Cidades
Ministério Público investiga poda irregular de árvores
Relatório apresentado por engenheiros e endossada pela OAB e pela Proesp condena prática realizada pela Prefeitura
Ministério Público investiga poda irregular de árvores em Campinas
1. CORREIO POPULAR
Publicada em 10/6/2010
Cidades
Ministério Público investiga poda irregular de árvores
Relatório apresentado por engenheiros e endossada pela OAB e pela Proesp condena
prática realizada pela Prefeitura
Priscila Medina
ESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA
cidades@rac.com.br
O Ministério Público vai investigar os critérios adotados pela Administração para a poda de
árvores em Campinas. A ação tem como base um relatório assinado pelo engenheiro
agrônomo Carlos Alberto Gomes Henriques e pelo engenheiro florestal José Hamilton de
Aguirre Junior, que condena as práticas de poda realizadas pela Prefeitura desde 2009.
A denúncia foi endossada pelo representante da Comissão do Meio Ambiente da OAB
Campinas, Marcos Roberto Boni, e pela diretora da Sociedade Protetora da Diversidade
das Espécies (Proesp), Márcia Corrêa.
Para os ambientalistas, a limpeza de terrenos e a poda das árvores, apesar de necessária
em espaços urbanos, é realizada de forma abusiva pela Prefeitura e pode prejudicar a
floração, frutificação e até a sobrevivência de algumas espécies.
“Desde 2009, o governo municipal tem efetuado a poda e a limpeza das áreas verdes de
maneira agressiva ao meio ambiente. As árvores têm perdido, em média, um terço de suas
copas, o que configura poda drástica. Isso prejudica a capacidade de absorção de carbono
e até a sobrevivência da árvore”, afirma Henriques. “Os critérios técnicos da poda precisam
ser revistos. A Prefeitura, ou não está ouvindo seus especialistas, ou eles estão
equivocados”, disse.
O promotor de Justiça do meio ambiente, José Roberto Albejante, afirmou que os
documentos apresentados pelos especialistas já estão sendo analisados no Ministério
Público. “Constando um comportamento danoso, vamos agir para prevenir a recorrência
desse comportamento”, afirmou.
A Câmara Municipal também está investigando o assunto e já emitiu um requerimento de
convocação para o Secretário de Serviços Públicos, Flávio Augusto Ferrari, e para o diretor
do Departamento de Parques e Jardins, Ronaldo de Souza, que deverão esclarecer os
critérios de poda e extração de árvores em Campinas.
Prefeitura
O engenheiro agrônomo da Prefeitura responsável pelas podas, Luiz Cláudio Nogueira
Mello, afirmou que o corte foi planejado e está ocorrendo na época correta, o que evita que
as plantas sofram. Além disso, é aplicado um fungicida nas partes expostas dos troncos
para evitar doenças. “Essa poda é uma abertura para a população. Com a vegetação alta
ninguém tem coragem de passar por estas áreas durante a noite. Mas a vegetação volta,
daqui quatro anos vai estar tudo fechado mais uma vez”, disse.
De acordo com o diretor do Departamento de Parques e Jardins de Campinas, Ronaldo de
Souza, a poda está sendo feita de maneira correta, visando a segurança da população e
sem prejudicar o meio ambiente. “É uma poda de condução que está dentro da lei de
urbanização.” Para ele, a explicação para o impasse é política. “O período em que estamos
é complicado. Como é ano eleitoral querem apagar o brilho do projeto de revitalização.”
2. Praça limpa
Nas últimas terça e quarta-feiras, os trabalhadores da Prefeitura estiveram nos canteiros
centrais na avenida Aquidabã onde realizaram um Projeto de Revitalização e Urbanização,
inclusive na ilha verde que fica em frente ao colégio Pio XII.
As copas das árvores foram levantadas, muitos galhos podados e três touceiras de bambus
eliminadas. “Estes bambus estavam aqui há 30 anos, isso é uma riqueza, não tem razão
para tirar daqui. As árvores que eles estão podando faziam sombra, sem elas as plantas
rasteiras vão morrer. Vão tirar tudo para plantar grama e falam que é para melhorar a
iluminação. Iluminação se resolve com poste, não com cortes”, afirmou Henriques, que
estudou no colégio Pio XII e diz lembrar das touceiras daquela época.
“Aqui, nas touceiras de bambu, moravam alguns moradores de rua. Fora isso, o bambu tira
muita água do solo. Por isso é importante elas serem retiradas”, afirmou o engenheiro
agrônomo da Prefeitura. Segundo Mello, além da grama outras árvores nativas serão
plantadas no local em até 20 dias.
Pesquisadora considera a ação abusiva
Segundo a professora Dionete Santin, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a poda de árvores
em perímetro urbano é necessária, mas não da forma que é feita pela Prefeitura. “A poda é
um mal que deve ser feito só quando necessário. Para evitar conflito entre galhos e a fiação
elétrica, ou liberar a passagem de pessoas e veículo”, afirma.
Para a pesquisadora, a poda organizada em Campinas é abusiva e prejudica não apenas a
planta, como também a população. “Antes, uma árvore dava uma sombra que gerava
conforto ambiental, agora essa mesma árvore não gera quase sombra e não protege a
população. A sombra é importante inclusive se você for pensar nos números de câncer de
pele que só aumentam”. (PM/AAN)