1. Caio Henrique Grimberg- 769
Historia da Filosofia – São Bento – Filosofia -2010
Profo. Maria Carolina
2. “Nossa alma com dois cavalos presa. Um belo e bom. Outro em tudo o contrário. Por isso é difícil o governo da alma. É que
um puxa para um lado. O outro. Para o outro. Ao belo e bom chamaremos belo e bom. Ao outro chamaremos outro. Às vezes
o outro morde o freio. E arroja consigo alma e auriga. Ai pobre da alma tomada pelo outro.”
4. Estrutura da Obra
O diálogo fala do valor da retórica em conexão com a filosofia. Também do tema do amor.
Considera-lho um dos mais belos e poéticos na produção de Platão, especialmente suas
descrições de um estado emocional de muita alegria e a satisfação de encontrar a outra
pessoa que é capaz de compreender e compartilhar tantas coisas como traz consigo a vida.
Ademais fala da escritura e sua relação com a memória.
O diálogo começa com o discurso de Lisias que nos fala a respeito do desde estado
emocional. A isto Sócrates refuta dizendo que falar do amor em sentido negativo vai na
contramão dos deuses; já que, o amor é uma divindade (Afrodita e Eros) e se é uma
divindade não pode ser mau se não bom.
Personagens
• Sócrates
• Fedro
Resumo
Este texto pretende mostrar como a perspectiva dialógica da filosofia platônica põe um
critério peculiar de acesso à verdade. A verdade não é uma posição que se transmite de
quem sabe para quem não sabe, mas uma descoberta, uma rememoração que se faz na
ação dialógica. O Fedro
é o diálogo exemplar, no qual aparecem as qualidades do amante do saber (Sócrates é o
paradigma) que opõe a sua prática dialogal de busca da verdade, que supõe acordo e
conhecimento da alma do interlocutor, àquela dos retóricos (Lísias é o modelo) que
impõem ao ouvinte uma verdade pronta, forjada segundo as regras dos discursos.
Palavras-chave:
• Retórica
• Discurso
• Verdade
• Diálogo
• Saber
5. Resenha
O Fedro é o diálogo em que a intenção de Platão aparece de forma mais evidente no
sentido de nos mostrar que a forma dialógica é a mais apta a traduzir o que ele apanhou do
dinamismo da vida filosófica de Sócrates, figura a partir da qual é construída a quase
totalidade dos diálogos.
Se Platão confiou a sua filosofia à forma dialogada com um caráter dramático, então, não é
despropositado dizer que esse é o único meio de apanharmos com segurança as suas
intenções confiadas aos seus escritos.
A questão central sobre a qual Platão lança o foco do interesse não poderia deixar de ser a
retórica, porque o personagem Fedro, o discurso de Lísias, o próprio Lísias, a direção da
abordagem dos outros temas. O Fedro há de expor sobre os elementos constitutivos da
retórica, seu objeto e seu fim. A natureza não crítica do diálogo é também indício da
intenção de Platão de tratar da natureza da retórica. No começo do diálogo, Sócrates cede
a Fedro quando este propõe que Sócrates participe do mesmo jogo em que os retóricos
estão acostumados a instruir seus seguidores e o povo. A imagem é muito viva. Sócrates
cede depois de ter sido ameaçado de perder a possibilidade de ganhar uma alma para a
filosofia. O entusiasmo de Fedro com o discurso de Lísias durou até Sócrates fazer o seu
discurso, porém ao final de tudo a sua alma não precisará ser submetida à violência da
guerra dos discursos retóricos que vão criando e matando incessantemente os entusiasmos
nos seus ouvintes. O entusiasmo que Fedro adquirirá na relação com Sócrates terá duração
permanente.
Essa questão do auto-exame ou do conhecimento da alma casa perfeitamente com o
problema da retórica, como fica evidente no Fedro, porque essa é a intenção de Platão. Os
retóricos representados por Lísias estão longe de fazerem resultar a sua prática de um
exame reflexivo e com repercussão na conduta moral.
O Fedro pode ser considerado, a partir do que se pode colher dele, segundo a perspectiva
dramática, um monumento a Sócrates como mestre e senhor do discurso, o único que
demonstrou capacidade de conhecer-se a si mesmo; o único que tem aquelas qualidades
poéticas de fazer um belo discurso com o auxílio das Musas, mas com plena consciência.
Quando chegamos ao final da trajetória do Fedro, não podemos ter dúvidas de que a
sabedoria tem a expressão daquelas qualidades exibidas por Sócrates, e que Lísias,
representando todos os retóricos, e o seu discurso como retrato do que se dizia ser a arte
do discurso são uma falsa imagem da sabedoria. Dessa conclusão se vai a outra, a de que
não há dois caminhos para se chegar à sabedoria: ou é o de Lísias, que conduz para longe
dela porque se limita aos interesses humanos, ou é o de Sócrates, cujo fim último é agradar
a deus e, por isso, não pode fazer mal aos homens. Se tudo que pode ser considerado
como sabedoria pode ser encontrado num discurso escrito, que pode ser lido para
qualquer um, então a vida de Sócrates e a sua morte não têm sentido algum. No caso da
6. retórica como a arte do discurso cujo fim é a verdade, Sócrates não podia ser mais claro
sobre o papel do mestre do discurso na condução da alma do discípulo: ele não pode dizer
o que é a verdade, pois ela só pode ser diretamente apreendida. O tema do Fedro não é a
beleza, nem o belo, nem o amor. Dialéctica do tema do discurso retórico, com a recusa dos
formalismos, da adulação, da mascarada dos tribunais, etc., encontramos a exposição dos
aspectos a ter em conta com a construção do discurso, a criação da forma, e finalmente, o
cuidado a ter com as formas cristalizadas do discurso, a escrita; o autor adverte que o texto
do discurso se deve formular de forma que este se possa vir a defender a si próprio, como
se o seu autor aí estivesse sempre presente. A repetição é, no Fedro, um dos modos de
alcançar uma plataforma estável para a ideia que se desenvolve no livro: a dialéctica no
discurso retórico. O objecto é o mesmo, é o Amor, e para a análise dos discursos repetem-
se fazer um bom discurso retórico deve:
• Conhecer a verdade dos assuntos sobre os quais pretende falar ou escrever; e
que seja capaz de reduzir a uma ideia única, que se possa abarcar de um relance,
as várias realidades dispersas por muitos pontos ; isto é, que ele seja capaz de
definir essa mesma ideia em cada um dos assuntos a tratar, mas que, pela
definição, em cada unidade se possa tornar evidente cada um dos tópicos; uma
vez que tudo tenha sido condensado numa única ideia, que se saiba dividir de
novo em diferentes espécies, segundo as articulações naturais, até atingir o
indivisível, mas de modo a não provocar rupturas, como faz o carniceiro
inexperiente;
• Conhecer a natureza humana, a sua alma (o espírito humano), caracterizando os
seus tipos ou espécies; se encontre, depois de a analisar do mesmo modo que
referimos no ponto um, para cada tipo ou cada espécie de alma, a forma
apropriada de discurso; em seguida, se disponha e ordene em conformidade o
discurso, oferecendo à alma complexa discursos complexos e com toda a espécie
de harmonias, e simples à alma simples. se uma pessoa não puder fazer a lista
completa das diversas naturezas de quem vai escutar, se não for capaz de dividir
os seres segundo as suas espécies, e de reduzir cada uma dessas espécies a uma
só ideia, jamais será um bom técnico da oratória.
• Ninguém pense que lhe basta conhecer as técnicas e as regras na maior perfeição
(e a prática teórica, adquirir a experiência
7. A oração final do Fedro
Fedro — [...] Mas vamos embora, porque o calor já não está tão forte.
Sócrates — Não convém que façamos uma prece a esses deuses, antes de seguir o
caminho?
Fedro — Por que não?
Sócrates — Querido Pã e outros deuses que estais neste lugar, concedei-me a beleza
interior e fazei que meu exterior se harmonize com tudo o que carrego dentro de mim. Que
eu possa considerar rico o sábio e possa ter uma quantidade de ouro que só o temperante
conseguiria tomar para si ou levar consigo. Precisamos de outras coisas, Fedro? Creio que
pedi o suficiente.
Fedro — Esta oração é também a minha, pois os amigos têm tudo em comum.
Sócrates — Vamos, então!
Fonte: REALE, Giovane.