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Linfonodomegalia
Versão resumida do capítulo original, o qual pode ser
consultado, na íntegra, em Gusso & Lopes, Tratado de
medicina de família e comunidade: princípios,
formação e prática (2 vols., Porto Alegre: Artmed,
2012). Obra indicada também para consulta a outros
temas de Medicina de Família e Comunidade (MFC),
pela abrangência e a forma como o conteúdo é
abordado, além de reunir importante grupo de autores.
Do que se trata
O aumento de um ou mais linfonodos é um achado extremamente comum na
prática clínica e, como regra, considera-se um linfonodo aumentado quando este for
maior do que 1 cm. Na maior parte das vezes, representa uma resposta adaptativa
normal a um estímulo imunológico ou infeccioso, no entanto, também pode significar
uma doença inflamatória ou neoplásica grave. Dessa forma, o desafio para o médico de
família na avaliação diagnóstica é diferenciar de forma eficiente as poucas pessoas com
doença grave das muitas com doença leve e autolimitada.
O que pode ocasionar
São muitas as causas de linfonodomegalia, sendo útil, na investigação, a
diferenciação de causas de linfonodomegalia localizada (Tabela 90.1) ou generalizada
(Tabela 90.2).
Tabela 90.1. Causas de linfonodomegalia localizada
Local Causas
Auricular anterior,
retroauricular ou
suboccipital
Infecções de couro cabeludo, conjuntivite, otite externa e
infecções virais sistêmicas
Submandibular ou cervical Infecções bucais e dentárias, faringite, tumores de
nasofaringe, tumores de tireoide, doença de Graves,
infecções virais sistêmicas, dengue, tuberculose,
paracoccidioidomicose e toxoplasmose
Supraclavicular esquerda
ou direita
Altamente sugestivo de malignidade. Tumor
gastrintestinal, pulmonar, mediastinal, retroperitoneal,
linfoma, infecções bacterianas ou fúngicas de caixa
torácica ou retroperitônio
Axilar Neoplasia ou infecção mamária, infecção do membro
superior, doença da arranhadura do gato
Epitroclear (região interna
do cotovelo)
Infecção da mão
Inguinal Infecção de membro inferior, micose interdigital, doenças
sexualmente transmissíveis (sífilis primária, herpes
genital, linfogranuloma venéreo, cancro mole), metástase
de neoplasia (pélvica ou anal)
Adenopatia hilar Sarcoidose, infecções fúngicas, linfoma, carcinoma
broncogênico e tuberculose
Mediastinal Sarcoidose, infecções fúngicas, linfoma, carcinoma de
pulmão e de mama, tumores de células germinativas e
tuberculose
Abdominal e
retroperitoneal
Tumores pélvicos e gastrintestinais, tuberculose, linfoma,
tumores renais e infecções fúngicas
Qualquer região Doença da arranhadura do gato, linfoma, leucemia, câncer
metastático, tuberculose, infecções fúngicas, tularemia e
peste bubônica
Fonte: Ferrer.2
Tabela 90.2. Causas de linfonodomegalia generalizada
Infecções virais Mononucleose, HIV, citomegalovírus, rubéola, sarampo,
hepatites virais agudas
Infecções bacterianas Brucelose e febre tifoide
Infecções por
micobactérias
Tuberculose miliar
Infecções por fungos Histoplasmose, coccidioidomicose e
paracoccidioidomicose
Infecções por protozoários Toxoplasmose
Infecções por espiroquetas Sífilis secundária, leptospirose
Neoplasias Linfoma, leucemia, mieloma, macroglobulinemia de
Waldenström, metástases de tumores sólidos
Imunológicas e
reumatológicas
Reação a fármacos, lúpus eritematoso sistêmico, artrite
reumatoide, síndrome de Sjögren, doença de Still
Miscelânea Sarcoidose, amiloidose, doença de Kawasaki
HIV – vírus da imunodeficiência humana.
Fonte: Ferrer.2
O que fazer
Anamnese
A história deve ser minuciosa, tentando delimitar a extensão do problema e
identificar sinais de alerta, porém dando ênfase aos seguintes aspectos:
• Tempo de evolução: aumento linfonodal devido à infecção viral ou
bacteriana torna-se menos provável após um período de observação de
algumas semanas, ao passo que doenças neoplásicas ou inflamação
granulomatosa (tuberculose, infecção fúngica, sarcoidose) tornam-se mais
prováveis com o passar do tempo.
• Idade: pessoas com idade avançada apresentam acometimento
linfonodal devido à neoplasia muito mais frequentemente do que pessoas
jovens. Em um estudo em pessoas de serviços de atenção primária, 4% das
pessoas com idade acima de 40 anos apresentavam neoplasia como causa da
linfonodomegalia, e apenas 0,4% das pessoas abaixo de 40 anos
apresentavam neoplasia como causa.1
• Sintomas constitucionais: febre, perda de peso, fadiga ou sudorese
noturna podem sugerir doenças como tuberculose, linfoma, doenças
autoimunes, neoplasia e alguns processos infecciosos.
• Sintomas locais: história de lesão ou trauma na área de drenagem da(s)
cadeia(s) acometida(s), mesmo que pequenos, como os que ocorrem em
atividades corriqueiras, como cortar unhas, picadas de insetos; dor de
garganta, dor de ouvido ou secreção nos olhos; tosse ou dor torácica; dor
abdominal ou outros sintomas digestivos; etc.
• Medicamentos: alguns medicamentos (p. ex., fenitoína) tipicamente
podem causar linfonodomegalia, que pode ser isolada ou associada a
sintomas de doença do soro, como rash, febre e hepatoesplenomegalia.
Outros fármacos que podem causar linfonodomegalia são alopurinol,
carbamazepina, primidona, atenolol, penicilinas, cefalosporinas, quinidina,
captopril, hidralazina, pirimetamina e sulfonamidas.
Exame físico
Mais uma vez, o exame físico deve ser completo, em especial nos casos em que
a linfonodomegalia for o sintoma único, ou seja, acompanhado apenas de outros gerais,
sem pistas de localização que possam ajudar a dirigir o exame físico. Deve ser dada
ênfase aos seguintes aspectos:
• Características do linfonodo: primeiramente, verificar se se trata
mesmo de um linfonodo, pois existem outras estruturas que podem ser
confundidas com linfonodomegalia, como uma glândula parótida
aumentada, lipomas, cistos branquiais, abscessos e tumores. O tamanho do
linfonodo também é importante, pois quanto maior o linfonodo, maior a
chance de se tratar de um processo neoplásico. Em um estudo que analisou a
biópsia de 213 pessoas com linfonodomegalia não explicada, nenhuma
pessoa com linfonodos menores do que 1 cm tinha câncer, ao passo que 8%
daquelas com linfonodos entre 1 e 2,25 cm apresentavam câncer, e 38%
daquelas com linfonodos maiores do que 2,25 cm apresentavam câncer.3 Da
mesma forma, linfonodos endurecidos e aderidos são sugestivos de processo
neoplásico, ao passo que linfonodos fibroelásticos e dolorosos são mais
comumente devidos a processos infecciosos e inflamatórios.
• Diferenciar linfonodomegalia localizada de generalizada: é útil para o
estabelecimento do diagnóstico diferencial, sendo necessário palpar
cuidadosamente todas as cadeias linfonodais para melhor definição.
Considera-se linfonodomegalia generalizada quando esta acomete duas ou
mais cadeias linfonodais não contíguas simultaneamente. A
linfonodomegalia generalizada ocorre devido a processos sistêmicos e
sempre deve ser investigada. Por se tratar de um processo sistêmico, o
exame físico nessas pessoas deve enfatizar o acometimento de outros
órgãos, como a busca por hepatoesplenomegalia, icterícia, anemia, febre ou
outros sinais sistêmicos que possam levar à hipótese diagnóstica. Já as
linfonodomegalias localizadas costumam ocorrer devido a processos
infecciosos focais, podendo frequentemente ser observadas por um breve
período, caso não haja evidências de um processo neoplásico regional ou
outra doença de gravidade.
• Verificar, na linfonodomegalia localizada, se existemsinais que
sugiram infecção ou tumor com drenagem para o linfonodo acometido:
sinais de infecção de vias aéreas superiores, faringite, otalgia, infecções
bucais e infecções de couro cabeludo prontamente identificam a causa de
uma linfonodomegalia cervical com características benignas. Da mesma
forma, infecções na perna, cortes na pele, micose interdigital ou doença
sexualmente transmissível podem explicar uma linfonodomegalia inguinal
de início recente. No entanto, nem sempre as linfonodomegalias localizadas
são benignas. Há um grande número de tumores que podem levar a
comprometimento linfonodal por meio da drenagem linfática da região
acometida. linfonodomegalia supraclavicular esquerda, por exemplo,
frequentemente sinaliza neoplasia de trato gastrintestinal. Da mesma forma,
linfonodomegalia cervical em pessoa com fatores de risco para neoplasia de
cabeça e pescoço (idade avançada, etilismo e tabagismo) deve levar à
suspeita da doença e a um exame minucioso da cavidade oral,
possivelmente seguido de um exame subsidiário, como uma
nasofibroscopia, caso o exame de cavidade oral não seja diagnóstico.
Alguns linfomas e doenças mieloproliferativas também podem se iniciar de
forma localizada.
A Tabela 90.3 traz alguns dados de anamnese e exame físico que ajudam a
diferenciar doenças benignas e autolimitadas de neoplasias e outras doenças de maior
gravidade. A Tabela 90.4 traz alguns dados de anamnese e exame físico que podem
sugerir alguns diagnósticos específicos.
Tabela 90.3. Dados gerais de história e exame físico que ajudam a diferenciar
doenças benignas de neoplasias
Dados de história e exame físico Possíveis diagnósticos
Sintomas agudos Doenças virais ou bacterianas
Sintomas crônicos Doenças neoplásicas, inflamatórias ou
granulomatosas
linfonodomegalia localizada Processo reacional devido à infecção ou
tumor
Pessoa jovem Diminui a probabilidade de processo
neoplásico
Linfonodo < 1 cm Favorece processo benigno
Linfonodo > 1 cm e, principalmente, se >
2,25 cm
Favorece processo neoplásico
Sintomas constitucionais (emagrecimento,
febre, sudorese noturna)
Favorece neoplasia, tuberculose, doenças
granulomatosas e doenças do colágeno
linfonodomegalia localizada associada a
processo infeccioso local
linfonodomegalia reacional
Fonte: Ferrer.2
Tabela 90.4. Dados de história e exame físico que podem sugerir alguns
diagnósticos etiológicos
Dados de história e exame físico Possíveis diagnósticos
linfonodomegalia cervical aguda
acompanhada de sintomas gerais variados,
como febre, mal-estar e náuseas, ou locais,
como coriza e secreção nas vias aéreas
superiores (maior parte dos casos)
Gripe
Tabagismo, etilismo e idade avançada com
linfonodomegalia cervical
Sugestivo de neoplasia de cabeça e
pescoço
linfonodomegalia supraclavicular direita ou
esquerda
Altamente sugestivo de malignidade:
tumor gastrintestinal, pulmonar,
mediastinal, retroperitoneal, linfoma,
infecções bacterianas ou fúngicas de
caixa torácica ou retroperitônio
linfonodomegalia axilar com nódulo
mamário
Neoplasia de mama
linfonodomegalia localizada ou
generalizada associada a sintomas
constitucionais e hepatoesplenomegalia
Linfoma
linfonodomegalia generalizada (pode ser
localizada), associada a sangramentos
espontâneos, hematomas, infecções e
anemia
Leucemia
linfonodomegalia generalizada aguda com
febre (síndromes mono-like)
Infecções virais sistêmicas
(mononucleose, HIV, citomegalovírus,
rubéola, hepatite B), toxoplasmose, sífilis
secundária
linfonodomegalia cervical aguda com febre,
cefaleia, mialgia. Pode haver rash cutâneo.
Ocorre em áreas endêmicas, principalmente
no verão
Dengue
linfonodomegalia generalizada aguda com
febre associada a comportamento sexual de
risco, transfusões ou uso de drogas
injetáveis
HIV agudo, hepatite B, sífilis secundária
linfonodomegalia generalizada associada a
lesões eritematosas maculopapulares e
contato sexual de risco
Sífilis secundária
linfonodomegalia localizada
(principalmente axilar ou cervical) e contato
com gatos
Doença da arranhadura do gato
linfonodomegalia generalizada (predomina
em região cervical) e contato com gatos ou
ingestão de carne mal cozida
Toxoplasmose
linfonodomegalia generalizada associada a
febre, artralgia, urticária e exposição a
fármacos ou soro
Doença do soro
linfonodomegalia hilar, tosse, dispneia, Sarcoidose, tuberculose ou infecções
infiltrado pulmonar difuso, eritema nodoso fúngicas
linfonodomegalia hilar, tosse, dor torácica,
infiltrado pulmonar difuso e contato com
fezes de morcego ou aves
Histoplasmose
linfonodomegalia supurativa em região
cervical
Tuberculose, paracoccidioidomicose ou
infecção bacteriana
linfonodomegalia hilar, tosse produtiva,
infiltrado pulmonar podendo cavitar
Tuberculose ou paracoccidioidomicose
Linfonodos coalescidos e dolorosos em
região inguinal (geralmente unilateral),
febre e mal-estar associado a contato sexual
de risco
Linfogranuloma venéreo
linfonodomegalia inguinal unilateral com
úlcera dolorosa na genitália associada a
contato sexual de risco
Cancro mole
linfonodomegalia inguinal unilateral com
úlcera indolor na genitália associada a
contato sexual de risco
Sífilis primária
linfonodomegalia inguinal (unilateral ou
bilateral) associada a erosões, fissuras ou a
vesículas agrupadas sobre base eritematosa.
Pode ser recidivante
Herpes genital
linfonodomegalia generalizada associada a
artrite, alterações cutâneas típicas, serosites,
manifestações renais, hematológicas ou
neurológicas
Lúpus eritematoso sistêmico
linfonodomegalia generalizada associada a
artrite
Artrite reumatoide
linfonodomegalia generalizada, febre, rash
cutâneo e artrite
Doença de Still
linfonodomegalia generalizada,
hepatoesplenomegalia, febre intermitente,
artralgias e cefaleia associada a contato ou
ingestão de carne contaminada e laticínios
não pasteurizados
Brucelose
linfonodomegalia generalizada (pouco
frequente), dor abdominal,
hepatoesplenomegalia, diarreia ou
constipação, febre, rash, dissociação pulso-
temperatura. Viagens com ingestão de
alimentos ou água contaminados
Febre tifoide
Fonte: Ferrer.2
Exames complementares
Exames laboratoriais
Não existe uma bateria de testes diagnósticos que possam ser utilizados de
forma universal para o diagnóstico de linfonodomegalia, devendo os exames ser
solicitados de forma individualizada, baseados nas hipóteses diagnósticas (Tabelas 90.1
a 90.4). Exemplificando, pessoas com linfonodomegalia localizada causada por
processos infecciosos benignos ou lesões de pele não necessitam de exames
diagnósticos em um primeiro momento.
É importante, durante o exame físico e a anamnese, avaliar a
demora permitida,4 bem como descartar sinais de alerta de cada caso e
utilizar o princípio da longitudinalidade para evitar investigação
desprovida de estratégia, que pode ser nociva à pessoa. Muitas vezes, um
retorno em três dias a uma semana pode ajudar a delimitar melhor o
processo sem prejuízo para a conduta, ou, ao contrário, tornando a
investigação mais dirigida e ganhando tempo em relação a possíveis
exames desnecessários que podem ser solicitados quando o quadro está
mais indiferenciado. Dependendo do caso, pode se iniciar com uma
investigação geral, com exames que possam ser mais rápidos, como
hemograma, e, no primeiro retorno, solicitar exames mais dirigidos para
evitar um tempo longo sem reavaliar a pessoa, o que muitas vezes ocorre
quando se solicita muitos exames para quadros inespecíficos.
Dentre os exames mais úteis na investigação de linfonodomegalia não
explicada, destaca-se o hemograma, que pode fornecer várias pistas para o diagnóstico.
Linfocitose sem atipia pode indicar infecções virais como influenza; leucocitose com
neutrofilia pode sugerir infecção bacteriana; aumento no número de blastos ou nos
linfócitos pode sugerir, respectivamente, leucemia aguda ou leucemia linfoide crônica;
linfócitos atípicos, em uma pessoa jovem com linfonodomegalia generalizada, podem
sugerir mononucleose; já um hemograma com eosinofilia pode sugerir reação a
fármacos.
Exames de imagem
Da mesma forma que os exames laboratoriais, os exames de imagem devem ser
solicitados de maneira individualizada.
Uma ultrassonografia, por exemplo, pode confirmar que um nódulo palpável é
realmente um linfonodo, além de descrever suas características – por exemplo, necrose
central, que pode sugerir tuberculose. Pode, também, ser útil na avaliação de
hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia abdominal, que também podem ser vistas por
um exame tomográfico. Outro exame frequentemente utilizado é a radiografia de tórax,
que ajuda na investigação de linfonodomegalia hilar em casos de linfonodomegalia
generalizada.
Biópsia de linfonodo
A biópsia de linfonodo é o método diagnóstico de escolha para
linfonodomegalia localizada ou generalizada inexplicadas, excetuando-se a
linfonodomegalia cervical localizada com suspeita de tumor de cabeça e pescoço, em
que o primeiro exame é a punção-biópsia por agulha fina, pois a exérese do gânglio,
nesse caso, pode mudar o estadiamento do tumor e piorar o prognóstico. O maior dos
linfonodos deve ser escolhido e retirado inteiro para análise (biópsia excisional). Se
nenhum linfonodo predominar, a ordem decrescente de preferência para a escolha do
linfonodo deve ser supraclavicular, cervical, axilar e inguinal, tanto pela maior
probabilidade de malignidade dos primeiros, quanto pela maior incidência de
complicações infecciosas e traumáticas nas biópsias de linfonodomegalia axilar e
inguinal. Um método diagnóstico que é útil em centros com experiência no
procedimento é a biópsia com agulha grossa (core biopsy), guiada por exame de
imagem, tomografia ou ultrassonografia.
Uma vez decidido pela biópsia, deve ser feito contato com o patologista e informada a
hipótese diagnóstica, de forma a se obterem todos os dados possíveis da amostra. De
maneira geral, quando se suspeita de processo infeccioso, deve ser feita cultura e
pesquisa para bactérias, fungos e micobactérias, além do exame histológico habitual. Já
quando a suspeita é de processo neoplásico, deve ser acrescentada à histologia habitual
a imuno-histoquímica, para tentar determinar o sítio primário do tumor.
Passos da avaliação diagnóstica
Grande parte das causas de linfonodomegalia podem prontamente ser
identificadas por história e exame físico detalhados, como é o caso, por exemplo, de
uma conjuntivite, que leva à linfonodomegalia auricular anterior, ou de uma infecção de
orofaringe, que causa linfonodomegalia submandibular ou cervical.
Já em outros casos, existem pistas importantes para o diagnóstico, mas este
precisa ser confirmado. Um exemplo é uma pessoa jovem com febre, cefaleia, dor de
garganta e linfonodomegalia generalizada com linfocitose e linfócitos atípicos no
hemograma. O diagnóstico provável é uma mononucleose infecciosa, que precisa ser
confirmada pelos anticorpos heterófilos ou sorologia (mais específica) para que não
passem despercebidos outros diagnósticos diferenciais importantes, como HIV agudo,
rubéola, citomegalovírus, hepatite B, toxoplasmose ou sífilis secundária. Dessa forma,
caso não se confirme a mononucleose, deve-se proceder à investigação com sorologias
para essas doenças.
Após a avaliação inicial baseada nas pistas de anamnese e exame físico, alguns
doentes poderão não ter um diagnóstico de certeza.
No caso da linfonodomegalia localizada, é necessário verificar primeiramente o
risco de neoplasia (Quadro 90.1). É necessário verificar a região que drena para esse
linfonodo em busca de processo neoplásico primário (Tabelas 90.1, 90.3 e 90.4). Como
já foi dito, linfonodomegalia supraclavicular ou linfonodomegalia cervical em pessoa
com fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (idade avançada, etilismo e
tabagismo) devem ser prontamente investigadas. Se nenhum dado sugerir neoplasia,
pode-se optar por observar a pessoa por 3 a 4 semanas, realizando biópsia excisional
(retira-se o linfonodo inteiro) ou core biopsy (em centros com experiência) caso não
haja resolução espontânea da linfonodomegalia. Mesmo que se trate de processo
neoplásico, é provável que um tempo pequeno de espera como esse não altere a
evolução do quadro. No caso de linfonodomegalia cervical, o procedimento de escolha
inicial é a biópsia por agulha fina, seguido de biópsia excisional, caso a punção não seja
diagnóstica.
Quadro 90.1. Sinais de alerta que aumentam a probabilidade de processo
neoplásico
Sintomas crônicos
Pessoas > 40 anos
Linfonodos > 1 cm (principalmente se > 2,25 cm); linfonodos endurecidos e aderidos a
planos profundos
linfonodomegalia cervical associada a fatores de risco para neoplasia de cabeça e
pescoço (tabagismo, etilismo e idade avançada)
linfonodomegalia supraclavicular
Já a linfonodomegalia generalizada que não foi explicada após os exames
pertinentes conforme a anamnese e o exame físico (Tabelas 90.1, 90.2 e 90.4) não deve
ser observada com expectativa de melhora espontânea, pois se trata de um processo
sistêmico. O maior dos linfonodos deve ser biopsiado, sendo a ordem decrescente de
preferência, caso nenhum predomine, os linfonodos das cadeias supraclavicular,
cervical, axilar e inguinal.
Conduta proposta
Tratamento
O tratamento da linfonodomegalia baseia-se no tratamento da causa de base. A
Tabela 90.5 resume o tratamento de algumas causas selecionadas.
Tabela 90.5. Tratamento de causas selecionadas de linfonodomegalia
Causas Tratamento
Quadro gripal Tratamento sintomático e observação ativa (dar
possibilidade de retorno caso o quadro não melhore em 1
semana ou piore)
Infecções de pele e
subcutâneo
Em casos leves e localizados: cefalexina, 500 mg, VO,
de 6/6 h, ou cefadroxila, 500 mg a 1 g, de 12/12 h, por 7-
10 dias
Faringite estreptocócica Amoxicilina, 500 mg, VO, de 8/8 h, por 7 dias, ou
penicilina benzatina, 1.200.000 UI, IM
Conjuntivite viral Tratamento sintomático: colírios lubrificantes e
compressa com água fria
Conjuntivite bacteriana Colírio de antibióticos: tobramicina ou ciprofloxacino, 1
gota, de 4/4 h, por 7 dias, associado a tratamento
sintomático (ver item anterior)
Doença da arranhadura do
gato
Azitromicina por 5 dias, 500 mg, 1x/dia no primeiro dia,
seguido de 250 mg 1x/dia nos 4 dias subsequentes
Mononucleose, rubéola e
citomegalovírus
Tratamento sintomático
Dengue Em casos leves, tratamento sintomático com analgésicos
e aumento da ingestão hídrica. Em casos de dengue
hemorrágica, hidratação parenteral vigorosa e internação
hospitalar
Paracoccidioidomicose Itraconazol, 100 mg/dia, em dose única, por 6-12 meses
Tuberculose Isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol
Toxoplasmose Pessoas imunocompetentes com doença leve devem
receber apenas tratamento sintomático. Imunodeprimidos
e pessoas com manifestações mais graves devem receber
sulfadiazina, 1-1,5 g, de 6/6 h, pirimetamina, 25-100
mg/dia, e ácido folínico, 10-25 mg/dia
Cancro mole Azitromicina, 1 g, VO, em dose única
Linfogranuloma venéreo Doxiciclina, 100 mg, VO, de 12/12 h, por 21 dias
Herpes genital Casos leves: aciclovir tópico. Casos moderados em
imunocompetentes: aciclovir, 200 mg, VO, 5x/dia, ou
valaciclovir, 500 mg, VO, de 8/8 h
Sífilis Sífilis primária ou secundária: penicilina benzatina,
2.400.000 UI, IM, em 2 doses, com intervalo de uma
semana. Na sífilis terciária, devem ser aplicadas 3-4
doses, com intervalo de uma semana
IM – intramuscular; VO – via oral.
Quando encaminhar
Sugere-se encaminhar as pessoas com maior risco de neoplasia, que são
aquelas com sintomas crônicos, com mais de 40 anos (se for fator de risco isolado,
pode-se iniciar a investigação no serviço de atenção primária), com linfonodos de
tamanho muito aumentado (principalmente se > 2,25 cm), com linfonodos endurecidos
e aderidos a planos profundos, linfonodomegalia cervical associada a fatores de risco
para neoplasia de cabeça e pescoço (tabagismo, etilismo e idade avançada) e
linfonodomegalia supraclavicular. Sugere-se encaminhar, também, aquelas pessoas com
linfonodomegalia inexplicadas após investigação inicial, quando estiver sendo proposta
a realização de biópsia.
DICAS
• É fundamental, na avaliação, determinar se a pessoa tem dados que
aumentem a possibilidade de neoplasia: sintomas crônicos, > 40 anos,
linfonodos > 1 cm (principalmente se > 2,25 cm), linfonodos
endurecidos e aderidos a planos profundos, linfonodomegalia cervical
associada a fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço
(tabagismo, etilismo e idade avançada) e linfonodomegalia
supraclavicular.
• Diferenciar linfonodomegalia localizada de generalizada é útil na
investigação.
• Se a investigação inicial não for conclusiva, a biópsia de linfonodo
é o método diagnóstico de escolha. Se houver suspeita de neoplasia de
cabeça e pescoço, proceder inicialmente à biópsia por agulha fina.
• Sempre verificar as medicações em uso, pois alguns fármacos
podem causar linfonodomegalia, que pode ser isolada ou associada a
sintomas de doença do soro, como rash, febre e hepatoesplenomegalia.
• Em linfonodomegalias localizadas, verificar a possibilidade de
infecção ou tumor drenando para a cadeia linfonodal acometida.
• No caso de linfonodomegalias generalizadas, pensar em doenças
sistêmicas.
Erros mais frequentemente cometidos
• Solicitar exames sem estabelecer uma estratégia de investigação ou cuja
estratégia não tem relação com os achados de anamnese e exame físico.
• Não usar o tempo permitido e o princípio da longitudinalidade,
oferecendo retorno breve nos casos indiferenciados.
• Não estabelecer, no início da investigação, qual o risco de neoplasia da
pessoa.
• Não diferenciar se se trata de linfonodomegalia generalizada ou
localizada.
• Não verificar se há infecção ou tumor drenando para a cadeia linfonodal
acometida no caso de linfonodomegalia localizada.
• Realizar múltiplos exames subsidiários tentando investigar a origem de
uma linfonodomegalia inexplicadas ao invés de proceder à biópsia do
linfonodo.
• Não entrar em contato com o patologista informando a suspeita
diagnóstica para que seja informado que tipo de material deverá ser
encaminhado se for optado pela biópsia.
Prognóstico e complicações possíveis
A maioria das pessoas com queixa de linfonodomegalia não apresenta uma
doença grave subjacente. Em um estudo holandês com 2.556 pessoas atendidas em
serviço de atenção primária com queixa de linfonodomegalia, apenas 3,2%
eventualmente necessitaram de biópsia de linfonodo, e apenas 1,1% tinha doença
neoplásica.1 Logo, o desafio na avaliação diagnóstica é diferenciar de forma eficiente as
poucas pessoas com doença grave das muitas pessoas com doença leve e autolimitada.
Atentando-se ao risco de neoplasia e encaminhando precocemente aquelas com maior
risco, a enorme maioria poderá ser investigada e tratada adequadamente nos serviços de
atenção primária.
Referências
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Leituras recomendadas
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Slap GB, Brooks JS, Schwartz JS. When to perform biopsies of enlarged periphe-ral
lymph nodes in young patients. JAMA. 1984;252(10):1321-6.
Vaughn DJ. Approach to the patient with lymphadenopathy. In: Humes DH, editor.
Kelley’s textbook of internal medicine. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams &
Wilkins; 2000.
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  • 1. MedicinaNET Home Entrar Linfonodomegalia Versão resumida do capítulo original, o qual pode ser consultado, na íntegra, em Gusso & Lopes, Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática (2 vols., Porto Alegre: Artmed, 2012). Obra indicada também para consulta a outros temas de Medicina de Família e Comunidade (MFC), pela abrangência e a forma como o conteúdo é abordado, além de reunir importante grupo de autores. Do que se trata O aumento de um ou mais linfonodos é um achado extremamente comum na prática clínica e, como regra, considera-se um linfonodo aumentado quando este for maior do que 1 cm. Na maior parte das vezes, representa uma resposta adaptativa normal a um estímulo imunológico ou infeccioso, no entanto, também pode significar uma doença inflamatória ou neoplásica grave. Dessa forma, o desafio para o médico de família na avaliação diagnóstica é diferenciar de forma eficiente as poucas pessoas com doença grave das muitas com doença leve e autolimitada. O que pode ocasionar São muitas as causas de linfonodomegalia, sendo útil, na investigação, a diferenciação de causas de linfonodomegalia localizada (Tabela 90.1) ou generalizada (Tabela 90.2). Tabela 90.1. Causas de linfonodomegalia localizada Local Causas Auricular anterior, retroauricular ou suboccipital Infecções de couro cabeludo, conjuntivite, otite externa e infecções virais sistêmicas Submandibular ou cervical Infecções bucais e dentárias, faringite, tumores de nasofaringe, tumores de tireoide, doença de Graves, infecções virais sistêmicas, dengue, tuberculose, paracoccidioidomicose e toxoplasmose Supraclavicular esquerda ou direita Altamente sugestivo de malignidade. Tumor gastrintestinal, pulmonar, mediastinal, retroperitoneal, linfoma, infecções bacterianas ou fúngicas de caixa torácica ou retroperitônio
  • 2. Axilar Neoplasia ou infecção mamária, infecção do membro superior, doença da arranhadura do gato Epitroclear (região interna do cotovelo) Infecção da mão Inguinal Infecção de membro inferior, micose interdigital, doenças sexualmente transmissíveis (sífilis primária, herpes genital, linfogranuloma venéreo, cancro mole), metástase de neoplasia (pélvica ou anal) Adenopatia hilar Sarcoidose, infecções fúngicas, linfoma, carcinoma broncogênico e tuberculose Mediastinal Sarcoidose, infecções fúngicas, linfoma, carcinoma de pulmão e de mama, tumores de células germinativas e tuberculose Abdominal e retroperitoneal Tumores pélvicos e gastrintestinais, tuberculose, linfoma, tumores renais e infecções fúngicas Qualquer região Doença da arranhadura do gato, linfoma, leucemia, câncer metastático, tuberculose, infecções fúngicas, tularemia e peste bubônica Fonte: Ferrer.2 Tabela 90.2. Causas de linfonodomegalia generalizada Infecções virais Mononucleose, HIV, citomegalovírus, rubéola, sarampo, hepatites virais agudas Infecções bacterianas Brucelose e febre tifoide Infecções por micobactérias Tuberculose miliar Infecções por fungos Histoplasmose, coccidioidomicose e paracoccidioidomicose Infecções por protozoários Toxoplasmose Infecções por espiroquetas Sífilis secundária, leptospirose Neoplasias Linfoma, leucemia, mieloma, macroglobulinemia de Waldenström, metástases de tumores sólidos Imunológicas e reumatológicas Reação a fármacos, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, doença de Still Miscelânea Sarcoidose, amiloidose, doença de Kawasaki HIV – vírus da imunodeficiência humana. Fonte: Ferrer.2 O que fazer Anamnese A história deve ser minuciosa, tentando delimitar a extensão do problema e identificar sinais de alerta, porém dando ênfase aos seguintes aspectos: • Tempo de evolução: aumento linfonodal devido à infecção viral ou bacteriana torna-se menos provável após um período de observação de algumas semanas, ao passo que doenças neoplásicas ou inflamação granulomatosa (tuberculose, infecção fúngica, sarcoidose) tornam-se mais prováveis com o passar do tempo.
  • 3. • Idade: pessoas com idade avançada apresentam acometimento linfonodal devido à neoplasia muito mais frequentemente do que pessoas jovens. Em um estudo em pessoas de serviços de atenção primária, 4% das pessoas com idade acima de 40 anos apresentavam neoplasia como causa da linfonodomegalia, e apenas 0,4% das pessoas abaixo de 40 anos apresentavam neoplasia como causa.1 • Sintomas constitucionais: febre, perda de peso, fadiga ou sudorese noturna podem sugerir doenças como tuberculose, linfoma, doenças autoimunes, neoplasia e alguns processos infecciosos. • Sintomas locais: história de lesão ou trauma na área de drenagem da(s) cadeia(s) acometida(s), mesmo que pequenos, como os que ocorrem em atividades corriqueiras, como cortar unhas, picadas de insetos; dor de garganta, dor de ouvido ou secreção nos olhos; tosse ou dor torácica; dor abdominal ou outros sintomas digestivos; etc. • Medicamentos: alguns medicamentos (p. ex., fenitoína) tipicamente podem causar linfonodomegalia, que pode ser isolada ou associada a sintomas de doença do soro, como rash, febre e hepatoesplenomegalia. Outros fármacos que podem causar linfonodomegalia são alopurinol, carbamazepina, primidona, atenolol, penicilinas, cefalosporinas, quinidina, captopril, hidralazina, pirimetamina e sulfonamidas. Exame físico Mais uma vez, o exame físico deve ser completo, em especial nos casos em que a linfonodomegalia for o sintoma único, ou seja, acompanhado apenas de outros gerais, sem pistas de localização que possam ajudar a dirigir o exame físico. Deve ser dada ênfase aos seguintes aspectos: • Características do linfonodo: primeiramente, verificar se se trata mesmo de um linfonodo, pois existem outras estruturas que podem ser confundidas com linfonodomegalia, como uma glândula parótida aumentada, lipomas, cistos branquiais, abscessos e tumores. O tamanho do linfonodo também é importante, pois quanto maior o linfonodo, maior a chance de se tratar de um processo neoplásico. Em um estudo que analisou a biópsia de 213 pessoas com linfonodomegalia não explicada, nenhuma pessoa com linfonodos menores do que 1 cm tinha câncer, ao passo que 8% daquelas com linfonodos entre 1 e 2,25 cm apresentavam câncer, e 38% daquelas com linfonodos maiores do que 2,25 cm apresentavam câncer.3 Da mesma forma, linfonodos endurecidos e aderidos são sugestivos de processo neoplásico, ao passo que linfonodos fibroelásticos e dolorosos são mais comumente devidos a processos infecciosos e inflamatórios. • Diferenciar linfonodomegalia localizada de generalizada: é útil para o estabelecimento do diagnóstico diferencial, sendo necessário palpar cuidadosamente todas as cadeias linfonodais para melhor definição. Considera-se linfonodomegalia generalizada quando esta acomete duas ou mais cadeias linfonodais não contíguas simultaneamente. A linfonodomegalia generalizada ocorre devido a processos sistêmicos e sempre deve ser investigada. Por se tratar de um processo sistêmico, o exame físico nessas pessoas deve enfatizar o acometimento de outros órgãos, como a busca por hepatoesplenomegalia, icterícia, anemia, febre ou outros sinais sistêmicos que possam levar à hipótese diagnóstica. Já as
  • 4. linfonodomegalias localizadas costumam ocorrer devido a processos infecciosos focais, podendo frequentemente ser observadas por um breve período, caso não haja evidências de um processo neoplásico regional ou outra doença de gravidade. • Verificar, na linfonodomegalia localizada, se existemsinais que sugiram infecção ou tumor com drenagem para o linfonodo acometido: sinais de infecção de vias aéreas superiores, faringite, otalgia, infecções bucais e infecções de couro cabeludo prontamente identificam a causa de uma linfonodomegalia cervical com características benignas. Da mesma forma, infecções na perna, cortes na pele, micose interdigital ou doença sexualmente transmissível podem explicar uma linfonodomegalia inguinal de início recente. No entanto, nem sempre as linfonodomegalias localizadas são benignas. Há um grande número de tumores que podem levar a comprometimento linfonodal por meio da drenagem linfática da região acometida. linfonodomegalia supraclavicular esquerda, por exemplo, frequentemente sinaliza neoplasia de trato gastrintestinal. Da mesma forma, linfonodomegalia cervical em pessoa com fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (idade avançada, etilismo e tabagismo) deve levar à suspeita da doença e a um exame minucioso da cavidade oral, possivelmente seguido de um exame subsidiário, como uma nasofibroscopia, caso o exame de cavidade oral não seja diagnóstico. Alguns linfomas e doenças mieloproliferativas também podem se iniciar de forma localizada. A Tabela 90.3 traz alguns dados de anamnese e exame físico que ajudam a diferenciar doenças benignas e autolimitadas de neoplasias e outras doenças de maior gravidade. A Tabela 90.4 traz alguns dados de anamnese e exame físico que podem sugerir alguns diagnósticos específicos. Tabela 90.3. Dados gerais de história e exame físico que ajudam a diferenciar doenças benignas de neoplasias Dados de história e exame físico Possíveis diagnósticos Sintomas agudos Doenças virais ou bacterianas Sintomas crônicos Doenças neoplásicas, inflamatórias ou granulomatosas linfonodomegalia localizada Processo reacional devido à infecção ou tumor Pessoa jovem Diminui a probabilidade de processo neoplásico Linfonodo < 1 cm Favorece processo benigno Linfonodo > 1 cm e, principalmente, se > 2,25 cm Favorece processo neoplásico Sintomas constitucionais (emagrecimento, febre, sudorese noturna) Favorece neoplasia, tuberculose, doenças granulomatosas e doenças do colágeno linfonodomegalia localizada associada a processo infeccioso local linfonodomegalia reacional Fonte: Ferrer.2
  • 5. Tabela 90.4. Dados de história e exame físico que podem sugerir alguns diagnósticos etiológicos Dados de história e exame físico Possíveis diagnósticos linfonodomegalia cervical aguda acompanhada de sintomas gerais variados, como febre, mal-estar e náuseas, ou locais, como coriza e secreção nas vias aéreas superiores (maior parte dos casos) Gripe Tabagismo, etilismo e idade avançada com linfonodomegalia cervical Sugestivo de neoplasia de cabeça e pescoço linfonodomegalia supraclavicular direita ou esquerda Altamente sugestivo de malignidade: tumor gastrintestinal, pulmonar, mediastinal, retroperitoneal, linfoma, infecções bacterianas ou fúngicas de caixa torácica ou retroperitônio linfonodomegalia axilar com nódulo mamário Neoplasia de mama linfonodomegalia localizada ou generalizada associada a sintomas constitucionais e hepatoesplenomegalia Linfoma linfonodomegalia generalizada (pode ser localizada), associada a sangramentos espontâneos, hematomas, infecções e anemia Leucemia linfonodomegalia generalizada aguda com febre (síndromes mono-like) Infecções virais sistêmicas (mononucleose, HIV, citomegalovírus, rubéola, hepatite B), toxoplasmose, sífilis secundária linfonodomegalia cervical aguda com febre, cefaleia, mialgia. Pode haver rash cutâneo. Ocorre em áreas endêmicas, principalmente no verão Dengue linfonodomegalia generalizada aguda com febre associada a comportamento sexual de risco, transfusões ou uso de drogas injetáveis HIV agudo, hepatite B, sífilis secundária linfonodomegalia generalizada associada a lesões eritematosas maculopapulares e contato sexual de risco Sífilis secundária linfonodomegalia localizada (principalmente axilar ou cervical) e contato com gatos Doença da arranhadura do gato linfonodomegalia generalizada (predomina em região cervical) e contato com gatos ou ingestão de carne mal cozida Toxoplasmose linfonodomegalia generalizada associada a febre, artralgia, urticária e exposição a fármacos ou soro Doença do soro linfonodomegalia hilar, tosse, dispneia, Sarcoidose, tuberculose ou infecções
  • 6. infiltrado pulmonar difuso, eritema nodoso fúngicas linfonodomegalia hilar, tosse, dor torácica, infiltrado pulmonar difuso e contato com fezes de morcego ou aves Histoplasmose linfonodomegalia supurativa em região cervical Tuberculose, paracoccidioidomicose ou infecção bacteriana linfonodomegalia hilar, tosse produtiva, infiltrado pulmonar podendo cavitar Tuberculose ou paracoccidioidomicose Linfonodos coalescidos e dolorosos em região inguinal (geralmente unilateral), febre e mal-estar associado a contato sexual de risco Linfogranuloma venéreo linfonodomegalia inguinal unilateral com úlcera dolorosa na genitália associada a contato sexual de risco Cancro mole linfonodomegalia inguinal unilateral com úlcera indolor na genitália associada a contato sexual de risco Sífilis primária linfonodomegalia inguinal (unilateral ou bilateral) associada a erosões, fissuras ou a vesículas agrupadas sobre base eritematosa. Pode ser recidivante Herpes genital linfonodomegalia generalizada associada a artrite, alterações cutâneas típicas, serosites, manifestações renais, hematológicas ou neurológicas Lúpus eritematoso sistêmico linfonodomegalia generalizada associada a artrite Artrite reumatoide linfonodomegalia generalizada, febre, rash cutâneo e artrite Doença de Still linfonodomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia, febre intermitente, artralgias e cefaleia associada a contato ou ingestão de carne contaminada e laticínios não pasteurizados Brucelose linfonodomegalia generalizada (pouco frequente), dor abdominal, hepatoesplenomegalia, diarreia ou constipação, febre, rash, dissociação pulso- temperatura. Viagens com ingestão de alimentos ou água contaminados Febre tifoide Fonte: Ferrer.2 Exames complementares Exames laboratoriais Não existe uma bateria de testes diagnósticos que possam ser utilizados de forma universal para o diagnóstico de linfonodomegalia, devendo os exames ser solicitados de forma individualizada, baseados nas hipóteses diagnósticas (Tabelas 90.1 a 90.4). Exemplificando, pessoas com linfonodomegalia localizada causada por
  • 7. processos infecciosos benignos ou lesões de pele não necessitam de exames diagnósticos em um primeiro momento. É importante, durante o exame físico e a anamnese, avaliar a demora permitida,4 bem como descartar sinais de alerta de cada caso e utilizar o princípio da longitudinalidade para evitar investigação desprovida de estratégia, que pode ser nociva à pessoa. Muitas vezes, um retorno em três dias a uma semana pode ajudar a delimitar melhor o processo sem prejuízo para a conduta, ou, ao contrário, tornando a investigação mais dirigida e ganhando tempo em relação a possíveis exames desnecessários que podem ser solicitados quando o quadro está mais indiferenciado. Dependendo do caso, pode se iniciar com uma investigação geral, com exames que possam ser mais rápidos, como hemograma, e, no primeiro retorno, solicitar exames mais dirigidos para evitar um tempo longo sem reavaliar a pessoa, o que muitas vezes ocorre quando se solicita muitos exames para quadros inespecíficos. Dentre os exames mais úteis na investigação de linfonodomegalia não explicada, destaca-se o hemograma, que pode fornecer várias pistas para o diagnóstico. Linfocitose sem atipia pode indicar infecções virais como influenza; leucocitose com neutrofilia pode sugerir infecção bacteriana; aumento no número de blastos ou nos linfócitos pode sugerir, respectivamente, leucemia aguda ou leucemia linfoide crônica; linfócitos atípicos, em uma pessoa jovem com linfonodomegalia generalizada, podem sugerir mononucleose; já um hemograma com eosinofilia pode sugerir reação a fármacos. Exames de imagem Da mesma forma que os exames laboratoriais, os exames de imagem devem ser solicitados de maneira individualizada. Uma ultrassonografia, por exemplo, pode confirmar que um nódulo palpável é realmente um linfonodo, além de descrever suas características – por exemplo, necrose central, que pode sugerir tuberculose. Pode, também, ser útil na avaliação de hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia abdominal, que também podem ser vistas por um exame tomográfico. Outro exame frequentemente utilizado é a radiografia de tórax, que ajuda na investigação de linfonodomegalia hilar em casos de linfonodomegalia generalizada. Biópsia de linfonodo A biópsia de linfonodo é o método diagnóstico de escolha para linfonodomegalia localizada ou generalizada inexplicadas, excetuando-se a linfonodomegalia cervical localizada com suspeita de tumor de cabeça e pescoço, em que o primeiro exame é a punção-biópsia por agulha fina, pois a exérese do gânglio, nesse caso, pode mudar o estadiamento do tumor e piorar o prognóstico. O maior dos linfonodos deve ser escolhido e retirado inteiro para análise (biópsia excisional). Se nenhum linfonodo predominar, a ordem decrescente de preferência para a escolha do linfonodo deve ser supraclavicular, cervical, axilar e inguinal, tanto pela maior probabilidade de malignidade dos primeiros, quanto pela maior incidência de complicações infecciosas e traumáticas nas biópsias de linfonodomegalia axilar e inguinal. Um método diagnóstico que é útil em centros com experiência no
  • 8. procedimento é a biópsia com agulha grossa (core biopsy), guiada por exame de imagem, tomografia ou ultrassonografia. Uma vez decidido pela biópsia, deve ser feito contato com o patologista e informada a hipótese diagnóstica, de forma a se obterem todos os dados possíveis da amostra. De maneira geral, quando se suspeita de processo infeccioso, deve ser feita cultura e pesquisa para bactérias, fungos e micobactérias, além do exame histológico habitual. Já quando a suspeita é de processo neoplásico, deve ser acrescentada à histologia habitual a imuno-histoquímica, para tentar determinar o sítio primário do tumor. Passos da avaliação diagnóstica Grande parte das causas de linfonodomegalia podem prontamente ser identificadas por história e exame físico detalhados, como é o caso, por exemplo, de uma conjuntivite, que leva à linfonodomegalia auricular anterior, ou de uma infecção de orofaringe, que causa linfonodomegalia submandibular ou cervical. Já em outros casos, existem pistas importantes para o diagnóstico, mas este precisa ser confirmado. Um exemplo é uma pessoa jovem com febre, cefaleia, dor de garganta e linfonodomegalia generalizada com linfocitose e linfócitos atípicos no hemograma. O diagnóstico provável é uma mononucleose infecciosa, que precisa ser confirmada pelos anticorpos heterófilos ou sorologia (mais específica) para que não passem despercebidos outros diagnósticos diferenciais importantes, como HIV agudo, rubéola, citomegalovírus, hepatite B, toxoplasmose ou sífilis secundária. Dessa forma, caso não se confirme a mononucleose, deve-se proceder à investigação com sorologias para essas doenças. Após a avaliação inicial baseada nas pistas de anamnese e exame físico, alguns doentes poderão não ter um diagnóstico de certeza. No caso da linfonodomegalia localizada, é necessário verificar primeiramente o risco de neoplasia (Quadro 90.1). É necessário verificar a região que drena para esse linfonodo em busca de processo neoplásico primário (Tabelas 90.1, 90.3 e 90.4). Como já foi dito, linfonodomegalia supraclavicular ou linfonodomegalia cervical em pessoa com fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (idade avançada, etilismo e tabagismo) devem ser prontamente investigadas. Se nenhum dado sugerir neoplasia, pode-se optar por observar a pessoa por 3 a 4 semanas, realizando biópsia excisional (retira-se o linfonodo inteiro) ou core biopsy (em centros com experiência) caso não haja resolução espontânea da linfonodomegalia. Mesmo que se trate de processo neoplásico, é provável que um tempo pequeno de espera como esse não altere a evolução do quadro. No caso de linfonodomegalia cervical, o procedimento de escolha inicial é a biópsia por agulha fina, seguido de biópsia excisional, caso a punção não seja diagnóstica. Quadro 90.1. Sinais de alerta que aumentam a probabilidade de processo neoplásico Sintomas crônicos Pessoas > 40 anos Linfonodos > 1 cm (principalmente se > 2,25 cm); linfonodos endurecidos e aderidos a planos profundos linfonodomegalia cervical associada a fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (tabagismo, etilismo e idade avançada) linfonodomegalia supraclavicular
  • 9. Já a linfonodomegalia generalizada que não foi explicada após os exames pertinentes conforme a anamnese e o exame físico (Tabelas 90.1, 90.2 e 90.4) não deve ser observada com expectativa de melhora espontânea, pois se trata de um processo sistêmico. O maior dos linfonodos deve ser biopsiado, sendo a ordem decrescente de preferência, caso nenhum predomine, os linfonodos das cadeias supraclavicular, cervical, axilar e inguinal. Conduta proposta Tratamento O tratamento da linfonodomegalia baseia-se no tratamento da causa de base. A Tabela 90.5 resume o tratamento de algumas causas selecionadas. Tabela 90.5. Tratamento de causas selecionadas de linfonodomegalia Causas Tratamento Quadro gripal Tratamento sintomático e observação ativa (dar possibilidade de retorno caso o quadro não melhore em 1 semana ou piore) Infecções de pele e subcutâneo Em casos leves e localizados: cefalexina, 500 mg, VO, de 6/6 h, ou cefadroxila, 500 mg a 1 g, de 12/12 h, por 7- 10 dias Faringite estreptocócica Amoxicilina, 500 mg, VO, de 8/8 h, por 7 dias, ou penicilina benzatina, 1.200.000 UI, IM Conjuntivite viral Tratamento sintomático: colírios lubrificantes e compressa com água fria Conjuntivite bacteriana Colírio de antibióticos: tobramicina ou ciprofloxacino, 1 gota, de 4/4 h, por 7 dias, associado a tratamento sintomático (ver item anterior) Doença da arranhadura do gato Azitromicina por 5 dias, 500 mg, 1x/dia no primeiro dia, seguido de 250 mg 1x/dia nos 4 dias subsequentes Mononucleose, rubéola e citomegalovírus Tratamento sintomático Dengue Em casos leves, tratamento sintomático com analgésicos e aumento da ingestão hídrica. Em casos de dengue hemorrágica, hidratação parenteral vigorosa e internação hospitalar Paracoccidioidomicose Itraconazol, 100 mg/dia, em dose única, por 6-12 meses Tuberculose Isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol Toxoplasmose Pessoas imunocompetentes com doença leve devem receber apenas tratamento sintomático. Imunodeprimidos e pessoas com manifestações mais graves devem receber sulfadiazina, 1-1,5 g, de 6/6 h, pirimetamina, 25-100 mg/dia, e ácido folínico, 10-25 mg/dia Cancro mole Azitromicina, 1 g, VO, em dose única Linfogranuloma venéreo Doxiciclina, 100 mg, VO, de 12/12 h, por 21 dias Herpes genital Casos leves: aciclovir tópico. Casos moderados em imunocompetentes: aciclovir, 200 mg, VO, 5x/dia, ou valaciclovir, 500 mg, VO, de 8/8 h Sífilis Sífilis primária ou secundária: penicilina benzatina,
  • 10. 2.400.000 UI, IM, em 2 doses, com intervalo de uma semana. Na sífilis terciária, devem ser aplicadas 3-4 doses, com intervalo de uma semana IM – intramuscular; VO – via oral. Quando encaminhar Sugere-se encaminhar as pessoas com maior risco de neoplasia, que são aquelas com sintomas crônicos, com mais de 40 anos (se for fator de risco isolado, pode-se iniciar a investigação no serviço de atenção primária), com linfonodos de tamanho muito aumentado (principalmente se > 2,25 cm), com linfonodos endurecidos e aderidos a planos profundos, linfonodomegalia cervical associada a fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (tabagismo, etilismo e idade avançada) e linfonodomegalia supraclavicular. Sugere-se encaminhar, também, aquelas pessoas com linfonodomegalia inexplicadas após investigação inicial, quando estiver sendo proposta a realização de biópsia. DICAS • É fundamental, na avaliação, determinar se a pessoa tem dados que aumentem a possibilidade de neoplasia: sintomas crônicos, > 40 anos, linfonodos > 1 cm (principalmente se > 2,25 cm), linfonodos endurecidos e aderidos a planos profundos, linfonodomegalia cervical associada a fatores de risco para neoplasia de cabeça e pescoço (tabagismo, etilismo e idade avançada) e linfonodomegalia supraclavicular. • Diferenciar linfonodomegalia localizada de generalizada é útil na investigação. • Se a investigação inicial não for conclusiva, a biópsia de linfonodo é o método diagnóstico de escolha. Se houver suspeita de neoplasia de cabeça e pescoço, proceder inicialmente à biópsia por agulha fina. • Sempre verificar as medicações em uso, pois alguns fármacos podem causar linfonodomegalia, que pode ser isolada ou associada a sintomas de doença do soro, como rash, febre e hepatoesplenomegalia. • Em linfonodomegalias localizadas, verificar a possibilidade de infecção ou tumor drenando para a cadeia linfonodal acometida. • No caso de linfonodomegalias generalizadas, pensar em doenças sistêmicas. Erros mais frequentemente cometidos • Solicitar exames sem estabelecer uma estratégia de investigação ou cuja estratégia não tem relação com os achados de anamnese e exame físico. • Não usar o tempo permitido e o princípio da longitudinalidade, oferecendo retorno breve nos casos indiferenciados. • Não estabelecer, no início da investigação, qual o risco de neoplasia da pessoa. • Não diferenciar se se trata de linfonodomegalia generalizada ou localizada. • Não verificar se há infecção ou tumor drenando para a cadeia linfonodal acometida no caso de linfonodomegalia localizada.
  • 11. • Realizar múltiplos exames subsidiários tentando investigar a origem de uma linfonodomegalia inexplicadas ao invés de proceder à biópsia do linfonodo. • Não entrar em contato com o patologista informando a suspeita diagnóstica para que seja informado que tipo de material deverá ser encaminhado se for optado pela biópsia. Prognóstico e complicações possíveis A maioria das pessoas com queixa de linfonodomegalia não apresenta uma doença grave subjacente. Em um estudo holandês com 2.556 pessoas atendidas em serviço de atenção primária com queixa de linfonodomegalia, apenas 3,2% eventualmente necessitaram de biópsia de linfonodo, e apenas 1,1% tinha doença neoplásica.1 Logo, o desafio na avaliação diagnóstica é diferenciar de forma eficiente as poucas pessoas com doença grave das muitas pessoas com doença leve e autolimitada. Atentando-se ao risco de neoplasia e encaminhando precocemente aquelas com maior risco, a enorme maioria poderá ser investigada e tratada adequadamente nos serviços de atenção primária. Referências 1. Fijten GH, Blijham GH. Unexplained lymphadenopathy in family practice. Na evaluation of the probability of malignant causes and the effectiveness of physicians’ workup. J Fam Pract. 1988;27(4):373-6. 2. Ferrer R. Linphadenopathy: differential diagnosis and evaluation. Am Fam Physician. 1998;58(6):1313-20. 3. Pangalis GA, Vassilakopoulos TP, Boussiotis VA, Fessas P. Clinical approach to lymphadenopathy. Semin Oncol. 1993;20(6):570-82. 4. Kloetzel K. O diagnóstico clínico: estratégias e táticas. In: Duncan BB, Sch-midt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 2004. Leituras recomendadas Armitage JO. Approach to the patient with lymphadenopathy and splenomegaly. In: Goldman L, Ausiello D, editors. Cecil’s textbook of internal medicine. 22nd ed. Philadelphia: Saunders; 2004. Fletcher RH. Evaluation of peripheral lymphadenopathy in adults [Internet]. Waltham: Uptodate; c2012 [capturado em 20 dez. 2011]. Disponível em: http:// www.uptodate.com. Simon HB. Evaluation of lymphadenopathy. In: Goroll AH, May LA, Mulley AG, editors. Primary care medicine. 4th ed. New York: JB Lippincott; 2000. Slap GB, Brooks JS, Schwartz JS. When to perform biopsies of enlarged periphe-ral lymph nodes in young patients. JAMA. 1984;252(10):1321-6. Vaughn DJ. Approach to the patient with lymphadenopathy. In: Humes DH, editor. Kelley’s textbook of internal medicine. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2000.  Revisões Internacionais
  • 12.  Revisões  Algoritmos  Aulas em Vídeo  Artigos Comentados  Casos Clínicos  BPR Guia de Remédios  Biblioteca Livre  BPR Guia de Injetáveis  Bulas  CID 10  Guia de Anti-Infecciosos Copyright 2013 MedicinaNET Versão Original