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FAVELA
Uma Ferida Social Através do Tempo1
A Geografia Urbana estuda as áreas metropolitanas e seus processos de
produção do espaço como fenômeno geográfico. Já a urbanização se apresenta como um
conjunto de processos coordenados pela ação humana e cuja complexidade exige grande
aprofundamento dos pesquisadores, em especial com o objetivo de entender como a
cidade se produz e reproduz. Como compreende um todo ao mesmo tempo homogêneo
e heterogêneo, é preciso ter em mente que os espaços urbanos são, de modo geral,
facilmente reconhecíveis na paisagem, porém cada um apresenta suas especificidades,
particularidades e singularidades. Como diria Milton Santos2
: “A Cidade é uma
sucessão de tempos desiguais. É esta sucessão de tempos desiguais que permite falar em
diferentes fases de crescimento urbano. Fases estas que acompanham a evolução da
economia no respectivo país em que se encontravam, moldando desta forma a sua rede
urbana, consoante ao grau de desenvolvimento atingido”.
Isso inclui como as pessoas se inserem e estão nesse espaço, acompanhando
também os diferentes modos produtivos, urbanizações que produzem e todas as
diferenciações de apropriação do espaço urbano. Elas ocorrem sob determinadas lógicas
socioespaciais, produzindo assim tecidos urbanos complexos à medida que são
aprofundadas as relações produtivas no espaço. Antes de mais nada é preciso fazer uma
volta no tempo e na história para tentar compreender as nossas formas de morar, viver e
habitar.
EMANCIPAÇÃO DOS CATIVOS
1
Artigo do Historiador Ramão Figueira Gutierrez, publicado na revista, Geografia Conhecimento Prático,
número 31.
2
O trecho foi dito por Milton Santos quando ele participava da mesa redonda “O tempo na filosofia e na
história”, promovida pelo Grupo de Estudos Sobre o Tempo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da
USP, em 29 de maio d e1989.
A emancipação dos escravos em 1888 foi uma forma de atender, entre outras
ingerências, a burguesia inglesa que mantinha sociedade com a elite latifundiária,
produzindo dentro do sistema plantation3
. O Estado não teve a preocupação de
formalizar na parte legislativa projetos de alcance social para estimular os recém-
libertos na conquista de um lugar na sociedade. Não produziu nenhuma lei que ajudasse
o ex-escravo a ser reconhecido como cidadão, simplesmente ignorou essas almas que
antes tinham serventia porque eram submissos e não faziam ponderações.
Agora o ex-escravo é descartado do sistema e poucos são ocupados naquelas
tarefas degradantes e de valor social baixo, como carregar lenha, trazer água em
cântaros, carregar vasos contendo fezes da latrina do ex-senhor.
AS MORADIAS NAS ENCOSTAS
Todo homem precisa de ocupação produtiva para que a dignidade não seja
atingida de forma a causar danos às estruturas psicológicas e afetivas. Como o Estado
abandonou essas pessoas de maneira cruel, tanto quanto a forma compulsória que aqui
chegaram, somente lhes restou como sobrevivência retirar da natureza quase tudo.
A falta de recursos financeiros determinou a ocupação desordenada da
contraencosta dos acidentes geográficos do entorno da cidade do Rio de Janeiro.Essa
ocupação lhes permitiu o cultivo de hortaliças, a criação de animais de pequeno porte
que eram vendidos nas ruas das cidades. Conseguiram suas moradias derrubando a
floresta tropical, utilizando o bambu e o barro.
MÃO DE OBRA BARATA.
Por muitos anos a insensatez do homem urbano predominou, explorando
economicamente o negro ex-escravo. Ele não tinha a chance de receber do Estado
republicano à oportunidade de ter escola que pudesse prepará-lo para os desafios do
cotidiano. Ainda predominava em muitos segmentos da sociedade o preconceito e a
leitura de que o negro é incapaz e dependente. Por isso hoje o Estado procura
compensar o descaso de muitos anos estabelecendo cotas nas universidades.
3
É um tipo de sistema agrícola baseado em uma monocultura de exportação mediante a utilização de
latifúndios e de mão-de-obra escrava.
AS FAVELAS
Em 1906 o prefeito Pereira Passos coloca em prática o Projeto Bota Abaixo4
. Se
antes a favela era reduto de negros e descendentes, agora passa a receber os brancos
pobres. Antes eles viviam nos cortiços5
e não tinham como arcar com a despesa de
aluguel. Dessa forma são obrigados a procurar refúgio na favela.
O cenário onde predomina o negro, o que já era preocupante, agora fica mais
complexo com a chegada do branco pobre que carrega traços cultuais diferentes do
local. Com o tempo o sistema capitalista produziu um exército de reserva que utiliza
uma parte em subempregos e a outra, o excedente ocioso, fica a serviço dos traficantes
locais.
Um dos grandes problemas hoje enfrentados pelo Rio de Janeiro é a violência,
decorrente das brigas entre facções do tráfico de drogas. As milícias6
são também outro
fator predominante nas problemáticas que se inserem nos complexos de favelas do
Estado. Hoje, em 2010, o Governo, nas três esferas, envolvido em propostas sociais de
grande alcance, realiza ocupações nas comunidades estrategicamente localizadas na
cidades do Rio de Janeiro com a rubrica de Unidade Pacificadora7
.
4
O chamado “Bota Abaixo” na verdade era um projeto urbanístico de alargamento de uma avenida no
centro do Rio de Janeiro, com a intenção de imitar Paris, que foi responsável pela demolição de centenas
de prédios, sobrados e casas velhas das ruas centrais da cidade, para dar lugar à Avenida Central, atual
Rio Branco. A população pobre que morava nesses velhos prédios e sobrados foi deslocada à força e
acabou indo fixar-se nos morros próximos, dando origem às primeiras favelas da cidade.
5
É um aglomerado de casas que serve de habitação coletiva para a população pobre. Também conhecida
pela nome de cabeça-de-porco. Em meados do século 19, um tipo de moradia começava a se alastrar pelo
Rio de Janeiro, os cortiços. Erguidas principalmente por imigrantes portugueses, as construções precárias
eram formadas por dezenas de quartos pequenos, sem cozinha, com banheiros e tanques coletivos.
6
As milícias são grupos criminosos que controlam várias favelas da cidade do Rio de Janeiro. São
formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na
ativa. Muitos milicianos são moradores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças
comunitárias locais. À pretexto de garantir a segurança contra traficantes, os milicianos passaram a
intimidar e extorquir moradores e comerciantes, cobrando taxa de proteção. Através do controle armado,
esses grupos também controlam o fornecimento de muitos serviços aos moradores. São atividades como o
transporte alternativo (que serve aos bairros da periferia), a distribuição de gás, a instalação de ligações
clandestinas de TV a cabo.
7
Presença do Estado nas favelas através de Unidades com o objetivo de confrontar e, de certa forma,
tranqüilizar o morador da comunidade. A idéia dessa Unidade é levar uma política pública localizada para
atuar no ambiente cujo tecido social está fragilizado ética e moralmente.

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  • 1. FAVELA Uma Ferida Social Através do Tempo1 A Geografia Urbana estuda as áreas metropolitanas e seus processos de produção do espaço como fenômeno geográfico. Já a urbanização se apresenta como um conjunto de processos coordenados pela ação humana e cuja complexidade exige grande aprofundamento dos pesquisadores, em especial com o objetivo de entender como a cidade se produz e reproduz. Como compreende um todo ao mesmo tempo homogêneo e heterogêneo, é preciso ter em mente que os espaços urbanos são, de modo geral, facilmente reconhecíveis na paisagem, porém cada um apresenta suas especificidades, particularidades e singularidades. Como diria Milton Santos2 : “A Cidade é uma sucessão de tempos desiguais. É esta sucessão de tempos desiguais que permite falar em diferentes fases de crescimento urbano. Fases estas que acompanham a evolução da economia no respectivo país em que se encontravam, moldando desta forma a sua rede urbana, consoante ao grau de desenvolvimento atingido”. Isso inclui como as pessoas se inserem e estão nesse espaço, acompanhando também os diferentes modos produtivos, urbanizações que produzem e todas as diferenciações de apropriação do espaço urbano. Elas ocorrem sob determinadas lógicas socioespaciais, produzindo assim tecidos urbanos complexos à medida que são aprofundadas as relações produtivas no espaço. Antes de mais nada é preciso fazer uma volta no tempo e na história para tentar compreender as nossas formas de morar, viver e habitar. EMANCIPAÇÃO DOS CATIVOS 1 Artigo do Historiador Ramão Figueira Gutierrez, publicado na revista, Geografia Conhecimento Prático, número 31. 2 O trecho foi dito por Milton Santos quando ele participava da mesa redonda “O tempo na filosofia e na história”, promovida pelo Grupo de Estudos Sobre o Tempo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em 29 de maio d e1989.
  • 2. A emancipação dos escravos em 1888 foi uma forma de atender, entre outras ingerências, a burguesia inglesa que mantinha sociedade com a elite latifundiária, produzindo dentro do sistema plantation3 . O Estado não teve a preocupação de formalizar na parte legislativa projetos de alcance social para estimular os recém- libertos na conquista de um lugar na sociedade. Não produziu nenhuma lei que ajudasse o ex-escravo a ser reconhecido como cidadão, simplesmente ignorou essas almas que antes tinham serventia porque eram submissos e não faziam ponderações. Agora o ex-escravo é descartado do sistema e poucos são ocupados naquelas tarefas degradantes e de valor social baixo, como carregar lenha, trazer água em cântaros, carregar vasos contendo fezes da latrina do ex-senhor. AS MORADIAS NAS ENCOSTAS Todo homem precisa de ocupação produtiva para que a dignidade não seja atingida de forma a causar danos às estruturas psicológicas e afetivas. Como o Estado abandonou essas pessoas de maneira cruel, tanto quanto a forma compulsória que aqui chegaram, somente lhes restou como sobrevivência retirar da natureza quase tudo. A falta de recursos financeiros determinou a ocupação desordenada da contraencosta dos acidentes geográficos do entorno da cidade do Rio de Janeiro.Essa ocupação lhes permitiu o cultivo de hortaliças, a criação de animais de pequeno porte que eram vendidos nas ruas das cidades. Conseguiram suas moradias derrubando a floresta tropical, utilizando o bambu e o barro. MÃO DE OBRA BARATA. Por muitos anos a insensatez do homem urbano predominou, explorando economicamente o negro ex-escravo. Ele não tinha a chance de receber do Estado republicano à oportunidade de ter escola que pudesse prepará-lo para os desafios do cotidiano. Ainda predominava em muitos segmentos da sociedade o preconceito e a leitura de que o negro é incapaz e dependente. Por isso hoje o Estado procura compensar o descaso de muitos anos estabelecendo cotas nas universidades. 3 É um tipo de sistema agrícola baseado em uma monocultura de exportação mediante a utilização de latifúndios e de mão-de-obra escrava.
  • 3. AS FAVELAS Em 1906 o prefeito Pereira Passos coloca em prática o Projeto Bota Abaixo4 . Se antes a favela era reduto de negros e descendentes, agora passa a receber os brancos pobres. Antes eles viviam nos cortiços5 e não tinham como arcar com a despesa de aluguel. Dessa forma são obrigados a procurar refúgio na favela. O cenário onde predomina o negro, o que já era preocupante, agora fica mais complexo com a chegada do branco pobre que carrega traços cultuais diferentes do local. Com o tempo o sistema capitalista produziu um exército de reserva que utiliza uma parte em subempregos e a outra, o excedente ocioso, fica a serviço dos traficantes locais. Um dos grandes problemas hoje enfrentados pelo Rio de Janeiro é a violência, decorrente das brigas entre facções do tráfico de drogas. As milícias6 são também outro fator predominante nas problemáticas que se inserem nos complexos de favelas do Estado. Hoje, em 2010, o Governo, nas três esferas, envolvido em propostas sociais de grande alcance, realiza ocupações nas comunidades estrategicamente localizadas na cidades do Rio de Janeiro com a rubrica de Unidade Pacificadora7 . 4 O chamado “Bota Abaixo” na verdade era um projeto urbanístico de alargamento de uma avenida no centro do Rio de Janeiro, com a intenção de imitar Paris, que foi responsável pela demolição de centenas de prédios, sobrados e casas velhas das ruas centrais da cidade, para dar lugar à Avenida Central, atual Rio Branco. A população pobre que morava nesses velhos prédios e sobrados foi deslocada à força e acabou indo fixar-se nos morros próximos, dando origem às primeiras favelas da cidade. 5 É um aglomerado de casas que serve de habitação coletiva para a população pobre. Também conhecida pela nome de cabeça-de-porco. Em meados do século 19, um tipo de moradia começava a se alastrar pelo Rio de Janeiro, os cortiços. Erguidas principalmente por imigrantes portugueses, as construções precárias eram formadas por dezenas de quartos pequenos, sem cozinha, com banheiros e tanques coletivos. 6 As milícias são grupos criminosos que controlam várias favelas da cidade do Rio de Janeiro. São formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa. Muitos milicianos são moradores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais. À pretexto de garantir a segurança contra traficantes, os milicianos passaram a intimidar e extorquir moradores e comerciantes, cobrando taxa de proteção. Através do controle armado, esses grupos também controlam o fornecimento de muitos serviços aos moradores. São atividades como o transporte alternativo (que serve aos bairros da periferia), a distribuição de gás, a instalação de ligações clandestinas de TV a cabo. 7 Presença do Estado nas favelas através de Unidades com o objetivo de confrontar e, de certa forma, tranqüilizar o morador da comunidade. A idéia dessa Unidade é levar uma política pública localizada para atuar no ambiente cujo tecido social está fragilizado ética e moralmente.