SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Política Fiscal, Gastos Públicos e PEC
241: simplificando o complicado
Existe uma considerável gama de pessoas que, ao ler nos jornais alguma notícia sobre
Política Fiscal ou falando de Gastos Públicos, fica pensando: “de que maneira
tais questões poderiam afetar minha vida financeira?“.
E para atender a tal demanda, dos interessados em compreender temas econômicos
complexos, de maneira simples e rápida, é que decidi aceitar o desafio de escrever o
presente artigo.
Verá que, em poucos minutos de leitura, terá um conhecimento bastante acima da
média sobre um assunto tão importante para seu bolso, quanto espinhoso.
POLÍTICA FISCAL
O governo, de forma a buscar dar um rumo próspero à economia de um país, utiliza-se
das denominadas políticas econômicas.
Destaquemos 3 delas:
– Política Monetária: dentre outras finalidades, é quando o governo define suas metas
em relação à taxa básica de juros, com o objetivo de conter a inflação;
– Política Cambial: são os esforços para manter a taxa de câmbio, como Real/Dólar,
dentro de um patamar aceitável de estabilidade;
– Política Fiscal: incluem as decisões de gastos e arrecadação do governo.
Obviamente, no presente artigo, trataremos dessa última.
Do lado das receitas, a principal fonte do governo é a arrecadação de tributos, seguido
pelas contribuições previdenciárias.
Mas é interessante destacar, já nesse ponto, que em geral as receitas do governo
brasileiro não dão conta de arcar com todas as despesas. Logo, uma fonte de
financiamento é a emissão de títulos públicos, como aqueles que você pode comprar no
Tesouro Direto.
Já pelo lado dos gastos, temos uma grande quantidade de destinações, sendo que
trataremos disso no próximo tópico.
GASTOS PÚBLICOS
Dentro do contexto da Política Fiscal, e para efeito de exemplificar os gastos públicos,
confira um gráfico extremamente esclarecedor, oferecido pela FGV, denominado de
Mosaico – clique aqui para conferir.
Esse mosaico dos gastos públicos diz respeito ao ano de 2016, e demonstra a fatia que
cada rubrica consome do orçamento.
Ao bater o olho no gráfico, da esquerda para a direita, vemos que grande parte do que
gastamos se dá com encargos especiais. É importante esclarecer que boa parte desse
dinheiro se refere ao pagamento da dívida pública.
A segunda maior fonte de despesa são gastos com a Previdência Social, sendo
que Saúde e Educação ficam com a terceira e quarta posições, respectivamente.
Dado esse contexto, e retomando a afirmação já realizada em parágrafo anterior, de que
o país arrecada menos do que gasta, temos um cenário de aumento explosivo da dívida
com relação ao PIB, conforme exposto no gráfico abaixo.
Vamos entender como o gráfico acima foi construído.
Mensalmente, calcula-se qual a porcentagem da dívida em relação ao PIB do país –
esclarecendo que PIB é a soma de toda a riqueza que produzimos.
Veja que a partir de 2014, a relação dívida/PIB começou a subir bastante, sendo as
linhas pontilhadas as projeções nada animadoras do mercado, no momento da
confecção do gráfico.
RESUMINDO: à medida que a diferença entre o que se gasta e o que se arrecada
aumenta, é preciso que o país empreste cada vez mais dinheiro, para fechar a conta. É
como se uma família entrasse no cheque especial e, a cada mês, vê aumentar a
diferença entre o que gasta e o que recebe.
Então, a pergunta que se segue é: como conter esse aumento da dívida pública?
Quais os instrumentos de política fiscal disponíveis?
De maneira bastante geral e simples, a resposta para tal pergunta significa o governo
gastar menos e/ou arrecadar mais.
Levando-se em consideração que boa parte dos gastos é com Juros e Amortizações da
dívida, uma possibilidade seria diminuir ao longo do tempo a taxa de juros que o
governo paga por seus títulos – a SELIC.
Mas isso poderia ter um efeito colateral de aumentar a inflação, algo pouquíssimo
desejado. Obs: não iremos discutir aqui a possibilidade de dar calote na dívida.
Uma outra possibilidade é mexer nas regras da Previdência Social, a segunda no
ranking das despesas.
E aí está uma das grandes batalhas que possivelmente será travada, pois vai mexer em
benefícios e regras de aposentadoria, difíceis de passar no Congresso Nacional –
existem muitos interesses envolvidos…
Por fim, seria possível aumentar tributos, ou criar algum novo, como a CPMF. Outra
medida extremamente impopular.
Portanto, e para não estender muito no assunto, estamos numa situação de “cobertor
curto”: ao cobrir a cabeça, descobrimos os pés.
Não entrando no mérito do que deveria ser feito, é preciso que você tenha total
consciência que o problema fiscal é algo altamente complicado, mas de suma
importância de ser acompanhado e compreendido por você.
Isso porque sua resolução implica em:
a) permitir que o país não quebre;
b) discutir novas regras para aposentadoria e;
c) impactos diretos na confiança dos investidores, na taxa de juros e na inflação.
!
AJUSTE FISCAL E PEC 241
Como já vimos, o Brasil vem enfrentando nesse ano de 2016 um sério problema fiscal:
a sua dívida tem aumentado de maneira explosiva ao longo dos anos.
A seguir nesse ritmo, o país simplesmente quebra. Clique aqui e veja caso da
Argentina.
Logo, é preciso fazer ALGO.
Não entraremos, nesse artigo, no mérito sobre o que deveria ser feito. Vamos apenas
expor os fatos.
No segundo semestre de 2016 o Presidente Michel Temer e sua equipe econômica se
empenharam para aprovar a PEC 241.
Esse Projeto de Emenda Constitucional, de maneira bastante simplificada, tem o intuito
de vincular os gastos públicos à inflação, com o objetivo de conter seu aumento
explosivo.
Ou seja, se gastamos $100 em dado ano e a inflação desse período foi de 10%, ano que
vem poderão ser gastos até $110 – esse é o teto global.
A ideia, vista de maneira bastante simples, é:
– congelar o que se gasta, apenas corrigindo esse valor pela inflação;
– conquistar a confiança dos investidores demonstrando uma austeridade fiscal de
longo prazo – o prazo é de 20 anos;
– e se o país voltar a crescer, fazer com que as receitas voltem a superar as
despesas, usando essa sobra para diminuir a dívida pública.
Obviamente, existem quem seja contra, e aqueles que são a favor da medida. Clique
aqui e veja um artigo bacana com diferentes pontos de vista.
Mas é importante que tenha em mente que tal medida será inócua se, outras reformas
não forem aprovadas, sendo a principal delas a da Previdência – a segunda maior fonte
de despesa e extremamente deficitária.
POLÍTICA FISCAL: RESUMINDO
Toda essa discussão sobre Política Fiscal, a princípio, pode parecer bastante
complicada e fora de nosso contexto diário.
Todavia, enquanto cidadão, é importante que você se engaje em compreender o que
representa toda essa discussão e quais reflexos para nossa sociedade ela trará.
Só assim, o nível do debate se eleva.
Só assim, poderemos cobrar nossos governantes para que busquem atender aos
interesses da sociedade, e não os próprios.
Só assim, plantaremos uma semente cívica, essencial para as futuras gerações.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Introdução à Macroeconomia
Introdução à MacroeconomiaIntrodução à Macroeconomia
Introdução à MacroeconomiaYuri Silver
 
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)José Mota
 
Macroeconomia -aula 1
Macroeconomia -aula  1Macroeconomia -aula  1
Macroeconomia -aula 1Na Silva
 
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendas
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendaspolíticas monetária, fiscal, cambial e de rendas
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendasMarcos Matos
 
Trabalho de economia - Setor Público
Trabalho de economia - Setor PúblicoTrabalho de economia - Setor Público
Trabalho de economia - Setor PúblicoIsmael Paulo Santos
 
Apresentação politica monetária
Apresentação politica monetáriaApresentação politica monetária
Apresentação politica monetáriaIvanildo Moreira
 
O Setor Público
O Setor PúblicoO Setor Público
O Setor PúblicoYuri Silver
 
Crescimento e Desenvolvimento Econômico
Crescimento e Desenvolvimento EconômicoCrescimento e Desenvolvimento Econômico
Crescimento e Desenvolvimento EconômicoYuri Silver
 
Fundamentos da teor. macr aula 1
Fundamentos da teor. macr aula 1Fundamentos da teor. macr aula 1
Fundamentos da teor. macr aula 1Joao Paulo
 
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)A. Rui Teixeira Santos
 
Papel das financas publicas trabalho
Papel das financas publicas  trabalhoPapel das financas publicas  trabalho
Papel das financas publicas trabalhorosita822
 
Saldo da balança de pagamentos portuguesa
Saldo da balança de pagamentos portuguesaSaldo da balança de pagamentos portuguesa
Saldo da balança de pagamentos portuguesaRaffaella Ergün
 
Resumo+de+macroeconomia
Resumo+de+macroeconomiaResumo+de+macroeconomia
Resumo+de+macroeconomiabergerbird
 
Economia aula 4 - introdução à macroeconomia
Economia   aula 4 - introdução à macroeconomiaEconomia   aula 4 - introdução à macroeconomia
Economia aula 4 - introdução à macroeconomiaFelipe Leo
 

Mais procurados (20)

Introdução à Macroeconomia
Introdução à MacroeconomiaIntrodução à Macroeconomia
Introdução à Macroeconomia
 
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
Slide unid 1-_nocoes_fin_e_econ_-__merc_capitais (1)
 
Macroeconomia -aula 1
Macroeconomia -aula  1Macroeconomia -aula  1
Macroeconomia -aula 1
 
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendas
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendaspolíticas monetária, fiscal, cambial e de rendas
políticas monetária, fiscal, cambial e de rendas
 
Trabalho de economia - Setor Público
Trabalho de economia - Setor PúblicoTrabalho de economia - Setor Público
Trabalho de economia - Setor Público
 
Apresentação politica monetária
Apresentação politica monetáriaApresentação politica monetária
Apresentação politica monetária
 
O Setor Público
O Setor PúblicoO Setor Público
O Setor Público
 
Crescimento e Desenvolvimento Econômico
Crescimento e Desenvolvimento EconômicoCrescimento e Desenvolvimento Econômico
Crescimento e Desenvolvimento Econômico
 
Macroeconomia resumo
Macroeconomia resumoMacroeconomia resumo
Macroeconomia resumo
 
Macro, politicas inflacionarias.
Macro, politicas inflacionarias.Macro, politicas inflacionarias.
Macro, politicas inflacionarias.
 
SLIDES DE MACROECONOMIA (AULA 2)
SLIDES DE MACROECONOMIA (AULA 2) SLIDES DE MACROECONOMIA (AULA 2)
SLIDES DE MACROECONOMIA (AULA 2)
 
Fundamentos da teor. macr aula 1
Fundamentos da teor. macr aula 1Fundamentos da teor. macr aula 1
Fundamentos da teor. macr aula 1
 
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)
Economia Publica. Prof. Doutor Rui Teixeira Santos. (ISCAD, 2011)
 
Papel das financas publicas trabalho
Papel das financas publicas  trabalhoPapel das financas publicas  trabalho
Papel das financas publicas trabalho
 
Política fiscal e monetária
Política fiscal e monetáriaPolítica fiscal e monetária
Política fiscal e monetária
 
Saldo da balança de pagamentos portuguesa
Saldo da balança de pagamentos portuguesaSaldo da balança de pagamentos portuguesa
Saldo da balança de pagamentos portuguesa
 
Resumo+de+macroeconomia
Resumo+de+macroeconomiaResumo+de+macroeconomia
Resumo+de+macroeconomia
 
Estadoeeconomia
EstadoeeconomiaEstadoeeconomia
Estadoeeconomia
 
Economia aula 4 - introdução à macroeconomia
Economia   aula 4 - introdução à macroeconomiaEconomia   aula 4 - introdução à macroeconomia
Economia aula 4 - introdução à macroeconomia
 
Orcamento publico vs estado
Orcamento publico vs estadoOrcamento publico vs estado
Orcamento publico vs estado
 

Semelhante a Política fiscal

Economia – a economia intertemporal parte 3
Economia – a economia intertemporal parte 3Economia – a economia intertemporal parte 3
Economia – a economia intertemporal parte 3Felipe Leo
 
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFESeconomiaufes
 
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...Gleisi Hoffmann
 
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFESeconomiaufes
 
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFESeconomiaufes
 
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primário
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primárioArtigo trabalho-compreenda o que é o superávit primário
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primárioEnio Economia & Finanças
 
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimento
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimentoDívida pública acumulação de capital e desenvolvimento
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimentopaulo rubem santiago
 
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim LevyDiscurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim LevyDenizecomZ
 
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim LevyDiscurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim LevyPalácio do Planalto
 
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente  Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente Enio Verri
 
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?Os custos tributários impactam o crescimento econômico?
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?berbone
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Carlos Eduardo
 
Cointimes Report Fevereiro
Cointimes Report FevereiroCointimes Report Fevereiro
Cointimes Report FevereiroCointimes News
 

Semelhante a Política fiscal (20)

Economia – a economia intertemporal parte 3
Economia – a economia intertemporal parte 3Economia – a economia intertemporal parte 3
Economia – a economia intertemporal parte 3
 
Aula 04.pptx
Aula 04.pptxAula 04.pptx
Aula 04.pptx
 
Cinco Dúvidas sobre o Ajuste Fiscal
Cinco Dúvidas sobre o Ajuste FiscalCinco Dúvidas sobre o Ajuste Fiscal
Cinco Dúvidas sobre o Ajuste Fiscal
 
Economia
EconomiaEconomia
Economia
 
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 39 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
 
PEC 241 - Austeridade
PEC 241 - AusteridadePEC 241 - Austeridade
PEC 241 - Austeridade
 
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...
PRESIDÊNCIA DA CAE DIVULGA COMUNICADO QUESTIONANDO PACOTE DO GOVERNO CONTRA A...
 
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 26 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
 
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 27 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
 
387 an 10 julho_2012.ok
387 an 10 julho_2012.ok387 an 10 julho_2012.ok
387 an 10 julho_2012.ok
 
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primário
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primárioArtigo trabalho-compreenda o que é o superávit primário
Artigo trabalho-compreenda o que é o superávit primário
 
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimento
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimentoDívida pública acumulação de capital e desenvolvimento
Dívida pública acumulação de capital e desenvolvimento
 
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim LevyDiscurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do novo ministro da fazenda Joaquim Levy
 
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim LevyDiscurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim Levy
Discurso de posse do ministro da Fazenda Joaquim Levy
 
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente  Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente
Crise financeira atinge estados e os países de maneira diferente
 
Dqf ufpe pec 241 23 11 2016
Dqf ufpe pec 241 23 11 2016Dqf ufpe pec 241 23 11 2016
Dqf ufpe pec 241 23 11 2016
 
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?Os custos tributários impactam o crescimento econômico?
Os custos tributários impactam o crescimento econômico?
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1
 
Cointimes Report Fevereiro
Cointimes Report FevereiroCointimes Report Fevereiro
Cointimes Report Fevereiro
 
Materialeconomia2
Materialeconomia2Materialeconomia2
Materialeconomia2
 

Política fiscal

  • 1. Política Fiscal, Gastos Públicos e PEC 241: simplificando o complicado Existe uma considerável gama de pessoas que, ao ler nos jornais alguma notícia sobre Política Fiscal ou falando de Gastos Públicos, fica pensando: “de que maneira tais questões poderiam afetar minha vida financeira?“. E para atender a tal demanda, dos interessados em compreender temas econômicos complexos, de maneira simples e rápida, é que decidi aceitar o desafio de escrever o presente artigo. Verá que, em poucos minutos de leitura, terá um conhecimento bastante acima da média sobre um assunto tão importante para seu bolso, quanto espinhoso. POLÍTICA FISCAL O governo, de forma a buscar dar um rumo próspero à economia de um país, utiliza-se das denominadas políticas econômicas. Destaquemos 3 delas: – Política Monetária: dentre outras finalidades, é quando o governo define suas metas em relação à taxa básica de juros, com o objetivo de conter a inflação; – Política Cambial: são os esforços para manter a taxa de câmbio, como Real/Dólar, dentro de um patamar aceitável de estabilidade; – Política Fiscal: incluem as decisões de gastos e arrecadação do governo. Obviamente, no presente artigo, trataremos dessa última. Do lado das receitas, a principal fonte do governo é a arrecadação de tributos, seguido pelas contribuições previdenciárias. Mas é interessante destacar, já nesse ponto, que em geral as receitas do governo brasileiro não dão conta de arcar com todas as despesas. Logo, uma fonte de financiamento é a emissão de títulos públicos, como aqueles que você pode comprar no Tesouro Direto.
  • 2. Já pelo lado dos gastos, temos uma grande quantidade de destinações, sendo que trataremos disso no próximo tópico. GASTOS PÚBLICOS Dentro do contexto da Política Fiscal, e para efeito de exemplificar os gastos públicos, confira um gráfico extremamente esclarecedor, oferecido pela FGV, denominado de Mosaico – clique aqui para conferir.
  • 3. Esse mosaico dos gastos públicos diz respeito ao ano de 2016, e demonstra a fatia que cada rubrica consome do orçamento. Ao bater o olho no gráfico, da esquerda para a direita, vemos que grande parte do que gastamos se dá com encargos especiais. É importante esclarecer que boa parte desse dinheiro se refere ao pagamento da dívida pública. A segunda maior fonte de despesa são gastos com a Previdência Social, sendo que Saúde e Educação ficam com a terceira e quarta posições, respectivamente.
  • 4. Dado esse contexto, e retomando a afirmação já realizada em parágrafo anterior, de que o país arrecada menos do que gasta, temos um cenário de aumento explosivo da dívida com relação ao PIB, conforme exposto no gráfico abaixo. Vamos entender como o gráfico acima foi construído. Mensalmente, calcula-se qual a porcentagem da dívida em relação ao PIB do país – esclarecendo que PIB é a soma de toda a riqueza que produzimos. Veja que a partir de 2014, a relação dívida/PIB começou a subir bastante, sendo as linhas pontilhadas as projeções nada animadoras do mercado, no momento da confecção do gráfico. RESUMINDO: à medida que a diferença entre o que se gasta e o que se arrecada aumenta, é preciso que o país empreste cada vez mais dinheiro, para fechar a conta. É como se uma família entrasse no cheque especial e, a cada mês, vê aumentar a diferença entre o que gasta e o que recebe. Então, a pergunta que se segue é: como conter esse aumento da dívida pública? Quais os instrumentos de política fiscal disponíveis? De maneira bastante geral e simples, a resposta para tal pergunta significa o governo gastar menos e/ou arrecadar mais.
  • 5. Levando-se em consideração que boa parte dos gastos é com Juros e Amortizações da dívida, uma possibilidade seria diminuir ao longo do tempo a taxa de juros que o governo paga por seus títulos – a SELIC. Mas isso poderia ter um efeito colateral de aumentar a inflação, algo pouquíssimo desejado. Obs: não iremos discutir aqui a possibilidade de dar calote na dívida. Uma outra possibilidade é mexer nas regras da Previdência Social, a segunda no ranking das despesas. E aí está uma das grandes batalhas que possivelmente será travada, pois vai mexer em benefícios e regras de aposentadoria, difíceis de passar no Congresso Nacional – existem muitos interesses envolvidos… Por fim, seria possível aumentar tributos, ou criar algum novo, como a CPMF. Outra medida extremamente impopular. Portanto, e para não estender muito no assunto, estamos numa situação de “cobertor curto”: ao cobrir a cabeça, descobrimos os pés. Não entrando no mérito do que deveria ser feito, é preciso que você tenha total consciência que o problema fiscal é algo altamente complicado, mas de suma importância de ser acompanhado e compreendido por você. Isso porque sua resolução implica em: a) permitir que o país não quebre; b) discutir novas regras para aposentadoria e; c) impactos diretos na confiança dos investidores, na taxa de juros e na inflação. !
  • 6. AJUSTE FISCAL E PEC 241 Como já vimos, o Brasil vem enfrentando nesse ano de 2016 um sério problema fiscal: a sua dívida tem aumentado de maneira explosiva ao longo dos anos. A seguir nesse ritmo, o país simplesmente quebra. Clique aqui e veja caso da Argentina. Logo, é preciso fazer ALGO. Não entraremos, nesse artigo, no mérito sobre o que deveria ser feito. Vamos apenas expor os fatos. No segundo semestre de 2016 o Presidente Michel Temer e sua equipe econômica se empenharam para aprovar a PEC 241. Esse Projeto de Emenda Constitucional, de maneira bastante simplificada, tem o intuito de vincular os gastos públicos à inflação, com o objetivo de conter seu aumento explosivo. Ou seja, se gastamos $100 em dado ano e a inflação desse período foi de 10%, ano que vem poderão ser gastos até $110 – esse é o teto global. A ideia, vista de maneira bastante simples, é: – congelar o que se gasta, apenas corrigindo esse valor pela inflação; – conquistar a confiança dos investidores demonstrando uma austeridade fiscal de longo prazo – o prazo é de 20 anos; – e se o país voltar a crescer, fazer com que as receitas voltem a superar as despesas, usando essa sobra para diminuir a dívida pública. Obviamente, existem quem seja contra, e aqueles que são a favor da medida. Clique aqui e veja um artigo bacana com diferentes pontos de vista. Mas é importante que tenha em mente que tal medida será inócua se, outras reformas não forem aprovadas, sendo a principal delas a da Previdência – a segunda maior fonte de despesa e extremamente deficitária.
  • 7. POLÍTICA FISCAL: RESUMINDO Toda essa discussão sobre Política Fiscal, a princípio, pode parecer bastante complicada e fora de nosso contexto diário. Todavia, enquanto cidadão, é importante que você se engaje em compreender o que representa toda essa discussão e quais reflexos para nossa sociedade ela trará. Só assim, o nível do debate se eleva. Só assim, poderemos cobrar nossos governantes para que busquem atender aos interesses da sociedade, e não os próprios. Só assim, plantaremos uma semente cívica, essencial para as futuras gerações.