1) Duas ONGs se uniram para preservar as árvores existentes no bairro Cambuí e plantar novas mudas, com o objetivo de aumentar a cobertura verde na região.
2) Elas usam um banco de dados com informações de 2.087 árvores mapeadas para denunciar cortes ilegais à prefeitura.
3) O projeto já plantou 73 mudas e tem a meta de plantar 200, com apoio de moradores que doam uma taxa para manutenção.
1. ONGs querem o bairro Cambuí
mais verde
Organizações usam banco de dados para alertar sobre cortes ilegais e cultivam novas
mudas
18/06/2009 - 17h17 . Atualizada em 18/06/2009 - 17h20
Guilherme Gorgulho
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O engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Júnior, responsável pela orientação técnica do projeto
(Foto: Marcelo Geovanini/AAN)
Muito se fala sobre o fato de o Cambuí ser um dos bairros mais arborizados de Campinas.
Apesar disso, muitas árvores que embelezam e trazem mais vida para as ruas dessa
região acabam sendo alvo de cortes indiscriminados ou podas mal feitas, reduzindo a
cobertura verde e diminuindo a qualidade de vida dos moradores. Preocupados com esse
tipo de ação, o Movimento Resgate o Cambuí e a Sociedade Civil de Amigos do Bairro
Cambuí uniram esforços em uma ação para preservar as árvores existentes e ocupar
novos espaços nas calçadas com o plantio adequado de espécies apropriadas para o
ambiente urbano.
O engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Júnior, que é membro das duas
entidades, está à frente de um trabalho de plantio orientado de mudas que não se limita a
“aproximar” a cidade da floresta com a expansão da área verde. Aguirre Júnior, que é
mestre em agronomia, fez um estudo que mostra que seriam necessárias mais de 6 mil
árvores no Cambuí para alcançar o índice recomendado de arborização. Em sua
dissertação de mestrado, defendida no ano passado na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq), o engenheiro cadastrou e fotografou 2.087 árvores, arbustos e
palmeiras encontrados no bairro no período de setembro a novembro de 2007.
Com base nesse banco de dados, está sendo possível verificar a ocorrência de qualquer
intervenção irregular nessas plantas e denunciar à Prefeitura de Campinas os possíveis
autores dos danos. Já existem mais de 50 processos abertos no Departamento de
Parques e Jardins de Campinas (DPJ) com base nesse estudo, todos encaminhados pelo
trabalho voluntário das ONGs. Outras 11 ações, embasadas nos seus respectivos laudos
técnicos, devem ser encaminhadas em breve para a Administração municipal.
O projeto Cambuí Verde já plantou 73 mudas, de 11 espécies e com pelo menos um metro
e meio de altura, nas ruas do bairro no período de um ano e meio. “Essa ação tem
também um importante aspecto de educação ambiental e de convencimento dos
moradores”, defende Aguirre Júnior, explicando que muitas vezes o morador ou
comerciante se recusa a plantar uma árvore em frente ao seu imóvel alegando que o local
pode se transformar em depósito de lixo ou de dejetos de cães.
Parte do trabalho do voluntário consiste também em explicar à pessoa interessada as
vantagens de se cultivar uma árvore de porte grande, em lugar de uma arbustiva, que
oferece menos sombreamento e que, por ser ramificada desde a base, ocupa mais espaço
nas calçadas que as espécies mais altas, obstruindo a circulação de pedestres. Para
determinar os tipos de árvores que serviriam para o projeto, foram avaliados critérios como
2. área de sombreamento, boa arquitetura de copa e de tronco e um sistema de crescimento
de raízes que não provoque danos nos passeios.
Apoio técnico
A meta é de plantar 200 mudas no bairro de 47 mil habitantes. Para colaborar com o
trabalho, os moradores interessados devem contribuir com uma taxa de R$ 50,00 para a
abertura dos canteiros de um metro de largura por dois de comprimento nas calçadas,
pagos diretamente para a empresa especializada responsável pelo serviço, além de mais
R$ 30,00 para o trabalho de jardinagem, que inclui preparação da terra e adubação. A
Sociedade Civil de Amigos do Bairro Cambuí já tinha um programa de plantio de mudas,
mas, segundo Aguirre Júnior, que é diretor de Meio Ambiente da ONG, o trabalho não
contava com orientação técnica, que compreende a adequação do local escolhido para a
muda crescer e o estudo do potencial máximo que o canteiro pode oferecer para a planta
no estágio adulto.
Muitas das mais de 2 mil árvores, arbustos e palmeiras registradas no banco de dados têm
problemas de canteiro inadequado, que acabam estrangulando o tronco pelo seu tamanho
reduzido em relação à espécie. Em outros casos, a expansão natural das raízes de
árvores inapropriadas para arborização urbana acaba quebrando a calçada. Além disso,
há problemas de pragas que podem atingir as plantas e até mesmo casos de vandalismo.
A comunidade do Cambuí tem abraçado a causa e colaborado ao ceder espaços para o
plantio, ao limpar os canteiros e também cuidando e regando as 73 mudas já plantadas.
Até agora, houve apenas três casos de árvores que foram perdidas por vandalismo. Uma
das militantes da causa e voluntária no trabalho de preservação é a socióloga Beatriz
Pinheiro, que mora no Cambuí há quatro anos e há cerca de um ano colabora cuidando
das mudas plantadas. “Esse é um trabalho muito importante para conscientizar a
população e melhorar o ambiente em que vivemos.”
SAIBA MAIS
Os moradores interessados em participar do projeto Cambuí Verde podem entrar em
contato com a Sociedade Civil de Amigos do Bairro Cambuí pelo telefone (19) 3251-7817
e pelo endereço eletrônico amigosdo bairrocambui@yahoo.com.br ou procurar o
Movimento Resgate o Cambuí pelo telefone (19) 3251-7280.
VARIEDADE
Espécies plantadas pelo projeto de urbanização urbana Cambuí Verde
Oiti
Ipê-branco
Ipê-roxo
Tipuana
Magnólia-amarela
Pau-brasil
Sibipiruna
Dedaleiro
Jacarandá-mimoso
Baobá
Cambuí
No trabalho cotidiano de acompanhamento da situação das árvores que vem realizando
como diretor de Meio Ambiente da Sociedade Civil de Amigos do Bairro Cambuí, o
engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Júnior percebeu que a maior parte dos
casos de espécies cortadas ocorre por causa de comerciantes preocupados em abrir
3. espaço na calçada para estacionamentos ou para aumentar a visibilidade do ponto
comercial. Mas há muitos casos também de moradores que incorrem em crimes
ambientais por cortar árvores sem obter licença das autoridades.
A falta de informações por parte da população é um dos motivos que levam as pessoas a
tomar atitudes sem se preocupar com a legislação, já que somente com laudo técnico feito
por um biólogo, agrônomo ou engenheiro florestal, e devidamente aprovado pelo DPJ da
Prefeitura, é que se pode promover alguma intervenção na planta. Como a estrutura da
Administração pública nem sempre consegue acompanhar o grande número de
irregularidades constatado, esse tipo de ação fica sem punição, estimulando outras
pessoas a cometerem o crime contra a natureza. Uma moradora do Cambuí que pediu
para não ter o nome revelado procurou a reportagem para relatar o caso de uma vizinha
que quer cortar uma árvore sadia somente porque as folhas “sujam” a calçada todos os
dias. “É um absurdo a falta de consciência, a pessoa ameaça até recorrer à Justiça para
tirar a árvore daqui porque não quer que as folhas caiam na rua. O meu sonho é que todas
as ruas aqui ficassem arborizadas, que ficasse tudo florido”, lamenta a moradora.