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Cinco dúvidas sobre o ajuste fiscal 
Frankiin Serrano* 
Oobjetivo destas notas é propor o início de um debate sobre a questão 
do ajuste fiscal atualmente em curso na economia brasileira.Tentaremos 
questionar as bases para o surpreendente consenso entre economistas 
e políticos das mais diversas procedências sobre a inevitabilidade (ou ao menos 
desejabilidade) desse ajuste. 
O nosso argumento, que sugere não haver uma base racional (teórica ou 
empírica) sólida que justifique a atual política fiscal do Governo, será apresentado 
na forma de um conjunto de dúvidas, questionamentos sobre diversos pontos, 
explícita ou implicitamente, embutidos no consenso fiscalista. Não temos a 
menor pretensão de fechar a questão nestas poucas páginas: o tema é altamente 
polêmico e complexo; consideramos essencial, entretanto, que uma política 
que vem impondo alto custo social e econômico comece, ao menos, a ser 
questionada e discutida. 
1 - O déficit público é sempre ruim? 
Parece que o Governo Federal é "contra" o déficit público pelos 
posicionamentos, declarações e pressões de toda sorte que dispara contra os 
governos subnacionais, visto que está fazendo o chamado ajuste fiscal. Ao 
mesmo tempo, diversos líderes de oposição municipais, estaduais e nacionais 
se apresentam aos eleitores como sendo capazes de fazer um ajuste fiscal 
mais "bem-feito" do que o do atual Governo (sem corrupção, cortando menos os 
gastos sociais, sendo menos injusto e arbitrário nos favorecimentos, etc). 
Ninguém parece ser contra o ajuste fiscal. E todos concordam que o Governo 
(mesmo na esfera federal) não pode e não deve gastar mais do que arrecada. 
Professor Adjunto do Instituto de Economia da UFRJ 
O autor agradece o apoio financeiro do CNPq e as discussões com o Pesquisador Carios 
Pinkusfeld Bastos do grupo de pesquisa em economia política do lE-UFRJ (com quem traba­lha 
em pesquisa conjunta sobre esses temas) e a dois pareceristas anônimos desta revista.
Esse consenso é particularmente preocupante nas condições atuais da 
economia brasileira depois de anos de baixo crescimento e fraca geração de 
empregos. Além do mais, na literatura sobre política fiscal em macroeconomia 
(pelo menos desde o final da década de 30 graças a Keynes e Kalecki, que 
foram contra o consenso de sua época), sabe-se que o tamanho desejável do 
déficit público consolidado do País não tem nada a ver com um raciocínio de 
"economia doméstica". Se a economia e§tá com capacidade ociosa e 
desempr^Qõ.é evidente não ser apenas possível, mas recomendável, que se 
gaste mais do que se arrecada. 
Além disso, devido ao fato bastante óbvio de que as receitas fiscais são 
fortemente pró-cíclicas e de que, portanto, o déficit público é endógeno, sabe-se 
(igualmente desde a década de 30) que o déficit público corrente não é a medida 
adequada para se afirmar se a política fiscal está, ou não, sendo expansionista. 
Muitos autores e governos mais civilizados preferem o que chamam de "déficit 
de alto emprego", isto é ,o déficit que seria obtido quando a economia operasse 
à plena capacidade. 
Para avaliar se esse déficit público de plena capacidade está alto ou baixo, 
devemos seguir a abordagem das "finanças funcionais" proposta por Abba Lerner 
nos anos 40 e endossada recentemente pelo prêmio Nobel em Economia de 
1996 e especialista em finanças públicas Willian Vickrey. Segundo essa visão, 
o valor adequado para o déficit público de plena capacidade deve ser 
suficientemente grande para compensar a soma do déficit externo em conta 
corrente, percebido como sustentável ou desejável, com o superávit do setor 
privado — isto é, a diferença entre poupança privada e investimento privado —, 
quando a economia opera à plena capacidade. Qualquer déficit maior que o 
calculado na forma acima será inflacionário, e qualquer déficit menor que aquele 
será recessivo, pois implica que a economia não vai gerar demanda efetiva 
suficiente para operar à plena capacidade (Vickrey, 1997). 
No entanto, o Governo brasileiro usa como meta de política fiscal o superávit 
fiscal primário, que seria suficiente para estabilizar a razão entre a dívida pública 
interna e o PIB. Não questiona se esse superávit primário, quando somado aos 
pagamentos de juros, gera um déficit que é baixo (ou alto demais) no sentido 
preciso discutido acima. Em outras palavras: o Governo não apenas não parece 
estar nem um pouco interessado em saber se sua política fiscal está gerando 
desemprego, mas — o que é bem mais surpreendente — também não parece 
se preocupar se a política fiscal está gerando inflação de demanda, ou um 
aumento indesejado — possivelmente insustentável — no déficit externo em 
conta corrente!
2 - 0 Governo do País quebra por causa da 
dívida interna? 
Evidentemente, porque o Governo só se preocupa com uma coisa: a 
estabilização da razão entre a dívida pública e o PIB. O Governo e seus aliados 
comemoram como grande vitória a redução de 48 para 44% desse indicador, um 
desempenho "melhor" do que o acordado com o FMI, que tinha acertado como 
meta 50%. 
Cabem, no entanto, algumas perguntas ingênuas: por que a comemoração? 
Por que fazer mais do que o FMI quer? Por que 50% é o limite superior aceitável? 
Em vários países totalmente estáveis e em diferentes épocas, observamos 
números superiores a 100%.^ O próprio tratado de Maastrich — considerado 
uma camisa de força fiscal com viés fortemente recessivo até pelos editores da 
conservadora revista inglesa The Economist — impunha limites bem menos 
rígidos, com possibilidade de serem violados caso se registrasse "que progressos 
rápidos estavam sendo feitos". 
Infelizmente, nenhuma explicação empírica ou teórica é dada pelo Governo 
e seus defensores. 
Mas o que realmente aconteceria se a dívida aumentasse para 50,1 % do PIB, 
por exemplo? Será que o Governo brasileiro quebraria? Dificilmente. Ao contrário do 
orçamento de uma dona de casa, o Governo do País não tem, a rigor, como 
quebrar, pois emite a dívida pública Interna denominada em sua própria moeda; 
logo, o seu risco de inadimplência é evidentemente zero. Não é por outro motivo 
que o Governo fixa, unilateralmente, ataxadejuros básica (ou piso) da economia. 
Isso significa que o Governo, objetivamente, nunca f ica,a rigor, numa situação 
de "não ter dinheiro" para pagar sua dívida interna. 
Mas vamos supor, para ajudar o raciocínio oficial, que "o público", sabendo 
que passamos do limite de 50,1 %, resolva que não quer mais emprestar para o 
nosso Governo.2 Nesse caso, o Governo teria de entregar moeda para o público. 
' Até o Economista Gustavo Franco parece admitir que a razão dívida intetna/PIB não importa 
muito. Tanto que propôs uma reforma da Previdência (com a qual, evidentemente, não 
concordamos), que, na transição, geraria um enorme aumento r)a divida em relação ao PIB 
(como ocorreu no Chile) e não acha que isso vá causar nenhum problema ou instabilidade 
(também no Chile nada trágico aconteceu por causa desse aumento da dívida pública). 
• Pouco depois da mudança do regime cambial, o Deputado Delfim Netto, no que então se 
revelou uma curta lua-de-mel com a política econômica do Governo, afirmou na imprensa 
que "o mercado" tinha decidido que o limite sustentável da nossa dívida pública era 50%, 
embora nem ele nem ninguém jamais tenha dito como "o mercado" chegou a essa conclusão 
ou como este ser misterioso comunica estas suas decisões ao povo.
porque é exatamente o que está prometido no contrato da dívida. A partir daí, o 
público pode fazer várias coisas. Uma primeira alternativa seria ficar com o dinheiro 
no bolso. Outra seria comprar dólares. Uma terceira seria comprar bens e 
serviços. 
Provavelmente, o Governo se preocupa com o ajuste fiscal com medo do 
caso em que o público começasse, desenfreadamente, a comprar dólares e 
bens, provocando uma grande inflação. 
O problema aqui é que não se esclarece por que o público faria isso. Se o 
Governo (que não quebra) está oferecendo taxas de juros suficientemente 
elevadas para tornar a aplicação alternativa em dólares pouco atraente e a compra 
de bens proibitiva, por que diabos o público alteraria de forma tão drástica seu 
portfólio? Só porque a razão dívida pública/PIB atingiu 50,1%? 
A única situação minimamente plausível para esse comportamento ocorreria 
caso houvesse um grande consenso, entre os agentes econômicos, a respeito de 
uma alta probabilidade de calote da dívida pública, que, aí sim, tornaria vantajoso, 
por exemplo, aceitar um rendimento menor, porém garantido, em dólar. 
Mas, como vimos, o Governo objetivamente não precisa dar calote interno 
em ninguém, e à equipe de FHC, ao que tudo indica, falta para isso tanto motivo 
quanto vontade. 
3 - 0 ajuste fiscal leva ao crescimento? 
o Governo e seus defensores argumentam também que o ajuste fiscal 
brasileiro recria as condições para o crescimento econômico, atribuindo a ele a 
tímida recuperação do crescimento da economia brasileira. Em particular, 
alardeiam que a redução progressiva da taxa de juros observada desde 1999 no 
Brasil, e que assim teria permitido a recuperação da economia, foi resultado do 
ajuste fiscal. 
Esse raciocínio, entretanto, é no mínimo curioso. Seria bem mais lógico 
supor que a retomada do crescimento a curto prazo teria algo a ver com a 
mudança na política cambial. Essa mudança, ao permitir a desvalorização 
cambial, por um lado, estimulou alguma recuperação das exportações; por outro, 
levou a uma grande redução das importações tanto de produtos quanto de 
insumos. 
Tudo indica que essa mesma mudança cambial também deve ter sido o 
fator determinante da mudança de posição do Bacen, justificando a adoção da 
política de reduzir a taxa de juros reais de seus níveis estratosféricos para os 
atuais (ainda bastante elevados), o que, de fato, parece ter estimulado, 
moderadamente, a retomada do crédito e do consumo.
Fica, então, no ar mais uma pergunta ingênua: o que o ajuste fiscal, que, 
até onde se sabe, implica a redução da contribuição do Governo à demanda 
agregada, tem a ver com isso? 
Naturalmente, um ajuste fiscal que provoque uma recessão de fato leva à 
melhoria significativa da balança comercial pela queda induzida das importações. 
Mas, se pensarmos que é esse o efeito que diminuiria a pressão sobre o dólar e 
levaria o Bacen a baixar os juros, perceberíamos que a queda dos juros só 
poderia prosseguir até o ponto em que o nível de atividade e as importações 
recuperassem o patamar anterior. Não poderia haver nenhum efeito expansivo 
líquido. A política monetária estaria apenas devolvendo o que a fiscal teria tirado, 
senão, presumivelmente, as pressões sobre o dólar se ampliariam novamente. 
Via redução de importações induzida pela recessão (a qual o Governo 
chamaria eüfemisticamente de "redução da dependência da poupança externa"), 
talvez o ajuste fiscal sem a mudança cambial pudesse abrir espaço para a taxa 
de juros cair. Porém, uma vez que o piso da queda dos juros é determinado pela 
necessidade de evitar pressões sobre o dólar, vemos que o ajuste fiscal, por si 
só, não poderia ir longe o suficiente para fazer a economia se expandir. 
4 - O ajuste fiscal reduz a taxa de juros? 
Mas, ao defender o ajuste fiscal, o Governo não concordaria que os juros 
dependem da situação externa. O argumento oficial, repetido inúmeras vezes 
na imprensa, é bem simples: o déficit público elevado faz subir a taxa de juros; 
sua redução via ajuste fiscal permite que os juros caiam.^ Mesmo aceitando 
essa relação, lembremos que o posterior efeito líquido positivo sobre o crescimento 
deve estar, necessariamente, associado a um suposto aumento do nível de 
investimento privado, em conseqüência da queda das taxas de juros, ampliando 
a capacidade produtiva da economia. 
Devemos notar, entretanto, que o argumento de que a expansão se fará via 
aumento da demanda agregada não procede. Se o motivo do juro alto era 
exatamente coibir o potencial excesso de demanda agregada, resultante da 
' Para evitar controvérsias teóricas, seremos generosos com o Governo e usaremos a Idéia 
de que o ajuste fiscal apenas "permite" que os juros (determinados exogenamente pelo 
Bacen, agora a partir do objetivo de controlar a demanda agregada) calam e não perdere­mos 
tempo com a versão mais primitiva, e totalmente irrealista, de que existe, de fato, um 
crowding oute que o aumento do gasto público aumenta diretamente a taxa de juros, pois faz 
faltar "poupança" na economia. Para a critica teórica a esse tipo de idéia, ver Serrano (2000, 
2001),
política fiscal frouxa, a queda dos juros pós-ajuste fiscal não pode ultrapassar 
um limite: os juros só podem se reduzir o quanto for necessário para meramente 
substituir a queda do gasto público e do consumo privado, resultantes do ajuste 
fiscal, presumivelmente por investimento. A composição da demanda agregada, 
mas não o seu nível. 
Sem entrar no mérito da implausibilidade de uma retomada sustentada do 
investimento, apenas pelo efeito direto da queda dos juros (ainda mais os de 
curto prazo), e sem uma anterior ou prospectiva expansão de demanda sustentada 
que justifique a ampliação da capacidade produtiva, essa história não parece ter 
nenhuma base empírica na experiência brasileira recente. 
Não é fácil acreditar na idéia de que a economia brasileira está, no momento, 
sujeita a uma rígida restrição de oferta interna. O recente aumento da demanda 
agregada tem sido plenamente atendido pela expansão da produção e pelo 
conseqüente aumento do grau de utilização da capacidade já instalada. 
Descartada essa história oficial, vemos que a relação entre taxa de juros e 
ajuste fiscal é exatamente a oposta: é a queda da taxa de juros (cujo piso tem 
a ver com as contas externas, não com as internas) que afeta a execução do 
ajuste fiscal — dada uma meta de relação dívida pública/PIB —, tornando-o 
menos contracionista. 
No que diz respeito ao longo prazo, nunca é demais repetir que a verdadeira 
restrição estrutural ao crescimento sustentável do Brasil é a necessidade (e 
dificuldade) de ampliar, consideravelmente, a tendência de longo prazo da taxa 
de crescimento das exportações, e não é nada óbvio como a obtenção de um 
valor particular para a relação dívida pública/PIB vá aumentar a demanda por 
produtos brasileiros nos outros países do mundo. 
5 - Para que serve então o ajuste fiscal? 
Todos reconhecem os altos custos, tanto para o Governo, em todas as suas 
esferas, quanto para a população, do ajuste fiscal em andamento. No entanto, o 
problema é que ninguém explica quais serão os benefícios. Deve ser por isso que 
o Governo comemora o ajuste fiscal como uma grande realização em si mesmo. 
Mas insistimos em nossa pergunta ingênua: exatamente para quê 
precisamos desse ajuste fiscal? Pelo que vimos acima, sabemos que o ajuste 
fiscal que vem sendo feito não está voltado para a administração do controle 
racional da demanda agregada da economia. 
Por outro lado, de forma alguma seria o responsável pela retomada do 
crescimento. Ao contrário, é provável que tenha contribuído para enfraquecer a 
expansão da atividade econômica.
Alguns cínicos argumentam que, a despeito disso, o ajuste fiscal é 
imprescindível por ser considerado pelos investidores internacionais como 
essencial à credibilidade da política econômica do País; isto faria com que esses 
investidores continuassem financiando nossas contas externas. Esse argumento, 
no entanto, não faz muito sentido. O Brasil teve uma crise cambial em pleno 
ajuste fiscal em 1999, e, no momento, a Argentina, que está com uma política 
fiscal altamente contracionista, também passa por graves dificuldades em suas 
contas externas. Como os investidores externos não são pagos em moeda 
doméstica, é mais razoável supor que estejam bem mais interessados na 
necessidade e na capacidade de o País gerar divisas — particularmente na taxa 
de crescimento das exportações e na evolução do coeficiente de importações 
em relação à magnitude e aos prazos das obrigações externas que estão para 
vencer — do que na mítica razão dívida pública/PIB. 
Note-se que tanto a razão dívida pública/PIB quanto as metas inflacionárias, 
por exemplo, só se tornaram objetivamente importantes depois que o Governo 
as incluiu no acordo com o FMI, infelizmente tornado essencial para garantir a 
estabilidade cambial e a liquidez externa do País. Mas lembremos de que o 
acordo com o Fundo pode e deve ser modificado a partir de uma postura um 
pouco mais pragmática e menos ideológica do que a do Governo atual. 
Se afinal o FMI é o único motivo concreto para o ajuste fiscal, como explicar 
o fato de o fazermos ainda maior do que o acordo pede? Será que faz sentido 
um regime de metas inflacionárias — que o FMI também não tinhia pedido, mas 
que o Governo brasileiro fez questão de introduzir no acordo — que faz o Bacen 
subir os juros e desfazer parte da desvalorização cambial para frear o impacto 
inflacionário de um tarifaço, causado pelo próprio ajuste fiscal (no caso do petróleo) 
e pelas curiosas cláusulas de indexação das tarifas de serviços públicos 
privatizados? 
Como o ajuste fiscal não gera "credibilidade externa" e vai além da imposição 
do acordo com o FMI, e observando que foi o Governo brasileiro que fez questão 
de fechar um acordo tão contracionista, o ajuste fiscal só está sendo feito dessa 
maneira para satisfazer a ideologia neoliberal da equipe do Ministério da Fazenda, 
que se "orgulha" de ser mais conservadora que o FMI. 
6 - Observações finais 
Supondo que a oposição, de fato, tenha como prioridades o combate à 
pobreza e ao desemprego, é essencial que, em vez de aplaudir e apoiar sem 
questionamento o ajuste fiscal, pressione por uma política fiscal que seja orientada 
racionalmente para evitar não apenas a geração de inflação de demanda, mas
também o aumento desnecessário do desemprego. Fundamental também é 
que se pressione o Governo para que promova mais ativamente as exportações 
e, na medida em que isso não seja suficiente, que se aprofunde o processo 
atual de substituição de importações. 
Para não sermos injustos com o Governo Federal, temos de admitir que 
alguns dos líderes da oposição, que se dizem críticos, acabariam fazendo em 
seu lugar a mesma coisa (ou até pior) se estivessem no comando. Infelizmente, 
têm o pensamento alinhado com o Governo e são igualmente obcecados pelo 
ajuste fiscal. É natural e praticamente inevitável, dado o jeito pelo qual o Governo 
Federal mantém os governos subnacionaisem dificuldades financeiras, que estes 
últimos estejam sendo forçados a tomar medidas duras nessa área e que muito 
prejudicam suas administrações e populações. Só é triste ver que alguns líderes 
regionais e até nacionais, talvez confundidos pela retórica oficial e pela confusão 
ideológica neoliberal (ou será pós-moderna?), vão se mostrando convencidos 
de que, afinal, o tal ajuste fiscal é realmente necessário para o País e que trará 
algum benefício. É fundamental que pelo menos a esquerda não caia de vez 
nessa (mais essa) armadilha. 
Bibliografia 
SERRANO, F. (2000). A soma das poupanças determina o investimento? 
Archetypon, v.8, n.23, maio/ago. 
SERRANO, F. (2001). Equilíbrio neoclássico de mercado de fatores: uma crítica 
do ponto de vista sraffiano. Ensaios FEE, Porto Alegre, v22, n.1. (no prelo) 
VICKREY, W. (1997). A transkeynesian manifesto (Thoughts about an Asset- 
-Based Macroeconomics). Journal of Post Keynesian Economias, v.19, 
n.4, Summer.

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5 dúvidas sobre o ajuste fiscal

  • 1. Cinco dúvidas sobre o ajuste fiscal Frankiin Serrano* Oobjetivo destas notas é propor o início de um debate sobre a questão do ajuste fiscal atualmente em curso na economia brasileira.Tentaremos questionar as bases para o surpreendente consenso entre economistas e políticos das mais diversas procedências sobre a inevitabilidade (ou ao menos desejabilidade) desse ajuste. O nosso argumento, que sugere não haver uma base racional (teórica ou empírica) sólida que justifique a atual política fiscal do Governo, será apresentado na forma de um conjunto de dúvidas, questionamentos sobre diversos pontos, explícita ou implicitamente, embutidos no consenso fiscalista. Não temos a menor pretensão de fechar a questão nestas poucas páginas: o tema é altamente polêmico e complexo; consideramos essencial, entretanto, que uma política que vem impondo alto custo social e econômico comece, ao menos, a ser questionada e discutida. 1 - O déficit público é sempre ruim? Parece que o Governo Federal é "contra" o déficit público pelos posicionamentos, declarações e pressões de toda sorte que dispara contra os governos subnacionais, visto que está fazendo o chamado ajuste fiscal. Ao mesmo tempo, diversos líderes de oposição municipais, estaduais e nacionais se apresentam aos eleitores como sendo capazes de fazer um ajuste fiscal mais "bem-feito" do que o do atual Governo (sem corrupção, cortando menos os gastos sociais, sendo menos injusto e arbitrário nos favorecimentos, etc). Ninguém parece ser contra o ajuste fiscal. E todos concordam que o Governo (mesmo na esfera federal) não pode e não deve gastar mais do que arrecada. Professor Adjunto do Instituto de Economia da UFRJ O autor agradece o apoio financeiro do CNPq e as discussões com o Pesquisador Carios Pinkusfeld Bastos do grupo de pesquisa em economia política do lE-UFRJ (com quem traba­lha em pesquisa conjunta sobre esses temas) e a dois pareceristas anônimos desta revista.
  • 2. Esse consenso é particularmente preocupante nas condições atuais da economia brasileira depois de anos de baixo crescimento e fraca geração de empregos. Além do mais, na literatura sobre política fiscal em macroeconomia (pelo menos desde o final da década de 30 graças a Keynes e Kalecki, que foram contra o consenso de sua época), sabe-se que o tamanho desejável do déficit público consolidado do País não tem nada a ver com um raciocínio de "economia doméstica". Se a economia e§tá com capacidade ociosa e desempr^Qõ.é evidente não ser apenas possível, mas recomendável, que se gaste mais do que se arrecada. Além disso, devido ao fato bastante óbvio de que as receitas fiscais são fortemente pró-cíclicas e de que, portanto, o déficit público é endógeno, sabe-se (igualmente desde a década de 30) que o déficit público corrente não é a medida adequada para se afirmar se a política fiscal está, ou não, sendo expansionista. Muitos autores e governos mais civilizados preferem o que chamam de "déficit de alto emprego", isto é ,o déficit que seria obtido quando a economia operasse à plena capacidade. Para avaliar se esse déficit público de plena capacidade está alto ou baixo, devemos seguir a abordagem das "finanças funcionais" proposta por Abba Lerner nos anos 40 e endossada recentemente pelo prêmio Nobel em Economia de 1996 e especialista em finanças públicas Willian Vickrey. Segundo essa visão, o valor adequado para o déficit público de plena capacidade deve ser suficientemente grande para compensar a soma do déficit externo em conta corrente, percebido como sustentável ou desejável, com o superávit do setor privado — isto é, a diferença entre poupança privada e investimento privado —, quando a economia opera à plena capacidade. Qualquer déficit maior que o calculado na forma acima será inflacionário, e qualquer déficit menor que aquele será recessivo, pois implica que a economia não vai gerar demanda efetiva suficiente para operar à plena capacidade (Vickrey, 1997). No entanto, o Governo brasileiro usa como meta de política fiscal o superávit fiscal primário, que seria suficiente para estabilizar a razão entre a dívida pública interna e o PIB. Não questiona se esse superávit primário, quando somado aos pagamentos de juros, gera um déficit que é baixo (ou alto demais) no sentido preciso discutido acima. Em outras palavras: o Governo não apenas não parece estar nem um pouco interessado em saber se sua política fiscal está gerando desemprego, mas — o que é bem mais surpreendente — também não parece se preocupar se a política fiscal está gerando inflação de demanda, ou um aumento indesejado — possivelmente insustentável — no déficit externo em conta corrente!
  • 3. 2 - 0 Governo do País quebra por causa da dívida interna? Evidentemente, porque o Governo só se preocupa com uma coisa: a estabilização da razão entre a dívida pública e o PIB. O Governo e seus aliados comemoram como grande vitória a redução de 48 para 44% desse indicador, um desempenho "melhor" do que o acordado com o FMI, que tinha acertado como meta 50%. Cabem, no entanto, algumas perguntas ingênuas: por que a comemoração? Por que fazer mais do que o FMI quer? Por que 50% é o limite superior aceitável? Em vários países totalmente estáveis e em diferentes épocas, observamos números superiores a 100%.^ O próprio tratado de Maastrich — considerado uma camisa de força fiscal com viés fortemente recessivo até pelos editores da conservadora revista inglesa The Economist — impunha limites bem menos rígidos, com possibilidade de serem violados caso se registrasse "que progressos rápidos estavam sendo feitos". Infelizmente, nenhuma explicação empírica ou teórica é dada pelo Governo e seus defensores. Mas o que realmente aconteceria se a dívida aumentasse para 50,1 % do PIB, por exemplo? Será que o Governo brasileiro quebraria? Dificilmente. Ao contrário do orçamento de uma dona de casa, o Governo do País não tem, a rigor, como quebrar, pois emite a dívida pública Interna denominada em sua própria moeda; logo, o seu risco de inadimplência é evidentemente zero. Não é por outro motivo que o Governo fixa, unilateralmente, ataxadejuros básica (ou piso) da economia. Isso significa que o Governo, objetivamente, nunca f ica,a rigor, numa situação de "não ter dinheiro" para pagar sua dívida interna. Mas vamos supor, para ajudar o raciocínio oficial, que "o público", sabendo que passamos do limite de 50,1 %, resolva que não quer mais emprestar para o nosso Governo.2 Nesse caso, o Governo teria de entregar moeda para o público. ' Até o Economista Gustavo Franco parece admitir que a razão dívida intetna/PIB não importa muito. Tanto que propôs uma reforma da Previdência (com a qual, evidentemente, não concordamos), que, na transição, geraria um enorme aumento r)a divida em relação ao PIB (como ocorreu no Chile) e não acha que isso vá causar nenhum problema ou instabilidade (também no Chile nada trágico aconteceu por causa desse aumento da dívida pública). • Pouco depois da mudança do regime cambial, o Deputado Delfim Netto, no que então se revelou uma curta lua-de-mel com a política econômica do Governo, afirmou na imprensa que "o mercado" tinha decidido que o limite sustentável da nossa dívida pública era 50%, embora nem ele nem ninguém jamais tenha dito como "o mercado" chegou a essa conclusão ou como este ser misterioso comunica estas suas decisões ao povo.
  • 4. porque é exatamente o que está prometido no contrato da dívida. A partir daí, o público pode fazer várias coisas. Uma primeira alternativa seria ficar com o dinheiro no bolso. Outra seria comprar dólares. Uma terceira seria comprar bens e serviços. Provavelmente, o Governo se preocupa com o ajuste fiscal com medo do caso em que o público começasse, desenfreadamente, a comprar dólares e bens, provocando uma grande inflação. O problema aqui é que não se esclarece por que o público faria isso. Se o Governo (que não quebra) está oferecendo taxas de juros suficientemente elevadas para tornar a aplicação alternativa em dólares pouco atraente e a compra de bens proibitiva, por que diabos o público alteraria de forma tão drástica seu portfólio? Só porque a razão dívida pública/PIB atingiu 50,1%? A única situação minimamente plausível para esse comportamento ocorreria caso houvesse um grande consenso, entre os agentes econômicos, a respeito de uma alta probabilidade de calote da dívida pública, que, aí sim, tornaria vantajoso, por exemplo, aceitar um rendimento menor, porém garantido, em dólar. Mas, como vimos, o Governo objetivamente não precisa dar calote interno em ninguém, e à equipe de FHC, ao que tudo indica, falta para isso tanto motivo quanto vontade. 3 - 0 ajuste fiscal leva ao crescimento? o Governo e seus defensores argumentam também que o ajuste fiscal brasileiro recria as condições para o crescimento econômico, atribuindo a ele a tímida recuperação do crescimento da economia brasileira. Em particular, alardeiam que a redução progressiva da taxa de juros observada desde 1999 no Brasil, e que assim teria permitido a recuperação da economia, foi resultado do ajuste fiscal. Esse raciocínio, entretanto, é no mínimo curioso. Seria bem mais lógico supor que a retomada do crescimento a curto prazo teria algo a ver com a mudança na política cambial. Essa mudança, ao permitir a desvalorização cambial, por um lado, estimulou alguma recuperação das exportações; por outro, levou a uma grande redução das importações tanto de produtos quanto de insumos. Tudo indica que essa mesma mudança cambial também deve ter sido o fator determinante da mudança de posição do Bacen, justificando a adoção da política de reduzir a taxa de juros reais de seus níveis estratosféricos para os atuais (ainda bastante elevados), o que, de fato, parece ter estimulado, moderadamente, a retomada do crédito e do consumo.
  • 5. Fica, então, no ar mais uma pergunta ingênua: o que o ajuste fiscal, que, até onde se sabe, implica a redução da contribuição do Governo à demanda agregada, tem a ver com isso? Naturalmente, um ajuste fiscal que provoque uma recessão de fato leva à melhoria significativa da balança comercial pela queda induzida das importações. Mas, se pensarmos que é esse o efeito que diminuiria a pressão sobre o dólar e levaria o Bacen a baixar os juros, perceberíamos que a queda dos juros só poderia prosseguir até o ponto em que o nível de atividade e as importações recuperassem o patamar anterior. Não poderia haver nenhum efeito expansivo líquido. A política monetária estaria apenas devolvendo o que a fiscal teria tirado, senão, presumivelmente, as pressões sobre o dólar se ampliariam novamente. Via redução de importações induzida pela recessão (a qual o Governo chamaria eüfemisticamente de "redução da dependência da poupança externa"), talvez o ajuste fiscal sem a mudança cambial pudesse abrir espaço para a taxa de juros cair. Porém, uma vez que o piso da queda dos juros é determinado pela necessidade de evitar pressões sobre o dólar, vemos que o ajuste fiscal, por si só, não poderia ir longe o suficiente para fazer a economia se expandir. 4 - O ajuste fiscal reduz a taxa de juros? Mas, ao defender o ajuste fiscal, o Governo não concordaria que os juros dependem da situação externa. O argumento oficial, repetido inúmeras vezes na imprensa, é bem simples: o déficit público elevado faz subir a taxa de juros; sua redução via ajuste fiscal permite que os juros caiam.^ Mesmo aceitando essa relação, lembremos que o posterior efeito líquido positivo sobre o crescimento deve estar, necessariamente, associado a um suposto aumento do nível de investimento privado, em conseqüência da queda das taxas de juros, ampliando a capacidade produtiva da economia. Devemos notar, entretanto, que o argumento de que a expansão se fará via aumento da demanda agregada não procede. Se o motivo do juro alto era exatamente coibir o potencial excesso de demanda agregada, resultante da ' Para evitar controvérsias teóricas, seremos generosos com o Governo e usaremos a Idéia de que o ajuste fiscal apenas "permite" que os juros (determinados exogenamente pelo Bacen, agora a partir do objetivo de controlar a demanda agregada) calam e não perdere­mos tempo com a versão mais primitiva, e totalmente irrealista, de que existe, de fato, um crowding oute que o aumento do gasto público aumenta diretamente a taxa de juros, pois faz faltar "poupança" na economia. Para a critica teórica a esse tipo de idéia, ver Serrano (2000, 2001),
  • 6. política fiscal frouxa, a queda dos juros pós-ajuste fiscal não pode ultrapassar um limite: os juros só podem se reduzir o quanto for necessário para meramente substituir a queda do gasto público e do consumo privado, resultantes do ajuste fiscal, presumivelmente por investimento. A composição da demanda agregada, mas não o seu nível. Sem entrar no mérito da implausibilidade de uma retomada sustentada do investimento, apenas pelo efeito direto da queda dos juros (ainda mais os de curto prazo), e sem uma anterior ou prospectiva expansão de demanda sustentada que justifique a ampliação da capacidade produtiva, essa história não parece ter nenhuma base empírica na experiência brasileira recente. Não é fácil acreditar na idéia de que a economia brasileira está, no momento, sujeita a uma rígida restrição de oferta interna. O recente aumento da demanda agregada tem sido plenamente atendido pela expansão da produção e pelo conseqüente aumento do grau de utilização da capacidade já instalada. Descartada essa história oficial, vemos que a relação entre taxa de juros e ajuste fiscal é exatamente a oposta: é a queda da taxa de juros (cujo piso tem a ver com as contas externas, não com as internas) que afeta a execução do ajuste fiscal — dada uma meta de relação dívida pública/PIB —, tornando-o menos contracionista. No que diz respeito ao longo prazo, nunca é demais repetir que a verdadeira restrição estrutural ao crescimento sustentável do Brasil é a necessidade (e dificuldade) de ampliar, consideravelmente, a tendência de longo prazo da taxa de crescimento das exportações, e não é nada óbvio como a obtenção de um valor particular para a relação dívida pública/PIB vá aumentar a demanda por produtos brasileiros nos outros países do mundo. 5 - Para que serve então o ajuste fiscal? Todos reconhecem os altos custos, tanto para o Governo, em todas as suas esferas, quanto para a população, do ajuste fiscal em andamento. No entanto, o problema é que ninguém explica quais serão os benefícios. Deve ser por isso que o Governo comemora o ajuste fiscal como uma grande realização em si mesmo. Mas insistimos em nossa pergunta ingênua: exatamente para quê precisamos desse ajuste fiscal? Pelo que vimos acima, sabemos que o ajuste fiscal que vem sendo feito não está voltado para a administração do controle racional da demanda agregada da economia. Por outro lado, de forma alguma seria o responsável pela retomada do crescimento. Ao contrário, é provável que tenha contribuído para enfraquecer a expansão da atividade econômica.
  • 7. Alguns cínicos argumentam que, a despeito disso, o ajuste fiscal é imprescindível por ser considerado pelos investidores internacionais como essencial à credibilidade da política econômica do País; isto faria com que esses investidores continuassem financiando nossas contas externas. Esse argumento, no entanto, não faz muito sentido. O Brasil teve uma crise cambial em pleno ajuste fiscal em 1999, e, no momento, a Argentina, que está com uma política fiscal altamente contracionista, também passa por graves dificuldades em suas contas externas. Como os investidores externos não são pagos em moeda doméstica, é mais razoável supor que estejam bem mais interessados na necessidade e na capacidade de o País gerar divisas — particularmente na taxa de crescimento das exportações e na evolução do coeficiente de importações em relação à magnitude e aos prazos das obrigações externas que estão para vencer — do que na mítica razão dívida pública/PIB. Note-se que tanto a razão dívida pública/PIB quanto as metas inflacionárias, por exemplo, só se tornaram objetivamente importantes depois que o Governo as incluiu no acordo com o FMI, infelizmente tornado essencial para garantir a estabilidade cambial e a liquidez externa do País. Mas lembremos de que o acordo com o Fundo pode e deve ser modificado a partir de uma postura um pouco mais pragmática e menos ideológica do que a do Governo atual. Se afinal o FMI é o único motivo concreto para o ajuste fiscal, como explicar o fato de o fazermos ainda maior do que o acordo pede? Será que faz sentido um regime de metas inflacionárias — que o FMI também não tinhia pedido, mas que o Governo brasileiro fez questão de introduzir no acordo — que faz o Bacen subir os juros e desfazer parte da desvalorização cambial para frear o impacto inflacionário de um tarifaço, causado pelo próprio ajuste fiscal (no caso do petróleo) e pelas curiosas cláusulas de indexação das tarifas de serviços públicos privatizados? Como o ajuste fiscal não gera "credibilidade externa" e vai além da imposição do acordo com o FMI, e observando que foi o Governo brasileiro que fez questão de fechar um acordo tão contracionista, o ajuste fiscal só está sendo feito dessa maneira para satisfazer a ideologia neoliberal da equipe do Ministério da Fazenda, que se "orgulha" de ser mais conservadora que o FMI. 6 - Observações finais Supondo que a oposição, de fato, tenha como prioridades o combate à pobreza e ao desemprego, é essencial que, em vez de aplaudir e apoiar sem questionamento o ajuste fiscal, pressione por uma política fiscal que seja orientada racionalmente para evitar não apenas a geração de inflação de demanda, mas
  • 8. também o aumento desnecessário do desemprego. Fundamental também é que se pressione o Governo para que promova mais ativamente as exportações e, na medida em que isso não seja suficiente, que se aprofunde o processo atual de substituição de importações. Para não sermos injustos com o Governo Federal, temos de admitir que alguns dos líderes da oposição, que se dizem críticos, acabariam fazendo em seu lugar a mesma coisa (ou até pior) se estivessem no comando. Infelizmente, têm o pensamento alinhado com o Governo e são igualmente obcecados pelo ajuste fiscal. É natural e praticamente inevitável, dado o jeito pelo qual o Governo Federal mantém os governos subnacionaisem dificuldades financeiras, que estes últimos estejam sendo forçados a tomar medidas duras nessa área e que muito prejudicam suas administrações e populações. Só é triste ver que alguns líderes regionais e até nacionais, talvez confundidos pela retórica oficial e pela confusão ideológica neoliberal (ou será pós-moderna?), vão se mostrando convencidos de que, afinal, o tal ajuste fiscal é realmente necessário para o País e que trará algum benefício. É fundamental que pelo menos a esquerda não caia de vez nessa (mais essa) armadilha. Bibliografia SERRANO, F. (2000). A soma das poupanças determina o investimento? Archetypon, v.8, n.23, maio/ago. SERRANO, F. (2001). Equilíbrio neoclássico de mercado de fatores: uma crítica do ponto de vista sraffiano. Ensaios FEE, Porto Alegre, v22, n.1. (no prelo) VICKREY, W. (1997). A transkeynesian manifesto (Thoughts about an Asset- -Based Macroeconomics). Journal of Post Keynesian Economias, v.19, n.4, Summer.