1. As dimensões humanas da
conservação biológica:
As ciências sociais em conservação
USP
Carla Morsello
CONBIO
2. Por que dimensões humanas?
Fundamentação científica:
◦ Teoria da Escolha Racional
◦ Problemas na racionalidade
Heurísticas
Vieses
Teoria do Processo Dual
Teorias da Psicologia.
Plano de aula
5. Perda de biodiversidade tem origem
antrópica solução passa por mudar
comportamento humano.
Gestão da conservação lidar com
humanos (como?)
◦ Gestão interna: das relações na própria
instituição e pessoal (e.g., “raiva” de quem
tem valores diferentes).
◦ Gestão externa: com outras organizações
Comunicar com o público e apoio.
Relevância
6. Conflitos: criação
de UC, ataques de
fauna
Envolvimento dos
atores em projetos
Maior participação:
monitoramento
(cientista cidadão)
Até que ponto
“conscientizar”
serve?
Exemplos de
situações em
que é
necessário
entender as
dimensões
humanas
necessário
7. Passos em que a dimensão humana é
relevante para a Conservação Biológica
Ameaças/i
mpactos
Planejamento
das ações de
conservação
Implementação
das ações
Monitoramento
das ações
Restauração
8. Complexo, multifacetado e variável
segundo a situação, contexto ambiental,
contexto social e aspectos relacionados
ao indivíduo (e.g., valores, atitudes, etc).
Muitos fatores afetam se e quando
indivíduos realizam comportamentos.
Senso comum nem sempre está correto:
◦ Por exemplo: Conhecimento muda
atitudes muda comportamento? Não!
O comportamento humano é
complexo e variável
9. Parte da premissa que informar sobre o
problema leva a mudança em atitudes
que mudam ação: sqn!
Exs mostram que nem sempre ocorre:
A falácia da conscientização
◦ Pessoas fumam
◦ Comem muito chocolate
◦ Ambientalistas comem
carne, andam de carro e
alguns nem reciclam o
próprio lixo!
10. Tipo de informação: por ex., reciclagem
◦ Informar onde levar o lixo (procedimento) para
alguém que quer reciclar
◦ Informações gerais: não reciclar o lixo causa
problemas ao ambiente
Mas pode não ser suficiente: outras estratégias
(e.g., marketing social), baseadas em
conhecimento científico, podem ajudar:
◦ Por exemplo, assumir compromisso público: assinar
termo, colar adesivo em casa, broche etc.
Efeitos variam
12. Teoria
Nas Ciências Sociais, estas teorias
◦ Explicam o comportamento humano e quais
fatores o afetam.
◦ Com isso, ajudam a entender, prever e
delinear estratégias influenciar esse
comportamento.
Teoria:
Explicação de como ou porque algo
ocorre em diferentes situações.
13. Maior parte dos trabalhos,
quase toda a Economia partem
de uma teoria:
Teoria de Escolha Racional
14. Teoria da escolha racional
Decisões são resultado de ponderação de
custos e benefícios a partir de preferências
estáveis (sempre as mesmas, independente
do contexto)
Custos e ganhos: dinheiro, felicidade, tempo
Assume:
◦ Onisciência:
Conhecimento completo
◦ Onipotência:
Capacidade de calcular e
comparar retornos (otimização)
Custos Benefícios
16. Adotam incentivos indiretos?
Incentivos
Indiretos
• Estabelecer objetivo
(“utilidade”): tempo
dinheiro, felicidade.
• Computar os custos e
benefícios para cada
conjunto de atividades.
• Calcular as probabilidades
de ocorrência de cada.
• Prever o retorno líquido a
partir de tal escolha.
• Tomar a decisão.
18. Contrapõe aTeoria da Escolha Racional
Explica como as nossas decisões partem
de dois sistemas de pensamento
distintos, com características diversas
Esses sistemas têm base biológica
(neurológica).
Teoria do Sistema Dual
20. A existência desses dois sistemas
explica porque o nosso
comportamento não pode ser sempre
explicado pela lógica da escolha
racional.
Formulação partiu de evidências
empíricas de experimentos que
mostram limitações cognitivias e
vieses sistemáticos (desvios não
aleatórios) ao esperado pela
racionalidade.
22. Pessoas não possuem todo o
conhecimento e capacidade
para tomar decisões
(otimizar).
◦ Ex.: computar todos os custos e
retornos para, por ex., explicar
qual conjunto de atividades um
grupo indígena escolhe.
Tempo de tomada de decisão
é restrito:
◦ Caçar: computa tudo antes de
fazê-lo? Sim/ não no máximo
(vale ou não a munição).
Limitações
cognitivas
Conhecimento
e capacidades
computacionais
limitadas
Tempo é
restrito
23. Racionalidade é limitada:
Satisfação e heurísticas de decisão
Satisfação:
◦ Determina um
nível de satisfação
(ex: dinheiro,
comida, felicidade)
e decide baseado
nisso escolha
para quando nível
de satisfação é
alcançado( não
otimiza).
Heurísticas rápidas e
frugais:
◦ estratégias que
ignoram parte da
informação para tornar
a escolha mais fácil e
rápida
◦ Passos: 1) Procura ativa
(alternativas), 2) Para (busca é
difícil), 3) decide com o que tem
(Simon, 1950’s) (Gigerenzer eTood, 2000)
24. Qual cidade dos EUA dentre
essas duas tem maior população:
San Francisco ou San Antonio?
Exemplo de heurística
25. Mesma pergunta comparando
dois grupos
Americanos Alemães
San
Francisco
66% 100%
San
Antonio 33% 0%
Menos
conhecimento e
maior taxa de
acerto.
Por que?
26. Heurística do reconhecimento:
a mais simples
Quando se faz uma escolha entre duas
alternativas: coloca-se valor maior
naquela conhecida e não no melhor
resultado; repetem-se escolhas prévias.
◦ Evolutivamente foi selecionada por busca de
alimentos, enfrentamento de perigos?
Outras heurísticas:
◦ Mirar, olho por olho (cooperação), escolher a
última, etc.
29. Decisões podem ser irracionais, mas são
previsíveis desvios são sistemáticos
(não aleatórios), i.e. pessoas tendem a
fazer o mesmo (evolução?) seguem
heurísticas comuns.
Vieses
30. Viés de compromisso
Experimentos como
incentivar reuso de
toalhas em hotéis:
◦ Só mensagem no quarto
◦ Compromisso assinado
Associado a de normas
sociais
◦ + broche
◦ + o que os outros fazem
70% fazem tal
31. Viés de compromisso
Com compromisso assinado ou sabendo
que os outros fazem, pessoas
cumprem mais. Um exemplo de
resultado.
Número de
toalhas
penduradas
32. Viés de default (padrão)
Pessoas tendem a
seguir o que já
está 2 lados.
Doações na área
de conservação
Com valor fixo:
pessoas doam
mais do que se
escolherem.
36. Exemplos:
◦ Comportamento Planejado: vários
assuntos
◦ Valor-Crença-Norma: apoio a causas
e movimentos públicos (ambiental)
◦ “Motivation crowding”:
voluntarismo (PSA)
◦ Dissonância cognitiva: ambientalista
come carne, toma banho longo
justifica (eu!!) ou muda
◦ Normas sociais: efeito do que o
grupo faz os outros conservam:
eu também!
Muitas outras...
Muitas teorias
que variam
nos
conceitos,
adequação a
situações
39. Valores
Estados desejáveis,
modos de conduta
ou qualidades da
vida que indivíduos
ou grupos
consideram
desejáveis.
Constructos mentais
gerais e não
específicos
Ex.Valor da vida,
honestidade.
Formam-se cedo na
vida e são poucos.
Difíceis de mudar.
40. Conservação das
espécies é importante
porque todas têm direito
de existir.
Altruísta ou mutualista
Conservação das
espécies é importante
para manter recursos
para humanos.
Utilitarista
Valores afetam estratégias de
conservação
41. Crenças
Aspecto cognitivo
(consciente) sobre
a probabilidade
que um objeto ou
evento está
associado a um
atributo
Assume que algo
é correto/verade
ou não
São contextuais e
nascem da
experiência e
cultura
Precedem
comportamento
43. Atitudes
Avaliação positiva
de um objeto,
situação, espécie.
Não é ação!
◦ Diferente de
linguagem
coloquial
São específicas:
ex. espécie e
matar a espécie
Importante pois
precedem e
explicam
comportamento
Podem ser
mudadas
educação,
conscientização
etc miram nelas.
44. Atitudes: Carisma e investimentos
de conservação:
Nível de ameaça ou carisma explicam
investimentos?
Traços juvenis
Traços humanos
Tamanho Atratividade
45. $
Investimentos na conservação de aves
por OSCIPS no Brasil
45,6%
(Fonte:
Reisfeld
e
Morsello,ñ
publ.)
Criticamente
ameaçada
Vulnerável
16,5%
Tamanho
46. A espécie já se foi...
e contexto é ainda
mesmo.
Vale à pena reintroduzir?
Onde?
Outro exemplo
47. Atitudes positivas = probabilidade de
apoio à reintrodução de ursos
Resultados para amostra de questionários enviados por
correio por subgrupo: probabilidade de sucesso a partir
de atitudes dos moradores,importância, risco) etc.
(Fonte: Bowman et al., 2004)
49. Normas
Frequentemente,
associadas a sanções
e punições para
encorajar
comportamentos:
◦ Olhar atravessado,
outros piores.
Variam em força nos
indivíduos do grupo
Conceito varia um
pouco em teorias
diferentes.
Descritivas:
◦ O que as pessoas
estão fazendo/
fazem.
Injuntivas:
◦ O que as pessoas
devem fazer.
50. Norma social gera redes de
transferência espontânea de recursos
na RESEX Médio Juruá
(Fonte: Rizek,Vicente e Morsello, em prep.)
Com mercado
de PFNMs
Sem mercado de
PFNMs
Caça
Caça
51. Uma das teorias mais abrangentes e
adotadas na área ambiental que combina
em um framework como os conceitos
centrais da Psicologia estão associados /
determinam o comportamento humano.
Exemplo de teoria e de como serve a
avaliar os determinantes de um
comportamento na prática.
A Teoria do Comportamento
Planejado de Ajzen
52. Crença sobre
o
comporta-
mento
Atitudes para
com o
comporta-
mento
Crença sobre
as normas
relativas ao
comporta-
mento
Normas
subjetivas
Percepção
sobre
o controle do
comporta-
mento
Controle
comporta-
mental
percebido
Intenção
comportamental
Comporta-
mento
Controle
comportamental
real
Modelo de
Ajzen
53. Exemplo: Predação de onças por
conflito de ataque a gado
?
(Marchini e MacDonald, 2012)
54. Diferentes contextos sociais
Amazônia Pantanal
Resultados de Modelos Lineares Gerais (i.e., GLM). Comparação de série de
modelos estruturados escolhidos a priori.
(Marchini e MacDonald, 2012)
55. Conclusões
Dimensões humanas são essenciais a
todas as fases da conservação:
◦ Delinear estratégias, entender próprio
comportamento, criar “empurrões” benéficos
etc.
Avaliação a partir de diferentes modelos
teóricos, que avançam de premissas
somente racionais (contribuições da
Psiciologia). Momentos diferentes do
processo
Ganhar pessoas para a causa!!
56. Referências
Ávila, F.; Bianchi, A. M. (Ed.). (2015)Guia de Economia comportamental
e experimental. São Paulo: Economia Comportamental.
Baca-Motes, Katie, Amber Brown, Ayelet Gneezy, ElizabethA Keenan,
and Leif D Nelson. 2012. Commitment and behavior change: Evidence
from the field Journal of Consumer Research 39 (5):1070-1084
Becker, Gary Stanley. (1993). ATreatise on the Family. Cambridge,
Massachusetts: Harvard University Press.
Bowman, J.L., Leopold, B.D.,Vilella, F.J., Gill, D.A., Decker, 2004. A
spatially explicit model, derived from demographic variables, to predict
attitutes toward black bear restoration. Journal of Wildlife Management
68, 223-232.
Gigerenzer,G.;Todd, P. M. e ABC Research Group. (2000). Simple
Heuristics that Make Us Smart. Oxford: Oxford University Press.
Kahneman, D.; Egan, P. (2011). Thinking, fast and slow. NewYork: Farrar,
Straus and Giroux.
Marchini, S., Macdonald, D.W., 2012. Predicting ranchers’ intention to kill
jaguars: Case studies in Amazonia and Pantanal. BiologicalConservation
147, 213-221.
57. Referências
Reisfeld,A.; Morsello, C.2010. Conservação de Aves no Brasil: estudo da
compatibilidade entre os investimentos em conservação Estudo da
Compatibilidade entre os investimentos em conservação de aves no
Brasil e os níveis de ameaça das espécies. Não publicado.
Rizek, M. B.; Brites,A. D., Morsello,C. Does increased market exposure
affets cooperation networks and increase vulnerability? Em preparação.
Shepard Jr, G.H., Levi,T., Neves, E.G., Peres, C.A.,Yu, D.W., 2012. Hunting
in Ancient and Modern Amazonia: Rethinking Sustainability.American
Anthropologist 114, 652-667.
Simon, Herbert A. 1955. A Behavioral Model of Rational Choice. The
Quarterly Journal of Economics 69 (1):99-118.
Stern, M. J. (2018). Social ScienceTheory for Environmental
Sustainability: A Practical Guide. Oxford University Press.
Thaler, R. H.; Sunstein, C. (2008). Nudge: Improving decisions about
health, wealth, and happiness. New Haven, CT:Yale University Press.
Todd, P. M.; Gigerenzer,G. (2012). Ecological rationality: Intelligence in
the world. OUP USA.