O documento descreve a literatura de cordel como uma forma de poesia popular nordestina impressa que registra eventos históricos e culturais do povo. Ela surgiu na Idade Média como cantigas de trovadores e se desenvolveu no Nordeste brasileiro a partir do século XVIII, quando poetas populares passaram a recitar versos em feiras.
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O que é Literatura de Cordel
1. O QUE É LITERATURA DE CORDEL
O cordel é conhecido como o jornal do
povo. Ele faz registro de momentos
históricos ou do contexto em que
aconteceram esses fatos. O cordel contribui,
assim, como fonte de informação histórica.
Responder esta pergunta não é tarefa das mais fáceis. É extremamente
difícil encontrar uma resposta que satisfaça a todos os estudiosos do tema. Encontramos
diversas formas de definir o que é Literatura de Cordel, também conhecida por folhetos
de feira, "folhas volantes" ou "folhas soltas" ou ainda literatura de cego1. Uma delas é
de autoria de Marco Haurélio 2, que assim a define: é “a poesia popular impressa e
herdeira do romanceiro tradicional, da literatura oral (em especial dos contos
populares, com predominância dos contos de encantamento)”.
Francisco Diniz3 recorre ao formado de cordel para definir, segundo seu
ponto de vista o que é Literatura e Cordel:
Literatura de Cordel
É poesia popular,
É história contada em versos
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar
(...)
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra
Que luta pra que um dia
Acabem a fome e miséria,
Haja paz e harmonia.4
Literatura de Cordel é, como qualquer outra forma artística, uma
manifestação cultural. Por meio da escrita são transmitidas as cantigas, os poemas e as
histórias do povo — pelo próprio povo.5 É uma modalidade impressa de poesia, original
do Nordeste do Brasil, que já foi muito estigmatizada, mas hoje em dia é bem aceita e
respeitada6, possuindo, inclusive uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel,
1
Esta nomenclatura é devido a uma lei promulgada por Dom João V, autorizando o comércio dos
folhetos pela Irmandade dos Homens Cegos de Lisboa.
2
Cordelista e pesquisador da Cultura Popular Brasileira. Coordena pela editora Nova Alexandria, a
Coleção Clássicos em Cordel. Literatura de Cordel: Tradição e modernidade in
http://www.recantodasletras.com.br/cordel/1817119. Acessado em 27 de agosto de 2012.
3
Francisco Diniz. O que é Literatura de Cordel? In http://literaturadecordel.vila.bol.com.br. Acessado em
27 de agosto de 2012.
4
Este texto faz parte do Cd Literatura de Cordel
5
http://www.lendo.org/o-que-e-literatura-de-cordel-autores-obras/
6
Araújo, A. Ana Paula de in http://www.infoescola.com/literatura/literatura-de-cordel/
2. fundada em 19887. Segundo Ana Paula Araujo 8, “devido ao linguajar despreocupado,
regionalizado e informal utilizado para a composição dos textos essa modalidade de
literatura nem sempre foi respeitada”.
Diferentemente de outras formas de literatura, o cordel é derivado da
tradição oral. Isto é, surge da fala comum das pessoas, e também das histórias como
contadas por elas, e não como fixadas no papel. A literatura nasceu oral e foi assim
durante muito tempo.
Com a diversidade de assuntos que aborda e com uma linguagem poético-
visual, o folheto de cordel atrai olhares e é – ou foi - fonte de inspiração para grandes
escritores. A admiração entre cordel e grandes autores é recíproca. Clássicos da
literatura mundial já podem ser lidos em adaptações produzidas por cordelistas e
ilustradas pelos artistas responsáveis pela xilogravura no cordel.
A Literatura de Cordel faz parte do folclore, da cultura popular. Para a
Comissão Nacional do Folclore (1995) Cultura Popular e Folclore são entendidos como
sinônimo. Pode ser assim definida: “conjunto das criações culturais de uma
comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente,
representativo de sua identidade social” 9
Luis da Câmara define o folclore como “[...] a cultura do popular, tornada
normativa pela tradição”. Portanto, para o autor o folclore é a própria cultura popular 10.
Cristiane Nepomuceno assim se posiciona quanto cultura popular:
“cultura popular que perpassa a tradição e possui característica dinâmica
e transformadora. Na cultura que ao passo que se moderniza e se
transforma, também não esquece suas raízes: À própria cultura popular e
ao povo cabe reinventar, recriar e ressignificar o seu saber e o seu saber-
fazer. Revelar a todos que seu universo vai além da conservação,
preservação ou resgate, tampouco pré-moderna e atrasada. Necessário se
faz apreender a cultura popular como resultado de momentos históricos
específicos e consequentemente dinâmica, apta a apropriar-se das práticas
culturais mais diversas e adaptá-las ao seu cotidiano”.11
7
Concebida por Gonçalo Ferreira da Silva, cearense de Ipu, poeta com raízes eruditas e populares. A
Academia acabou se fundindo com a Casa de Cultura São Saruê, criada pelo General Humberto
Pelegrino, e incorporou ao seu acervo preciosidades hoje à disposição de estudiosos e entusiastas do
cordel.
8
Araújo, A. Ana Paula de in http://www.infoescola.com/literatura/literatura-de-cordel/
9
COMISSÃO NACIONAL DE FOLCLORE. Carta do folclore brasileiro. Salvador: [s.n.], 1995, 1 In:
BRASIL. Ministério da Educação. Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em:
<http://www.fundaj.gov.br/geral/folclore/carta.pdf>. Citado por ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO ,
Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de cordel como fonte de informação. Ver
CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 | http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de
agosto de 2012.
10
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 11.ed. São Paulo: Global, 2001., p.
240. Citado por ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia
Literatura de cordel como fonte de informação. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan.
2012 | http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
11
NEPOMUCENO, Cristiane Maria. O jeito nordestino de ser globalizado. 2005, p. 31. 193 f. Tese
(Doutorado em Ciências Sociais)–Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. Disponível em:
<http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado//tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=149>. Citado por
ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de
3. Dentre as diferentes expressões da cultura popular, podemos incluir a
Literatura de Cordel.
ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL
Quando surgiu a Literatura de Cordel? Eis outra difícil pergunta a ser
respondida.
Para alguns, as origens do cordel nos remete a Idade Média. A origem dos
cordéis são as cantigas dos trovadores medievais, que comentavam as notícias da época
usando versos, que eles próprios cantavam. Esta forma literária era muito praticada
pelos trovadores, que declamavam louvações e galanteios para, quase sempre agradar
aos poderosos.12
Posteriormente, esses artistas começaram a registrar suas falas em folhas
soltas, prendendo-as em torno do corpo em barbantes para que as recitassem e, ao
mesmo tempo, garantissem as mãos livres para os movimentos.13 Esses autores,
denominados de trovadores, geralmente, quando as declamava, eram acompanhados por
uma viola, que eles mesmos tocam. 14 Eles “se apresentavam para o povo e falavam da
cultura popular da localidade, dos acontecimentos mais falados nas redondezas, de
amor, etc.”
Segundo Érica Georgino 15, o verbete "cordel" apareceu apenas em 1881,
registrado no dicionário português Caldas Aulete. Era sinônimo de publicação de baixo
valor e prestígio, como as que na época eram vendidas penduradas em cordões na porta
das livrarias - esses "varais" de literatura logo caíram em desuso, mas o nome
prevaleceu.
O termo “literatura de cordel” foi cunhado pela primeira vez pelo
pesquisador francês Raymond Cantel “para designar os folhetos da literatura popular,
vendidos nas feiras populares, pendurados em pequenas cordas, cordinhas, cordões”. 16
O CORDEL NO BRASIL
A literatura de cordel é hoje uma das mais importantes manifestações da
literatura popular brasileira. O cordel está presente em todo o Brasil, mas é no nordeste
que mostra sua força. Aqui o cordel fincou suas raízes e floresceu. Não resta a menor
dúvida entre os estudiosos que foram os portugueses os responsáveis pela introdução da
Literatura de Cordel no Brasil. No Brasil, a literatura de cordel é produção típica do
cordel como fonte de informação. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 |
http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
12
Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Ver Como surgiu
a literatura de cordel de Érica Georgino.
13
Como surgiu a literatura de cordel de Érica Georgino.
14
Araújo, A. Ana Paula de in http://www.infoescola.com/literatura/literatura-de-cordel/
15
Ver Como surgiu a literatura de cordel de Érica Georgino.
16
Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel (2005, p. 45 apud VASQUEZ, 2008, p. 11). Citado por
ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de
cordel como fonte de informação, p.11. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 |
http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
4. Nordeste. Por volta de 1750, apareceram os primeiros poetas populares que narravam
sagas em versos, visto que a maioria desse povo, sequer sabia ler e as histórias eram
decoradas e recitadas nas feiras ou nas praças17.
Foi no Nordeste, desde a época da colonização, distante dos centros do
litoral, abandonado pelas autoridades, dominado pelos grandes proprietários de terras –
os fazendeiros e senhores de engenhos, onde as leis, as normas, os valores e costumes
eram ditados por eles. Esse foi o cenário ideal para se talhado o homem nordestino –
valente e destemido.
O nordestino absorveu do colonizador europeu a poesia e a prosa
transformado em discurso em meio às multidões onde ali se estaria narrando, a modo de
reportagem, algum feito heroico, alguma novidade espetacular.
Desde os tempos medievais, mesmo nos pequenos vilarejos, existia , pelo
menos um dia da semana, quando se realizavam as tocas de mercadorias – as feiras. Era
justamente nessas ocasiões, que, “um grande número de pessoas se dirigia à cidade, e ali
os camponeses vendiam seus produtos, os comerciantes ofereciam suas mercadorias e
artistas se apresentavam para a multidão”. Em meio as transações comerciais surgia o
artista querido por muitos – o trovador ou menestrel, que logo começavam a contar
histórias de todo tipo: de aventuras, de romance, de paixões e lendas de reis valentes.
Ao final da performace, da apresentação, a plateia agradecida,
recompensava o artista, jogando moedas dentro do estojo do instrumento musical do
artista (alaúde). O trovador, satisfeito, agradecia e partia em direção a outra cidade ou
da próxima feira. 18
Segundo Paulo Moura19, “o ano de 1830 é considerado historicamente, o
ponto de partida da poesia popular nordestina. Tendo como seus primeiros
divulgadores os poetas Ugolino de Sabugi e seu irmão Nicandro, filhos do não menos
famoso Agostinho Nunes da Costa Teixeira. Estes, os primeiros cantadores da poesia
de pé de parede e dos contos que se faziam acompanhar com o repique da viola, da
rabeca, do pandeiro ou até mesmo do ganzá”.
Outros afirmam que “as honras de "pai" da literatura de cordel brasileira
cabem ao paraibano Leandro Gomes de Barros, que começou a imprimir livretos e
alcançou o mérito, digno de poucos poetas, populares ou não, de sustentar a família
apenas com os dividendos das centenas de títulos lançados”. 20
Com as primeiras publicações, a literatura de cordel se transformou na
coqueluche do nordeste, alcançando quase todos os estados nordestinos em particular e
os de todo o país, de certa forma. 21 Um dos primeiros cordéis de sucesso foi A Guerra
17
Literatura de Cordel. Poesia popular característica do Nordeste in Pedagogia & Comunicação, p. 3 in
http://educacao.uol.com.br/cultura-brasileira/literatura-de-cordel-1-poesia-popular-caracteristica-do-
nordeste.jhtm
18
Fábio Sombra. “Proseando Sobre Cordel”. Extraído do Blog Cultura Nordestina.
19
Ver Blog Educar com Cordel de Paulo Moura in http://portaldopajeu.com/index.php/cultura/42-
cultura/358-origem-da-literatura-de-cordel.html
20
Ver Como surgiu a literatura de cordel de Érica Georgino.
21
Ver Blog Educar com Cordel de Paulo Moura in http://portaldopajeu.com/index.php/cultura/42-
cultura/358-origem-da-literatura-de-cordel.html
5. de Canudos, em que o conflito de 1896 e 1897, opondo Antônio Conselheiro ao
Exército brasileiro.22
LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO
A literatura de cordel como um meio de comunicação, retrata a cultura do
povo nordestino através da expressão de seus valores, convidando a refletir acerca da
realidade da sociedade em que vivemos, possibilitando a inserção de ideias e dessa
maneira influencia e modifica o leitor por meio de seus folhetos23. A literatura de cordel
evoluiu, passando da comunicação oral para a comunicação escrita, e atualmente
modificou a forma de se comunicar com seus leitores, se desprendendo de seu suporte
tradicional, o folheto, e indo para o mundo digital24.
A incorporação dessas novas tecnologias tem garantido “a sobrevivência
dos cordelistas, que não dependiam mais de um único suporte para a produção de sua
arte”25. Esta nova forma de se comunicar e manter viva a tradição do cordel também
permitem que surjam novos autores e novas formas de colaboração. As famosas pelejas
dos folhetos de cordel foram incorporadas no meio digital e não perderam seu
dinamismo, e seus leitores podem acompanhar tanto o resultado final desse embate.
OS TEMAS
O que os cordelistas falam em seus folhetos? Na literatura de cordel
nordestina há uma grande variedade de temas, tradicionais ou contemporâneos, que
refletem a vivência popular, desde os problemas atuais até a conservação de narrativas
inspiradas no imaginário ibérico. Portanto, os temas são os mais variados.
Eis alguns temas: Romances (histórias de amor não correspondido, virtudes
ou sacrifícios); Histórias mágicas e maravilhosas (histórias da carochinha, que falam de
príncipes, fadas, dragões e reinos encantados); Histórias ligadas ao cangaço e a tema
religioso (apresentam o imaginário nordestino ligado a figuras como Lampião);
22
O tema foi “retratado em versos por João Melquíades Ferreira da Silva, que fora soldado naquelas
batalhas e se tornaria um grande nome da primeira geração de cordelistas brasileiros”. Citado por Érica
Gregorino em Como surgiu a Literatura de Cordel. Acessado em 27 de agosto de 2012.
23
SILVA, Silvio Profirio da et. al. Literatura de cordel: linguagem, comunicação, cultura, memória e
interdisciplinaridade. Raídos, Dourados, MS, v. 4, n. 7, p. 303-322, jan./jun. 2010. Citado por ASSIS,
Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de cordel
como fonte de informação, p.9. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 |
http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
24
SILVA, 2010, p. citado por ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA,
Cleiton Garcia Literatura de cordel como fonte de informação, p.9. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5,
n. 1, p. 3-21, jan. 2012 | http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
25
DINIZ, Madson Góis. Do folheto de cordel para o cordel virtual: interfaces hipertextuais da cultura
popular. Hipertextus: revista digital. v. 1. 2007. Disponível em:
<http://www.hipertextus.net/volume1/artigo11-madson-gois.pdf>. Citado por ASSIS, Regiane Alves
de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de cordel como fonte de
informação, .9. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 | http://revista.crb8.org.br.
Acessado em 28 de agosto de 2012.
6. Noticiosos (funcionam como jornais) 26; Histórias de valentia (apresentam personagens
lendários na região); Anti-heróis (falam de nordestinos que vencem mais pela esperteza
do que pela força); Humorísticos e picarescos (os mais populares); Exemplos morais
(deixam uma lição); Pelejas (relatos de cantorias entre repentistas. Os textos são frutos
da imaginação do cordelista); Folhetos de discussão (apresentam dois pontos de vista
sobre uma mesma questão) e conselhos, profecias, cachorradas, descaração, política,
educação e aqueles feitos sob encomenda. 27 Com o advento dos meios de comunicação
de massa, os astros da TV também passaram a aparecer como personagens de cordel.
No século XX, marcado pelas inovações tecnológicas, novas formas de
comunicação entre as pessoas, “o teor da literatura de cordel jamais parou de se
desenvolver. Os versos não abandonaram o tom matuto, o diálogo do sertanejo com
suas crenças, suas percepções e seus dilemas cotidianos, embora ao longo das décadas a
realidade do povo nordestino mudasse e muitos autores e leitores partissem, em ondas
migratórias, para o centro-sul do país”. 28
Segundo Mark J. Curran29 os folhetos cumpriram o papel de jornal e novela
do povo sertanejo, exerceram a função de ao mesmo tempo informar e entreter, em
muitos momentos integrando à vida nacional populações que ainda não haviam sido
atendidas pelos serviços tradicionais de comunicação.
Na opinião de Raymond Cantel30, o nosso cordel "o mais importante, no
sentido quantitativo, entre as literaturas populares do mundo" em função da quantidade
de livretos publicados.
A XILOGRAVURA
A xilogravura foi adotada pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel
como a ilustração por excelência dos folhetos de cordel. Ela é a ilustração mais
característica, mas não a única.
Como diz Marco Haurélio, “a ilustração não nasceu com o cordel.. As
primeiras publicações não utilizavam capas ilustradas. Nas primeiras publicações eram
usadas as chamadas “capas cegas”, sem qualquer ilustração”. As editoras preferiam os
desenhos e os clichês de cartões postais e com fotos de artistas de Hollywood.31
26
Como no Nordeste, no início do século XIX não havia jornais, rádio ou televisão, os cordéis passaram a
falar também sobre os acontecimentos recentes. Ver De que nos fala a literatura de cordel?
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/images/atividadespedagogicas/atividade-literatura-de-
cordel.pdf
27
Ver Blog Educar com Cordel de Paulo Moura in http://portaldopajeu.com/index.php/cultura/42-
cultura/358-origem-da-literatura-de-cordel.html
28
Mark J. Curran. Retrato do Brasil em Cordel. Citado por Érica Gregorino em Como surgiu a Literatura
de Cordel. Acessado em 27 de agosto de 2012.
29
Mark J. Curran. Retrato do Brasil em Cordel. Citado por Érica Gregorino em Como surgiu a Literatura
de Cordel. Acessado em 27 de agosto de 2012.
30
Segundo Érica Gregorino, Raymond Cantel é autoridade internacional no tema. Chegou ao Brasil na
década de 1950 para pesquisas de campo, tornou-se um dedicado colecionador das histórias e introduziu
seu estudo na Universidade de Sorbonne, em Paris. Ver Érica Gregorino in Como surgiu a Literatura de
Cordel. Acessado em 27 de agosto de 2012.
31
Literatura de Cordel: Tradição e modernidade in http://www.recantodasletras.com.br/cordel/1817119.
Acessado em 27 de agosto de 2012.
7. REPENTISTA X CORDELISTA
Por conta desta musicalidade, o cordel é constantemente confundido com o
repente. É sempre bom lembrar que repentista não é cordelista, e cordelista não é
repentista. Repentista pode ser cordelista, e vice-versa. Mas não é regra. Têm-se
registros de repentistas que se aventuram com sucesso pela literatura de cordel, apesar
de raros nos dias atuais, existem.
CLODOMIR SILVA E A CORDELTECA
Embora seja a literatura de cordel potencial fonte de informação e um meio
de comunicação de linguagem acessível, ainda são poucas as bibliotecas que possuem
folhetos em seu acervo. Cabe a toda a Biblioteca e ao “profissional bibliotecário
disponibilizar e divulgar este tipo de literatura, demonstrando seu valor e importância.
A presença da literatura de cordel na biblioteca contribui não só para a valorização de
seu conteúdo informativo, mas também de seu autor”32.
Desde ..... funciona no térreo da Biblioteca Clodomir Silva no bairro
Siqueira Campos, a primeira Cordelteca do Estado de Sergipe. A iniciativa foi do
cordelista Gilmar Santana Ferreira. Trata-se de uma pequena sala onde abriga um
minúsculo acervo cordelista sergipano bem como a biografia e foto de 36 cordelistas
sergipanos ou radicalizado aqui.
A este espaço foi dado o nome de “Cordelteca João Firmino Cabral”,
“conhecido por ser o maior cordelista do estado de Sergipe em atividade. Ele cresceu
ouvindo e lendo as histórias escritas pelo pai. É dele a missão de abrir todas as manhãs a
única barraca do Mercado Antônio Franco 33 no centro de Aracaju, destinada a literatura
de cordel. João Firmino é natural de Itabaiana, nascido no ano de 1940. Aprendeu a ler
praticamente sozinho, ouvindo as leituras do seu mestre Manoel D’Almeida Filho. Aos
dezessete anos escreveu seu primeiro folheto, uma profecia do Padre Cícero. 34
João Firmino há 55 anos tem procurado elevar a cultura nordestina. Possui
mais de 200 obras publicadas e tem grande reconhecimento fora do estado. Reina uma
certa mágoa, pois, sendo filho ilustre da terra sente muito pela desvalorização do povo
de Sergipe. “A gente aqui vende mais para turista, o pessoal daqui mesmo não leva
muito, só estudantes de escolas ou universidades”.35
32
ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia Literatura de
cordel como fonte de informação, p. 18. Ver CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 |
http://revista.crb8.org.br. Acessado em 28 de agosto de 2012.
33
horário de funcionamento: das 09 ás 17 horas.
34
http://reporterpontocom.wordpress.com/2011/04/30/o-cordel-em-sergipe/
35
http://reporterpontocom.wordpress.com/2011/04/30/o-cordel-em-sergipe/
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ASSIS, Regiane Alves de.; TENÓRIO , Carolina Martins; BARBOSA, Cleiton Garcia
Literatura de cordel como fonte de informação. Trabalho de conclusão de curso da
Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) sob orientação da Profª Dra. Tânia
Callegaro e coordenação da Profº Dra. Maria Ignês Carlos Magno. CRB-8
Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 3-21, jan. 2012 | http://revista.crb8.org.br.
Acessado em 28 de agosto de 2012.
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