Este documento apresenta uma pesquisa sobre o olhar da criança para a escola de educação infantil. A pesquisa é baseada em autores que desenvolvem teorias sobre a infância e educação infantil e utiliza métodos qualitativos como observação e entrevista para entender a perspectiva das crianças. Os resultados indicam que as crianças são capazes de analisar e refletir sobre suas experiências na escola, revelando aspectos importantes para melhorar a prática pedagógica.
1. 1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
ERIVÂNIA DE SOUZA SILVA
O OLHAR DA CRIANÇA PARA A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
SENHOR DO BONFIM
2011
2. 2
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
ERIVÂNIA DE SOUZA SILVA
O OLHAR DA CRIANÇA PARA A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação / Campus VII – Senhor do Bonfim, da
Universidade do Estado da Bahia, como parte dos
requisitos para obtenção de graduação no Curso de
Pedagogia com habilitação em Docência e Gestão
de Processos Educativos.
Orientador: Pascoal Eron
SENHOR DO BOMFIM
2011
3. 3
ERIVÂNIA DE SOUZA SILVA
O OLHAR DA CRIANÇA PARA A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Departamento de Educação- Campus
VII, da Universidade do Estado da Bahia, como parte dos requisitos
para obtenção de graduação no Curso de Pedagogia com
habilitação em Docência e Gestão de Processos Educativos.
Aprovada em _____________ de ______________________ de 2011.
BANCA EXAMINADORA
Professor Pascoal Eron
Orientador
Professor (a).......................................................................................................
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Examinadora
______________________________________________________________
Professor (a).........................................................................................................
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Examinadora
4. 4
A DEUS, por ser minha segurança e fortaleza, certeza que com ele
tudo acabará bem.
Ao meu FILHO, que mesmo sendo ainda bebê é minha maior
inspiração, me motivando para proporcionar para ele o melhor de
mim em tudo.
Ao meu ESPOSO, minha MÃE e IRMÃ, que me compreenderam e
incentivaram na produção deste trabalho.
5. 5
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador, PASCOAL ERON, por ser um exemplo de
profissionalismo e competência, contribuindo de maneira eficaz com vontade e
responsabilidade.
Aos funcionários do departamento de educação UNEB- Campus VII, em especial à
biblioteca por estar sempre nos ajudando na procura de livros, principalmente meu
amigo e funcionário WAGNER ARAUJO, por seu desempenho e competência,
estando sempre disposto a ajudar.
Aos meus colegas de curso, por termos enfrentado muitas lutas juntos com muitas
dificuldades, mas, também grandes vitórias, em especial minha amiga TATIANE DA
SILVA LIMA que nunca me negou ajuda e se tornou ao longo do curso minha
amiga, dentre outras.
6. 6
RESUMO
Essa pesquisa traz algumas reflexões sobre o olhar da criança para a instituição de educação infantil
em que estuda. Este estudo foi embasado no trabalho de autores que desenvolvem aprofundamentos
teóricos nessa área, como: Kramer (1992, 1995, 2001), Oliveira (2001) Nicolau (1994), dentre outros.
O paradigma metodológico foi qualitativo, por nos possibilitar compreender melhor o espaço e nos
aproximarmos dos sujeitos. Os instrumentos de coleta de dados foram: Observação participante e a
entrevista semi-estruturada. A partir da utilização destes instrumentos foi possível obter algumas
considerações relevantes do olhar da criança para a escola de educação infantil em que estudam,
pois através deste olhar a criança pode demonstrar suas inquietações, manifestando sua capacidade
de analisar e refletir sobre suas vivências dentro do ambiente escolar, desmistificando a idéia de que
criança é um papel em branco sem opinião própria e contribuindo para reflexão que criança é um ser
pensante e tem um papel ativo no seu processo de formação.
Palavras-Chave: Criança, Infância, Escola de educação infantil.
7. 7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................9
CAPÍTULO I........................................................................................................... ...10
1.1 PROBLEMATIZANDO O ESTUDO....................................................................10
CAPÍTULO II ...........................................................................................................14
2.1 Fundamentando conceitos...............................................................................14
2.1.1 A visão de infância da sociedade antiga..........................................14
2.1.2 O mundo infantil .................................................................................16
2.1.3 A infância no mundo contemporâneo...............................................19
2.2. Escola de Educação Infantil...........................................................................20
2.2.1 Alguns pensadores que influenciaram na Educação Infantil.........21
2.2.2 A escola de educação infantil no Brasil............................................24
CAPÍTULO III............................................................................................................27
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................27
3.1 Tipo de Pesquisa...................................................................................27
3.2 Local de pesquisa ................................................................................28
3.3 Sujeitos da Pesquisa............................................................................28
3.4 Instrumento de Coleta de Dados.........................................................28
CAPÍTULO IV..........................................................................................................31
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.......................................................31
4.1 Análise da Observação Participante..............................................................31
4.1.1 O espaço físico...................................................................................31
4.1.2 A rotina em sala de aula.....................................................................32
4.1.3 A voz das Crianças em Sala de Aula.................................................32
8. 8
4.2 Análise da Entrevista Semi-estruturada.........................................................33
4.2.1 A criança sente a opressão imposta a elas.....................................34
4.2.2 A criança entende o papel da escola.................................................36
4.3 Analisando os Desenhos das Crianças................................................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................43
REFERÊNCIAS........................................................................................................45
APÊNDICE................................................................................................................
9. 9
INTRODUÇÃO
Consideramos que a criança é capaz de revelar aspectos significativos no ambiente
onde estão inseridas, pois são seres pensantes, capazes de analisar e refletir sobre
os acontecimentos vivenciados por elas. Por isso, analisar o olhar da criança para
escola de educação infantil em que estudam e permitir que suas vozes sejam
ouvidas e respeitadas, implica em favorecer a elas a oportunidade de estar
desenvolvendo o ato de se expressar, de agir com espontaneidade e liberdade
possibilitando a concretização da prática pedagógica de forma eficaz.
Dessa forma, no primeiro capítulo estaremos abordando a problemática, levantando
a reflexão sobre a questão de analisar as crianças como seres pensantes, capazes
de estabelecer uma visão clara e crítica sobre a escola em que estudam.
No segundo capítulo, trazemos a reflexão sobre os conceitos chave, salientando
historicamente o sentido de infância, estabelecendo uma visão geral sobre o mundo
infantil e a escola de educação infantil no mundo contemporâneo.
No terceiro capítulo são apresentados os caminhos metodológicos percorridos, bem
como uma descrição dos sujeitos e do locus a serem pesquisados. Abordamos
também sobre os instrumentos de coleta de dados que foram utilizados e que
auxiliou a presente pesquisa.
No quarto capítulo, apresentamos a análise e interpretação dos resultados, refletindo
sobre o olhar da criança para a escola de educação infantil, frente aos discursos dos
autores que nos deram suporte para chegarmos às considerações apresentadas.
Por fim, destacamos a relevância de analisar e respeitar a voz das crianças dentro
do espaço escolar, pois seu olhar para escola de educação infantil pode contribuir e
possibilitar melhores resultados no processo educacional.
10. 10
CAPÍTULO I
1.1 PROBLEMATIZANDO O ESTUDO
Partindo da concepção de que a criança pensa, se expressa e produz cultura, que é
capaz de analisar e refletir sobre as atividades de seu cotidiano; é relevante
considerar que ela ao ingressar na escola de educação infantil, na maioria das
vezes, cria a grande expectativa de como será sua escola, as brincadeiras, os
espaços de lazer, a professora, os colegas de turma, dentre outras coisas.
Com isso, a escola de educação infantil deve proporcionar meios para suprir as
expectativas e ansiedades das crianças, levando em consideração suas
individualidades e vivências, partindo do contexto histórico de cada um, pois, o meio
escolar pode tanto motivar como inibir no processo de aprendizagem das crianças,
influenciando no seu processo de formação. Conforme salienta Gadotti (1988): “O
meio escolar, o espaço físico e o humano são elementos que podem tanto ser
motivador para os alunos quanto inibidor das disposições de aprendizagem” (p. 51).
Portanto, analisar as crianças como um ser social, de relações e que vive em
sociedade, cidadãos com características, histórias, com diferenças regionais,
sociais, crenças e também etnicas, poderá contribuir para uma prática educativa
mais significativa, que se preocupa com a visão das crianças sobre a escola de
educação infantil em que estudam, possibilitando que estas expressem seus
pensamentos, exponha suas idéias, dando-lhes vez e voz. Sendo esta uma forma
disponível para o educador refletir sobre sua prática, buscando soluções para os
problemas que possam surgir no processo de ensino-aprendizagem.
Dessa forma é fundamental conhecer as crianças, pois elas nos revelam
pensamentos que são importantes para nós, adultos, refletirmos, haja vista que: “O
olhar da criança permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa na
penumbra ou obscurece totalmente” (PINTO, SARMENTO,1997 p.25).
11. 11
Nesse sentido, analisar a criança como um ser pensante, que produz cultura, e
possui sua criticidade sobre as coisas ao seu redor, é permitir reconhecer que
muitas vezes, as crianças são capazes de revelar fenômenos sociais que são
ocultados pelos discursos dos adultos. Para Manning, (1987) “criança é capaz de ver
as coisas como os outros as podem ver. É capaz de se concentrar em mais de um
aspecto de uma situação ao mesmo tempo” (p. 132).
Portanto, é considerável interpretar as crianças como cidadãos e cidadãs, visando
oportunizar a manifestação de seu olhar para escola de educação infantil em que
estuda, facilitando uma melhor interação entre professores e alunos, desconstruindo
a imagem de que criança nada sabe e deve somente aprender, pois, muitas vezes, o
que vemos nas escolas de educação infantil são crianças que são vistas como
material a serem moldados, como papel em branco, que necessitam apenas receber
conhecimentos programados tendo uma relação de domínio e opressão. Neste
sentido, Oliveira (2001) relata:
O adulto tudo sabe e a criança deve somente aprender, as relações que
se constituem são relações de opressão e domínio; sendo assim as
relações afetivas entre adulto e criança tendem a ser em sua maioria,
enviesadas, com poucas chances de haver respeito para com o mais fraco
(p.137).
Dessa forma, o adulto exerce uma autoridade sobre a criança estabelecendo uma
imagem de um ser incompleto, atribuindo estas características como natural, dadas
as condições sociais de infância atribuídas pela sociedade. Diante disso, Kramer
(1992) pontua que:
[...] a criança é considerada como um ser que não é, ainda, social,
desempenhando apenas o papel marginal nas relações sociais, tanto em
relação à produção dos bens materiais, quanto em relação à participação
nas decisões. Assim o desenvolvimento da criança é percebido como
desenvolvimento cultural das possibilidades naturais da criança, ao invés de
socialmente determinado e condicionado por sua origem social (p. 21).
Por isso, consideramos que o desenvolvimento da criança está condicionado ao
meio social e cultural no qual está inserida, devido às transformações sociais
ocorridas ao longo dos tempos. A valorização que hoje é atribuída à criança nem
12. 12
sempre existiu, tendo sido determinadas a partir de modificações econômicas e
políticas da estrutura social. Portanto, Kramer (1992) ainda diz que:
A análise das modificações do sentimento devotado à infância é feita à luz
das mudanças ocorridas nas formas de organização da sociedade, o que
contribui para uma maior compreensão da “questão da criança” no presente,
não mais estudada como um problema em si, mas compreendida segundo
uma perspectiva do contexto histórico em que está inserida (p.17).
Percebemos que as crianças da atualidade são mais participativas, comunicativas
com opiniões próprias e ligadas a tecnologia, amadurecem mais cedo, isso porque
recebem mais estímulo do que antigamente. São cheias de atividades, nem sempre
educativas e quase não tem tempo de brincar espontaneamente. Possuem
características próprias, levando em consideração o meio cultural e social na qual
estão inseridas. Para Kramer (2001):
[...] as crianças são pessoas que se desenvolvem psicologicamente,
apresentando, características próprias, no decorrer do seu desenvolvimento,
do ponto de vista lingüístico, sócio afetivo, lógico matemático e psicomotor.
Consideramos, ainda, que no processo de desenvolvimento há influencias
marcantes do seu meio sócio-econômico e cultural (p. 13).
Portanto, considerando o que foi exposto, nosso estudo de pesquisa objetiva
investigar o olhar da criança sobre a escola de educação infantil, a fim de conhecer
como esta percebe a escola em que estuda, no seu sentido amplo: o que gostam o
que lhes inquietam. Pois poderá contribuir para seu desenvolvimento, possibilitando
uma investigação mais significativa, voltado para o ensino-aprendizagem
contextualizado.
O tema escolhido foi construído ao longo do curso de pedagogia, na instituição
Uneb- Departamento de Educação Campus VII, dada as experiências vivenciadas
nos estágios, analisando em sala de aula a linguagem e interação das crianças
referente à sua escola, tendo em vista elas não tinham voz, ou seja, suas opiniões
não eram levadas em consideração. Mas, o que se percebe nos discursos escolares
é que toda aprendizagem deve partir da realidade do aluno, mas, como analisar sua
13. 13
realidade se os mesmos não podem falar? Nem tão pouco contrariar a professora
com uma opinião contrária.
Assim, a partir dessa inquietação surgiu nossa proposta de estudo, pois,
acreditamos que esta pesquisa poderemos compreender o olhar da criança sobre a
escola de educação infantil em que estuda. Possibilitando eleger elementos para a
construção de uma educação de qualidade, que possa proporcionar desafios dentro
de uma perspectiva voltada para a autonomia e espontaneidade das crianças.
Dessa forma, o nosso problema de pesquisa é: O olhar da criança para a escola de
educação infantil em que estuda. Na perspectiva de analisar sua opinião e
compreensão com autonomia e espontaneidade.
Com isso, pretendemos a partir dos resultados da presente pesquisa, refletirmos
sobre nossa prática, enquanto futuros docentes, no intuito de realizar com seriedade
e compromisso o nosso trabalho, colocando em prática tudo que construímos ao
longo do curso. Entendemos que os acontecimentos vivenciados na infância, surtem
efeitos que são levados para a vida adulta, uma vez que, neste período a criança já
possui um pensamento lógico e sentimentos impulsionados pela emoção, pois há
determinados parâmetros psicológicos que orientam o desenvolvimento de todas as
crianças, gerenciados pela necessidade de adaptação do seu meio. Neste sentido,
Borges (1994) pontua:
A construção do conhecimento pela humanidade, a evolução do
pensamento científico e, de forma semelhante, o pensamento da criança,
progridem impulsionados por necessidades e interesses surgidos dos
desafios adaptativos nas mais variadas situações da vida (p. 17).
Diante disso, somos levados a refletir sobre a importância de encarar a opinião das
crianças sobre sua escola como algo fundamental no seu processo de ensino-
aprendizagem,o que nos possibilita um planejamento que atende aos anseios das
crianças. Assim Piaget (1986) ressalta:
A criança explica o homem tanto quanto o homem explica a criança, e não
raro ainda mais, pois se o homem educa a criança por meio de múltiplas
transformações sociais, todo adulto, embora criador começou, sem
embargo, sendo criança; e isso tanto nos tempos pré-históricos quanto hoje
em dia (p. 32).
14. 14
Assim, é preciso que haja um olhar específico sobre o ser criança, estabelecendo
uma imagem a partir do meio social e cultural na qual está inserida, levando em
consideração suas vivências e individualidades.
15. 15
CAPITULO II
2.1 FUNDAMENTANDO CONCEITOS
No presente capítulo fundamentamos nossos conceitos chave, a partir da
contribuição de alguns teóricos, que trazem uma reflexão acerca do universo infantil.
Realizamos, portanto, um breve histórico do sentimento de infância de antigamente,
visando analisar as concepções de infância que norteia a sociedade contemporânea
2.1.1 A visão de infância da sociedade antiga
Neste texto, tentaremos mostrar como o conceito de infância foi construído
historicamente segundo os estudos de Ariés (1978). O sentimento de infância era
inexistente, até o século XVI, não existia a particularidade da consciência sobre o
universo infantil. A concepção de infância, até então, baseava-se nas péssimas
condições de vida que viviam as crianças, pelo menos da classe trabalhadora, havia
ainda grande número de mortalidade infantil devido às condições de higiene e saúde
da população em geral que era desconfortável. Assim pontua Kramer (1992 p. 17):
“Era extremamente alto índice de mortalidade infantil que atingia as populações e,
por isso, a morte das crianças era considerada natural. Quando sobrevivia, ela
entrava diretamente no mundo dos adultos”.
Em decorrência dessas condições, uma criança morta era substituída por outros e
sucessivos nascimentos, pois ainda não havia, conforme hoje existe, o sentimento
de cuidado, pois eram muito pequenas e as famílias temiam em apegar-se a elas.
Segundo Ariés (1978, p. 22) “as pessoas não podiam se apegar muito a algo que
era considerada uma perda eventual”.
Como mostra a história, no decorrer dos séculos, surgiram diferentes concepções de
infância. Na Idade Média, a criança era vista como um adulto em miniatura, assim
que pudesse realizar algum tipo de tarefa, esta era inserida no mundo adulto sem
nenhuma preocupação em relação a sua formação enquanto um ser específico.
Neste período a sociedade não apresentava um conceito próprio de criança, tratava
como um adulto reduzido. Ariés (1981) ressalta:
16. 16
A velha sociedade tradicional via mal a criança. A duração da infância era
reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não
conseguia bastar-se; a criança então, mal conseguia algum desembaraço
físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos
(p. 23).
A duração da infância não era bem definida, por esta razão, muitos jovens de até
dezoito anos eram considerados nesta categoria, dessa forma a criança acabava por
assumir funções e responsabilidades, ultrapassando etapas significativas de seu
desenvolvimento.
A transmissão de valores e dos conhecimentos, não eram assegurados nem
controlados pelas famílias. A criança se afastava logo de seus pais e a
aprendizagem ocorria pela convivência, observando os adultos. Ariés (1981) pontua:
“A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve muito
insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a
sensibilidade” (p. 24).
Dessa forma, percebemos que durante esta etapa da vida, as crianças pouco
podiam desfrutar, pois seus direitos e necessidades eram despercebidos dentro
daquela sociedade que as observavam como um adulto reduzido. Ariés (1981)
salienta que:
De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem
jovem, sem passar pelas etapas da juventude, que talvez fossem praticadas
antes da idade média e que se tornaram aspectos essenciais das
sociedades evoluídas nos dias de hoje (p. 38).
Vale ressaltar que a ausência do sentimento de infância, não quer dizer que neste
período as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas, mas, o
olhar que se tinha para esse ser em formação era bem diferente da atualidade,
devido o contexto social em que estavam inseridas, não possuindo nenhuma
representação perante a sociedade daquela época.
No decorrer dos tempos, com algumas modificações no cenário político e econômico
começa a surgir o sentimento de infância, as crianças apareciam nas mais variadas
situações de seu cotidiano, segundo Ariés, (1981) :
17. 17
A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua
evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos
séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento particularmente
numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século
XVII (p. 65)
No século XVI e XVII, começa a mudança no olhar das famílias e da sociedade para
as crianças, dando importância e significado como alguém que necessita de lugar,
espaço e cuidados especiais, mais tarde evoluiu para o que chamamos hoje de
infância.
As transformações sociais ocorridas no século XVII contribuíram para a construção
do sentimento de infância entre as famílias, logo a afetividade foi demonstrada e a
preocupação com a formação moral da criança, reforçando a importância da
educação escolar. As reformas religiosas católicas e protestantes contribuíram para
a mudança do olhar sobre as crianças e sua aprendizagem. “As crianças foram
separadas dos adultos e mantidas em escolas até estarem prontas para a vida em
sociedade” Ariés (1978 p. 47).
Portanto, entendemos que a construção do conceito de infância se dá através de
cada processo histórico, o modo como representá-la está intrinsecamente
relacionada às estruturas econômicas, políticas e culturais de um dado conjunto
social. Por meio da educação escolar, ampliou-se a verificação da criança como um
ser social que necessita de cuidados diversificados, favorecendo no processo de
formação e aprendizagem.
2.1.2 O Mundo Infantil
Analisar o mundo infantil e respeitá-lo implica em não ignorar sua importância, pois,
a criança é capaz de refletir e analisar as coisas ao seu redor, integrando valores e
comportamentos próprios de seu tempo e lugar, contribuindo no seu processo social
histórico e cultural. Contudo, Segundo Lajolo (1997 p. 22), a etimologia da palavra
infante, infância está ligada a idéia de ausência da fala.
18. 18
Por muito tempo, o sentimento de infância era inexistente, não se procurava em
entender as crianças como cidadãos e cidadãs, capazes de contribuir de acordo
com suas necessidades e seu meio social e cultural. Assim, como pontua Lajolo
demonstrando o significado da palavra infância, nos demonstra que a sociedade
antiga via as crianças sem direitos, nem de expor suas falas como algo significativo.
Porém, hoje acreditamos que elas são sujeitos dos seus próprios conhecimentos,
como nos relata Kramer (2001) “A criança deve ser vista como um ser social que
participa da construção do seu conhecimento, como sujeito ativo fazendo uso de
esquemas próprios, sendo respeitadas como cidadãos e cidadãs (p. 42).
A idéia de infância durante muito tempo referia-se à criança como a idealização de
um ser puro e inocente, incapaz de questionar ou ser questionado, como um ser que
não possui individualidades e conhecimentos próprios. Por isso, esta idealização de
infância está relacionada às transformações das formas de organização da
sociedade, neutralizadas com esta visão de infância, dificilmente teria espaço para
outras concepções, Talvez pelo simples fato de que a criança inocente nada exige
da sociedade. Kramer (1992) pontua: “Esta forma de organização institui diferentes
classes sociais no interior das quais o papel da criança é diferente” (p. 19).
Nesse sentido, compreendemos que através do meio social, econômico e cultural
que a criança está inserida, é que as diferencia, pois cada uma delas tem seu
sentido próprio de vida, suas idealizações de mundo e sua compreensão sobre as
coisas. A idéia de um ser universalizado, como se todas as crianças fossem iguais,
com as mesmas condições de vida foi divulgada pela classe dominante, como nos
relata Kramer (1992):
A idéia de uma infância universal foi divulgada pelas classes dominantes
baseada no seu modelo padrão de criança, justamente a partir dos critérios
de idade e de dependência do adulto, característicos de um tipo especifico
de papel social por ela assumindo no interior dessas classes (p. 19).
Dessa forma, a imagem estabelecida sobre a infância, diz respeito à toda e qualquer
criança, não sendo analisadas as questões sociais e culturais que envolvem cada
uma delas, como se a infância fosse igual para todos. Kramer (1992) salienta: “tratar
da criança em abstrato, sem levar em considerações as diferentes condições de
vida, é dissimular a significação social da infância” (p. 25).
19. 19
Por isso, entendemos que todo ser humano já passou pela fase da infância, e esta é
uma etapa muito importante para o desenvolvimento de cada pessoa, mas o meio
social, econômico e cultural é que diferencia cada infância, pois as experiências
vivenciadas por cada criança contribuem para sua formação. Nicolau (1993) relata:
Ao longo da infância, o indivíduo assimila as experiências sociais
acumuladas pela geração anterior, adquire conhecimentos e habilidades
específicas e “se apossa” de certos valores estéticos e morais. Sem esta
„aquisição‟ de experiência social, o desenvolvimento psíquico da criança
não se realiza (p. 101).
A criança em seu mundo infantil, brinca, sonha, imagina coisas, é capaz de observar
e refletir sobre as coisas ao seu redor, inclusive pode levar as suas observações
para suas brincadeiras e fantasias, demonstrando por muitas vezes, como forma de
se expressar. Para Vygotsky (1984):
O correto conhecimento da realidade não é possível sem um certo
elemento de imaginação, sem o distanciamento da realidade, das
impressões individuais imediatas, concretas, que representam esta
realidade nas ações elementares da nossa consciência (p. 33).
Por tanto, é importante reconhecer que o mundo infantil, sendo cheio de fantasias e
imaginações, oferece as crianças a oportunidade de desfrutar dessa fase por
completo tornando-as mais criativas, participativas e autônomas para coordenar
suas idéias e desejos. Segundo Vygotsky (1984 p. 28) “A necessidade e o desejo de
decifrar o universo de significados que a cerca leva as crianças a coordenar idéias e
ações a fim de solucionar os problemas que se apresentam”.
Por isso, vale ressaltar que é na infância que se constroem valores e
comportamentos, compreendendo sua importância, os adultos poderão conhecer e
orientar as crianças de forma que elas possam desfrutar desse período com prazer,
realizando atividades significativas para seu desenvolvimento integral.
2.1.3 A infância no mundo contemporâneo
20. 20
Podemos nos referir à infância de hoje como algo que obteve grandes
transformações ao longo dos tempos, principalmente porque as crianças foram
reconhecidas como sujeitos de direitos. Atualmente o mundo infantil é limitado e ao
mesmo tempo amplo, o primeiro porque a criança está vivendo no universo onde as
transformações sociais, políticas e econômicas, estão cada vez mais centradas no
desenvolvimento do capitalismo, com isso a construção do espaço infantil fica cada
vez mais limitado, pois, as crianças desde cedo já são sobrecarregadas de deveres
na condição de se prepararem para o mundo de concorrências, onde quem
prevalece são os mais qualificados. Sobre essa mudança na concepção de infância,
Kramer (1992) afirma que:
Se na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto (de
adulto) assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade
burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e
preparada para uma atuação futura (p. 17).
Com isso, as crianças da atualidade que são consideradas economicamente
favorecidas pouco brincam espontaneamente, freqüentam a escola mais cedo,
fazem cursos extras, pois devem se preparar desde a infância para uma atuação
futura, mesmo as crianças desprovidas economicamente sofrem pressão para se
prepararem desde cedo para conseguir ser “alguém na vida”. Mas, o universo infantil
atual também pode ser considerado como amplo, porque dispõe de maiores
facilidades e as crianças possuem na sua maioria, conhecimentos diversos nos
quais possibilita a ampliação de seus conceitos. No mundo contemporâneo as
crianças adquirem direitos por lei que asseguram proteção em seu desenvolvimento,
como o Estatuto da Criança e do Adolescente, isto sem dúvida foi um grande
progresso quando comparado com momentos históricos anteriores, porém ainda há
muito que ser revisto pelas autoridades e pela sociedade em geral referente ao olhar
que se tem sobre a infância contemporânea.
As crianças de hoje apresentam multiplicidades de conhecimentos que articulam
suas vidas, pois, o olhar sobre a infância não é universal, considera as diferentes
21. 21
posições subjetivas de cada criança, pois esta pode se encontrar em diferentes
posições psíquicas que são articuladas aos laços sociais e culturais.
Dessa forma, a educação no período infantil sofreu ao longo dos tempos
transformações bem característica dos tempos atuais, devido às condições de vida
que norteiam a sociedade contemporânea, pois a educação que acontecia
diretamente com as reuniões familiares de trabalho e lazer foi substituída pela
aprendizagem escolar, conduzidos a formação instrumentalizada para o mundo do
trabalho. Sobre esta questão Ariés (1981) afirma que:
A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer
dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a
vida diretamente, através, do contato com eles. A despeito das muitas
reticências e retardamentos, a criança foi separada dos adultos e mantidas
á distancia numa espécie de quarentena, antes de ser solta ao mundo. Essa
quarentena foi à escola, o colégio (p. 48).
Outra característica que compõem a sociedade de hoje são as tecnologias, cada vez
mais tomando lugar nos espaços sociais e educacionais. Televisões que se
transformam em babás, pais ausentes, crianças sozinhas.
Portanto, percebemos que há ainda muita contradição no que se refere à visão de
infância na sociedade contemporânea, pois revela que ao mesmo tempo em que
crianças são vistas como inocentes e incapazes sem a proteção de um adulto, são
levadas a viverem como eles, à medida que exercem compromissos e
responsabilidades como estes. Crianças com agendas lotadas, sem tempo de
brincar espontaneamente, outras sozinhas ficam em casa até seus pais chegarem
de seu trabalho, etc. Dessa forma, há muito que pesquisar sobre a forma de atuação
social que compõem a infância atual.
2.2. Escola de Educação Infantil
A educação escolar infantil tem como função estimular progresso e desenvolvimento
da criança, visando satisfazer suas necessidades básicas, proporcionando um clima
favorável afetivo, físico e intelectual, tendo como tarefa a responsabilidade de
educar, mediante algumas modificações econômicas, políticas e sociais ocorridas ao
longo dos tempos.
22. 22
Na antiguidade a educação da primeira infância era acompanhada pelos adultos de
determinados grupos sociais, as crianças aprendiam as tarefas de trabalho, seus
valores morais e comportamentos, observando os mais velhos, desta forma, toda
comunidade participava da educação das crianças. Com o advento da maternidade
e as transformações ocorridas na época como a Revolução Industrial, por exemplo,
que trouxe consigo máquinas e tecnologias, era necessário que as pessoas
começassem a estudar para o trabalho para aprenderem a manusear as máquinas
para produzirem renda, até então só às classes economicamente favorecidas tinham
acesso a escola, com algumas reivindicações e necessidades do sistema capitalista
as classes desprovidas economicamente começaram então a freqüentar a escola.
foi também nesse contexto que surgiram as primeiras instituições de educação
infantil que na sociedade capitalista passa a ser mais um sinal de distinção e neste
sentido:
Parece-nos fundamental lembrar que a educação pré-escolar é algo mais
do que a instrução. A educação propriamente dita inicia-se a partir do
nascimento, diferencia-se de acordo com a idade e as condições de vida
das pessoas (NICOLAU, 1993 p. 74).
Por isso, a educação está presente na vida das pessoas desde o nascimento,
variando seu modo dependendo de sua classe social e cultura. A escola que
antigamente instruía e auxiliava na aprendizagem, passou a ter o papel de educar,
devido algumas transformações sociais como a inclusão das mulheres no mercado
de trabalho, gerando uma nova organização no seio familiar. Além disso,
apareceram novas concepções sobre a infância, muitos filósofos contribuíram para o
pensamento exercido sobre a educação infantil da época, com fundamentos que se
perpetuam até os dias de hoje.
2.2.1 Alguns Pensadores que Influenciaram na Educação Infantil
O acesso livre à escola de educação infantil se deu através de modificações
políticas, sociais e culturais e principalmente por reivindicações civis da época. É
23. 23
importante ressaltar que a compreensão de infância que foi se desenvolvendo ao
longo dos tempos tornando cada vez mais valorizada e respeitada, foi graças a
alguns pensadores e suas obras.
Podemos citar Rousseau (1712-1778) que teve a preocupação em chamar a
atenção sobre as necessidades da criança e as condições de seu desenvolvimento.
Sabemos que no século XXVIII a sociedade pouco se preocupava com tais
necessidades. Ele observou que as crianças tinham características próprias, por isso
deveriam ser reconhecidas como tal e mantidas de forma diferenciada dos adultos,
respeitando a individualidade de cada um.
Percebemos que as idéias de Rousseau tem se expandido e concretizado nos
discursos atuais, sua contribuição para a valorização do sentimento de infância, bem
como na educação infantil é inestimável. No seu livro Emílio, destaca questões bem
pertinentes, compreendendo que os adultos devem conhecer as crianças, seus
sentimentos, pensamentos e não impor-lhes os seus. Portanto Rousseau foi um dos
pensadores que valorizou a individualidade da criança e sua capacidade de fazer as
coisas, e seus princípios educacionais permanecem até hoje.
Outro pensador que foi importante para a construção da educação infantil escolar foi
Pestalozzi (1746-1827), ele era mestre-escola e acreditava que a educação podia
mudar a condição do povo que vivia na miséria e com isto, eles poderiam conquistar
seus direitos. O entusiasmo de Pestalozzi contribuiu para que crianças dos casebres
conseguissem serem vistas em termos educacionais por reis e governantes.
Com isso, podemos salientar que as idéias de Pestalozzi foram de grande
relevância, uma vez que norteia a sociedade contemporânea, pois ainda se acredita
que o ser humano pode modificar sua história, principalmente os mais pobres,
quando valoriza a educação e tem a oportunidade de ingressar numa escola de
qualidade.
Froebel (1782-1852) foi o primeiro fundador do jardim de infância, no qual dedicou
sua vida, inspirou-se no amor à criança e a natureza. Como tinha muito prazer em
observar as crianças, percebeu a importância dos brinquedos para o
desenvolvimento delas, valorizando também as histórias, conto de fadas e as
fábulas.
24. 24
Dessa forma, enfatizou também a importância de trabalhar com o lúdico na
educação infantil. Através de suas idéias e observações contribuiu para uma
educação mais significativa, valorizando e cuidando do trabalho dos professores,
onde as crianças eram consideradas plantinhas de um jardim, cujo jardineiro seria o
professor. A idéia dos brinquedos e aprimorar os conhecimentos através do trabalho
lúdico foram de tão importância, que nos dias de hoje associamos a vida de uma
criança entrelaçadas em brinquedos e fantasias.
Ainda falando sobre alguns pensadores que contribuíram com a educação infantil,
podemos pontuar Decroly (1871-1932) que acreditava que a criança deve viver seu
momento de infância, resolver questões de seu tempo, sem se preocupar em se
preparar para a vida adulta. Ele tinha maior interesse pelas crianças com
necessidades especiais, chamadas na época de “retardadas”.
Nesse sentido, podemos perceber que mesmo há muito tempo atrás pensadores
como este, já se preocupava em analisar as questões infantis baseada no excesso
de responsabilidades que exerce sobre algumas crianças, que em nossos tempos
ainda podemos ver.
Ainda nesse sentido, falamos de Montessori (1870-1952) que criou um dos primeiros
métodos ativos quanto à aplicação, valorizando as atividades motoras e sensoriais,
visando o desenvolvimento infantil, opondo-se as formas tradicionais que não
respeitavam esta necessidade de evolução das crianças.
Para ela, a melhor forma de ensinar era despertar o interesse dos alunos, de forma
que chamassem sua atenção espontaneamente, que eles pudessem manusear os
trabalhos individualmente ou coletivamente num processo de educação e
socialização. Dessa forma, usava objetos de várias formas, brinquedos. Todo
material usado os alunos teriam acesso e trabalhariam neles, com a finalidade
educativa significativa.
Diante do que foi exposto percebemos que os pensadores citados tiveram uma
enorme contribuição para o sentimento de infância que norteiam a sociedade
contemporânea, suas idéias influenciaram de tal forma que permanecem nos
discursos atuais, contribuindo para reflexão que implica em melhores resultados
educacionais.
25. 25
2.2.2 A escola de educação infantil no Brasil
Os pensadores citados anteriormente contribuíram com o sentimento de infância em
alguns países, inclusive o Brasil. Na sociedade brasileira com algumas
reivindicações civis, surgiram entidades de caráter assistencialista, voltadas para o
menor abandonado, com um caráter de assistência a saúde e preservação da vida,
com influência médica-higiênica no combate à desnutrição, vacinação, ampliando as
reformas de obras de proteção materno-infantil como hospitais e maternidades.
Assim relata (Kramer 1995):
O combate à desnutrição, vacinação e diversos estudos e pesquisas de
cunho médico realizadas no Instituto Fernandes Figueira. Era também
fornecido auxílio técnico para a criação, ampliação ou reformas de obras de
proteção materno-infantil do país, basicamente hospitais e maternidades (p.
65).
Com o passar dos tempos, o crescimento da industrialização e algumas
reivindicações, a educação escolar passa a ser reconhecida como necessária e o
movimento da sociedade civil e órgãos governamentais contribuiu para que o
atendimento às crianças de zero a seis anos fosse garantido pela constituição de
1988, em instituições da educação infantil como um direito da criança. Com a
promulgação da nova lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei número 9394/96, a
Educação Infantil passa a ser, legalmente, concebida e reconhecida como etapa
inicial da educação básica. Com isso, atualmente é garantido por lei, que toda
criança deve estar devidamente matriculada na escola de educação infantil.
Portanto, podemos pontuar que estamos inseridos numa época onde as
transformações sociais e políticas contribuíram para que pelo menos na lei, a escola
de educação infantil seja considerada prioridade para o desenvolvimento da criança,
sendo ela a mediadora pela formação intelectual e moral da criança, junto com a
família.
Dessa forma, a escola de educação infantil contemporânea passa a ser o centro do
cotidiano das crianças, pois, na maioria das vezes é onde passam a maior parte de
seu tempo, devido ás condições de trabalho de seus pais que quase sempre estão
ocupados. Por isso, as crianças permanecem em creches e escolas de educação
infantil em alguns casos o dia inteiro. Em algumas situações, a escola está sendo
26. 26
considerada um investimento, numa espécie de capitalização, como salienta Kramer
(1992): “A educação tem um valor de investimento a médio ou longo prazos e o
investimento da criança contribuirá futuramente para aumentar o capital familiar (p.
72).
Com isso, devemos ter o cuidado em não deixar que essa manifestação baseada
somente na preocupação em investimento, perca de vista a questão fundamental
que estabelece a educação infantil como educação integral libertadora, baseada no
desenvolvimento pleno proporcionando-lhe a construção de sua autonomia. E como
ressalta Freire (1996) ressalta: “O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é
um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”
(p.59).
Assim, uma escola de educação infantil deve proporcionar à criança situações
inovadoras que possibilitem o aprendizado prazeroso, espontâneo e significativo,
uma vez que as crianças já começam desde cedo a freqüentarem a escola, seja
pelo fato de seus pais trabalharem e não terem com quem deixar-las ou mesmo, por
opção própria para que seus filhos convivam mais cedo com um ambiente social e
desenvolvam suas habilidades. Nesse contexto Nicolau (1993) afirma que:
O clima psicológico da pré-escola deve proporcionar condições de
satisfação das necessidades básicas da criança em todos os níveis. Ela
precisa se sentir livre para se expressar espontaneamente e para participar
de atividades lúdicas individuais ou grupais (p.72).
Por isso, é de suma importância trabalhar com crianças da educação infantil com
brincadeiras, jogos, uma vez que contribuem com o ensino-aprendizagem. A
educação Lúdica esteve presente em todas as épocas, povos, contextos de
inúmeros pesquisadores, que defendiam a utilização de jogos educativos na
educação das crianças e deveriam ser praticadas pelas crianças de ambos os
sexos.
Dessa forma, a proposta do Lúdico na educação infantil, possibilita melhores
resultados referente à aprendizagem, uma vez que integra a todos dando maior
satisfação e prazer em aprender. Antunes (2004 p. 31) nos relata: “brincando a
criança desenvolve a imaginação, fundamenta afetos, explora habilidades e, na
27. 27
medida em que assume múltiplos aspectos, fecunda competências cognitivas e
interativas”.
Nesse sentido, além de possibilitar o exercício daquilo que é próprio no processo de
desenvolvimento e aprendizagem, brincar é uma situação em que a criança constitui
significados, sendo uma forma, tanto para a assimilação dos papéis sociais e
compreensão das relações afetivas que ocorrem em seu meio como para
construção do conhecimento.
Dessa forma, vale ressaltar também a importância de proporcionar às crianças uma
ambiente favorável para o processo educacional escolar, uma vez que, o espaço
físico é de grande relevância, pois as crianças devem sentir-se seguras e bem
protegidas, dispondo de um ambiente colorido e de espaços livres para brincarem,
estimulando a descobertas e habilidades que são observadas e vivenciadas todos
os dias pelas crianças. Nicolau (1993) pontua:
A pré-escola deve ser norteada pela flexibilidade, sendo que as suas
instalações devem se prestar a arranjos e modificações, considerando os
objetivos das atividades. Um pátio externo ensolarado e/ou uma área livre é
essencial para as crianças brincarem livremente e também para
participarem de jogos dirigidos (p. 79).
Na escola de educação infantil faz-se necessário observar estas questões, uma vez
que, é nela que as crianças se descobrem, vivem situações inovadoras que são
levadas para a vida adulta, se socializam e se limitam a questões que podem tanto
motivar como traumatizar, é necessário que este espaço as receba com segurança,
afetividade e principalmente respeitando seus limites individualmente, ampliando
conhecimento já construído por elas.
28. 28
CAPÍTULO III
3. CAMINHOS METODOLÓGICOS
Analisar as crianças como cidadãos e cidadãs, capazes de refletir sobre as coisas
ao seu redor e entendê-las como seres pensantes, implica em não ignorar que elas
fazem parte da sociedade em que estão inseridas e desta forma podem contribuir
com seu próprio desenvolvimento. Por isso é relevante observar como as crianças
veem a escola em que estudam, pois dessa forma poderemos conseguir vencer
desafios que entrelaçam a vida humana desde a infância. Nossa questão de
pesquisa se efetua pela inquietação surgida nos estágios vivenciados anteriormente.
A pesquisa é um estudo que surge a partir de uma curiosidade, uma inquietação ou
uma necessidade que nos possibilita conhecermos realidades muitas vezes
ocultadas. Para a realização de uma pesquisa (LUDKE;ANDRÉ, 1986, p.1) ressalta:
“É preciso promover o confronto entre dados, as evidências, as informações
coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a
respeito dele”. Faz-se necessário entender que através dos resultados obtidos na
pesquisa, nos possibilitará a refletir sobre os conhecimentos adquiridos levando-nos
a enxergar de forma significativa a nossa prática enquanto futuros docentes.
3.1 Tipo de pesquisa:
Definimos nossa pesquisa pela abordagem qualitativa, pois de acordo com Ludke e
André (1986) esse tipo de abordagem possibilita o reconhecimento da realidade em
estudo, visto que enfoca mais o processo do que o produto, com a preocupação
maior de retratar o ponto de vista dos participantes, além de ser um tipo de pesquisa
rico na apreensão, explicação dos fenômenos. André (1995) Salienta:
Qualitativa porque se contrapõe ao esquema quantitativista de pesquisa
(que divide a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-
as isoladamente), defendendo uma visão holística dos fenômenos, isto é,
29. 29
que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas
interações e influências recíprocas (p.17).
Por isso, a pesquisa qualitativa é muito importante na obtenção de dados de um
determinado grupo estudado, pois se dá através de um processo de interação,
reflexão e atribuição de sentidos entre este grupo e o pesquisador, possibilitando um
melhor conhecimento do objeto de estudo.
3.2 Local de pesquisa
O local de pesquisa foi a Escola Sorriso da Criança, situada na rua são João, s/n no
bairro do Bosque na cidade de Senhor do Bonfim, BA. A escola é particular, é
administrada por uma diretora, cinco professores, eles trabalham pela manhã e tarde
e uma coordenadora. O espaço físico não é favorável, a escola é pequena e contém
cinco salas, sendo uma dividida em duas por uma parede de madeira. Contêm dois
banheiros, um para os meninos e outro para meninas, sendo que os dois estão
decadentes. A escolha do locus justificou-se por esta atender crianças da educação
infantil e por ser uma escola aberta à realizações de estágios e investigação de
alunos do curso de pedagogia.
3.3 Sujeitos da Pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram 8 (oito) crianças do terceiro período da educação
infantil, com idade de 6 (seis) anos. O critério de escolha foi a idade, porque
percebemos que nessa faixa etária, as crianças dessa escola apresentam
características como: linguagem oral bem elaborada, possibilitando uma troca oral
de suas vivências; sentimentos expressos com mais fluência e segurança e
narrativas com riquezas de detalhes. As crianças selecionadas para pesquisa
moram no mesmo bairro que a escola e são oriundas da classe popular.
3.4 Instrumentos de Coleta de Dados:
Entendemos que através dos instrumentos utilizados em pesquisas, podemos
compreender e analisar questões baseadas nos dados coletados e desta forma
contribuir de forma significativa com o trabalho em determinados grupos sociais.
Dessa forma, Ludke e André (1986) ressaltam: “na medida em que o observador
acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a sua
30. 30
visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem á realidade que os cerca a as
suas próprias ações” (p.26).
Utilizamos como instrumento de investigação a observação participante e a
entrevista semi-estruturada, tendo como objetivo investigar o olhar da criança para a
escola de educação infantil em que estuda. Primeiramente utilizamos a observação
participante, pois de acordo com (CERVO, 2007 P. 31) “Ocorre quando o
observador, deliberadamente, se envolve, e deixa-se envolver com o objeto da
pesquisa, passando a fazer parte dele”.
Por isso, tivemos a oportunidade de observar participando, tendo a chance de
conhecê-los melhor interagindo de forma direta com os sujeitos. Acreditando que
cada indivíduo tem seu olhar diferenciado para algo individualmente. Por esta razão
tivemos a preocupação em observar as crianças uma por uma de forma exclusiva.
Assim nos relata Ludke e André (1986):
É fato bastante conhecido que a mente humana é altamente seletiva. É
muito provável que, ao olhar para um mesmo objeto ou situação, duas
pessoas enxerguem diferentes coisas. O que cada pessoa seleciona para
“ver” depende muito de sua história pessoal e principalmente de sua
abordagem cultura (p. 25).
A observação participante foi feita desde os semestres passados, pois os estágios
vivenciados anteriormente foram feitos na mesma escola com a participação de
outros sujeitos, sendo assim, tivemos a facilidade de convivência com a diretora e
professores para nosso trabalho atual. Dessa forma, comparecíamos na escola para
observação regularmente, nos preocupando em estarmos sempre presentes. Com
isso, esta observação nos possibilitou a percepção de aspectos relevantes para
nosso trabalho, através da complexidade que norteia a teoria com a prática.
Posteriormente, realizamos a entrevista semi-estruturada na proposta de enriquecer
os dados relevantes para nossa pesquisa. A escolha deste instrumento se deu por
permitir o pesquisador um contato mais direto e a possibilidade de aprofundamento
de detalhes. A concepção de entrevista semi-estruturada para Marconi e Lakatos
(1996) é: “um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
31. 31
informações a respeito de determinado assunto mediante uma conversação de
natureza profissional” (p.70).
Dessa forma, a escolha dessa pesquisa se deu também por utilizar um roteiro de
perguntas, de forma que dispõe de liberdade para os sujeitos responderem de forma
espontânea. Então, Ludke e André (1986) dizem que a entrevista semi-estruturada,
se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicando rigidamente,
permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações (p.34).
Por isso, junto com o roteiro de perguntas foi utilizado uma filmagem, ou seja,
gravamos a entrevista das crianças com a permissão dos pais, para analisar melhor
as respostas dos sujeitos. Eles também tiveram a oportunidade de se expressarem
em suas respostas através de desenhos desenvolvidos por eles mesmos. Assim,
compreendemos de forma mais clara que contribuiu de forma significativa para
nossa pesquisa.
32. 32
CAPÍTULO IV
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Neste capítulo discutimos os resultados da pesquisa. Salientamos, no entanto, que
as reflexões aqui registradas são fruto de um trabalho de análise do pesquisador,
portanto, não tem a pretensão de uma verdade absoluta, mas uma possibilidade de
interpretação da realidade. Inicialmente apresentaremos as análises das
observações, dividindo por categorias. Em seguida, abordaremos a entrevista com
os sujeitos, e a análise dos desenhos desenvolvidos por eles. Por fim, concluiremos,
provocando uma reflexão sobre a temática estabelecida, visando apontar
possibilidades para uma prática atuante e eficaz.
4.1. Análise da Observação Participante
No período das observações tivemos a oportunidade de analisar todo o contexto da
escola em seu sentido amplo, tanto no que se refere ao espaço físico quanto à
prática pedagógica e a condição da criança dentro deste espaço, pois, acreditamos
que para melhor compreensão sobre a temática estabelecida fez-se necessária a
análise da escola de forma contextualizada. Assim, precedemos as análises das
seguintes categorias:
4.1.1. O espaço físico
Diante das nossas observações, compreendemos que o espaço físico da escola
pesquisada encontra-se com uma estrutura pequena com poucos recursos, das
cinco salas existentes, uma é dividida em duas por uma parede de madeira, o que
dificulta na concentração das crianças. A sala dos sujeitos pesquisados é bem
colorida, cheia de desenhos, porém, esburacada com pouco espaço para
movimentação. Quando chove, as crianças devem passar todas para um lado só,
porque tem pingueiras do outro lado, provocando desconforto para elas. O pátio é
33. 33
pequeno, por isso, o recreio é dividido em dois tempos, um para os maiores e o
outro para os menores, mesmo sendo dessa forma, o pátio ainda fica pequeno para
as crianças brincarem. Os dois banheiros são decadentes, além disso, não há
nenhum tipo de brinquedos e nem cantina. Por isso, entendemos que o espaço
físico desta escola necessita de melhor estrutura para acolher e satisfazer as
necessidades e expectativas das crianças.
4.1.2. A rotina em sala de aula
Ao observarmos as aulas semanais, percebemos que há sempre uma rotina, os
alunos ao chegarem à sala de aula, já retiram de suas mochilas o livro de leitura,
pois todos os dias a primeira atividade é a lição, ou seja, o desenvolvimento da
leitura de forma sistemática, o aluno faz a leitura para professora um de cada vez,
então ela analisa se este aluno tem condições de passar de lição ou não. Se ele não
conseguir ler direito fica na mesma lição até conseguir.
Assim, é desta forma que se desenvolve a leitura, nesta turma, o estímulo, que a
criança tem é passar de lição. Percebemos também que nesta escola não são
desenvolvidas atividades lúdicas que poderiam estar presentes nas atividades com
funções educativas por ajudar no desenvolvimento integral (física, intelectual e
moral) da criança, na constituição da sua individualidade e na formação de sua
personalidade, implicando, portanto, sempre em alguma aprendizagem. Para
Almeida (2000 p. 31): “os jogos podem ser utilizados para introduzir conteúdos ou
formar conceitos, todavia, devem ser escolhidos e preparados com cuidado, levando
a criança a adquirir conceitos significativos”.
Assim sendo, os conteúdos da escola pesquisada já vem prontos e não saem do
programado. Como se as atividades fossem para os alunos do ensino fundamental e
não para a educação infantil. São elaboradas atividades dos livros didáticos com
muitos exercícios para as crianças copiarem, depois de alguma explicação do
assunto muitos exercícios para casa, por isso, desenhar é só na sexta-feira. Todos
os dias seguem a mesma rotina, é na hora do recreio que as crianças se satisfazem
brincando com seus colegas, a professora não participa das brincadeiras.
34. 34
4.1.3. A voz das crianças em sala de aula
Seguimos com as observações, enfatizando nosso olhar para observarmos à
condição das crianças em sala de aula. Percebemos que são vistas sem
particularidades, ou seja, suas opiniões referentes ao cotidiano não são levadas em
consideração. As crianças desta sala não são estimuladas para sugerir alguma
atividade que queiram desenvolver, nem discordar com a professora.
Com isso, compreendemos que o quê as crianças pensam sobre a escola em que
estudam não implica como algo importante dentro desse ambiente escolar, uma vez
que, os métodos atribuídos sistematicamente nesta instituição não despertam para
uma educação voltada para espontaneidade e liberdade de expressão dos alunos,
seus métodos pedagógicos estão mais relacionados ao tradicional e menos
moderno. Assim Kramer (1992) ressalta que na [...] A pedagogia nova ou moderna,
a educação não se baseia na autoridade do adulto, mas na liberdade da criança e
na expressão de sua espontaneidade (p. 20).
Dessa forma, podemos salientar que as crianças desta escola não têm vez nem
voz, por isso, nos impulsionou ainda mais para nosso trabalho de pesquisa, pois,
acreditamos que a voz das crianças referente ao que elas vêem na escola em que
estudam será de grande relevância para nosso trabalho, porque elas são agentes
próprios de conhecimentos, contribuindo na construção de seu desenvolvimento
psíquico, intelectual e emocional.
4.2. Análise da Entrevistas Semi-Estruturada: Ouvindo a Voz das Crianças
Tendo em vista que a voz das crianças dentro da escola pesquisada em que
estudam não é valorizada como algo importante para a própria formação delas,
seguimos com a análise da entrevista elaborada para que elas pudessem se
expressar da forma que queriam e falar sobre a escola em seu sentido amplo; o que
gostam, o que lhes inquietam, falar sobre o que não gostam, ou seja, possuindo
liberdade de falar sobre o que quisessem. Para identificar as falas das crianças
individualmente usamos os seguintes símbolos: (C1, C2, C3...).
35. 35
Assim, analisando as falas das crianças, percebemos que cada uma delas
individualmente tem seu olhar próprio para determinadas coisas, o que reforça a
idéia de que são sujeitos próprios de conhecimentos e que possuem suas
criticidades sobre o que vivenciam. A criança C2 individualmente relata a questão do
banheiro como algo que não gosta na escola, ela ressalta: “Eu não gosto do
banheiro, porque quando eu vou lá está todo sujo, molhado, não gosto nem de
entrar”.
Diante disso, compreendemos que as crianças tem uma percepção do que é
desagradável dentro e fora da sala de aula, o que implica em ressaltar que a escola
não está se preocupando em acolher as crianças de modo que elas se sintam a
vontade neste ambiente, pois, sabemos que o espaço físico deve proporcionar uma
situação confortável para que as crianças sintam-se acolhidas. Entretanto, as
crianças percebem a situação do banheiro e muitas vezes preferem não entrar.
Dessa forma, como a escola não compreende a criança como sujeito que tem voz,
que pensa e percebe o mundo ao redor, elas se sentem privadas e inibidas para
levar certas situações para serem analisadas como o caso do banheiro.
Por isso, consideramos que as privações em termos da espontaneidade e expressão
livre da criança podem influenciar negativamente no processo de desenvolvimento
delas. Para Nicolau (1993): “não há dúvidas de que as privações e carências nos
primeiros anos de vida são mais graves e influenciam muito mais negativamente o
desenvolvimento do indivíduo do que em outros períodos de vida” (p. 75).
4.2.1 A criança sente a opressão imposta a elas
Percebemos durante nossa entrevista que as crianças são bem específicas no que
dizem, sabem o que lhes inquietam sem pensar muito, como se estivessem com
suas vozes presas prontas para falar. É nesse sentido que a C3 pontua: “Eu não
gosto da professora e nem da diretora, porque a professora me chama de lento e a
diretora chama os meninos de cínicos”. Com isso, compreendemos que a idéia de
que a criança não entende nada e deve somente ouvir é um equívoco e pode
influenciar negativamente no seu desenvolvimento psíquico, intelectual e emocional,
pois observando a face C3 quando ressaltava sobre a professora e diretora havia
tristeza e ao mesmo tempo revolta.
36. 36
Nesse sentido, faz-se necessária a reflexão sobre a prática docente. Assim pontua
Freire (1996 p. 22) “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da
relação teoria-prática, sem a qual a teoria pode vir virando blábláblá e a prática
ativismo”. Dessa forma o profissional que trabalha reflexivamente deve praticar o
ouvir as crianças, para que elas expressem seus sentimentos, suas idéias e assim
buscar soluções para os problemas que possam surgir no processo de ensino-
aprendizagem e principalmente trabalhar com ética respeitando a todos.
Assim, continuando a analisar a voz das crianças dentro do espaço escolar em que
estudam, ressaltamos a C1 que diz: “Não gosto de ficar esperando meus
coleguinhas terminarem o dever e nem gosto quando a professora fica fazendo
dever toda hora, toda hora, toda hora sem parar”. Salientamos que esta criança se
refere a ter que esperar demais, sentada sem fazer nada enquanto seus colegas
terminam a atividade sugerida pela professora, e a questão da professora fazer
atividade demais no quadro para eles copiarem. Nesse sentido, entendemos que o
método de trabalho dentro desse espaço é cansativo e as crianças sentem isso
diariamente, o momento de prazer e satisfação é somente nas sextas feiras quando
chega o dia de desenhar.
Portanto, é necessário pontuar que o ato de educar na sociedade atual não se
baseia apenas em conteúdos programados e cansativos para as crianças
aprenderem, mas sim na cooperação em que o sujeito tenha condições de
desenvolver habilidades para poder refletir na sua realidade como um ser que faz
parte de sua aprendizagem.
4.2.2 A criança entende o papel da escola
Nesse sentido, o educador deve estar atento para direcionar seu olhar para as
crianças, adquirindo uma nova forma de pensar, valorizando-as como um ser que
sabe pensar, refletir, agir de forma crítica, possibilitando que se construa uma
parceria estabelecendo uma relação ético-afetiva para o processo de ensino-
aprendizagem. Pois, as crianças reconhecem que o papel da escola é ensinar-lhes
algo, das oito crianças entrevistadas, todas elas responderam da mesma forma se
tratando de qual o papel da escola, por exemplo, a C1 diz: “A escola serve para
37. 37
estudar, aprender a ler, escrever, ficar sabida”. As outras crianças responderam
semelhantes.
Diante disso, entendemos que estas crianças compreendem que a escola é algo
sério e que as possibilitam para aprenderem a ler e a escrever. No entanto, ao
mesmo tempo em que elas enfatizam que a escola é lugar para aprender a ler e a
escrever, elas pontuam questões que não são esclarecidas dentro do ambiente
escolar e demonstram insatisfação ao apontar determinadas situações que lhes
inquietam e, além disso, são capazes de perceber e imaginar que a escola poderia
ser um ambiente mais confortável e prazeroso. Assim, C5: “Minha escola devia ser
maior com mais salas, o banheiro mais bonito e tivesse um pátio bem grande e
também tivesse mais livros porque eu gosto de ler, seria melhor se tivesse mais
brinquedos”.
Por isso acreditamos que olhar as crianças e ouvi-las na escola de educação infantil
é imprescindível, pois possibilita desenvolver relações intermitentes de respeito
mútuo, fortalecendo o compromisso com o ser educando, colaborando com
solidariedade, igualdade e outros fatores predominantemente sociais e culturais que
é estabelecido na convivência entre os sujeitos.
4.3. Analisando os Desenhos das Crianças:
As crianças tiveram a oportunidade de expressarem-se também através de
desenhos. O papel dado a elas com faixa vermelha nas bordas foi para que
desenhassem o que não gostam em sua escola e o papel com a cor verde nas
bordas para que desenhassem o que gostam. Assim segue alguns desenhos:
38. 38
Figura 1: Desenho produzido por C1
O desenho da figura 1 (um) produzido pela C1 representa uma criança sentada na
sala de aula com o caderno na mão sem fazer nada, da mesma forma que ela
retrata quando pontua que não gosta de ficar parada, esperando os colegas
terminarem a tarefa. Nesse sentido, entendemos que a C1 especificou através de
seu desenho com muita clareza e precisão. Por isso, nesta situação seria possível
que a criança estivesse praticando outra atividade educativa até os colegas
terminarem, assim, não se sentiria incomodada e aproveitaria seu tempo.
39. 39
Figura 2: Desenho produzido por C2
Na figura 2 (dois) está sendo representada pela C2 que está demostrando através
de seu desenho, o banheiro como parte da escola que ela não gosta, por este se
encontrar sempre sujo e molhado. Dessa forma, analisamos que esta criança
apontou o que lhe desagrada na estrutura física da escola, por esta também
pertencer ao conjunto de atributos que norteiam a prática educativa dentro do
espaço escolar. E o que tivemos a oportunidade de perceber é que as crianças têm
observado estas falhas dentro do ambiente escolar.
Figura 3: Desenho produzido por C3
O desenho produzido pela C3 representa a diretora e a professora, pois, segundo
ela, estas duas pessoas são apontadas sobre o que não gosta na escola, devido o
comportamento que ambas têm demostrado para ela, muitas vezes tratando-a de
maneira inadequada, como por exemplo chamá-la de lenta quando não consegue
acompanhar os colegas nas atividades do quadro, e a diretora por ter chamado os
colegas de cínicos. A C3 coloca esta situação como algo de insatisfação porque
sentiu-se descriminada. Dessa forma é necessário a reflexao das condiçoes de
40. 40
tratamento ético-afetivo dentro deste ambiente escolar, visto que as crianças
ratificam nos desenhos o que expressam verbalmente na entrevista.
Assim, Compreendemos que as crianças são bem claras em seus desenhos,
especificanto suas inquietações como uma forma de manifestação contra aquilo que
as desagrada dentro do embiente escolar. É dessa forma que a escola deve estar
atenta para direcionar seu olhar para as crianças, possibilitando que elas tenham
voz, contribuindo com uma educaçao voltada para liberdade e as crianças tenham
condições de expor suas idéias, necessidades, para que não se tornem apenas
reprodutoras de modelos, mas, sim agente do seu próprio entendimento. Dessa
forma, Borges (1994 p. 17) pontua: “Nao se pode formar indivíduos mentalmente
ativos, fomentando a passividade intelectual e a simples reprodução de modelos”.
Diante disso, as crianças desenharam o que gostam em sua escola, ampliando seus
desejos de expor seus sentimentos, estabelecendo suas falas também através de
seus desenhos. Assim, seguem alguns deles:
Figura 4: Desenho produzido por C1
A figura 4 (quatro) foi produzido C1 como forma de representar que gosta da sua
professora. Assim ressalta: “Eu gosto da minha professora, porque ela é boa”. Com
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isso, analisamos que a C1 mesmo não gostando de alguns métodos usados pela
professora em sala de aula, como fazer dever demais, ela valoriza a professora
como algo que ela mais gosta na escola. vale ressaltar este paradigma que revela
que a C1 estabelece uma visão negativa da escola somente na parte metodológica,
demosntrando sua capacidade de senso crítico e ético. Podemos inferir que embora
não goste da metodologia da professora, mantém com ela uma boa relação
interpessoal.
Figura 5: Desenho produzido por C5
O desenho representado pela C5 caracteriza crianças lendo um livro, assim ela
ressalta: “Eu gosto muito de ler, queria que minha escola tivesse mais livros”. Diante
disso, podemos salientar a importância de estimular a criança para a leitura, pois, a
C5 pontua a sua satisfação em ler e ressalta o quanto gostaria que sua escola
tivesse mais livros. Entretanto, a escola pesquisada em que ela estuda só oferece
como estímulo a leitura o livro didático. Neste caso, pontuamos que a escola deve
estar atenta para certos métodos, que ao invés de estimular, podem inibir e
contrariar. Aqui o desenho representa aquilo que a criança gostaria que tivesse com
maior quantidade, e que, principalmente na educação infantil deveria ter em
abundância: livros.
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Figura 6: Desenho produzido por C8
Na figura 6 (seis) está representando crianças brincando de futebol, onde a C8
pontua: “Eu gosto de brincar na minha escola”. assim como esta criança, a maioria
dos sujeitos entrevistados salientaram também gostar mais de brincar dentro da
escola. Assim, entendemos que o ser criança possuem na sua íntegra a
necessidade de brincar, pois, é através de suas brincadeiras que podem expor seus
desejos e fantasias, contribuindo com a formaçao de sua personalidade. E através
de seus desenhos tivemos a oportunidade de enfatizar seus sentimentos, que é
relevante para o processo educacional dentro e fora do ambiente escolar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao considerar a criança um ser pensante, capaz de analisar e avaliar os
acontecimentos nos espaços vivenciados por elas, é que acreditamos que seu olhar
para escola de educação infantil em que estuda, permite revelar aspectos
significativos para seu processo educacional. Uma vez que, através deste olhar nos
possibilitou a refletir melhor enfatizando a necessidade que elas têm de ser ouvidas
e consideradas dentro do ambiente escolar.
Por isso, diante do foi exposto, faz-se necessário entender que o olhar destas
crianças entrevistadas está intimamente relacionado às suas vivências dentro
desses espaços, uma vez que, cada uma delas tem suas especificidades sobre algo
que lhes incomodam. O que levanta a problemática é justamente perceber como as
crianças da educação infantil estão sendo vistas nas escolas, suas falas, suas
individualidades.
Portanto, é relevante levantar a reflexão sobre o olhar da criança para a escola,
porque parte do princípio de que a criança deve ser estimulada para curiosidade,
espontaneidade e liberdade de expressão. Entretanto, o que tivemos a chance de
perceber foram crianças que possuem seu olhar próprio para determinadas
situações que mereciam ser analisadas, mas, não são vistas pelos educadores,
porque estes, não praticam metodologicamente a prática de uma educação
libertadora, voltada para as necessidades e satisfação das crianças.
Dessa forma, As crianças demonstraram que esta escola em que estudam está
distante de seu imaginário, pois, as características sonhadas pelas crianças não são
encontradas na materialidade da escola, na sua estrutura física e na rotina que
norteia a prática pedagógica.
Assim, as crianças entendem que a escola é um espaço de aprendizagem, um lugar
que elas freqüentam todos os dias para aprenderem a ler, escrever e para estudar.
Mas, também percebem que a escola em que elas estudam poderia não só ser um
local de aprendizagem como também um ambiente mais agradável, com melhores
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condições em diversos sentidos. Pois, as crianças compreendem que a idealização
que elas têm sobre a escola é possível.
Portanto, compreendemos que é preciso que haja um novo olhar sobre a criança e
que esse olhar a encontre como pessoa, fortalecendo o compromisso ético e moral,
desconstruindo a imagem de que criança não é agente próprio de conhecimentos.
Sendo assim, haverá maiores possibilidades para vencer desafios e solucionar
problemas encontrados no dia a dia dentro e fora do ambiente escolar.
„
45. 45
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49. 49
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
Roteiro de entrevista para os sujeitos da pesquisa:
1) Como é a sua Escola?
2) Você gosta de sua escola? Por quê?
3) O que você não gosta em sua escola?
4) Você gosta da professora?
5) Para que serve a escola?
6) Como gostaria que fosse sua escola?
Senhor do Bonfim, 18 de julho de 2011
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ATT Senhores pais:
Eu Erivânia de Souza Silva, graduanda do curso de Pedagogia do Departamento de
Educação UNEB- Campus VII, venho através deste solicitar sua permissão para
entrevistar seu filho __________________________na escola Sorriso da criança,
para uma pesquisa acadêmica.
Assinatura dos pais ou responsáveis:
Atenciosamente,
ERIVÂNIA DE SOUZA SILVA
Graduanda da UNEB – Campus VII