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Felizmente há luar!
Luís de Sttau
Monteiro
(1926-1993)
Vida e obra de Sttau
Monteiro
Biografia
-Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu a 3 de
Abril de 1926, em Lisboa, e morreu a 23 de Julho de 1993,
na mesma cidade.
-Viveu a sua infância e adolescência em Londres, onde o seu
pai exerceu, durante as décadas de 30 e 40, as funções
de embaixador de Portugal, até ser demitido por Salazar
em 1943.
- Esses anos em Inglaterra foram decisivos para a sua formação
intelectual, devido ao contacto próximo com o panorama histórico-político vivido na Europa e
com a cultura e mentalidade inglesas.
- De regresso a Portugal, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
tendo concluído o curso em 1951.
- Exerceu advocacia apenas durante dois anos. Assim, e como forma de sobrevivência
material, dedicou-se ao jornalismo e à atividade
publicitária, o que lhe permitiu dar largas à sua atividade literária.
- Teve um importante papel na divulgação da dramaturgia estrangeira, produzida nos anos
50/60, tanto como tradutor como encenador de peças de vários autores (como por exemplo
William Shakespeare).
- Em 1961, foi preso pela PIDE (depois de ter sido alvo de várias perseguições).
- Nesse mesmo ano (1961) publicava-se a peça de teatro Felizmente há luar!, que a
Associação Portuguesa de Escritores distinguiu com o Grande Prémio de teatro no ano
seguinte, mas que a censura do regime salazarista apreendeu de imediato.
- Revelou-se um forte opositor ao regime fascista, dando guarida a vários amigos perseguidos
pela polícia de estado.
- Entre 1962 e 1967, desiludido com Portugal, autoexilou-se em Inglaterra, onde entrou num
período de forte produção literária.
-Sttau Monteiro desenvolveu uma intensa atividade jornalística em revistas como
Almanaque e o suplemento “A Mosca”, do Diário de Lisboa que
dirigiu até 1979.
-Nos primeiros tempos da curta e ilusória “primavera marcelista”, As Mãos de Abraão Zacut,
publicada em 1968, seria a primeira peça de Sttau Monteiro a representar-se, no Teatro
Estúdio de Lisboa, em 1969.
- Em 1978, subiu à cena, no Teatro Nacional, a peça Felizmente há luar!, numa encenação
do próprio autor, que não foi recebida de forma unânime pela crítica: uns valorizando o
trabalho político do autor, outros queixando-se da fraca encenação e outros da intenção
satírica.
Principais obras publicadas
Ficção:
Um Homem Não Chora, romance,1960
Angústia para o jantar, 1961
E se For Rapariga Chama-se Custódia, novela 1966
Agarra o verão, Guida, Agarra o Verão, romance inédito que constituirá a base da
telenovela Chuva na Areia, 1982
Teatro:
Felizmente Há Luar!,1961
Todos os Anos pela primavera,1963
O Barão, adaptação da novela de Branquinho da Fonseca para o teatro,1965
Auto da Barca do Motor Fora de borda,1966
A Guerra Santa,1967
A Estátua,1967
As Mãos de Abraão Zacut,1968
Sua Excelência,1971
Temáticas mais comuns nas suas obras
- Luís de Sttau Monteiro foi um homem que entendeu a vida como um desafio: o de
conciliar uma profissão com o prazer e a liberdade de ser e estar.
- Nunca abdicou dos seus ideais, nomeadamente a defesa da liberdade, a luta contra a
intolerância e as injustiças sociais, o que o levou a afirmar que, para ele, “a única coisa
sagrada (era) ser livre como o vento”
Em toda a sua obra revela estes três
ideais que sobretudo se exprimem
através da linguagem teatral.
Como o próprio autor diz:
“ A minha vida é uma luta pela liberdade (…) E ao lado disso o
teatro é uma literatice sem o mais pequeno interesse”
As temáticas presentes na
obra Felizmente há luar! são
exatamente a ânsia pela
liberdade e a luta contra a
intolerância e as injustiças
sociais.
idade histórica – paralelismo do tempo da história e do tempo da
- Logo no início da peça, nas didascálias laterais, Sttau Monteiro apela para a necessidade
de o leitor “entender, logo de entrada, que tudo o que se vai passar no palco tem um
significado preciso” e “que os gestos, as palavras e o cenário são apenas elementos de
uma linguagem a que tem de adaptar-se”.
- Desta forma afirma que na peça Felizmente há luar! existe um paralelismo entre um
passado histórico revisitado e a contemporaneidade portuguesa dos anos sessenta.
Foi esta a forma que o escritor encontrou para ludibriar a censura oficial e poder criticar a
sociedade portuguesa do seu tempo.
As instituições da sociedade fascista são, assim, postas em causa pela critica da sociedade
portuguesa do Antigo Regime.
Tempo da história
(século XIX- 1817)
Tempo da escrita
(séc. XX - 1961)
Agitação social que levou à revolta
liberal de 1820:
- conspirações internas;
- revolta contra a presença da corte no Brasil e influência do exército
britânico
- regime absolutista e tirânico.
Agitação social dos anos 60:
- conspirações internas;
- principal irrupção da guerra colonial;
- regime ditatorial de Salazar.
- Classes fortemente hierarquizadas. - Maior desigualdade entre ricos e pobres.
Povo oprimido, explorado (pelas classes dominantes) e resignado. - Povo reprimido e explorado.
- Proximidade entre o poder político e a Igreja.
- Proximidade entre o poder do Estado e da Igreja: Amizade entre o cardeal
cerejeira e Salazar.
- A “Miséria, o medo e a ignorância”:
» Obscurantismo, mas “felizmente há luar”
- Miséria, medo e analfabetismo:
» Obscurantismo, mas crença na mudança
- Luta contra a opressão do regime absolutista. - Luta contra o regime totalitário e ditatorial.
- Denúncia da opressão e miséria - Agitação social e política com militares antifascistas a protestarem.
- Perseguições dos agentes dos governantes britânicos. - Perseguições da PIDE.
- Censura à opinião - Censura à imprensa:
» Nenhum texto ou obra era publicado sem exame prévio ( lápis azul).
- Execução do general Gomes Freire, paradigma da história - Condenação em processos sem provas
O espaço - físico e social
Espaço físico
Ao longo da peça surgem referências a espaços físicos reais, contextualizadores da ação
e criadores de verosimilhança:
 Campo de Ourique
“ Em Campo d`Ourique – já lá vão mais de dez anos – quando eu era soldado no
regimento de Gomes Freire…” (na fala do Antigo Soldado)
 Cais do Sodré
“No Cais do Sodré há um café, Excelência, onde se reúnem todos os dias os defensores
do sistema das cortes…” (fala de Vicente dirigindo-se a D. Miguel)
 O Rato
“ Tenho uma missão para si. Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que
veja quem entra em casa do meu primo” (Fala de D. Miguel dirigindo-se a Vicente)
“ Tenho o corpo no Rato e a alma em S. Julião da Barra (…)”
 S. Julião da Barra
“ Que estará ele fazendo a esta hora, fechado numa cela em S. Julião da
Barra?” (fala de Matilde interrogando-se acerca da detenção do General
Gomes Freire de Andrade)
 Campo de Sant`Ana
“Durante uns instantes ouve-se o latim dos padres que acompanham os presos ao Campo
de Sant`Ana e veem-se os populares, sentados, a meia-luz.”
Espaço social
A articulação entre o espaço físico e o espaço social é conseguida pela utilização de objetos
– símbolos e pela postura e comportamento de personagens que identificam os dois grupos
socias em oposição: o grupo do poder e o do povo oprimido.
Espaço do poder Espaço do povo
Interior Exterior: rua
Presença de cadeiras figurativas do poder e riqueza.
Presença de um criado de libré.
Poucos adereços: caixote, boneca esfarrapada, sacos vazios.
Triunvirato: Beresford, D. Miguel e principal Sousa Povo indistinto
Vestes imponentes do principal Sousa Povo andrajosamente vestido
Multidão de mutilados e doentes que pedem esmola.
Vaivém de delatores Presença constante de polícia vigilante, anunciada por som de tambores
Ausência de liberdade em andar pela rua
Prisão onde encerram Gomes Freire: masmorra de condições indignas
Os símbolos
Titulo – Felizmente há luar !
- É uma expressão que faz parte de um documento escrito por D. Miguel e enviado ao intendente da
polícia, no dia da execução do general.
-No texto de Sttau Monteiro, é uma expressão proferida por duas personagens de “ mundos “
diferentes, no final do ato II: D. Miguel, símbolo do poder , e Matilde , símbolo da resistência .
- Tendo em conta esta dualidade, o luar é interpretado de forma diferente por cada uma das
personagens. Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira seja visto por todos, atemorizados
aqueles que ousem lutar pela liberdade, sendo por isso um efeito dissuasor. Para Matilde, o luar sublinha
a intensidade do fogo, incitando à ousadia daqueles que acreditam na mudança e na caminhada para a “
luz da liberdade”(prenúncio da revolução liberal), constituindo-se, por isso, como um estimulo para que o
povo se revolte.
-Intencionalmente, Sttau Monteiro escolhe esta expressão para título da sua obra e reforça o seu
objetivo: a esperança no restabelecimento da justiça.
Lua
- Por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, a
Lua representa dependência, periocidade.
- A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz é a força extraordinária
que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem
da vida para a morte e vice-versa, o que , aliás, se relaciona com a crença na
vida para além da morte.
Saia verde
- Encontra-se associada a momentos de felicidade vividos pelo casal.
- O verde da saia simboliza a esperança de que um dia se reponha a justiça.
-É sinal de um amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a
dor e a revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de
vestuário.
Fogueira
-Para D. Miguel Forjaz, a fogueira constituirá um ensinamento para o povo; para Matilde, a
chama da fogueira manter-se-á viva e a liberdade triunfará.
- Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e a escuridão, no futuro relacionar-
se-á com a esperança e a liberdade.
Moeda de cinco réis
- Funciona como símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o
próximo, o que contraria os mandamentos de Deus.
As personagens
Grupos de personagens
As personagens do poder – “Três conscienciosos governadores do Reino”:
- o poder político representado por D. Miguel;
- o poder religioso na figura do principal Sousa;
- o poder militar representado por Beresford.
Os delatores
- Andrade Corvo e Morais Sarmento, “ dois denunciantes que honraram a classe”
-Vicente, “um provocador em vias de promoção”.
As personagens do antipoder
- General Gomes Freire de Andrade, a presença ausente;
- Matilde de Melo, “ a companheira de todas as horas”;
- Sousa Falcão, “o inseparável amigo”;
- Frei Diogo.
O Povo
- Manuel, “ o mais consciente dos populares”.
- Rita, “ a mulher do Manuel”
- Os populares, “ o pano de fundo permanente”.
Caracterização das personagens
As personagens do poder
D. Miguel
-Pequeno tirano, inseguro e prepotente, revela-se um homem contrário ao progresso e
insensível à justiça a à miséria.
- O seu discurso preconceituoso e profundamente demagógico constrói-se sobre verdades
e convicções falsas. Os argumentos do “ardor patriótico”, da construção de “um Portugal
próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que vivia lavrando e defendendo a
terra, com os olhos postos no Senhor” são o eco fiel do discurso politico Salazarista.
- D. Miguel revela falsidade e hipocrisia.
Beresford
- Personagem cínica e controversa que lidera o processo de Gomes Freire, não como um
dever nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do
seu posto e da sua tença anual.
-A sua presença contribuiu para acentuar as contradições no seio do poder.
- É um homem crítico em relação a Portugal e está sempre pronto a denegrir a sua imagem.
- Surge como uma voz que reprova a atuação de D. Miguel e do principal Sousa.
Principal Sousa
-Além da hipocrisia e da falta de valores éticos, esta personagem deixa transparecer que os
interesses particulares suplantam o bem comum – “Agora me lembro de que á anos, em
Campo de Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo! “
-Simboliza, de igual modo, o arranjo entre a Igreja, enquanto instituição, e o poder e a
demissão da mesma em relação à denúncia das verdadeiras injustiças.
-As didascálias que acompanham esta personagem no ato I – “ O principal Sousa surge no
palco imponentemente vestido.” (p.36) – e no ato II – “ Surge a meio do palco (…) Está
vestido de gala e sentado na cadeira em que apareceu no 1º ato” (p. 121) – mostram tratar-
se de um homem vaidoso que aprecia a riqueza e o luxo, o que entra em conflito com os
princípios da Igreja.
- É um homem que não apresenta uma forte convicção relativamente aos procedimentos
adotados contra o general Gomes Freire : tem dúvidas e hesitações. “Não me agrada a
condenação dum inocente…”
Os delatores
 Vicente
- Elemento do povo
- Trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua própria
ascensão político-social.
- A sua atuação evidencia dois momentos distintos:
• Num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general,
assumindo-se como um provocador e agitador
“ Vocês ainda não estão fartos de generais? (…) Tu, José: Tens sete filhos com
fome e frio e vais para casa com as mãos a abanar. Julgas que o Gomes
Freire os vai vestir? (…) E tu (…) Julgas que matas a fome com balas? Idiotas!
(…) O que eles querem é servir-se da gente”
• Num segundo momento, assumindo o papel específico de denunciar o general
a D. Miguel a troco da nomeação como intendente da política.
- Ele é indubitavelmente todo aquele que se vende ao poder, de forma pouco escrupulosa.
“Eu, chefe de policia! Estou a ver a cara do povo… (…) o povo a vir bater-me à porta:
-Meu senhor: Nós não temos pão em casa… Dê-nos uma esmolinha (…)
E lá lhes vou dando umas moedas, por caridade …”
Andrade Corvo e Morais Sarmento
- São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais,
para servir obscuros “propósitos patrióticos”.
As personagens do antipoder
Sousa Falcão
- Sousa Falcão, “o inseparável amigo”, “ o amigo de todas as horas”, é o amigo fiel em quem
se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade.
- No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes, não atuou de forma adequada
com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à ação. Por isso, para ele, o general é
mais do que um amigo, é alguém que ele desejaria ser.
- O processo de Gomes Freire permite a Sousa Falcão uma reflexão e consciencialização da
sua própria existência- “ Há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por
dentro”( Diálogo final com Matilde)
Gomes Freire de Andrade
- Como o próprio dramaturgo afirma, “está sempre presente, embora nunca apareça” e é a
personagem central de peça.
- Gomes Freire aparece-nos, então, como um homem instruído, letrado, “um estrangeirado”,
um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça.
- O povo vê nele o seu herói, o único que será capaz de o libertar do clima de opressão e
terror em que vive, depositando nele as derradeiras esperanças de sobrevivência e de
regresso a uma sociedade justa e livre do domínio dos ingleses e da tirania da regência.
- É o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais e daí que a sua
presença se torne tão incómoda para os “reis do Rossio”.
- A sua morte, servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também,
de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe.
- O martírio de Gomes Freire, a sua lição de coragem, bem como a sua determinação em não
abandonar o sonho de ver Portugal livre, constituem os principais elementos da construção do
caracter épico e trágico desta personagem.
Matilde de Melo
-“Companheira de todas as horas” de Gomes Freire é ela quem dá voz á injustiça sofrida pelo
seu homem.
- As suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e
da hipocrisia do Estado e da Igreja, identificando-se com a ideologia progressiva dos anos 60.
- Os monólogos desta personagem revelam tratar-se de uma mulher que foge ao paradigma
das mulheres da sua época. Ex: Não estava casada com Gomes Freire, sendo, por isso,
apelidada de “a amante de Gomes Freire”.
-Quando dialoga com os representantes da Igreja, revela um profundo conhecimento dos seus
princípios e insurge-se contra a leviandade de um Igreja que desconhece o verdadeiro
significado da caridade da justiça e da igualdade entre os homens.
- Quando dialoga com o povo mostra-se insatisfeita com a sua falta de solidariedade e apoio.
- Matilde é uma personagem modelada, uma vez que se apresenta inicialmente como uma
mulher que apenas quer salvar o seu homem mas ao tomar consciência da trama
maquiavélica que envolve o general, acaba de assumir a luta de Gomes Freire, revelando-se
firme e corajosa.
-Acreditando num reencontro pós-morte, Matilde reafirma a crença numa outra vida para
além da vida terrena, revelando-se, assim, como uma cristã autêntica.
- No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem arrasta-a para um
delírio final em que envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris, Matilde
dialoga a uma só voz , com Gomes Freire vivendo momentos de
alucinação intensa e dramática. Estes momentos finais pelo seu caracter surreal, denunciam o
absurdo a que a intolerância e a violência dos homens conduzem.
Frei Diogo de Melo e Meneses
-Esta personagem é o símbolo do antipoder dentro da Igreja – “ se há santos, Gomes Freire é
um deles…”.
- Surge por oposição ao principal Sousa, representante de uma igreja que em tudo se
distância dos princípios mais autênticos da Igreja de Cristo e que, por isso, desvirtua a
interpretação dos textos sagrados.
- Frei Diogo é o representante de uma igreja autêntica.
- É ele que fortalece Matilde quando esta parece deixar de ter fé e afirma que “A misericórdia
de Deus é infinita”. Acrescentando que “Haja o que houver, não julgue a Deus pelos homens
que falam em seu nome”. Este apelo de Frei Diogo denuncia a atuação contraditória dos
homens da Igreja.
 O Povo
- Encontra-se representado pela presença de “vários populares” e não tem uma intervenção
direta no conflito dramático .
- É um grupo de infelizes , de desanimados, que ninguém respeita, que não vive, mas apenas
sobrevive, e cuja condição contraria os princípios da dignidade humana.
 Manuel e Rita
- São símbolos de um povo oprimido e esmagado, sem vitalidade.
- Têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos
poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação.
- Veem em Gomes Freire uma espécie de messias e, desta forma, a sua prisão é uma espécie
de traição à esperança que o povo nele depositava.
-A fala de Manuel, no início do ato II, evidencia um tom irónico que acompanha o desdobramento
de personalidades que a personagem ensaia: o oprimido que suplica miseravelmente uma
esmola e o opressor que humilha de forma arrogante.
Reforça o panorama de injustiça social, de falta de liberdade e dignidade humana que toda a
peça claramente denuncia.
Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda
uma legião de miseráveis face á quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em
que vivem.
Personagens reais da peça
Gomes Freire de Andrade D. Miguel Pereira Forjaz
(Viena,1757-1817,S. Julião da Barra) (1769 – 1827)
- Foi acusado de liderar uma conspiração
em 1817 contra a monarquia de Dom João VI
- Embora não fosse provado o seu envolvimento
foi detido, preso, condenado à morte e
enforcado junto ao Forte de São Julião da Barra
por crime de traição à Pátria.
- Após a vitória liberal, a memória do general
foi reabilitada, transformando – se num dos
mártires da liberdade.
-Sttau Monteiro encontra na figura histórica do
general o exemplo do homem que sacrifica a vida
em nome do valor da liberdade.
Marechal Beresford
(1768-1854)
António de Sousa Falcão
Matilde de Melo
Frei Diogo de Melo e
Meneses
 Pedro Pinto de Morais
Sarmento
Andrade Corvo de
Camões
 D. José António de
Meneses e Sousa Coutinho
– Principal Sousa
A ação da peça
Resumos dos atos
Ato I
- O ato inicia-se com uma cena coletiva.
- Do conjunto do povo, andrajosamente vestido, destacam-se Manuel, Rita, dois populares,
uma velha e Vicente. O diálogo entre as personagens incide sobre a miséria em que vivem e
a impotência de a solucionar, traduzida na interrogação de Manuel ”Que posso eu fazer?”.
- O Som dos tambores, que se ouve ao longe , faz com que os populares comecem a falar de
Gomes Freire de Andrade - “ Um amigo do povo! Um homem às direitas !”
- Todos parecem adorar Gomes Freire, exceto Vicente que desconstrói a imagem do general
como homem perfeito. O seu discurso é repleto de ironia , tentando mostrar aos que o ouvem
que o general não é diferente dos outros poderosos, porque “ O que há é homens e
generais”.
-Entretanto, o povo dispersa com a chegada de dois polícias que vêm
recolher informações e que se aproximam de Vicente.
- O diálogo entre as três personagens mostra-nos, progressivamente, que Vicente orienta a
sua vida em função do dinheiro e do poder – “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na
força”.
-Por isso, não tem pudor em afirmar que vende os seus ” irmãos”, porque eles lhe fazem
lembrar a fome e a miséria em que nasceu - “…sempre que olho para eles me vejo a mim
próprio: sujo , esfomeado, condenado à miséria por acidente de nascimento”.
- Este “acidente” foi determinante para a revolta contra a sua condição – “A única coisa que
me distingue de um fidalgo é uma coisa que se passou há muitos anos e de que nem sequer
tive a culpa : o meu nascimento “.
-Depois, os dois polícias comunicam a Vicente que o governador do reino , D. Miguel Pereira
Forjaz , lhe quer falar para, provavelmente o incumbir de “uma missão especial”. Vicente
imagina-se já chefe de polícias e, face ao comentário do primeiro polícia de que , tendo sido
“os portadores da boa nova”, poderiam ser recompensados, lembra a arrogância dos
poderosos , mesmo quando a sua origem é humilde. “ Ah! Ah! Ah! Os degraus da vida são
logo esquecidos por quem soube a escada… Pobre de quem lembre ao poderoso a sua
origem… Do alto do poder, tudo o que ficou para trás é vago e nebuloso. (…) Quem sobe,
amigos, larga os homens e aproxima-se de Deus! Passa a ser julgado por outras leis…”
-D. Miguel dá uma missão a Vicente: vigiar a casa de seu primo, o general Gomes Freire de
Andrade, para os lados do Rato.
-Vicente sai e os” três reis do Rossio”, D. Miguel, o principal Sousa e o Marechal Beresford
dialogam sobre o estado da nação, o perigo das novas ideias subversivas que destruirão o
país e o “reino de Deus”. Chegam, então à conclusão de que é necessário encontrar um
nome , alguém que possam acusar de ser o responsável pelo clima de insurreição que alastra
pelo país. Andrade Corvo e Morais Sarmento, antigos companheiros do general e atuais
delatores apresentam-se diante dos governantes, dando-lhes conta dos resultados das suas
investigações , em troca de “algo mais substancial”.
-De novo sós, os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser
inimigo do reino, tomando forma a ironia de Beresford, que sem inibições , desprestigia os
portugueses e assume sem pudor a sua sobranceria e o seu interesse meramente económico
– “Pretendo uma única coisa de vós: que me pagueis - e bem!”. Pragmaticamente Beresford
afirma que troca os seus serviços ( a reorganização do exército) por dinheiro. O principal
Sousa confessa que a atitude do marechal lhe desagrada, mas que precisa dele para
encontrar “o chefe da conjura”.
- Mais tarde Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente indicam o nome do opositor, era
general Gomes Freire de Andrade. Agora só resta a “Morte ao traidor Gomes Freire de
Andrade”.
Ato II
- Inicia-se com uma cena coletiva.
- Manuel revela a sua impotência perante a prisão do general e constata que a situação de
miséria em que vivem é ainda mais desesperante – “E ficamos pior do que estávamos… Se
tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome …”.
- Os restantes populares acompanham-no no seu desalento, até uma nova intervenção
policial, que dispersa o grupo.
- Rita mostra a sua piedade relativamente a Matilde (tinha-a ouvido chorar após a prisão do
seu homem) e suplica a Manuel que não se meta “nestas coisas”.
- Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os momentos de intimidade
vividos com o seu general e ironiza dizendo que, se o seu filho ainda fosse vivo, lhe ensinaria
a ser cobarde e “ a cuidar mais do fato do que da consciência e da bolsa do que da alma.”
- Sousa Falcão, “amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire”, surge diante de Matilde,
confessando o seu desânimo e desencanto face ao país em que vive – “O Deus deste
reino é um fidalgo responsável que trata como amigo o Pôncio
Pilatos (…) Vive num solar brasonado e dá esmolas, ao domingo, por
amor a Deus.”
- Sousa Falcão despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando
Matilde, chorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder.- “Vou enfrentá-los. É o
que ele (o general) faria se aqui estivesse”.
- Diante de Beresford, que aproveita a situação para humilhar a mulher do general, Matilde
suplica-lhe a sua libertação- “Quero o meu homem! Quero o meu homem, aqui ao meu lado!”
-sem qualquer fruto.
- Matilde desesperada, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam
Vicente, agora feito chefe da polícia.
- No entanto, Manuel e Rita, após momentos de recriminação a Matilde, de que a oferta de
uma moeda como esmola é símbolo, manifestam-lhe a sua solidariedade moral- “Não a
podemos ajudar, senhora. Deus não nos deu nozes e os homens tiram-nos os dentes…”
- Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o general, já
encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião da Barra, sem direito a julgamento.
Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o general um dia lhe oferecera em
Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide enfrentar uma vez mais o poder.
O seu objetivo é exigir um julgamento e, para isso dirige-se ao principal Sousa, desmontando
a mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu comportamento é contrário aos
ensinamentos de Cristo- “ Como governador, já perdoou a Cristo o que ele foi e o que ele
ensinou?”
- Sousa Falcão anuncia que a execução do general está próxima. Matilde, em desespero,
pede, uma vez mais, pela vida do general e D. Miguel Forjaz informa que a execução se
prolongará pela noite ,”mas felizmente á luar…”
- Matilde inicia ,então, um discurso de grande intensidade dramática : dirige-se a Deus,
interpelando-o e lembrando-lhe os seus ensinamentos e os resultados práticos desses
ensinamentos- “Senhor: não pretendo ensinar-te a seres Deus, mas, quando chegar a hora da
sentença não te esqueças de que estes sabiam o que faziam!” Os populares comentam a
execução do general: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado.
- O ato termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde
despede-se do homem que amou -“ Dá-me um beijo- o último na terra – e vai! Saberei que lá
chegas-te quando ouvir os tambores!”, e lança palavras de coragem e ânimo ao povo –
“Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira (…) felizmente há luar!”
Conclusão…
Escrita numa época de tirania, ditadura e opressão, com o objetivo de levar o publico leitor a
refletir sobre as circunstancias da situação politica que se vivia no momento (1961), poder-
se-á dizer que Felizmente há luar! Perdeu a sua eficácia argumentativa?
O texto de Sttau Monteiro desenvolve uma serie de aspetos/temas que são universais e
atemporais:
- A luta por um ideal (liberdade);
- A denuncia das injustiças sociais
- A questão da religião: o ser e o parecer
- A coragem
- A lealdade
- a condenação da opressão e da delação
-a dimensão do verdadeiro patriotismo
- A amizade
- a condição feminina: a mulher com um papel ativo na sociedade
- as diversas vertentes do amor: amor à pátria
amor à liberdade
amor - paixão
Trata-se de um texto engagé – como eu – à causa do homem, à causa da vida.
Luís de Sttau Monteiro
Fim…

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  • 1. Felizmente há luar! Luís de Sttau Monteiro (1926-1993)
  • 2. Vida e obra de Sttau Monteiro Biografia -Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu a 3 de Abril de 1926, em Lisboa, e morreu a 23 de Julho de 1993, na mesma cidade. -Viveu a sua infância e adolescência em Londres, onde o seu pai exerceu, durante as décadas de 30 e 40, as funções de embaixador de Portugal, até ser demitido por Salazar em 1943. - Esses anos em Inglaterra foram decisivos para a sua formação intelectual, devido ao contacto próximo com o panorama histórico-político vivido na Europa e com a cultura e mentalidade inglesas. - De regresso a Portugal, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo concluído o curso em 1951. - Exerceu advocacia apenas durante dois anos. Assim, e como forma de sobrevivência material, dedicou-se ao jornalismo e à atividade publicitária, o que lhe permitiu dar largas à sua atividade literária.
  • 3. - Teve um importante papel na divulgação da dramaturgia estrangeira, produzida nos anos 50/60, tanto como tradutor como encenador de peças de vários autores (como por exemplo William Shakespeare). - Em 1961, foi preso pela PIDE (depois de ter sido alvo de várias perseguições). - Nesse mesmo ano (1961) publicava-se a peça de teatro Felizmente há luar!, que a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu com o Grande Prémio de teatro no ano seguinte, mas que a censura do regime salazarista apreendeu de imediato. - Revelou-se um forte opositor ao regime fascista, dando guarida a vários amigos perseguidos pela polícia de estado. - Entre 1962 e 1967, desiludido com Portugal, autoexilou-se em Inglaterra, onde entrou num período de forte produção literária. -Sttau Monteiro desenvolveu uma intensa atividade jornalística em revistas como Almanaque e o suplemento “A Mosca”, do Diário de Lisboa que dirigiu até 1979. -Nos primeiros tempos da curta e ilusória “primavera marcelista”, As Mãos de Abraão Zacut, publicada em 1968, seria a primeira peça de Sttau Monteiro a representar-se, no Teatro Estúdio de Lisboa, em 1969.
  • 4. - Em 1978, subiu à cena, no Teatro Nacional, a peça Felizmente há luar!, numa encenação do próprio autor, que não foi recebida de forma unânime pela crítica: uns valorizando o trabalho político do autor, outros queixando-se da fraca encenação e outros da intenção satírica. Principais obras publicadas Ficção: Um Homem Não Chora, romance,1960 Angústia para o jantar, 1961 E se For Rapariga Chama-se Custódia, novela 1966 Agarra o verão, Guida, Agarra o Verão, romance inédito que constituirá a base da telenovela Chuva na Areia, 1982 Teatro: Felizmente Há Luar!,1961 Todos os Anos pela primavera,1963 O Barão, adaptação da novela de Branquinho da Fonseca para o teatro,1965 Auto da Barca do Motor Fora de borda,1966 A Guerra Santa,1967 A Estátua,1967 As Mãos de Abraão Zacut,1968 Sua Excelência,1971
  • 5. Temáticas mais comuns nas suas obras - Luís de Sttau Monteiro foi um homem que entendeu a vida como um desafio: o de conciliar uma profissão com o prazer e a liberdade de ser e estar. - Nunca abdicou dos seus ideais, nomeadamente a defesa da liberdade, a luta contra a intolerância e as injustiças sociais, o que o levou a afirmar que, para ele, “a única coisa sagrada (era) ser livre como o vento” Em toda a sua obra revela estes três ideais que sobretudo se exprimem através da linguagem teatral. Como o próprio autor diz: “ A minha vida é uma luta pela liberdade (…) E ao lado disso o teatro é uma literatice sem o mais pequeno interesse” As temáticas presentes na obra Felizmente há luar! são exatamente a ânsia pela liberdade e a luta contra a intolerância e as injustiças sociais.
  • 6. idade histórica – paralelismo do tempo da história e do tempo da - Logo no início da peça, nas didascálias laterais, Sttau Monteiro apela para a necessidade de o leitor “entender, logo de entrada, que tudo o que se vai passar no palco tem um significado preciso” e “que os gestos, as palavras e o cenário são apenas elementos de uma linguagem a que tem de adaptar-se”. - Desta forma afirma que na peça Felizmente há luar! existe um paralelismo entre um passado histórico revisitado e a contemporaneidade portuguesa dos anos sessenta. Foi esta a forma que o escritor encontrou para ludibriar a censura oficial e poder criticar a sociedade portuguesa do seu tempo. As instituições da sociedade fascista são, assim, postas em causa pela critica da sociedade portuguesa do Antigo Regime.
  • 7. Tempo da história (século XIX- 1817) Tempo da escrita (séc. XX - 1961) Agitação social que levou à revolta liberal de 1820: - conspirações internas; - revolta contra a presença da corte no Brasil e influência do exército britânico - regime absolutista e tirânico. Agitação social dos anos 60: - conspirações internas; - principal irrupção da guerra colonial; - regime ditatorial de Salazar. - Classes fortemente hierarquizadas. - Maior desigualdade entre ricos e pobres. Povo oprimido, explorado (pelas classes dominantes) e resignado. - Povo reprimido e explorado. - Proximidade entre o poder político e a Igreja. - Proximidade entre o poder do Estado e da Igreja: Amizade entre o cardeal cerejeira e Salazar. - A “Miséria, o medo e a ignorância”: » Obscurantismo, mas “felizmente há luar” - Miséria, medo e analfabetismo: » Obscurantismo, mas crença na mudança - Luta contra a opressão do regime absolutista. - Luta contra o regime totalitário e ditatorial. - Denúncia da opressão e miséria - Agitação social e política com militares antifascistas a protestarem. - Perseguições dos agentes dos governantes britânicos. - Perseguições da PIDE. - Censura à opinião - Censura à imprensa: » Nenhum texto ou obra era publicado sem exame prévio ( lápis azul). - Execução do general Gomes Freire, paradigma da história - Condenação em processos sem provas
  • 8. O espaço - físico e social Espaço físico Ao longo da peça surgem referências a espaços físicos reais, contextualizadores da ação e criadores de verosimilhança:  Campo de Ourique “ Em Campo d`Ourique – já lá vão mais de dez anos – quando eu era soldado no regimento de Gomes Freire…” (na fala do Antigo Soldado)  Cais do Sodré “No Cais do Sodré há um café, Excelência, onde se reúnem todos os dias os defensores do sistema das cortes…” (fala de Vicente dirigindo-se a D. Miguel)  O Rato “ Tenho uma missão para si. Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que veja quem entra em casa do meu primo” (Fala de D. Miguel dirigindo-se a Vicente) “ Tenho o corpo no Rato e a alma em S. Julião da Barra (…)”  S. Julião da Barra “ Que estará ele fazendo a esta hora, fechado numa cela em S. Julião da Barra?” (fala de Matilde interrogando-se acerca da detenção do General Gomes Freire de Andrade)
  • 9.  Campo de Sant`Ana “Durante uns instantes ouve-se o latim dos padres que acompanham os presos ao Campo de Sant`Ana e veem-se os populares, sentados, a meia-luz.” Espaço social A articulação entre o espaço físico e o espaço social é conseguida pela utilização de objetos – símbolos e pela postura e comportamento de personagens que identificam os dois grupos socias em oposição: o grupo do poder e o do povo oprimido. Espaço do poder Espaço do povo Interior Exterior: rua Presença de cadeiras figurativas do poder e riqueza. Presença de um criado de libré. Poucos adereços: caixote, boneca esfarrapada, sacos vazios. Triunvirato: Beresford, D. Miguel e principal Sousa Povo indistinto Vestes imponentes do principal Sousa Povo andrajosamente vestido Multidão de mutilados e doentes que pedem esmola. Vaivém de delatores Presença constante de polícia vigilante, anunciada por som de tambores Ausência de liberdade em andar pela rua Prisão onde encerram Gomes Freire: masmorra de condições indignas
  • 10. Os símbolos Titulo – Felizmente há luar ! - É uma expressão que faz parte de um documento escrito por D. Miguel e enviado ao intendente da polícia, no dia da execução do general. -No texto de Sttau Monteiro, é uma expressão proferida por duas personagens de “ mundos “ diferentes, no final do ato II: D. Miguel, símbolo do poder , e Matilde , símbolo da resistência . - Tendo em conta esta dualidade, o luar é interpretado de forma diferente por cada uma das personagens. Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira seja visto por todos, atemorizados aqueles que ousem lutar pela liberdade, sendo por isso um efeito dissuasor. Para Matilde, o luar sublinha a intensidade do fogo, incitando à ousadia daqueles que acreditam na mudança e na caminhada para a “ luz da liberdade”(prenúncio da revolução liberal), constituindo-se, por isso, como um estimulo para que o povo se revolte. -Intencionalmente, Sttau Monteiro escolhe esta expressão para título da sua obra e reforça o seu objetivo: a esperança no restabelecimento da justiça. Lua - Por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, a Lua representa dependência, periocidade. - A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que , aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.
  • 11. Saia verde - Encontra-se associada a momentos de felicidade vividos pelo casal. - O verde da saia simboliza a esperança de que um dia se reponha a justiça. -É sinal de um amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e a revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. Fogueira -Para D. Miguel Forjaz, a fogueira constituirá um ensinamento para o povo; para Matilde, a chama da fogueira manter-se-á viva e a liberdade triunfará. - Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e a escuridão, no futuro relacionar- se-á com a esperança e a liberdade. Moeda de cinco réis - Funciona como símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, o que contraria os mandamentos de Deus.
  • 12. As personagens Grupos de personagens As personagens do poder – “Três conscienciosos governadores do Reino”: - o poder político representado por D. Miguel; - o poder religioso na figura do principal Sousa; - o poder militar representado por Beresford. Os delatores - Andrade Corvo e Morais Sarmento, “ dois denunciantes que honraram a classe” -Vicente, “um provocador em vias de promoção”. As personagens do antipoder - General Gomes Freire de Andrade, a presença ausente; - Matilde de Melo, “ a companheira de todas as horas”; - Sousa Falcão, “o inseparável amigo”; - Frei Diogo. O Povo - Manuel, “ o mais consciente dos populares”. - Rita, “ a mulher do Manuel” - Os populares, “ o pano de fundo permanente”.
  • 13. Caracterização das personagens As personagens do poder D. Miguel -Pequeno tirano, inseguro e prepotente, revela-se um homem contrário ao progresso e insensível à justiça a à miséria. - O seu discurso preconceituoso e profundamente demagógico constrói-se sobre verdades e convicções falsas. Os argumentos do “ardor patriótico”, da construção de “um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que vivia lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor” são o eco fiel do discurso politico Salazarista. - D. Miguel revela falsidade e hipocrisia. Beresford - Personagem cínica e controversa que lidera o processo de Gomes Freire, não como um dever nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. -A sua presença contribuiu para acentuar as contradições no seio do poder. - É um homem crítico em relação a Portugal e está sempre pronto a denegrir a sua imagem. - Surge como uma voz que reprova a atuação de D. Miguel e do principal Sousa.
  • 14. Principal Sousa -Além da hipocrisia e da falta de valores éticos, esta personagem deixa transparecer que os interesses particulares suplantam o bem comum – “Agora me lembro de que á anos, em Campo de Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo! “ -Simboliza, de igual modo, o arranjo entre a Igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da mesma em relação à denúncia das verdadeiras injustiças. -As didascálias que acompanham esta personagem no ato I – “ O principal Sousa surge no palco imponentemente vestido.” (p.36) – e no ato II – “ Surge a meio do palco (…) Está vestido de gala e sentado na cadeira em que apareceu no 1º ato” (p. 121) – mostram tratar- se de um homem vaidoso que aprecia a riqueza e o luxo, o que entra em conflito com os princípios da Igreja. - É um homem que não apresenta uma forte convicção relativamente aos procedimentos adotados contra o general Gomes Freire : tem dúvidas e hesitações. “Não me agrada a condenação dum inocente…”
  • 15. Os delatores  Vicente - Elemento do povo - Trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua própria ascensão político-social. - A sua atuação evidencia dois momentos distintos: • Num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general, assumindo-se como um provocador e agitador “ Vocês ainda não estão fartos de generais? (…) Tu, José: Tens sete filhos com fome e frio e vais para casa com as mãos a abanar. Julgas que o Gomes Freire os vai vestir? (…) E tu (…) Julgas que matas a fome com balas? Idiotas! (…) O que eles querem é servir-se da gente” • Num segundo momento, assumindo o papel específico de denunciar o general a D. Miguel a troco da nomeação como intendente da política. - Ele é indubitavelmente todo aquele que se vende ao poder, de forma pouco escrupulosa. “Eu, chefe de policia! Estou a ver a cara do povo… (…) o povo a vir bater-me à porta: -Meu senhor: Nós não temos pão em casa… Dê-nos uma esmolinha (…) E lá lhes vou dando umas moedas, por caridade …”
  • 16. Andrade Corvo e Morais Sarmento - São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servir obscuros “propósitos patrióticos”. As personagens do antipoder Sousa Falcão - Sousa Falcão, “o inseparável amigo”, “ o amigo de todas as horas”, é o amigo fiel em quem se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. - No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes, não atuou de forma adequada com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à ação. Por isso, para ele, o general é mais do que um amigo, é alguém que ele desejaria ser. - O processo de Gomes Freire permite a Sousa Falcão uma reflexão e consciencialização da sua própria existência- “ Há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por dentro”( Diálogo final com Matilde)
  • 17. Gomes Freire de Andrade - Como o próprio dramaturgo afirma, “está sempre presente, embora nunca apareça” e é a personagem central de peça. - Gomes Freire aparece-nos, então, como um homem instruído, letrado, “um estrangeirado”, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. - O povo vê nele o seu herói, o único que será capaz de o libertar do clima de opressão e terror em que vive, depositando nele as derradeiras esperanças de sobrevivência e de regresso a uma sociedade justa e livre do domínio dos ingleses e da tirania da regência. - É o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais e daí que a sua presença se torne tão incómoda para os “reis do Rossio”. - A sua morte, servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe. - O martírio de Gomes Freire, a sua lição de coragem, bem como a sua determinação em não abandonar o sonho de ver Portugal livre, constituem os principais elementos da construção do caracter épico e trágico desta personagem.
  • 18. Matilde de Melo -“Companheira de todas as horas” de Gomes Freire é ela quem dá voz á injustiça sofrida pelo seu homem. - As suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja, identificando-se com a ideologia progressiva dos anos 60. - Os monólogos desta personagem revelam tratar-se de uma mulher que foge ao paradigma das mulheres da sua época. Ex: Não estava casada com Gomes Freire, sendo, por isso, apelidada de “a amante de Gomes Freire”. -Quando dialoga com os representantes da Igreja, revela um profundo conhecimento dos seus princípios e insurge-se contra a leviandade de um Igreja que desconhece o verdadeiro significado da caridade da justiça e da igualdade entre os homens. - Quando dialoga com o povo mostra-se insatisfeita com a sua falta de solidariedade e apoio. - Matilde é uma personagem modelada, uma vez que se apresenta inicialmente como uma mulher que apenas quer salvar o seu homem mas ao tomar consciência da trama maquiavélica que envolve o general, acaba de assumir a luta de Gomes Freire, revelando-se firme e corajosa.
  • 19. -Acreditando num reencontro pós-morte, Matilde reafirma a crença numa outra vida para além da vida terrena, revelando-se, assim, como uma cristã autêntica. - No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem arrasta-a para um delírio final em que envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris, Matilde dialoga a uma só voz , com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Estes momentos finais pelo seu caracter surreal, denunciam o absurdo a que a intolerância e a violência dos homens conduzem. Frei Diogo de Melo e Meneses -Esta personagem é o símbolo do antipoder dentro da Igreja – “ se há santos, Gomes Freire é um deles…”. - Surge por oposição ao principal Sousa, representante de uma igreja que em tudo se distância dos princípios mais autênticos da Igreja de Cristo e que, por isso, desvirtua a interpretação dos textos sagrados. - Frei Diogo é o representante de uma igreja autêntica. - É ele que fortalece Matilde quando esta parece deixar de ter fé e afirma que “A misericórdia de Deus é infinita”. Acrescentando que “Haja o que houver, não julgue a Deus pelos homens que falam em seu nome”. Este apelo de Frei Diogo denuncia a atuação contraditória dos homens da Igreja.
  • 20.  O Povo - Encontra-se representado pela presença de “vários populares” e não tem uma intervenção direta no conflito dramático . - É um grupo de infelizes , de desanimados, que ninguém respeita, que não vive, mas apenas sobrevive, e cuja condição contraria os princípios da dignidade humana.  Manuel e Rita - São símbolos de um povo oprimido e esmagado, sem vitalidade. - Têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. - Veem em Gomes Freire uma espécie de messias e, desta forma, a sua prisão é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava. -A fala de Manuel, no início do ato II, evidencia um tom irónico que acompanha o desdobramento de personalidades que a personagem ensaia: o oprimido que suplica miseravelmente uma esmola e o opressor que humilha de forma arrogante. Reforça o panorama de injustiça social, de falta de liberdade e dignidade humana que toda a peça claramente denuncia. Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de miseráveis face á quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.
  • 21. Personagens reais da peça Gomes Freire de Andrade D. Miguel Pereira Forjaz (Viena,1757-1817,S. Julião da Barra) (1769 – 1827) - Foi acusado de liderar uma conspiração em 1817 contra a monarquia de Dom João VI - Embora não fosse provado o seu envolvimento foi detido, preso, condenado à morte e enforcado junto ao Forte de São Julião da Barra por crime de traição à Pátria. - Após a vitória liberal, a memória do general foi reabilitada, transformando – se num dos mártires da liberdade. -Sttau Monteiro encontra na figura histórica do general o exemplo do homem que sacrifica a vida em nome do valor da liberdade. Marechal Beresford (1768-1854) António de Sousa Falcão Matilde de Melo Frei Diogo de Melo e Meneses  Pedro Pinto de Morais Sarmento Andrade Corvo de Camões  D. José António de Meneses e Sousa Coutinho – Principal Sousa
  • 22. A ação da peça Resumos dos atos Ato I - O ato inicia-se com uma cena coletiva. - Do conjunto do povo, andrajosamente vestido, destacam-se Manuel, Rita, dois populares, uma velha e Vicente. O diálogo entre as personagens incide sobre a miséria em que vivem e a impotência de a solucionar, traduzida na interrogação de Manuel ”Que posso eu fazer?”. - O Som dos tambores, que se ouve ao longe , faz com que os populares comecem a falar de Gomes Freire de Andrade - “ Um amigo do povo! Um homem às direitas !” - Todos parecem adorar Gomes Freire, exceto Vicente que desconstrói a imagem do general como homem perfeito. O seu discurso é repleto de ironia , tentando mostrar aos que o ouvem que o general não é diferente dos outros poderosos, porque “ O que há é homens e generais”. -Entretanto, o povo dispersa com a chegada de dois polícias que vêm recolher informações e que se aproximam de Vicente.
  • 23. - O diálogo entre as três personagens mostra-nos, progressivamente, que Vicente orienta a sua vida em função do dinheiro e do poder – “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força”. -Por isso, não tem pudor em afirmar que vende os seus ” irmãos”, porque eles lhe fazem lembrar a fome e a miséria em que nasceu - “…sempre que olho para eles me vejo a mim próprio: sujo , esfomeado, condenado à miséria por acidente de nascimento”. - Este “acidente” foi determinante para a revolta contra a sua condição – “A única coisa que me distingue de um fidalgo é uma coisa que se passou há muitos anos e de que nem sequer tive a culpa : o meu nascimento “. -Depois, os dois polícias comunicam a Vicente que o governador do reino , D. Miguel Pereira Forjaz , lhe quer falar para, provavelmente o incumbir de “uma missão especial”. Vicente imagina-se já chefe de polícias e, face ao comentário do primeiro polícia de que , tendo sido “os portadores da boa nova”, poderiam ser recompensados, lembra a arrogância dos poderosos , mesmo quando a sua origem é humilde. “ Ah! Ah! Ah! Os degraus da vida são logo esquecidos por quem soube a escada… Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem… Do alto do poder, tudo o que ficou para trás é vago e nebuloso. (…) Quem sobe, amigos, larga os homens e aproxima-se de Deus! Passa a ser julgado por outras leis…”
  • 24. -D. Miguel dá uma missão a Vicente: vigiar a casa de seu primo, o general Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato. -Vicente sai e os” três reis do Rossio”, D. Miguel, o principal Sousa e o Marechal Beresford dialogam sobre o estado da nação, o perigo das novas ideias subversivas que destruirão o país e o “reino de Deus”. Chegam, então à conclusão de que é necessário encontrar um nome , alguém que possam acusar de ser o responsável pelo clima de insurreição que alastra pelo país. Andrade Corvo e Morais Sarmento, antigos companheiros do general e atuais delatores apresentam-se diante dos governantes, dando-lhes conta dos resultados das suas investigações , em troca de “algo mais substancial”. -De novo sós, os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser inimigo do reino, tomando forma a ironia de Beresford, que sem inibições , desprestigia os portugueses e assume sem pudor a sua sobranceria e o seu interesse meramente económico – “Pretendo uma única coisa de vós: que me pagueis - e bem!”. Pragmaticamente Beresford afirma que troca os seus serviços ( a reorganização do exército) por dinheiro. O principal Sousa confessa que a atitude do marechal lhe desagrada, mas que precisa dele para encontrar “o chefe da conjura”. - Mais tarde Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente indicam o nome do opositor, era general Gomes Freire de Andrade. Agora só resta a “Morte ao traidor Gomes Freire de Andrade”.
  • 25. Ato II - Inicia-se com uma cena coletiva. - Manuel revela a sua impotência perante a prisão do general e constata que a situação de miséria em que vivem é ainda mais desesperante – “E ficamos pior do que estávamos… Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome …”. - Os restantes populares acompanham-no no seu desalento, até uma nova intervenção policial, que dispersa o grupo. - Rita mostra a sua piedade relativamente a Matilde (tinha-a ouvido chorar após a prisão do seu homem) e suplica a Manuel que não se meta “nestas coisas”. - Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os momentos de intimidade vividos com o seu general e ironiza dizendo que, se o seu filho ainda fosse vivo, lhe ensinaria a ser cobarde e “ a cuidar mais do fato do que da consciência e da bolsa do que da alma.” - Sousa Falcão, “amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire”, surge diante de Matilde, confessando o seu desânimo e desencanto face ao país em que vive – “O Deus deste reino é um fidalgo responsável que trata como amigo o Pôncio Pilatos (…) Vive num solar brasonado e dá esmolas, ao domingo, por amor a Deus.”
  • 26. - Sousa Falcão despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando Matilde, chorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder.- “Vou enfrentá-los. É o que ele (o general) faria se aqui estivesse”. - Diante de Beresford, que aproveita a situação para humilhar a mulher do general, Matilde suplica-lhe a sua libertação- “Quero o meu homem! Quero o meu homem, aqui ao meu lado!” -sem qualquer fruto. - Matilde desesperada, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam Vicente, agora feito chefe da polícia. - No entanto, Manuel e Rita, após momentos de recriminação a Matilde, de que a oferta de uma moeda como esmola é símbolo, manifestam-lhe a sua solidariedade moral- “Não a podemos ajudar, senhora. Deus não nos deu nozes e os homens tiram-nos os dentes…” - Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o general, já encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião da Barra, sem direito a julgamento. Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o general um dia lhe oferecera em Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide enfrentar uma vez mais o poder. O seu objetivo é exigir um julgamento e, para isso dirige-se ao principal Sousa, desmontando a mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu comportamento é contrário aos ensinamentos de Cristo- “ Como governador, já perdoou a Cristo o que ele foi e o que ele ensinou?”
  • 27. - Sousa Falcão anuncia que a execução do general está próxima. Matilde, em desespero, pede, uma vez mais, pela vida do general e D. Miguel Forjaz informa que a execução se prolongará pela noite ,”mas felizmente á luar…” - Matilde inicia ,então, um discurso de grande intensidade dramática : dirige-se a Deus, interpelando-o e lembrando-lhe os seus ensinamentos e os resultados práticos desses ensinamentos- “Senhor: não pretendo ensinar-te a seres Deus, mas, quando chegar a hora da sentença não te esqueças de que estes sabiam o que faziam!” Os populares comentam a execução do general: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado. - O ato termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde despede-se do homem que amou -“ Dá-me um beijo- o último na terra – e vai! Saberei que lá chegas-te quando ouvir os tambores!”, e lança palavras de coragem e ânimo ao povo – “Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira (…) felizmente há luar!”
  • 28. Conclusão… Escrita numa época de tirania, ditadura e opressão, com o objetivo de levar o publico leitor a refletir sobre as circunstancias da situação politica que se vivia no momento (1961), poder- se-á dizer que Felizmente há luar! Perdeu a sua eficácia argumentativa? O texto de Sttau Monteiro desenvolve uma serie de aspetos/temas que são universais e atemporais: - A luta por um ideal (liberdade); - A denuncia das injustiças sociais - A questão da religião: o ser e o parecer - A coragem - A lealdade - a condenação da opressão e da delação -a dimensão do verdadeiro patriotismo - A amizade - a condição feminina: a mulher com um papel ativo na sociedade - as diversas vertentes do amor: amor à pátria amor à liberdade amor - paixão
  • 29. Trata-se de um texto engagé – como eu – à causa do homem, à causa da vida. Luís de Sttau Monteiro Fim…