Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Felizmente há luar retrata revolta liberal do séc. XIX
1. Felizmente há luar <br />** Carácter lírico da peça <br />- Drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico. Na linha do teatro de Bertolt Brecht: <br />exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o Homem em constante transformação<br />defende as capacidades do Homem que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive<br />- Análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posição.<br />** Distanciação histórica <br />- Brecht propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica, possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado.<br />- O teatro clássico conduz o público à ilusão e à emoção, levando-o a confundir o que é a arte com a vida real.<br />- No teatro épico, a distanciação deve permitir o envolvimento do espectador no julgamento da sociedade.<br />-Teatro épico: <br />implica crítica contra o individualismo, consciencialização perante o sofrimento dos outros e a realidade social<br />instruir os espectadores na verdade<br />incitá-los a actuar<br />** Personagens <br />- Gomes Freire de Andrade: <br />personagem central da peça, embora nunca apareça em cena<br />acredita na justiça e luta pela liberdade<br />figura que preocupa os poderosos e que arrasta os pequenos<br />- D. Miguel Forjaz: <br />vingativo, frio, desumano, calculista<br />combate por um modelo de sociedade: <br />patriotismo e a nação de Estado, expressos na ideia de um Portugal assente nos pilares tradicionais da monarquia absoluta<br />defesa de uma sociedade estratificada<br />recusa de uma sociedade governada por princípios como liberdade e igualdade -- anarquia e jacobinismo<br />poder político autocrático exercido pela classe dominante<br />- Principal Sousa: <br />representante do clero<br />fanático, teme que o desrespeito por Deus alastre<br />- Vicente: <br />elemento do povo; trai estes chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua ascensão político-social<br />hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado<br />quot;
Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força. O general não tem uma nem outraquot;
<br />- Manuel: <br />quot;
o mais consciente dos popularesquot;
<br />denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito (as Invasões Franceses; a quot;
protecçãoquot;
britânica, após a retirada do rei D.João VI para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e de sair da miséria em que se encontra<br />a prisão de Gomes Freire é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava<br />- Sousa Falcão: <br />quot;
o inseparável amigoquot;
sofre junto de Matilde perante a condenação do general<br />assume as mesmas ideias de justiça e de liberdade, mas culpa-se por não ter tido a coragem do general: <br />quot;
Não estou de luto por ele (...) É por mim que estou de luto, Matilde!quot;
<br />- Matilde de Melo: <br />quot;
companheira de todas as horasquot;
<br />sonhadora e corajosa<br />dá voz à injustiça sofrida por Gomes Freire<br />as suas falas, cheias de dor e revolta, constituem uma denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja<br />- Beresford: <br />prático e objectivo<br />calculista, ambicioso, irónico, perspicaz, consciencioso governador do reino<br />- Andrade Corvo e Morais Sarmento: <br />Delactores por excelência<br />não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servirem obscuros quot;
propósitos patrióticosquot;
<br />** quot;
Trágica Apoteosequot;
da história do movimento liberal oitocentistaQuando em 1815, o general Gomes Freire de Andrade chega a Lisboa, o Intendente da Polícia avisa Beresford da simpatia do povo e do ambiente de conspiração que se respira. Mas o generalíssimo inglês decide descobrir os conspiradores, executando-os. É neste processo que Gomes Freire, considerado o chefe da conspiração, se vê envolvido e condenado à morte, no dia 18 de Outubro de 1817, no campo de Alqueidão, junto a São Julião da Barra. Os outros condenados são enforcados nessa mesma manhã, no Campo de Santana, que, em sua memória, se designa Campos de Mártires da Pátria.quot;
Felizmente há luar!quot;
, ao retratar a conspiração, encabeçada por Gomes Freire de Andrade, que se manifestava contrária à presença inglesa e à ausência da corte no Brasil, constitui uma quot;
trágica apoteosequot;
da história do movimento liberal oitocentista em Portugal.O ambiente epocal é referido claramente na peça, através das palavras de Manuel: <br />quot;
Vê-se a gente livre dos Franceses, e zás!, cai na mão dos Ingleses!<br />E agora? Se acabarmos com os Ingleses, ficamos na mão dos Reis do Rossio...<br />Entre os três o diabo que escolha...quot;
<br />Coloca-se em destaque a situação do povo oprimido: as Invasões Francesas; a quot;
protecçãoquot;
britânica; a falta de perspectivas de futuro: <br />quot;
E enquanto eles andam para trás e para a frente, para a esquerda e para a direita, nós não passamos do mesmo sítio!quot;
<br />Recorrendo ao teatro épico, Luis de Sttau Monteiro, coloca em palco essas primeiras manifestações sociais e políticas que levaram à Revolução Liberal, para que o espectador se posicione claramente, mas estranho à acção, como sucedia no teatro clássico preocupado em despertar os sentimentos e as emoções no público.quot;
Trágica Apoteosequot;
da história do movimento liberal oitocentista, quot;
Felizmente há luar!quot;
interpreta as condições da sociedade portuguesa no início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas, contra o poder absolutista e tirânico dos governadores e do generalíssimo Beresford. Para que o movimento liberal se concretize dezassete anos depois, é necessário a morte de Gomes Freire de Andrade e dos seus companheiros, mas também de muitos outros portugueses que em nome dos seus ideiais são sacrificados pela Pátria. Conspiradores e traidores para o poder e para as classes dominantes, que sentem os seus privilégios ameaçados, são os grandes heróis de que o povo necessita para reclamar justiça, dignidade e pão. Por isso, as suas mortes, em vez de amedrontar, tornam-se estímulo. A fogueira acesa na noite para queimar Gomes Freire, que os governadores querem que seja dissuasora, torna-se farol ou luz para que os outros lutem pela liberdade.** Primeiro acto<br />- O povo : Manuel, Rita, Antigo Soldado, outros populares: <br />lutam por uma sociedade mais justa e mais livre<br />acreditam no general: acreditam na libertação do terror e da opressão<br />- Os traidores do povo: Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento, Dois polícias: <br />são hostis ao General Gomes Freire de Andrade: provocam e denunciam<br />- Os governantes: Marechal Beresford, Principal Sousa, D. Miguel Forjaz: <br />são hostis ao General Gomes Freire de Andrade: receiam perder o seu quot;
statuquot;
<br />** Segundo acto<br />- O povo: Manuel, Rita, Antigo Soldado, Outros Populares: <br />já não acreditam em Gomes Freire de Andrade que foi preso e depois executado: é o descrédito, o desânimo e a desilusão<br />- Forças da ordem: Dois polícias, Vicente (foi feito quot;
chefe de políciaquot;
): <br />exercem uma actividade esporádica: dispersar o povo e impedir movimentos de solidariedade para com o General<br />- Novas personagens: Matilde de Melo, Sousa Falcão, Frei Diogo: <br />Matilde revoltada contra Portugal e o seu povo, reclama a Beresford a absolvição do marido/amante, satiriza o Principal Sousa, ouve dizer a Frei Diogo que quot;
se há santos, Gomes Freire é um delesquot;
e, em diálogo com Sousa Falcão, admite que o clarão da fogueira é o sinal da intensificação da luta contra o regima absolutista: quot;
Aquela fogueira há-de incendiar a terra!quot;
<br />** Símbolos<br />- A saia verde: <br />prenda comprada em Paris com o dinheiro da venda de duas medalhas<br />ao escolher aquela saia para esperar o companheiro após a morte, destaca a quot;
alegriaquot;
do reencontro (quot;
agora que se acabaram as batalhas, vem apertar-me contra o peitoquot;
) <br />Em vida: <br />esperança<br />felicidade<br />liberdade<br />Na morte: <br />alegria do reencontro<br />tranquilidade<br />- Moeda de cinco réis: <br />símbolo do desrespeito (dos mais poderosos em relação aos mais desfavorecidos), apresenta-se como represália, quase vingança, quando Manuel manda Rita dar a moeda a Matilde<br />- Tambores: <br />símbolo da repressão, provocam o medo e prenunciam a ambiência trágica da acção<br />- A fogueira / o lume: <br />Matilde, ao afirmar que aquela fogueira de São Julião da Barra ainda havia de quot;
incendiar esta terra!quot;
mostra que a chama se mantém viva e que a liberdade há-de chegar. <br />Presente: <br />tristeza<br />escuridão<br />Futuro: <br />esperança<br />liberdade<br />- O título:<br />1. quot;
Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro há-de-lhes ficar na memória durante muitos anos... Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro...quot;
Logo de seguida, afirma: quot;
É verdade que a execução se prolongará pela noite, mas felizmente há luar...quot;
.<br />- Esta referência ao título da peça, colocada na fala de D. Miguel está relacionada com o desejo expresso de garantir a eficácia desta execução pública: a noite é mais assustadora, as chamas seriam visíveis de vários pontos da cidade e o luar atrairia as pessoas à rua para assistirem ao castigo, que se pretendia exemplar.<br />2. Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde são de coragem e de estímulo para que o povo se revolte contra a tirania dos governantes:<br />- quot;
Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim...quot;
quot;
Felizmente - Felizmente há luar!quot;
<br />- O luar: <br />A noite: <br />morte<br />mal<br />infelicidade<br />Luz: <br />vida<br />saúde<br />felicidade<br />- quot;
Felizmente há luar!quot;
: <br />Para os opressores: <br />efeito dissuasor<br />fogueira - purificadora da sociedade<br />Para os oprimidos: <br />coragem e estímulo para a revolta contra a tirania<br />fogueira - alerta e luz que ilumina o caminho para a <br />liberdade<br />