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Elton Frias Zanoni
história e memória de Salto
Leituras da cidadeLeituras da cidade
e s p a ç o
idea
editora
Copyright By 2012 Elton Frias Zanoni.
Todos os direitos reservados a Elton Frias Zanoni.
www.eltonzanoni.com
Preparação de textos: Priscila Ramos de Oliveira.
Revisores de textos: Jorge Cotrin e Alexandre Ricardo da Cunha.
Diagramação: Sebastião Pereira Marques.
Direção de arte: Antônio Victório.
Entrevistas: Eraldo Miranda e Tiago Araújo.
Suplemento pedagógico: Cristiani Freitas.
Fotografia panorâmica: Adriano Ávila.
Fotografia de capa: Início da Rua Nove de Julho, antiga Rua de Campinas, 1940 (coleção Ettore Liberalesso).
Catalogação: Rita Larroudé (crb-8/1993).
Coordenação de Projeto: Patricia Ramos de Oliveira.
Direção pedagógica: Eraldo Miranda.
Chefia editorial: Mauricio Araújo Miranda.
Obra em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Este livro não é comercializado pela Editora Espaço Idea. A tiragem completa impressa é limitada a quantidade de professores e profissionais da
Secretaria Municipal de Educação de Salto, envolvidas no Projeto Meu Primeiro Livro, “Salto, histórias de que posso me orgulhar”. A distribuição
dos livros é de responsabilidade da Prefeitura da Estância Turística de Salto.
| Fevereiro/2012 | Editora Espaço Idea | www.projetomeuprimeirolivro.com.br |
| www.editoraespacoidea.com.br |
O94 Zanoni, Elton Frias,
a
Leiturasdacidade.Históriae memória de Salto– Guarulhos/SP:EditoraEspaçoIdea.1 ed. 2012.
p.--(ProjetoMeu Primeiro Livro:Salto,históriasde que possome orgulhar)
ISBN:978-85-8107-007-0
1. Salto (SP) – história 2. Memórias. 3. Educação. Festas populares. 4. Saúde. 4. Cultura. Imigração. 5.
Salto(SP) –(Cultura)I.FriasZanoni, Elton. II.Título III.Série.
CDD 981.61
Índice para catálogo sistemático:
1. Salto (SP) – história 981.61
2. História – Salto (SP) 981.61
Projeto Meu Primeiro Livro
Uma lenda, um causo, uma história são para ser jogados aos ventos; soprados pela pluralidade
inquieta das bocas que vêm e vão, pelos caminhos curtos e longos do dia a dia do homem. E neste cotidiano de
labores,vitóriasederrotas,umacidadeeumpovo seformam, valorizando seumaior tesouro,suashistórias.
O povo que conta e compartilha suas histórias é o povo solidário com aqueles que estão além de suas
fronteiras,pois sepermiteserconhecidoemarcadona históriauniversal.
Salto cidade formada em idas e vindas. Formada a partir da chegada de homens visionários, que
plantaram seussonhos nestaterrafértilecultivaram aquiumpovo sábio,trabalhador esolidário.
O Projeto Meu Primeiro Livro terá por objetivo resgatar e registrar a história de Salto, pelos olhos dos
educadores, seu presente, e das crianças, seu futuro. E quais histórias serão narradas? Quais fatos serão
descritos? Quais passagens serão lembradas? Sim, serão recordadas as histórias dos antepassados, mas,
também, a história do agora que caminha pela tradição oral do seu povo, que se movimenta no cotidiano da
cidade.
O tema “Salto, histórias de que posso me orgulhar” terá como foco de estudos e pesquisas a conservação das
histórias trocadas, num processo de imortalização das memórias. O educador, o guardião da palavra escrita,
seráa bussolaqueguiaráascriançasnestepercursopreciosoderesgateda memórialocal.
E como o livro é o tombamento da palavra, o que se seguirá nos capítulos desta obra inicial do Projeto,
cedida gentilmente pelo professor Elton Frias Zanoni, pesquisador e estudioso da história de Salto, é um
nortear para as preciosidades de memórias e histórias que serão imortalizadas nos futuros livros que sairão da
boca do povo eterminarão nas escritasdefuturosescritoresda cidade.
Editora Espaço Idea
Apresentação
Os textos reunidos nesta publicação não foram escritos para figurarem num livro. Eles são o
resultado de escritos avulsos publicados em dois jornais saltenses. O primeiro deles, Voz da Cidade, que já não é
mais editado. Foi nele que tive a primeira oportunidade de divulgar minhas pesquisas sobre a história de Salto,
emfinsde2007.
Passados dois anos, comecei a publicar no Taperá – tradicional jornal da cidade – o qual já tinha uma
coluna sobre história local, chamada “Arquivo”, mantida pelo senhor Ettore Liberalesso, que encerrou sua
sequência de 20 anos de artigos e me incumbiu de substituí-lo naquele espaço. Renomeada “História e
Memória”, ainda hoje sigo publicando textos sobre o passado da gente de Salto, embora com frequência
menorquea desejadapor mim.
É importante esclarecer que iniciei estudos e pesquisas históricas sobre Salto, com maior regularidade,
quando passei a trabalhar como historiador do Museu da Cidade, no qual também fui coordenador. Entre
2006 e 2010, por motivações diversas, debrucei-me sobre o material do rico arquivo dessa instituição em busca
deindíciospara estabelecernarrativasqueregistrassemumaparteda histórialocal.
Simultaneamente, o que eu julgava interessante divulgar um pouco mais, tanto da parte dos artigos para
os jornais quanto das pesquisas no âmbito do Museu, eu postava num blog, que acabou sendo o culpado por
este livro, pois foi lá que os editores responsáveis pela publicação encontraram, em suas pesquisas na internet,
o material que casava com os propósitos do Projeto Meu Primeiro Livro, realizado pela Secretaria Municipal
da EducaçãodeSalto,ao qual,agora,estelivroestáligado.
Assim, desejo que esta publicação seja útil aos interesses dos educadores de minha terra natal – na qual
também atuei como professor de História – e que represente o fechamento do meu primeiro ciclo ligado à
cidade de Salto que, por diversas razões e apesar da distância, continuará a merecer meu mais profundo
respeito,interesseeconsideração.
Florianópolis, fevereiro de 2012.
Elton Frias Zanoni
Aos meus pais, João e Rose, que me ensinaram a valorizar a terra
natal e são os grandes mestres da minha vida.
E para Carolina, que além de me proporcionar o prazer do convívio
cotidiano, entende meu interesse pelas coisas saltenses.
SUMÁRIO
Tavares e a fundação de Salto
A segunda imagem da Padroeira
A presença indígena em Salto
Brasital
Escola Anita Garibaldi
O caso Alfredo Rosa
Dr. Viscardi
Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses”
Industriais pioneiros
Imigração italiana e o Buru
Memórias de um professor em Salto
Praça Archimedes Lammoglia
Maestro Castellari
O livro do dr. Randi
Estação Ferroviária de Salto
Sociedade Italiana
Usinas de Lavras e Porto Góes
Colégio Professor Paula Santos
As tradicionais Festas do Salto
Enchentes de 1929 e 1983
História dos cemitérios de Salto
Tancredo do Amaral, a escola e o patrono
Ponte Pênsil e Rua do Porto
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Armazém Popular, o Grande Bazar Saltense
A antiga Rua de Campinas
A presença japonesa em Salto
Epidemia de gripe, 1918
O saltense Anselmo Duarte
Pretti e Lubra, dois pintores saltenses
A vila da Barra e seus bonecões
Monsenhor Couto
Dr. Archimedes Lammoglia
O casal Segabinazzi
Saltense e Guarani
Origem da Igreja de São Benedito
Luiz Castellari
A antiga maternidade
Creche da Brasital
A lenda do tesouro do Salto de Ytu
Ilha dos Amores
Suplemento pedagógico
Referências bibliográficas
Sobre o autor
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Tavares e a fundação de Salto
Considera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte
Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares – então proprietário do sítio
Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio
Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua
mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem
observasseo horizontea partirdaqueleponto teriavistaprivilegiadapara a cachoeira.
O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor
de História de Salto, que empreendeu competente pesquisa decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século
XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, nome dado pelos índios ao
saltono Rio Tietê.
Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua
mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma
forma existente no Brasil colonial para se tornar proprietário de terras. Para assistir à missa aos domingos, na vila de Itu,
Tavares e seus familiares tinham de atravessar o Rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas
margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu
deslocamento.
Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o
autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização
também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje
cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de
junho de1698,o padreFelipedeCampos a benzeu.
Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação
do sítio Cachoeira à Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, recém-fundada, mas impunham algumas condições. Além
da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterada, especificaram que a doação só seria consumada por
falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos
índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se
apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério.
Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não
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existahoje nenhum vestígiomaterial,nemdocumentoescritoquenos dêqualquerindicação.
Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa
primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se
tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos,
em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à
Padroeira.
A segunda imagem da padroeira
Nas últimas décadas do século XVIII, o açúcar constituía a base econômica da região de Itu. Grande parte da
população tinha suas atividades ligadas à produção e ao comércio desse produto. Nas ocasiões de grandes secas, que tantos
prejuízos causavam com incêndios nos canaviais e demais lavouras, a imagem da Nossa Senhora do Monte Serrat era
conduzida em procissão até a Igreja Matriz de Itu, onde ficava até que viessem as primeiras chuvas. Quando isso ocorria, a
imagemerareconduzidaà capeladeonde havia saído,no povoado deSalto deYtu.
Em fins do século XVIII, o padre ituano João Leite Ferraz, senhor muito rico e devotado à Nossa Senhora do Monte
Serrat, encarregou-se de restaurar a capela original a ela dedicada, construída em 1698. Achava ele que a imagem primitiva
que ali se encontrava era “pequena e sem estética”, e por isso desejava substituí-la por outra “majestosa e digna de
admiração”.
Passava-se o ano de 1797, quando o moço de nome Francisco de Paula Leite de Barros se apresentou ao padre
solicitando sua intercessão, já que era seu desejo casar-se com Maria Joaquina de Campos, da qual o padre era tutor e amigo
da família.
Por esse favor, o padre Ferraz achou que o pretendente deveria pagar-lhe em penitências, e para isso disse ao jovem
que fosse até a beira do tanque do Sítio Grande, no bairro do Piraí, e de lá trouxesse um tronco de cedro “de muito boas
águas”.Assimo jovempretendentefez,entregando o troncono largo da MatrizdeItu,após enormesesforços.
Assinatura de Antonio Vieira Tavares, retirada de documento do século XVII.
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Não contente, o padre solicitou ao jovem que buscasse na vila de Parnaíba, atual cidade de Santana de Parnaíba, um
santeiro de fama na época, o mulato cativo de nome Guilherme. Dias depois, o jovem Paula Leite trouxe o santeiro para que
esculpisse a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat. Daquele tronco sairiam ainda, pelas mãos do mesmo artista, duas
outras imagens: São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário, ambas ainda hoje existentes na Matriz da Candelária, em
Itu.Essastrêsimagenseramconhecidascomo “imagensirmãs”,já queforamesculpidasda mesmatoraepelo mesmoartista.
Mais de um século depois, na noite de 18 de janeiro de 1935, um curto-circuito na instalação elétrica da igreja em
reformas, na cidade de Salto, na parte que funcionou como matriz provisória, provocou o incêndio que destruiu a imagem de
Nossa Senhora do Monte Serrat entronizada em 1797. Naquela trágica noite, as chamas já tomavam conta do altar-mor
quando populares tentaram salvar a imagem, sem, contudo, obter sucesso. Na manhã seguinte, após exame pericial da polícia,
foi encontrado entre os escombros um pedaço de madeira carbonizada: era a cabeça da imagem incendiada – que hoje se
encontraexpostano Museuda Cidade.
A presença indígena em Salto
Aárea onde hoje se localiza a cidade de Salto abrigava, ao início da colonização brasileira, aldeamentos dos índios
guaianás (ou guaianazes), do grupo tupi-guarani. Consta que a aldeia aqui localizada chamava-se Paraná-Ytu. Foram esses
índios que deram à cachoeira o nome de Ytu Guaçu, que significa Salto Grande. Assim, fica claro que essa cachoeira acabou
dando nome a duascidades:a Salto (emportuguês)eà vizinha Itu(emtupi-guarani).
Há registros que mencionam o ataque que, em 1532, os indígenas empreenderam contra Martim Afonso de Souza –
primeiro donatário da Capitania de São Vicente. Dentre os líderes guerreiros, menciona-se o cacique de Ytu. Sendo essa
ocorrência de época em que a vila de Itu (fundada em 1610) ainda não existia, acredita-se que seja uma referência ao chefe dos
índios que viviam nas terras da atual Salto. O Museu da Cidade, inclusive, exibe duas igaçabas (urnas funerárias indígenas),
pontas de flecha e outros fragmentos de cerâmica recolhidos nos arredores, que testemunham essa presença. Esses indígenas,
assim como outros das margens do Tietê, foram repelidos ou aprisionados nas investidas das primeiras bandeiras paulistas,
queoslevaram para abastecerdemão-de-obraasroçasnas vilasdo planalto.
Entre os séculos XVI e XVIII, em São Paulo, o número de índios e mamelucos (mestiços de branco e índio) era muito
maior que o de europeus. Inclusive, até meados do século XVIII, predominava entre a população paulista uma língua de base
tupi-guarani, sendo essa língua mais falada que o próprio português. Era o nheengatu ou língua-geral, cujo ensino acabou sendo
proibido pelo governo de Portugal. Ficou, porém, uma enorme herança indígena, nos hábitos de alimentação e higiene,
artesanato e técnicas manuais diversas, conhecimento de plantas, crenças e nomenclatura, entre outros itens, cuja influência
pode serpercebidana culturabrasileiraatéosdiasatuais.
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Brasital
Por volta do ano de 1870, enquanto o café reinava no oeste paulista, na região ituana, as culturas que
predominavam eram a cana-de-açúcar e o algodão. Nessa época, o então povoado do Salto de Ytu tinha como seu grande
atrativo a cachoeira. Assim sendo, para cá se dirigiam inúmeros visitantes. Em 1873 chegou a ferrovia, dando o impulso
decisivo para quea cidadefabrilsurgisse.
Nas proximidades da cachoeira, na margem direita do Rio Tietê, surgiram as duas tecelagens pioneiras, instaladas
pelos industriais José Galvão (1875) e Barros Júnior (1882), que se aproveitavam do potencial do rio e empregavam turbinas
hidráulicas para a geração de força motriz. Além de atrair trabalhadores para cá, as fábricas direcionavam a própria
urbanização por meiodosmelhoramentosexecutadosemseusarredores.Vivia-seumdespertar.
Salto se transformou numa localidade voltada para o trabalho. Em geral, a mão de obra dessas primeiras fábricas era
formada pelo trabalhador livre brasileiro, com numerosa presença de mulheres e crianças, como se pode ver nas fotos dos
grupos de operários desse período. No final do século XIX, a composição desse quadro inicial se alterou com a chegada de
imigrantes europeus, em sua maioria italianos. Esse grupo, presente em grande número em Salto, constituía a maioria dos
operários empregados, que em muitos casos eram egressos de fazendas de café do interior paulista. Foram os descendentes
dessesprimeirositalianos queformaram o contingentedetrabalhadoresdas décadasseguintes.
Por meio de sucessivas fusões que incorporaram as primeiras tecelagens e a Fábrica de Papel Paulista, a partir de 1904
a Sociedade Ítalo-Americana tornou-se única proprietária do conjunto fabril. Em 1919, com uma mudança de acionistas,
passoua sechamar Brasital.
A Brasital S/A, formada com capital brasileiro e italiano, marcou território e época, dominando parte da vida da
cidade até aproximadamente os anos de 1950. Construiu vilas operárias, instalou armazém, açougue, creche e escola. Quase
sempre em expansão, era o destino de muitos filhos de operários, já que a política de contratação privilegiava os familiares de
funcionários.Issoseconcretizava por volta dos14anos deidade,emespecialpara asmulheres.
Era marcante a presença feminina, representando, por volta de 1940, 75% da mão de obra empregada. A elas
invariavelmente cabia uma dupla jornada, tendo que conciliar os afazeres domésticos, nos períodos de folga, com o trabalho
na fábrica. Os 25% restantes eram homens que trabalhavam na tinturaria, oficinas mecânica, elétrica e de carpintaria, nos
escritórios,nas cardasenos depósitosdealgodão edefios.
As meninas ingressavam como auxiliares das maquinistas, tanto na fiação como na tecelagem. Os meninos
ingressavam como ajudantes dos mecânicos, eletricistas e carpinteiros. Outros ingressavam no escritório da fábrica ou
como escrituráriosnas seçõesda indústria–taiscomo tecelagem,fiação,tinturariaeoficinas.
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A denominação Brasital persistiu até 1981, quando o Grupo Santista a adquiriu. A fábrica existiu até 1995, momento
em que a então Alpargatas Santista encerrou suas atividades em Salto. Atualmente, os prédios da antiga tecelagem abrigam
umcentrouniversitário.
Fábrica e rio - A relação dos operários com o rio sempre foi muito estreita. Existiam lendas sobre uma canoa
fantasma que era vista nas águas do Tietê através das janelas da fábrica, pelos funcionários do turno da noite. Outro exemplo
é a cena comum, até a década de 1950, de operários que saíam do serviço às 16h e 30min. e atravessavam a ponte pênsil para
ir pescar. Quase sempre havia um parente ou amigo esperando com as varas e as iscas. Ao escurecer, retornavam para suas
casascomospeixes,queconstituíama misturado almoço oujantardo dia seguinte.
Operários da Brasital com o prédio da fiação ao fundo, c.1920.
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“À tarde, os moços saíam das fábricas e iam nadar lá... O
povo ficava na mureta olhando, era um divertimento.
Antigamente, nos quintais das casas da Brasital havia
fornos de assar pão e tanques para se lavar roupas. Lá as
crianças também iam brincar.”
Dona Maria Luiza Pavanelli nasceu em Salto, tem 72 anos de
idade e é aposentada.
Escola Anita Garibaldi
Desde a primeira década do século XX, Salto contou com escolas mantidas pela colônia italiana. A primeira
delas denominava-se Dante Alighieri. Nesse período, Francisco Salerno, Othelo Donato e Leone Camerra se destacaram
como docentes.
Na década de 1920, a Escola Dante Alighieri passou a se chamar Anita Garibaldi, em referência à companheira
brasileira de Giuseppe Garibaldi, guerrilheiro italiano conhecido como “herói de dois mundos”, por conta de sua
participaçãoemrevoluçõestantona América– casoda Farroupilha, no Rio Grandedo Sul– quantona Europa.
Em sua origem, essa escola voltava-se para a difusão da língua e da cultura italiana, à luz da ideologia fascista, com o
governo italiano, sob o comando de Benito Mussolini, enviando o material didático – como livros de história e geografia –
dentro dos programas de propaganda patriótica para italianos residentes no exterior. Alguns desses livros encontram-se
nos arquivos do Museu da Cidade de Salto – que desde 1991 funciona no espaço que abrigou por quase quatro décadas a
Escola Anita Garibaldi.
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Alunos da Escola Anita Garibaldi, década de 1940.
Mantida pela indústria têxtil Brasital S/A, a escola teve como diretor e professor, de 1931 a 1968, João Baptista Dalla
Vecchia. Trajando terno jaquetão azul-marinho, camisa branca e gravata azul –, figura austera e apaixonada por seu ofício –
podia-se dizer que “ele era a escola e a escola era ele”. De início, Dalla Vecchia centralizava todas as funções: era diretor,
professor, secretário e bedel. Em 1934, a italiana Rosanna Turri [1913-2004] foi agregada à escola, permanecendo longo
períodoao lado do professorDalla Vecchia.
Tratando-se de um estabelecimento de ensino complementar, atendia normalmente aos egressos do curso primário
do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, que ainda não tinham idade suficiente para ingressar no mercado de trabalho. As
vagas na Anita Garibaldi eram disputadíssimas, especialmente porque Salto não tinha estabelecimentos de ensino com
classesquefossemalémda antiga quartasérie.
Além do currículo normal, o professor Dalla Vecchia ministrava aulas de música, língua italiana, religião, ginástica e
caligrafia. Esta, por sua vez, transformou-se na marca dos alunos que a frequentaram: era a caligrafia do Dalla Vecchia, a
caligrafia da Escola Anita. Existe um vídeo de fins da década de 1930, produzido pelos proprietários da Brasital, que mostra
durante alguns segundos alunos desfilando pela Rua José Galvão, e também se exercitando, orientados pelo professor Dalla
Vecchia.
Ao final da década de 1960, Salto já contava com novos estabelecimentos de ensino que ocupavam um espaço antes
preenchido pela escola Anita Garibaldi. Então, com a última turma formada em 1968, aposentou-se o respeitado mestre
Dalla Vecchia, aos 72 anos. Os velhos livros de matrícula da escola estão sob guarda do Museu da Cidade, o que nos permite
empreenderumlevantamento minuciosodetodososex-alunos.
Um professor que marcou gerações:
João Baptista Dalla Vecchia nasceu em Itu, em 1896. Filho de italianos, aos 8 anos de idade mudou-se com a família
para a Argentina e, dois anos mais tarde, para a Itália. No início de 1914, pouco antes da eclosão da PrimeiraGuerra Mundial,
os Dalla Vecchia retornaram ao Brasil. Então, João Baptista ingressou na Brasital, ali trabalhando até 1931 – ano em que
recebeuo convitepara lecionarna escolamantida pela indústriaemSalto.
Além de professor, Dalla Vecchia foi assíduo colaborador da paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat e de seu
vigário, o padre João da Silva Couto [1887-1970], ajudando-o em várias empreitadas. Ligado às práticas esportivas, foi um
dosdiretoresdo Ítalo FutebolClube,na décadade1920.
Por muitos anos foi também músico da Corporação Musical Giuseppe Verdi, sendo ainda um dos fundadores e
regentes da União Musical Gomes-Verdi, surgida em 1939. Na política, foi vereador de 28 de maio de 1936 a 30 de janeiro de
1937 e de 1 de janeiro de 1948 a 31 de janeiro de 1951, data em que renunciou ao cargo. Também foi vice-prefeito na gestão
deVicenteScivittaro[1911-1968],entreosanos de1960e1963.Faleceuem1981.
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O caso Alfredo Rosa
Em 20 de julho de 1911 ocorreu em Salto um episódio que transformaria um lavrador em uma figura venerada
por muitos saltenses da primeira metade do século XX, que o tinham por milagreiro. Embora não se tenha segurança sobre
sua verdadeira identidade, a memória popular acabou por nomear Alfredo Rosa o sujeito que foi assassinado na cidade na
data mencionada.
Nessa época, Salto contava com cerca de 5 mil habitantes, muitos deles vivendo na zona rural. Assim, era comum que
muitos sitiantes viessem para o núcleo urbano realizar compras nos armazéns de existentes. Um deles, o de
MarcosMilani,situava-seno Largo da Matriz,na esquinaemqueseinstaloua Crecheda Brasital,em1948.
Naqueles meses de 1911, as pessoas viviam atemorizada diante dos frequentes furtos de animais que vinham
ocorrendo. Há certo tempo, Alfredo Rosa – que supostamente vivia em algum sítio na divisa entre Salto e Elias Fausto – não
era visto na cidade. Embora fosse figura já conhecida de alguns saltenses que o viam regularmente fazendo pequenas
compras e tomando cachaça, naquela quinta-feira ele pareceu, para muitos, um sujeito suspeito: estava por muito tempo
parado ao lado do armazém-pensão de Marcos Milani. E isso, possivelmente, foi um indício para que os trabalhadores que
saíam da Ítalo-Americanao estranhassem.
Enquanto subia em seu cavalo, e notando ser vítima dos olhares desconfiados de várias pessoas, Alfredo Rosa,
assustado, largou tudo e se pôs a correr. Isso bastou para que os homens que o observavam, muitos deles operários, saíssem
no seu encalço, aos gritos de “pega ladrão”. Dava-se, naquele instante, a associação entre os recentes furtos de animais e a
figuradeAlfredoRosa.
A perseguição ocorreu por cerca de 2 quilômetros, em direção ao cemitério velho – a atual Praça XV de Novembro –
e descendo rumo ao Córrego do Ajudante, onde havia uma ponte. Se conseguisse atravessá-la, provavelmente Alfredo Rosa
não seria alcançado, pois se embrenharia no mato. Diante da iminência de ver o sujeito que tinham por ladrão fugir, os
perseguidores de Alfredo Rosa começaram a disparar tiros. Assustado, Rosa parou diante de todos e se disse inocente.
Contudo, não houve perdão e Rosa foi morto a tiros. Em seguida, alguns populares arrastaram o corpo desde o local do
assassinatoatéa casaquefuncionava como delegacia ecadeia,na entãoRuadeCampinas,atual9deJulho.
Tempos depois, restabelecida a calma, foram descobertos os verdadeiros ladrões de cavalos. Então a cidade viu que
trucidara um inocente. Talvez na tentativa de compensar o erro, muitos saltenses passaram a venerar a memória de Alfredo
Rosa. Inclusive uma capela foi erigida no local de sua morte – construção que existiu até 1973. Já os restos mortais de
AlfredoRosa constituemumcapítuloà parte,pois foramtransferidosdelocal por váriasvezes,estandohoje numasepultura
comumno Cemitérioda Saudade.
secos e molhados
20
Alfredo Rosa em fotografia mortuária.
Essa descrição do episódio é baseada em relatos de antigos moradores e cronistas de Salto. Existe documentação
judicial referente ao caso e que pode ser consultada nos arquivos do Museu Republicano de Itu e possibilita outra leitura dos
acontecimentos.
Outra versão para o caso Alfredo Rosa:
O inquérito policial referente ao caso Alfredo Rosa soma mais de 70 páginas e está sob guarda do Museu Republicano
de Itu. Consultando-o, descobrimos algumas informações inéditas em publicações locais. Inicialmente, lê-se que três
testemunhas foram ouvidas no dia do assassinato: 19 de julho de 1911. O relato do escrivão da delegacia de Salto aponta
para o recebimento de um telegrama remetido pelo delegado de polícia de Itu com o seguinte teor: “Roubaram em Porto
Feliz um burro pampa, arreado com lombilho chapeado. O ladrão é um indivíduo moreno, baixo, usa cabeleira, tem falta de
umdedomédioemuma dasmãos echama-seJosédeTal. Consta queo ladrão seguiupara aí. Saudações”.
Ao receber o comunicado, imediatamente o delegado de Salto tomou providências para a captura do sujeito descrito,
caso ele se encontrasse em território saltense. Para isso, incumbiu da tarefa duas praças de destacamento e mais dois
paisanos, que se encarregaram da sindicância. Por volta das 5 horas da tarde, um dos paisanos informou ao delegado que
recebera notícia que estava hospedado no Hotel Central um “desconhecido que desconfiava ser ladrão de animais”.
Sabendo disso, o delegado, em companhia de mais três pessoas, foi ao Hotel Central – onde de fato encontrou duas pessoas
desconhecidas. Perguntou então ao dono do hotel se aquelas duas pessoas tinham se hospedado juntas em seu
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estabelecimento, recebendo resposta negativa. E suspeitando que uma delas estivesse envolvida com os roubos de animais,
convidou o indivíduo suspeito, “que tinha cor parda, estatura mediana, cheio de corpo, de 30 anos presumíveis, trajando
roupa escura”, para ir até a delegacia para averiguações. O sujeito concordou em acompanhar o delegado, mas chegando à
rua, repentinamente sacou uma arma e disparou dois tiros contra a autoridade policial, não atingindo ninguém. E como
naquele momento havia na rua certa “aglomeração de populares, saíram diversos em perseguição ao criminoso, que, se
evadindo pela Praça Quinze de Novembro, foi disparando sua arma contra seus perseguidores e, mesmo correndo, (...)
carregava a arma, desfechando para mais de 15 tiros, [e] por fim tomou, depois de saltar uma cerca, a Rua Joaquim Nabuco
(...)”.
Em meio a essa perseguição, que se prolongou pela “estrada de rodagem de Capivari”, um dos populares foi atingido
na coxa por um tiro disparado pelo fugitivo. A partir desse momento, vários perseguidores que estavam armados “também
dispararam diversos tiros contra o fugitivo, que ao chegar ao Ribeirão do Ajudante recebeu um tiro de frente, disparado por
um dos populares, que o prostrou por terra, falecendo momentos depois”. O delegado, embora estivesse no grupo daqueles
que perseguiam o suspeito, não soube apontar o responsável pelo tiro fatal. Em seguida, o cadáver foi conduzido à delegacia
de polícia, onde foi revistado. Com ele encontraram um revólver – imitação de Smith & Wesson, de calibre 9 milímetros –,
uma faca, 20.400 e quatrocentos réis, e uma carta dirigida a Maria Vieira, à Rua Sete de Setembro, Itu – assinada “Arfredo
Rosa”, com R. Outros bens do morto foram localizados no Hotel Central e listados, assim como dois cavalos com os quais
chegoua Salto.
Dr. Viscardi
Figura que desde 1930 dá nome a uma rua de Salto, o médico Enrico (Henrique) Viscardi nasceu em 1858, na
cidade de Milão, Itália. Sua biografia pode ser dividida em três momentos principais: vivência na terra natal, passagem pela
Áfricaepermanência no Brasil,especificamenteemSalto.
Uma importante fonte de informação a respeito de sua trajetória se encontra numa publicação especial do jornal
Fanfulla, editada em 1906 e intitulada Il Brasile e gli Italiani. Trata-se de uma compilação especial que aborda a participação de
italianos no desenvolvimento do Brasil, com mais de 1.200 páginas, em grande formato. Na página 1.036 encontramos os
dizeressobreo doutorViscardieumafotografiadele.
Essa fonte menciona que Viscardi formou-se médico pela Universidade de Pavia, na região da Lombardia, em 1883.
No ano seguinte, em virtude de um surto de cólera que se alastrou por toda a península itálica, principalmente Nápoles, ao
sul, o jovem estudante se inscreveu na equipe de Felice Cavallotti, político e poeta italiano, e foi em socorro aos doentes
22
daquela região. Em 1886, consta que já dirigia um lazareto destinado aos acometidos pelo mal da cólera. Esses seus
primeiros trabalhos lhe renderam duas medalhas destinadas a beneméritos da saúde pública italiana. Por essa mesma época,
na biografia de Costantino Lazzari [1857-1927], um socialista lombardo, encontramos menções ao envolvimento de
Viscardicomo umdosmembros“maisativosedispostos”da Liga SocialistaMilanesa.
No contexto da política expansionista europeia do final do século XIX, a África representava um grande território
além-mar a ser conquistado. O rei italiano Umberto I, já tendo feito um ensaio de colonização na Eritreia, lançou-se numa
guerra contra a Abissínia (atual Etiópia), pleiteando o controle de novas áreas. Essa pretensão italiana culminou na Batalha
de Adwa, em 1896, na qual os etíopes surpreenderam o mundo ao derrotarem a potência europeia e permanecerem
independentes sob o reinado de Menelik II. Nesse conflito, Viscardi havia se engajado como capitão-médico. Ao final da
mencionada batalha, foi ele quem chefiou a equipe de médicos que cuidou dos 300 prisioneiros que tiveram um pé ou uma
mão amputados pelosetíopes,antesdeseremlibertados.
Ao retornar à Itália, Viscardi foi condecorado com medalha alusiva aos serviços prestados no campo de batalha e
passou os últimos anos do século XIX como médico no Ospedale Maggiore di Milano. Casado na Itália, sabemos que
Viscardi deixou lá dois filhos. Há informação que, em 1906, Bruno, o mais velho, era oficial da Marinha; e Mario estudava
agronomia em Bréscia. Na biografia de Lazzari, os filhos e esposa de Viscardi também são mencionados num trecho de
documentodo final do séculoXIXqueatesta,ainda, a estreitarelaçãoentreo socialistaeo médico.
Viscardi chegou a Salto em 1902 com uma função predeterminada: chamado por José Weissohn – industrial italiano
estabelecido com suas fábricas às margens do Rio Tietê – para assumir a “chefia do serviço sanitário” daquelas tecelagens.
Na prática, Viscardi prestava toda a assistência médica necessária aos operários de Weissohn. Várias são as fotos do acervo
do Museu da Cidade de Salto na qual estão presentes Viscardi, Weissohn e demais diretores das tecelagens existentes no
início do séculoXX.
O médico envolveu-se, ainda, no tratamento da ciática e do reumatismo, dando continuidade aos trabalhos pioneiros
no combate a esses males a partir dos métodos introduzidos pelo casal Segabinazzi, italianos, também radicados em Salto.
Logo que chegou, o médico viveu no Hotel Saturno. Tempos depois se mudou para um casarão de pedra, existente até hoje
na Rua Monsenhor Couto. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos
pobres”ou“médicodas flores”.
No referido casarão, Viscardi viveu com uma antiga empregada sua, com a qual teve dois filhos – falecidos com
menos de 2 anos de idade. Antônio Virgílio e Antônia, que estão enterrados em túmulos de mármore branco, cercados por
grades de ferro, ao lado do túmulo do pai. Em 1913, quando da morte de Viscardi, uma multidão acompanhou seu enterro,
que se deu no então cemitério novo, na Vila Nova, atualmente denominado Cemitério da Saudade. Em seu túmulo, que
23
Dr. Viscardi, médico italiano.
ainda hoje recebe flores, lê-se um epitáfio em língua italiana, que traduzimos: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da
admiração de todos, está mudo e frio o coração do dr. Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou
depalpitar no dia 13dedezembrode1913”.
Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses”
Os dados biográficos de Francisco Fernando de Barros Júnior [1856-1918], um dos industriais pioneiros em
Salto nas últimas décadas do século XIX, foram levantados e sistematizados com minúcia por Luiz Castellari [1901-1948],
autor de História de Salto. O texto que se segue é a sistematização de alguns dos dados apresentados por Castellari na segunda
parte de seus escritos, especialmente dedicada à figura daquele que seria cognominado “pai dos saltenses”, por conta de seus
diversospréstimosaos habitantesda cidade.
Filho de Francisco Fernando de Barros – senhor de engenho e produtor de cana – e Angela Guilhermina Mesquita
Barros, o dr. Barros Júnior nasceu na então vila de Capivari, em 17 de março de 1856. Ao concluir seus primeiros estudos no
Brasil – passando pelo Colégio São Luiz, de Itu, e Kopke, no Rio de Janeiro – partiu para os Estados Unidos, ingressando na
SyracuseUniversity, emNova York,com o propósito desegraduarengenheirocivil. Quando retornou ao Brasil,chegando a
Itu em 1879, assumiu posição de destaque no Partido Republicano local. No mesmo ano se casou com sua prima-irmã,
MariaAlexandrinadeBarros,da qualsedesquitariaantesdefalecer.
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Em 1880, Barros Júnior iniciou seus investimentos em Salto com a construção de um edifício que funcionaria como
tecelagem, que passou a operar em 1882. Barros se sobressaiu mais como político que como industrial, sendo representante
de um modelo típico do final do século XIX: político, fazendeiro e industrial. Seu pai fora delegado de polícia em Capivari,
sua terra natal. E um de seus irmãos mais velhos se elegera deputado provincial nos anos 1870 – ainda nos tempos do
Império,portanto.
A atuação política de Barros Júnior teve início nos anos 1882-1886, quando foi vereador em Itu – época em que
pleiteou diversos melhoramentos para a então vila do Salto. Entre 1892 e 1896, já na República, foi deputado estadual pelo
Partido Republicano Paulista. Barros Júnior deixava claro, desde seu retorno ao Brasil, quais eram seus objetivos: tornar-se
umchefepolíticoemSalto,aliando seusinteressescomo industrialepolíticodo PRP.
Em Salto, foi o responsável direto por algumas ações bastante significativas para a época: em 1880, reorganizou o
Grêmio Musical Saltense. Em carta de 1940, o maestro Henrique Castellari [1880-1951] registra uma passagem sobre o
grêmio e a participação decisiva do industrial: “A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa
vontade e vocação musical, (...). Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense dr. Francisco de Barros Júnior (...) avocou-se a direção da
referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral (grande músico
ituano), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da banda por sua conta. Mais tarde,
[em] 1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à
guarda da Matrizlocal,(...)”.
Em 1885, Barros Júnior criou o Gabinete de Leitura e Cultura Democrática; em 1887, fundou o Clube Republicano
14 de Julho; em 1888, passou a editar o primeiro jornal local, o Correio do Salto, juntamente com o professor Tancredo do
Amaral [1866-1928]. Aqui também o capivariano exerceu os seguintes cargos: subdelegado de polícia, intendente,
presidenteda Câmara ejuizdepaz.
Mas foi durante a epidemia de varíola de 1887, que atingiu toda a Província de São Paulo, que Barros Júnior
notabilizou-se em Salto. Com seu auxílio foram construídos três lazaretos (unidades de isolamento dos doentes, afastadas no
núcleo central da vila). Auxiliou ainda na compra de medicamentos, víveres para alimentação dos doentes, roupas e leitos.
Trouxe também médico e enfermeiras da capital. O historiador local Luiz Castellari assim descreveu a atuação do “pai dos
saltenses” naqueles dias de surto epidêmico: “Nas horas em que não se ocupava com os enfermos, [Barros Júnior] saía na rua à frente de
suabanda demúsica,soltando foguetes,comoqueafugentando o'vírus'eassimalegorizar[sic]a população desolada”.
Na biografia do “pai dos saltenses”. duas datas merecem destaque: 1890, venda de sua fábrica de tecidos em Salto; e
1893, com a apresentação do projeto ao Congresso Estadual que ampliava os limites de Salto, incorporando terras da
margem esquerda do Rio Tietê, antes pertencentes a Itu. No ano do término de seu mandato como deputado estadual,
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segundo menciona Luiz Castellari, Barros Júnior teria “perdido seu cabedal”, ou seja, empobrecido: “De elevada posição social a
um humilde carreio e arador de terra. Seguidamente vinha à vila [de Salto], guiando seu carro de boi. De uma feita, estacionando em frente a uma
casa comercial, pede ao proprietário um par de sapatão a crédito. Negam-lhe o pedido”. Barros Júnior foi o primeiro presidente do
Conselho de Intendência de Salto, em 1890 – cargo equivalente ao de prefeito. Entre 1896 e 1898 esteve ausente da 2ª
Câmara de Salto, tendo retornado em 1899 e permanecido até 1907. Entre 1907 e 1918 não participou diretamente da
política local. Quando faleceu, em 1918, vítima de gripe espanhola, contava com 62 anos. Deixou um único filho, Alexandre
Luiz de Almeida Barros, e um terreno situado na Rua Joaquim Nabuco. Sua última ocupação foi a de coletor de rendas
federais.Ainda hoje seunome estáligado à ideiadedevoção àscausaslocaisemSalto.
26
Dr. Barros Júnior, o pai dos saltenses , com 23 anos, aproximadamente.
Acervo do Museu Republicano Convenção de Itu.
" "
Industriais pioneiros
José Galvão: Nascido em Itu, em 19 de janeiro de 1834, José Galvão de França Pacheco Júnior foi o pioneiro da
indústria têxtil em Salto. Iniciou a construção de sua fábrica em 1873 – mesmo ano da chegada da ferrovia, com a instalação
da Estação de Salto – inaugurando-a em 1875 e dando-lhe o nome de “Fortuna”. Instalado na margem direita do Rio Tietê,
próximo à cachoeira, o empreendimento de Galvão tinha 1.240 metros quadrados de área construída. A localização nesse
ponto não era casual: o potencial energético das águas foi aproveitado com a instalação de uma turbina a água,
posteriormente convertida em elétrica. Na comunidade saltense que se avolumava no final do século XIX, muito em virtude
dos braços trazidos para trabalharem em seu empreendimento, Galvão era figura de destaque. Faleceu em 30 de março de
1889eseunome,anos maistarde,foi dado à ruaque,até1908,sechamava Rua da Estação,no centrodeSalto.
José Weissohn: Em 1898, o engenheiro José Weissohn, vindo da Itália, adquiriu os prédios das duas tecelagens
pioneiras, instaladas por José Galvão e Barros Júnior, na margem direita do Rio Tietê, que desde 1890/91 já haviam sido
incorporados por empresas de maior porte. Apesar de já em 1904 ter transferido todo esse patrimônio à Società per
l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, Weissohn continuou em Salto como um dos diretores na sociedade. Ele e sua
família residiam no chalé da gerência, uma bela edificação à frente da antiga Júpiter. Entre os anos de 1911 e 1913, Weissohn
esteve à frente das negociações entre os industriais e o povo, juntamente com o poder público da época. A iniciativa visava a
resolver o problema de locomoção ao Porto das Canoas – local piscoso, cujo acesso fora impedido pelos industriais que
incorporaram aos seus domínios uma via pública que cortava os prédios das tecelagens e ia até a margem do rio. A solução
encontrada foi a construção de uma ponte pênsil, num abismo então existente na margem direita, entre a pedra grande e a
pedraalta,ao lado dosprédiosda antiga fábricaFortuna.
José Revel: Vindo da Itália como conselheiro-delegado da Sociedade Ítalo-Americana, em 1909, José Revel era o
maior acionista da empresa, que além da fábrica de Salto tinha outras na Argentina e no Chile. Quando o domínio acionário
passou às mãos de outro grupo, em 1º de novembro de 1919, dando origem à Brasital S/A, Revel foi o primeiro presidente
da empresa, permanecendo nesse posto até 1923. Pode-se atribuir o crescimento vigoroso da Brasital em seus primeiros
anos, especialmente em Salto, aos seus esforços. É de sua época a aquisição das quatro quadras de terreno nas quais seriam
construídas as 244 casas da Vila Operária Brasital. Não é por acaso que uma das ruas que corta as referidas quadras recebeu o
nome deJoséRevel,queviveuemSalto por quase15anos.
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Imigração italiana e o Buru
Antes de 1860, a Itália estava dividida em vários pequenos Estados, em geral fracos e dominados por outras
potências europeias. Ideias de que a Itália devia formar um só país vinham de longe, mas foi somente no século XIX que ela
ganhou força e se completou. A unificação não melhorou a vida do povo italiano. A crise agrícola de 1880 afetou
profundamente as pequenas propriedades, que não suportavam a pesada carga de impostos do governo e não conseguiam
competir com a produção agrícola de outros países. A injustiça social, acompanhada de um governo ineficiente, lançava
muitospeninsularesao desencanto.
Para muitas famílias italianas, o sonho de superar as dificuldades vividas na terra natal passou a ser representado pela
expressão “fazer a América”. E assim, muitos italianos atravessaram o Oceano Atlântico e aportaram no Brasil, cheios de
esperança.Estima-seque,entrehomens,mulheresecrianças,o totaltenhaultrapassado1milhão emeiodepessoas.
Diante da necessidade de mão de obra barata para a manutenção da lavoura do café, São Paulo foi o centro da
imigração europeia para o Brasil. Dos 4 milhões de estrangeiros que entraram no Brasil entre 1886 e 1934, 56% se instalaram
em terras paulistas. Enquanto os alemães preferiam ir para o Sul e os portugueses para o Rio de Janeiro, os italianos fizeram
do Estado deSão Paulo o seulugar,sendoa maioria esmagadora delesdirigidaaos cafezais.
No final do século XIX, grande número de famílias italianas se instalou nas lavouras de café existentes nas
proximidades do bairro rural denominado Buru, em Salto – uma região que, à época, se estendia desde a margem direita do
Córrego do Ajudante e do Rio Tietê, até as divisas do município de Salto, tendo no meio o próprio Rio Buru, que nomeava
essa vasta área. Atualmente, seus limites se estendem desde a divisa com os municípios de Indaiatuba e Elias Fausto, na
altura do distrito de Cardeal (antigamente denominado Buru de Cima), passando pela região onde está a Capela de Nossa
Senhora das Neves(Burudo Meio),atéatingira velha estradadeterraquevai para Capivari(BurudeBaixo).
A vila de Salto de Ytu, situada entre as regiões cafeeiras de Itu, Campinas e Jundiaí, era um local bastante modesto em
fins do século XIX. Contudo, tornou-se um exemplo significativo da força da presença italiana em solo brasileiro. Nos
primeiros anos do século XX era grande o número de italianos que chegava à região de Salto. No ano de 1905, por exemplo,
o contingente de naturais da Itália aqui instalados passava de 3 mil, quando a população saltense era de aproximadamente
4.200habitantes.
As primeiras levas de italianos começaram a chegar a Salto por volta de 1890 – tempo em que ainda eram pouco
numerosas as propriedades rurais e se encontravam vastas áreas cobertas pela mata virgem. Valendo-se dessas terras
inexploradas e de baixo custo, nelas se fixaram muitas famílias de imigrantes recém-chegadas da Itália ou saídas das fazendas
decafédosmunicípiosvizinhos eáreaspróximas..
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29
Uma família de imigrantes trouxe da Itália a primeira imagem de Nossa Senhora das Neves, propagando o culto na
região do Buru. Desde o final do século XIX se promoviam novenas, sempre no mês de agosto, que eram encerradas com a
procissão da referida imagem. Desde esse tempo, festas populares eram realizadas com o intuito de se arrecadar fundos para
a construçãodeuma capela.A capelahoje existentejá éa segundaconstruçãoedata de1938.
As famílias Zanoni, Stecca, Zambon,
Rocchi, Di Siervo, Bethiol, Pauli, Pitorri,
Bolognesi, Cortis, Ognibene, Gianotto, Vallini,
Quaglino, Ferrari, Santinon, Matiuzzo, Bernardi,
Gilberti, Bergamo, Nicácio, Mosca, Fiori – dentre
outras – estiveram ligadas à história de ocupação
do bairro do Buru e adjacências, bem como aos
trabalhos religiosos na capela de Nossa Senhora
dasNeves.
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Capela de Nossa Senhora das Neves, c. 1970.
João Ivo Stecca, esposa e filhos - uma família do Buru, c. 1940
Um depoimentosobreoBuru:
O Museu da Cidade de Salto preserva em seus arquivos uma coleção de depoimentos de antigos moradores, gravados
em fitas cassete e hoje disponíveis em CDs e até mesmo na internet. Um deles é o de Palmira Merlin Santinon. Durante a
gravação de quase 23 minutos, efetuada em abril de 1993, o principal tema presente na conversa entre Palmira e seus
interlocutoreséo bairroruraldo Buru.
A depoente: Palmira nasceu em 14 de junho de 1912 “num lugar [...] [chamado] Ribeiro”, próximo a Capivari. Em
1923, veio para a cidade de Salto, onde viveu até seus 18 anos, quando se casou com Guilherme Santinon e foi morar no
bairro rural do Atuaú, onde seu marido já residia. Logo em seguida, o casal comprou terras no bairro do Buru, onde
administraram por muito tempo a venda do Buru. Nessa área, que antes de pertencer à família Santinon denominava-se
“Sítio do Turco” – e por consequência tinha-se o Armazém do Turco –. Palmira viveu por 55 anos. Assim sendo, o tempo a
serabordado pela depoente,ao falardo Buru,vai do início da décadade1930atémeadosda décadade1980.
Os três Burus: Território vasto e, até bem pouco tempo atrás, muito distante do núcleo urbano de Salto (era
recorrente entre os saltenses a expressão “tão longe como daqui ao Buru...”), dividia-se em três partes: Buru de Baixo, Buru
do Meio e Buru de Cima. Segundo a depoente, essa divisão era feita por meio de águas, com alguns córregos fazendo as
vezes de divisa entre uma fração do bairro e outra. O Buru no qual se localizava a venda era o “do Meio”. Sabe-se que essa
divisão era adotada há muito tempo, desde o final do século XVIII, pelo menos. O censo populacional de Itu de 1792 – cuja
documentação, sob guarda do Arquivo do Estado de São Paulo, denomina-se “Maços de População de Itu” – alocou o
“Boyri de Sima” e o “Boyri de Baixo” na 5ª Companhia. Pela circunscrição das demais Companhias nas quais o território
ituano estava divido (incluindo os atuais territórios de Indaiatuba, Jundiaí e Piracicaba, por exemplo), nos parece óbvio ser o
denominado Boyrio nosso Buru.
Famílias e sítios: A depoente citou as famílias que residiam no Buru no tempo em que lá viveu: Stecca, Zambon,
Mosca, Bracarense, Garcia, Ribeiro, Gianotto, Quaglino, Keiller e a família de José Eduardo. Solicitada a citar nomes de
sítios do Buru, menciona que não era muito comum os sítios terem nome, tinha-se, sim, o nome do proprietário associado às
terras. Assim sendo, lembra-se dos sítios Aleluia, do sítio dos Di Siervo, dos Bracarense, dos Mosca, dos Zanoni, do doutor
Janjão e da fazenda dos Anastácios. Em um levantamento topográfico de Salto de 1931, é possível a localização de algumas
outraspropriedadesentãoexistentes,como ossítiosNova Trentoeo deJ.Bergamo.
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Memórias de um professor em Salto
Em seu livro Memórias de um Mestre Escola (1974), Felício Marmo – professor e inspetor escolar no início do século
XX – dedicou cerca de 20 páginas a sua passagem por Salto. Vindo de Cosmópolis (SP), chegou a terras saltenses em 20 de
janeiro de 1908 e permaneceu até 13 de fevereiro de 1912. Numa época, portanto, em que nem sequer o Primeiro Grupo
Escolar de Salto, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, havia iniciado suas atividades – fato que ocorreria no ano
seguinte.
A cidade de Salto que Marmo encontrou, conforme ele mesmo relata, “contava com três fábricas de tecidos, sendo a
mais importante a Società per l'Esportazione e per l'Industria Ítalo-Americana S. A.”, antecessora da Brasital. A respeito da
educação, ele menciona que Salto possuía “duas escolas noturnas estaduais, regidas pelos professores senhores Mario
Macedo e Kiel, além de uma escola mista, mantida pela fábrica de tecidos Ítalo-Americana, sob a regência do professor
Donalísio”.
A presença italiana, fosse pelos diversos imigrantes ou pelo capital da indústria que mantinha essa última escola
mencionada – que inclusive ministrava “noções da língua italiana” –, motivou Marmo a se empenhar, na escola que ficaria
sob sua responsabilidade, no sentido de “manter um ótimo padrão de ensino, máxime [sic] no que tangia aos conhecimentos
de história pátria, geografia e educação moral e cívica”. E esse padrão, destaca o professor em seu livro, era atestado pelos
“inspetores escolares senhores Antonio Morato de Carvalho e Boanova”, que por várias vezes “puderam apreciar (...) o
andamento progressivo das aulas”.
Interessantes são suas considerações sobre determinadas instituições e personalidades da cidade naqueles anos em
que aqui esteve. Sobre música, Marmo menciona que Salto contava com duas bandas: a Musical Saltense, “criada e dirigida
pelo maestro Henrique Castellari”, e a Giuseppe Verdi. O mestre escola associa ainda o gosto pela música à maciça presença
italiana por aqui: “O italiano, amante das artes, qualquer que seja sua condição social, não deixa de render culto à deusa Euterpe”, deusa da
música e da poesia lírica. Sobre o local e o que se ouvia, escreve: “Ao redor do pequeno coreto [do antigo Largo Paula Sousa] ou em suas
imediações, era belo ver-se aquela multidão atenta à batuta de Castellari a reger O Guarani, de Carlos Gomes; a Aida, de Verdi; a Cavalaria
Rusticana,deMascagni;a Boêmia,dePuccini; oBarbeirodeSevilha,deRossini”.
Num longo parágrafo, Marmo arrola uma lista das pessoas das quais ainda recordava, passados 62 anos entre o
momento que escrevia suas memórias e o que viveu em Salto: “Devo lembrar os [nomes] daqueles que ainda perduram na minha já
supra-octogenária memória: o engenheiro agricultor e renomado político e patriota dr. José Francisco de Barros Junior; Luís Dias da Silva, um dos
grandes prefeitos da cidade; dr. Gastão de Meirelles França, coletor de rendas federais; dr. Henrique Viscardi, clínico e cirurgião da fábrica Ítalo-
Americana e que atendia também a clientela particular, (...); João Capistrano Rodrigues de Alckmin: guarda-livros e gerente da fábrica de tecidos
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dos Pereira Mendes & Cia.; José Weissohn e Henrique Picchetti, diretores da fábrica de tecidos Ítalo-Americana; Bruno e Bruto Belli; irmãos
Almeida Campos, conceituados comerciantes; irmãos Nabor e João Galvão de França Pacheco, farmacêuticos; as famílias Begossi Saturno [sic],
grandes hoteleiros e proprietários; Henrique Angelini; Maffei, competente mestre de tecelagem; Trevisiolli, Nastari, Armando Silvério de
Almeida; Brenha, Henrique Castellari; Regolo Salesiani; Pasquinelli; Leoni, Badra; Teixeira; Fragoso; irmãos Lopes; Amaral Gurgel; Kiel;
Lammoglia; Bombana; Figueiredo; Fernandes da Silva; Milioni, Donalísio; Moura Campos; Rando; Gonella; Roncaratti; Alegro;
Malimpensa;Simões;PereiradeCastro;Aguirre(...)”.
Nesse tempo de pouco mais de quatro anos em que esteve em Salto, Marmo foi hóspede no Hotel Saturno, onde, diz,
“tratavam-me como se fora da própria família”. E “por um quarto novo, no sobradinho, banho, café da manhã com farto
acompanhamento,almoço ejantar,[pagava-se]apenas centoetrintamilréis”.
Há, nas Memórias, menção aos principais hóspedes: “Os mestres da malharia, fiação, tecelagem, cascame, química, tinturaria; –
senhores: Visetti, Ottuzzi; Apendido Secondo, da contabilidade. Todos, moços de irrepreensível conduta e profissionais de reconhecida
competência, diplomados nas escolas técnicas de Milão e Turim. À mesa, só falavam no idioma italiano ou, conforme os casos e as oportunidades,
empurodialetomilanêsou piemontês,(...)”.
Praça Archimedes Lammoglia
APraça Archimedes Lammoglia é o logradouro público que mais vezes teve seu nome alterado na história de
Salto. Muitas vezes dividida em duas partes, já se chamou Praça da Bandeira, Paula Souza, do Anhembi, 31 de Março e
Getúlio Vargas. Unificada, passou a se chamar 16 de Junho, em referência ao dia de fundação da cidade. E finalmente, desde
27desetembrode1996,édenominada Praçadr.JoséFranciscoArchimedesLammoglia.
Quem observa nos dias de hoje essa praça – que carrega o nome do emblemático político e médico saltense – não
imagina que ela abrigou edificações até meados do século passado. A mais antiga da qual se tem notícia é a casa que
pertenceu a José Bonifácio de Andrada e Silva [1827-1886], conhecido por José Bonifácio, “o Moço” – um poeta, jurista,
professor e político brasileiro. Esse personagem do Império tinha o mesmo nome de seu tio-avô, o Patriarca da
Independência. Numa das vezes em que D. Pedro II visitou Salto, em 1875, foi a casa que Bonifácio mantinha próxima à
cabeceira da ponte Salto-Itu, na margem direita do Rio Tietê, que hospedou o imperador. Na condição de anfitrião,
Bonifácio declamou a poesia “Sonhando”, escrita especialmente para aquele momento. Mais tarde, em 1889, a referida casa
–queali existiuaté1913–foi ocupada pela família do engenheiroresponsávelpela construçãoda FábricadePapel.
Em planta da então vila do Salto do Ytu, datada de 1889, vê-se que uma fração da atual Praça Archimedes Lammoglia –
nas proximidades da atual Rua 23 de Maio, à época Rua Riachuelo – chamava-se Largo do Rocio. Delimitada por um casarão,
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de um dos lados, e pelos prédios das tecelagens, de outro – ainda apresentava as rochas tão comuns nas margens do Rio
Tietê. Era área de trânsito dos que desejassem contemplar a cachoeira a partir da Pedra Alta, onde em 1912 seria instalado
ummirante.Naquelesanos,gradativasepontuais intervençõesmelhoravam o aspectodaqueleespaço.
A urbanização do Largo do Rocio ocorreu na gestão do prefeito-interventor ,major José Garrido, em 1931, que o
transformou no Jardim Público. No local onde existia uma torre com um relógio foi instalado também um serviço de rádio.
Em vista disso, muitas pessoas, à noite, para lá se dirigiam para ouvir música. Nas tardes de domingo, as atenções se
voltavam para astransmissõesdosjogosdefuteboldo campeonato paulista.
Na praça também existiu, até 1958, um casarão construído no final do século XIX, em sua origem um hotel, e que
abrigou a partir de 1936 uma instituição particular de ensino, o Externato Sagrada Família. Essa instituição iniciou suas
atividades sob a designação Escola Paroquial, dada sua ligação com a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat.
Fundada por quatro religiosas da Congregação das Filhas de São José, vindas da Itália, a instituição contou desde o início
com o apoio da indústria têxtil Brasital
S/A, tendo sido o prédio que abrigava a
escola doado pela senhora Aurelina
Teixeira Campos. Existente até os dias
de hoje, o Coleginho – como é
popularmente conhecida a instituição –
transferiu-se em 1958 para um novo
prédio, situado à Av. D. Pedro II nº 804
(e lá se encontra até hoje). Isso foi
possível a partir de uma permuta de
terrenos entre a Mitra Diocesana de
Jundiaí, proprietária do casarão de dona
Aurelina, desde 1936, e a Prefeitura de
Salto –trâmiteocorridoem1954.
Em fins da década de 1950, a
pressa em demolir o antigo casarão não se aplicou às obras para um novo uso do espaço que se tornara público. Idas e vindas
ocorreriam e por mais de três anos a obra – iniciada pela empresa Cunha Lima Carvalhosa – ficaria parada. Então, nova
concorrência pública foi aberta, sendo vencida pelo grupo do arquiteto João Walter Toscano, o mesmo que fora responsável
pela remodelaçãodo JardimPúblicoexistenteao lado.A promessaeradeconcluira obra ematéumano.
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Vista aérea da Concha Acústica e arredores, 1963.
Contudo, a inauguração da Concha Acústica ocorreria apenas em 7 de abril de 1963, com a bênção do monsenhor
João da Silva Couto – pároco da cidade desde 1926 –, discurso do prefeito Vicente Scivittaro, queima de fogos de artifício e
apresentações de artistas do rádio e da televisão com algum destaque à época. Em 2010, a concha foi substituída por uma
estruturametálicacomoutropartidoestético.
Maestro Castellari
Figura de grande destaque na cidade de Salto na primeira metade do século XX, Henrique (ou Enrico) Castellari
nasceuemParma, na Itália, em27dejunho de1880.Veiocomseuspais para o Brasila bordo do Aquitania,aportando no Rio
de Janeiro em 14 de abril de 1891. Sua família, por breve período, fixou-se na cidade vizinha de Porto Feliz (SP). Em sua
adolescência, já em Salto, Castellari era encarregado de acender e apagar os lampiões da incipiente cidade – uma das
primeirasdentretantasocupaçõeseofíciosqueexerceuao longo desuavida emSalto.
Henrique Castellari, no que se refere aos estudos musicais, iniciou-se com João Francisco das Chagas, pai de Luiza
Isabel das Chagas – senhora com quem Henrique se casou em 2 de julho de 1900 e teve nove filhos: Luiz, João, José Maria,
Benedita, Odália, Maria Inácia, Belmira, Henrique e Eduardo. Pouco tempo depois, Castellari ingressou na banda do
maestro ituano João Narcizo do Amaral e com ele terminou seus estudos. Em Salto, no início de sua carreira musical, fez
parte do Coro e Orquestra Nossa Senhora do Monte Serrat, da Igreja Matriz, capitaneada por um médico italiano radicado
na cidade,o dr.Viscardi.
Em 1902, Castellari já era regente da Banda Musical Saltense, fundada em 1878. Dirigindo-a por cerca de 50 anos,
alcançou considerável destaque no cenário estadual. A sede dessa banda, à Rua Dr. Barros Júnior, foi construída por sua
iniciativa entre os anos de 1919 e 1922. Também conhecida como “banda brasileira”, em oposição à “banda italiana”, por
meio dela Castellari ensinou música a centenas de pessoas. Sendo também compositor, destaca-se entre suas peças uma que
trata dos costumes regionais, intitulada Uma Festa de São João na Roça, apresentada pela primeira vez em 1923. Ao todo –
dentremarchas,dobrados,valsas,tangos,maxixesesambas – compôs maisde200músicas.
Além de seus trabalhos com música, Castellari foi um dos pioneiros da construção civil em Salto. Com registro junto
ao Crea como agrimensor, é dele o primeiro levantamento topográfico do município, realizado em 1931, a pedido do
prefeito interventor major José Garrido. Além disso, três plantas do perímetro urbano da cidade de Salto que integram o
acervo do Museu da Cidade são de sua autoria: uma de 1935, com a rede de esgotos detalhada; outra de 1936, com a
localização dos terrenos não-edificados; e uma de 1938, em escala 1:4000. Trabalhando também com marcenaria durante
muitotempo,Castellarifoi o responsávelpelo madeiramentodo telhadoda nova IgrejaMatriz,inauguradaem1936.
35
Falecido em 19 de dezembro de 1951, a memória do maestro Castellari se faz presente em nossa cidade de diversas
formas. Durante muito tempo o maestro manteve uma chácara na região da cidade chamada Vila Nova. Mais tarde vendida
e loteada, um logradouro dessa área – na qual hoje está o edifício Cidade Alta – recebeu seu nome: Travessa Maestro
Castellari. Entretanto, a mais significativa homenagem foi a atribuição de seu nome ao Conservatório Musical, inaugurado
em 1967, particular em sua origem, e que constituiu o embrião do que hoje é o Conservatório Municipal, com sede no
prédioantesocupado pelo HotelSaturno,no início da Rua MonsenhorCouto.
Existe uma longa carta do maestro Castellari, sob guarda do Museu da Cidade de Salto, destinada ao interventor do
Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. A carta data de 30 de abril de 1940 e, ao que parece, trata-se do rascunho da que
muito provavelmente foi remetida. Registrou o maestro, no texto por ele chamado de “memorial”, que a finalidade daqueles
escritos era “impetrar (...) uma proteção valiosa para a arte musical em Salto”. Nesse intuito de obter o amparo de uma
autoridade,o maestroCastellariiniciava seumemorialpelo históricoda Banda MusicalSaltense:
“A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa vontade e vocação musical, quando Salto era
ainda uma pequena povoação (...). Foram seus fundadores Joaquim Florindo, Romão Ribas, João Manquinho, João de Assis e outros, todos já
falecidos. Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense, dr. Francisco de Barros Júnior, já falecido, ex-Deputado Estadual, (...), avocou-
se a direção da referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral
(...), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da Banda por sua conta. Mais tarde, [em]
1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da Banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à guarda
da Matrizlocal,(...).
Dessa época em diante, a Banda ficou sem regente, sem recursos financeiros, indo para a frente por dedicação dos músicos Romão Ribas e
João Francisco das Chagas, (...). Em 1902, como músico que era dessa Corporação, assumi a regência e chefia, coadjuvado pelos meus
companheiros e músicos, senhores Isaac de Moura Campos, Silvestre Leal Nunes, Joaquim Florindo – todos falecidos, e Antonio Pereira de
Oliveira,ainda existente.A Banda, nessaépoca, achava-seemcondiçõesprecárias(...)jápor falta deinstrumentos,etc.Afinal, com muito esforçoe
boa vontade, consegui reorganizá-la, (...). Hoje, ela é composta de mais de 50 músicos, possui boa sede, sita à Rua Dr. Barros Júnior, conta com
mais de 70 instrumentos e pertences musicais, todos em bom estado de conservação, tem um grande repertório de músicas clássicas, um bom
fardamento de brim branco (brim esse doado pela Fábrica Brasital, desta cidade) para 62 músicos, (...), possui Caixa Beneficente para socorrer os
músicos necessitados, aula de música para formar novos elementos para a Corporação (medida essa de muito acerto, sem o que a Banda extinguir-
se-ia). O terreno em que a sede foi construída foi adquirido por escritura pública, em nome da Banda, não podendo a sede ser vendida ou hipotecada
e, em caso de dissolução da Sociedade, os músicos existentes no ato tomarão sob seu cuidado, de acordo com as autoridades locais, os bens existentes,
sendoqueosmúsicosremanescentespoderão formar outra Banda, sempreporémcomomesmonome:'Banda MusicalSaltense'.”
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O livro do dr. Randi
Olivro O Município de Salto, escrito em 1959 pelo médico sanitarista do Centro de Saúde de Salto dr. Adriano
Randi – paulistano nascido em 1921, que viveu muitos anos em Salto e passou seus últimos anos em Campinas, onde faleceu
em 2010 – é um precioso levantamento sobre nossa cidade no final da década de 50. Suas 125 páginas, impressas no Rio de
Janeiro pelo serviço gráfico do IBGE, trazem um levantamento amplo e minucioso sobre Salto. Talvez seja esse o primeiro
livro impresso sobre a cidade, já que História de Salto, de Luiz Castellari, embora concluído em 1942, foi publicado somente
muitos anos após a morte do autor, em 1971. Vale, portanto, registrar aqui algumas passagens dessa interessante publicação
do dr. Randi – um tanto esquecida – e que se tornou, mais do que tudo, um interessante documento de época. Nas páginas
iniciais, o autor traça um histórico de Salto, destacando a fundação da cidade “na fria e nevoenta manhã do dia 16 de junho
do ano de 1698, da era cristã, no sítio denominado Cachoeira”; a instalação das primeiras fábricas e a conquista da
autonomia local, que “coincidiu com o advento da Proclamação da República e o início da imigração italiana para o Brasil”,
em1889.
Embora haja um esforço em tratar da história saltense, são os dados contemporâneos à publicação os mais
interessantes. Em 1959, existia uma Salto com população estimada em 15 mil habitantes na zona urbana e 2.613 na zona
rural – predominando os habitantes de nacionalidade brasileira, existindo ainda grupos de italianos, espanhóis, portugueses
e japoneses. A comunicação da cidade com outras localidades, nessa época, foi dividida pelo autor em dois meios: por
estrada de rodagem e por estrada de ferro – sendo este último o principal. Da capital do Estado, por estrada de rodagem,
Salto distava “113 km, via Itu, sendo 62 km na via Anhanguera, em estrada totalmente asfaltada; via Cabreúva, 107 km,
também em estrada totalmente asfaltada, porém estreita e muito acidentada, contando com vários precipícios, todavia com
um belíssimo panorama, margeando em muitos quilômetros o Rio Tietê”. Por estrada de ferro, o saltense que desejasse ir à
capital tinha duas opções: pela Sorocabana, “via Mairinque, com 129 km, ou via Jundiaí, com 121 km – parte pela
Sorocabana e parte pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí”. Para ir a Indaiatuba, distante17 km, ou Campinas, distante47 km,
eranecessáriopercorreruma“estradadeterrabatida, porémbemconservada”.
No capítulo denominado “Progresso Relativo”, Randi destaca que na administração do prefeito Vicente Scivittaro
“foi promulgada uma lei municipal de isenção de impostos por 20 anos às indústrias que aqui se estabelecessem”. E
continua, sobre esse tema, a dizer que “graças a essa lei, ao potencial elétrico e à grande abundância de água, aqui se
instalaram importantíssimas indústrias novas, destacando-se a Eucatex S. A., fábrica de chapas de fibra de eucalipto que
abastece o país e ainda exporta para o exterior”. Outra indústria citada nesse contexto é a “Electro Metalúrgica Abrasivos
Salto (EMAS), com fabricação de óxido de alumínio e carbureto de silício, matéria-prima empregada na indústria de
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abrasivos”. Cita ainda a “Sivat, com indústria de rebolos e outros abrasivos”. E conclui, sobre a questão, afirmando que “tais
indústriastrouxeramgrandedesenvolvimentoao município,querna parteeconômica,querno aumentoda população”.
Informes dos mais variados temas podem ser encontrados na publicação em questão, desde laudos técnicos sobre a
qualidade da água que os cidadãos saltenses recebiam em seus lares até a descrição da rotina da creche mantida pela indústria
têxtil Brasital: “Às mães é facultado sair do serviço por alguns minutos para se dirigirem ao lactário da creche a fim de darem de mamar aos seus
filhos; outras crianças são alimentadas por mamadeiras preparadas pelas próprias freiras, (...) para crianças maiores é preparado o mingau e a
sopa”. Outro detalhe interessante é a listagem das escolas rurais do município, que Randi elabora levantando uma a uma o
número de alunos, a distância do centro da cidade e a professora responsável pela direção do estabelecimento. Esse
levantamento éacompanhado deummapa:
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Localização das escolas rurais de Salto
e as respectivas vias de acesso, 1959.
1)Escola MistaJosédePaula Santos –BairroOlaria.
2)Escola MistaBoa Esperança– BairroBoa Esperança.
3)Escola MistaAna RitaFelizola –Fazenda Santa Cruz.
4)Escola MistaJoão BatistaCezar– BairroCatingueiro.
5)Escola MistaBuru–Bairrodo Buru.
6)Escola MistaClaudio R.da Silva –BairroTrêsCruzes.
7)Escola MistaMariaMiranda Campos –BairroBoa Vista.
8)Escola MistaAcylinoAmaral Gurgel–BairroAtuaú.
9)Escola MistaGetúlioVargas– BairroCampo Grande.
Como sanitarista que era, Randi acreditou ser relevante detalhar a origem e a qualidade dos alimentos consumidos
pelos saltenses. Sobre o leite consumido na cidade, relatou ser “proveniente de pequenas fazendas localizadas na zona rural
do próprio município”. Já o fornecimento era “feito por uma única leiteira estabelecida [em Salto]”, e a “distribuição na casa
dos fregueses [ocorria] por meio de um carrinho adaptado, puxado a burro” – trabalho realizado “por cerca de dez
leiteiros”. Não havia métodos de resfriamento e de pasteurização, vindo o leite diretamente das fazendas Guarujá, Barnabé,
MonteAltoouda Granja Santo Antônio para o núcleourbano.
O comércio de pão pelas padarias era feito “em balcão e em carrinhos para entrega domiciliar”. Os endereços de sete
padarias constam na lista elaborada por Randi, sendo seus proprietários: Narciso João Conte, Cooperativa Operária
Saltense, Irmãos Bergamo, Pittori & Filhos, Domingos A. Lammoglia, Luiz Piaia & Filhos e Ernesto Bethiol. Há ainda
menção ao fornecimento de verduras por “hortas e chácaras nas imediações da cidade” como sendo pequeno, vindo a maior
parte dos gêneros dos municípios vizinhos. A distribuição das verduras ficava a cargo das quitandas, cujos proprietários
também são citados: João Navarro Filho, Celeste Trentin, Hideo Figita, Alcides Calefo, Expedito Thereza, Shogo Handa,
José A. Fabri, José Plácido Ferraz do Amaral e Antonio Rossi. Randi observa ainda que alguns chacareiros vendiam “seus
produtosdiretamenteao consumidorpor meiodecarrinhos puxadosa burro”quetransitavam pela cidade.
Estação ferroviária de Salto
Oprédio que ainda hoje pode ser visto na Praça Álvaro Guião foi construído em 1898, sob a direção do mestre
de obras João Garcia, e serviu por muitos anos como estação ferroviária. Os trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de
Ferro chegaram a Salto em 26 de novembro de 1870, mas nessa ocasião apenas foi instalado um marco no local onde seria
construída a estação. A instalação oficial da estação ferroviária de Salto ocorreu em 2 de abril de 1873. Curiosamente a
estaçãodeItufoi inauguradadepois,no dia 17do mesmomêseano.
Quando a ferrovia chegou, Salto não era mais que uma povoação com 200 casas e menos de mil habitantes. Mas o
crescimento não tardou a vir nos anos seguintes, já que a chegada da ferrovia foi um dos pontos decisivos para as primeiras
tecelagensaquisefixarem,nas imediaçõesda cachoeira.E issoacabou atraindo grandequantidadedetrabalhadores.
As Festas do Salto – existentes desde os primeiros anos do século XVIII – motivaram, a partir de 1876, uma iniciativa
que se tornou praxe das empresas que operavam a ferrovia: fazer correr trens entre Salto e Itu, nos dias 7 e 8 de setembro de
cada ano, a curtos intervalos de tempo. Isso se mostrava interessante, já que havia um numeroso contingente de ituanos
interessados em ir para Salto nesses dias, justamente para participar dos tradicionais festejos na data da padroeira do Salto. O
aviso extraído do jornal Imprensa Ytuana, de 4 de setembro de 1881, dá o tom do movimento nesses dias: “No dia 8 de Setembro
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p. futuro correrão os trens extraordinarios como de costume. Na vespera 7 de Setembro haverá um trem especial que partindo de Ytu as 5 horas da
tarde,regressandodo Salto denoite,15minutosdepoisdeum prolongado apito da machina”.
Nos anos imediatamente após a instalação da estação de Salto, andar de trem – fosse para sair de Salto ou na chegada
– significava também ter que atravessar o Rio Jundiaí, no trecho que hoje é o final da Rua Monsenhor Couto, a bordo de uma
balsa. Apenas em agosto de 1888 foi instalada uma ponte de madeira sobre o rio – pouco acima da que existe hoje –
projetadaecusteadapor umdosindustriaispioneirosdeSalto,o dr.BarrosJúnior,queeraengenheirocivil.
Até a década de 1950, tanto para transporte de cargas como de passageiros, a ferrovia reinou absoluta na região.
Nessa época, Salto chegou a ter seis ligações diárias com a capital paulista, sendo três via Jundiaí – com baldeação pela São
Paulo Railway (saindo daqui às 5h, 11h e 18h) – e outras três via Mairinque, que saíam 30 minutos após as primeiras, via
Jundiaí, nos mesmos intervalos. Por essa época, a ferrovia em Salto atendia a uma demanda muito grande das indústrias,
especialmenteda Eucatexeda EMAS,aquiinstaladas no início da décadacitada.
Em 1959 a estação de Salto tinha cinco desvios particulares: da pedreira da Ponte, da pedreira de João Dias, da
Brasital – com quase 2 km de extensão, da Eucatex e da EMAS, que consumia bauxita. Outras indústrias – tais como a Têxtil
Assad Abdala e a fábrica Picchi, além do comércio em geral – se valiam das mercadorias e matérias-primas que chegavam à
estação: celulose, fardos de algodão, cimento, madeira, soda cáustica, bobinas de aço, botijões de gás etc. Pela estação de
Salto também se exportava. Na década de 1950, daqui saíam: café em grãos, pedra britada, paralelepípedos, areia dos rios
Jundiaí e Tietê, vinho das vinícolas Milioni e Donalísio, óxido de alumínio da EMAS, em média dez vagões por dia de chapas
da Eucatex,artigosdecourodo CortumeTelesi,dentreoutros.
Em 1976 cessou o transporte de passageiros. As rodovias já haviam melhorado bastante e o número de linhas de
ônibus já havia aumentado – fruto de uma política pública que não se interessava pela ampliação da rede ferroviária e
direcionava os investimentos em outra direção. Ao longo de sua existência, a estação de Salto pertenceu às seguintes
companhias, numa sucessão de vendas e fusões que ocorreram: Cia. Ytuana de Estradas de Ferro (1873-1892), Cia. União
Sorocabana e Ytuana (1892-1907), The Sorocabana Railway Company (1907-1919), Estrada de Ferro Sorocabana (1919-
1971) e, por último, Fepasa – Ferrovia Paulista S. A. (1971-1987). A estação saltense foi desativada em 1987, com a
construçãodo novo traçadodelinha enova estaçãopara alémda Eucatex.
40
41
Estação de Salto, 1920.
42
“Meu nome é Valdira Alves
Zacarias, tenho 63 anos e nasci em
Salto na casa onde meu irmão
reside. Tenho saudades dos
vizinhos, que considerávamos como
parte da nossa família. Vejo que
muitas coisas melhoraram ao longo
do tempo. Por exemplo:
antigamente não havia ônibus aqui,
além de outras coisas que nos
auxiliam hoje. Gostaria de dizer o
nome de todas as pessoas que
fizeram parte da minha vida aqui
em Salto, pois são muitas...
Veja, hoje, que maravilha está
a cidade... Nós somos os sonhos
das pessoas que aqui um dia
vieram, trabalharam e morreram.”
Sociedade Italiana
AatualSociedadeItaliana Giuseppe Verdi,comsedeno início da Rua Floriano Peixoto,emsalas anexasao Museu
da Cidade de Salto, é herdeira da sociedade de socorro mútuo formada pelos italianos que chegaram a Salto entre o final do
século XIX e o início do XX, a Società Italiana di Mutua Assistenza Giuseppe Verdi. As sociedades de mútua assistência
existentes no Brasil no início do século passado funcionavam de maneira semelhante: uma contribuição mensal de cada
sócio possibilitava que qualquer participante, vítima de desemprego ou doença, não perecesse por falta de meios de
subsistência. Isso ocorria numa época em que não existia previdência social, e não se trabalhando devido a uma
enfermidade,por exemplo,não serecebia.
Pela documentação existente, sabe-se que em 9 de abril de 1916 os associados da Giuseppe Verdi aprovaram o
“estatuto social”. Mas a fundação dessa sociedade, embora não haja exatidão na data, teria ocorrido anos antes, entre 1902 e
1903. Infelizmente não existem registros de seu primeiro período de existência. Os acontecimentos de 1916 seriam
referentes à reconstituição da sociedade, que ficara inativa por algum tempo, em virtude, principalmente, dos reflexos da
GrandeGuerrainiciada em1914.
O primeiro bloco do conjunto arquitetônico que abrigou as diversas atividades promovidas por essa sociedade ao
longo do século XX foi concluído em 1903, para servir de local de ensaios e sede da Corporação Musical Giuseppe Verdi,
também conhecida por Banda Italiana, cuja fundação é de 1901. Contudo, depois de pouco tempo, o uso do prédio não
ficou mais restrito à banda. A Sociedade Italiana, que ao surgir já tinha a banda a ela vinculada, decidiu instalar no mesmo
espaço o Cine Verdi, que passou a projetar filmes – ainda nos tempos do cinema mudo. Assim, não restava muito espaço,
existindo apenas uma pequena sala de reuniões além do salão principal, que convivia com o arrastar de cadeiras constante,
em virtude de, ora por ser espaço de ensaio da banda, ora por ser espaço de exibição de filmes. Nas tardes de domingo
ocorriam bailes frequentados não apenas pelos membros da colônia italiana, mas também pela população brasileira
identificadacomospeninsulares.
As demais atividades da Sociedade Italiana eram desenvolvidas numa ampla casa ao lado da sede, na Rua José Galvão,
atual número 134 – então alugada da família Roncoletta. Ali estavam sediadas a Escola Italiana, mantida pelo professor
Francisco Salerno, que depois seria denominada Escola Anita Garibaldi e subsidiada pela indústria Brasital; a Sociedade dos
Ex-Combatentes da Primeira Guerra Mundial; o Círculo de Leitura Dante Alighieri; e o Partido Fascista de Salto. Nos
fundos, viviam os zeladores Pascoalina Gonela e Emílio Baldim. Portanto, faltava espaço à Sociedade. Em virtude disso, em
maio de 1934, a diretoria decidiu contrair um empréstimo para edificar – no terreno de 1.700 m² que já dispunha, existente
entre a referida casa alugada e a construção pioneira de 1903 – a Casa D'Italia. Para essa ampliação ocorrer foi necessária a
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remoção de uma grande quantidade de granito que existia no terreno, uma característica dessa região da cidade mais
próximaao Rio Tietê.
As obras, iniciadas em 1934, se estenderam até fins de 1936. E em 15 de fevereiro de 1937, uma grande inauguração
foi promovida, contando com a presença de um representante da Embaixada Italiana, do cônsul da Itália em Campinas e de
dois representantes do Consulado de São Paulo. A seguir, a biblioteca do Círculo de Leitura e a Escola Anita Garibaldi
saíram da casa alugada e foram ocupar o edifício antigo da Sociedade, ficando o recém-inaugurado salão destinado às
atividades de projeção cinematográfica, peças teatrais e apresentações musicais. Pouco tempo depois, em 1939, a Banda
Italiana, o Círculo de Leitura e o Partido Fascista deixariam de existir. E em 1941, com o rompimento de relações entre
Brasil e Itália, em virtude da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana cessou todas as suas atividades, ficando apenas o
então presidente, Leone Camerra, encarregado de receber o aluguel do salão de cinema – cedido a uma empresa de
Sorocaba desde1938– como intuitodepromovera manutençãodo prédio.
As atividades da Sociedade apenas seriam retomadas dez anos mais tarde, em abril de 1951. Sua sede, cedida à
Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros) desde 1945, foi devolvida em estado precário. O quadro social
foi reestruturado e a mesma diretoria que encerrara as atividades em 1941 foi reempossada. A sede passou por reformas e,
na prática, a Sociedade só retomou suas atividades em 1955. Nesse mesmo ano uma nova empresa foi autorizada a
administraro salão decinema,destavezoriginária da cidadedeItu.
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Fachada do Cine Verdi velho com a diretoria da Sociedade Italiana à frente, 1931.
Apesar de seu quadro social estar cada vez mais reduzido e envelhecido, foi apenas no final da década de 1960 que a
Sociedade Italiana admitiu a entrada de sócios não-italianos, sendo os primeiros brasileiros a fazer parte dela os senhores:
Pedro Rudine Tonelo, Rubens Milioni, Vitório Isolani, Alberto Telesi, Adélio Milioni e Geraldo Sontag. Ao longo de sua
história, estiveram à frente da Sociedade, como presidentes: João Scarano, Gino Biffi, João Vassali, Leone Camerra, Lino
Tabarin, Vicenzo Bifano, Adélio Milioni, Rubens Milioni, Geraldo Hernandez, Ayr Galafassi, João Antonio da Rós e, no
cargo desde1994,JoséOdair Peron.
Uma mudança no estatuto fez com que a Sociedade simplificasse seu nome para Sociedade Italiana Giuseppe Verdi,
retirando a expressão “de Mútua Assistência” – já que não mais correspondia aos seus fins. Uma ação de desapropriação dos
bens imóveis da Sociedade foi movida pela prefeitura em 1986, a qual não foi adiante e acabou encerrada com o acordo de
1994, que cedeu, em regime de comodato, por 30 anos, o conjunto situado numa das esquinas das ruas Floriano Peixoto e
José Galvão à municipalidade. Esse comodato foi renovado por mais três décadas em 2006. Atualmente, a Sociedade tem
como principal atividadeo ensino da língua italiana.
Usinas de Lavras e Porto Góes
Primeira usina hidrelétrica instalada em
Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos
para ser construída. A inscrição que se pode ver na
entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904.
Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela
Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a
segunda usina hidrelétrica instalada às margens do Rio
Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em
1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao
núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural.
Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a
eletricidadegeradapor ela.
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A usina de Lavras e o Rio Tietê, em vista aérea, 1930.
Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos, devido aos graves danos
causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do Rio Tietê ocorridas no século XX. Quando
Lavras voltou a operar, funcionou por 20 anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também
emSalto,sobrea qualtrataremosa seguir.
Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em
1971, a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de
Lavras, o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade.
Durante as primeiras décadas do século XX, várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As
usinas instaladas às margens Rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas
próximas.
A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome
aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada
mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias
localidades paulistas. Outra hipótese é de que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o
granitoqueexisteemgrandequantidadena região.
Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que
visava a abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina
próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década
de 1910. Embora tenha iniciado, a Brasital não concluiu a obra. Em 1927, a concessão foi repassada para a Companhia
Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light &
Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1.500 homens
trabalharam.
Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a
paisagem dos arredores da queda-d'água que dá nome a Salto. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi
bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem
esquerda,na quala vegetaçãosepreservoudesdeentão.
Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial
paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes está sob o controle da Empresa Metropolitana de
ÁguaseEnergiaS.A.,a Emae,tendosidoa primeirausinadessaempresaa setornar automatizada.
46
Trabalhadores responsáveis pela abertura do canal da usina de Porto Góes, 1924.
47
Colégio Professor Paula Santos
“Ejá se realizaram em nossa cidade os exames de admissão ao curso Ginasial. Muitos alunos da 1ª série, que haviam iniciado o
curso na vizinha cidade de Itu, estão agora matriculados em sua própria casa, assim podemos dizer”. Era assim que começava o artigo,
assinado por Joseano Costa Pinto, intitulado “Ginásio”, veiculado na primeira página do extinto jornal saltense O Liberal,
ediçãode4demarçode1951.
Em janeiro de 1948 se anunciou que seria criado em Salto um ginásio estadual. Diante disso, algumas comissões se
formaram para apressar a sua construção. Mas foi somente no Diário Oficial do Estado de 2 de janeiro de 1950 que foi
publicada a lei número 613, criando oficialmente o Ginásio Estadual de Salto. E em 30 de novembro seria emitida a
autorizaçãodo Ministérioda Educaçãopara queo ginásio começassea funcionar.
A história da instalação de um ginásio em Salto – ou seja, a instituição do ensino escolar com classes para além da
quarta série primária – é marcada por uma reunião realizada na noite de 25 de fevereiro de 1950. Essa reunião ocorreu na
sede da Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros), no espaço que hoje abriga o Museu da Cidade, mas não
atraiu muitos participantes. A população em geral não se mobilizou, apesar do convite publicado na imprensa e do desfile de
uma corporação musical pelas ruas da cidade, momentos antes, com o objetivo de chamar a atenção da população para o
acontecimento.
Mesmo assim, o grupo batizado “Comissão Provisória Pró-Ginásio” conseguiu reunir os líderes locais, dando início
aos trabalhos. Nesse momento, os membros dessa comissão eram acusados pelo jornal O Liberal de desejarem fazer uso
político da conquista de um ginásio para Salto, alegando que a atribuição de um único padrinho para a conquista seria algo
injusto, sendo o nome do deputado Martinho Di Ciero, como responsável pela iniciativa, aclamado por uns e questionado
por outros.
Embora com reduzida participação do povo, a reunião foi bastante agitada, sendo que um dos membros de oposição
ao governo municipal teve de ser contido pelo delegado de polícia para que “não subisse na mesa”. Ao final, uma comissão
definitiva para os trabalhos foi escolhida, com o professor Cláudio Ribeiro da Silva à frente, como presidente. Esses
primeiros passos em torno da luta pela criação de um ginásio estadual em Salto movimentaram algumas semanas de
discussõesna imprensaenos bastidorespolíticos.
Em 11 de janeiro de 1951, o prefeito municipal de Salto, João Baptista Ferrari, abriu concorrência pública para as
“obras de construção do Ginásio de Salto” – que deveriam ser executadas de acordo com o projeto e especificações
fornecidas pela própria prefeitura – antes mesmo de se ter o terreno. Em 8 de fevereiro se anunciava que a proposta da
Sociedade Construtura Celbe Ltda., única empresa que concorreu, fora a vencedora. Passado um ano da animada reunião de
48
25 de fevereiro, que definiu a comissão definitiva pró-ginásio, o que se conseguiu foi apenas a instalação do ginásio de forma
provisória em salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, um prédio de 1913. Essa ideia teria partido do dr. Archimedes
Lammoglia eforalançada numencontroinformal entreautoridadesocorridono clubeIdeal.
Em dezembro de 1950 foram realizados os exames de admissão do primeiro grupo de alunos, que começou a
frequentar as aulas no dia 1º de março de 1951, em duas salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Após algumas
polêmicas em torno dessa forma de se iniciar o curso ginasial em Salto, em maio de 1952, a prefeitura doou ao Estado um
terrenode8milmetrosquadradospara a construçãodeumprédiopróprio para o ginásio.
A situação de improviso, apesar dos trâmites para a construção de um prédio próprio, perduraria por alguns anos.
Sobre o ginásio estadual, em 1959, o dr. Adriano Randi dizia – em livro no qual traçou um panorama completo da cidade de
Salto naqueles tempos – que “por falta de prédio próprio” o ginásio estava “funcionando provisoriamente há oito anos no
prédio do G. E. Tancredo do Amaral, em condições precárias e com prejuízo do curso primário do mesmo”, com um total
de 138 alunos matriculados naquela data. Nesse mesmo ano, o Tancredo do Amaral passou por uma reforma e o ginásio
funcionou temporariamente em quatro salas do Externato Sagrada Família. Em 1960, por iniciativa do deputado dr.
Archimedes Lammoglia, foram iniciadas as obras de construção do prédio do ginásio, concluídas em 1962. E no ano
seguinte,asaulascomeçarama ocorrertambémno períodonoturno.
49
O Colégio Paula Santos no início da década de 1960.
O patrono – Grande educador, José de Paula Santos – escolhido para nomear o primeiro ginásio estadual de Salto –
nasceu na cidade de Guaratinguetá (SP), em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se
formou professor em 1911. Lecionou nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de
se radicar em Salto, em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no único grupo escolar de Salto, que mais tarde
viria a se chamar Tancredo do Amaral. Em 1917 casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como
dona Cotinha. Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em
Itu, local onde se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, foi apelidado “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta
de Salto”. Participou ativamente da vida social saltense, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade
Instrutiva eRecreativa Ideal–Siri.Faleceuem1949.
As tradicionais Festas do Salto
AFesta do Salto tem origem remota e confunde-secom a própria origem da cidade. Ocorreu pela primeira vez no
mesmo ano de instalação e bênção da capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, em 1698. A iniciativa do fundador, o
capitão Antonio Vieira Tavares, atraiu moradores da vizinha Itu e habitantes do Sítio Cachoeira, de sua propriedade, que
hoje corresponde a parte do território de Salto. Mais que tricentenária, portanto, trata-se de uma prática ininterrupta que
permaneceviva ainda nos diasdehoje.
A data da padroeira, Nossa Senhora do Monte Serrat, é o 8 de setembro. Em virtude disso, uma série de atividades
religiosas sempre ocorre nos dias da Festa do Salto, que tradicionalmente começa um pouco antes. Embora surgida na
igreja, ao menos desde meados do século XIX, a festa conta também com uma parte popular, ou profana, caracterizada por
quermesses e feira com barracas de comestíveis, roupas e outras dedicadas a promover sorteios e jogos. A face lúdica da
festa no final do século XIX se traduzia em brincadeiras como cabo de guerra, cabra-cega, pau de sebo, corrida de sacos e
boizinho baiano. O jornal Imprensa Ytuana de 27 de agosto de 1882 trazia o programa completo da festa sob o título
“EsplêndidasFestasdo Salto”,o qualtranscrevemosna grafiaoriginal:
Desde o dia 7 de Setembro começarão as festas que serão feitas com toda a pompa, terminando no dia 10 com um lindo e variado fogo de
arteficio do muito conhecido e apreciado artista pyrotechinico, o nosso Joaquim Corneta. Para intelligencia dos devotos, abaixo damos o programa
das festas.
Dia 7. Alem das demais festas costumadas na véspera haverá um trem de recreio que partirá de Ytu com uma banda de muzica as 5
horasda tarde conformeestaannunciado,ea noitehaveráretreitaeladainha.
Dia 8.Missacantada, sermão eprocissãoa tarde.
50
Dia 9. Este é o dia dos divertimentos para a rapaziada temos o Mastro Cocagne, corridas em saccos, jogo da cabra cega e o novo
divertimentoTugof War da corda, cada um destesjogosdar-se-ha um premioao vencedor.
Dia 10. Alem dos muitos divertimentos reservados especialmente para este dia, a noite queimar-se-ha os fogos que por si só tornão-se
recomendaveis- vistoseremcaprichosamentefeitospara estafesta.
Durante estes dias haverão trens especiaes - para conduzir a Rapaziada e a Estrada de ferro desta vez faz uma redução no preço da
passagem,dando bilhetesdeprimeira classedeida evoltapor 3patacas edoisvinténs.Chega Rapaziada ogammado la estará.
O historiador saltense Luiz Castellari [1901-1948], em seu livro História de Salto, escreveu que durante as Festas do
Salto no final do século XIX, as ruas eram especialmente capinadas e enfeitadas com arcos de bambus e palmas. Além disso,
bandeirinhas multicores eram colocadas em zigue-zague pelas ruas, lanternas venezianas eram penduradas nos portais e
fogueirasenormesiluminavam a povoação queainda não conheciaa iluminação elétrica.
José Maria Marques de Oliveira, o popular Zequinha Marques [1890-1981], em depoimento gravado em 1979, sobre
as Festas do Salto, disse: “No [meu] tempo de criança formava festa dia 8 de setembro em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat e tinha
muitas irmandades [que] faziam procissão no dia 8, Dia da Padroeira, até hoje. E as barracas eram feitas de pau-a-pique, de pita, de cambuí...
onde vendiam pastéis, quentão, coisas de noite de São João usavam na Festa de Setembro. Cuscuz, etc. Doce de batata, de abóbora e... coisas mais, e
a Festa... [ocorria na praça] Paula Souza. Ali eram feitas as festas profanas. [Tinha ainda] um cavalinho de pau que vinha de Tietê, de um
homem;doissenhorestocavam realejo...”
De fins do século XIX até meados do século XX, nos primeiros dias de setembro de cada ano, comerciantes vindos
de outras localidades traziam a Salto produtos dos mais diversos, dos quais o comércio local era carente: sapatos, tecidos,
louças e outras tantas bugigangas. Alguns saltenses montavam tais barracas e alugavam aos comerciantes forasteiros
interessados.Umdosúltimosa sededicara talpráticafoi AlbericodeOliveira[1903-1974],na décadade1950.
51
Barracas da Festa do Salto na Rua José Weissohn, 1930.
52
Enchentes de 1929 e 1983
Embora existam referências de meados do século XIX a respeito de uma grande enchente que destruiu a ponte
que ligava as margens do Rio Tietê, na altura do atual bairro da Barra, passando por uma ilha (conhecida antigamente por
Ilha da Santa Feia, pouco acima da atual ponte Salto-Itu), os relatos de antigos moradores de Salto informavam que a
enchente de 1929 havia sido realmente extraordinária. Uma das fotos que se tem desse episódio, de autoria de Biágio Ferraro,
mostra as águas cobrindo a Ilha dos Amores, onde existia um coreto. Naquele instante captado pela câmera, as águas ainda
não haviam atingido seu ponto máximo, já que, horas mais tarde, elas levariam o telhado do coreto mencionado, visto que
chegaram atéa calçadada Rua JoséWeissohn.
A Usina de Lavras – inaugurada em 1906, junto à margem direita do Rio Tietê, à montante do salto – sofreu grandes
danos com a enchente de 1929. A elevação do nível das águas atingiu a casa das máquinas e comprometeu os equipamentos.
Após essa enchente, Lavras foi desativada. Quando voltou a operar, em 1935, algumas medidas foram tomadas com o intuito
de se evitar estragos semelhantes: os geradores foram colocados sobre cavaletes e nas janelas ao lado do rio foram levantadas
muretas.Lavrasseriaparalisada definitivamenteem1956,já estando,então,bastanteobsoleta.
Ao centro, a Ilha dos Amores submersa, 1929.
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Os pioneiros de Salto

  • 1. Elton Frias Zanoni história e memória de Salto Leituras da cidadeLeituras da cidade e s p a ç o idea editora
  • 2. Copyright By 2012 Elton Frias Zanoni. Todos os direitos reservados a Elton Frias Zanoni. www.eltonzanoni.com Preparação de textos: Priscila Ramos de Oliveira. Revisores de textos: Jorge Cotrin e Alexandre Ricardo da Cunha. Diagramação: Sebastião Pereira Marques. Direção de arte: Antônio Victório. Entrevistas: Eraldo Miranda e Tiago Araújo. Suplemento pedagógico: Cristiani Freitas. Fotografia panorâmica: Adriano Ávila. Fotografia de capa: Início da Rua Nove de Julho, antiga Rua de Campinas, 1940 (coleção Ettore Liberalesso). Catalogação: Rita Larroudé (crb-8/1993). Coordenação de Projeto: Patricia Ramos de Oliveira. Direção pedagógica: Eraldo Miranda. Chefia editorial: Mauricio Araújo Miranda. Obra em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Este livro não é comercializado pela Editora Espaço Idea. A tiragem completa impressa é limitada a quantidade de professores e profissionais da Secretaria Municipal de Educação de Salto, envolvidas no Projeto Meu Primeiro Livro, “Salto, histórias de que posso me orgulhar”. A distribuição dos livros é de responsabilidade da Prefeitura da Estância Turística de Salto. | Fevereiro/2012 | Editora Espaço Idea | www.projetomeuprimeirolivro.com.br | | www.editoraespacoidea.com.br | O94 Zanoni, Elton Frias, a Leiturasdacidade.Históriae memória de Salto– Guarulhos/SP:EditoraEspaçoIdea.1 ed. 2012. p.--(ProjetoMeu Primeiro Livro:Salto,históriasde que possome orgulhar) ISBN:978-85-8107-007-0 1. Salto (SP) – história 2. Memórias. 3. Educação. Festas populares. 4. Saúde. 4. Cultura. Imigração. 5. Salto(SP) –(Cultura)I.FriasZanoni, Elton. II.Título III.Série. CDD 981.61 Índice para catálogo sistemático: 1. Salto (SP) – história 981.61 2. História – Salto (SP) 981.61
  • 3. Projeto Meu Primeiro Livro Uma lenda, um causo, uma história são para ser jogados aos ventos; soprados pela pluralidade inquieta das bocas que vêm e vão, pelos caminhos curtos e longos do dia a dia do homem. E neste cotidiano de labores,vitóriasederrotas,umacidadeeumpovo seformam, valorizando seumaior tesouro,suashistórias. O povo que conta e compartilha suas histórias é o povo solidário com aqueles que estão além de suas fronteiras,pois sepermiteserconhecidoemarcadona históriauniversal. Salto cidade formada em idas e vindas. Formada a partir da chegada de homens visionários, que plantaram seussonhos nestaterrafértilecultivaram aquiumpovo sábio,trabalhador esolidário. O Projeto Meu Primeiro Livro terá por objetivo resgatar e registrar a história de Salto, pelos olhos dos educadores, seu presente, e das crianças, seu futuro. E quais histórias serão narradas? Quais fatos serão descritos? Quais passagens serão lembradas? Sim, serão recordadas as histórias dos antepassados, mas, também, a história do agora que caminha pela tradição oral do seu povo, que se movimenta no cotidiano da cidade. O tema “Salto, histórias de que posso me orgulhar” terá como foco de estudos e pesquisas a conservação das histórias trocadas, num processo de imortalização das memórias. O educador, o guardião da palavra escrita, seráa bussolaqueguiaráascriançasnestepercursopreciosoderesgateda memórialocal. E como o livro é o tombamento da palavra, o que se seguirá nos capítulos desta obra inicial do Projeto, cedida gentilmente pelo professor Elton Frias Zanoni, pesquisador e estudioso da história de Salto, é um nortear para as preciosidades de memórias e histórias que serão imortalizadas nos futuros livros que sairão da boca do povo eterminarão nas escritasdefuturosescritoresda cidade. Editora Espaço Idea
  • 4. Apresentação Os textos reunidos nesta publicação não foram escritos para figurarem num livro. Eles são o resultado de escritos avulsos publicados em dois jornais saltenses. O primeiro deles, Voz da Cidade, que já não é mais editado. Foi nele que tive a primeira oportunidade de divulgar minhas pesquisas sobre a história de Salto, emfinsde2007. Passados dois anos, comecei a publicar no Taperá – tradicional jornal da cidade – o qual já tinha uma coluna sobre história local, chamada “Arquivo”, mantida pelo senhor Ettore Liberalesso, que encerrou sua sequência de 20 anos de artigos e me incumbiu de substituí-lo naquele espaço. Renomeada “História e Memória”, ainda hoje sigo publicando textos sobre o passado da gente de Salto, embora com frequência menorquea desejadapor mim. É importante esclarecer que iniciei estudos e pesquisas históricas sobre Salto, com maior regularidade, quando passei a trabalhar como historiador do Museu da Cidade, no qual também fui coordenador. Entre 2006 e 2010, por motivações diversas, debrucei-me sobre o material do rico arquivo dessa instituição em busca deindíciospara estabelecernarrativasqueregistrassemumaparteda histórialocal. Simultaneamente, o que eu julgava interessante divulgar um pouco mais, tanto da parte dos artigos para os jornais quanto das pesquisas no âmbito do Museu, eu postava num blog, que acabou sendo o culpado por este livro, pois foi lá que os editores responsáveis pela publicação encontraram, em suas pesquisas na internet, o material que casava com os propósitos do Projeto Meu Primeiro Livro, realizado pela Secretaria Municipal da EducaçãodeSalto,ao qual,agora,estelivroestáligado. Assim, desejo que esta publicação seja útil aos interesses dos educadores de minha terra natal – na qual também atuei como professor de História – e que represente o fechamento do meu primeiro ciclo ligado à cidade de Salto que, por diversas razões e apesar da distância, continuará a merecer meu mais profundo respeito,interesseeconsideração. Florianópolis, fevereiro de 2012. Elton Frias Zanoni
  • 5. Aos meus pais, João e Rose, que me ensinaram a valorizar a terra natal e são os grandes mestres da minha vida. E para Carolina, que além de me proporcionar o prazer do convívio cotidiano, entende meu interesse pelas coisas saltenses.
  • 6. SUMÁRIO Tavares e a fundação de Salto A segunda imagem da Padroeira A presença indígena em Salto Brasital Escola Anita Garibaldi O caso Alfredo Rosa Dr. Viscardi Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses” Industriais pioneiros Imigração italiana e o Buru Memórias de um professor em Salto Praça Archimedes Lammoglia Maestro Castellari O livro do dr. Randi Estação Ferroviária de Salto Sociedade Italiana Usinas de Lavras e Porto Góes Colégio Professor Paula Santos As tradicionais Festas do Salto Enchentes de 1929 e 1983 História dos cemitérios de Salto Tancredo do Amaral, a escola e o patrono Ponte Pênsil e Rua do Porto 9 10 11 14 18 20 22 24 27 28 32 33 35 37 39 43 45 48 50 52 55 58 60
  • 7. Armazém Popular, o Grande Bazar Saltense A antiga Rua de Campinas A presença japonesa em Salto Epidemia de gripe, 1918 O saltense Anselmo Duarte Pretti e Lubra, dois pintores saltenses A vila da Barra e seus bonecões Monsenhor Couto Dr. Archimedes Lammoglia O casal Segabinazzi Saltense e Guarani Origem da Igreja de São Benedito Luiz Castellari A antiga maternidade Creche da Brasital A lenda do tesouro do Salto de Ytu Ilha dos Amores Suplemento pedagógico Referências bibliográficas Sobre o autor 65 68 69 71 72 75 77 78 79 79 81 82 83 84 85 87 88 91 99 100
  • 8.
  • 9. 09 Tavares e a fundação de Salto Considera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares – então proprietário do sítio Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem observasseo horizontea partirdaqueleponto teriavistaprivilegiadapara a cachoeira. O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor de História de Salto, que empreendeu competente pesquisa decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, nome dado pelos índios ao saltono Rio Tietê. Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma forma existente no Brasil colonial para se tornar proprietário de terras. Para assistir à missa aos domingos, na vila de Itu, Tavares e seus familiares tinham de atravessar o Rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu deslocamento. Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de junho de1698,o padreFelipedeCampos a benzeu. Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação do sítio Cachoeira à Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, recém-fundada, mas impunham algumas condições. Além da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterada, especificaram que a doação só seria consumada por falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério. Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não
  • 10. 10 existahoje nenhum vestígiomaterial,nemdocumentoescritoquenos dêqualquerindicação. Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos, em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à Padroeira. A segunda imagem da padroeira Nas últimas décadas do século XVIII, o açúcar constituía a base econômica da região de Itu. Grande parte da população tinha suas atividades ligadas à produção e ao comércio desse produto. Nas ocasiões de grandes secas, que tantos prejuízos causavam com incêndios nos canaviais e demais lavouras, a imagem da Nossa Senhora do Monte Serrat era conduzida em procissão até a Igreja Matriz de Itu, onde ficava até que viessem as primeiras chuvas. Quando isso ocorria, a imagemerareconduzidaà capeladeonde havia saído,no povoado deSalto deYtu. Em fins do século XVIII, o padre ituano João Leite Ferraz, senhor muito rico e devotado à Nossa Senhora do Monte Serrat, encarregou-se de restaurar a capela original a ela dedicada, construída em 1698. Achava ele que a imagem primitiva que ali se encontrava era “pequena e sem estética”, e por isso desejava substituí-la por outra “majestosa e digna de admiração”. Passava-se o ano de 1797, quando o moço de nome Francisco de Paula Leite de Barros se apresentou ao padre solicitando sua intercessão, já que era seu desejo casar-se com Maria Joaquina de Campos, da qual o padre era tutor e amigo da família. Por esse favor, o padre Ferraz achou que o pretendente deveria pagar-lhe em penitências, e para isso disse ao jovem que fosse até a beira do tanque do Sítio Grande, no bairro do Piraí, e de lá trouxesse um tronco de cedro “de muito boas águas”.Assimo jovempretendentefez,entregando o troncono largo da MatrizdeItu,após enormesesforços. Assinatura de Antonio Vieira Tavares, retirada de documento do século XVII.
  • 11. 11 Não contente, o padre solicitou ao jovem que buscasse na vila de Parnaíba, atual cidade de Santana de Parnaíba, um santeiro de fama na época, o mulato cativo de nome Guilherme. Dias depois, o jovem Paula Leite trouxe o santeiro para que esculpisse a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat. Daquele tronco sairiam ainda, pelas mãos do mesmo artista, duas outras imagens: São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário, ambas ainda hoje existentes na Matriz da Candelária, em Itu.Essastrêsimagenseramconhecidascomo “imagensirmãs”,já queforamesculpidasda mesmatoraepelo mesmoartista. Mais de um século depois, na noite de 18 de janeiro de 1935, um curto-circuito na instalação elétrica da igreja em reformas, na cidade de Salto, na parte que funcionou como matriz provisória, provocou o incêndio que destruiu a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat entronizada em 1797. Naquela trágica noite, as chamas já tomavam conta do altar-mor quando populares tentaram salvar a imagem, sem, contudo, obter sucesso. Na manhã seguinte, após exame pericial da polícia, foi encontrado entre os escombros um pedaço de madeira carbonizada: era a cabeça da imagem incendiada – que hoje se encontraexpostano Museuda Cidade. A presença indígena em Salto Aárea onde hoje se localiza a cidade de Salto abrigava, ao início da colonização brasileira, aldeamentos dos índios guaianás (ou guaianazes), do grupo tupi-guarani. Consta que a aldeia aqui localizada chamava-se Paraná-Ytu. Foram esses índios que deram à cachoeira o nome de Ytu Guaçu, que significa Salto Grande. Assim, fica claro que essa cachoeira acabou dando nome a duascidades:a Salto (emportuguês)eà vizinha Itu(emtupi-guarani). Há registros que mencionam o ataque que, em 1532, os indígenas empreenderam contra Martim Afonso de Souza – primeiro donatário da Capitania de São Vicente. Dentre os líderes guerreiros, menciona-se o cacique de Ytu. Sendo essa ocorrência de época em que a vila de Itu (fundada em 1610) ainda não existia, acredita-se que seja uma referência ao chefe dos índios que viviam nas terras da atual Salto. O Museu da Cidade, inclusive, exibe duas igaçabas (urnas funerárias indígenas), pontas de flecha e outros fragmentos de cerâmica recolhidos nos arredores, que testemunham essa presença. Esses indígenas, assim como outros das margens do Tietê, foram repelidos ou aprisionados nas investidas das primeiras bandeiras paulistas, queoslevaram para abastecerdemão-de-obraasroçasnas vilasdo planalto. Entre os séculos XVI e XVIII, em São Paulo, o número de índios e mamelucos (mestiços de branco e índio) era muito maior que o de europeus. Inclusive, até meados do século XVIII, predominava entre a população paulista uma língua de base tupi-guarani, sendo essa língua mais falada que o próprio português. Era o nheengatu ou língua-geral, cujo ensino acabou sendo proibido pelo governo de Portugal. Ficou, porém, uma enorme herança indígena, nos hábitos de alimentação e higiene, artesanato e técnicas manuais diversas, conhecimento de plantas, crenças e nomenclatura, entre outros itens, cuja influência pode serpercebidana culturabrasileiraatéosdiasatuais.
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  • 14. Brasital Por volta do ano de 1870, enquanto o café reinava no oeste paulista, na região ituana, as culturas que predominavam eram a cana-de-açúcar e o algodão. Nessa época, o então povoado do Salto de Ytu tinha como seu grande atrativo a cachoeira. Assim sendo, para cá se dirigiam inúmeros visitantes. Em 1873 chegou a ferrovia, dando o impulso decisivo para quea cidadefabrilsurgisse. Nas proximidades da cachoeira, na margem direita do Rio Tietê, surgiram as duas tecelagens pioneiras, instaladas pelos industriais José Galvão (1875) e Barros Júnior (1882), que se aproveitavam do potencial do rio e empregavam turbinas hidráulicas para a geração de força motriz. Além de atrair trabalhadores para cá, as fábricas direcionavam a própria urbanização por meiodosmelhoramentosexecutadosemseusarredores.Vivia-seumdespertar. Salto se transformou numa localidade voltada para o trabalho. Em geral, a mão de obra dessas primeiras fábricas era formada pelo trabalhador livre brasileiro, com numerosa presença de mulheres e crianças, como se pode ver nas fotos dos grupos de operários desse período. No final do século XIX, a composição desse quadro inicial se alterou com a chegada de imigrantes europeus, em sua maioria italianos. Esse grupo, presente em grande número em Salto, constituía a maioria dos operários empregados, que em muitos casos eram egressos de fazendas de café do interior paulista. Foram os descendentes dessesprimeirositalianos queformaram o contingentedetrabalhadoresdas décadasseguintes. Por meio de sucessivas fusões que incorporaram as primeiras tecelagens e a Fábrica de Papel Paulista, a partir de 1904 a Sociedade Ítalo-Americana tornou-se única proprietária do conjunto fabril. Em 1919, com uma mudança de acionistas, passoua sechamar Brasital. A Brasital S/A, formada com capital brasileiro e italiano, marcou território e época, dominando parte da vida da cidade até aproximadamente os anos de 1950. Construiu vilas operárias, instalou armazém, açougue, creche e escola. Quase sempre em expansão, era o destino de muitos filhos de operários, já que a política de contratação privilegiava os familiares de funcionários.Issoseconcretizava por volta dos14anos deidade,emespecialpara asmulheres. Era marcante a presença feminina, representando, por volta de 1940, 75% da mão de obra empregada. A elas invariavelmente cabia uma dupla jornada, tendo que conciliar os afazeres domésticos, nos períodos de folga, com o trabalho na fábrica. Os 25% restantes eram homens que trabalhavam na tinturaria, oficinas mecânica, elétrica e de carpintaria, nos escritórios,nas cardasenos depósitosdealgodão edefios. As meninas ingressavam como auxiliares das maquinistas, tanto na fiação como na tecelagem. Os meninos ingressavam como ajudantes dos mecânicos, eletricistas e carpinteiros. Outros ingressavam no escritório da fábrica ou como escrituráriosnas seçõesda indústria–taiscomo tecelagem,fiação,tinturariaeoficinas. 14
  • 15. 15 A denominação Brasital persistiu até 1981, quando o Grupo Santista a adquiriu. A fábrica existiu até 1995, momento em que a então Alpargatas Santista encerrou suas atividades em Salto. Atualmente, os prédios da antiga tecelagem abrigam umcentrouniversitário. Fábrica e rio - A relação dos operários com o rio sempre foi muito estreita. Existiam lendas sobre uma canoa fantasma que era vista nas águas do Tietê através das janelas da fábrica, pelos funcionários do turno da noite. Outro exemplo é a cena comum, até a década de 1950, de operários que saíam do serviço às 16h e 30min. e atravessavam a ponte pênsil para ir pescar. Quase sempre havia um parente ou amigo esperando com as varas e as iscas. Ao escurecer, retornavam para suas casascomospeixes,queconstituíama misturado almoço oujantardo dia seguinte. Operários da Brasital com o prédio da fiação ao fundo, c.1920.
  • 16. 16
  • 17. 17 “À tarde, os moços saíam das fábricas e iam nadar lá... O povo ficava na mureta olhando, era um divertimento. Antigamente, nos quintais das casas da Brasital havia fornos de assar pão e tanques para se lavar roupas. Lá as crianças também iam brincar.” Dona Maria Luiza Pavanelli nasceu em Salto, tem 72 anos de idade e é aposentada.
  • 18. Escola Anita Garibaldi Desde a primeira década do século XX, Salto contou com escolas mantidas pela colônia italiana. A primeira delas denominava-se Dante Alighieri. Nesse período, Francisco Salerno, Othelo Donato e Leone Camerra se destacaram como docentes. Na década de 1920, a Escola Dante Alighieri passou a se chamar Anita Garibaldi, em referência à companheira brasileira de Giuseppe Garibaldi, guerrilheiro italiano conhecido como “herói de dois mundos”, por conta de sua participaçãoemrevoluçõestantona América– casoda Farroupilha, no Rio Grandedo Sul– quantona Europa. Em sua origem, essa escola voltava-se para a difusão da língua e da cultura italiana, à luz da ideologia fascista, com o governo italiano, sob o comando de Benito Mussolini, enviando o material didático – como livros de história e geografia – dentro dos programas de propaganda patriótica para italianos residentes no exterior. Alguns desses livros encontram-se nos arquivos do Museu da Cidade de Salto – que desde 1991 funciona no espaço que abrigou por quase quatro décadas a Escola Anita Garibaldi. 18 Alunos da Escola Anita Garibaldi, década de 1940.
  • 19. Mantida pela indústria têxtil Brasital S/A, a escola teve como diretor e professor, de 1931 a 1968, João Baptista Dalla Vecchia. Trajando terno jaquetão azul-marinho, camisa branca e gravata azul –, figura austera e apaixonada por seu ofício – podia-se dizer que “ele era a escola e a escola era ele”. De início, Dalla Vecchia centralizava todas as funções: era diretor, professor, secretário e bedel. Em 1934, a italiana Rosanna Turri [1913-2004] foi agregada à escola, permanecendo longo períodoao lado do professorDalla Vecchia. Tratando-se de um estabelecimento de ensino complementar, atendia normalmente aos egressos do curso primário do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, que ainda não tinham idade suficiente para ingressar no mercado de trabalho. As vagas na Anita Garibaldi eram disputadíssimas, especialmente porque Salto não tinha estabelecimentos de ensino com classesquefossemalémda antiga quartasérie. Além do currículo normal, o professor Dalla Vecchia ministrava aulas de música, língua italiana, religião, ginástica e caligrafia. Esta, por sua vez, transformou-se na marca dos alunos que a frequentaram: era a caligrafia do Dalla Vecchia, a caligrafia da Escola Anita. Existe um vídeo de fins da década de 1930, produzido pelos proprietários da Brasital, que mostra durante alguns segundos alunos desfilando pela Rua José Galvão, e também se exercitando, orientados pelo professor Dalla Vecchia. Ao final da década de 1960, Salto já contava com novos estabelecimentos de ensino que ocupavam um espaço antes preenchido pela escola Anita Garibaldi. Então, com a última turma formada em 1968, aposentou-se o respeitado mestre Dalla Vecchia, aos 72 anos. Os velhos livros de matrícula da escola estão sob guarda do Museu da Cidade, o que nos permite empreenderumlevantamento minuciosodetodososex-alunos. Um professor que marcou gerações: João Baptista Dalla Vecchia nasceu em Itu, em 1896. Filho de italianos, aos 8 anos de idade mudou-se com a família para a Argentina e, dois anos mais tarde, para a Itália. No início de 1914, pouco antes da eclosão da PrimeiraGuerra Mundial, os Dalla Vecchia retornaram ao Brasil. Então, João Baptista ingressou na Brasital, ali trabalhando até 1931 – ano em que recebeuo convitepara lecionarna escolamantida pela indústriaemSalto. Além de professor, Dalla Vecchia foi assíduo colaborador da paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat e de seu vigário, o padre João da Silva Couto [1887-1970], ajudando-o em várias empreitadas. Ligado às práticas esportivas, foi um dosdiretoresdo Ítalo FutebolClube,na décadade1920. Por muitos anos foi também músico da Corporação Musical Giuseppe Verdi, sendo ainda um dos fundadores e regentes da União Musical Gomes-Verdi, surgida em 1939. Na política, foi vereador de 28 de maio de 1936 a 30 de janeiro de 1937 e de 1 de janeiro de 1948 a 31 de janeiro de 1951, data em que renunciou ao cargo. Também foi vice-prefeito na gestão deVicenteScivittaro[1911-1968],entreosanos de1960e1963.Faleceuem1981. 19
  • 20. O caso Alfredo Rosa Em 20 de julho de 1911 ocorreu em Salto um episódio que transformaria um lavrador em uma figura venerada por muitos saltenses da primeira metade do século XX, que o tinham por milagreiro. Embora não se tenha segurança sobre sua verdadeira identidade, a memória popular acabou por nomear Alfredo Rosa o sujeito que foi assassinado na cidade na data mencionada. Nessa época, Salto contava com cerca de 5 mil habitantes, muitos deles vivendo na zona rural. Assim, era comum que muitos sitiantes viessem para o núcleo urbano realizar compras nos armazéns de existentes. Um deles, o de MarcosMilani,situava-seno Largo da Matriz,na esquinaemqueseinstaloua Crecheda Brasital,em1948. Naqueles meses de 1911, as pessoas viviam atemorizada diante dos frequentes furtos de animais que vinham ocorrendo. Há certo tempo, Alfredo Rosa – que supostamente vivia em algum sítio na divisa entre Salto e Elias Fausto – não era visto na cidade. Embora fosse figura já conhecida de alguns saltenses que o viam regularmente fazendo pequenas compras e tomando cachaça, naquela quinta-feira ele pareceu, para muitos, um sujeito suspeito: estava por muito tempo parado ao lado do armazém-pensão de Marcos Milani. E isso, possivelmente, foi um indício para que os trabalhadores que saíam da Ítalo-Americanao estranhassem. Enquanto subia em seu cavalo, e notando ser vítima dos olhares desconfiados de várias pessoas, Alfredo Rosa, assustado, largou tudo e se pôs a correr. Isso bastou para que os homens que o observavam, muitos deles operários, saíssem no seu encalço, aos gritos de “pega ladrão”. Dava-se, naquele instante, a associação entre os recentes furtos de animais e a figuradeAlfredoRosa. A perseguição ocorreu por cerca de 2 quilômetros, em direção ao cemitério velho – a atual Praça XV de Novembro – e descendo rumo ao Córrego do Ajudante, onde havia uma ponte. Se conseguisse atravessá-la, provavelmente Alfredo Rosa não seria alcançado, pois se embrenharia no mato. Diante da iminência de ver o sujeito que tinham por ladrão fugir, os perseguidores de Alfredo Rosa começaram a disparar tiros. Assustado, Rosa parou diante de todos e se disse inocente. Contudo, não houve perdão e Rosa foi morto a tiros. Em seguida, alguns populares arrastaram o corpo desde o local do assassinatoatéa casaquefuncionava como delegacia ecadeia,na entãoRuadeCampinas,atual9deJulho. Tempos depois, restabelecida a calma, foram descobertos os verdadeiros ladrões de cavalos. Então a cidade viu que trucidara um inocente. Talvez na tentativa de compensar o erro, muitos saltenses passaram a venerar a memória de Alfredo Rosa. Inclusive uma capela foi erigida no local de sua morte – construção que existiu até 1973. Já os restos mortais de AlfredoRosa constituemumcapítuloà parte,pois foramtransferidosdelocal por váriasvezes,estandohoje numasepultura comumno Cemitérioda Saudade. secos e molhados 20
  • 21. Alfredo Rosa em fotografia mortuária. Essa descrição do episódio é baseada em relatos de antigos moradores e cronistas de Salto. Existe documentação judicial referente ao caso e que pode ser consultada nos arquivos do Museu Republicano de Itu e possibilita outra leitura dos acontecimentos. Outra versão para o caso Alfredo Rosa: O inquérito policial referente ao caso Alfredo Rosa soma mais de 70 páginas e está sob guarda do Museu Republicano de Itu. Consultando-o, descobrimos algumas informações inéditas em publicações locais. Inicialmente, lê-se que três testemunhas foram ouvidas no dia do assassinato: 19 de julho de 1911. O relato do escrivão da delegacia de Salto aponta para o recebimento de um telegrama remetido pelo delegado de polícia de Itu com o seguinte teor: “Roubaram em Porto Feliz um burro pampa, arreado com lombilho chapeado. O ladrão é um indivíduo moreno, baixo, usa cabeleira, tem falta de umdedomédioemuma dasmãos echama-seJosédeTal. Consta queo ladrão seguiupara aí. Saudações”. Ao receber o comunicado, imediatamente o delegado de Salto tomou providências para a captura do sujeito descrito, caso ele se encontrasse em território saltense. Para isso, incumbiu da tarefa duas praças de destacamento e mais dois paisanos, que se encarregaram da sindicância. Por volta das 5 horas da tarde, um dos paisanos informou ao delegado que recebera notícia que estava hospedado no Hotel Central um “desconhecido que desconfiava ser ladrão de animais”. Sabendo disso, o delegado, em companhia de mais três pessoas, foi ao Hotel Central – onde de fato encontrou duas pessoas desconhecidas. Perguntou então ao dono do hotel se aquelas duas pessoas tinham se hospedado juntas em seu 21
  • 22. estabelecimento, recebendo resposta negativa. E suspeitando que uma delas estivesse envolvida com os roubos de animais, convidou o indivíduo suspeito, “que tinha cor parda, estatura mediana, cheio de corpo, de 30 anos presumíveis, trajando roupa escura”, para ir até a delegacia para averiguações. O sujeito concordou em acompanhar o delegado, mas chegando à rua, repentinamente sacou uma arma e disparou dois tiros contra a autoridade policial, não atingindo ninguém. E como naquele momento havia na rua certa “aglomeração de populares, saíram diversos em perseguição ao criminoso, que, se evadindo pela Praça Quinze de Novembro, foi disparando sua arma contra seus perseguidores e, mesmo correndo, (...) carregava a arma, desfechando para mais de 15 tiros, [e] por fim tomou, depois de saltar uma cerca, a Rua Joaquim Nabuco (...)”. Em meio a essa perseguição, que se prolongou pela “estrada de rodagem de Capivari”, um dos populares foi atingido na coxa por um tiro disparado pelo fugitivo. A partir desse momento, vários perseguidores que estavam armados “também dispararam diversos tiros contra o fugitivo, que ao chegar ao Ribeirão do Ajudante recebeu um tiro de frente, disparado por um dos populares, que o prostrou por terra, falecendo momentos depois”. O delegado, embora estivesse no grupo daqueles que perseguiam o suspeito, não soube apontar o responsável pelo tiro fatal. Em seguida, o cadáver foi conduzido à delegacia de polícia, onde foi revistado. Com ele encontraram um revólver – imitação de Smith & Wesson, de calibre 9 milímetros –, uma faca, 20.400 e quatrocentos réis, e uma carta dirigida a Maria Vieira, à Rua Sete de Setembro, Itu – assinada “Arfredo Rosa”, com R. Outros bens do morto foram localizados no Hotel Central e listados, assim como dois cavalos com os quais chegoua Salto. Dr. Viscardi Figura que desde 1930 dá nome a uma rua de Salto, o médico Enrico (Henrique) Viscardi nasceu em 1858, na cidade de Milão, Itália. Sua biografia pode ser dividida em três momentos principais: vivência na terra natal, passagem pela Áfricaepermanência no Brasil,especificamenteemSalto. Uma importante fonte de informação a respeito de sua trajetória se encontra numa publicação especial do jornal Fanfulla, editada em 1906 e intitulada Il Brasile e gli Italiani. Trata-se de uma compilação especial que aborda a participação de italianos no desenvolvimento do Brasil, com mais de 1.200 páginas, em grande formato. Na página 1.036 encontramos os dizeressobreo doutorViscardieumafotografiadele. Essa fonte menciona que Viscardi formou-se médico pela Universidade de Pavia, na região da Lombardia, em 1883. No ano seguinte, em virtude de um surto de cólera que se alastrou por toda a península itálica, principalmente Nápoles, ao sul, o jovem estudante se inscreveu na equipe de Felice Cavallotti, político e poeta italiano, e foi em socorro aos doentes 22
  • 23. daquela região. Em 1886, consta que já dirigia um lazareto destinado aos acometidos pelo mal da cólera. Esses seus primeiros trabalhos lhe renderam duas medalhas destinadas a beneméritos da saúde pública italiana. Por essa mesma época, na biografia de Costantino Lazzari [1857-1927], um socialista lombardo, encontramos menções ao envolvimento de Viscardicomo umdosmembros“maisativosedispostos”da Liga SocialistaMilanesa. No contexto da política expansionista europeia do final do século XIX, a África representava um grande território além-mar a ser conquistado. O rei italiano Umberto I, já tendo feito um ensaio de colonização na Eritreia, lançou-se numa guerra contra a Abissínia (atual Etiópia), pleiteando o controle de novas áreas. Essa pretensão italiana culminou na Batalha de Adwa, em 1896, na qual os etíopes surpreenderam o mundo ao derrotarem a potência europeia e permanecerem independentes sob o reinado de Menelik II. Nesse conflito, Viscardi havia se engajado como capitão-médico. Ao final da mencionada batalha, foi ele quem chefiou a equipe de médicos que cuidou dos 300 prisioneiros que tiveram um pé ou uma mão amputados pelosetíopes,antesdeseremlibertados. Ao retornar à Itália, Viscardi foi condecorado com medalha alusiva aos serviços prestados no campo de batalha e passou os últimos anos do século XIX como médico no Ospedale Maggiore di Milano. Casado na Itália, sabemos que Viscardi deixou lá dois filhos. Há informação que, em 1906, Bruno, o mais velho, era oficial da Marinha; e Mario estudava agronomia em Bréscia. Na biografia de Lazzari, os filhos e esposa de Viscardi também são mencionados num trecho de documentodo final do séculoXIXqueatesta,ainda, a estreitarelaçãoentreo socialistaeo médico. Viscardi chegou a Salto em 1902 com uma função predeterminada: chamado por José Weissohn – industrial italiano estabelecido com suas fábricas às margens do Rio Tietê – para assumir a “chefia do serviço sanitário” daquelas tecelagens. Na prática, Viscardi prestava toda a assistência médica necessária aos operários de Weissohn. Várias são as fotos do acervo do Museu da Cidade de Salto na qual estão presentes Viscardi, Weissohn e demais diretores das tecelagens existentes no início do séculoXX. O médico envolveu-se, ainda, no tratamento da ciática e do reumatismo, dando continuidade aos trabalhos pioneiros no combate a esses males a partir dos métodos introduzidos pelo casal Segabinazzi, italianos, também radicados em Salto. Logo que chegou, o médico viveu no Hotel Saturno. Tempos depois se mudou para um casarão de pedra, existente até hoje na Rua Monsenhor Couto. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos pobres”ou“médicodas flores”. No referido casarão, Viscardi viveu com uma antiga empregada sua, com a qual teve dois filhos – falecidos com menos de 2 anos de idade. Antônio Virgílio e Antônia, que estão enterrados em túmulos de mármore branco, cercados por grades de ferro, ao lado do túmulo do pai. Em 1913, quando da morte de Viscardi, uma multidão acompanhou seu enterro, que se deu no então cemitério novo, na Vila Nova, atualmente denominado Cemitério da Saudade. Em seu túmulo, que 23
  • 24. Dr. Viscardi, médico italiano. ainda hoje recebe flores, lê-se um epitáfio em língua italiana, que traduzimos: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da admiração de todos, está mudo e frio o coração do dr. Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou depalpitar no dia 13dedezembrode1913”. Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses” Os dados biográficos de Francisco Fernando de Barros Júnior [1856-1918], um dos industriais pioneiros em Salto nas últimas décadas do século XIX, foram levantados e sistematizados com minúcia por Luiz Castellari [1901-1948], autor de História de Salto. O texto que se segue é a sistematização de alguns dos dados apresentados por Castellari na segunda parte de seus escritos, especialmente dedicada à figura daquele que seria cognominado “pai dos saltenses”, por conta de seus diversospréstimosaos habitantesda cidade. Filho de Francisco Fernando de Barros – senhor de engenho e produtor de cana – e Angela Guilhermina Mesquita Barros, o dr. Barros Júnior nasceu na então vila de Capivari, em 17 de março de 1856. Ao concluir seus primeiros estudos no Brasil – passando pelo Colégio São Luiz, de Itu, e Kopke, no Rio de Janeiro – partiu para os Estados Unidos, ingressando na SyracuseUniversity, emNova York,com o propósito desegraduarengenheirocivil. Quando retornou ao Brasil,chegando a Itu em 1879, assumiu posição de destaque no Partido Republicano local. No mesmo ano se casou com sua prima-irmã, MariaAlexandrinadeBarros,da qualsedesquitariaantesdefalecer. 24
  • 25. Em 1880, Barros Júnior iniciou seus investimentos em Salto com a construção de um edifício que funcionaria como tecelagem, que passou a operar em 1882. Barros se sobressaiu mais como político que como industrial, sendo representante de um modelo típico do final do século XIX: político, fazendeiro e industrial. Seu pai fora delegado de polícia em Capivari, sua terra natal. E um de seus irmãos mais velhos se elegera deputado provincial nos anos 1870 – ainda nos tempos do Império,portanto. A atuação política de Barros Júnior teve início nos anos 1882-1886, quando foi vereador em Itu – época em que pleiteou diversos melhoramentos para a então vila do Salto. Entre 1892 e 1896, já na República, foi deputado estadual pelo Partido Republicano Paulista. Barros Júnior deixava claro, desde seu retorno ao Brasil, quais eram seus objetivos: tornar-se umchefepolíticoemSalto,aliando seusinteressescomo industrialepolíticodo PRP. Em Salto, foi o responsável direto por algumas ações bastante significativas para a época: em 1880, reorganizou o Grêmio Musical Saltense. Em carta de 1940, o maestro Henrique Castellari [1880-1951] registra uma passagem sobre o grêmio e a participação decisiva do industrial: “A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa vontade e vocação musical, (...). Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense dr. Francisco de Barros Júnior (...) avocou-se a direção da referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral (grande músico ituano), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da banda por sua conta. Mais tarde, [em] 1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à guarda da Matrizlocal,(...)”. Em 1885, Barros Júnior criou o Gabinete de Leitura e Cultura Democrática; em 1887, fundou o Clube Republicano 14 de Julho; em 1888, passou a editar o primeiro jornal local, o Correio do Salto, juntamente com o professor Tancredo do Amaral [1866-1928]. Aqui também o capivariano exerceu os seguintes cargos: subdelegado de polícia, intendente, presidenteda Câmara ejuizdepaz. Mas foi durante a epidemia de varíola de 1887, que atingiu toda a Província de São Paulo, que Barros Júnior notabilizou-se em Salto. Com seu auxílio foram construídos três lazaretos (unidades de isolamento dos doentes, afastadas no núcleo central da vila). Auxiliou ainda na compra de medicamentos, víveres para alimentação dos doentes, roupas e leitos. Trouxe também médico e enfermeiras da capital. O historiador local Luiz Castellari assim descreveu a atuação do “pai dos saltenses” naqueles dias de surto epidêmico: “Nas horas em que não se ocupava com os enfermos, [Barros Júnior] saía na rua à frente de suabanda demúsica,soltando foguetes,comoqueafugentando o'vírus'eassimalegorizar[sic]a população desolada”. Na biografia do “pai dos saltenses”. duas datas merecem destaque: 1890, venda de sua fábrica de tecidos em Salto; e 1893, com a apresentação do projeto ao Congresso Estadual que ampliava os limites de Salto, incorporando terras da margem esquerda do Rio Tietê, antes pertencentes a Itu. No ano do término de seu mandato como deputado estadual, 25
  • 26. segundo menciona Luiz Castellari, Barros Júnior teria “perdido seu cabedal”, ou seja, empobrecido: “De elevada posição social a um humilde carreio e arador de terra. Seguidamente vinha à vila [de Salto], guiando seu carro de boi. De uma feita, estacionando em frente a uma casa comercial, pede ao proprietário um par de sapatão a crédito. Negam-lhe o pedido”. Barros Júnior foi o primeiro presidente do Conselho de Intendência de Salto, em 1890 – cargo equivalente ao de prefeito. Entre 1896 e 1898 esteve ausente da 2ª Câmara de Salto, tendo retornado em 1899 e permanecido até 1907. Entre 1907 e 1918 não participou diretamente da política local. Quando faleceu, em 1918, vítima de gripe espanhola, contava com 62 anos. Deixou um único filho, Alexandre Luiz de Almeida Barros, e um terreno situado na Rua Joaquim Nabuco. Sua última ocupação foi a de coletor de rendas federais.Ainda hoje seunome estáligado à ideiadedevoção àscausaslocaisemSalto. 26 Dr. Barros Júnior, o pai dos saltenses , com 23 anos, aproximadamente. Acervo do Museu Republicano Convenção de Itu. " "
  • 27. Industriais pioneiros José Galvão: Nascido em Itu, em 19 de janeiro de 1834, José Galvão de França Pacheco Júnior foi o pioneiro da indústria têxtil em Salto. Iniciou a construção de sua fábrica em 1873 – mesmo ano da chegada da ferrovia, com a instalação da Estação de Salto – inaugurando-a em 1875 e dando-lhe o nome de “Fortuna”. Instalado na margem direita do Rio Tietê, próximo à cachoeira, o empreendimento de Galvão tinha 1.240 metros quadrados de área construída. A localização nesse ponto não era casual: o potencial energético das águas foi aproveitado com a instalação de uma turbina a água, posteriormente convertida em elétrica. Na comunidade saltense que se avolumava no final do século XIX, muito em virtude dos braços trazidos para trabalharem em seu empreendimento, Galvão era figura de destaque. Faleceu em 30 de março de 1889eseunome,anos maistarde,foi dado à ruaque,até1908,sechamava Rua da Estação,no centrodeSalto. José Weissohn: Em 1898, o engenheiro José Weissohn, vindo da Itália, adquiriu os prédios das duas tecelagens pioneiras, instaladas por José Galvão e Barros Júnior, na margem direita do Rio Tietê, que desde 1890/91 já haviam sido incorporados por empresas de maior porte. Apesar de já em 1904 ter transferido todo esse patrimônio à Società per l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, Weissohn continuou em Salto como um dos diretores na sociedade. Ele e sua família residiam no chalé da gerência, uma bela edificação à frente da antiga Júpiter. Entre os anos de 1911 e 1913, Weissohn esteve à frente das negociações entre os industriais e o povo, juntamente com o poder público da época. A iniciativa visava a resolver o problema de locomoção ao Porto das Canoas – local piscoso, cujo acesso fora impedido pelos industriais que incorporaram aos seus domínios uma via pública que cortava os prédios das tecelagens e ia até a margem do rio. A solução encontrada foi a construção de uma ponte pênsil, num abismo então existente na margem direita, entre a pedra grande e a pedraalta,ao lado dosprédiosda antiga fábricaFortuna. José Revel: Vindo da Itália como conselheiro-delegado da Sociedade Ítalo-Americana, em 1909, José Revel era o maior acionista da empresa, que além da fábrica de Salto tinha outras na Argentina e no Chile. Quando o domínio acionário passou às mãos de outro grupo, em 1º de novembro de 1919, dando origem à Brasital S/A, Revel foi o primeiro presidente da empresa, permanecendo nesse posto até 1923. Pode-se atribuir o crescimento vigoroso da Brasital em seus primeiros anos, especialmente em Salto, aos seus esforços. É de sua época a aquisição das quatro quadras de terreno nas quais seriam construídas as 244 casas da Vila Operária Brasital. Não é por acaso que uma das ruas que corta as referidas quadras recebeu o nome deJoséRevel,queviveuemSalto por quase15anos. 27
  • 28. Imigração italiana e o Buru Antes de 1860, a Itália estava dividida em vários pequenos Estados, em geral fracos e dominados por outras potências europeias. Ideias de que a Itália devia formar um só país vinham de longe, mas foi somente no século XIX que ela ganhou força e se completou. A unificação não melhorou a vida do povo italiano. A crise agrícola de 1880 afetou profundamente as pequenas propriedades, que não suportavam a pesada carga de impostos do governo e não conseguiam competir com a produção agrícola de outros países. A injustiça social, acompanhada de um governo ineficiente, lançava muitospeninsularesao desencanto. Para muitas famílias italianas, o sonho de superar as dificuldades vividas na terra natal passou a ser representado pela expressão “fazer a América”. E assim, muitos italianos atravessaram o Oceano Atlântico e aportaram no Brasil, cheios de esperança.Estima-seque,entrehomens,mulheresecrianças,o totaltenhaultrapassado1milhão emeiodepessoas. Diante da necessidade de mão de obra barata para a manutenção da lavoura do café, São Paulo foi o centro da imigração europeia para o Brasil. Dos 4 milhões de estrangeiros que entraram no Brasil entre 1886 e 1934, 56% se instalaram em terras paulistas. Enquanto os alemães preferiam ir para o Sul e os portugueses para o Rio de Janeiro, os italianos fizeram do Estado deSão Paulo o seulugar,sendoa maioria esmagadora delesdirigidaaos cafezais. No final do século XIX, grande número de famílias italianas se instalou nas lavouras de café existentes nas proximidades do bairro rural denominado Buru, em Salto – uma região que, à época, se estendia desde a margem direita do Córrego do Ajudante e do Rio Tietê, até as divisas do município de Salto, tendo no meio o próprio Rio Buru, que nomeava essa vasta área. Atualmente, seus limites se estendem desde a divisa com os municípios de Indaiatuba e Elias Fausto, na altura do distrito de Cardeal (antigamente denominado Buru de Cima), passando pela região onde está a Capela de Nossa Senhora das Neves(Burudo Meio),atéatingira velha estradadeterraquevai para Capivari(BurudeBaixo). A vila de Salto de Ytu, situada entre as regiões cafeeiras de Itu, Campinas e Jundiaí, era um local bastante modesto em fins do século XIX. Contudo, tornou-se um exemplo significativo da força da presença italiana em solo brasileiro. Nos primeiros anos do século XX era grande o número de italianos que chegava à região de Salto. No ano de 1905, por exemplo, o contingente de naturais da Itália aqui instalados passava de 3 mil, quando a população saltense era de aproximadamente 4.200habitantes. As primeiras levas de italianos começaram a chegar a Salto por volta de 1890 – tempo em que ainda eram pouco numerosas as propriedades rurais e se encontravam vastas áreas cobertas pela mata virgem. Valendo-se dessas terras inexploradas e de baixo custo, nelas se fixaram muitas famílias de imigrantes recém-chegadas da Itália ou saídas das fazendas decafédosmunicípiosvizinhos eáreaspróximas.. 28
  • 29. 29
  • 30. Uma família de imigrantes trouxe da Itália a primeira imagem de Nossa Senhora das Neves, propagando o culto na região do Buru. Desde o final do século XIX se promoviam novenas, sempre no mês de agosto, que eram encerradas com a procissão da referida imagem. Desde esse tempo, festas populares eram realizadas com o intuito de se arrecadar fundos para a construçãodeuma capela.A capelahoje existentejá éa segundaconstruçãoedata de1938. As famílias Zanoni, Stecca, Zambon, Rocchi, Di Siervo, Bethiol, Pauli, Pitorri, Bolognesi, Cortis, Ognibene, Gianotto, Vallini, Quaglino, Ferrari, Santinon, Matiuzzo, Bernardi, Gilberti, Bergamo, Nicácio, Mosca, Fiori – dentre outras – estiveram ligadas à história de ocupação do bairro do Buru e adjacências, bem como aos trabalhos religiosos na capela de Nossa Senhora dasNeves. 30 Capela de Nossa Senhora das Neves, c. 1970. João Ivo Stecca, esposa e filhos - uma família do Buru, c. 1940
  • 31. Um depoimentosobreoBuru: O Museu da Cidade de Salto preserva em seus arquivos uma coleção de depoimentos de antigos moradores, gravados em fitas cassete e hoje disponíveis em CDs e até mesmo na internet. Um deles é o de Palmira Merlin Santinon. Durante a gravação de quase 23 minutos, efetuada em abril de 1993, o principal tema presente na conversa entre Palmira e seus interlocutoreséo bairroruraldo Buru. A depoente: Palmira nasceu em 14 de junho de 1912 “num lugar [...] [chamado] Ribeiro”, próximo a Capivari. Em 1923, veio para a cidade de Salto, onde viveu até seus 18 anos, quando se casou com Guilherme Santinon e foi morar no bairro rural do Atuaú, onde seu marido já residia. Logo em seguida, o casal comprou terras no bairro do Buru, onde administraram por muito tempo a venda do Buru. Nessa área, que antes de pertencer à família Santinon denominava-se “Sítio do Turco” – e por consequência tinha-se o Armazém do Turco –. Palmira viveu por 55 anos. Assim sendo, o tempo a serabordado pela depoente,ao falardo Buru,vai do início da décadade1930atémeadosda décadade1980. Os três Burus: Território vasto e, até bem pouco tempo atrás, muito distante do núcleo urbano de Salto (era recorrente entre os saltenses a expressão “tão longe como daqui ao Buru...”), dividia-se em três partes: Buru de Baixo, Buru do Meio e Buru de Cima. Segundo a depoente, essa divisão era feita por meio de águas, com alguns córregos fazendo as vezes de divisa entre uma fração do bairro e outra. O Buru no qual se localizava a venda era o “do Meio”. Sabe-se que essa divisão era adotada há muito tempo, desde o final do século XVIII, pelo menos. O censo populacional de Itu de 1792 – cuja documentação, sob guarda do Arquivo do Estado de São Paulo, denomina-se “Maços de População de Itu” – alocou o “Boyri de Sima” e o “Boyri de Baixo” na 5ª Companhia. Pela circunscrição das demais Companhias nas quais o território ituano estava divido (incluindo os atuais territórios de Indaiatuba, Jundiaí e Piracicaba, por exemplo), nos parece óbvio ser o denominado Boyrio nosso Buru. Famílias e sítios: A depoente citou as famílias que residiam no Buru no tempo em que lá viveu: Stecca, Zambon, Mosca, Bracarense, Garcia, Ribeiro, Gianotto, Quaglino, Keiller e a família de José Eduardo. Solicitada a citar nomes de sítios do Buru, menciona que não era muito comum os sítios terem nome, tinha-se, sim, o nome do proprietário associado às terras. Assim sendo, lembra-se dos sítios Aleluia, do sítio dos Di Siervo, dos Bracarense, dos Mosca, dos Zanoni, do doutor Janjão e da fazenda dos Anastácios. Em um levantamento topográfico de Salto de 1931, é possível a localização de algumas outraspropriedadesentãoexistentes,como ossítiosNova Trentoeo deJ.Bergamo. 31
  • 32. Memórias de um professor em Salto Em seu livro Memórias de um Mestre Escola (1974), Felício Marmo – professor e inspetor escolar no início do século XX – dedicou cerca de 20 páginas a sua passagem por Salto. Vindo de Cosmópolis (SP), chegou a terras saltenses em 20 de janeiro de 1908 e permaneceu até 13 de fevereiro de 1912. Numa época, portanto, em que nem sequer o Primeiro Grupo Escolar de Salto, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, havia iniciado suas atividades – fato que ocorreria no ano seguinte. A cidade de Salto que Marmo encontrou, conforme ele mesmo relata, “contava com três fábricas de tecidos, sendo a mais importante a Società per l'Esportazione e per l'Industria Ítalo-Americana S. A.”, antecessora da Brasital. A respeito da educação, ele menciona que Salto possuía “duas escolas noturnas estaduais, regidas pelos professores senhores Mario Macedo e Kiel, além de uma escola mista, mantida pela fábrica de tecidos Ítalo-Americana, sob a regência do professor Donalísio”. A presença italiana, fosse pelos diversos imigrantes ou pelo capital da indústria que mantinha essa última escola mencionada – que inclusive ministrava “noções da língua italiana” –, motivou Marmo a se empenhar, na escola que ficaria sob sua responsabilidade, no sentido de “manter um ótimo padrão de ensino, máxime [sic] no que tangia aos conhecimentos de história pátria, geografia e educação moral e cívica”. E esse padrão, destaca o professor em seu livro, era atestado pelos “inspetores escolares senhores Antonio Morato de Carvalho e Boanova”, que por várias vezes “puderam apreciar (...) o andamento progressivo das aulas”. Interessantes são suas considerações sobre determinadas instituições e personalidades da cidade naqueles anos em que aqui esteve. Sobre música, Marmo menciona que Salto contava com duas bandas: a Musical Saltense, “criada e dirigida pelo maestro Henrique Castellari”, e a Giuseppe Verdi. O mestre escola associa ainda o gosto pela música à maciça presença italiana por aqui: “O italiano, amante das artes, qualquer que seja sua condição social, não deixa de render culto à deusa Euterpe”, deusa da música e da poesia lírica. Sobre o local e o que se ouvia, escreve: “Ao redor do pequeno coreto [do antigo Largo Paula Sousa] ou em suas imediações, era belo ver-se aquela multidão atenta à batuta de Castellari a reger O Guarani, de Carlos Gomes; a Aida, de Verdi; a Cavalaria Rusticana,deMascagni;a Boêmia,dePuccini; oBarbeirodeSevilha,deRossini”. Num longo parágrafo, Marmo arrola uma lista das pessoas das quais ainda recordava, passados 62 anos entre o momento que escrevia suas memórias e o que viveu em Salto: “Devo lembrar os [nomes] daqueles que ainda perduram na minha já supra-octogenária memória: o engenheiro agricultor e renomado político e patriota dr. José Francisco de Barros Junior; Luís Dias da Silva, um dos grandes prefeitos da cidade; dr. Gastão de Meirelles França, coletor de rendas federais; dr. Henrique Viscardi, clínico e cirurgião da fábrica Ítalo- Americana e que atendia também a clientela particular, (...); João Capistrano Rodrigues de Alckmin: guarda-livros e gerente da fábrica de tecidos 32
  • 33. dos Pereira Mendes & Cia.; José Weissohn e Henrique Picchetti, diretores da fábrica de tecidos Ítalo-Americana; Bruno e Bruto Belli; irmãos Almeida Campos, conceituados comerciantes; irmãos Nabor e João Galvão de França Pacheco, farmacêuticos; as famílias Begossi Saturno [sic], grandes hoteleiros e proprietários; Henrique Angelini; Maffei, competente mestre de tecelagem; Trevisiolli, Nastari, Armando Silvério de Almeida; Brenha, Henrique Castellari; Regolo Salesiani; Pasquinelli; Leoni, Badra; Teixeira; Fragoso; irmãos Lopes; Amaral Gurgel; Kiel; Lammoglia; Bombana; Figueiredo; Fernandes da Silva; Milioni, Donalísio; Moura Campos; Rando; Gonella; Roncaratti; Alegro; Malimpensa;Simões;PereiradeCastro;Aguirre(...)”. Nesse tempo de pouco mais de quatro anos em que esteve em Salto, Marmo foi hóspede no Hotel Saturno, onde, diz, “tratavam-me como se fora da própria família”. E “por um quarto novo, no sobradinho, banho, café da manhã com farto acompanhamento,almoço ejantar,[pagava-se]apenas centoetrintamilréis”. Há, nas Memórias, menção aos principais hóspedes: “Os mestres da malharia, fiação, tecelagem, cascame, química, tinturaria; – senhores: Visetti, Ottuzzi; Apendido Secondo, da contabilidade. Todos, moços de irrepreensível conduta e profissionais de reconhecida competência, diplomados nas escolas técnicas de Milão e Turim. À mesa, só falavam no idioma italiano ou, conforme os casos e as oportunidades, empurodialetomilanêsou piemontês,(...)”. Praça Archimedes Lammoglia APraça Archimedes Lammoglia é o logradouro público que mais vezes teve seu nome alterado na história de Salto. Muitas vezes dividida em duas partes, já se chamou Praça da Bandeira, Paula Souza, do Anhembi, 31 de Março e Getúlio Vargas. Unificada, passou a se chamar 16 de Junho, em referência ao dia de fundação da cidade. E finalmente, desde 27desetembrode1996,édenominada Praçadr.JoséFranciscoArchimedesLammoglia. Quem observa nos dias de hoje essa praça – que carrega o nome do emblemático político e médico saltense – não imagina que ela abrigou edificações até meados do século passado. A mais antiga da qual se tem notícia é a casa que pertenceu a José Bonifácio de Andrada e Silva [1827-1886], conhecido por José Bonifácio, “o Moço” – um poeta, jurista, professor e político brasileiro. Esse personagem do Império tinha o mesmo nome de seu tio-avô, o Patriarca da Independência. Numa das vezes em que D. Pedro II visitou Salto, em 1875, foi a casa que Bonifácio mantinha próxima à cabeceira da ponte Salto-Itu, na margem direita do Rio Tietê, que hospedou o imperador. Na condição de anfitrião, Bonifácio declamou a poesia “Sonhando”, escrita especialmente para aquele momento. Mais tarde, em 1889, a referida casa –queali existiuaté1913–foi ocupada pela família do engenheiroresponsávelpela construçãoda FábricadePapel. Em planta da então vila do Salto do Ytu, datada de 1889, vê-se que uma fração da atual Praça Archimedes Lammoglia – nas proximidades da atual Rua 23 de Maio, à época Rua Riachuelo – chamava-se Largo do Rocio. Delimitada por um casarão, 33
  • 34. de um dos lados, e pelos prédios das tecelagens, de outro – ainda apresentava as rochas tão comuns nas margens do Rio Tietê. Era área de trânsito dos que desejassem contemplar a cachoeira a partir da Pedra Alta, onde em 1912 seria instalado ummirante.Naquelesanos,gradativasepontuais intervençõesmelhoravam o aspectodaqueleespaço. A urbanização do Largo do Rocio ocorreu na gestão do prefeito-interventor ,major José Garrido, em 1931, que o transformou no Jardim Público. No local onde existia uma torre com um relógio foi instalado também um serviço de rádio. Em vista disso, muitas pessoas, à noite, para lá se dirigiam para ouvir música. Nas tardes de domingo, as atenções se voltavam para astransmissõesdosjogosdefuteboldo campeonato paulista. Na praça também existiu, até 1958, um casarão construído no final do século XIX, em sua origem um hotel, e que abrigou a partir de 1936 uma instituição particular de ensino, o Externato Sagrada Família. Essa instituição iniciou suas atividades sob a designação Escola Paroquial, dada sua ligação com a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat. Fundada por quatro religiosas da Congregação das Filhas de São José, vindas da Itália, a instituição contou desde o início com o apoio da indústria têxtil Brasital S/A, tendo sido o prédio que abrigava a escola doado pela senhora Aurelina Teixeira Campos. Existente até os dias de hoje, o Coleginho – como é popularmente conhecida a instituição – transferiu-se em 1958 para um novo prédio, situado à Av. D. Pedro II nº 804 (e lá se encontra até hoje). Isso foi possível a partir de uma permuta de terrenos entre a Mitra Diocesana de Jundiaí, proprietária do casarão de dona Aurelina, desde 1936, e a Prefeitura de Salto –trâmiteocorridoem1954. Em fins da década de 1950, a pressa em demolir o antigo casarão não se aplicou às obras para um novo uso do espaço que se tornara público. Idas e vindas ocorreriam e por mais de três anos a obra – iniciada pela empresa Cunha Lima Carvalhosa – ficaria parada. Então, nova concorrência pública foi aberta, sendo vencida pelo grupo do arquiteto João Walter Toscano, o mesmo que fora responsável pela remodelaçãodo JardimPúblicoexistenteao lado.A promessaeradeconcluira obra ematéumano. 34 Vista aérea da Concha Acústica e arredores, 1963.
  • 35. Contudo, a inauguração da Concha Acústica ocorreria apenas em 7 de abril de 1963, com a bênção do monsenhor João da Silva Couto – pároco da cidade desde 1926 –, discurso do prefeito Vicente Scivittaro, queima de fogos de artifício e apresentações de artistas do rádio e da televisão com algum destaque à época. Em 2010, a concha foi substituída por uma estruturametálicacomoutropartidoestético. Maestro Castellari Figura de grande destaque na cidade de Salto na primeira metade do século XX, Henrique (ou Enrico) Castellari nasceuemParma, na Itália, em27dejunho de1880.Veiocomseuspais para o Brasila bordo do Aquitania,aportando no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1891. Sua família, por breve período, fixou-se na cidade vizinha de Porto Feliz (SP). Em sua adolescência, já em Salto, Castellari era encarregado de acender e apagar os lampiões da incipiente cidade – uma das primeirasdentretantasocupaçõeseofíciosqueexerceuao longo desuavida emSalto. Henrique Castellari, no que se refere aos estudos musicais, iniciou-se com João Francisco das Chagas, pai de Luiza Isabel das Chagas – senhora com quem Henrique se casou em 2 de julho de 1900 e teve nove filhos: Luiz, João, José Maria, Benedita, Odália, Maria Inácia, Belmira, Henrique e Eduardo. Pouco tempo depois, Castellari ingressou na banda do maestro ituano João Narcizo do Amaral e com ele terminou seus estudos. Em Salto, no início de sua carreira musical, fez parte do Coro e Orquestra Nossa Senhora do Monte Serrat, da Igreja Matriz, capitaneada por um médico italiano radicado na cidade,o dr.Viscardi. Em 1902, Castellari já era regente da Banda Musical Saltense, fundada em 1878. Dirigindo-a por cerca de 50 anos, alcançou considerável destaque no cenário estadual. A sede dessa banda, à Rua Dr. Barros Júnior, foi construída por sua iniciativa entre os anos de 1919 e 1922. Também conhecida como “banda brasileira”, em oposição à “banda italiana”, por meio dela Castellari ensinou música a centenas de pessoas. Sendo também compositor, destaca-se entre suas peças uma que trata dos costumes regionais, intitulada Uma Festa de São João na Roça, apresentada pela primeira vez em 1923. Ao todo – dentremarchas,dobrados,valsas,tangos,maxixesesambas – compôs maisde200músicas. Além de seus trabalhos com música, Castellari foi um dos pioneiros da construção civil em Salto. Com registro junto ao Crea como agrimensor, é dele o primeiro levantamento topográfico do município, realizado em 1931, a pedido do prefeito interventor major José Garrido. Além disso, três plantas do perímetro urbano da cidade de Salto que integram o acervo do Museu da Cidade são de sua autoria: uma de 1935, com a rede de esgotos detalhada; outra de 1936, com a localização dos terrenos não-edificados; e uma de 1938, em escala 1:4000. Trabalhando também com marcenaria durante muitotempo,Castellarifoi o responsávelpelo madeiramentodo telhadoda nova IgrejaMatriz,inauguradaem1936. 35
  • 36. Falecido em 19 de dezembro de 1951, a memória do maestro Castellari se faz presente em nossa cidade de diversas formas. Durante muito tempo o maestro manteve uma chácara na região da cidade chamada Vila Nova. Mais tarde vendida e loteada, um logradouro dessa área – na qual hoje está o edifício Cidade Alta – recebeu seu nome: Travessa Maestro Castellari. Entretanto, a mais significativa homenagem foi a atribuição de seu nome ao Conservatório Musical, inaugurado em 1967, particular em sua origem, e que constituiu o embrião do que hoje é o Conservatório Municipal, com sede no prédioantesocupado pelo HotelSaturno,no início da Rua MonsenhorCouto. Existe uma longa carta do maestro Castellari, sob guarda do Museu da Cidade de Salto, destinada ao interventor do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. A carta data de 30 de abril de 1940 e, ao que parece, trata-se do rascunho da que muito provavelmente foi remetida. Registrou o maestro, no texto por ele chamado de “memorial”, que a finalidade daqueles escritos era “impetrar (...) uma proteção valiosa para a arte musical em Salto”. Nesse intuito de obter o amparo de uma autoridade,o maestroCastellariiniciava seumemorialpelo históricoda Banda MusicalSaltense: “A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa vontade e vocação musical, quando Salto era ainda uma pequena povoação (...). Foram seus fundadores Joaquim Florindo, Romão Ribas, João Manquinho, João de Assis e outros, todos já falecidos. Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense, dr. Francisco de Barros Júnior, já falecido, ex-Deputado Estadual, (...), avocou- se a direção da referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral (...), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da Banda por sua conta. Mais tarde, [em] 1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da Banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à guarda da Matrizlocal,(...). Dessa época em diante, a Banda ficou sem regente, sem recursos financeiros, indo para a frente por dedicação dos músicos Romão Ribas e João Francisco das Chagas, (...). Em 1902, como músico que era dessa Corporação, assumi a regência e chefia, coadjuvado pelos meus companheiros e músicos, senhores Isaac de Moura Campos, Silvestre Leal Nunes, Joaquim Florindo – todos falecidos, e Antonio Pereira de Oliveira,ainda existente.A Banda, nessaépoca, achava-seemcondiçõesprecárias(...)jápor falta deinstrumentos,etc.Afinal, com muito esforçoe boa vontade, consegui reorganizá-la, (...). Hoje, ela é composta de mais de 50 músicos, possui boa sede, sita à Rua Dr. Barros Júnior, conta com mais de 70 instrumentos e pertences musicais, todos em bom estado de conservação, tem um grande repertório de músicas clássicas, um bom fardamento de brim branco (brim esse doado pela Fábrica Brasital, desta cidade) para 62 músicos, (...), possui Caixa Beneficente para socorrer os músicos necessitados, aula de música para formar novos elementos para a Corporação (medida essa de muito acerto, sem o que a Banda extinguir- se-ia). O terreno em que a sede foi construída foi adquirido por escritura pública, em nome da Banda, não podendo a sede ser vendida ou hipotecada e, em caso de dissolução da Sociedade, os músicos existentes no ato tomarão sob seu cuidado, de acordo com as autoridades locais, os bens existentes, sendoqueosmúsicosremanescentespoderão formar outra Banda, sempreporémcomomesmonome:'Banda MusicalSaltense'.” 36
  • 37. O livro do dr. Randi Olivro O Município de Salto, escrito em 1959 pelo médico sanitarista do Centro de Saúde de Salto dr. Adriano Randi – paulistano nascido em 1921, que viveu muitos anos em Salto e passou seus últimos anos em Campinas, onde faleceu em 2010 – é um precioso levantamento sobre nossa cidade no final da década de 50. Suas 125 páginas, impressas no Rio de Janeiro pelo serviço gráfico do IBGE, trazem um levantamento amplo e minucioso sobre Salto. Talvez seja esse o primeiro livro impresso sobre a cidade, já que História de Salto, de Luiz Castellari, embora concluído em 1942, foi publicado somente muitos anos após a morte do autor, em 1971. Vale, portanto, registrar aqui algumas passagens dessa interessante publicação do dr. Randi – um tanto esquecida – e que se tornou, mais do que tudo, um interessante documento de época. Nas páginas iniciais, o autor traça um histórico de Salto, destacando a fundação da cidade “na fria e nevoenta manhã do dia 16 de junho do ano de 1698, da era cristã, no sítio denominado Cachoeira”; a instalação das primeiras fábricas e a conquista da autonomia local, que “coincidiu com o advento da Proclamação da República e o início da imigração italiana para o Brasil”, em1889. Embora haja um esforço em tratar da história saltense, são os dados contemporâneos à publicação os mais interessantes. Em 1959, existia uma Salto com população estimada em 15 mil habitantes na zona urbana e 2.613 na zona rural – predominando os habitantes de nacionalidade brasileira, existindo ainda grupos de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses. A comunicação da cidade com outras localidades, nessa época, foi dividida pelo autor em dois meios: por estrada de rodagem e por estrada de ferro – sendo este último o principal. Da capital do Estado, por estrada de rodagem, Salto distava “113 km, via Itu, sendo 62 km na via Anhanguera, em estrada totalmente asfaltada; via Cabreúva, 107 km, também em estrada totalmente asfaltada, porém estreita e muito acidentada, contando com vários precipícios, todavia com um belíssimo panorama, margeando em muitos quilômetros o Rio Tietê”. Por estrada de ferro, o saltense que desejasse ir à capital tinha duas opções: pela Sorocabana, “via Mairinque, com 129 km, ou via Jundiaí, com 121 km – parte pela Sorocabana e parte pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí”. Para ir a Indaiatuba, distante17 km, ou Campinas, distante47 km, eranecessáriopercorreruma“estradadeterrabatida, porémbemconservada”. No capítulo denominado “Progresso Relativo”, Randi destaca que na administração do prefeito Vicente Scivittaro “foi promulgada uma lei municipal de isenção de impostos por 20 anos às indústrias que aqui se estabelecessem”. E continua, sobre esse tema, a dizer que “graças a essa lei, ao potencial elétrico e à grande abundância de água, aqui se instalaram importantíssimas indústrias novas, destacando-se a Eucatex S. A., fábrica de chapas de fibra de eucalipto que abastece o país e ainda exporta para o exterior”. Outra indústria citada nesse contexto é a “Electro Metalúrgica Abrasivos Salto (EMAS), com fabricação de óxido de alumínio e carbureto de silício, matéria-prima empregada na indústria de 37
  • 38. abrasivos”. Cita ainda a “Sivat, com indústria de rebolos e outros abrasivos”. E conclui, sobre a questão, afirmando que “tais indústriastrouxeramgrandedesenvolvimentoao município,querna parteeconômica,querno aumentoda população”. Informes dos mais variados temas podem ser encontrados na publicação em questão, desde laudos técnicos sobre a qualidade da água que os cidadãos saltenses recebiam em seus lares até a descrição da rotina da creche mantida pela indústria têxtil Brasital: “Às mães é facultado sair do serviço por alguns minutos para se dirigirem ao lactário da creche a fim de darem de mamar aos seus filhos; outras crianças são alimentadas por mamadeiras preparadas pelas próprias freiras, (...) para crianças maiores é preparado o mingau e a sopa”. Outro detalhe interessante é a listagem das escolas rurais do município, que Randi elabora levantando uma a uma o número de alunos, a distância do centro da cidade e a professora responsável pela direção do estabelecimento. Esse levantamento éacompanhado deummapa: 38 Localização das escolas rurais de Salto e as respectivas vias de acesso, 1959. 1)Escola MistaJosédePaula Santos –BairroOlaria. 2)Escola MistaBoa Esperança– BairroBoa Esperança. 3)Escola MistaAna RitaFelizola –Fazenda Santa Cruz. 4)Escola MistaJoão BatistaCezar– BairroCatingueiro. 5)Escola MistaBuru–Bairrodo Buru. 6)Escola MistaClaudio R.da Silva –BairroTrêsCruzes. 7)Escola MistaMariaMiranda Campos –BairroBoa Vista. 8)Escola MistaAcylinoAmaral Gurgel–BairroAtuaú. 9)Escola MistaGetúlioVargas– BairroCampo Grande.
  • 39. Como sanitarista que era, Randi acreditou ser relevante detalhar a origem e a qualidade dos alimentos consumidos pelos saltenses. Sobre o leite consumido na cidade, relatou ser “proveniente de pequenas fazendas localizadas na zona rural do próprio município”. Já o fornecimento era “feito por uma única leiteira estabelecida [em Salto]”, e a “distribuição na casa dos fregueses [ocorria] por meio de um carrinho adaptado, puxado a burro” – trabalho realizado “por cerca de dez leiteiros”. Não havia métodos de resfriamento e de pasteurização, vindo o leite diretamente das fazendas Guarujá, Barnabé, MonteAltoouda Granja Santo Antônio para o núcleourbano. O comércio de pão pelas padarias era feito “em balcão e em carrinhos para entrega domiciliar”. Os endereços de sete padarias constam na lista elaborada por Randi, sendo seus proprietários: Narciso João Conte, Cooperativa Operária Saltense, Irmãos Bergamo, Pittori & Filhos, Domingos A. Lammoglia, Luiz Piaia & Filhos e Ernesto Bethiol. Há ainda menção ao fornecimento de verduras por “hortas e chácaras nas imediações da cidade” como sendo pequeno, vindo a maior parte dos gêneros dos municípios vizinhos. A distribuição das verduras ficava a cargo das quitandas, cujos proprietários também são citados: João Navarro Filho, Celeste Trentin, Hideo Figita, Alcides Calefo, Expedito Thereza, Shogo Handa, José A. Fabri, José Plácido Ferraz do Amaral e Antonio Rossi. Randi observa ainda que alguns chacareiros vendiam “seus produtosdiretamenteao consumidorpor meiodecarrinhos puxadosa burro”quetransitavam pela cidade. Estação ferroviária de Salto Oprédio que ainda hoje pode ser visto na Praça Álvaro Guião foi construído em 1898, sob a direção do mestre de obras João Garcia, e serviu por muitos anos como estação ferroviária. Os trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro chegaram a Salto em 26 de novembro de 1870, mas nessa ocasião apenas foi instalado um marco no local onde seria construída a estação. A instalação oficial da estação ferroviária de Salto ocorreu em 2 de abril de 1873. Curiosamente a estaçãodeItufoi inauguradadepois,no dia 17do mesmomêseano. Quando a ferrovia chegou, Salto não era mais que uma povoação com 200 casas e menos de mil habitantes. Mas o crescimento não tardou a vir nos anos seguintes, já que a chegada da ferrovia foi um dos pontos decisivos para as primeiras tecelagensaquisefixarem,nas imediaçõesda cachoeira.E issoacabou atraindo grandequantidadedetrabalhadores. As Festas do Salto – existentes desde os primeiros anos do século XVIII – motivaram, a partir de 1876, uma iniciativa que se tornou praxe das empresas que operavam a ferrovia: fazer correr trens entre Salto e Itu, nos dias 7 e 8 de setembro de cada ano, a curtos intervalos de tempo. Isso se mostrava interessante, já que havia um numeroso contingente de ituanos interessados em ir para Salto nesses dias, justamente para participar dos tradicionais festejos na data da padroeira do Salto. O aviso extraído do jornal Imprensa Ytuana, de 4 de setembro de 1881, dá o tom do movimento nesses dias: “No dia 8 de Setembro 39
  • 40. p. futuro correrão os trens extraordinarios como de costume. Na vespera 7 de Setembro haverá um trem especial que partindo de Ytu as 5 horas da tarde,regressandodo Salto denoite,15minutosdepoisdeum prolongado apito da machina”. Nos anos imediatamente após a instalação da estação de Salto, andar de trem – fosse para sair de Salto ou na chegada – significava também ter que atravessar o Rio Jundiaí, no trecho que hoje é o final da Rua Monsenhor Couto, a bordo de uma balsa. Apenas em agosto de 1888 foi instalada uma ponte de madeira sobre o rio – pouco acima da que existe hoje – projetadaecusteadapor umdosindustriaispioneirosdeSalto,o dr.BarrosJúnior,queeraengenheirocivil. Até a década de 1950, tanto para transporte de cargas como de passageiros, a ferrovia reinou absoluta na região. Nessa época, Salto chegou a ter seis ligações diárias com a capital paulista, sendo três via Jundiaí – com baldeação pela São Paulo Railway (saindo daqui às 5h, 11h e 18h) – e outras três via Mairinque, que saíam 30 minutos após as primeiras, via Jundiaí, nos mesmos intervalos. Por essa época, a ferrovia em Salto atendia a uma demanda muito grande das indústrias, especialmenteda Eucatexeda EMAS,aquiinstaladas no início da décadacitada. Em 1959 a estação de Salto tinha cinco desvios particulares: da pedreira da Ponte, da pedreira de João Dias, da Brasital – com quase 2 km de extensão, da Eucatex e da EMAS, que consumia bauxita. Outras indústrias – tais como a Têxtil Assad Abdala e a fábrica Picchi, além do comércio em geral – se valiam das mercadorias e matérias-primas que chegavam à estação: celulose, fardos de algodão, cimento, madeira, soda cáustica, bobinas de aço, botijões de gás etc. Pela estação de Salto também se exportava. Na década de 1950, daqui saíam: café em grãos, pedra britada, paralelepípedos, areia dos rios Jundiaí e Tietê, vinho das vinícolas Milioni e Donalísio, óxido de alumínio da EMAS, em média dez vagões por dia de chapas da Eucatex,artigosdecourodo CortumeTelesi,dentreoutros. Em 1976 cessou o transporte de passageiros. As rodovias já haviam melhorado bastante e o número de linhas de ônibus já havia aumentado – fruto de uma política pública que não se interessava pela ampliação da rede ferroviária e direcionava os investimentos em outra direção. Ao longo de sua existência, a estação de Salto pertenceu às seguintes companhias, numa sucessão de vendas e fusões que ocorreram: Cia. Ytuana de Estradas de Ferro (1873-1892), Cia. União Sorocabana e Ytuana (1892-1907), The Sorocabana Railway Company (1907-1919), Estrada de Ferro Sorocabana (1919- 1971) e, por último, Fepasa – Ferrovia Paulista S. A. (1971-1987). A estação saltense foi desativada em 1987, com a construçãodo novo traçadodelinha enova estaçãopara alémda Eucatex. 40
  • 42. 42 “Meu nome é Valdira Alves Zacarias, tenho 63 anos e nasci em Salto na casa onde meu irmão reside. Tenho saudades dos vizinhos, que considerávamos como parte da nossa família. Vejo que muitas coisas melhoraram ao longo do tempo. Por exemplo: antigamente não havia ônibus aqui, além de outras coisas que nos auxiliam hoje. Gostaria de dizer o nome de todas as pessoas que fizeram parte da minha vida aqui em Salto, pois são muitas... Veja, hoje, que maravilha está a cidade... Nós somos os sonhos das pessoas que aqui um dia vieram, trabalharam e morreram.”
  • 43. Sociedade Italiana AatualSociedadeItaliana Giuseppe Verdi,comsedeno início da Rua Floriano Peixoto,emsalas anexasao Museu da Cidade de Salto, é herdeira da sociedade de socorro mútuo formada pelos italianos que chegaram a Salto entre o final do século XIX e o início do XX, a Società Italiana di Mutua Assistenza Giuseppe Verdi. As sociedades de mútua assistência existentes no Brasil no início do século passado funcionavam de maneira semelhante: uma contribuição mensal de cada sócio possibilitava que qualquer participante, vítima de desemprego ou doença, não perecesse por falta de meios de subsistência. Isso ocorria numa época em que não existia previdência social, e não se trabalhando devido a uma enfermidade,por exemplo,não serecebia. Pela documentação existente, sabe-se que em 9 de abril de 1916 os associados da Giuseppe Verdi aprovaram o “estatuto social”. Mas a fundação dessa sociedade, embora não haja exatidão na data, teria ocorrido anos antes, entre 1902 e 1903. Infelizmente não existem registros de seu primeiro período de existência. Os acontecimentos de 1916 seriam referentes à reconstituição da sociedade, que ficara inativa por algum tempo, em virtude, principalmente, dos reflexos da GrandeGuerrainiciada em1914. O primeiro bloco do conjunto arquitetônico que abrigou as diversas atividades promovidas por essa sociedade ao longo do século XX foi concluído em 1903, para servir de local de ensaios e sede da Corporação Musical Giuseppe Verdi, também conhecida por Banda Italiana, cuja fundação é de 1901. Contudo, depois de pouco tempo, o uso do prédio não ficou mais restrito à banda. A Sociedade Italiana, que ao surgir já tinha a banda a ela vinculada, decidiu instalar no mesmo espaço o Cine Verdi, que passou a projetar filmes – ainda nos tempos do cinema mudo. Assim, não restava muito espaço, existindo apenas uma pequena sala de reuniões além do salão principal, que convivia com o arrastar de cadeiras constante, em virtude de, ora por ser espaço de ensaio da banda, ora por ser espaço de exibição de filmes. Nas tardes de domingo ocorriam bailes frequentados não apenas pelos membros da colônia italiana, mas também pela população brasileira identificadacomospeninsulares. As demais atividades da Sociedade Italiana eram desenvolvidas numa ampla casa ao lado da sede, na Rua José Galvão, atual número 134 – então alugada da família Roncoletta. Ali estavam sediadas a Escola Italiana, mantida pelo professor Francisco Salerno, que depois seria denominada Escola Anita Garibaldi e subsidiada pela indústria Brasital; a Sociedade dos Ex-Combatentes da Primeira Guerra Mundial; o Círculo de Leitura Dante Alighieri; e o Partido Fascista de Salto. Nos fundos, viviam os zeladores Pascoalina Gonela e Emílio Baldim. Portanto, faltava espaço à Sociedade. Em virtude disso, em maio de 1934, a diretoria decidiu contrair um empréstimo para edificar – no terreno de 1.700 m² que já dispunha, existente entre a referida casa alugada e a construção pioneira de 1903 – a Casa D'Italia. Para essa ampliação ocorrer foi necessária a 43
  • 44. remoção de uma grande quantidade de granito que existia no terreno, uma característica dessa região da cidade mais próximaao Rio Tietê. As obras, iniciadas em 1934, se estenderam até fins de 1936. E em 15 de fevereiro de 1937, uma grande inauguração foi promovida, contando com a presença de um representante da Embaixada Italiana, do cônsul da Itália em Campinas e de dois representantes do Consulado de São Paulo. A seguir, a biblioteca do Círculo de Leitura e a Escola Anita Garibaldi saíram da casa alugada e foram ocupar o edifício antigo da Sociedade, ficando o recém-inaugurado salão destinado às atividades de projeção cinematográfica, peças teatrais e apresentações musicais. Pouco tempo depois, em 1939, a Banda Italiana, o Círculo de Leitura e o Partido Fascista deixariam de existir. E em 1941, com o rompimento de relações entre Brasil e Itália, em virtude da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana cessou todas as suas atividades, ficando apenas o então presidente, Leone Camerra, encarregado de receber o aluguel do salão de cinema – cedido a uma empresa de Sorocaba desde1938– como intuitodepromovera manutençãodo prédio. As atividades da Sociedade apenas seriam retomadas dez anos mais tarde, em abril de 1951. Sua sede, cedida à Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros) desde 1945, foi devolvida em estado precário. O quadro social foi reestruturado e a mesma diretoria que encerrara as atividades em 1941 foi reempossada. A sede passou por reformas e, na prática, a Sociedade só retomou suas atividades em 1955. Nesse mesmo ano uma nova empresa foi autorizada a administraro salão decinema,destavezoriginária da cidadedeItu. 44 Fachada do Cine Verdi velho com a diretoria da Sociedade Italiana à frente, 1931.
  • 45. Apesar de seu quadro social estar cada vez mais reduzido e envelhecido, foi apenas no final da década de 1960 que a Sociedade Italiana admitiu a entrada de sócios não-italianos, sendo os primeiros brasileiros a fazer parte dela os senhores: Pedro Rudine Tonelo, Rubens Milioni, Vitório Isolani, Alberto Telesi, Adélio Milioni e Geraldo Sontag. Ao longo de sua história, estiveram à frente da Sociedade, como presidentes: João Scarano, Gino Biffi, João Vassali, Leone Camerra, Lino Tabarin, Vicenzo Bifano, Adélio Milioni, Rubens Milioni, Geraldo Hernandez, Ayr Galafassi, João Antonio da Rós e, no cargo desde1994,JoséOdair Peron. Uma mudança no estatuto fez com que a Sociedade simplificasse seu nome para Sociedade Italiana Giuseppe Verdi, retirando a expressão “de Mútua Assistência” – já que não mais correspondia aos seus fins. Uma ação de desapropriação dos bens imóveis da Sociedade foi movida pela prefeitura em 1986, a qual não foi adiante e acabou encerrada com o acordo de 1994, que cedeu, em regime de comodato, por 30 anos, o conjunto situado numa das esquinas das ruas Floriano Peixoto e José Galvão à municipalidade. Esse comodato foi renovado por mais três décadas em 2006. Atualmente, a Sociedade tem como principal atividadeo ensino da língua italiana. Usinas de Lavras e Porto Góes Primeira usina hidrelétrica instalada em Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos para ser construída. A inscrição que se pode ver na entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904. Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a segunda usina hidrelétrica instalada às margens do Rio Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em 1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural. Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a eletricidadegeradapor ela. 45 A usina de Lavras e o Rio Tietê, em vista aérea, 1930.
  • 46. Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos, devido aos graves danos causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do Rio Tietê ocorridas no século XX. Quando Lavras voltou a operar, funcionou por 20 anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também emSalto,sobrea qualtrataremosa seguir. Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em 1971, a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de Lavras, o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade. Durante as primeiras décadas do século XX, várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As usinas instaladas às margens Rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas próximas. A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias localidades paulistas. Outra hipótese é de que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o granitoqueexisteemgrandequantidadena região. Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que visava a abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década de 1910. Embora tenha iniciado, a Brasital não concluiu a obra. Em 1927, a concessão foi repassada para a Companhia Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1.500 homens trabalharam. Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a paisagem dos arredores da queda-d'água que dá nome a Salto. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem esquerda,na quala vegetaçãosepreservoudesdeentão. Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes está sob o controle da Empresa Metropolitana de ÁguaseEnergiaS.A.,a Emae,tendosidoa primeirausinadessaempresaa setornar automatizada. 46
  • 47. Trabalhadores responsáveis pela abertura do canal da usina de Porto Góes, 1924. 47
  • 48. Colégio Professor Paula Santos “Ejá se realizaram em nossa cidade os exames de admissão ao curso Ginasial. Muitos alunos da 1ª série, que haviam iniciado o curso na vizinha cidade de Itu, estão agora matriculados em sua própria casa, assim podemos dizer”. Era assim que começava o artigo, assinado por Joseano Costa Pinto, intitulado “Ginásio”, veiculado na primeira página do extinto jornal saltense O Liberal, ediçãode4demarçode1951. Em janeiro de 1948 se anunciou que seria criado em Salto um ginásio estadual. Diante disso, algumas comissões se formaram para apressar a sua construção. Mas foi somente no Diário Oficial do Estado de 2 de janeiro de 1950 que foi publicada a lei número 613, criando oficialmente o Ginásio Estadual de Salto. E em 30 de novembro seria emitida a autorizaçãodo Ministérioda Educaçãopara queo ginásio começassea funcionar. A história da instalação de um ginásio em Salto – ou seja, a instituição do ensino escolar com classes para além da quarta série primária – é marcada por uma reunião realizada na noite de 25 de fevereiro de 1950. Essa reunião ocorreu na sede da Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros), no espaço que hoje abriga o Museu da Cidade, mas não atraiu muitos participantes. A população em geral não se mobilizou, apesar do convite publicado na imprensa e do desfile de uma corporação musical pelas ruas da cidade, momentos antes, com o objetivo de chamar a atenção da população para o acontecimento. Mesmo assim, o grupo batizado “Comissão Provisória Pró-Ginásio” conseguiu reunir os líderes locais, dando início aos trabalhos. Nesse momento, os membros dessa comissão eram acusados pelo jornal O Liberal de desejarem fazer uso político da conquista de um ginásio para Salto, alegando que a atribuição de um único padrinho para a conquista seria algo injusto, sendo o nome do deputado Martinho Di Ciero, como responsável pela iniciativa, aclamado por uns e questionado por outros. Embora com reduzida participação do povo, a reunião foi bastante agitada, sendo que um dos membros de oposição ao governo municipal teve de ser contido pelo delegado de polícia para que “não subisse na mesa”. Ao final, uma comissão definitiva para os trabalhos foi escolhida, com o professor Cláudio Ribeiro da Silva à frente, como presidente. Esses primeiros passos em torno da luta pela criação de um ginásio estadual em Salto movimentaram algumas semanas de discussõesna imprensaenos bastidorespolíticos. Em 11 de janeiro de 1951, o prefeito municipal de Salto, João Baptista Ferrari, abriu concorrência pública para as “obras de construção do Ginásio de Salto” – que deveriam ser executadas de acordo com o projeto e especificações fornecidas pela própria prefeitura – antes mesmo de se ter o terreno. Em 8 de fevereiro se anunciava que a proposta da Sociedade Construtura Celbe Ltda., única empresa que concorreu, fora a vencedora. Passado um ano da animada reunião de 48
  • 49. 25 de fevereiro, que definiu a comissão definitiva pró-ginásio, o que se conseguiu foi apenas a instalação do ginásio de forma provisória em salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, um prédio de 1913. Essa ideia teria partido do dr. Archimedes Lammoglia eforalançada numencontroinformal entreautoridadesocorridono clubeIdeal. Em dezembro de 1950 foram realizados os exames de admissão do primeiro grupo de alunos, que começou a frequentar as aulas no dia 1º de março de 1951, em duas salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Após algumas polêmicas em torno dessa forma de se iniciar o curso ginasial em Salto, em maio de 1952, a prefeitura doou ao Estado um terrenode8milmetrosquadradospara a construçãodeumprédiopróprio para o ginásio. A situação de improviso, apesar dos trâmites para a construção de um prédio próprio, perduraria por alguns anos. Sobre o ginásio estadual, em 1959, o dr. Adriano Randi dizia – em livro no qual traçou um panorama completo da cidade de Salto naqueles tempos – que “por falta de prédio próprio” o ginásio estava “funcionando provisoriamente há oito anos no prédio do G. E. Tancredo do Amaral, em condições precárias e com prejuízo do curso primário do mesmo”, com um total de 138 alunos matriculados naquela data. Nesse mesmo ano, o Tancredo do Amaral passou por uma reforma e o ginásio funcionou temporariamente em quatro salas do Externato Sagrada Família. Em 1960, por iniciativa do deputado dr. Archimedes Lammoglia, foram iniciadas as obras de construção do prédio do ginásio, concluídas em 1962. E no ano seguinte,asaulascomeçarama ocorrertambémno períodonoturno. 49 O Colégio Paula Santos no início da década de 1960.
  • 50. O patrono – Grande educador, José de Paula Santos – escolhido para nomear o primeiro ginásio estadual de Salto – nasceu na cidade de Guaratinguetá (SP), em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se formou professor em 1911. Lecionou nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de se radicar em Salto, em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no único grupo escolar de Salto, que mais tarde viria a se chamar Tancredo do Amaral. Em 1917 casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como dona Cotinha. Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em Itu, local onde se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, foi apelidado “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta de Salto”. Participou ativamente da vida social saltense, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade Instrutiva eRecreativa Ideal–Siri.Faleceuem1949. As tradicionais Festas do Salto AFesta do Salto tem origem remota e confunde-secom a própria origem da cidade. Ocorreu pela primeira vez no mesmo ano de instalação e bênção da capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, em 1698. A iniciativa do fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares, atraiu moradores da vizinha Itu e habitantes do Sítio Cachoeira, de sua propriedade, que hoje corresponde a parte do território de Salto. Mais que tricentenária, portanto, trata-se de uma prática ininterrupta que permaneceviva ainda nos diasdehoje. A data da padroeira, Nossa Senhora do Monte Serrat, é o 8 de setembro. Em virtude disso, uma série de atividades religiosas sempre ocorre nos dias da Festa do Salto, que tradicionalmente começa um pouco antes. Embora surgida na igreja, ao menos desde meados do século XIX, a festa conta também com uma parte popular, ou profana, caracterizada por quermesses e feira com barracas de comestíveis, roupas e outras dedicadas a promover sorteios e jogos. A face lúdica da festa no final do século XIX se traduzia em brincadeiras como cabo de guerra, cabra-cega, pau de sebo, corrida de sacos e boizinho baiano. O jornal Imprensa Ytuana de 27 de agosto de 1882 trazia o programa completo da festa sob o título “EsplêndidasFestasdo Salto”,o qualtranscrevemosna grafiaoriginal: Desde o dia 7 de Setembro começarão as festas que serão feitas com toda a pompa, terminando no dia 10 com um lindo e variado fogo de arteficio do muito conhecido e apreciado artista pyrotechinico, o nosso Joaquim Corneta. Para intelligencia dos devotos, abaixo damos o programa das festas. Dia 7. Alem das demais festas costumadas na véspera haverá um trem de recreio que partirá de Ytu com uma banda de muzica as 5 horasda tarde conformeestaannunciado,ea noitehaveráretreitaeladainha. Dia 8.Missacantada, sermão eprocissãoa tarde. 50
  • 51. Dia 9. Este é o dia dos divertimentos para a rapaziada temos o Mastro Cocagne, corridas em saccos, jogo da cabra cega e o novo divertimentoTugof War da corda, cada um destesjogosdar-se-ha um premioao vencedor. Dia 10. Alem dos muitos divertimentos reservados especialmente para este dia, a noite queimar-se-ha os fogos que por si só tornão-se recomendaveis- vistoseremcaprichosamentefeitospara estafesta. Durante estes dias haverão trens especiaes - para conduzir a Rapaziada e a Estrada de ferro desta vez faz uma redução no preço da passagem,dando bilhetesdeprimeira classedeida evoltapor 3patacas edoisvinténs.Chega Rapaziada ogammado la estará. O historiador saltense Luiz Castellari [1901-1948], em seu livro História de Salto, escreveu que durante as Festas do Salto no final do século XIX, as ruas eram especialmente capinadas e enfeitadas com arcos de bambus e palmas. Além disso, bandeirinhas multicores eram colocadas em zigue-zague pelas ruas, lanternas venezianas eram penduradas nos portais e fogueirasenormesiluminavam a povoação queainda não conheciaa iluminação elétrica. José Maria Marques de Oliveira, o popular Zequinha Marques [1890-1981], em depoimento gravado em 1979, sobre as Festas do Salto, disse: “No [meu] tempo de criança formava festa dia 8 de setembro em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat e tinha muitas irmandades [que] faziam procissão no dia 8, Dia da Padroeira, até hoje. E as barracas eram feitas de pau-a-pique, de pita, de cambuí... onde vendiam pastéis, quentão, coisas de noite de São João usavam na Festa de Setembro. Cuscuz, etc. Doce de batata, de abóbora e... coisas mais, e a Festa... [ocorria na praça] Paula Souza. Ali eram feitas as festas profanas. [Tinha ainda] um cavalinho de pau que vinha de Tietê, de um homem;doissenhorestocavam realejo...” De fins do século XIX até meados do século XX, nos primeiros dias de setembro de cada ano, comerciantes vindos de outras localidades traziam a Salto produtos dos mais diversos, dos quais o comércio local era carente: sapatos, tecidos, louças e outras tantas bugigangas. Alguns saltenses montavam tais barracas e alugavam aos comerciantes forasteiros interessados.Umdosúltimosa sededicara talpráticafoi AlbericodeOliveira[1903-1974],na décadade1950. 51 Barracas da Festa do Salto na Rua José Weissohn, 1930.
  • 52. 52 Enchentes de 1929 e 1983 Embora existam referências de meados do século XIX a respeito de uma grande enchente que destruiu a ponte que ligava as margens do Rio Tietê, na altura do atual bairro da Barra, passando por uma ilha (conhecida antigamente por Ilha da Santa Feia, pouco acima da atual ponte Salto-Itu), os relatos de antigos moradores de Salto informavam que a enchente de 1929 havia sido realmente extraordinária. Uma das fotos que se tem desse episódio, de autoria de Biágio Ferraro, mostra as águas cobrindo a Ilha dos Amores, onde existia um coreto. Naquele instante captado pela câmera, as águas ainda não haviam atingido seu ponto máximo, já que, horas mais tarde, elas levariam o telhado do coreto mencionado, visto que chegaram atéa calçadada Rua JoséWeissohn. A Usina de Lavras – inaugurada em 1906, junto à margem direita do Rio Tietê, à montante do salto – sofreu grandes danos com a enchente de 1929. A elevação do nível das águas atingiu a casa das máquinas e comprometeu os equipamentos. Após essa enchente, Lavras foi desativada. Quando voltou a operar, em 1935, algumas medidas foram tomadas com o intuito de se evitar estragos semelhantes: os geradores foram colocados sobre cavaletes e nas janelas ao lado do rio foram levantadas muretas.Lavrasseriaparalisada definitivamenteem1956,já estando,então,bastanteobsoleta. Ao centro, a Ilha dos Amores submersa, 1929.