2. Felizmente há luar!
Luís de Sttau Monteiro
Nome:Nome:
Luís Infante de Lacerda Sttau MonteiroLuís Infante de Lacerda Sttau Monteiro
Nasce:Nasce: 3-4-1926, Lisboa
Morre:Morre: 23-7-1993, Lisboa
Para mim há uma coisa sagrada:
Ser livre como o vento.
Luís de Sttau Monteiro
3. Felizmente há luar!
Luís de Sttau Monteiro
Ficcionista, autor dramático, encenador e
jornalista, formado em Direito.
De ascendência espanhola, viveu uma
parte da adolescência em Inglaterra,
onde o seu pai foi embaixador.
Nos anos 70 desenvolveu actividade
como jornalista.
Da segunda geração neo-realista,
recebeu com Felizmente Há Luar!, em
1962, o Grande Prémio de Teatro da
Associação Portuguesa de Escritores.
As suas sátiras sobre a ditadura e a Guerra
Colonial, fruto do seu espírito crítico e
combativo, tornaram-no objecto de
perseguição política, chegando mesmo a
ser preso.
4. Peça em dois actos
Publicada em 1961 – Grande Prémio de Teatro da
Associação Portuguesa de Escritores – censurada;
1962 – tentativa do Teatro Experimental do Porto – sem
resultado;
1ª Representação – Paris (Club Franco-Portuguais de
la Jeunesse) – 1969;
Representação em Portugal – 1978 – Teatro Nacional
D. Maria II.
2001 – Teatro Experimental do Porto.
Felizmente Há Luar!
5. Contexto da ação da peça
(período das invasões francesas)
1807 Invasões francesas: os exércitos napoleónicos invadem
Portugal e D. João VI refugia-se no Brasil, com grande parte da
nobreza e da corte. Brasil torna-se metrópole e Portugal a
colónia. Rio de Janeiro é a capital do império.
Aliança de Portugal com a Inglaterra
Administração do Reino entregue a uma Junta Provisória
1820 — Revolução liberal em Portugal (Porto). Marcha sobre
Lisboa a 28 de Setembro.
Felizmente Há Luar!
6. Instabilidade social;
Perseguições políticas constantes reprimindo: a liberdade
de expressão, a circulação de ideias e as tentativas para
implementar o liberalismo;
Repressão contra os conjurados de 1817;
Condenação à morte de Gomes Freire de Andrade.
1822 — Independência do Brasil e aclamação de D. Pedro,
Imperador do Brasil.
1821 — Regresso de D. João VI a Portugal.
1822 — Independência do Brasil e aclamação de D. Pedro,
Imperador do Brasil.
Felizmente Há Luar!
Contexto da ação da peça
(período pós invasões francesas)
7. 1823 — Restauração do Absolutismo, liderada por D. Miguel:
“Vilafrancada”.
1826 — Morte de D. João VI. D. Pedro é aclamado rei em Portugal,
abdicando a favor de sua filha, Maria da Glória, com 7 anos, na
condição de esta se casar com D. Miguel, regente do reino.
1828 — D. Miguel regressa a Portugal e é aclamado rei.
1831 — D. Pedro I, imperador do Brasil, abdica a favor de seu filho
e, a partir da ilha Terceira, nos Açores, organiza a revolta liberal,
com a ajuda dos ingleses.
1832 — Desembarque no Porto, na praia do Mindelo, e início da
guerra civil entre liberais e absolutistas, que duraria até Julho de
1833, em que os exércitos miguelistas sofreram a derrota. França e
Inglaterra apressaram-se a reconhecer o regime liberal.
Felizmente Há Luar!
8. Ação
A ação desenrola-se a partir da figura
histórica do general Gomes Freire que foi
acusado de conspirador e é
enclausurado na prisão de São Julião da
Barra. A figura do General está sempre
presente, do princípio ao fim, embora
nunca apareça.
Felizmente Há Luar!
9. Estrutura da Peça
Estrutura Externa
Peça em dois atos a que correspondem
momentos diferentes da evolução da diegese.
No Acto I é feita a apresentação da situação,
mostrando-se o modo maquiavélico como o
poder funciona, não olhando a meios para
atingir os seus objectivos.
Acto II conduz o espectador ao campo do
anti-poder e da resistência.
Felizmente Há Luar!
10. Estrutura
Estrutura Interna:
Não se trata de uma obra que respeite a
forma clássica nem obedeça à regra das três
unidades (de lugar, de tempo e de acção). No
entanto o esquema clássico está implícito
(exposição, conflito, desenlace).
A apresentação dos acontecimentos
processa-se pela ordem natural e linear em que
ocorrem, facilitando assim a sua compreensão.
Felizmente Há Luar!
11. Personagens
Gomes Freire de
Andrade
Matilde
Sousa Falcão
Manuel, Rita
D. Miguel Forjaz
Principal Sousa
Beresford
Vicente
Morais Sarmento /
Andrade Corvo
Felizmente Há Luar!
13. General Gomes Freire de Andrade
Personagem central;
Humanista ” Um amigo do povo”;
Instrução superior, letrado, estrangeirado;
Salvador da Pátria “Em ninguém o povo
tem mais esperança...”
Militar que sempre lutou em prol da justiça;
Símbolo da modernidade;
Símbolo da luta pela liberdade;
Adepto das novas ideias liberais;
Grão-mestre da Maçonaria.
Felizmente Há Luar!
14. Matilde
Companheira de todas as horas;
Dá voz à injustiça sofrida pelo seu
homem;
Denuncia a hipocrisia do Estado e da
Igreja;
Carinhosa “Ele dava-me a mão, eu
dava-lhe a minha...”
Corajosa e lúcida;
Revoltada
Felizmente Há Luar!
15. Sousa Falcão
• Amigo de todas as horas;
• Confidente e fiel;
• Solidário, demonstra os seus valores de fiel amigo;
• Consciente das suas limitações, em termos de lhe faltar
coragem para enfrentar o poder;
• Sente-se triste e amargurado consigo próprio por não
ter tido atitudes consentâneas com os seus ideais.
Felizmente Há Luar!
16. Manuel e Rita
Símbolos do povo oprimido, da classe explorada;
Demonstram:
Consciência da injustiça em que vivem e de que são
vítimas;
Consciência da sua impotência para alterar a
situação;
Consideram Gomes Freire uma espécie de Messias, ao ser
preso eles sentem-se atraiçoados, daí talvez a
agressividade para com Matilde;
No final da peça, acabam por simbolizar a
desesperança, a desilusão e a frustração. Cada vez se
sentem mais miseráveis devido à impossibilidade de
mudança.
Felizmente Há Luar!
17. Vicente, o traidor
Pertence ao povo, mas atraiçoa-o;
Ambicioso pela procura do protagonismo;
Interessa-lhe a ascensão sócio-política;
Demonstra alguma lucidez na análise que
efectuada situação em que vive;
Personagem que possui dupla função:
- provoca repulsa/antipatia devido às suas
atitudes ignóbeis;
- provoca algum incómodo, porque faz com
que olhemos para nós próprios, acordando más
consciências adormecidas.
Felizmente Há Luar!
18. Personagens do Poder
Poder político/ militar/ religioso
D. Miguel General Beresford Principal Sousa
Felizmente Há Luar!
19. Miguel de Forjaz
Protótipo do pequeno tirano;
Contrário ao progresso;
Insensível à injustiça e à miséria;
Prepotente;
Discurso oco e demagógico;
Rancoroso;
Medíocre;
Falso e hipócrita.
Felizmente Há Luar!
20. Principal Sousa
Simboliza o conluio entre a Igreja e o
poder;
Não cumpre a sua função de
denunciar as injustiças sociais;
Defende o obscurantismo e a
miséria;
Odeia a Revolução Francesa que
promove ideias subversivas;
Hipócrita: odeia Beresford por ser
herege, mas aceita o seu auxílio.
Felizmente Há Luar!
21. General Beresford
Personagem cínica e controversa;
Crítico e irónico;
As suas motivações são individuais e
materialistas;
Revela uma antipatia extrema face
ao catolicismo, ao exercício
incompetente do poder e a toda a
sociedade portuguesa que
considera caduca e obsoleta.
Felizmente Há Luar!
23. EspaçoEspaço
O espaço físico não
assume grande
relevância, por isso são
escassas as referências
explícitas aos locais;
Só os diferentes espaços
sociais importam;
A acção começa na rua
(segundo Brecht é o espaço
mais próprio para revelar
o homem nas suas
relações sociais)
Felizmente Há Luar!
24. Tempo histórico: século XIX.
Tempo da escrita (discurso): 1961, época dos
conflitos entre a oposição e o regime salazarista.
Tempo da representação: 1h30m/2h.
Tempo da acção dramática: a acção está
concentrada em 2 dias.
Tempo da narração: informações respeitantes a
eventos não dramatizados, ocorridos no passado,
mas importantes para o desenrolar da acção.
Felizmente Há Luar!
Síntese do Tempo na obraSíntese do Tempo na obra
25. O tempo é uma metáfora do sec. XXO tempo é uma metáfora do sec. XX
26. Século XIX - 1817 Século XX - 1961
♣ Censura à imprensa ♣ Censura total
♣ Repressão dos conspiradores;
execução sumária e pena de
morte
♣ Prisão; duras medias de
repressão e tortura; condenação
sem provas
♣ Execução de Gomes Freire de
Andrade
♣ Execução de Humberto Delgado
♣ A Regência assentava numa
política maniqueísta
“Quem não é por nós é contra
nós”
♣ O regime salazarista assentava
numa política maniqueísta -
“Quem não é por nós é contra
nós”
♣ 1834 – Triunfo do Liberalismo ♣1974 – Triunfo da Democracia
Século XIXSéculo XIX(tempo da história)(tempo da história) - metáfora do século XX- metáfora do século XX (tempo do discurso)(tempo do discurso)
29. Didascálias
Dois tipos de didascálias podem ser observadas
na obra:
As didascálias internas ao texto que servem, por
exemplo, para acompanhar as falas e a posição das
personagens em cena, as indicações aos atores, o
tom de voz das personagens, a iluminação, da
linguagem gestual. Surgem em itálico e, por vezes,
entre parêntesis.
As didascálias externas ao texto (laterais)
proporcionam explicações precisas quanto à atuação
das personagens e dão conta da tensão dramática,
percecionada, por exemplo, no som dos “tambores
[que] entram em fanfarra”. Servem, ainda, para dar
uma análise interpretativa do texto principal.
30. Simbologia
Saia verde: A saia encontra-se associada à
felicidade e foi comprada numa terra de
liberdade: Paris, no Inverno. O verde significa a
esperança de que um dia se reponha a justiça. É
sinal do amor verdadeiro e transformador, pois
Matilde, vencendo aparentemente a dor e
revolta iniciais, comunica aos outros esperança.
O verde é a cor predominante na natureza e dos
campos na Primavera, associando-se à força, à
fertilidade e à esperança.
Felizmente Há Luar!
31. Simbologia
Luar: Duas conotações: para os opressores, mais pessoas
ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão
um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.
Fogueira: no presente representa a tristeza, a escuridão, mas
no futuro representará a esperança e a liberdade.
Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais
poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os
mandamentos de Deus.
Tambores: símbolo da repressão sempre presente.
Sinos: Traduzem o perverso envolvimento da Igreja nos
assuntos do Estado, contribuindo para a repressão imposta
sobre o povo (anunciam a morte de Gomes Freire).
Contribuem para a denúncia da deturpação da mensagem
evangélica ao serviço de interesses mesquinhos e materiais.
Felizmente Há Luar!
32. Simbologia
O título “Felizmente Há Luar!”: É uma expressão proferida por
duas personagens de “ mundos “ diferentes, no final do ato II: D.
Miguel, símbolo do poder e Matilde , símbolo da resistência.
-- Tendo em conta esta dualidade, o luar é interpretado de forma
diferente por cada uma das personagens.
• Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira seja
visto por todos, atemorizando aqueles que ousem lutar pela
liberdade, sendo por isso um efeito dissuasor.
• Para Matilde, o luar sublinha a intensidade do fogo, incitando à
ousadia daqueles que acreditam na mudança e na caminhada para a
“ luz da liberdade”(prenúncio da revolução liberal), constituindo-
se, por isso, como um estimulo para que o povo se revolte.
Felizmente Há Luar!
33. Síntese da Acção
Prisão do General
Perseguição política ao General Gomes Freire
Condenação à morte
Revolta desesperada
de Matilde e Sousa Falcão
Resignação do povo
Felizmente Há Luar!
Notas do Editor
Suprimida pela censura da ditadura
Encenada pelo próprio autor em 1978
No âmbito do Porto 2001 – nova encenação desta peça
1 – os ingleses instalaram-se em Portugal para combater o exército francês, desde 1808.
2 – a corte partiu em 29/Nov./1807.
3 – Constituição da Junta: slide nº 5
Suprimida pela censura da ditadura
Encenada pelo próprio autor em 1978
No âmbito do Porto 2001 – nova encenação desta peça