes. PROPP, V. (1958). Morphology of the folktale. Bloomington: Indiana University Press.
  • 8. [1] Professor de Língua Portuguesa na Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná - RO e da E.E.E. Fundamental e Médio Governador Coronel Jorge Teixeira de Oliveira. E-mail: marola_5@hotmail.com, fones: 69-3421-32-99 ou 99094301. [2] Diacronia seria o estudo histórico, evolutivo de uma língua, comparando-a em época e tempo distintos. Já a Sincronia seria recortar a língua em uma dada época ou tempo e estudá- la, considerando, apenas, só esta época ou tempo, previamente; estabelecidos. [3] Estarei tratando, neste trabalho, da Análise do Discurso, não pretendendo com isto, lançar algo novo, inédito, apenas, simplesmente; refletindo sobre este fenômeno maravilhoso: a linguagem humana. [4] “Sacada” no sentido de descoberta. [5] Verificando o Houaiss, encontrei, aproximadamente, dez acepções diferentes para o termo discurso. [6] Apesar de um considerado número de trabalhos publicados na área da Lingüística e dos avanços inerentes ao estudo do discurso, não temos, ainda, critérios adequados para afirmar que uma paráfrase seja melhor do que outra, isto é, não há algum critério,seja semântico, seja pragmático, seja discursivo, seja lingüístico, até agora, o qual poderá nos garantir que uma paráfrase seja tão boa quanto ao enunciado original, ou tão ruim. Postado por Blog do Professor Marinho às 21:17