1. Sobre a Língua Grega
quem estuda deve querer saber
Cesar Rios (http://lattes.cnpq.br/6927316529300669)
2. Os textos que seguem são
trechos por mim
selecionados e traduzidos
do prólogo do livro Historia
de la Lengua Griega: de los
Orígenes a nuestros días
de Francisco R. Adrados,
publicado pela editora
Gredos.
3. O papel de destaque do grego
Só o grego e o chinês são conhecidos por nós desde três mil e
quinhentos anos atrás e continuam sendo falados ainda hoje.
Não são as únicas línguas de cultura que foram faladas e
escritas durante longos séculos, algumas vivas hoje, outras
mortas, tais como o sumério, o egípcio, o hebraico ou o árabe,
mas são as de história mais longa e as de mais vasta
influência. E não é possível duvidar que, se é para julgar pela
influência que exerceu sobre todas as línguas europeias e,
hoje, em todas as línguas, o grego é a primeira língua do
mundo. A influência direta e indireta de seu alfabeto, de seu
léxico, de sua sintaxe e de sua literatura foi e é imensa.
4. o koiné se constrói a partir do ático
[...] a literatura foi essencial para a unidade do grego. À poesia
se seguiu a prosa, como acabo de dizer: primeiro a jônica e
depois a ática se tornaram internacionais. Tudo isso desde o
final do século V. E se Atenas não conseguiu impor sua
hegemonia política, pois perdeu a guerra contra Esparta,
impôs sim sua hegemonia linguística: o ático foi infiltrando e
substituindo os dialetos, tornando-se koiné ou grego comum.
Tinha absorvido o vocabulário intelectual do jônio, tinha
desenvolvido outro novo e a koiné continuou avançando por
esse caminho. Havia, outra vez, um “grego comum”. Foi a base
para todas as línguas posteriores.
5. o koiné não é completamente unificado
A nova excisão foi diferente: a do grego culto ou literário,
conservador, e a do popular ou falado. Este nós o conhecemos
na época helenística, romana e bizantina; e ambos
continuaram até nossos dias: são respectivamente a língua
chamada “pura” (καθαρεύουσα) e a chamada “popular”
(δημοτική). Por outro lado, a partir de certo momento (temos
ciência disso, ainda que de modo insuficiente, desde o final da
Idade Média), a língua “popular” se dividiu em dialetos. Pois
bem: houve uma nova e definitiva unificação, sobre a base da
língua popular falada em Atenas, a partir da independência
grega. Surgiu uma nova κοινή.
6. a excelência do grego na história
Outras línguas foram também veículos de uma cultura,
citamos algumas, mas o grego foi a que mais transcendeu seus
próprios limites, assim como toda a cultura conectada e ele.
Sua aceitação pela corte da Macedônia foi um feito cultural.
Foi, em seguida, a segunda língua dos romanos cultos. E a
utilizaram o rei Asoka da Índia, os kanes da Bulgária, os reis de
Meroe, na Etiópia. Beroso, Maneto, Josefo e Fábio Pictor,
entre outros, preferiram-na em vez de suas próprias línguas
para escrever suas histórias.
7. e o grego atual?
Há também o importante tema da unidade do grego de seus
começos até hoje. Houve, como não, uma evolução. Mas se
compararmos os diferentes “gregos”, do micênico e homérico
ao “grego comum” de hoje, as diferenças não são tantas.
Simplificou-se o sistema vocálico (não há quantidades, nem
ditongos, nem acento musical), evoluiu levemente o sistema
das consoantes, reduziu-se a morfologia: perda do dual, do
dativo, do optativo e do infinitivo, fossilização do particípio,
redução da flexão verbal a dois temas, desenvolvimento das
formas perifrásticas, algumas variações formais. Mas as
categorias fundamentais e o essencial do léxico permanecem.