O hábito do caminho mais fácil no PT e sindicalismo
1. O hábito do caminho mais fácil
Luiz Denis Soares
28 abril 2015
No recente 23 de abril, uma quinta feira, fui cumprir uma atividade profissional na
Assembléia Legislativa da Bahia e me deparei com um debate promovido pelo PT e que
tinha como centro das atenções o Márcio Pochmann, economista, professor da
UNICAMP e presidente da Fundação Perseu Abramo. O debate versava sobre a crise
que assola o PT, nem tanto pelos efeitos da Operação Lava Jato, mas principalmente
pela paralisia do partido perante as questões colocadas pela conjuntura e pela rápida
perda de apoio na sociedade.
Acompanhei o fim do debate e uma ponderação do debatedor me chamou a atenção.
Não me lembro exatamente o termo usado mas se não foi “o hábito do caminho mais
fácil” foi algo bem próximo como uma das causas dos problemas enfrentados. Trata-se
da escolha dos caminhos para se chegar a um objetivo. Pochmann argumentava que o
PT abriu mão de trajetórias mais árduas para implantar seus programas de distribuição
de renda. E o caminho mais fácil não contribuiu para que o público beneficiário tivesse
protagonismo nas suas conquistas. E estas deixaram de ser conquistas e passaram
apenas a ser benefícios concedidos por quem ocupa a máquina governamental. Cita
como exemplo o Programa Bolsa Família que, ainda na fase Programa Fome Zero tinha
a pretensão de que a superação da pobreza fosse obra protagonizada pelos pobres. O
que obrigaria o partido e o governo a confrontar a cultura assistencialista presente em
toda a nossa história.
Com o anúncio do ato político do Primeiro de Maio a ser promovido por quatro
centrais sindicais (CUT, CTB, UGT e Nova Central) a ponderação de Pochmann me vêm
à memória. Ato-show no Terreiro de Jesus com bandas populares, entremeadas de
discursos dos dirigentes e parlamentares presentes e moradores de bairros periféricos
(predominantemente mulheres) recrutados mediante pequena ajuda de custo para
formarem a claque. Esta fórmula, rejeitada pelo sindicalismo “autêntico” dos anos 80
foi incorporada, sem sucesso, por este mesmo sindicalismo.
Manifestações desta natureza não atraem o público trabalhador por várias razões.
Uma delas é que os poderes públicos e patrões ofertam diversão de mais qualidade a
custo zero. Haja visto a proliferação de espetáculos gratuitos promovidos pela
Prefeitura de Salvador em parceria com cervejarias. E alguns sindicatos promovem
atividades mais integradoras para os seus representados.
2. O que fazer ? – inicialmente reconhecer a nova cartografia da cidade. As
manifestações populares da cidades concentraram-se durante muitos anos no eixo
Campo Grande – Praça da Sé por conta da presença do centro do poder político neste
eixo. E também neste eixo concentrava-se a vida sócio-cultural dos setores médios e
formadores de opinião. Com a construção do Centro Administrativo e posteriormente
do Shopping Iguatemi este eixo começou a deslocar-se e hoje temos vários polos
sócio-culturais sem que um deles seja a referência para a cidade. Talvez até nem
tenhamos mais espaços públicos aberto de sociabilidade como o Campo Grande. Por
conta destes deslocamentos os movimentos sociais devam fazer um esforço de
construir uma novo espaço de referência para as suas manifestações. Que
necessariamente só será construído com muita luta e enfrentamento já que estes
novos espaços só estão disponíveis para o funcionamento da “cidade” numa
perspectiva capitalista. Imagino que este novo espaço deva ser a Praça Newton Rique,
em frente ao Shopping Iguatemi por ser um local de grande visibilidade e trânsito de
pessoas. E um local onde os movimentos sociais, sindical em particular poderão
dialogar com a grande massa de trabalhadores do mercado informal e daqueles que
trabalham permanentemente em deslocamento (motoboys, ambulantes, vendedores
de alimentos e cosméticos, ...) E que já justificam outro texto