Martim Codax foi um poeta galego do século XIII conhecido por sete cantigas. Uma delas, "Ondas do mar de Vigo", expressa a saudade de uma jovem pelo seu amado ausente, que pode ter partido em viagem marítima arriscada. O mar é representado como elemento dominante e símbolo de perigo e distância que separam o casal, enquanto a jovem apela a Deus pela volta segura e breve do amado.
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Martim Codax - Ondas do mar de Vigo.pptx
1. Martim Codax
Martim Codax, deve ter vivido e poetado em
meados e na segunda metade do século XIII. Foi
um jogral ou mesmo um segrel, isto é, um poeta
de categoria social e artística inferior ao trovador.
Pouco se conhece acerca da sua biografia, a
começar pela sua origem. Acredita-se que seja
oriundo do sul da Galiza – de Vigo, dado que nos
seus poemas há numerosas referências a esta
cidade e ao seu ambiente marítimo. É conhecido
um conjunto de sete cantigas da sua autoria,
acompanhadas por indicações da sua melodia,
conforme já observado no Pergaminho de Vindel.
Estátua representando um jogral
tocando viela (precursor do violino)
2. Ondas do mar de Vigo
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ay Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se viste meu amado?
E ay Deus, se verrá cedo!
Se viste meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ay deus, se verrá cedo!
Se viste meu amado,
por que hey gran coydado?
E ay Deus, se verrá cedo!
• A palavra “verrá”, no refrão, é o futuro do verbo “vir”
e significa não só uma expectativa (“virá”), ma
stambém um desejo: o de que regresse o “amigo”
que está ausente.
• A palavra “cedo” completa aquela expectativa: que
venha em breve e não demore a chegar.
• O mar de que se fala é “levado”, ou seja, “levantado”
e, por isso, revolto.
• A expressão “hey gran coydado” (penúltimo verso)
usa o verbo “haver” (“ey”) no seusentido antigo de
“ter”. Manifesta-se, assim, uma preocupação (o ter
coydado) por quem está ausente.
3. Simbologia temática
• O mar é aqui um elemento dominante. Ele traduz, antes de mais,
aquela presença da Natureza que é frequente em cantigas de amigo.
Contudo, tal como aqui aparece, o mar é também um símbolo com
duplo significado: de perigo (“mar levado”) e de distância. É o mar
que separa a jovem do seu “amigo”, que provavelmente terá partido
numa viagem marítima, coisa arriscada para a época, como se sabe.
• O perigo justifica as repetidas interrogações e exclamações. Nas
primeiras lemos a incerteza e a dúvida, relativamente a alguém cujo
paradeiro é incerto, também porque o mar é “lavado”e, como tal,
perigoso; nas exclamações exprime-se a ansiedade e mesmo a
angústia, por causa de uma ausência que não se sabe quando
terminará.
4. • Se a simplicidade é dominante nesta cantiga, não o é menos a
autenticidade (uma autenticidade trabalhada poeticamente, como é
evidente) da confidência com o mar, ajudada pela súplica a Deus. São
poderes de feição diferentes, o mar (terreno) e Deus, dando lugar, na
jovem que nos fala, a sentimentos também diferentes.
• E assim, se o mar é confidente, ele é também, de certa forma,
adversário poderoso. Nos seus perigos e até no seu silêncio – as
perguntas que lhe são feitas são retóricas (porque não terão resposta),
a jovem colhe o sinal daquela adversidade e indiferença. Deste modo,
Deus é o último recurso para uma voz angustiada que só na poesia
parece encontrar conforto. É nela que se expressa um “coydado” e o
motivo da saudade.
5. Forma
• O paralelismo semântico retoma o 1º e 2º versos (“Ondas do mar de
Vigo, / se vistes meu amigo?”) no mesmo lugar (1º e 2º verso) da 2ª
estrofe, mas com as variações “levado” e “amado
• O paralelismo, agora consubstanciado em Leixa-pren, reaparece
ainda quando os 2ºs versos da 1ª e 2ª estrofes (“se vistes meu
amigo?”e “se vistes meu amado?”) surgem de novo no início da 3ª e
da 4ª estrofes.
• O refrão é simples (“E ay Deus, se verrá cedo!”), mas muito
expressivo: na exclamação que ele inclui, com apelo em Deus, está
bem clara a angústia de que já se falou, reforçada justamente pela
repetição em final de estrofe.