O documento discute a artificialização de áreas verdes em Campinas através da remoção e poda excessiva de árvores, criticando as ações da prefeitura. A sociedade civil denunciou as intervenções equivocadas que prejudicaram o meio ambiente e a paisagem urbana. Apesar de reconhecer erros, a prefeitura não tem ouvido recomendações técnicas para melhorar o manejo da arborização.
1. ARITA DAMASCENO
PETTENÁ
aritapettena@hotmail.com
CARLOS ALBERTO GOMES
HENRIQUES E JOSÉ HAMILTON
DE AGUIRRE JUNIOR
Heróis somos todos nós
Desde as nossas mais antigas
origens, o contato com a natu-
reza e vegetação são intrínse-
cos à vida humana. O ho-
mem sempre precisou das ár-
vores!
Na antiguidade já havia a
preocupação em garantir a
presença da natureza no
meio urbano. O paisagismo e
a jardinagem receberam inú-
meras contribuições do Extre-
mo Oriente e das outras civili-
zações ao longo da história,
aproveitando a beleza da na-
tureza na melhoria da paisa-
gem das cidades para o bem-
estar do ser humano.
No ajardinamento público,
a árvore é o elemento princi-
pal no planejamento das
áreas verdes, por ser definido-
ra estrutural da paisagem,
bem como de todos os seus
estratos, sob os quais serão in-
seridas outras espécies vege-
tais. Os benefícios das árvores
em áreas urbanas são chama-
dos serviços ambientais.
O dia 22 de setembro é a
data dedicada às árvores e
Campinas não tem muito o
que comemorar.
Nos últimos dois anos, as
áreas verdes arborizadas têm
sofrido um processo contí-
nuo de intervenção com a re-
vitalização de várias praças,
como bosque na Via Norte-
Sul, entorno da Lagoa do Ta-
quaral, toda extensão do cor-
redor verde da Via Aquidabã,
Praça Imprensa Fluminense,
Praça Perseu Leite de Barros,
entre outras, que passaram
por extrações e podas de árvo-
res absurdas e tecnicamente
equivocadas, que mutilaram,
fragilizaram, tornaram-nas es-
teticamente feias, tecnicamen-
te desequilibradas e de risco,
com visível prejuízo à paisa-
gem e à beleza cênica da cida-
de. Alguns locais que eram
verdadeiros santuários, com
boa diversidade de árvores de
grande porte, tiveram suas ár-
vores mutiladas.
Na revitalização das praças
pela Prefeitura de Campinas
se prioriza o plantio generali-
zado de grama, e apenas é
considerado o aspecto orna-
mental, embora este também
equivocado em detrimento
do aspecto ambiental das
áreas verdes de Campinas.
Com essa prática as áreas ver-
des sofrem um processo de ar-
tificialização, pois muitas des-
sas áreas possuíam caracterís-
ticas cênicas e ambientais pró-
ximas das encontradas em
ambientes naturais. Os proje-
tos implantados pelo Departa-
mento de Parques e Jardins
da Prefeitura de Campinas
não conciliam nem priorizam
o ambiente preservado com
árvores íntegras com a paisa-
gem a ser implantada e, por-
tanto, houve negligência com
a importância das árvores e
ainda falhas graves no projeto
e na escolha das espécies ve-
getais herbáceas e arbustivas
implantadas. O resultado
mais visível é a perda da bele-
za da paisagem urbana pro-
porcionada pelo aspecto orna-
mental das árvores.
Essas intervenções erráti-
cas foram formalmente de-
nunciadas para a Câmara Mu-
nicipal e para o Ministério Pú-
blico (apoiados pelo diretor
regional da Sociedade Brasilei-
ra de Arborização Urbana,
inúmeros técnicos, ONGs, en-
tidades ambientalistas e repre-
sentantes da sociedade civil)
onde se apresentou o proble-
ma da "desarborização" em
curso pela Prefeitura de Cam-
pinas. O Conselho Municipal
de Meio Ambiente (Comde-
ma), na reunião de agosto de
2010, repudiou as más práti-
cas com a arborização e exi-
giu o respeito à lei municipal
de arborização (Lei
11.571/03).
Após toda pressão da socie-
dade civil, a Prefeitura admi-
tiu seus erros e no início des-
te ano constituiu a Comissão
Técnica Consultiva para asses-
sorar nos trabalhos do DPJ,
porém o órgão municipal não
tem ouvido as recomenda-
ções técnicas dos integrantes
da Comissão e mudado sua
postura no manejo da arbori-
zação das áreas verdes.
Somos a favor do manejo e
das boas técnicas agronômi-
co-florestais-biológicas na ar-
borização, na vegetação em
geral e nos programas de revi-
talização de áreas verdes, os
quais aplaudimos, se feitos da
maneira correta. As árvores
demoram décadas para sua
formação e o uso desorienta-
do da motosserra pela pró-
pria Prefeitura de Campinas
destrói em minutos patrimô-
nio inestimável.
Campinas hoje perde seu
patrimônio verde quando, no
século 20, foi referência nacio-
nal no assunto. A terceira
maior cidade do Estado e po-
lo científico nacional tem obri-
gação de ser exemplo e refe-
rência nesse quesito a todo o
país. Seu desenvolvimento
acelerado agravará proble-
mas com o meio ambiente.
Campinas precisará cada vez
mais de árvores urbanas e ne-
cessita respeitá-las.
Em meio a tantos conflitos e
confrontos, o Brasil vive cons-
tantemente em tempo de cam-
panha. E haja estrutura para
aguentar!...
E no país da impunidade e
da sonegação consentida, nun-
ca se viu tanta medalha distri-
buída, tantos títulos outorga-
dos, tantas homenagens a pseu-
do heróis, que nunca fizeram
nada, mas detêm em suas
mãos o poder catalisador de
conquista de adeptos porque
sabem manipular como nin-
guém as ingênuas almas no afã
de caçar votos e depois tirar
proveito da situação.
Diante do quadro contrista-
dor do qual participamos dia-
riamente na luta contra a vio-
lência, contra nossos direitos
ameaçados por uma falida pre-
vidência, sobra-nos uma res-
posta a ser dada por nós mes-
mos, como cidadãos e como
criaturas feitas à imagem e se-
melhança do Senhor: “Quem
são, afinal, em meio a toda essa
celeuma, os heróis do Brasil de
hoje?” E a resposta é uma só:
Heróis são nossos servidores
que, trabalhando oito horas diá-
rias, muitas vezes sob o chicote
de frustradas direções ou de exi-
gentíssimos chefes, ganham
aviltantes salários, sem direito,
muitas vezes, à cesta básica, ao
transporte e até mesmo, em al-
gumas repartições, a uma míse-
ra xícara de café.
Heróis são nossos educado-
res que, ministrando aulas em
classes superlotadas e se loco-
movendo para duas ou mais
unidades escolares, sofrem
perdas brutais a cada mês, víti-
mas que vêm sendo de gover-
nadores insensíveis, mentiro-
sos e demagogos.
Heróis são nossos irmãos
da raça negra, muitos deles
com curso superior, realizan-
do serviços os mais humildes
e referendados pela hipocrisia
de um país que se apregoa
sem preconceito de raça, de
credo e de cor.
Heróis são nossos operá-
rios que, madrugando sob um
céu em abandono, comem ar-
roz com arroz enquanto os
grandes se banqueteiam em
restaurantes para executivos.
Heróis são nossos jovens
que, sonhando universidades
e realização profissional, só
veem diante de si portas fecha-
das pelas escorchantes mensa-
lidades e o absurdo requisito
de uma experiência que nun-
ca vivenciaram.
Heróis são nossos petizes
que, vivendo um pseudotem-
po “criança-esperança”, rece-
bem, a cada instante, a bofeta-
da da ineficiência e da insensa-
tez dos que governam esta na-
ção no que tange à saúde, à se-
gurança e à educação.
Heróis são nossos aposenta-
dos que, trazendo, nos cabe-
los brancos, o registro de anos
de trabalho e de dedicação,
vêm sendo despojados de
suas mais lídimas aspirações,
entre elas a isonomia salarial a
que têm direito, enquanto nos-
sos maiorais do poder Legisla-
tivo e Judiciário nadam em al-
tíssimos hollerites e gratifica-
ções e vergonhosas mordo-
mias.
Heróis são nossos chefes
de família que, muitas vezes,
sem teto que seja seu, não con-
seguem, na conta das muitas
juras e dos juros muito altos,
repartir o mísero salário com
o aluguel que os abriga das in-
tempéries e o pão que mata a
fome de uma mesa sem car-
ne... sem frutas... sem igua-
rias...
Heróis somos todos nós
que, sem mais sonhos para so-
nhar, sem mais vislumbres de
esperanças num tempo onde
tudo se vai privatizando, até
mesmo nossos momentos de
quimera, ainda somos agredi-
dos pelos meios de comunica-
ção com o desfile de grotescas
personagens, prometendo
mundos e fundos a incautos
eleitores. E muitos desses can-
didatos já esqueceram que
usaram do poder durante
anos sem nunca terem feito
nada, absolutamente nada pe-
los que, paulatinamente, vêm
denunciando a corrupção que
lá por cima rola e a miséria ins-
talada cá embaixo.
Corruptos e vilões e caboti-
nos seremos todos nós se, en-
golindo todas essas mentiras e
promessas e repetidos filmes,
tornarmos a votar nesses am-
biciosos senhores que, entran-
do alguns notadamente po-
bres, se transformaram numa
das maiores riquezas do país,
sem que até hoje se descobris-
se a fonte mágica de suas for-
tunas.
Artificialização de áreas verdes
O repórter e
o gráfico
ÁRVORES
Opinião
MUDANÇAS
manuelcarlos
dalcio
I I Carlos Alberto Gomes Henriques é
engenheiro-agrônomo e membro da
Sociedade Protetora da Diversidade das
Espécies (Proesp) e José Hamilton de
Aguirre Junior é engenheiro florestal, mestre
em arborização urbana
O Correio Popular come-
morou no último domingo
84 anos de existência. Ho-
menageou seu fundador, Ál-
varo Ribeiro, contou um
pouco de sua história e de
como enfrentou bravamen-
te temporais políticos como
a Revolução Constituciona-
lista e o Golpe de Estado de
1930.
Não sou tão velho assim
e não testemunhei essa par-
te da história do jornal, mas
quero escrever um pouco
sobre sua história mais re-
cente. Nas últimas duas dé-
cadas o Correio Popular
cresceu mais do que nos 64
anos anteriores, sendo o car-
ro-chefe do Grupo RAC e
tornando-se o jornal de
maior circulação do Interior
do Estado mais pujante da
federação.
Em todos os seus 84 anos
de existência, não deixou de
circular um dia sequer e ad-
quiriu uma interatividade
com seus leitores que pou-
cos jornais no mundo conse-
guem.
É curioso verificar como
o jornal, por sua indepen-
dência e credibilidade, aca-
ba pautando outras mídias
e o próprio poder público.
Não é raro sintonizarmos
uma estação de rádio e ou-
virmos um jornal ancorado
nas notícias publicadas pelo
Correio, como também é
muito comum o poder pú-
blico correr atrás do prejuí-
zo depois de matérias sobre
suas mazelas estampadas
no jornal.
Dessa forma consegue
ser fiel ao propósito que nor-
teou sua fundação: “ser um
fiscal vigilante do poder pú-
blico, em defesa da coletivi-
dade”.
A construção e o cresci-
mento do jornal devem ser
creditados aos seus dirigen-
tes, mas eles sabem perfeita-
mente que existem duas fi-
guras essenciais para tudo
isso. Na realidade, a credibi-
lidade de um veículo de co-
municação nasce na compe-
tência de seus repórteres, e
a qualidade da impressão
somente é possível quando
ancorada nas mãos de seus
gráficos.
Sem o bom e competen-
te repórter e sem o gráfico
dedicado nada disso é possí-
vel, razão pela qual essas
duas figuras devem ser ho-
menageadas nesse aniversá-
rio.
Os políticos, de uma for-
ma geral, não sobrevivem
sem a imprensa, mas
odeiam quando ela se mos-
tra independente. Na sema-
na passada, no Congresso
do PT foi aprovado um tex-
to que mostra mais uma ten-
tativa do partido em criar re-
gras para amordaçar a im-
prensa. Garanto que nessas
regras que pretendem pro-
por não vão escrever uma li-
nha sequer sobre a aplica-
ção técnica de suas verbas
publicitárias, acabando de
vez por todas com o uso de
seu poder econômico para
calar a mídia.
Dizem eles que o domí-
nio midiático por certos gru-
pos econômicos tolhe a de-
mocracia, silencia vozes,
marginaliza multidões, en-
fim, cria um clima de impo-
sição de uma única versão
para o Brasil.
Tenho certeza de que o
petista que escreveu isso es-
tava se olhando no espelho!
Jornais independentes
como o Correio Popular in-
comodam essa gente que
confunde o público com o
privado. Neste momento
em que deveriam estar pen-
sando seriamente em uma
reforma política, estão pre-
tendendo criar uma morda-
ça para evitar que a farra
com o dinheiro público não
seja mais denunciada.
Parabéns, Correio Popu-
lar, por sua independência.
Parabéns repórter e para-
béns gráfico, porque são vo-
cês que garantem a existên-
cia de um grande jornal.
I I Arita Damasceno Pettená é presidente
da Academia de Letras Ciências e Artes das
Forças Armadas
“Nossa intenção é realizar um diagnóstico e
apontar alternativas”
Vereador Arly de Lara Romeo, sobre a criação da CPI da Saúde na Câmara de Campinas.
A2 CORREIO POPULAR
Campinas, terça-feira , 6 de setembro de 2011 Editor: Rui Motta rui@rac.com.br - Editora-assistente: Ana Carolina Martins carol@rac.com.br - Correio do Leitor leitor@rac.com.br
I I Manuel Carlos Cardoso é advogado e
professor
cardoso@rac.com.br
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