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O Paciente com Linfonodomegalia
Roberto Passetto Falcão
c a p í t u l o
INTRODUÇÃO
Os linfonodos são aglomerados estruturados de linfó-
citos envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, que
recebem os vasos linfáticos aferentes que drenam a linfa
para o seio subcapsular. Os gânglios possuem uma cama-
da cortical com os folículos linfoides, sendo que alguns
destes possuem uma área central denominada de centros
germinativos. Os folículos sem centros germinativos são
denominados de primários, e os com centros são chama-
dos de secundários. A camada interna ou medular contém
linfócitos e macrófagos mais esparsos e próximos de sinu-
soides vasculares e linfáticos. Os linfáticos eferentes estão
localizados no hilo dos linfonodos. Cada gânglio linfático
possui também um vaso sanguíneo aferente e outro eferen-
te, que são os responsáveis pelo suprimento de sangue. A
distribuição dos linfócitos T e B não é homogênea. Assim,
os linfócitos T localizam-se predominantemente na área
parafolicular situada entre os folículos e no córtex profun-
do. Por outro lado, os folículos são ricos em linfócitos B
(Figura 10.1).
O aumento do tamanho dos gânglios é uma manifesta-
ção clínica comum, que ocasiona grande preocupação aos
pacientes. É frequente em doenças hematológicas, mas apa-
rece também em doenças infecciosas, em doenças autoimu-
nes, em reações ao uso de medicamentos, em metástases
carcinomatosas e em outras doenças em que o mecanismo
fisiopatológico não é bem conhecido. Em pacientes com
menos de trinta anos de idade, a linfoadenopatia, em mais
de 80% dos casos, é reacional (infecções). Entretanto, nos
pacientes com mais de trinta anos, o aumento determina-
do por causas reacionais ocorre em apenas 40% dos casos.
Ademais, pacientes com mais de cinquenta anos têm pro-
babilidade de 80% de ter neoplasia. A presença de febre,
em pacientes jovens, geralmente sugere infecções (linfomas
são exceções). Por outro lado, sintomas sistêmicos como
perda de peso, sudorese noturna e febre baixa em um pa-
ciente com linfadenopatia localizada sugerem o diagnóstico
de linfoma.
A primeira pergunta a ser respondida em um caso com
linfadenomegalia é o tamanho a partir do qual um linfono-
do aumentado é considerado anormal. Esta resposta não
é simples, pois não existem parâmetros exatos para essa
definição. O limite varia com a idade e a ocupação do pa-
ciente, a localização dos gânglios, a duração e a progressão
da linfadenomegalia. Usualmente, crianças e adolescentes
têm mais gânglios palpáveis do que os adultos; aumento de
gânglios inguinais são frequentes, devido a ferimentos nos
pés e a infecções por dermatófitos; aumento de gânglios
epitrocleares e axilares são mais comuns em trabalhadores
braçais, devido a ferimentos nas mãos. Em condições de
normalidade, os únicos gânglios palpáveis, em adultos, são
os da região inguinal, onde linfonodos de 0,2 a 2,0 cm são
encontrados abaixo do ligamento inguinal e no triângulo
femoral. Em crianças, gânglios pequenos, de 0,5 a 1,0 cm,
são usualmente palpáveis na região cervical. A palpação
deve ser realizada com o paciente em uma posição rela-
xada, usando a polpa digital dos dedos indicador e médio,
movimentando a pele sobre os tecidos adjacentes e não os
dedos sobre a pele, com aumento progressivo da pressão.
O examinador deve definir a dimensão em dois eixos, de
um lado ao outro e de cima até embaixo. Linfonodos pe-
quenos, móveis e indolores são usualmente encontrados
em indivíduos normais. Outro ponto a ser considerado é
que nem sempre massas palpáveis são gânglios: abscessos
(particularmente periodontais), cistos de tireoide, glândulas
salivares, cistos do ducto tireoglosso podem estar presentes
no pescoço; hérnias inguinais e aneurismas vasculares nas
virilhas podem ser confundidos com gânglios.
CARACTERÍSTICAS DOS GÂNGLIOS
A avaliação inicial de um paciente com linfadenome-
galia inclui um exame físico completo. A localização, o
tamanho do linfonodo em duas dimensões (geralmente
quanto maior o tamanho maior é a probabilidade de ser
neoplásico), a sua consistência, a adesão ou não a pla-
nos profundos, a sensibilidade (gânglios dolorosos têm
75
76 Tratado de Hematologia
menos probabilidade de serem cancerosos), a fistulização
e a presença de sinais inflamatórios devem ser avaliados.
Além disso, o exame das áreas de drenagem dos gânglios
afetados deve ser cuidadosamente realizado. Assim, a lin-
fadenopatia occipital deve ser acompanhada do exame do
couro cabeludo; a supraclavicular do exame do aparelho
respiratório e do retroperitôneo; aumento de gânglios sub-
mandibulares ou submentonianos recomendam o exame
cuidadoso de cabeça e pescoço.
A localização dos gânglios fornece pistas importantes
para a identificação da causa da linfadenomegalia (Tabela
10.1). Assim, a linfadenomegalia generalizada ocorre nas
leucemias agudas, nas leucemias linfoides crônicas, nos lin-
fomas não Hodgkin, na sarcoidose, no lúpus eritematoso
sistêmico, nas reações a drogas, e em algumas infecções.
Nas doenças infecciosas, o envolvimento costuma ser re-
gional, comprometendo as áreas de drenagem dos locais
envolvidos. Nas metástases de carcinomas, a localização do
gânglio comprometido pode ajudar na elucidação do diag-
nóstico do tumor primário. Assim, o aumento de gânglios
supraclaviculares está geralmente associado a metástases
tumorais ou a linfomas. O aparecimento do gânglio senti-
nela de Virchow, caracterizado pela consistência endurecida
e localização na região supraclavicular esquerda, está geral-
mente associado a neoplasia gastrointestinal.
A consistência dos gânglios pode ajudar no estabeleci-
mento da etiologia. Assim, gânglios duros, indolores, ade-
Figura 10.1 Estrutura do linfonodo.
rentes a planos profundos ou formando um plastrão são
encontrados em carcinomas metastáticos; os gânglios nas
leucemias e linfomas têm consistência firme e são indolo-
res; gânglios firmes e dolorosos são encontrados em áreas
de drenagem de infecções bacterianas; na paracoccidioido-
micose os gânglios costumam ceder à pressão dos dedos,
indicando um conteúdo líquido no seu interior.
Na linfadenomegalia infecciosa pode haver a formação
de pus, que pode ser seguida da sua drenagem espontânea
através de uma fístula. Os gânglios que mais frequentemen-
te supuram são os cervicais e os inguinais superficiais, e
menos frequentemente os axilares. Entre as causas mais
comumente associadas ao fenômeno temos: infecções es-
treptocócicas e estafilocócicas, tuberculose, paracoccioido-
micose, cancro mole, esporotricose e tularemia.
Entretanto, nenhuma dessas características é diagnósti-
ca, e a biópsia e outros exames complementares são funda-
mentais para o estabelecimento do diagnóstico. A biópsia
por aspiração com agulha fina nunca deve ser a primeira
opção. Ela pode ser útil quando o diagnóstico de neoplasia
já foi anteriormente estabelecido e agora existe a suspeita
de recaída ou de metástase.
O diagnóstico preciso da causa da linfadenomegalia tem
início com escolha do gânglio a ser biopsiado. Os gânglios
maiores são usualmente os mais desejáveis. Se presentes,
gânglios cervicais baixos e supraclaviculares são particu-
larmente recomendados. Sempre que possível, os gânglios
77Capítulo 10  O Paciente com Linfonodomegalia
inguinais devem ser evitados. Outra prática recomendável é
encaminhar a um cirurgião experiente, para que extraia um
gânglio representativo e por inteiro.
Uma vez retirado o gânglio, há duas opções. A primei-
ra requer contato imediato com o patologista. Ele pode
estar na sala cirúrgica, acompanhando o procedimento
(ideal) ou alcançável em, no máximo, dez minutos. Nes-
te caso, encaminhe o material ao patologista em um re-
cipiente de boca larga, sem nenhuma substância. Nunca
enrole em gaze ou coloque em solução salina. Ao receber
o material a fresco, o patologista terá a oportunidade de
seguir a seguinte rotina: 1) cortar o gânglio ao meio e rea-
lizar imprints. Estes podem ser secados ao ar (air-dried) para
serem corados pelo Giemsa ou fixados, imediatamente,
em álcool a 95º para realizar outras colorações (HE, PAS,
Prata, entre outras); 2) um pequeno pedaço pode ser en-
caminhado para cultura (germes comuns e específicos); 3)
outro fragmento deve ser gentilmente amassado e coloca-
do em solução salina para a obtenção de células em sus-
pensão, que podem ser avaliadas pela citometria de fluxo;
4) outra fração deve ser congelada em nitrogênio líquido
ou em freezer a 80 o
C, para preservação do RNA e DNA;
5) finalmente, o restante será cortado em fatias bem finas
e fixado em formol tamponado a 10%. Se houver material
suficiente, deve-se utilizar também um fixador mercurial
(B5, por exemplo).
A segunda, caso não haja disponibilidade imediata do
patologista, solicite ao cirurgião que seccione o gânglio ao
meio e o coloque em um recipiente de boca larga com for-
mol tamponado a 10%, em volume cinco vezes maior que
o do gânglio biopsiado. É muito importante que o material
fique embebido pelo fixador por todos os lados. Se você
quiser realizar os imprints antes da fixação, peça ao patolo-
gista para orientá-lo, pelo menos, na primeira vez.
O material mal fixado provoca artefatos que prejudi-
cam a análise adequada. Assim, é essencial destacar alguns
aspectos deste procedimento.
1. Se não houver certeza da disponibilidade do patolo-
gista para receber pessoalmente o material em tempo
hábil, opte por fixar o material em formol tamponado
a 10%. É melhor garantir uma boa fixação. Lembre-se
de que o ótimo é inimigo do bom.
2. Seccionar o gânglio ao meio é imprescindível para uma
boa fixação, pois a cápsula íntegra impede a penetração
do formol.
Tabela 10.1
Causas de aumento de linfonodos relacionadas às regiões comprometidas.
Região Etiologia
Generalizada (em mais de duas cadeias
separadas)
Neoplasias (linfomas, LLC, leucemias agudas), infecções (CMV, mononucleose,
sífilis secundária), sarcoidose, LES, hipertireoidismo, reação a drogas
Mediastinal Linfomas (Hodgkin e não Hodgkin), sarcoidose, tuberculose, carcinoma de
pulmão, histoplasmose
Hilo pulmonar Carcinoma de pulmão (unilateral), sarcoidose, tuberculose,
paracoccidioidomicose, histoplasmose
Intra-abdominal ou retroperitoneal Linfomas, carcinomas metastáticos, tuberculose, paracoccidioidomicose
Occipital Infecções do couro cabeludo, rubéola, picadas de insetos, LLC ou metástases
Auricular
 Posterior
 Anterior
Rubéola, síndromes oculoglandulares
Infecções de pálpebras e conjuntivas
Cervicais Toxoplasmose, infecções de faringe e cavidade oral, adenoviroses, linfomas,
tuberculose, paracoccidioidomicose, linfomas, HIV
Supraclavicular Linfomas, metástases de carcinomas pulmonares, gastrointestinais e
retroperitoniais
Axilares Linfomas; infecções, mordidas e traumas de braços e mãos; carcinoma de
mama; brucelose; esporotricose
Epitrocleares Unilateral: infecções das mãos, linfomas, tularemia
Bilateral: sífilis secundária, sarcoidose, viroses em crianças
Inguinais Doenças sexualmente transmissíveis, linfomas, metástases carcinomatosas de
pélvis e neoplasias ginecológicas, infecções de pernas e pés
LES: Lúpus Eritematoso Sistêmico. CMV: Citomegalovírus. LLC: Leucemia Linfoide Crônica.
78 Tratado de Hematologia
3. Atualmente, o diagnóstico do tipo de linfoma é depen-
dente do exame imuno-histoquímico, e o formol tam-
ponado é o mais apropriado para obtermos reações
adequadas.
4. Se o fragmento for pequeno, a prioridade é sempre
uma fixação adequada. A realização dos imprints nun-
ca prejudica o material. Se este não for suficiente para
todos os procedimentos, deve-se determinar a rotina
mais apropriada a cada caso. Por exemplo, se for um
caso de febre de origem obscura, priorizar a cultura. Se
for um caso sabidamente de difícil diagnóstico, é pre-
ferível estocar o material congelado para estudos por
técnicas de biologia molecular.
5. O material pode ficar indefinidamente no formol
tamponado a 10%. Basta lembrar que as peças es-
tudadas por Thomas Hodgkin (1828) são mantidas
neste fixador até hoje e já foram objeto de estudos
recentes, inclusive de imuno-histoquímica. Entretan-
to, nos fixadores à base de mercurial a permanência
do material deve ser curta e, por este motivo, esses
fixadores devem ser manipulados somente por pato-
logistas. Embora o fixador mercurial permita a ob-
servação ótima de detalhes nucleares, ele restringe a
aplicação de estudos imunológicos. Portanto, se esti-
ver sozinho, lembre-se de que a prioridade número
um é a fixação em formol.
Outra decisão difícil é o momento oportuno para a rea-
lização da biópsia. Assim, linfadenomegalias com duração
prolongada (três a quatro semanas), de curso progressivo
ou muito volumosas, ou de consistência muito endurecida,
ou localizadas em cadeias supraclaviculares devem ser biop-
siadas se os exames para as causas infecciosas, inflamatórias
e hematológicas forem negativos ou inconclusivos. Estes
incluem exames radiológicos, reações sorológicas, exames
microbiológicos, o exame hematológico e, eventualmen-
te, o aspirado de medula óssea. A biópsia de medula óssea
deve ser realizada somente após a realização desses exames.
CAUSAS DE LINFONODOMEGALIA
Os linfonodos são estruturas de defesa e contêm, basi-
camente, linfócitos e macrófagos, que são células essenciais
dos fenômenos de imunidade celular e humoral. Os linfo-
nodos são os locais onde ocorrem a maior parte da intera-
ções entre as células do sistema imunológico e os antígenos.
Os antígenos são fagocitados pelos macrófagos e nos pro-
teassomos são transformados em fragmentos menores, que
migram para a superfície da membrana; em interação com
as moléculas HLA classe I, são apresentados aos linfócitos
T e B existentes nas suas proximidades, nos gânglios. As-
sim, uma das causas mais frequentes de linfadenomegalia é
a determinada pela hiperplasia reacional linfoide e macrofá-
gica associada a infecções, em que o micro-organismo pode
ou não estar presente no gânglio. Além disso, pode ocorrer
hiperplasia linfoide associada às doenças autoimunes, rea-
ções a drogas e à deposição de imunocomplexos. Nessas
hiperplasias, a arquitetura do gânglio linfático é preservada.
Por outro lado, o depósito de substâncias em macrófagos,
como ocorre nas lipidoses e na amiloidose, também deter-
mina o aumento do gânglio linfático, embora a espleno-
megalia seja o sinal clínico mais evidente. A infiltração por
células neoplásicas hematopoéticas, como ocorre nas leu-
cemias e linfomas ou na invasão por metástases, também
constitui um mecanismo importante. Finalmente, existem
doenças de causas desconhecidas que apresentam linfade-
nomegalia proeminente. A Tabela 10.2 lista as causas mais
comuns de linfadenomegalia.
Reacionais: infecções
Infecções causadas por diferentes micro-organismos
podem causar linfadenomegalia, geralmente acompanha-
da de febre. O aumento ganglionar pode ser localizado ou
generalizado, e a sua duração pode ser prolongada, como
acontece na tuberculose e na paracoccidioidomicose, ou
curta, como observado na maioria das viroses. O micro-
-organismo pode estar presente no gânglio, como na tuber-
culose e na paracoccidioidomicose, ou o aumento pode ser
consequência da resposta imune, sem a presença do agente
causal, como ocorre na Aids, na sífilis secundária, e na mo-
nonucleose infecciosa. Os exames clínico e hematológico
conduzem, na maioria dos casos, à hipótese diagnóstica,
que deve ser confirmada por exames de imagem e de rea-
ções sorológicas específicas. Raramente a biópsia do gân-
glio é necessária e, quando efetuada, mostra a preservação
da estrutura do órgão.
Não infecciosas ou inflamatórias
Os gânglios podem aumentar em doenças autoimunes,
em reações de hipersensibilidade a drogas, em que o exem-
plo mais comum é o hidantoinato (mas também agentes
antitireoidianos e isoniazida), e em doenças inflamatórias,
como a sarcoidose.
O aumento de gânglios é observado em 50% dos casos
de lúpus eritematoso sistêmico durante a sua evolução, em-
bora no início da doença seja detectado em menos de 10%
dos pacientes. Na síndrome de Felty, a artrite reumatoide é
acompanhada de esplenomegalia, neutropenia e linfoade-
nopatia. Na síndrome de Sjögren, os sintomas decorren-
tes da infiltração das glândulas salivares e lacrimais podem
estar associados ao aparecimento de agregados linfoides
extraglandulares, denominados pseudolinfomas, que têm
curso benigno. O diagnóstico de hipersensibilidade ao hi-
dantoinato é fácil de ser feito, bastando a observação do
comportamento da linfadenomegalia após a retirada do
medicamento. A sarcoidose é uma doença de adultos jo-
vens, que envolve múltiplos órgãos como os pulmões, a
pele, os olhos e o sistema nervoso. O achado de adenopatia
hilar simétrica em um paciente assintomático é sugestivo da
doença; os gânglios superficiais são normais.
79Capítulo 10  O Paciente com Linfonodomegalia
Tabela 10.2
Causas de linfonodomegalia.
Reacionais
Infecciosas (hiperplasia linfoide ou de macrófagos)*
1. Bacterianas: estreptococos, estafilococos, Brucella, tularemia, Listeria, Pasteurella pestis, Haemophilus ducreyi, sífilis,
leptospirose
a) Aumento dos gânglios em áreas de drenagem: furúnculos, infecção da cavidade oral, cancro sifilítico
b) Aumento generalizado: septicemia, endocardite bacteriana
2. Virais: CMV, Epstein-Barr (mononucleose infecciosa), varicela zoster, rubéola, HIV, hepatite A, vaccinia, sarampo
3. Fungos: histoplasmose, paracoccidioidomicose
4. Micobactérias: tuberculose, lepra
5. Clamídia: linfogranuloma venéreo
6. Parasitas: toxoplasmose, calazar, filaríase
Não infecciosas e inflamatórias
Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, dermatomiosite, tireoidite de
Hashimoto), reação a drogas (hidantoinato), sarcoidose
Doenças neoplásicas
1. Metástases carcinomatosas: mama, pulmão, rins, próstata, melanoma, cabeça e pescoço, trato gastrointestinal, tumores de
células germinativas
2. Doenças hematológicas
 Linfomas
 Doença de Hodgkin
 Linfomas não Hodgkin
 Leucemias
 Agudas: linfoides e mieloides
 Crônicas:
• linfoides: leucemia linfocítica crônica, tricocitoleucemia, leucemia prolinfocítica T
• mieloide: leucemia mieloide crônica em transformação
Infiltrativas não neoplásicas: doença de Gaucher, Niemann-Pick, amiloidose
Doenças de causas desconhecidas com linfoadenopatia proeminente
Histiocitoses
Linfoadenite dermatopática
Doença de Kikuchi
Síndrome de Kawasaki
* Pode haver ou não infecção no linfonodo.
Doenças neoplásicas – metástases
O envolvimento de linfonodos regionais por células tu-
morais é bastante frequente em alguns carcinomas e em
outros tumores. A extensão desse comprometimento cons-
titui um dos elementos do estadiamento, e tem importância
prognóstica. A retirada cirúrgica dos gânglios compro-
metidos tem pouco impacto na sobrevida, embora tenha
importância no controle local da doença. Os gânglios têm
consistência endurecida, não são dolorosos, e são aderentes
a planos profundos e a outros gânglios. Os tumores que
mais frequentemente infiltram os gânglios são os carcino-
mas de mama (gânglios axilares), pulmão (mediastinal, hilar,
supraclavicular), rins, próstata (abdominais e retroperito-
neais), cabeça e pescoço (cervicais, geralmente unilaterais),
e os do trato gastrointestinal (supraclavicular, o gânglio de
Virchow). O melanoma, tumores de células germinativas
(retroperitoneais e abdominais) e o neuroblastoma também
podem infiltrar os gânglios.
Muitas vezes os gânglios são comprometidos mesmo
antes de a localização do tumor primário ser conhecida. As-
sim, a infiltração pelo melanoma pode ocorrer em qualquer
região, antes do diagnóstico da lesão de pele. Linfadeno-
megalia cervical pode aparecer antes do reconhecimento
de um tumor do trato aéreo-digestivo. Comprometimento
de gânglios supraclaviculares estão associados a adenocar-
cinoma de pulmão, mama ou trato gastrointestinal (mais
comumente à esquerda). Metástases de adenocarcinoma
em gânglios axilares unilaterais geralmente originam-se na
80 Tratado de Hematologia
mama, em mulheres, ou no pulmão, em ambos os sexos.
Adenopatia inguinal isolada sugere metástase de adeno-
carcinoma ou carcinoma de células escamosas de genitália,
pele dos membros inferiores ou estruturas anorretais.
Doenças hematológicas
A linfadenomegalia é um dos achados clínicos mais
comum em pacientes com doenças hematológicas, e a sua
associação ou não com a esplenomegalia constitui um ele-
mento clínico importante para o diagnóstico (ver Tabela 2
do Capítulo 9, “O paciente com esplenomegalia”). Assim,
na doença de Hodgkin, o enfartamento ganglionar inicial
é supradiafragmático, geralmente cervical, em mais de 80%
dos casos. Com a progressão da doença, outras cadeias são
comprometidas e o estadiamento leva em conta a extensão
desse comprometimento. Nos linfomas não Hodgkin, a
linfadenopatia é também o achado mais característico. O
comprometimento da cadeia cervical ocorre em aproxi-
madamente 50% dos casos. Nos linfomas de baixo grau
proliferativo, a linfadenopatia pode ser localizada ou gene-
ralizada e as cadeias retroperitoneais, mesentéricas e pél-
vicas podem estar comprometidas. Nos linfomas de grau
intermediário ou de alto grau proliferativo, a linfadenopatia
pode ocorrer de forma isolada ou associada a comprometi-
mento extranodal (pele e gastrointestinal).
Nas leucemias agudas ocorre infiltração dos gânglios
com o consequente aumento dos mesmos. Na leucemia linfoi-
de aguda, a adenomegalia é encontrada em 75% dos pacientes,
enquanto nas leucemias mieloides agudas ela é rara. Na leu-
cemia linfoide crônica o aumento de gânglios, geralmente
generalizado, é observado em 70% dos casos ao diagnóstico.
A maioria dos pacientes é assintomática e o diagnóstico ocorre
em um exame de rotina. Os gânglios são geralmente pequenos,
mas podem ser muito volumosos. Nas duas situações eles têm
consistência normal, sendo móveis e indolores. Na tricoleu-
cemia, a linfadenomegalia periférica é rara e, quando presente,
os gânglios são pequenos; entretanto, linfadenopatia abdominal
pode ser encontrada. Na leucemia prolinfocítica T, a ade-
nomegalia é encontrada em 50% dos casos; na prolinfocítica
B, a adenomegalia é rara, ao contrário da esplenomegalia, que
é característica da doença. Na leucemia mielocítica crônica, a
adenomegalia é rara na forma crônica da doença e o seu apa-
recimento está associado com a mudança para a fase acelerada.
Doenças infiltrativas não neoplásicas
Esse grupo é constituído por doenças em que o aumento
dos gânglios é determinado pelo acúmulo de substâncias nos
macrófagos. A amiloidose é caracterizada pela deposição de
substância amiloide em vários órgãos, incluindo os linfono-
dos. Muitas vezes a adenomegalia, que não é dolorosa, poden-
do ser difusa ou localizada, é a manifestação inicial da doença.
O diagnóstico é feito em material de biópsia, que revela a de-
posição de material fibrilar. A doença de Gaucher é causada
pela deficiência da atividade de uma hidrolase lisossomal que
resulta na deposição de glicocerebrosídeos nos macrófagos
do baço, do fígado, da medula óssea e dos gânglios. O achado
do exame físico mais comum é a esplenomegalia; o enfarta-
mento ganglionar é menos comum e nunca aparece isolada-
mente. Na doença de Niemann-Pick existe um acúmulo de
esfingomielina e colesterol nos macrófagos, que resulta em
hepatoesplenomegalia e enfartamento ganglionar moderado.
Doenças de etiologia desconhecida com
linfoadenopatia proeminente
Existem doenças, relativamente raras, em que a linfoa-
denopatia é proeminente, mas a etiologia é desconhecida,
embora algumas possam ser consideradas pré-malignas.
A síndrome de Kawasaki é uma doença de crianças e
adultos jovens caracterizada pela presença de conjuntivite, le-
sões cutâneas e febre. A linfadenomegalia aparece em 75% dos
casos, localiza-se na região cervical, e é usualmente unilateral.
As histiocitoses são caracterizadas pela proliferação de
histiócitos, que podem ser normais ou malignos, e linfade-
nopatia proeminente, que pode ser localizada ou generaliza-
da. O comprometimento cutâneo ocorre frequentemente.
Elas podem ser divididas nas histiocitoses em que as células
envolvidas são os histiócitos de Langerhans, denominadas
histiocitoses X (de etiologia desconhecida), e aquelas em
que as células são histiócitos não Langerhans. Na histio-
citose X temos o granuloma eosinofílico, a síndrome de
Hand-Schüller-Christian, e a doença de Letterer-Siwe. No
segundo grupo incluem-se a linfo-histiocitose eritrofagocí-
tica familiar, a síndrome hemofagocítica associada a infec-
ções, a histiocitose sinusal (Rosai Dorfman), a histiocitose
maligna, a linfoadenite histiocítica necrotizante (doença de
Kikuchi) e a granulomatose linfomatoide.
1. Asano S. Granulomatous lymphadenitis. J Clin Exp Hematop. 2012;52:1-16.
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REFERÊNCIAS CONSULTADAS

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Causas e avaliação da linfadenomegalia

  • 1. O Paciente com Linfonodomegalia Roberto Passetto Falcão c a p í t u l o INTRODUÇÃO Os linfonodos são aglomerados estruturados de linfó- citos envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, que recebem os vasos linfáticos aferentes que drenam a linfa para o seio subcapsular. Os gânglios possuem uma cama- da cortical com os folículos linfoides, sendo que alguns destes possuem uma área central denominada de centros germinativos. Os folículos sem centros germinativos são denominados de primários, e os com centros são chama- dos de secundários. A camada interna ou medular contém linfócitos e macrófagos mais esparsos e próximos de sinu- soides vasculares e linfáticos. Os linfáticos eferentes estão localizados no hilo dos linfonodos. Cada gânglio linfático possui também um vaso sanguíneo aferente e outro eferen- te, que são os responsáveis pelo suprimento de sangue. A distribuição dos linfócitos T e B não é homogênea. Assim, os linfócitos T localizam-se predominantemente na área parafolicular situada entre os folículos e no córtex profun- do. Por outro lado, os folículos são ricos em linfócitos B (Figura 10.1). O aumento do tamanho dos gânglios é uma manifesta- ção clínica comum, que ocasiona grande preocupação aos pacientes. É frequente em doenças hematológicas, mas apa- rece também em doenças infecciosas, em doenças autoimu- nes, em reações ao uso de medicamentos, em metástases carcinomatosas e em outras doenças em que o mecanismo fisiopatológico não é bem conhecido. Em pacientes com menos de trinta anos de idade, a linfoadenopatia, em mais de 80% dos casos, é reacional (infecções). Entretanto, nos pacientes com mais de trinta anos, o aumento determina- do por causas reacionais ocorre em apenas 40% dos casos. Ademais, pacientes com mais de cinquenta anos têm pro- babilidade de 80% de ter neoplasia. A presença de febre, em pacientes jovens, geralmente sugere infecções (linfomas são exceções). Por outro lado, sintomas sistêmicos como perda de peso, sudorese noturna e febre baixa em um pa- ciente com linfadenopatia localizada sugerem o diagnóstico de linfoma. A primeira pergunta a ser respondida em um caso com linfadenomegalia é o tamanho a partir do qual um linfono- do aumentado é considerado anormal. Esta resposta não é simples, pois não existem parâmetros exatos para essa definição. O limite varia com a idade e a ocupação do pa- ciente, a localização dos gânglios, a duração e a progressão da linfadenomegalia. Usualmente, crianças e adolescentes têm mais gânglios palpáveis do que os adultos; aumento de gânglios inguinais são frequentes, devido a ferimentos nos pés e a infecções por dermatófitos; aumento de gânglios epitrocleares e axilares são mais comuns em trabalhadores braçais, devido a ferimentos nas mãos. Em condições de normalidade, os únicos gânglios palpáveis, em adultos, são os da região inguinal, onde linfonodos de 0,2 a 2,0 cm são encontrados abaixo do ligamento inguinal e no triângulo femoral. Em crianças, gânglios pequenos, de 0,5 a 1,0 cm, são usualmente palpáveis na região cervical. A palpação deve ser realizada com o paciente em uma posição rela- xada, usando a polpa digital dos dedos indicador e médio, movimentando a pele sobre os tecidos adjacentes e não os dedos sobre a pele, com aumento progressivo da pressão. O examinador deve definir a dimensão em dois eixos, de um lado ao outro e de cima até embaixo. Linfonodos pe- quenos, móveis e indolores são usualmente encontrados em indivíduos normais. Outro ponto a ser considerado é que nem sempre massas palpáveis são gânglios: abscessos (particularmente periodontais), cistos de tireoide, glândulas salivares, cistos do ducto tireoglosso podem estar presentes no pescoço; hérnias inguinais e aneurismas vasculares nas virilhas podem ser confundidos com gânglios. CARACTERÍSTICAS DOS GÂNGLIOS A avaliação inicial de um paciente com linfadenome- galia inclui um exame físico completo. A localização, o tamanho do linfonodo em duas dimensões (geralmente quanto maior o tamanho maior é a probabilidade de ser neoplásico), a sua consistência, a adesão ou não a pla- nos profundos, a sensibilidade (gânglios dolorosos têm 75
  • 2. 76 Tratado de Hematologia menos probabilidade de serem cancerosos), a fistulização e a presença de sinais inflamatórios devem ser avaliados. Além disso, o exame das áreas de drenagem dos gânglios afetados deve ser cuidadosamente realizado. Assim, a lin- fadenopatia occipital deve ser acompanhada do exame do couro cabeludo; a supraclavicular do exame do aparelho respiratório e do retroperitôneo; aumento de gânglios sub- mandibulares ou submentonianos recomendam o exame cuidadoso de cabeça e pescoço. A localização dos gânglios fornece pistas importantes para a identificação da causa da linfadenomegalia (Tabela 10.1). Assim, a linfadenomegalia generalizada ocorre nas leucemias agudas, nas leucemias linfoides crônicas, nos lin- fomas não Hodgkin, na sarcoidose, no lúpus eritematoso sistêmico, nas reações a drogas, e em algumas infecções. Nas doenças infecciosas, o envolvimento costuma ser re- gional, comprometendo as áreas de drenagem dos locais envolvidos. Nas metástases de carcinomas, a localização do gânglio comprometido pode ajudar na elucidação do diag- nóstico do tumor primário. Assim, o aumento de gânglios supraclaviculares está geralmente associado a metástases tumorais ou a linfomas. O aparecimento do gânglio senti- nela de Virchow, caracterizado pela consistência endurecida e localização na região supraclavicular esquerda, está geral- mente associado a neoplasia gastrointestinal. A consistência dos gânglios pode ajudar no estabeleci- mento da etiologia. Assim, gânglios duros, indolores, ade- Figura 10.1 Estrutura do linfonodo. rentes a planos profundos ou formando um plastrão são encontrados em carcinomas metastáticos; os gânglios nas leucemias e linfomas têm consistência firme e são indolo- res; gânglios firmes e dolorosos são encontrados em áreas de drenagem de infecções bacterianas; na paracoccidioido- micose os gânglios costumam ceder à pressão dos dedos, indicando um conteúdo líquido no seu interior. Na linfadenomegalia infecciosa pode haver a formação de pus, que pode ser seguida da sua drenagem espontânea através de uma fístula. Os gânglios que mais frequentemen- te supuram são os cervicais e os inguinais superficiais, e menos frequentemente os axilares. Entre as causas mais comumente associadas ao fenômeno temos: infecções es- treptocócicas e estafilocócicas, tuberculose, paracoccioido- micose, cancro mole, esporotricose e tularemia. Entretanto, nenhuma dessas características é diagnósti- ca, e a biópsia e outros exames complementares são funda- mentais para o estabelecimento do diagnóstico. A biópsia por aspiração com agulha fina nunca deve ser a primeira opção. Ela pode ser útil quando o diagnóstico de neoplasia já foi anteriormente estabelecido e agora existe a suspeita de recaída ou de metástase. O diagnóstico preciso da causa da linfadenomegalia tem início com escolha do gânglio a ser biopsiado. Os gânglios maiores são usualmente os mais desejáveis. Se presentes, gânglios cervicais baixos e supraclaviculares são particu- larmente recomendados. Sempre que possível, os gânglios
  • 3. 77Capítulo 10  O Paciente com Linfonodomegalia inguinais devem ser evitados. Outra prática recomendável é encaminhar a um cirurgião experiente, para que extraia um gânglio representativo e por inteiro. Uma vez retirado o gânglio, há duas opções. A primei- ra requer contato imediato com o patologista. Ele pode estar na sala cirúrgica, acompanhando o procedimento (ideal) ou alcançável em, no máximo, dez minutos. Nes- te caso, encaminhe o material ao patologista em um re- cipiente de boca larga, sem nenhuma substância. Nunca enrole em gaze ou coloque em solução salina. Ao receber o material a fresco, o patologista terá a oportunidade de seguir a seguinte rotina: 1) cortar o gânglio ao meio e rea- lizar imprints. Estes podem ser secados ao ar (air-dried) para serem corados pelo Giemsa ou fixados, imediatamente, em álcool a 95º para realizar outras colorações (HE, PAS, Prata, entre outras); 2) um pequeno pedaço pode ser en- caminhado para cultura (germes comuns e específicos); 3) outro fragmento deve ser gentilmente amassado e coloca- do em solução salina para a obtenção de células em sus- pensão, que podem ser avaliadas pela citometria de fluxo; 4) outra fração deve ser congelada em nitrogênio líquido ou em freezer a 80 o C, para preservação do RNA e DNA; 5) finalmente, o restante será cortado em fatias bem finas e fixado em formol tamponado a 10%. Se houver material suficiente, deve-se utilizar também um fixador mercurial (B5, por exemplo). A segunda, caso não haja disponibilidade imediata do patologista, solicite ao cirurgião que seccione o gânglio ao meio e o coloque em um recipiente de boca larga com for- mol tamponado a 10%, em volume cinco vezes maior que o do gânglio biopsiado. É muito importante que o material fique embebido pelo fixador por todos os lados. Se você quiser realizar os imprints antes da fixação, peça ao patolo- gista para orientá-lo, pelo menos, na primeira vez. O material mal fixado provoca artefatos que prejudi- cam a análise adequada. Assim, é essencial destacar alguns aspectos deste procedimento. 1. Se não houver certeza da disponibilidade do patolo- gista para receber pessoalmente o material em tempo hábil, opte por fixar o material em formol tamponado a 10%. É melhor garantir uma boa fixação. Lembre-se de que o ótimo é inimigo do bom. 2. Seccionar o gânglio ao meio é imprescindível para uma boa fixação, pois a cápsula íntegra impede a penetração do formol. Tabela 10.1 Causas de aumento de linfonodos relacionadas às regiões comprometidas. Região Etiologia Generalizada (em mais de duas cadeias separadas) Neoplasias (linfomas, LLC, leucemias agudas), infecções (CMV, mononucleose, sífilis secundária), sarcoidose, LES, hipertireoidismo, reação a drogas Mediastinal Linfomas (Hodgkin e não Hodgkin), sarcoidose, tuberculose, carcinoma de pulmão, histoplasmose Hilo pulmonar Carcinoma de pulmão (unilateral), sarcoidose, tuberculose, paracoccidioidomicose, histoplasmose Intra-abdominal ou retroperitoneal Linfomas, carcinomas metastáticos, tuberculose, paracoccidioidomicose Occipital Infecções do couro cabeludo, rubéola, picadas de insetos, LLC ou metástases Auricular  Posterior  Anterior Rubéola, síndromes oculoglandulares Infecções de pálpebras e conjuntivas Cervicais Toxoplasmose, infecções de faringe e cavidade oral, adenoviroses, linfomas, tuberculose, paracoccidioidomicose, linfomas, HIV Supraclavicular Linfomas, metástases de carcinomas pulmonares, gastrointestinais e retroperitoniais Axilares Linfomas; infecções, mordidas e traumas de braços e mãos; carcinoma de mama; brucelose; esporotricose Epitrocleares Unilateral: infecções das mãos, linfomas, tularemia Bilateral: sífilis secundária, sarcoidose, viroses em crianças Inguinais Doenças sexualmente transmissíveis, linfomas, metástases carcinomatosas de pélvis e neoplasias ginecológicas, infecções de pernas e pés LES: Lúpus Eritematoso Sistêmico. CMV: Citomegalovírus. LLC: Leucemia Linfoide Crônica.
  • 4. 78 Tratado de Hematologia 3. Atualmente, o diagnóstico do tipo de linfoma é depen- dente do exame imuno-histoquímico, e o formol tam- ponado é o mais apropriado para obtermos reações adequadas. 4. Se o fragmento for pequeno, a prioridade é sempre uma fixação adequada. A realização dos imprints nun- ca prejudica o material. Se este não for suficiente para todos os procedimentos, deve-se determinar a rotina mais apropriada a cada caso. Por exemplo, se for um caso de febre de origem obscura, priorizar a cultura. Se for um caso sabidamente de difícil diagnóstico, é pre- ferível estocar o material congelado para estudos por técnicas de biologia molecular. 5. O material pode ficar indefinidamente no formol tamponado a 10%. Basta lembrar que as peças es- tudadas por Thomas Hodgkin (1828) são mantidas neste fixador até hoje e já foram objeto de estudos recentes, inclusive de imuno-histoquímica. Entretan- to, nos fixadores à base de mercurial a permanência do material deve ser curta e, por este motivo, esses fixadores devem ser manipulados somente por pato- logistas. Embora o fixador mercurial permita a ob- servação ótima de detalhes nucleares, ele restringe a aplicação de estudos imunológicos. Portanto, se esti- ver sozinho, lembre-se de que a prioridade número um é a fixação em formol. Outra decisão difícil é o momento oportuno para a rea- lização da biópsia. Assim, linfadenomegalias com duração prolongada (três a quatro semanas), de curso progressivo ou muito volumosas, ou de consistência muito endurecida, ou localizadas em cadeias supraclaviculares devem ser biop- siadas se os exames para as causas infecciosas, inflamatórias e hematológicas forem negativos ou inconclusivos. Estes incluem exames radiológicos, reações sorológicas, exames microbiológicos, o exame hematológico e, eventualmen- te, o aspirado de medula óssea. A biópsia de medula óssea deve ser realizada somente após a realização desses exames. CAUSAS DE LINFONODOMEGALIA Os linfonodos são estruturas de defesa e contêm, basi- camente, linfócitos e macrófagos, que são células essenciais dos fenômenos de imunidade celular e humoral. Os linfo- nodos são os locais onde ocorrem a maior parte da intera- ções entre as células do sistema imunológico e os antígenos. Os antígenos são fagocitados pelos macrófagos e nos pro- teassomos são transformados em fragmentos menores, que migram para a superfície da membrana; em interação com as moléculas HLA classe I, são apresentados aos linfócitos T e B existentes nas suas proximidades, nos gânglios. As- sim, uma das causas mais frequentes de linfadenomegalia é a determinada pela hiperplasia reacional linfoide e macrofá- gica associada a infecções, em que o micro-organismo pode ou não estar presente no gânglio. Além disso, pode ocorrer hiperplasia linfoide associada às doenças autoimunes, rea- ções a drogas e à deposição de imunocomplexos. Nessas hiperplasias, a arquitetura do gânglio linfático é preservada. Por outro lado, o depósito de substâncias em macrófagos, como ocorre nas lipidoses e na amiloidose, também deter- mina o aumento do gânglio linfático, embora a espleno- megalia seja o sinal clínico mais evidente. A infiltração por células neoplásicas hematopoéticas, como ocorre nas leu- cemias e linfomas ou na invasão por metástases, também constitui um mecanismo importante. Finalmente, existem doenças de causas desconhecidas que apresentam linfade- nomegalia proeminente. A Tabela 10.2 lista as causas mais comuns de linfadenomegalia. Reacionais: infecções Infecções causadas por diferentes micro-organismos podem causar linfadenomegalia, geralmente acompanha- da de febre. O aumento ganglionar pode ser localizado ou generalizado, e a sua duração pode ser prolongada, como acontece na tuberculose e na paracoccidioidomicose, ou curta, como observado na maioria das viroses. O micro- -organismo pode estar presente no gânglio, como na tuber- culose e na paracoccidioidomicose, ou o aumento pode ser consequência da resposta imune, sem a presença do agente causal, como ocorre na Aids, na sífilis secundária, e na mo- nonucleose infecciosa. Os exames clínico e hematológico conduzem, na maioria dos casos, à hipótese diagnóstica, que deve ser confirmada por exames de imagem e de rea- ções sorológicas específicas. Raramente a biópsia do gân- glio é necessária e, quando efetuada, mostra a preservação da estrutura do órgão. Não infecciosas ou inflamatórias Os gânglios podem aumentar em doenças autoimunes, em reações de hipersensibilidade a drogas, em que o exem- plo mais comum é o hidantoinato (mas também agentes antitireoidianos e isoniazida), e em doenças inflamatórias, como a sarcoidose. O aumento de gânglios é observado em 50% dos casos de lúpus eritematoso sistêmico durante a sua evolução, em- bora no início da doença seja detectado em menos de 10% dos pacientes. Na síndrome de Felty, a artrite reumatoide é acompanhada de esplenomegalia, neutropenia e linfoade- nopatia. Na síndrome de Sjögren, os sintomas decorren- tes da infiltração das glândulas salivares e lacrimais podem estar associados ao aparecimento de agregados linfoides extraglandulares, denominados pseudolinfomas, que têm curso benigno. O diagnóstico de hipersensibilidade ao hi- dantoinato é fácil de ser feito, bastando a observação do comportamento da linfadenomegalia após a retirada do medicamento. A sarcoidose é uma doença de adultos jo- vens, que envolve múltiplos órgãos como os pulmões, a pele, os olhos e o sistema nervoso. O achado de adenopatia hilar simétrica em um paciente assintomático é sugestivo da doença; os gânglios superficiais são normais.
  • 5. 79Capítulo 10  O Paciente com Linfonodomegalia Tabela 10.2 Causas de linfonodomegalia. Reacionais Infecciosas (hiperplasia linfoide ou de macrófagos)* 1. Bacterianas: estreptococos, estafilococos, Brucella, tularemia, Listeria, Pasteurella pestis, Haemophilus ducreyi, sífilis, leptospirose a) Aumento dos gânglios em áreas de drenagem: furúnculos, infecção da cavidade oral, cancro sifilítico b) Aumento generalizado: septicemia, endocardite bacteriana 2. Virais: CMV, Epstein-Barr (mononucleose infecciosa), varicela zoster, rubéola, HIV, hepatite A, vaccinia, sarampo 3. Fungos: histoplasmose, paracoccidioidomicose 4. Micobactérias: tuberculose, lepra 5. Clamídia: linfogranuloma venéreo 6. Parasitas: toxoplasmose, calazar, filaríase Não infecciosas e inflamatórias Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, dermatomiosite, tireoidite de Hashimoto), reação a drogas (hidantoinato), sarcoidose Doenças neoplásicas 1. Metástases carcinomatosas: mama, pulmão, rins, próstata, melanoma, cabeça e pescoço, trato gastrointestinal, tumores de células germinativas 2. Doenças hematológicas  Linfomas  Doença de Hodgkin  Linfomas não Hodgkin  Leucemias  Agudas: linfoides e mieloides  Crônicas: • linfoides: leucemia linfocítica crônica, tricocitoleucemia, leucemia prolinfocítica T • mieloide: leucemia mieloide crônica em transformação Infiltrativas não neoplásicas: doença de Gaucher, Niemann-Pick, amiloidose Doenças de causas desconhecidas com linfoadenopatia proeminente Histiocitoses Linfoadenite dermatopática Doença de Kikuchi Síndrome de Kawasaki * Pode haver ou não infecção no linfonodo. Doenças neoplásicas – metástases O envolvimento de linfonodos regionais por células tu- morais é bastante frequente em alguns carcinomas e em outros tumores. A extensão desse comprometimento cons- titui um dos elementos do estadiamento, e tem importância prognóstica. A retirada cirúrgica dos gânglios compro- metidos tem pouco impacto na sobrevida, embora tenha importância no controle local da doença. Os gânglios têm consistência endurecida, não são dolorosos, e são aderentes a planos profundos e a outros gânglios. Os tumores que mais frequentemente infiltram os gânglios são os carcino- mas de mama (gânglios axilares), pulmão (mediastinal, hilar, supraclavicular), rins, próstata (abdominais e retroperito- neais), cabeça e pescoço (cervicais, geralmente unilaterais), e os do trato gastrointestinal (supraclavicular, o gânglio de Virchow). O melanoma, tumores de células germinativas (retroperitoneais e abdominais) e o neuroblastoma também podem infiltrar os gânglios. Muitas vezes os gânglios são comprometidos mesmo antes de a localização do tumor primário ser conhecida. As- sim, a infiltração pelo melanoma pode ocorrer em qualquer região, antes do diagnóstico da lesão de pele. Linfadeno- megalia cervical pode aparecer antes do reconhecimento de um tumor do trato aéreo-digestivo. Comprometimento de gânglios supraclaviculares estão associados a adenocar- cinoma de pulmão, mama ou trato gastrointestinal (mais comumente à esquerda). Metástases de adenocarcinoma em gânglios axilares unilaterais geralmente originam-se na
  • 6. 80 Tratado de Hematologia mama, em mulheres, ou no pulmão, em ambos os sexos. Adenopatia inguinal isolada sugere metástase de adeno- carcinoma ou carcinoma de células escamosas de genitália, pele dos membros inferiores ou estruturas anorretais. Doenças hematológicas A linfadenomegalia é um dos achados clínicos mais comum em pacientes com doenças hematológicas, e a sua associação ou não com a esplenomegalia constitui um ele- mento clínico importante para o diagnóstico (ver Tabela 2 do Capítulo 9, “O paciente com esplenomegalia”). Assim, na doença de Hodgkin, o enfartamento ganglionar inicial é supradiafragmático, geralmente cervical, em mais de 80% dos casos. Com a progressão da doença, outras cadeias são comprometidas e o estadiamento leva em conta a extensão desse comprometimento. Nos linfomas não Hodgkin, a linfadenopatia é também o achado mais característico. O comprometimento da cadeia cervical ocorre em aproxi- madamente 50% dos casos. Nos linfomas de baixo grau proliferativo, a linfadenopatia pode ser localizada ou gene- ralizada e as cadeias retroperitoneais, mesentéricas e pél- vicas podem estar comprometidas. Nos linfomas de grau intermediário ou de alto grau proliferativo, a linfadenopatia pode ocorrer de forma isolada ou associada a comprometi- mento extranodal (pele e gastrointestinal). Nas leucemias agudas ocorre infiltração dos gânglios com o consequente aumento dos mesmos. Na leucemia linfoi- de aguda, a adenomegalia é encontrada em 75% dos pacientes, enquanto nas leucemias mieloides agudas ela é rara. Na leu- cemia linfoide crônica o aumento de gânglios, geralmente generalizado, é observado em 70% dos casos ao diagnóstico. A maioria dos pacientes é assintomática e o diagnóstico ocorre em um exame de rotina. Os gânglios são geralmente pequenos, mas podem ser muito volumosos. Nas duas situações eles têm consistência normal, sendo móveis e indolores. Na tricoleu- cemia, a linfadenomegalia periférica é rara e, quando presente, os gânglios são pequenos; entretanto, linfadenopatia abdominal pode ser encontrada. Na leucemia prolinfocítica T, a ade- nomegalia é encontrada em 50% dos casos; na prolinfocítica B, a adenomegalia é rara, ao contrário da esplenomegalia, que é característica da doença. Na leucemia mielocítica crônica, a adenomegalia é rara na forma crônica da doença e o seu apa- recimento está associado com a mudança para a fase acelerada. Doenças infiltrativas não neoplásicas Esse grupo é constituído por doenças em que o aumento dos gânglios é determinado pelo acúmulo de substâncias nos macrófagos. A amiloidose é caracterizada pela deposição de substância amiloide em vários órgãos, incluindo os linfono- dos. Muitas vezes a adenomegalia, que não é dolorosa, poden- do ser difusa ou localizada, é a manifestação inicial da doença. O diagnóstico é feito em material de biópsia, que revela a de- posição de material fibrilar. A doença de Gaucher é causada pela deficiência da atividade de uma hidrolase lisossomal que resulta na deposição de glicocerebrosídeos nos macrófagos do baço, do fígado, da medula óssea e dos gânglios. O achado do exame físico mais comum é a esplenomegalia; o enfarta- mento ganglionar é menos comum e nunca aparece isolada- mente. Na doença de Niemann-Pick existe um acúmulo de esfingomielina e colesterol nos macrófagos, que resulta em hepatoesplenomegalia e enfartamento ganglionar moderado. Doenças de etiologia desconhecida com linfoadenopatia proeminente Existem doenças, relativamente raras, em que a linfoa- denopatia é proeminente, mas a etiologia é desconhecida, embora algumas possam ser consideradas pré-malignas. A síndrome de Kawasaki é uma doença de crianças e adultos jovens caracterizada pela presença de conjuntivite, le- sões cutâneas e febre. A linfadenomegalia aparece em 75% dos casos, localiza-se na região cervical, e é usualmente unilateral. As histiocitoses são caracterizadas pela proliferação de histiócitos, que podem ser normais ou malignos, e linfade- nopatia proeminente, que pode ser localizada ou generaliza- da. O comprometimento cutâneo ocorre frequentemente. Elas podem ser divididas nas histiocitoses em que as células envolvidas são os histiócitos de Langerhans, denominadas histiocitoses X (de etiologia desconhecida), e aquelas em que as células são histiócitos não Langerhans. Na histio- citose X temos o granuloma eosinofílico, a síndrome de Hand-Schüller-Christian, e a doença de Letterer-Siwe. No segundo grupo incluem-se a linfo-histiocitose eritrofagocí- tica familiar, a síndrome hemofagocítica associada a infec- ções, a histiocitose sinusal (Rosai Dorfman), a histiocitose maligna, a linfoadenite histiocítica necrotizante (doença de Kikuchi) e a granulomatose linfomatoide. 1. Asano S. Granulomatous lymphadenitis. J Clin Exp Hematop. 2012;52:1-16. 2. Davenport M. ABC of general surgery in children. Lumps and swellings of the head and neck. BMJ. 1996;312:368-71. 3. Dickson PV, Davidoff AM. Malignant neoplasms of the head and neck. Sem Pediat Surg. 2006;15:92-8. 4. Freedman A. Follicular lymphoma: 2012 update on diagnosis and management. Am J Hematol. 2012;87:988-95. 5. Sekine T, Amano Y, Hidaka F, Takagi R, Machida T, Naito Z, et al. Hepatosplenic and muscular sarcoidosis: characteri- zation with MR imaging. Magn Reson Med Sci. 2012;11:83-9. 6. Shankland KR, Armitage JO, Hancock BW. Non-Hodgkin lymphoma. Lancet. 2012;380:848-57. 7. Townsend W, Linch D. Hodgkin’s lymphoma in adults. Lancet. 2012;380:836-47. REFERÊNCIAS CONSULTADAS