SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
Baixar para ler offline
Cap´ıtulo 1
Campo El´etrico
1.1 Prel´udio
• O Eletromagnetismo ´e o estudo i) da gera¸c˜ao e da propaga¸c˜ao de campos el´etricos e
magn´eticos por cargas el´etricas e ii) da dinˆamica de cargas em resposta a estes campos.
• A gera¸c˜ao de campos por cargas ´e descrita pelas Equa¸c˜oes de Maxwell e, em casos parti-
culares, por leis simples como a Lei de Coulomb e a Lei de Biot-Savart.
• Uma vez criados, os campos se propagam como ondas no espa¸co com uma velocidade constante
e igual `a velocidade da luz.
• Na presen¸ca de campos el´etricos e magn´eticos, cargas sofrem for¸cas el´etricas e magn´eticas de
acordo com a For¸ca de Lorentz.
• Todos os fenˆomenos eletromagn´eticos s˜ao descritos de uma forma ou outra pelas Equa¸c˜oes de
Maxwell e pela For¸ca de Lorentz. Elas, respectivamente, dizem `as cargas como gerar campos,
e aos campos como afetar as cargas.
• O eletromagnetismo tem grande importˆancia pr´atica, pois as intera¸c˜oes eletromagn´eticas des-
crevem ´atomos, mol´eculas, propriedades dos materiais, aparelhos eletrˆonicos, etc.
• Na F´ısica, busca-se a unifica¸c˜ao de leis fundamentais, o que significa que leis descrevendo
fenˆomenos aparentemente distintos podem ser combinadas em uma descri¸c˜ao mais ampla e
´unica dos fenˆomenos. O eletromagnetismo ´e o grande exemplo de unifica¸c˜ao de leis f´ısicas.
• Veremos que fenˆomenos el´etricos e fenomˆenos magn´eticos, iniciamente pensados como dis-
tintos, est˜ao na verdade relacionados por um ´unico formalismo, o Eletromagnetismo. Essa
unifica¸c˜ao vai al´em desses fenˆomenos, e unifica tamb´em a ´Otica como parte do eletromag-
netismo. Como veremos, a luz nada mais ´e do que ondas de campos eletromagn´eticos se
auto-criando e propagando; por isso chamamos a luz de radia¸c˜ao eletromagn´etica. Essa uni-
fica¸c˜ao gerou um grande debate no final do s´eculo XIX: se os campos se propagam com a
velocidade da luz, com rela¸c˜ao a que referencial deve ser medida essa velocidade? Essa quest˜ao
foi o que levou Einstein a propor em 1905 a Relatividade Especial, que revolucionou as
no¸c˜oes cl´assicas de espa¸co-tempo.
9
10 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO
• Outro exemplo de unifica¸c˜ao: a intera¸c˜ao eletro-fraca, em que os fenˆomenos eletromagn´eticos
e a intera¸c˜ao nuclear fraca s˜ao descritos por um formalismo ´unico (prˆemio Nobel de F´ısica de
1979). Um dos grandes desafios da f´ısica moderna ´e unificar todas as intera¸c˜oes da natureza
em um formalismo ´unico; o eletromagnetismo ´e o maior exemplo que inspira essa busca.
• Embora a dinˆamica de gal´axias no universo seja governada basicamente pela gravidade, v´arios
efeitos eletromagn´eticos s˜ao tamb´em importantes. Al´em disso, a maneira como astrˆonomos
estudam gal´axias tamb´em se relaciona com o eletromagnetismo. Afinal de contas, a ´unica
fonte de informa¸c˜ao que temos das gal´axias ´e a luz que elas nos enviam. Por meio desta
radia¸c˜ao, devemos descobrir todas as propriedades da gal´axia relevantes para estudos as-
trof´ısicos e cosmol´ogicos. Esssa propriedades incluem o tamanho da gal´axia, o seu tipo,
a sua morfologia, os elementos qu´ımicos que a compoem, sua temperatura, sua massa e sua
distˆancia at´e n´os; tudo isso tem que ser inferido pelos f´otons de luz enviados pelas g´alaxias.
• Portanto, os efeitos eletromagn´eticos s˜ao de grande importˆancia sob v´arias perspectivas. Eles
descrevem a estrutura da mat´eria, permeiam a tecnologia de ponta e tem profunda rela¸c˜ao
com outros t´opicos da f´ısica moderna e outras ´areas da ciˆencia.
1.2 Carga El´etrica
• A carga el´etrica q ´e uma propriedade intr´ınseca fundamental das part´ıculas.
• Existem dois tipos de carga el´etrica: positiva e negativa.
• Cargas de mesmo sinal se repelem e cargas de sinal oposto se atraem mutuamente.
• A unidade de carga ´e o Coulomb, denotado C.
• O n´ucleo atˆomico ´e composto por pr´otons (part´ıculas de carga positiva) e neutrons (part´ıculas
sem carga, i.e. eletricamente neutras). Os el´etrons (part´ıculas de carga negativa) orbitam
os n´ucleos atˆomicos devido `a atra¸c˜ao eletromagn´etica. As cargas do pr´oton e do el´etron s˜ao
idˆenticas e opostas, com magnitude |qe| = 1.6 × 10−19C.
• A carga el´etrica ´e conservada. Em qualquer processo f´ısico, a carga total antes e depois ´e a
mesma, i.e. cargas totais n˜ao s˜ao criadas nem destru´ıdas. Se uma carga desaparece em algum
local, ela deve re-aparecer em outro. Veremos que a conserva¸c˜ao de cargas ´e automaticamente
garantida pelas Equa¸c˜oes de Maxwell e n˜ao precisa ser assumida independentemente.
• A carga el´etrica ´e quantizada. Todas as cargas s˜ao m´ultiplos da carga do el´etron, i.e. Q = nqe
para algum n inteiro. Paul Dirac mostrou que, se existissem cargas magn´eticas na natureza,
isso explicaria por que a carga el´etrica ´e quantizada. Infelizmente, cargas magn´eticas nunca
foram observadas e a quantiza¸c˜ao da carga continua sendo um fato basicamente emp´ırico.
1.3 For¸ca El´etrica: Lei de Coulomb
• Uma carga pontual q1 separada por uma distˆancia r de uma segunda carga q2, exerce sobre
esta uma for¸ca el´etrica F12 m´utua. A for¸ca ´e proporcional ao produto das cargas q1q2 e
inversamente proporcional ao quadrado da distˆancia r, sendo dada pela Lei de Coulomb:
F12 =
q1q2
4πǫ0r2
ˆr12 , (Lei de Coulomb) (1.1)
1.4. CAMPO EL´ETRICO 11
onde ǫ0 = 8.85×10−12 C2/Nm2 ´e a permissividade el´etrica no v´acuo e ˆr12 ´e um vetor unit´ario
na dire¸c˜ao das cargas. A constante de proporcionalidade ´e dada pela combina¸c˜ao
k ≡
1
4πǫ0
= 9 × 109
Nm2
/C2
(1.2)
Figura 1.1: For¸ca el´etrica. (Serway)
• O sentido da for¸ca depende do produto das cargas
q1q2. Para cargas de mesmo sinal, esse produto ´e
positivo e temos for¸ca repulsiva. Para cargas de sinal
oposto, o produto ´e negativo e temos for¸ca atrativa.
• A carga q2, por sua vez, exerce sobre a carga q1 uma
for¸ca F21 de igual magnitude e dire¸c˜ao oposta, con-
forme a 3a Lei de Newton
F21 = −F12
1.4 Campo El´etrico
• Uma maneira conveniente de interpretar a intera¸c˜ao eletromagn´etica das duas cargas q e q0,
´e pensar que a carga q gera no espa¸co ao seu redor um campo el´etrico E
Figura 1.2: Campo el´etrico. (Serway)
E =
q
4πǫ0r2
ˆr (1.3)
• O sentido do campo el´etrico em r ´e para fora da
carga q, se q > 0 e para dentro da carga se q < 0.
• Pode-se pensar ent˜ao que a for¸ca que uma carga q0
sofre ao ser posicionada pr´oxima `a carga q resulta
da intera¸c˜ao de q0 com o campo el´etrico E criado
por q. A for¸ca Fe fica ent˜ao:
Fe = q0E (1.4)
• Campo: for¸ca por unidade de carga: E = Fe/q0.
• A vantagem dessa descri¸c˜ao ´e que o campo E existe, mesmo na ausˆencia da carga teste q0.
Se perturbarmos a carga q, o campo n˜ao muda instantaneamente no espa¸co. A mudan¸ca se
propaga com a velocidade da luz c, e somente ap´os um tempo t = r/c, a perturba¸c˜ao chega
`a distˆancia r. O campo passa a ter vida pr´opria e se torna um ente com propriedades f´ısicas,
como energia, momento, etc. Portanto, o campo n˜ao ´e apenas um truque matem´atico para
calcular for¸cas, mas uma entidade f´ısica real.
12 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO
• N˜ao ´e coincidˆencia que mudan¸cas nos campos se progagam com a velocidade da luz. Como
veremos adiante, a luz nada mais ´e do que campos el´etricos e magn´eticos se propagando no
espa¸co-tempo.
• Na descri¸c˜ao quˆantica do eletromagnetismo, part´ıculas de luz chamadas f´otons propagam
a intera¸c˜ao eletromagn´etica entre cargas, viajando `a velocidade da luz. Tanto a descri¸c˜ao
cl´assica (campos), quanto a quˆantica (f´otons) s˜ao corretas. Elas expressam a dualidade onda-
part´ıcula da natureza. Aqui focaremos na descri¸c˜ao cl´assica.
• Campos el´etricos satisfazem o princ´ıpio da superposi¸c˜ao. O campo total Etot
e de um
conjunto de cargas qi com i = 1, ..., N ´e dado pela soma vetorial dos campos de cada uma
das cargas individuais:
Etot =
N
i=1
Eqi (1.5)
• Para distribui¸c˜oes cont´ınuas de carga, somas s˜ao substitu´ıdas por integrais.
1.5 Linhas de Campo
Figura 1.3: Linhas de campo el´etrico devido a cargas pontuais. (Serway)
• Linhas de Campo: representa¸c˜ao g´rafica do campo el´etrico no espa¸co, tais que:
– O campo el´etrico E ´e sempre tangente `a linha de campo.
– A densidade de linhas ´e proporcional `a intensidade do campo.
– Linhas de campo n˜ao se cruzam, pois o campo el´etrico ´e ´unico em um ponto.
1.6. EXEMPLOS 13
• Na Fig 1.3 , est˜ao mostradas linhas de campo de certas configura¸c˜oes de cargas pontuais. As
linhas saem de cargas positivas e se entram em cargas negativas. Naturalmente, a densidade
de linhas ´e maior pr´oximo `as cargas.
1.6 Exemplos
Com o princ´ıpio de superposi¸c˜ao em mente, vamos calcular o campo el´etrico em algumas confi-
gura¸c˜oes de cargas. Para distribui¸c˜oes de carga, usamos cargas diferenciais dq = λdx = σdA = ρdV ,
onde λ, σ e ρ s˜ao densidades linear, superficial e volum´etrica de carga, respectivamente, e dx, dA
e dV s˜ao correspondentes elementos infinitesimais de comprimento, ´area e volume.
1.6.1 Carga Pontual
Como visto acima, para uma carga pontual q, o campo ´e simplesmente dado pela Lei de Coulomb
Eq =
q
4πǫ0r2
ˆr (1.6)
Uma carga pontual configura um monopolo el´etrico.
1.6.2 Dipolo
Figura 1.4: Campo el´etrico de um dipolo
el´etrico. (Halliday)
Considere o dipolo el´etrico, formado por duas cargas,
sendo uma delas positiva de carga +q e a outra nega-
tiva de carga −q, separadas por uma distancia d. Pelo
princ´ıpio da superposi¸c˜ao, o campo el´etrico total em um
ponto P no eixo do dipolo, a uma distˆancia z do seu cen-
tro conforme a Fig 1.4, ´e dado por
E = E+ − E−
=
q
4πǫ0r2
+
−
q
4πǫ0r2
−
=
q
4πǫ0z2 1 − d
2z
2 −
q
4πǫ0z2 1 + d
2z
2
=
q
4πǫ0z2
2d/z
[1 − ( d
2z )2]2
=
qd
2πǫ0z3
1
[1 − ( d
2z )2]2
(1.7)
Para P distante do dipolo, i.e. para z ≫ d, podemos
desprezar o termo d/2z entre parˆenteses, e obtemos:
E =
qd
2πǫ0z3
=
p
2πǫ0z3
(Dipolo El´etrico) (1.8)
onde p = qd ´e o momento de dipolo. Pode-se mostrar
que, ao longo do eixo perpendicular ao do dipolo, o campo
tamb´em varia com a distˆancia ao cubo, e portanto isso vale para qualquer ponto distante do dipolo.
14 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO
Quando discutirmos potencial el´etrico, veremos que para calcular o campo de um dipolo em
um ponto geral, ´e mais f´acil calcular primeiro o potencial el´etrico e obter o campo el´etrico como o
gradiente do potencial.
1.6.3 Anel de carga
Figura 1.5: Anel carregado.
(Halliday)
Considere um anel carregado conforme a Fig 1.5. A carga dq contida
em um elemento de comprimento infinitesimal ds ´e dada por
dq = λds
Essa carga diferencial pode ser tratada como uma carga pontual e
gera um campo infinitesimal dE
dE =
dq
4πǫ0r2
=
λds
4πǫ0r2
O campo el´etrico total ´e dado somando (integrando) a contribui¸c˜ao de
todos os elementos infinitesimais. Por simetria, o campo deve apontar
na dire¸c˜ao z, pois contribui¸c˜oes na dire¸c˜ao radial se cancelam em pares
simetricamente opostos. Temos ent˜ao:
E =
anel
dE cos θ =
anel
λds
4πǫ0r2
z
r
=
λ
4πǫ0r2
z
r
2πR
0
ds
=
zλ(2πR)
4πǫ0r3
Finalmente, usando q = λ2πR e r =
√
z2 + R2, temos
E =
qz
4πǫ0(z2 + R2)3/2
(1.9)
Uma outra forma de escrever esse resultado ´e
E =
q
4πǫ0r2
z
r
=
q
4πǫ0r2
cos θ (1.10)
que ser´a util quando considerarmos uma casca esf´erica. Note que quando R → 0 ou z → ∞, temos
E ≈
qz
4πǫ0z3
=
q
4πǫ0z2
,
como esperado para uma carga pontual.
1.6.4 Disco de carga
Considere agora um disco carregado conforme a Fig 1.6. Neste caso podemos considerar um anel
de raio (vari´avel) r e espessura dr como um elemento infinitesimal do disco. Como acabamos de
descobrir o campo gerado por um anel, temos
dE =
zdq
4πǫ0(z2 + r2)3/2
A carga dq contida em um elemento de ´area infinitesimal dA = (2πr)dr ´e dada por
dq = σdA = σ(2πr)dr
1.6. EXEMPLOS 15
Figura 1.6: Disco carregado.
(Halliday)
Portanto, o campo total ´e dado por
E =
disco
dE =
disco
zdq
4πǫ0(z2 + r2)3/2
=
zσ(2πr)dr
4πǫ0(z2 + r2)3/2
=
zσ
4ǫ0
R
0
2r dr
(z2 + r2)3/2
Fazendo a substitui¸c˜ao u = z2 + r2, du = 2r dr, temos
E =
zσ
4ǫ0
R
0
2r dr
(z2 + r2)3/2
=
zσ
4ǫ0
z2+R2
z2
du
u3/2
=
zσ
4ǫ0
−
2
u1/2
z2+R2
z2
=
zσ
4ǫ0
−
2
√
z2 + r2
R
0
=
zσ
4ǫ0
2
z
−
2
√
z2 + R2
ou seja
E =
σ
2ǫ0
1 −
z
√
z2 + R2
(1.11)
Note que quando R → ∞, temos que o campo de uma placa infinita ´e constante:
E =
σ
2ǫ0
(1.12)
Por outro lado, para R → 0 ou z → ∞, podemos fazer uma expans˜ao binomial, obtendo
z
√
z2 + R2
=
1
1 + R
z
2
≈ 1 −
R2
2z2
Neste caso, como a carga total do disco q = σ(πR2), temos
E =
σ
2ǫ0
R2
2z2
=
σ(πR2)
4πǫ0z2
=
q
4πǫ0z2
(1.13)
Ou seja, como esperado, nesse limite o disco parece uma carga pontual.
16 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO
Figura 1.7: Linha carregada. (Young & Freedman)
1.6.5 Linha de carga
Considere agora o campo em um ponto x devido a uma linha de carga Q, comprimento 2a e
densidade linear de carga constante λ = dQ/dy = Q/2a como mostrado na Fig. 1.7
Por simetria, temos que Ey = 0, pois elementos opostos se cancelam. Mas vamos mostrar que
isso resulta matematicamente tamb´em. A magnitude da contribui¸c˜ao diferencial dE devido ao
elemento dQ ´e
dE =
dQ
4πǫ0r2
=
λdy
4πǫ0(x2 + y2)
temos
dEx = dE cos α =
λdy
4πǫ0(x2 + y2)
x
r
=
λx
4πǫ0
dy
(x2 + y2)3/2
dEy = dE sin α =
λdy
4πǫ0(x2 + y2)
y
r
=
λ
4πǫ0
ydy
(x2 + y2)3/2
A integral em dEy ´e idˆentica ao do problema de um disco carregado. Obtemos
Ey = dEy =
λ
4πǫ0
a
−a
ydy
(x2 + y2)3/2
=
λ
4πǫ0
−
1
x2 + y2
a
−a
= 0 (1.14)
como esperado. Para Ex obtemos
Ex = dEx =
λx
4πǫ0
a
−a
dy
(x2 + y2)3/2
Precisamos calcular a integral
dy
(x2 + y2)3/2
=
1
x3
dy
(1 + (y/x)2)3/2
1.6. EXEMPLOS 17
Fazendo y
x = tan α, temos dy = xd tan α
dα dα = x(1 + tan2 α)dα = xdα
cos2 α
e portanto
dy
(x2 + y2)3/2
=
1
x3
xdα
cos2 α (cos−2 α)3/2
=
1
x2
du cos α =
sin α
x2
Imaginando um triˆangulo retˆangulo de catetos y e x e hipotenusa x2 + y2, como tan α = y/x,
segue que sin α = y√
x2+y2
. Portanto:
dy
(x2 + y2)3/2
=
y
x2 x2 + y2
(1.15)
e temos finalmente
Ex =
λx
4πǫ0
a
−a
dy
(x2 + y2)3/2
=
λx
4πǫ0
y
x2 x2 + y2
a
−a
=
λx
4πǫ0
2a
x2
√
x2 + a2
=
λ2a
4πǫ0
1
x2 1 + (a/x)2
(1.16)
Novamente, no limite em que x → ∞ ou a → 0, usando Q = λ2a, a linha parece uma carga pontual:
Ex =
Q
4πǫ0x2
(1.17)
Por outro lado, para a → ∞, temos uma linha infinita de carga e o campo ´e dado por
Ex =
λ2a
4πǫ0
1
x2(a/x)
=
λ
2πǫ0x
(1.18)
1.6.6 Casca Esf´erica e Esfera
Considere agora uma casca esf´erica carregada dada na Fig 1.8. Vamos considerar primeiro o campo
Figura 1.8: Casca esf´erica carregada. Campo fora da casca.
em um ponto m fora da casca esf´erica. O elemento infinitesimal indicado na figura ´e um anel com
carga diferencial dq. Por simetria, o campo aponta ao longo da dire¸c˜ao r, e o m´odulo ´e dado por
dEr = dE cos φ =
dq
4πǫ0s2
cos φ
18 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO
O elemento de carga dq ´e dado por
dq = σ(2πR sin θ)(Rdθ)
e portanto
Er =
dq
4πǫ0s2
cos φ =
σ(2πR2)
4πǫ0
sin θ cos φ
s2
dθ
Como s e φ s˜ao fun¸c˜oes de θ, ´e conveniente fazer a integra¸c˜ao em s. Usando a lei dos cossenos para
φ e θ temos
s2
= r2
+ R2
− 2rR cos θ
R2
= r2
+ s2
− 2rs cos φ
Destas rela¸c˜oes, temos
2sds = 2rR sin θdθ → sin θdθ =
sds
rR
cos φ =
r2 + s2 − R2
2rs
Figura 1.9: Casca esf´erica carre-
gada. Campo dentro da casca.
e o campo se torna
Er =
σ(2πR2)
4πǫ0
sds
rR
r2 + s2 − R2
2rs
1
s2
=
σ(πR)
4πǫ0r2
ds
r2 + s2 − R2
s2
=
σ(πR)
4πǫ0r2
ds 1 +
r2 − R2
s2
=
σ(πR)
4πǫ0r2
s −
r2 − R2
s
r+R
r−R
=
σ(πR)
4πǫ0r2
(r + R) − (r − R) − (r2
− R2
)
1
r + R
−
1
r − R
=
σ(πR)
4πǫ0r2
2R − (r2
− R2
)
(r − R) − (r + R)
(r + R)(r − R)
=
σ(πR)
4πǫ0r2
[2R + 2R] =
σ(4πR2)
4πǫ0r2
=
q
4πǫ0r2
(1.19)
Portanto, o campo de uma casca esf´erica ´e o mesmo de uma carga pontual com carga q localizada
no centro da casca esf´erica.
Para pontos dentro da casca esf´erica, o c´alculo ´e idˆentico, mas de acordo com a Fig 1.9. os
1.7. ESFERA S ´OLIDA 19
limites de integra¸c˜ao s˜ao s = R − r e s = R + r, o que resulta
Er =
σ(πR)
4πǫ0r2
s −
r2 − R2
s
R+r
R−r
=
σ(πR)
4πǫ0r2
(R + r) − (R − r) − (r2
− R2
)
1
(R + r)
−
1
R − r
=
σ(πR)
4πǫ0r2
2r + (R2
− r2
)
(R − r) − (R + r)
(R + r)(R − r)
=
σ(πR)
4πǫ0r2
[2r − 2r]
= 0 (1.20)
i.e. o campo ´e nulo dentro da casca esf´erica. Esses resultados na casca esf´erica foram primeiro
mostrados por Newton na teoria da gravita¸c˜ao, que tambem decae com o quadrado da distˆancia.
1.7 Esfera S´olida
Resultados similares aos da casca esf´erica se aplicam a uma esfera s´olida. Para pontos fora da
esfera, cada casca esf´erica infinitesimal pode ser substituida por uma carga pontual no centro da
esfera. Somando a contribui¸c˜ao de todas as cascas, conclui-se que pode-se tamb´em substituir a
esfera por uma carga pontual em seu centro com a carga total da esfera.
Para pontos dentro da esfera, cascas esf´ericas fora do ponto n˜ao contribuem. Pelo argumento do
par´agrafo anterior, a esfera imagin´aria delimitada pelo ponto pode ser substitu´ıda por uma carga
pontual com carga igual `a carga interna Q′ (e n˜ao a carga total Q).
Essa carga interna ´e dada por Q′ = (r/R)3Q. Portanto o campo ´e dado por
Er =
Q′
4πǫ0r2
=
Qr
4πǫ0R3
(1.21)
i.e. o campo cresce linearmente com a distˆancia r.
1.8 Movimento de Carga em um Campo El´etrico
Considere uma carga q sob a¸c˜ao de um campo el´etrico uniforme, como e.g. o campo criado por
uma placa infinita. A segunda lei de Newton nos d´a Fe = qE = ma, e a cinem´atica da carga ´e
dada ent˜ao pelas equa¸c˜oes usuais da mecˆanica para uma acelera¸c˜ao constante
a =
qE
m
(1.22)
x = x0 + v0t +
at2
2
(1.23)
v = v0 + at (1.24)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exercicios
Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exerciciosFisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exercicios
Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exerciciosAbmael Silva
 
Exercícios forca eletrica
Exercícios forca eletricaExercícios forca eletrica
Exercícios forca eletricaGabriel Valle
 
www.aulasdefisicaapoio.com - Física - Exercícios Resolvidos Eletrostática
www.aulasdefisicaapoio.com -  Física -  Exercícios Resolvidos Eletrostáticawww.aulasdefisicaapoio.com -  Física -  Exercícios Resolvidos Eletrostática
www.aulasdefisicaapoio.com - Física - Exercícios Resolvidos EletrostáticaVideoaulas De Física Apoio
 
Lista 27 magnetismo e fontes de campo
Lista 27 magnetismo e fontes de campoLista 27 magnetismo e fontes de campo
Lista 27 magnetismo e fontes de camporodrigoateneu
 
Força Eletromagnética
Força EletromagnéticaForça Eletromagnética
Força EletromagnéticaKiller Max
 
Física 3º ano ensino médio campo elétrico
Física 3º ano  ensino médio   campo elétricoFísica 3º ano  ensino médio   campo elétrico
Física 3º ano ensino médio campo elétricoTiago Gomes da Silva
 
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).Condutores em equilíbrio eletrostático(1).
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).Ajudar Pessoas
 
Fisica exercicios resolvidos 013
Fisica exercicios resolvidos  013Fisica exercicios resolvidos  013
Fisica exercicios resolvidos 013comentada
 
Força elétrica
Força elétricaForça elétrica
Força elétricaLara Lídia
 
Força magnética básica
Força magnética básicaForça magnética básica
Força magnética básicaRe Pivinha
 

Mais procurados (19)

Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exercicios
Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exerciciosFisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exercicios
Fisica eletrostatica potencial_eletrico_energia_potencial_eletrica_exercicios
 
1ª lei de coulomb2
1ª lei de coulomb21ª lei de coulomb2
1ª lei de coulomb2
 
Exercícios forca eletrica
Exercícios forca eletricaExercícios forca eletrica
Exercícios forca eletrica
 
www.aulasdefisicaapoio.com - Física - Exercícios Resolvidos Eletrostática
www.aulasdefisicaapoio.com -  Física -  Exercícios Resolvidos Eletrostáticawww.aulasdefisicaapoio.com -  Física -  Exercícios Resolvidos Eletrostática
www.aulasdefisicaapoio.com - Física - Exercícios Resolvidos Eletrostática
 
Lista 27 magnetismo e fontes de campo
Lista 27 magnetismo e fontes de campoLista 27 magnetismo e fontes de campo
Lista 27 magnetismo e fontes de campo
 
Força Eletromagnética
Força EletromagnéticaForça Eletromagnética
Força Eletromagnética
 
Física 3º ano ensino médio campo elétrico
Física 3º ano  ensino médio   campo elétricoFísica 3º ano  ensino médio   campo elétrico
Física 3º ano ensino médio campo elétrico
 
Unidade i física 13
Unidade i física 13Unidade i física 13
Unidade i física 13
 
Lista de exercício - Eletrostatica total
Lista de exercício - Eletrostatica totalLista de exercício - Eletrostatica total
Lista de exercício - Eletrostatica total
 
Eletrização
EletrizaçãoEletrização
Eletrização
 
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).Condutores em equilíbrio eletrostático(1).
Condutores em equilíbrio eletrostático(1).
 
Fisica exercicios resolvidos 013
Fisica exercicios resolvidos  013Fisica exercicios resolvidos  013
Fisica exercicios resolvidos 013
 
Força elétrica
Força elétricaForça elétrica
Força elétrica
 
Força magnética básica
Força magnética básicaForça magnética básica
Força magnética básica
 
Lista 2 danilo carga, força e campo elétrico
Lista 2 danilo   carga, força e campo elétricoLista 2 danilo   carga, força e campo elétrico
Lista 2 danilo carga, força e campo elétrico
 
Apostila eletrostática
Apostila eletrostáticaApostila eletrostática
Apostila eletrostática
 
Lista 2 - Campo Elétrico
Lista 2 - Campo ElétricoLista 2 - Campo Elétrico
Lista 2 - Campo Elétrico
 
Lei de coulomb
Lei de coulombLei de coulomb
Lei de coulomb
 
Lei de coulomb
Lei de coulombLei de coulomb
Lei de coulomb
 

Semelhante a Cap1 (20)

Campo elétrico
Campo elétricoCampo elétrico
Campo elétrico
 
2862949
28629492862949
2862949
 
2862949
28629492862949
2862949
 
aula-1-AVA-Fisica3.pdf
aula-1-AVA-Fisica3.pdfaula-1-AVA-Fisica3.pdf
aula-1-AVA-Fisica3.pdf
 
Eletrostática jodafi
Eletrostática jodafiEletrostática jodafi
Eletrostática jodafi
 
Resumo fisica4 branco
Resumo fisica4 brancoResumo fisica4 branco
Resumo fisica4 branco
 
AULA 1 INTRODUÇÃO ELETRICIDADE & CIRCUITOS ELÉTRICOS.pdf
AULA 1 INTRODUÇÃO ELETRICIDADE & CIRCUITOS ELÉTRICOS.pdfAULA 1 INTRODUÇÃO ELETRICIDADE & CIRCUITOS ELÉTRICOS.pdf
AULA 1 INTRODUÇÃO ELETRICIDADE & CIRCUITOS ELÉTRICOS.pdf
 
Cargas puntiformes lei de coulomb
Cargas puntiformes   lei de coulombCargas puntiformes   lei de coulomb
Cargas puntiformes lei de coulomb
 
Apostila de física do renato
Apostila de física do renato Apostila de física do renato
Apostila de física do renato
 
Eletrostática
EletrostáticaEletrostática
Eletrostática
 
6 capacitores
6 capacitores6 capacitores
6 capacitores
 
aula campo magnetico.pptx
aula campo magnetico.pptxaula campo magnetico.pptx
aula campo magnetico.pptx
 
Eletricidade
EletricidadeEletricidade
Eletricidade
 
aula-2-lei-de-coulomb.ppt
aula-2-lei-de-coulomb.pptaula-2-lei-de-coulomb.ppt
aula-2-lei-de-coulomb.ppt
 
Eletricidade ii unid.
Eletricidade ii unid.Eletricidade ii unid.
Eletricidade ii unid.
 
Lei de coulomb slides atividades
Lei de coulomb slides atividadesLei de coulomb slides atividades
Lei de coulomb slides atividades
 
Molecular Modelling(1-4).pdf
Molecular Modelling(1-4).pdfMolecular Modelling(1-4).pdf
Molecular Modelling(1-4).pdf
 
Electrostatica Campo Electrico
Electrostatica Campo ElectricoElectrostatica Campo Electrico
Electrostatica Campo Electrico
 
Eletromagnetismo
EletromagnetismoEletromagnetismo
Eletromagnetismo
 
Eletrostatica
EletrostaticaEletrostatica
Eletrostatica
 

Último

E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfManuais Formação
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptxLinoReisLino
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 

Último (20)

E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdfCD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
CD_B3_C_ Criar e editar conteúdos digitais em diferentes formatos_índice.pdf
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 

Cap1

  • 1. Cap´ıtulo 1 Campo El´etrico 1.1 Prel´udio • O Eletromagnetismo ´e o estudo i) da gera¸c˜ao e da propaga¸c˜ao de campos el´etricos e magn´eticos por cargas el´etricas e ii) da dinˆamica de cargas em resposta a estes campos. • A gera¸c˜ao de campos por cargas ´e descrita pelas Equa¸c˜oes de Maxwell e, em casos parti- culares, por leis simples como a Lei de Coulomb e a Lei de Biot-Savart. • Uma vez criados, os campos se propagam como ondas no espa¸co com uma velocidade constante e igual `a velocidade da luz. • Na presen¸ca de campos el´etricos e magn´eticos, cargas sofrem for¸cas el´etricas e magn´eticas de acordo com a For¸ca de Lorentz. • Todos os fenˆomenos eletromagn´eticos s˜ao descritos de uma forma ou outra pelas Equa¸c˜oes de Maxwell e pela For¸ca de Lorentz. Elas, respectivamente, dizem `as cargas como gerar campos, e aos campos como afetar as cargas. • O eletromagnetismo tem grande importˆancia pr´atica, pois as intera¸c˜oes eletromagn´eticas des- crevem ´atomos, mol´eculas, propriedades dos materiais, aparelhos eletrˆonicos, etc. • Na F´ısica, busca-se a unifica¸c˜ao de leis fundamentais, o que significa que leis descrevendo fenˆomenos aparentemente distintos podem ser combinadas em uma descri¸c˜ao mais ampla e ´unica dos fenˆomenos. O eletromagnetismo ´e o grande exemplo de unifica¸c˜ao de leis f´ısicas. • Veremos que fenˆomenos el´etricos e fenomˆenos magn´eticos, iniciamente pensados como dis- tintos, est˜ao na verdade relacionados por um ´unico formalismo, o Eletromagnetismo. Essa unifica¸c˜ao vai al´em desses fenˆomenos, e unifica tamb´em a ´Otica como parte do eletromag- netismo. Como veremos, a luz nada mais ´e do que ondas de campos eletromagn´eticos se auto-criando e propagando; por isso chamamos a luz de radia¸c˜ao eletromagn´etica. Essa uni- fica¸c˜ao gerou um grande debate no final do s´eculo XIX: se os campos se propagam com a velocidade da luz, com rela¸c˜ao a que referencial deve ser medida essa velocidade? Essa quest˜ao foi o que levou Einstein a propor em 1905 a Relatividade Especial, que revolucionou as no¸c˜oes cl´assicas de espa¸co-tempo. 9
  • 2. 10 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO • Outro exemplo de unifica¸c˜ao: a intera¸c˜ao eletro-fraca, em que os fenˆomenos eletromagn´eticos e a intera¸c˜ao nuclear fraca s˜ao descritos por um formalismo ´unico (prˆemio Nobel de F´ısica de 1979). Um dos grandes desafios da f´ısica moderna ´e unificar todas as intera¸c˜oes da natureza em um formalismo ´unico; o eletromagnetismo ´e o maior exemplo que inspira essa busca. • Embora a dinˆamica de gal´axias no universo seja governada basicamente pela gravidade, v´arios efeitos eletromagn´eticos s˜ao tamb´em importantes. Al´em disso, a maneira como astrˆonomos estudam gal´axias tamb´em se relaciona com o eletromagnetismo. Afinal de contas, a ´unica fonte de informa¸c˜ao que temos das gal´axias ´e a luz que elas nos enviam. Por meio desta radia¸c˜ao, devemos descobrir todas as propriedades da gal´axia relevantes para estudos as- trof´ısicos e cosmol´ogicos. Esssa propriedades incluem o tamanho da gal´axia, o seu tipo, a sua morfologia, os elementos qu´ımicos que a compoem, sua temperatura, sua massa e sua distˆancia at´e n´os; tudo isso tem que ser inferido pelos f´otons de luz enviados pelas g´alaxias. • Portanto, os efeitos eletromagn´eticos s˜ao de grande importˆancia sob v´arias perspectivas. Eles descrevem a estrutura da mat´eria, permeiam a tecnologia de ponta e tem profunda rela¸c˜ao com outros t´opicos da f´ısica moderna e outras ´areas da ciˆencia. 1.2 Carga El´etrica • A carga el´etrica q ´e uma propriedade intr´ınseca fundamental das part´ıculas. • Existem dois tipos de carga el´etrica: positiva e negativa. • Cargas de mesmo sinal se repelem e cargas de sinal oposto se atraem mutuamente. • A unidade de carga ´e o Coulomb, denotado C. • O n´ucleo atˆomico ´e composto por pr´otons (part´ıculas de carga positiva) e neutrons (part´ıculas sem carga, i.e. eletricamente neutras). Os el´etrons (part´ıculas de carga negativa) orbitam os n´ucleos atˆomicos devido `a atra¸c˜ao eletromagn´etica. As cargas do pr´oton e do el´etron s˜ao idˆenticas e opostas, com magnitude |qe| = 1.6 × 10−19C. • A carga el´etrica ´e conservada. Em qualquer processo f´ısico, a carga total antes e depois ´e a mesma, i.e. cargas totais n˜ao s˜ao criadas nem destru´ıdas. Se uma carga desaparece em algum local, ela deve re-aparecer em outro. Veremos que a conserva¸c˜ao de cargas ´e automaticamente garantida pelas Equa¸c˜oes de Maxwell e n˜ao precisa ser assumida independentemente. • A carga el´etrica ´e quantizada. Todas as cargas s˜ao m´ultiplos da carga do el´etron, i.e. Q = nqe para algum n inteiro. Paul Dirac mostrou que, se existissem cargas magn´eticas na natureza, isso explicaria por que a carga el´etrica ´e quantizada. Infelizmente, cargas magn´eticas nunca foram observadas e a quantiza¸c˜ao da carga continua sendo um fato basicamente emp´ırico. 1.3 For¸ca El´etrica: Lei de Coulomb • Uma carga pontual q1 separada por uma distˆancia r de uma segunda carga q2, exerce sobre esta uma for¸ca el´etrica F12 m´utua. A for¸ca ´e proporcional ao produto das cargas q1q2 e inversamente proporcional ao quadrado da distˆancia r, sendo dada pela Lei de Coulomb: F12 = q1q2 4πǫ0r2 ˆr12 , (Lei de Coulomb) (1.1)
  • 3. 1.4. CAMPO EL´ETRICO 11 onde ǫ0 = 8.85×10−12 C2/Nm2 ´e a permissividade el´etrica no v´acuo e ˆr12 ´e um vetor unit´ario na dire¸c˜ao das cargas. A constante de proporcionalidade ´e dada pela combina¸c˜ao k ≡ 1 4πǫ0 = 9 × 109 Nm2 /C2 (1.2) Figura 1.1: For¸ca el´etrica. (Serway) • O sentido da for¸ca depende do produto das cargas q1q2. Para cargas de mesmo sinal, esse produto ´e positivo e temos for¸ca repulsiva. Para cargas de sinal oposto, o produto ´e negativo e temos for¸ca atrativa. • A carga q2, por sua vez, exerce sobre a carga q1 uma for¸ca F21 de igual magnitude e dire¸c˜ao oposta, con- forme a 3a Lei de Newton F21 = −F12 1.4 Campo El´etrico • Uma maneira conveniente de interpretar a intera¸c˜ao eletromagn´etica das duas cargas q e q0, ´e pensar que a carga q gera no espa¸co ao seu redor um campo el´etrico E Figura 1.2: Campo el´etrico. (Serway) E = q 4πǫ0r2 ˆr (1.3) • O sentido do campo el´etrico em r ´e para fora da carga q, se q > 0 e para dentro da carga se q < 0. • Pode-se pensar ent˜ao que a for¸ca que uma carga q0 sofre ao ser posicionada pr´oxima `a carga q resulta da intera¸c˜ao de q0 com o campo el´etrico E criado por q. A for¸ca Fe fica ent˜ao: Fe = q0E (1.4) • Campo: for¸ca por unidade de carga: E = Fe/q0. • A vantagem dessa descri¸c˜ao ´e que o campo E existe, mesmo na ausˆencia da carga teste q0. Se perturbarmos a carga q, o campo n˜ao muda instantaneamente no espa¸co. A mudan¸ca se propaga com a velocidade da luz c, e somente ap´os um tempo t = r/c, a perturba¸c˜ao chega `a distˆancia r. O campo passa a ter vida pr´opria e se torna um ente com propriedades f´ısicas, como energia, momento, etc. Portanto, o campo n˜ao ´e apenas um truque matem´atico para calcular for¸cas, mas uma entidade f´ısica real.
  • 4. 12 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO • N˜ao ´e coincidˆencia que mudan¸cas nos campos se progagam com a velocidade da luz. Como veremos adiante, a luz nada mais ´e do que campos el´etricos e magn´eticos se propagando no espa¸co-tempo. • Na descri¸c˜ao quˆantica do eletromagnetismo, part´ıculas de luz chamadas f´otons propagam a intera¸c˜ao eletromagn´etica entre cargas, viajando `a velocidade da luz. Tanto a descri¸c˜ao cl´assica (campos), quanto a quˆantica (f´otons) s˜ao corretas. Elas expressam a dualidade onda- part´ıcula da natureza. Aqui focaremos na descri¸c˜ao cl´assica. • Campos el´etricos satisfazem o princ´ıpio da superposi¸c˜ao. O campo total Etot e de um conjunto de cargas qi com i = 1, ..., N ´e dado pela soma vetorial dos campos de cada uma das cargas individuais: Etot = N i=1 Eqi (1.5) • Para distribui¸c˜oes cont´ınuas de carga, somas s˜ao substitu´ıdas por integrais. 1.5 Linhas de Campo Figura 1.3: Linhas de campo el´etrico devido a cargas pontuais. (Serway) • Linhas de Campo: representa¸c˜ao g´rafica do campo el´etrico no espa¸co, tais que: – O campo el´etrico E ´e sempre tangente `a linha de campo. – A densidade de linhas ´e proporcional `a intensidade do campo. – Linhas de campo n˜ao se cruzam, pois o campo el´etrico ´e ´unico em um ponto.
  • 5. 1.6. EXEMPLOS 13 • Na Fig 1.3 , est˜ao mostradas linhas de campo de certas configura¸c˜oes de cargas pontuais. As linhas saem de cargas positivas e se entram em cargas negativas. Naturalmente, a densidade de linhas ´e maior pr´oximo `as cargas. 1.6 Exemplos Com o princ´ıpio de superposi¸c˜ao em mente, vamos calcular o campo el´etrico em algumas confi- gura¸c˜oes de cargas. Para distribui¸c˜oes de carga, usamos cargas diferenciais dq = λdx = σdA = ρdV , onde λ, σ e ρ s˜ao densidades linear, superficial e volum´etrica de carga, respectivamente, e dx, dA e dV s˜ao correspondentes elementos infinitesimais de comprimento, ´area e volume. 1.6.1 Carga Pontual Como visto acima, para uma carga pontual q, o campo ´e simplesmente dado pela Lei de Coulomb Eq = q 4πǫ0r2 ˆr (1.6) Uma carga pontual configura um monopolo el´etrico. 1.6.2 Dipolo Figura 1.4: Campo el´etrico de um dipolo el´etrico. (Halliday) Considere o dipolo el´etrico, formado por duas cargas, sendo uma delas positiva de carga +q e a outra nega- tiva de carga −q, separadas por uma distancia d. Pelo princ´ıpio da superposi¸c˜ao, o campo el´etrico total em um ponto P no eixo do dipolo, a uma distˆancia z do seu cen- tro conforme a Fig 1.4, ´e dado por E = E+ − E− = q 4πǫ0r2 + − q 4πǫ0r2 − = q 4πǫ0z2 1 − d 2z 2 − q 4πǫ0z2 1 + d 2z 2 = q 4πǫ0z2 2d/z [1 − ( d 2z )2]2 = qd 2πǫ0z3 1 [1 − ( d 2z )2]2 (1.7) Para P distante do dipolo, i.e. para z ≫ d, podemos desprezar o termo d/2z entre parˆenteses, e obtemos: E = qd 2πǫ0z3 = p 2πǫ0z3 (Dipolo El´etrico) (1.8) onde p = qd ´e o momento de dipolo. Pode-se mostrar que, ao longo do eixo perpendicular ao do dipolo, o campo tamb´em varia com a distˆancia ao cubo, e portanto isso vale para qualquer ponto distante do dipolo.
  • 6. 14 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO Quando discutirmos potencial el´etrico, veremos que para calcular o campo de um dipolo em um ponto geral, ´e mais f´acil calcular primeiro o potencial el´etrico e obter o campo el´etrico como o gradiente do potencial. 1.6.3 Anel de carga Figura 1.5: Anel carregado. (Halliday) Considere um anel carregado conforme a Fig 1.5. A carga dq contida em um elemento de comprimento infinitesimal ds ´e dada por dq = λds Essa carga diferencial pode ser tratada como uma carga pontual e gera um campo infinitesimal dE dE = dq 4πǫ0r2 = λds 4πǫ0r2 O campo el´etrico total ´e dado somando (integrando) a contribui¸c˜ao de todos os elementos infinitesimais. Por simetria, o campo deve apontar na dire¸c˜ao z, pois contribui¸c˜oes na dire¸c˜ao radial se cancelam em pares simetricamente opostos. Temos ent˜ao: E = anel dE cos θ = anel λds 4πǫ0r2 z r = λ 4πǫ0r2 z r 2πR 0 ds = zλ(2πR) 4πǫ0r3 Finalmente, usando q = λ2πR e r = √ z2 + R2, temos E = qz 4πǫ0(z2 + R2)3/2 (1.9) Uma outra forma de escrever esse resultado ´e E = q 4πǫ0r2 z r = q 4πǫ0r2 cos θ (1.10) que ser´a util quando considerarmos uma casca esf´erica. Note que quando R → 0 ou z → ∞, temos E ≈ qz 4πǫ0z3 = q 4πǫ0z2 , como esperado para uma carga pontual. 1.6.4 Disco de carga Considere agora um disco carregado conforme a Fig 1.6. Neste caso podemos considerar um anel de raio (vari´avel) r e espessura dr como um elemento infinitesimal do disco. Como acabamos de descobrir o campo gerado por um anel, temos dE = zdq 4πǫ0(z2 + r2)3/2 A carga dq contida em um elemento de ´area infinitesimal dA = (2πr)dr ´e dada por dq = σdA = σ(2πr)dr
  • 7. 1.6. EXEMPLOS 15 Figura 1.6: Disco carregado. (Halliday) Portanto, o campo total ´e dado por E = disco dE = disco zdq 4πǫ0(z2 + r2)3/2 = zσ(2πr)dr 4πǫ0(z2 + r2)3/2 = zσ 4ǫ0 R 0 2r dr (z2 + r2)3/2 Fazendo a substitui¸c˜ao u = z2 + r2, du = 2r dr, temos E = zσ 4ǫ0 R 0 2r dr (z2 + r2)3/2 = zσ 4ǫ0 z2+R2 z2 du u3/2 = zσ 4ǫ0 − 2 u1/2 z2+R2 z2 = zσ 4ǫ0 − 2 √ z2 + r2 R 0 = zσ 4ǫ0 2 z − 2 √ z2 + R2 ou seja E = σ 2ǫ0 1 − z √ z2 + R2 (1.11) Note que quando R → ∞, temos que o campo de uma placa infinita ´e constante: E = σ 2ǫ0 (1.12) Por outro lado, para R → 0 ou z → ∞, podemos fazer uma expans˜ao binomial, obtendo z √ z2 + R2 = 1 1 + R z 2 ≈ 1 − R2 2z2 Neste caso, como a carga total do disco q = σ(πR2), temos E = σ 2ǫ0 R2 2z2 = σ(πR2) 4πǫ0z2 = q 4πǫ0z2 (1.13) Ou seja, como esperado, nesse limite o disco parece uma carga pontual.
  • 8. 16 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO Figura 1.7: Linha carregada. (Young & Freedman) 1.6.5 Linha de carga Considere agora o campo em um ponto x devido a uma linha de carga Q, comprimento 2a e densidade linear de carga constante λ = dQ/dy = Q/2a como mostrado na Fig. 1.7 Por simetria, temos que Ey = 0, pois elementos opostos se cancelam. Mas vamos mostrar que isso resulta matematicamente tamb´em. A magnitude da contribui¸c˜ao diferencial dE devido ao elemento dQ ´e dE = dQ 4πǫ0r2 = λdy 4πǫ0(x2 + y2) temos dEx = dE cos α = λdy 4πǫ0(x2 + y2) x r = λx 4πǫ0 dy (x2 + y2)3/2 dEy = dE sin α = λdy 4πǫ0(x2 + y2) y r = λ 4πǫ0 ydy (x2 + y2)3/2 A integral em dEy ´e idˆentica ao do problema de um disco carregado. Obtemos Ey = dEy = λ 4πǫ0 a −a ydy (x2 + y2)3/2 = λ 4πǫ0 − 1 x2 + y2 a −a = 0 (1.14) como esperado. Para Ex obtemos Ex = dEx = λx 4πǫ0 a −a dy (x2 + y2)3/2 Precisamos calcular a integral dy (x2 + y2)3/2 = 1 x3 dy (1 + (y/x)2)3/2
  • 9. 1.6. EXEMPLOS 17 Fazendo y x = tan α, temos dy = xd tan α dα dα = x(1 + tan2 α)dα = xdα cos2 α e portanto dy (x2 + y2)3/2 = 1 x3 xdα cos2 α (cos−2 α)3/2 = 1 x2 du cos α = sin α x2 Imaginando um triˆangulo retˆangulo de catetos y e x e hipotenusa x2 + y2, como tan α = y/x, segue que sin α = y√ x2+y2 . Portanto: dy (x2 + y2)3/2 = y x2 x2 + y2 (1.15) e temos finalmente Ex = λx 4πǫ0 a −a dy (x2 + y2)3/2 = λx 4πǫ0 y x2 x2 + y2 a −a = λx 4πǫ0 2a x2 √ x2 + a2 = λ2a 4πǫ0 1 x2 1 + (a/x)2 (1.16) Novamente, no limite em que x → ∞ ou a → 0, usando Q = λ2a, a linha parece uma carga pontual: Ex = Q 4πǫ0x2 (1.17) Por outro lado, para a → ∞, temos uma linha infinita de carga e o campo ´e dado por Ex = λ2a 4πǫ0 1 x2(a/x) = λ 2πǫ0x (1.18) 1.6.6 Casca Esf´erica e Esfera Considere agora uma casca esf´erica carregada dada na Fig 1.8. Vamos considerar primeiro o campo Figura 1.8: Casca esf´erica carregada. Campo fora da casca. em um ponto m fora da casca esf´erica. O elemento infinitesimal indicado na figura ´e um anel com carga diferencial dq. Por simetria, o campo aponta ao longo da dire¸c˜ao r, e o m´odulo ´e dado por dEr = dE cos φ = dq 4πǫ0s2 cos φ
  • 10. 18 CAP´ITULO 1. CAMPO EL´ETRICO O elemento de carga dq ´e dado por dq = σ(2πR sin θ)(Rdθ) e portanto Er = dq 4πǫ0s2 cos φ = σ(2πR2) 4πǫ0 sin θ cos φ s2 dθ Como s e φ s˜ao fun¸c˜oes de θ, ´e conveniente fazer a integra¸c˜ao em s. Usando a lei dos cossenos para φ e θ temos s2 = r2 + R2 − 2rR cos θ R2 = r2 + s2 − 2rs cos φ Destas rela¸c˜oes, temos 2sds = 2rR sin θdθ → sin θdθ = sds rR cos φ = r2 + s2 − R2 2rs Figura 1.9: Casca esf´erica carre- gada. Campo dentro da casca. e o campo se torna Er = σ(2πR2) 4πǫ0 sds rR r2 + s2 − R2 2rs 1 s2 = σ(πR) 4πǫ0r2 ds r2 + s2 − R2 s2 = σ(πR) 4πǫ0r2 ds 1 + r2 − R2 s2 = σ(πR) 4πǫ0r2 s − r2 − R2 s r+R r−R = σ(πR) 4πǫ0r2 (r + R) − (r − R) − (r2 − R2 ) 1 r + R − 1 r − R = σ(πR) 4πǫ0r2 2R − (r2 − R2 ) (r − R) − (r + R) (r + R)(r − R) = σ(πR) 4πǫ0r2 [2R + 2R] = σ(4πR2) 4πǫ0r2 = q 4πǫ0r2 (1.19) Portanto, o campo de uma casca esf´erica ´e o mesmo de uma carga pontual com carga q localizada no centro da casca esf´erica. Para pontos dentro da casca esf´erica, o c´alculo ´e idˆentico, mas de acordo com a Fig 1.9. os
  • 11. 1.7. ESFERA S ´OLIDA 19 limites de integra¸c˜ao s˜ao s = R − r e s = R + r, o que resulta Er = σ(πR) 4πǫ0r2 s − r2 − R2 s R+r R−r = σ(πR) 4πǫ0r2 (R + r) − (R − r) − (r2 − R2 ) 1 (R + r) − 1 R − r = σ(πR) 4πǫ0r2 2r + (R2 − r2 ) (R − r) − (R + r) (R + r)(R − r) = σ(πR) 4πǫ0r2 [2r − 2r] = 0 (1.20) i.e. o campo ´e nulo dentro da casca esf´erica. Esses resultados na casca esf´erica foram primeiro mostrados por Newton na teoria da gravita¸c˜ao, que tambem decae com o quadrado da distˆancia. 1.7 Esfera S´olida Resultados similares aos da casca esf´erica se aplicam a uma esfera s´olida. Para pontos fora da esfera, cada casca esf´erica infinitesimal pode ser substituida por uma carga pontual no centro da esfera. Somando a contribui¸c˜ao de todas as cascas, conclui-se que pode-se tamb´em substituir a esfera por uma carga pontual em seu centro com a carga total da esfera. Para pontos dentro da esfera, cascas esf´ericas fora do ponto n˜ao contribuem. Pelo argumento do par´agrafo anterior, a esfera imagin´aria delimitada pelo ponto pode ser substitu´ıda por uma carga pontual com carga igual `a carga interna Q′ (e n˜ao a carga total Q). Essa carga interna ´e dada por Q′ = (r/R)3Q. Portanto o campo ´e dado por Er = Q′ 4πǫ0r2 = Qr 4πǫ0R3 (1.21) i.e. o campo cresce linearmente com a distˆancia r. 1.8 Movimento de Carga em um Campo El´etrico Considere uma carga q sob a¸c˜ao de um campo el´etrico uniforme, como e.g. o campo criado por uma placa infinita. A segunda lei de Newton nos d´a Fe = qE = ma, e a cinem´atica da carga ´e dada ent˜ao pelas equa¸c˜oes usuais da mecˆanica para uma acelera¸c˜ao constante a = qE m (1.22) x = x0 + v0t + at2 2 (1.23) v = v0 + at (1.24)