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"Ondas do mar de Vigo"
Assunto: a donzela interpela as ondas sobre o paradeiro do amigo e o seu
regresso, revelando o seu sofrimento e a sua angústia pela separação.
 Tema: o apelo da donzela ao mar, pretendendo saber novas do amigo.
 Estrutura interna
1.ª parte (2 primeiras estrofes / coblas) – O sujeito poético - a donzela - interpela /
questiona as ondas do mar de Vigo sobre o paradeiro do amigo, que se
encontra ausente (tema marítimo), visível na forma verbal “vistes” e no
refrão“se verrá cedo”.
2.ª parte (3.ª e 4.ª estrofes / coblas) - Revelação dos sentimentos da donzela pelo
amigo embarcado (tema amoroso).
Semanticamente, cada par de coblas é muito semelhante. De facto,
o segundo dístico de cada par repete, com ligeira variação, o conteúdo / a
ideia do primeiro.
A nível linguístico, observa-se a troca ou alteração de palavras ou
expressões no final dos versos de cada par, sem que tal signifique uma
mudança de sentido relativamente à estrofe ímpar.
Se observarmos atentamente, concluiremos que, dentre os 12 versos
que compõem a cantiga, apenas 4 diferente em termos semânticos: o 1, o
2, o 3 e o refrão.
 Estado de espírito do “eu lírico” – a donzela
O estado de espírito da donzela é marcado pelos seguintes traços:
- saudade: “o por que eu sospiro” (v. 8);
- ansiedade: “se vistes meu amigo” (v. 2);
- agitação / inquietação;
- preocupação: “por que ei gran cuidado” (v. 11);
- amor.
A estes podem acrescentar-se a dor da separação, a tristeza e o
sofrimento pela ausência, a dúvida e a incerteza acerca do seu paradeiro,
do seu regresso, do seu estado físico. Todos estes sentimentos
revelam a sua coita de amor.
 Causas do estado de espírito:
a) a separação do seu amigo;
b) a demora dele;
c) a incerteza acerca da sua chegada e estado.
 Ambiente: natural, marítimo (o mar).
 Relação entre o estado de espírito do «eu» e o ambiente
A donzela encontra-se sozinha junto ao mar (note-se que, na Poesia
Trovadoresca, o trovador designava por «mar» aquilo que atualmente
chamamos «rio» ou «baía»), observando-o, mar esse que lhe parece cada
vez mais agitado, espelhando essa visão / imagem o seu estado de espírito
(cada vez mais agitado também) e as suas emoções, como se pode
constatar pelo verso 11.
 Papel das ondas do mar:
-» confidente;
-» cenário;
-» mensageiras.
As ondas são um elemento essencial na construção do ambiente /
cenário.
Além disso, constituem o confidente a quem a menina se dirige,
expressando os seus sentimentos e emoções, as suas dúvidas sobre o
paradeiro do amigo, e que questiona sobre a sua chegada.
 Simbologia:
a) Ondas:
- traduzem o tumulto interior da donzela;
- são o seu confidente, em substituição da mãe ou amiga.
b) Mar:
- confidente (as ondas);
- a causa da separação física, o obstáculo que se interpõe entre a
donzela e o amigo;
- apresenta-se com ondas, revolto e bravo, constituindo assim um
obstáculo acrescido;
- terá sido por ele que o amado da jovem terá partido, daí que ela
lá se encontre, esperando o seu regresso.
 Esquema actancial
 Esquema estrutural da cantiga
 Recursos poético-estilísticos
1.º) Nível fónico
. Estrofes
- (isométricas): dois versos hexassílabos (seis sílabas) + refrão  terceto;
- quatro coblas em dísticos e um refrão monóstico.
. Rima - esquema rimático: AAR / BBR;
- emparelhada;
- consoante ("Vigo" / "amigo") e toante ("amigo" / "sospiro");
- grave;
- rica ("levado" / "amado") e pobre ("Vigo" / "amigo").
. Refrão: o refrão atesta a existência de um coro. A disposição das estrofes aos pares
e a alternância das rimas ao longo da composição (ver paralelismo) deixam
antever que se alternavam dois cantores ou dois grupos de cantores.
No caso presente, pelo seu caráter repetitivo (a repetição de um verso
exclamativo, expressivo da saudade e da inquietação da donzela), realça o
estado de espírito da donzela, acentuando o seu sofrimento, a sua
ansiedade e angústia, e sugere a espera do amigo. Neste contexto, há que
destacar o valor semântico da locução interjetiva “ai Deus”, que constitui
uma espécie de desabafo e de interpelação direta de Deus no sentido de
que o amigo regresse rapidamente e bem.
Por outro lado, o refrão possui um valor documental inequívoco, pois
reflete o clima de grande religiosidade da época e sugere a transmissão oral
das cantigas, daí a sua natureza repetitiva.
Metro: versos hexassílabos (6 sílabas).
. Aliteração: som v, sugerindo o movimento das ondas do mar e o tumultuar
dos sentimentos da donzela, a sua instabilidade;
a sibilante s indica a continuidade da espera.
. Sons dominantes: os fonemas fechados transmitem sofrimento e tristeza.
. Assonância: alternância i / a.
 Valor documental
Esta cantiga pertence ao subgénero da marinha ou barcarola.
As barcarolas ou marinhas são originárias da parte ocidental da
Península Ibérica (Portugal e Galiza) e documentam as tendências naturais
e o modo de vida de um povo criado à beira-mar. Reflectem também as
necessidades de defesa costeira na luta contra os mouros.
A sua simplicidade reflecte a verdadeira origem popular e a
sinceridade e espontaneidade emotivas das donzelas, em relação ao amado
ou amigo.
[1] Paralelismo perfeito: artifício da lírica trovadoresca que consiste na
construção da cantiga através da repetição do segundo verso da primeira cobla,
com o primeiro verso da terceira cobla e assim sucessivamente.
Paralelismo anafórico ou estrutural: construção simétrica de dois versos.
Exemplo: Se vistes meu amigo / Se vistes meu amado.
Paralelismo semântico: construção de versos com o mesmo sentido ou
aproximado. Exemplo: Se vistes meu amigo / Se vistes meu amado.
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  • 1. "Ondas do mar de Vigo" Assunto: a donzela interpela as ondas sobre o paradeiro do amigo e o seu regresso, revelando o seu sofrimento e a sua angústia pela separação.  Tema: o apelo da donzela ao mar, pretendendo saber novas do amigo.  Estrutura interna 1.ª parte (2 primeiras estrofes / coblas) – O sujeito poético - a donzela - interpela / questiona as ondas do mar de Vigo sobre o paradeiro do amigo, que se encontra ausente (tema marítimo), visível na forma verbal “vistes” e no refrão“se verrá cedo”. 2.ª parte (3.ª e 4.ª estrofes / coblas) - Revelação dos sentimentos da donzela pelo amigo embarcado (tema amoroso). Semanticamente, cada par de coblas é muito semelhante. De facto, o segundo dístico de cada par repete, com ligeira variação, o conteúdo / a ideia do primeiro. A nível linguístico, observa-se a troca ou alteração de palavras ou expressões no final dos versos de cada par, sem que tal signifique uma mudança de sentido relativamente à estrofe ímpar. Se observarmos atentamente, concluiremos que, dentre os 12 versos que compõem a cantiga, apenas 4 diferente em termos semânticos: o 1, o 2, o 3 e o refrão.  Estado de espírito do “eu lírico” – a donzela O estado de espírito da donzela é marcado pelos seguintes traços: - saudade: “o por que eu sospiro” (v. 8); - ansiedade: “se vistes meu amigo” (v. 2); - agitação / inquietação; - preocupação: “por que ei gran cuidado” (v. 11); - amor. A estes podem acrescentar-se a dor da separação, a tristeza e o sofrimento pela ausência, a dúvida e a incerteza acerca do seu paradeiro, do seu regresso, do seu estado físico. Todos estes sentimentos revelam a sua coita de amor.
  • 2.  Causas do estado de espírito: a) a separação do seu amigo; b) a demora dele; c) a incerteza acerca da sua chegada e estado.  Ambiente: natural, marítimo (o mar).  Relação entre o estado de espírito do «eu» e o ambiente A donzela encontra-se sozinha junto ao mar (note-se que, na Poesia Trovadoresca, o trovador designava por «mar» aquilo que atualmente chamamos «rio» ou «baía»), observando-o, mar esse que lhe parece cada vez mais agitado, espelhando essa visão / imagem o seu estado de espírito (cada vez mais agitado também) e as suas emoções, como se pode constatar pelo verso 11.  Papel das ondas do mar: -» confidente; -» cenário; -» mensageiras. As ondas são um elemento essencial na construção do ambiente / cenário. Além disso, constituem o confidente a quem a menina se dirige, expressando os seus sentimentos e emoções, as suas dúvidas sobre o paradeiro do amigo, e que questiona sobre a sua chegada.  Simbologia: a) Ondas: - traduzem o tumulto interior da donzela; - são o seu confidente, em substituição da mãe ou amiga. b) Mar: - confidente (as ondas); - a causa da separação física, o obstáculo que se interpõe entre a donzela e o amigo;
  • 3. - apresenta-se com ondas, revolto e bravo, constituindo assim um obstáculo acrescido; - terá sido por ele que o amado da jovem terá partido, daí que ela lá se encontre, esperando o seu regresso.  Esquema actancial  Esquema estrutural da cantiga  Recursos poético-estilísticos 1.º) Nível fónico . Estrofes - (isométricas): dois versos hexassílabos (seis sílabas) + refrão  terceto; - quatro coblas em dísticos e um refrão monóstico. . Rima - esquema rimático: AAR / BBR; - emparelhada; - consoante ("Vigo" / "amigo") e toante ("amigo" / "sospiro"); - grave; - rica ("levado" / "amado") e pobre ("Vigo" / "amigo").
  • 4. . Refrão: o refrão atesta a existência de um coro. A disposição das estrofes aos pares e a alternância das rimas ao longo da composição (ver paralelismo) deixam antever que se alternavam dois cantores ou dois grupos de cantores. No caso presente, pelo seu caráter repetitivo (a repetição de um verso exclamativo, expressivo da saudade e da inquietação da donzela), realça o estado de espírito da donzela, acentuando o seu sofrimento, a sua ansiedade e angústia, e sugere a espera do amigo. Neste contexto, há que destacar o valor semântico da locução interjetiva “ai Deus”, que constitui uma espécie de desabafo e de interpelação direta de Deus no sentido de que o amigo regresse rapidamente e bem. Por outro lado, o refrão possui um valor documental inequívoco, pois reflete o clima de grande religiosidade da época e sugere a transmissão oral das cantigas, daí a sua natureza repetitiva. Metro: versos hexassílabos (6 sílabas). . Aliteração: som v, sugerindo o movimento das ondas do mar e o tumultuar dos sentimentos da donzela, a sua instabilidade; a sibilante s indica a continuidade da espera. . Sons dominantes: os fonemas fechados transmitem sofrimento e tristeza. . Assonância: alternância i / a.  Valor documental Esta cantiga pertence ao subgénero da marinha ou barcarola. As barcarolas ou marinhas são originárias da parte ocidental da Península Ibérica (Portugal e Galiza) e documentam as tendências naturais e o modo de vida de um povo criado à beira-mar. Reflectem também as necessidades de defesa costeira na luta contra os mouros. A sua simplicidade reflecte a verdadeira origem popular e a sinceridade e espontaneidade emotivas das donzelas, em relação ao amado ou amigo. [1] Paralelismo perfeito: artifício da lírica trovadoresca que consiste na construção da cantiga através da repetição do segundo verso da primeira cobla, com o primeiro verso da terceira cobla e assim sucessivamente. Paralelismo anafórico ou estrutural: construção simétrica de dois versos. Exemplo: Se vistes meu amigo / Se vistes meu amado. Paralelismo semântico: construção de versos com o mesmo sentido ou aproximado. Exemplo: Se vistes meu amigo / Se vistes meu amado.