(1) Uma professora pioneira chamada Adelaide Escobar Bueno ensinou em Osasco no início do século XX, ministrando aulas em sua própria casa e dedicando sua vida à educação das crianças da região. (2) Ela fundou a primeira escola pública da cidade e dedicou-se à profissão mesmo depois de se casar e ter 12 filhos. (3) Sua dedicação e rigor no trabalho deixaram uma marca duradoura e ela é lembrada como uma figura exemplar de sua época.
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A pioneira do ensino público em Osasco
1. (ARTIGO PUBLICADO EM JORNAL DE OSASCO)
Adelaide Escobar Bueno: uma pioneira do ensino público
Sonia Regina Martim
Ao realizar pesquisa sobre a história das escolas em Osasco, passei longas horas,
dias, semanas e meses convivendo com as dificuldades, surpresas e ácaros que habitam as
infinitas latas (latas – literalmente) que compõem o acervo do Arquivo do Estado de São
Paulo.
Uma pesquisa histórica é o tipo de trabalho altamente desafiante: algumas vezes
revela-se uma tarefa árida e inglória;
em outros momentos é maravilhosa e gratificante, pois enquanto passamos semanas a ler (e
desvendar) papéis antigos -- e, no meu caso, a sofrer com as alergias decorrentes da
convivência com os microrganismos inquilinos típicos dos papéis envelhecidos -- sem
descobrir uma única linha que nos conte algo acerca do que buscamos, é indescritível a
satisfação que sentimos quando finalmente começamos a ler papéis escritos há um século
falando de coisas do cotidiano das pessoas que viveram aqui e aqui fizeram a história da
nossa cidade.
Ter a posse de um documento escrito à mão, contando fatos banais da rotina de uma
escola, por exemplo, é uma experiência magnífica, pois constatamos que durante um século
esse papel esteve guardado sem que ninguém lhe atribuísse maior significado. É uma
experiência que revela ao pesquisador um sentimento de felicidade por perceber que em
suas mãos ele passa a ter sentido e importância, a argamassa fundamental para a
reconstrução de uma história, a nossa história, a história da nossa gente, a história de onde
nascemos e vivemos.
Tive o prazer de desfrutar dessa sensação ao encontrar alguns livros que tratam da
rotina escolar da “Escola Preliminar Mista da Estação de Osasco” (de 1900 a 1906), da
“Escola Preliminar – Seção Masculina – da Estação de Osasco” (de 1907 a 1909) e da
“Escola Preliminar – Seção Feminina – da Estação de Osasco” (de 1907 a 1910).
É incrível como pequenas coisas nos revelam tanto sobre o passado.
Ao remexer esses livros, por exemplo, comecei a conhecer em meu imaginário a
professora Adelaide Escobar Bueno, a primeira professora pública a vir para Osasco ainda
em 1900 e que chegou a ministrar aulas em sua própria casa. Como seria essa mulher que
por quase oito anos lecionou, viveu e registrou o cotidiano da vila que se formava em torno
da estação de Osasco? Como era a vida de seus alunos? Nesses livros estabelecemos um
contato virtual (e quase ficcional) com os primeiros Colino, Spitalete, Pavão, Dias, Esteves,
Genta, Brito, Rovai, Sá, Belli, Fabri, Fiorita, Gianette, Marchetti, Orse, Michelli, Pignatari,
Negri, Stersa, Tamaro, Crê, Curtarelo, Durigon, Delanina e tantos outros que aqui chegaram
e ajudaram a construir nossa cidade.
Movida por essa curiosidade comecei a procurar saber mais sobre a professora
Adelaide, quando o, então diretor do Departamento de Planejamento e Urbanismo, Ângelo
Melli me informou que em Osasco havia uma rua com esse nome. Busquei o processo de
denominação, datado de 1968, ainda no mandato do então prefeito Guaçu Piteri, e tive
contato com um pequeno histórico da vida dessa professora.
Mas ainda era pouco, fui buscar contato com familiares dela, a partir da informação de
que um de seus filhos havia se tornado Delegado de Ensino em Santo André, no final dos
2. anos 60, mas nada consegui nos registros escolares daquele município. Após algumas
tentativas frustradas, fui procurar na lista telefônica todos os “Escobares Buenos” possíveis.
E, depois de tantos enganos e desenganos, acabei por descobri-los. Por outro lado, estive
em contato com o jornalista do “Diário do Grande ABC” Ademir Médici, especialista em
história de famílias da região do ABC (e que publicou um artigo onde divulga a minha
pesquisa), conseguindo, assim, preciosa colaboração nessa busca.
E dessa forma, pude conhecer um pouco mais essa extraordinária mulher que
orientou e ajudou a formar os primeiros homens e mulheres de nossa Osasco.
Nascida em São José dos Campos, em 1873, Adelaide Escobar mudou-se para São
Paulo e estudou no antigo Instituto Americano (atual Mackenzie) de orientação protestante, o
que provavelmente ajudou a formar seu caráter rígido, severo e trabalhador.
Aos dezessete anos casou-se com João G. Bueno de tradicional família bandeirante
de São Paulo e em 1891 teve a sua primeira Filha, Adelaide Escobar Bueno Filha, que viria a
concluir seus estudos primários na Escola Preliminar Mista da Estação de Osasco em 1902.
Logo percebe que tem de ajudar nas despesas da casa e já casada e com filho volta
para a escola e vai cursar a “Escola Normal de São Paulo” (posterior Caetano de Campos)
na Praça da República. Formou-se em 1895, quando já era mãe de 4 filhos, sendo que uma
de suas filhas (Maria Eleutério) nasceu um pouco antes da sua formatura.
Em 1896, recém formada, mudou-se para Amparo, no interior do Estado, indo lecionar
no Grupo Escolar “Luiz Leite”.
No final de 1900 consegue transferência para uma localidade mais perto de São Paulo
e vem lecionar em Osasco, que já conta com os benefícios trazidos com a construção de
uma estação de trem, patrocinada por Antonio Agu e que por isso leva o nome da sua cidade
natal na Itália.
No princípio as aulas eram ministradas na casa da professora, que ficava na Rua da
Estação e somente em 1901 a escola passou a funcionar em uma sala destinada para esse
fim.
Entre 1900 e 1906 ela foi a única professora na Escola Preliminar mista da Estação de
Osasco. Em 1907 a escola que agora já tinha 88 alunos, se divide em duas: a Escola
Preliminar da Estação de Osasco – Secção Feminina, onde a professora Adelaide
continuava dando aulas para 50 meninas e a Secção Masculina, que passa a ter aulas com o
professor Ataliba José de Campos, com 38 alunos.
Adelaide teve três filhos nascidos em Osasco – Carlos, Joaquim e Constança, sendo
que esta última aos 94 anos de idade, ainda vive e com quem tive a feliz oportunidade de
conversar longamente, ao lado de familiares que me contaram muitas histórias da pioneira
professora.
É curioso como as coisas acontecem, o interesse por essa história surgiu ao ler os
livros sempre corretamente preenchidos pela professora, onde era perceptível a dedicação e
o rigor que ela empreendia nas coisas que fazia. Essas impressões foram confirmadas com o
contato com a família.
Ao deixar Osasco em 1907, a professora foi morar no Brás e diariamente tomava o
trem para lecionar na Estação de Pilar, hoje município de Mauá. Conta a família que em
função dos 12 filhos que teve, ela carregava os menores consigo, já que tinha sempre algum
que precisava amamentar. Mas nunca faltava ao compromisso assumido com o seu trabalho.
Foi uma pioneira da região que hoje forma a grande São Paulo.
Dizem os que a conheceram que apesar da retidão e do dever acima de tudo, sempre
levou compreensão, amizade e bondade aos seus alunos, sendo muito querida por eles.
Adelaide Escobar aposentou-se no extinto Grupo escolar “Júlio Ribeiro”, no Bexiga e
formou quase todos dos seus 12 filhos.
3. Como mãe e trabalhadora, ela foi um exemplo, sobretudo numa época onde não havia
leis trabalhistas que protegiam a mulher.
Grande personagem, a vida de Adelaide ensinou-me um pouco sobre a história de
Osasco. No entanto, ficam algumas lacunas que, mesmo com todo o meu empenho, não
consegui preencher. Onde funcionaram essas escolas: a Preliminar Mista e as posteriores
Secção Feminina e Secção Masculina que existiram até 1922, quando foram transformadas
em “Escolas Reunidas” e passaram a funcionar na Rua Primitiva Vianco?
Há indícios de que a Secção Feminina ficava na Rua André Rovai e a Masculina na
Rua Antonio Agu, mas são somente possibilidades. Por isso, aproveito este espaço para
pedir ajuda e solicitar àqueles que tiverem informações desta natureza, bem como de
quaisquer outras informações e documentos que julguem úteis para o resgate da história de
Osasco, nos enviem para Rua Alice Manholer Piteri, 82 – apto 83 – Bela Vista – CEP: 06018-
160, aos cuidados de Sonia Regina Martim.
Vamos formar uma corrente para evitar que a nossa história se perca, pois somente
um povo que conhece o seu passado, pode construir o seu futuro.