O documento descreve a peça de teatro "Felizmente há luar!" e sua intenção de criticar a sociedade portuguesa durante a ditadura de Salazar através de uma alegoria sobre uma conspiração em 1817. O autor usa personagens e elementos da narrativa, luz, som e linguagem para caracterizar as classes, denunciar injustiças e inspirar reflexão sobre a situação política do país.
Análise da intenção do autor em Felizmente há luar
1. Felizmente há luar! – Intencionalidade do autor
(Documento três)
Felizmente há luar!
Objectivos: levar o leitor / espectador, através da análise crítica da sociedade portuguesa do primeiro quartel do
século XIX, a reflectir sobre a situação portuguesa actual (1961), durante a ditadura salazarista,
desmascarando situações gritantes de injustiça e de exploração.
Como atingir os objectivos:
a) Pela acção da narrativa – entre o clero, a nobreza, o exército e o povo, o autor recruta elementos que interagem
com base num acontecimento histórico: a conspiração de 1817.
b) Pela caracterização das personagens:
D. Miguel Forjaz Prepotente, medroso com as transformações que sente; corrompido pelo poder civil.
Principal Sousa Favorável ao obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente;
deformado pelo fanatismo religioso.
Beresford O desprezo e o sarcasmo em pessoa; o denunciador do Portugal de intrigas e traições.
Vicente Demagogo, revoltado com a sua condição social; traidor para ser promovido.
Manuel “o mais consciente dos populares”; corajoso ao tomar a palavra em nome desses
populares a quem Matilde pede ajuda.
Sousa Falcão O “inseparável amigo de Matilde”; angustiado com a condenação de General.
Frei Diogo “um homem sério” que destoaria nesta peça se nela não figurassem, também, Sousa
Falcão e Matilde
Matilde “a companheira de todas as horas”; sonhadora depois de conhecer o General;
denunciadora do interesse e da hipocrisia; corajosa, lança o desafio a Beresford;
polarizadora do amor, do ódio e da sinceridade; enfurecida pelo desespero e revoltada
pelas circunstâncias; acredita na transformação da sociedade.
c) Pelas notas à margem de texto – o autor lembra que”o público tem de entender, logo de entrada, que tudo o que
se vai passar no palco tem um significado preciso. Mais: que os
gestos, as palavras e o cenário são apenas elementos de uma
linguagem a que tem de adaptar-se.” Efectivamente, são os gestos, o
tom de voz e a linguagem (que o autor se encarrega de anotar) que
muito contribuem para a caracterização psicológica das personagens.
d) Pelos elementos de luz e som – em vez de as personagens se movimentarem entre a escuridão e a luz, são a luz e
a escuridão que se movimentam entre as personagens e o espaço,
incidindo ora sobre aquelas ora sobre este, chegando a haver jogos
de luz e de sombra ou apenas de penumbra.
Salienta-se o som dos tambores que ameaça ou que prepara um
clima de guerra, tal como acontece com o tocar do sino a rebate.
e) Pela linguagem – sempre apropriada a cada personagem, é, por exemplo, em D. Miguel, a do político astuto; no
Cardeal, a de um homem fanático; em Beresford, o interesseiro; em
Matilde, a da mulher em devaneio ou em desespero ou em revolta
ou, finalmente, daquela que faz a glorificação do herói.
IMPORTANTE:
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2. Felizmente há luar! – Intencionalidade do autor
(Documento três)
Felizmente há luar! foi escrito durante uma época de forte repressão salazarista, pelo que Luís de Sttau Monteiro se
viu obrigado a usar a alegoria para denunciar e criticar o regime totalitário de Salazar. Assim, retrata um assunto
histórico, perfeitamente actualizável ao seu tempo, devido à existência de aspectos comuns com a época em que
vive, entre os quais se destaca:
• A discrepância acentuada entre as classes privilegiadas e o povo oprimido e em condições miseráveis.
• O exercício de um poder governativo autoritário, ditador e opressivo.
• As tentativas goradas de libertação das amarras de um regime absolutista/totalitário.
• Os movimentos de conspiração contra a ordem imposta.
• Os delatores/ “bufos” que denunciam revoltosos, em troca de favores.
• As forças policiais/PIDE ao serviço dos poderosos para impedir a união popular e para silenciar os
protestos.
• A perseguição e a condenação de homens que questionavam o poder instituído e procuravam combater
as injustiças sociais.
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