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Cipla
Edição nº 29
Joinville, SC
16 de maio de 2003
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 5º Fase B/2003
Cipla
Nas mãos dos
funcionários
Enquanto o desemprego cresce cada
dia mais no país inteiro, uma
cooperativa de funcionários tenta
salvar a empresa da falência.
Página 3
EMPRESA PODE
CONTROLAR A ÁGUA
DA CIDADE
Páginas 6 e 7
UMA FORMATURA
BEM DIFERENTE
Página 10
A troca de terras do município por
terrenos estratégicos na cidade é uma
prática legalizada. O problema, ago-
ra, é que nessas terras estão as nas-
centes de água de Joinville.
Dezoito reclusos do presídio de
Joinville conseguem se formar no pri-
meiro grau. A iniciativa pioneira é da
Secretaria de Estado da Educação e
da Secretaria de Estado da Segurança
Pública.
Página 8
ADEJ PERDE CONTROLE
DO ESTACIONAMENTO
ROTATIVO
Página 11
JOINVILLE SEM APOIO
PARA A CULTURA
Foto: Ricardo Wegrzynovski
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
Primeira Pauta2
Opinião
A última edição do Primei-
ra Pauta nos trouxe um pano-
rama da fome na cidade de
Joinville. Mostrou-a de forma
diferente, mais próxima. Mos-
trou-a não apenas nos confins
do nordeste, onde a população
sente o vazio no estômago, ,
mas aqui, na cidade que “não
tem favelas”, cidade alienada.
Nesta edição, preparada em
paralelo com a 28, não focamos
apenas um assunto, mas resol-
vemos abrir um leque para ou-
tras questões da cidade. Em
vários e-mails recebidos durante
as últimas semanas o assunto
mais comentado foi a “próxi-
ma guerra americana”. Segun-
do os internautas, a guerra não
seria mais pelo petróleo, mas
pela água. Se é ou não verdade
não me cabe, ao menos por
hora, divagar, ficar preocupa-
do com Bush e seus “falcões”.
No entanto, assusta-me a ques-
tão das nascentes de água potá-
vel de Joinville.
Na matéria que abre esta
edição, o advogado e estudan-
te de jornalismo Marcos
Schetter aprofunda a questão do
escambo entre área da nascente
do Piraí e terreno do Centre-
ventos. A questão é analisada
pelo professor universitário
Afonso Imhoff numa excelen-
te entrevista concedida a Juniane
Schlichting. Além do problema
das nascentes de água da cida-
de o professor aborda também
a questão da guerra no Iraque,
o posicionamento dos jornalis-
tas e a municipalização da
CASAN. Enquanto a crise no
oriente médio é acompanhada
pelo mundo todo, aqui as pes-
soas tentam resolver seus pró-
prios problemas. Com a pas-
sagem do controle da CIPLA
Vida digna
para todos
Adriano Ferreira para os funcionários no final do
ano passado, varias coisas reto-
maram seu rumo, mas muito
mais tem de melhorar ainda,
como nos conta Michelle Cas-
tro. Outra mudança de aconte-
ceu no estacionamento rotativo
de Joinville, antes controlado pela
ADEJ (Associação dos Defici-
entes Físicos de Joinville), agora
assumido por uma empresa de
Jaraguá do Sul. Mas como nos
conta Daniela Torbes e Eduar-
do Martins, essa mudança tem
alguns detalhes que desagradam
à população em geral.
Assim como a nova gestão
da CIPLA, a coleta seletiva de
lixo ainda não engrenou por aqui.
A Cristiane Schmitz mostra que
a questão é mais complexa do
que parece, envolve galpões,
empresas e os catadores de lixo,
conhecidos como carrinheiros.
Grandes empresas locais tam-
bém perdem pontos quando o
assunto é cultura. Um grande
projeto teatral direcionado às
escolas de periferia não conse-
guiu ate agora nenhum patrocí-
nio, apesar de se enquadrar na
Lei Rouanet. Luiz Bertoldi mos-
tra mais sobre o projeto criado
pela escola Schiavini. Outro mico
da cultura local é o Complexo
Cultural Antarctica. Mico repre-
sentado pelo poder público, pois
há varias pessoas tentando de-
senvolver suas iniciativas pela
cultura por lá Criado para ser um
fomentador da cultura na região,
hoje abriga escritórios de órgãos
burocráticos da prefeitura, como
foi conferir Sabrina Passos.
Tantos problemas cansam,
por isso é gratificante ver uma
associação como o Centro de
Direitos Humanos Maria da
Graça Braz. Claudia Lopes nos
traz um pouco do trabalho rea-
lizado por eles, cuja filosofia é a
frase que abre esse editorial.
Charles Herberts
A guerra no Iraque fora pla-
nejada para durar apenas uma se-
mana, durou algumas semanas.
E agora o que nos espera? As
conseqüências são globais.
Pelo porte da economia que
possui, o Brasil deveria ser ple-
namente auto-suficiente. A gran-
de mídia diz que é. As conseqü-
ências decorrentes deveriam re-
sultar numa distribuição da ren-
da nacional de forma justa. Bem,
isso já é outro assunto. Mas, co-
loco tal para mostrar que o Bra-
sil não está sofrendo conseqüên-
cias da guerra. Ainda. O que di-
zer se os Estados Unidos tive-
rem um déficit ainda maior do
que o atual? Os custos da guerra
para os norte-americanos resul-
tarão em estrondosos US$ 1,5
trilhão de dólares. E o Brasil, in-
diretamente, sofrerá conseqüên-
cia, por exportar mais da meta-
de de seus produtos para os
EUA.
Posso ser mais especifico.
Santa Catarina é um exemplo ex-
portador. Consolidada por po-
derosas empresas de médio por-
te terá prós e contras. Os “con-
tras” dizem respeito ao setor
avícola, que possui seu maior
mercado importador no Orien-
te Médio, a região do conflito. É
bem verdade que os empresári-
os catarinenses preveniram-se ao
exportar seus produtos antes do
inicio da guerra, para evitar os
altos custos do transporte aéreo
e marítimo. Como “pró” posso
citar o setor de produtos manu-
faturados elétricos (motores,
compressores etc.)
O Brasil produz 90% do pe-
tróleo que consome. O restante
10% podem provir de paises de
fora do conflito. E Santa
Catarina, evidentemente, não fica
A grande mídia esconde o que
realmente está acontecendo
fora disso. Mais diretamente o
eixo Jaraguá do Sul – Joinville
produz bens de consumo elétri-
cos, o que certamente trará be-
nefícios à região.
As empresas têm como prin-
cipio político não comentar as
conseqüências econômicas da
guerra no Iraque, pois escondem
seus lucros com nefasto cinismo
sobre as desgraça alheia. Primei-
ro foi o apagão. Agora, a Guer-
ra. O que virá depois? Mais
“guerras preventivas” norte-ame-
ricanas sobre outros paises, um
a um? Enquanto continua a ocu-
pação e a crise política estabele-
cida com a ocupação pelos EUA,
as exportações catarinenses da
região de Joinville continuam
normais, com o incremento de
novos mercados como China e
Índia. Os problemas mais deli-
cados dizem respeito à questão
da logística.
Voltando ao titulo deste co-
mentário: há crise mesmo? A
grande mídia brasileira – e, até,
internacional – afirma em um
suspeito consenso, que não há
crise. O dólar cai, o risco Brasil
diminui, as exportações crescem.
Será isso tudo ilusão? Alem da
simples menção dos problemas
diários mostrados pela mídia (a
fome, o crime “organizado”- ou
a policia desorganizada? -a
corrupção alastraste etc.)quando
é que ela fará questão de discuti-
lo séria e comprometida com a
sociedade? A verdade é que to-
dos nós precisamos fazer uso da
nossa massa encefálica, do senso
critico. Há crise ou não há?
Há. O Brasil vive uma crise
latente, não declarada. Aparen-
temente não há crise. Mas o
povo sente o aumento inflacio-
nário, mês-a-mês. Não podemos
confiar na grande mídia. Repito:
há um suspeito consenso.
Crise,
onde?
EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação So-
cial – Jornalismo – do Insti-
tuto Superior e Centro Edu-
cacional Luterano Bom Je-
sus/IELUSC.
Edição nº 29, 16 de
maio de 2003.
www.ielusc.br
Diretor Geral:
P. Dr. Tito L. Lermen
Diretor do Curso:
Samuel Pantoja Lima
Professor Responsável:
Juciano de S. Lacerda
DRT-PB 1.177
Samuel Pantoja Lima
DRT-SC 00383-JP
Editor:
Adriano Rodrigo Ferreira
Editor Adjunto:
Edson Alexandre Schulz
Editores de texto:
Antônio Rosa Júnior
Samara Zuchetti
Reportagens:
Carlos Eduardo Martins
Charles Herberts
Claudia Fernanda Lopes
Cristiane Schmitz
Daniela Rangel Torbes
Juniane Schlichting
Luiz Fernando Bertoldi
Marco Schetert
Michelle Silva de Castro
Sabrina dos Passos
Colaboração:
Adriana Carolina Silvy
Fotografia:
Mauricio T. de Souza
Ricardo Wegrzynovski
Diagramação:
Ricardo Wegrzynovski
Contato com a redação:
Curso de Comunicação So-
cial – Jornalismo. Rua: Ale-
xandre Dohler, 56, Centro,
89201-260, Joinville – SC.
Tel.: (47) 433-0155.
primeirapauta@ielusc.br
EDITORIAL
Primeira Pauta
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
3
Emprego
Após quatro meses da nova
administração na Cipla, trabalha-
dores já recebem salários em dia
e o faturamento aumentou cer-
ca de 30%. A empresa, fundada
em 1963 e que quase pediu
concordata em 1994, trocou de
administradores no ano passado.
Após greve iniciada em 24 de
outubro, os irmãos Batschauer
assumiram em ata assinada, em
29 de novembro, o compromis-
so de transferir 100% das ações
para os trabalhadores.
“A gente pegou a empresa
arrombada, com o cofre zerado.
Começamos da estaca zero com
uma dívida de 500 milhões”. É
assim que o atual diretor admi-
nistrativo, Carlos Castro, descre-
ve a situação da empresa quan-
do a Comissão de Transição as-
sumiu. Castro foi eleito pelos tra-
balhadores para assumir o co-
mando da empresa, junto com
os outros três membros da co-
missão de transição: Nicolau
Monteiro, diretor de produção,
José Onírio Martins, diretor fi-
nanceiro e Ideraldo Luiz
Lescowisz,
diretor co-
mercial. Pos-
teriormente,
essa comis-
são de transi-
ção transfor-
mou-se no
Conselho de
Administra-
ção Unificado com o objetivo
unir a Cipla e a Interfibras. Atu-
almente o conselho conta com
18 membros.
O conselho recebeu um pra-
zo inicial de três meses para “ar-
rumar a casa”. O prazo acabou
e o conselho prorrogou mais
180 dias, até agosto de 2003 com
possibilida-
de de mais
prorroga-
ção. Essa
possibilida-
de é confir-
mada por
Castro: “As
coisas vão
melhoran-
do aos pouquinhos. Para a gente
dizer que já está legal, vai levar
pelo menos uns dois anos, no mí-
nimo”. Paulo Rigotto, ex-funci-
onário da empresa critica o pra-
zo estipulado para o conselho:
“Dá para ajeitar a empresa, mas
isso há longo prazo. Levou mais
ou menos dez anos para chegar
à situação que está hoje, não se-
rão em três meses como deram
o prazo. É impossível”.
Dentro desses quase cinco
meses em que a empresa está
sob administração dos funcioná-
rios, já obteve conquistas citadas
com orgulho pelo diretor admi-
nistrativo. A primeira delas foi
conseguir um capital de giro de
R$ 500 mil reais junto a
Mercedes-Benz, com negocia-
ções de moldes. Em seguida veio
o pagamento de salários e férias
em dia, antes não pagos. O pró-
ximo passo serão os impostos:
em fevereiro o INSS começou
a ser pago e, em maio, o conse-
lho pretende começar a pagar o
imposto de renda. E assim, a
Cipla retoma o pagamento dos
tributos.
Segundo Castro, essas con-
quistas só foram viáveis por
focar dois objetivos: “Tudo o
que o trabalhador produz é para
pagar fornecedor e salário”. Ele
afirma estar esperançoso sobre
o futuro da empresa. “Os me-
lhores técnicos da área de plásti-
cos estão em Joinville, aqui nessa
empresa. É um desperdício o
que acontecia aqui, o que os
Batschauer faziam”. Sobram crí-
ticas do conselho e dos funcio-
nários sobre o modo como os
antigos administradores condu-
ziam a empresa. Marcos Carva-
lho, funcionário da Cipla duran-
te treze anos, fala sobre o pro-
blema administrativo: “Eles que
mataram com a empresa. Es-
banjaram dinheiro e compraram
um monte de empresas falidas.
Além disso, Batschauer era inco-
erente, sem postura. O discurso
dele era divergente da prática.”.
Paulo Rigotto conta uma histó-
ria que exemplifica a má admi-
nistração: “Havia uma empresa
fabricante de brinquedos em
Blumenau que faliu. A Cipla
comprou todos os moldes e
poucos foram aproveitados”.
Correndo contra esse passado
desfavorável, o grupo luta hoje
pela estatização da empresa. Para
isso fez um abaixo assinado que
já está na casa das 50 mil assina-
turas. A idéia é levar o abaixo
assinado para audiência com o
presidente da república. Enquan-
to a data da audiência não é con-
firmada, outras bandeiras políti-
cas são levantadas no conselho:
a redução de jornadas, a auto-
gestão dos trabalhadores, a críti-
ca a mais-valia e execução dos
aumentos salariais propostos pelo
movimento sindical.
PauloRigottoeMarcosCarvalhosãopseu-
dônimoscriadosparapreservaçãoasfon-
tes, conforme solicitado no processo de
entrevista.
Michelle Castro
Autogestão na Cipla é referencial de luta sindical e política em quatro meses
Cooperativa salva
empresa da falência
Funcionário na produção de caixas de descarga na Cipla
Foto: Ricardo Wegrzynovski
Arte:Léo
“Tudo o que o
trabalhador
produz é para duas
coisas: pagar
fornecedor e salário”
Carlos Castro
ntrevista
Juniani Schlichting
“Água: o petróleo do séc. XXI”
“O que deveria ser patrimônio natural passou pela orla do sistema capitalista”
Afonso Imhoff é professor
de política, sociologia e estu-
dos de problemas brasileiros
na Universidade da Região de
Joinville (Univille). Graduado
em História pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de
Joinville, pós-graduado em
Arqueologia Pré-Histórica pela
Universidade Federal do
Paraná e também com especi-
alizações nas áreas de Histó-
ria Moderna e Contemporânea,
Ciências Sociais, Antropologia
e Sociologia. O antropólogo
fala sobre a água, assunto cor-
rente em fóruns sociais (Áfri-
ca, Brasil, EUA e Itália) e no
Fórum Mundial da Água (Ja-
pão), realizados entre 16 e 23
de março deste ano. A pers-
pectiva do debate aponta para
4 Primeira
Joinville/SC, 1 d
uma visão sobre os recursos
hídricos como sendo o petró-
leo do século 21. Nesta entre-
vista Imhoff, discorre sobre a
“Guerra do Petróleo” e a pos-
sível “Guerra da Água”, além
de falar sobre o papel da co-
municação nestes aconteci-
mentos.
P.P: O ambientalista Leonardo
Morelli afirma que a água é o petróleo
do século 21 e que, se deixarmos a água
virar uma mercadoria, o Brasil pode-
rá ser o Iraque deste século. Qual a
sua opinião?
Afonso: Penso que isso não
é imediato, mas o que eu acabo
de dizer é contraditório, pois tam-
bém acreditava que a Guerra no
Afeganistão não seria, tão pou-
co a Guerra do Iraque. Leonar-
do tem toda razão em dizer que
E
Foto: Ricardo Wegrzynovski
precisamos tomar cuidado nes-
ta questão da água como mer-
cadoria, da transformação de
nossos bens naturais em produto.
P.P: Qual atitude a sociedade pode
ter para evitar isso?
Afonso: Se a sociedade não
estiver “empoderada” com seus
instrumentos, na marcha dos
acontecimentos, a derrota será
muito grande. Então, tentando
responder tua pergunta: deveria
a sociedade estar consciente, es-
tar “empoderada”, ter poder de
decisão, influência e poder de
escolha das suas prioridades para
sobrevivência do planeta.
P.P: Como a sociedade pode se
“empoderar”, ou seja, deter poder?
Afonso: Através do voto, do
poder decisório, do poder de
influência, do poder propria-
mente dito, porque não se expli-
ca o poder. Através da própria
consciência, da informação. As
pessoas precisam ser informadas.
P.P: Aconteceu entre os dias 16 e
23 de Março, em Kyoto no Japão, o
Fórum Mundial da Água, paralelo a
isso nos EUA, na Itália, na África e
aqui no Brasil em Cotia/SP realiza-
ram-se Fóruns Sociais da Água. Como
o senhor vê essa “consciência” que vem
fazendo parte de grupos da população
ou da população de modo geral?
Afonso: Vejo o seguinte, há
um despertar muito lento em
relação à água. Há mais de 30
anos na nossa cidade, Joinville,
eu tenho visto propagandas, pu-
blicidades, campanhas, palestras
conscientizadoras nas escolas a
respeito da água, dos rios e te-
nho visto resultados muito dimi-
nutos. O que houve em São Pau-
lo e em termos mundiais (Fórum
Mundial e Social da Água) ou a
conferência que aconteceu em
Porto Alegre, estou me referin-
do ao Fórum Mundial Social,
são gritos de alerta, mas eu faço
sempre perguntas: até que pon-
to isso não são momentos? Veja
bem, eu não sou pessimista, sou
e pretendo ser realista, até que
ponto isso internaliza a luta das
pessoas, me questiono se esses
“momentos” efetivamente tra-
zem resultados.
P.P: Em Joinville várias áreas de
preservação contendo nascentes, estão lo-
calizadas em terras que pertencem à
Cia H. Carlos Schneider, que já afir-
mou somente ter interesse por áreas que
tenham nascentes. Qual reflexo disso
para o município?
A f o n s o :
Está aí a razão
de eu estar insis-
tindo nessa
questão do po-
der. Essas pes-
soas, esse grupo
econômico que
é difundido em
toda cidade
nesta questão da
água. Todos os
o r g a n i s m o s
universitários e
todas as massas
críticas sabem que essa família é
proprietária de vastas áreas onde
a água existe, a água potável,
então isso pode representar ou
ser um risco. Tomara que,
amanhã, a água fosse declarada
um patrimônio do interesse da
coletividade e fosse, aos devidos
proprietários, dada a liberdade
de gerir os seus negócios, seus
recursos despendidos nesta
localidade, de forma que o
município fosse proprietário da
água em si. Caso contrário existe
um risco que nós cidadãos
corremos de termos a nossa água
a bel prazer de um preço
exorbitante e ir de canequinha
mendigar pingos d´água.
P.P: A Cia. Schneider, represen-
tada pela Sra. Sibylla Schneider
Dietzold (vice-presidente) fala nesta
questão do patrimônio - Reserva Par-
ticular de Patrimônio Natural
(RPPN) – do por que eles nunca te-
rem transformado em reserva e a res-
posta foi única: isso é irreversível, eu
não posso fazer e depois desfazer. O
que o senhor pensa a respeito?
Afonso: Os proprietários a
que você se refere, estão vendo
a água (ou o petróleo, como di-
ria Morelli) correndo ali saben-
do que a população amanhã ou
depois estará em 700 ou 800 mil
e que a nossa água hoje gerada
pela Casan será insuficiente, en-
tão “nós”
(Ciser) estamos
aqui com o nos-
so terreno, com
a proteção na-
tural e quere-
mos uma inde-
nização, isto é,
queremos que o
poder público
compre as nos-
sas terras pelo
preço do mer-
cado, e quem
dita naquele
momento o
mercado é a alta necessidade da
água, o poder público não vai
chegar e desapropriar por pre-
ços mínimos. Isso é uma esper-
teza muito grande, isso é uma coi-
sa muito brasileira. Veja Brasília.
Praticamente quando Juscelino
disse onde seria construída, as
pessoas logo apresentaram as es-
crituras, ou seja, o governo fe-
deral teve que comprar aquilo
que já era do governo numa certa
época. E isso é o que pode acon-
tecer aqui em Joinville, aquilo que
deveria ser patrimônio natural,
social e ambiental passou inteli-
gentemente para orla do sistema
capitalista, as pessoas estão espe-
culando sobre as terras com o
“avental” de dizer que aquilo está
sendo preservado para o bem
do meio ambiente, do eco-siste-
ma. Então o que a gente sabe, o
“Há mais de 30
anos em Joinville
tenho visto
campanhas
conscientizadoras
a respeito da
água, dos rios, e
tenho visto
resultados
diminutos”
Afonso Imhoff antropólogo fala sobre a situação da água
5ra Pauta
de maio de 2003
que é voz corrente é que pratica-
mente essa família já era deten-
tora de praticamente quase to-
das as terras de Joinville, eles têm
uma grande imobiliária né, e de
onde vem a propriedade dessas
terras? Como elas foram
requeridas, como no Brasil as
terras foram requeridas pelas
classes dominantes, pelas oligar-
quias? Elas foram legitimadas
pela honra que os cidadãos pro-
prietários detinham, principal-
mente era considerado o sobre-
nome, mais ainda as origens eu-
ropéias. No caso típico de
Joinville, as famílias se abastece-
ram de terras para depois
disponibiliza-las em loteamentos,
se nós fizermos uma história dos
loteamentos de Joinville, nós va-
mos perceber que as origens des-
sas propriedades são um tanto,
historicamente, nebulosas.
P.P: Qual a sua visão quanto a
municipalização da Casan?
Afonso: Cada um gera seus
propósitos, primeiro era a
estadualização no Brasil todo,
que assim viriam grandes empre-
sas que poderiam comportar
grandes somas em dinheiro, e
empréstimos no exterior para
fazer todo saneamento básico.
Coisa que praticamente todo
mundo esqueceu. Fizeram asfal-
to aqui em Joinville, quase todos
os lugares estão pavimentados e
não fizeram tratamento de esgo-
to. Logo quando isso estourar,
vão quebrar todo asfalto para
gerar novo tipo de esgoto para
cidade. Agora a moda é munici-
palizar educação, água e por que
não energia elétrica também?
Penso que tirar a estadualização
da água é um perigo muito gran-
de, porque qual é o capital mon-
tante que o município vai ofere-
cer, será que é uma elite munici-
pal que pretende aplicar seus re-
cursos numa distribuidora de
água e dali refazer seus capitais?
Quais os reais argumentos que
serão ditos para defender que a
municipalização da água é o
melhor método. Duvido muito
que a instância municipal terá re-
cursos imediatos, mas nós temos
questões prioritárias a serem tra-
tadas. Não haveria nesse momen-
to interesses de elites locais
municipalizar a água tendo em
vista que ela é um grande petró-
leo e assim gerar recursos com
um grupo acionário e isso ser al-
tamente lucrativo, enquanto o da
Casan já está constituído,
estruturado numa empresa esta-
tal, com empregados efetivados,
afinal é uma empresa pública,
não estariam querendo fazer
uma empresa particular do mu-
nicípio e daí então quem tem as
correntes, as nascentes de água
poderia fazer uma boa entrada,
poderia ser um capitão-presiden-
te desta empresa.
P.P: Qual a sua visão sobre a co-
bertura da mídia na guerra?
Afonso: Em qualquer dis-
cussão tornou-se comum achar
as causas da guerra, e isso já é
uma grande coisa: a população
outra vez só está recebendo, por-
que a massa em si não está con-
seguindo depreender os fatos, ela
somente recebe da mídia. A
mídia pauta a consciência das pes-
soas, infelizmente essa é a verda-
de. No entanto, essa pauta tam-
bém não é unilateralmente
manipuladora, há espaço sim
para verdade, o que eu quero me
reportar é o espetáculo que é
transmitido pela mídia televisiva,
é como espetáculos fulminantes,
como exuberan-
tes, espetáculos
propriamente
ditos e a gente
não sabe ainda o
que passa no seio
da comunidade
brasileira, se tem
alguma repri-
menda moral,
ética dessa popu-
lação, o que nós
estamos vendo
são passeatas: aqui em Joinville
nós tivemos domingo, nós tive-
mos em Blumenau, em
Florianópolis, em São Paulo, no
Rio, em Brasília, mas ainda eu
não tenho condições de dar um
veredicto final e ver o que está
passando na cabeça das pessoas.
Por que qual a condição das pes-
soas? Se eu falei na questão da
água que falta um “empodera-
mento” e esse “empoderamen-
to” é uma boa consciência, é uma
boa informação. E onde é que
nós temos boa informação? Va-
mos colocar a coisa no nosso
nível aqui, se nós trabalharmos
em meios de comunicação qual
é o poder do profissional deter-
minar aspectos da verdade para
o dono do jornal, da tv, da rá-
dio? Onde é que está o código
de ética, isso também já é uma
falta gerada por uma autocensu-
ra. Nos Estados Unidos o que
mais existe é a autocensura dian-
te da guerra, porque o emprego
está em jogo, todo mundo está
amordaçado por uma pauta
explicita ou implícita que existe.
A mídia poderia, focalizar a ques-
tão da guerra, fazer grandes de-
bates no lugar dos seus tradicio-
nais eventos diários, que são as
novelas. Qual é o momento que
uma rede de televisão, pode pro-
porcionar uma ou duas horas de
debate, explicar didaticamente o
que está acontecendo, trazer gran-
des personalidades das universi-
dades, especialistas em planeja-
mento estratégico da escola su-
perior de guerra para discutir
isso, mesmo que fosse unilateral,
não tem isso. Então, eu não pos-
so esperar muito da população,
eu não posso saber o que está
passando na ca-
beça das pesso-
as, a não ser
aquilo que pas-
sa nos
telejornais. Eu
me preocupo
muito em dar
um veredicto
um pouco mais
p r o f u n d o .
Como é que
essa população
estaria recebendo tudo isso? Será
que simplesmente como uma
massa que vai ao campo de fu-
tebol, assiste ao espetáculo e tem
uma opinião? Uma mera opi-
nião? E a partir de que parâ-
metro uma grande massa de
pelo menos 100 milhões de lei-
tores brasileiros, tem uma idéia
clara, uma idéia racional, não ilu-
sória acerca da guerra.
P.P: O jornalista Élson Faxina,
esteve no auditório do Bom Jesus/Ielusc
e falou sobre a questão do jornalista de
hoje, somente estar levando informação
para população, o que ele chamou de
“office-boy da informação”. Faxina
falou do jornalista como construtor de
conhecimento ou pelo menos é o que de-
veria ser. È nesse sentido que o senhor
se refere quando fala que o jornalista
está preocupado com a informação?
Afonso: Sem dúvida, coin-
cide plenamente. Todos os pro-
fissionais que tiveram o ensejo de
fazer um bom curso têm o su-
premo dever de ser sacerdotes
leigos, e ajudarem a população a
terem senso crítico e não con-
senso. Porque consenso a socie-
dade brasileira sempre teve: na
escravidão, no extermínio dos ín-
dios, consenso no machismo, na
manipulação do futebol, nos es-
portes, então tudo é consensual
no Brasil. O que nós temos que
fazer, que é o que diz o jornalista
que tu te referiste, é sermos real-
mente produtores de conheci-
mento, isso é nosso dever.
P.P: Ainda na questão da guer-
ra, referindo-se as coberturas que a
mídia tem feito: qual a sua análise des-
ses especiais, dessas séries sobre a guer-
ra que as TVs abertas vêm fazendo?
Afonso: Em primeiro lugar
“não esperes
que a televisão
privada seja um
veículo
educativo,
porque não é da
filosofia do
capitalista”
Foto: Ricardo Wegrzynovski
“Não sou pessimista, sou e pretendo ser realista”
eu vejo com muita tristeza, mas
também alguém me disse um dia
“não esperes que a televisão pri-
vada seja um veículo educativo,
porque não é da filosofia do ca-
pitalista, do dono das emissoras
oferecer educação, porque não
é nesse caso uma mercadoria fér-
til em marketing”. Mas, de qual-
quer forma, sabendo que socie-
dade cobra da mídia, as igrejas
cobram, as instituições cobram
engajamento maior desses canais
de televisão, então eles fazem
algo, eu chamaria isso - infeliz-
mente eu tenho um nome muito
grosseiro para isso - de média:
média com o governo, média
com a sociedade e isso se dá em
função do poder. Por que para
quem interessa termos cidadãos
mais críticos? Será que interessa
realmente ao governo, às institui-
ções a pedagogia onde ênfase é
a formação de cidadãos mais crí-
ticos? Acho que é um discurso
muito da boca pra fora que as
elites aceitam, comungam, mas
não estão nem aí com a questão
crítica, porque se nós formos crí-
ticos nós não somos infantiliza-
dos, como a televisão infantiliza,
como os espetáculos culturais
infantilizam. A televisão tem um
grande propósito, quanto mais
ela infantilizar o telespectador
mais ela vai ter marketing, mais
ela vai ter patrocínio, este é o jogo
do capital que está dentro da
mídia.
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
Primeira Pauta6
Meio ambiente
Empresa pode controlar
nascentes de Joinville
No dia 27 de março de 2002,
foi encaminhado à Câmara dos
Vereadores de Joinville um pro-
jeto de lei que autoriza o Execu-
tivo Municipal a permutar áreas
de terra com a empresa Hacasa
Administração e Empreendi-
mentos Imobiliários, de propri-
edade de Carlos Schneider, dono
também da Cia. Industrial H.
Carlos Schneider (Ciser Parafu-
sos e Porcas).
O projeto de lei beneficia
uma negociação com o terreno
onde foi construído o Centre-
ventos Cau Hansen e uma área
de 18.503.800,00 m2 localizada
na Serra do Piraí (Botucas). A
região é responsável por 35% do
abastecimento de água da cidade.
Além da área localizada na
Estrada do Piraí, avaliada R$
425.587,40, o município entrega-
rá ao empresário um terreno de
406,50 m2, pelo valor de R$
12.181,50, e uma área de
1.487,54 m2, no valor de R$
44.626,20, ambos localizados na
rua Aubé, próximos ao museu
Fritz Alt. Seria uma negociação
normal, não fosse a avaliação
pelo valor abaixo do preço de
mercado dos terrenos localiza-
dos na rua Aubé, conforme opi-
nião do proprietário da imobili-
ária Gurgel, Daniel Felipe
Holanda Gurgel Pereira, 21 anos,
que tem outras áreas nas proxi-
midades para a venda, e pela
negociação de área de terras que
concentra riqueza vegetal e
hídrica de importância vital para
o abastecimento de água de nossa
cidade.
O terreno onde está localiza-
do o Centreventos, de 17.067,31
m2, foi declarado de utilidade
pública pelo Decreto nº 9.410
(de 08/12/1999), e avaliado em
R$ 972.836,67.
Atualmente o Projeto de Lei
nº 66/2002, encontra-se na Câ-
mara dos Vereadores com a
Engenheira Agrônoma e
Vereadora Maria Cadorin (PTB).
“Fiscalizarei a negociação, cum-
prindo meu papel de represen-
tante da população”, afirmou a
vereadora.
A primeira pergunta que se
faz quando se tem conhecimen-
to da permuta autorizada pelo
Executivo Municipal, é o que le-
varia um especialista em negóci-
os permutar um terreno locali-
zado na Avenida Beira Rio, por
área de pouco valor econômico
na região do Piraí, onde o metro
quadrado apresenta uma avalia-
ção de R$ 0,023 (vinte e três mi-
lésimos de real).
Entre as vantagens do negó-
cio para o empresário, está prin-
cipalmente na possibilidade de
construir Pequenas Centrais Hi-
drelétricas. O número de autori-
zações concedidas pela Agência
Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) para a construção de pe-
quenas centrais hidrelétricas
(PCHs) aumentou cerca de 500%
em dezembro do ano passado
em relação ao mês anterior,
quando foram autorizadas dez
usinas. Hoje o Brasil conta com
210 pequenas hidrelétricas, ge-
rando 900 MW. Metade das
PCHs está no Sudeste. O proje-
to de uma PCH custa em média
R$ 600.000,00 e, uma vez apro-
vado pela Aneel, passa a valer R$
2.000.000,00. A energia produ-
zida por uma pequena central de
energia pode ser facilmente ne-
gociada e a demanda seria
consumida no próprio municí-
pio. A construção das PCHs tem
sido incentivada pelo governo,
inclusive com financiamento pelo
BNDES, por ser uma fonte de
energia alternativa de baixo im-
pacto de poluição.
As características hidrológicas,
topográficas e geológicas da re-
gião do Piraí, são altamente fa-
voráveis à construção de PCHs,
segundo o geólogo Henrique
Correa, 51 anos. Para ele, pro-
vavelmente a região também
apresente água mineral.
A permuta possibilitará ao
empresário um enorme poder
de barganha com o município,
uma vez que já é proprietário de
terras que reúnem as nascentes da
Serra do Quirirí, que alimentam
o rio Cubatão, responsável pe-
los outros 65% da demanda
hídrica de Joinville. Para o
ambientalista Sérgio Dll’acqua,
vice-presidente da ONG
APREMA (Associação de Pre-
servação e Equilíbrio do Meio-
ambiente de Santa Catarina), está
clara a motivação econômica do
empresário. Segundo ele é um
contra-senso a permuta, uma vez
que o executivo reúne esforços
para municipalizar a água em
Joinville ao mesmo tempo em
que se desfaz de terras que apre-
sentam nascentes de água que ali-
mentam o rio Piraí, um dos res-
ponsáveis pelo abastecimento de
Joinville.
O geólogo Fernando Tavares,
40 anos, da Fundema (Fundação
para o Desenvolvimento do
Meio-Ambiente), não vê proble-
Marco Schettert
O contraste entre as nascentes de água e a poluição
Foto: Ricardo Wegrzynovski
1 Autorização não-onerosa para explorar
o potencial hidráulico (Lei nº 9.074, de 7
de julho de 1995 e Lei nº 9.427, de 26
de dezembro de 1996);
2 Descontos superiores a 50% nos
encargos de uso dos sistemas de
transmissão e distribuição (Resolução
281, de 10 de outubro de 1999);
3 Livre comercialização de energia para
consumidores de carga igual ou superior
a 500 KW (Lei nº 9648, de 27 de maio
de 1998);
4 Isenção relativa à compensação
financeira pela utilização de recursos
hídricos (Lei nº 7.99 de dezembro de
1989, e Lei nº 9.427, de 26 de dezembro
de 1996);
5 Participação no rateio da Conta de
Consumo de Combustível – CCC, quando
substituir geração de óleo diesel, nos
sistemas isolados (Resolução nº 245, de
11 de agosto de 1999);
6 Comercialização da energia gerada
pelas PCHs com concessionárias de
serviço público, tendo tarifário o valor
normativo estabelecido pela Resolução
nº 22, de 1º de fevereiro de 2001.
Condições
para construção
de PCHs
Prefeitura quer municipalizar água, mas se desfaz de terras onde brotam águas do Rio Piraí
Primeira Pauta
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
mas quanto à exploração da água
pelo município, pois a legislação
municipal e federal garante a ex-
ploração da água mesmo em ter-
reno de propriedade privada.
Henrique Correa, membro
do Comitê de Bacias do Cuba-
tão, acredita que a exemplo do
que já acontece nos EUA e Eu-
ropa, no futuro alguns valores
subjetivos do meio ambiente se-
rão objetivos, como o valor do
oxigênio ou o valor de conser-
vação da água, que terá um va-
lor do mercado. Destacou ainda
o princípio do poluidor pagador,
que consiste numa compensação
entre a poluição causada por de-
terminada empresa em relação
a um programa de preservação
ambiental desenvolvido por esta
mesma empresa.
Bromélias
A vegetação da região de
Joinville pode ser classificada de
uma forma geral, como floresta
ombrófila densa, parte integran-
Reciclagem enfrenta
problemas em Joinville
Infra-estrutura da coleta seletiva
facilita ação de atravessadores
Cristiane Schmitz
Com alguns meses de fun-
cionamento, a parceria entre a
Prefeitura, Recicla e Engepasa já
colheu bons resultados, entretan-
to, o número de trabalhadores
informais, os chamados carri-
nheiros, ainda é responsável pela
parcela mais significativa da co-
leta de toda a cidade. Segundo
a Recicla, são 2200 catadores de
papel, que carregam em média
150 kg/dia em seus carrinhos
ou carroças.
As constantes migrações des-
tes trabalhadores e a falta de or-
ganização da maioria dificultam
a criação de uma legislação que
ampare o trabalhador e o siste-
ma da coleta. Segundo Pedro
Ivo Bismarck, engenheiro sani-
tarista da Secretaria de Infra-es-
trutura Urbana de Joinville, os
atravessadores, como são cha-
mados os donos de galpões que
atuam clandestinamente, com-
pram o material dos catadores
por preços abaixo do mercado
e cobram aluguéis dos carrinhos
e de locais para dormir. Isso au-
menta o número de catadores
nas ruas sem critério algum para
a coleta. “Os
catadores
de papel já sabem os horários
dos caminhões, passam um pou-
co antes e acabam vendendo o
material por um preço bem mais
baixo”, comenta Bismarck.
Marcos Tadeu de Marchi,
coordenador da Recicla, afirma
que a importância destes traba-
lhadores para a coleta da cidade
é fundamental. O sistema de
reciclagem de Joinville ainda não
é capaz de canalizar todo o lixo
produzido através da coleta fei-
ta pela Engepasa.
O número de galpões não
comporta tanto material, por isso
seria necessário o aluguel de mais
galpões e mais contratações. A
implantação do sistema de
reciclagem necessita de um alto
investimento financeiro, entretan-
to, lembra de Marchi, investir na
idéia e na participação da popu-
lação já daria um grande retor-
no. “Joinville precisa de uma
campanha muito forte, e ela não
pode ser só hoje e amanhã”, afir-
ma. Uma das conseqüências que
ele aponta é a quantia de lixo não
orgânico encontrado entre a co-
leta seletiva: 15 a 20% do mate-
rial encontrado é lixo não
aproveitável.
Sobre as condições do lixo
não reciclável, realizou-se no
dia 18 de março o Fórum Lixo
e Cidadania, em Florianópolis,
pretendendo divulgar os resul-
tados do Programa Lixo Nos-
so de Cada Dia. A campanha
iniciada pelo Ministério Públi-
co e a FATMA (Fundação do
Meio Ambiente) há quase dois
anos, tem como objetivo dar
uma destinação correta ao lixo
orgânico. Em 2001 eram 37 o
número de municípios adequa-
dos ao programa, hoje, são
241. O fórum convocou os
prefeitos das cidades ainda em
processo de adequação para
regularizarem o destino do lixo
em suas cidades nos próximos
dias. Caso contrário, o Minis-
tério Público, vai acusar as pre-
feituras de crime ambiental,
através de ações públicas.
Foto:RicardoWegrzynovski
te do domínio da Mata Atlânti-
ca. A Floresta caracteriza-se pela
sua grande variedade de espéci-
es (biodiversidade), formando
uma vegetação exuberante de
valor incalculável. Apenas para se
ter uma idéia - uma vez que por
lei a vegetação natural de uma
área como esta não pode ser re-
tirada -, atualmente são vendidas
nas floriculturas bromélias, cujos
preços variam entre R$ 10,00 a
R$ 20,00, ou seja, pensando so-
mente na riqueza vegetal, a per-
muta não é um bom negócio
para a cidade das flores.
Em razão das condições de
escassez em quantidade e ou qua-
lidade, a água deixou de ser um
bem livre e passou a ter valor
econômico. Esse fato contribuiu
com a adoção de novo paradig-
ma de gestão desse recurso
ambiental, que compreende a
utilização de instrumentos
regulatórios e econômicos,
como a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos.
Foto: Ricardo Wegrzynovski
7
Poluição e má gestão do patrimônio natural
A falta de
organização da
maioria dificulta a
criação de uma
legislação que
ampare o
trabalhador
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
Primeira Pauta
Em virtude de suspeitas de
fraude, a Associação dos Defici-
entes Físicos de Joinville (Adej),
responsável pela administração do
Estacionamento Rotativo no cen-
tro da cidade, teve o contrato
suspenso em agosto de 2002. A
nova empresa, a cartão Joinville,
tem um preço de R$ 0,20 a mais
que a Adej, e não tem fins sociais.
De agosto a dezembro de
2002, os motoristas ficaram isen-
tos de pagar o estacionamento nas
ruas da área central. Foi aberto,
então, um novo processo
licitatório. A empresa Cartão
Jaraguá Comércio e Serviço Ltda.
venceu a licitação com um valor
fixado a R$0,70 por hora de es-
tacionamento. No dia 7 de de-
zembro o
contrato foi
assinado entre
a empresa, o
prefeito Mar-
co Tebaldi e o
então presi-
dente da Companhia de Desen-
volvimento e Urbanização de
Joinville (Conurb), Romualdo
França Junior. A Adej participou
da licitação mas, mesmo ofere-
cendo um valor menor, de R$
0,50, e não tendo ficado prova-
do a denúncia de fraude, perdeu
a concorrência.
Uma moção elaborada pelo
vereador do PT, Marcos Aurélio
Fernandes, e aprovada pela câma-
ra de vereadores solicitara à
Conurb mais tempo para a licita-
ção e sugerira que o dinheiro ar-
recadado fosse revertido para as
entidades com fins sociais da ci-
dade. O presidente da câmara de
Adej perde estacionamento
para empresa privada
Sem o dinheiro do estacionamento a entidade pode até fechar
Daniela Torbes e
Carlos Eduardo Martins
Foto: Maurício Teixeira de Souza
8
Trânsito
Estacionamento no Centro de Joinville: com a nova empresa passou a ser mais caro
vereadores, Darci de Mattos, afir-
mou que não havendo compro-
vação das denúncias, a única pre-
judicada com a decisão seria a
Adej. Para o vereador do PT,
Francisco Manoel Bento, a
Conurb poderia ter continuado
o convênio com a entidade, até a
investigação final por parte do
ministério público.
Durante o período em que a
Adej administrou o estaciona-
mento, a entidade ampliou o nú-
mero de atendimentos terapêuti-
cos mensais de 550 para 1.027.
Com a perda, viu-se forçada a
reduzir seu horário de funciona-
mento e número de deficientes
atendidos. Segundo a fisioterapeu-
ta Beatriz Rangel, a administração
do rotativo por parte da Adej era
vista como uma possibilidade
concreta de se implantar um cen-
tro de reabilitação para deficien-
tes em
Joinville,
que é caren-
tenesseseg-
mento.
Usuári-
os estão in-
satisfeitos com o aumento do pre-
ço e querem saber pra onde vai
esse dinheiro arrecadado. “É ina-
ceitável esse aumento, o povo não
pode aceitar esse assalto calado,
precisamos gritar, exigir nossos
direitos de consumidores”, diz o
morador Roberto Manssur. A
Adej arrecadava no total R$
130mil mensais, o que cobria suas
despesas com folha de pagamen-
to e manutenção da administra-
ção do rotativo e ações sociais
previstas no contrato com a
Conurb. O lucro líquido que era
de aproximadamente R$ 30 mil
era investido no atendimento de
reabilitação, na empregabilidade
do deficiente físico e em ações
que o setor de assistência social
da entidade costuma fazer, tais
como doação de cadeiras pra lu-
gares públicos, como a rodoviá-
ria por exemplo. Com uma taxa
maior, a arrecadação e lucro da
Cartão Joinville também são mai-
ores. Os funcionários recebem
por seis horas de trabalho, o va-
lor R$ 360,00 fixos, mais R$
36,00 para cobrir eventuais furos
de caixa e não recebem comissão
por número de cartões vendidos.
Apesar da insatisfação da popu-
lação e da Adej ter recorrido ju-
dicialmente questionando a deci-
são, a empresa continua atuando
com o aval da Conurb e da pre-
feitura da cidade. O assessor par-
lamentar do vereador Marcos
Aurélio, Luciano Brittes diz que
eles estão trabalhando na apura-
çãodaspossíveisilegalidades, tan-
to na licitação quanto na exe-
cução do serviço. “A
situação demanda tempo e
muito estudo”, justifica.
Há algum tempo, o verea-
dor pediu o material da licita-
ção pra a Conurb, mas não re-
cebeu nada e pensa em entrar
com um pedido busca na Pro-
curadoria da República. Espe-
ra logo ter boas notícias para
a população. O estacionamen-
to rotativo serve para organi-
zar o fluxo de veículos e a or-
dem do trânsito no Centro, mas
poderia ter uma função soci-
al. “O estacionamento é um
bem público e nada mais justo
que esse dinheiro gerasse bene-
fícios para a comunidade local”,
diz o vendedor Jorge Barbosa.
Mesmo oferecendo
um valor menor,
a Adej perdeu
a concorrência
Primeira Pauta
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
9
Saúde
Pic...Pic...Pic...Pic... São quatro
agulhadas por dia! Duas picadas
de manhã, uma para medir a taxa
de glicemia e outra para aplicar
uma injeção de insulina, e duas
de noite com o mesmo objeti-
vo. Há um ano, a pequena Bruna
Rafaela, 9 anos, descobriu que ti-
nha Diabetes. De acordo com a
mãe da menina, Hedy Maris, a
garota sentia muita sede, toma-
va bastante água, fazia muito xixi
e emagreceu exageradamente.
Num exame rotineiro de sangue,
o pediatra de Bruna diagnosti-
cou um aumento absurdo de
açúcar. O convívio diário com
aquelas picadinhas seria inevitá-
vel.
Bruna Rafaela é aluna da quar-
ta série do ensino fundamental e
leva uma vida normal. É a única
diabética da família toda. Apren-
deu a medir o nível da glicose e,
na falta de sua mãe, também
sabe aplicar a insulina. Quando
o açúcar no sangue está baixo, a
pequena é liberada pelos pais
para comer um doce. Por ser
criança, a taxa de glicose oscila
muito. Mas quando a adolescên-
cia chegar, o nível de açúcar no
sangue se equilibrará. A menina
faz natação e brinca sempre que
sobra tempo. A mãe revela que
nos dias em que Bruna brinca
e gasta energias o índice
glicêmico baixa. Todos os me-
ses ela tem consulta médica, faz
os exames sanguíneos de roti-
na e mantém a médica sempre
informada.
O diabetes é uma doença que
chega sem avisar e sem idade cer-
ta. O idoso é um alvo perfeito.
Mas quando atinge uma criança,
fica difícil de lidar, até porque
não desperdiçam uma doçura. A
endocrinologista Rejane
Baggenstoss explica que o dia-
Diabetes na infância é
assunto de gente grandebetes geralmente causa emagre-
cimento, fome e sede. O trata-
mento de crianças, diz a médica,
deve ser feito utilizando insulina
sempre. Nos idosos, o primeiro
passo é fazer uma dieta. Se não
resolver, é necessário o uso de
medicação. Caso não obtenha o
resultado desejado, então a insu-
lina é a solução.
Baggenstoss revela que para
as crianças o diabetes não tem
como ser prevenido. Para as ou-
tras pessoas a prevenção se dá
através de uma dieta balancea-
da, evitando o consumo exces-
sivo de açúcar e gordura. De
acordo com a endocrinologista,
as pessoas têm diabetes por uma
deficiência de uma substância que
coloca o açúcar para dentro das
células, gerando energia. Essa
substância é conhecida como in-
sulina. O diabetes não tem cura,
mas pode ser controlado atra-
vés de uma alimentação adequa-
da, uso da insulina regular e con-
trole médico.
Em Joinville os diabéticos
têm apoio. A Adijo – Associa-
ção dos Diabéticos de Joinville-
é uma instituição filantrópica e
não–governamental criada para
ajudar os doentes.
De acordo com a presidente
da Adijo, Dione Emilia Mendes
Kinas, os diabéticos encontram
na associação toda a orientação
que necessitam. A entidade ofe-
rece massagens, massoterapia, gi-
nástica, ioga, fisioterapia, terapia
ocupacional, culinária dirigida
aos doentes, exames de glicemia,
palestras com profissionais da
área de saúde, eventos e exercí-
cios monitorados.
A associação possui 268 pes-
soas cadastradas. Dessas, apenas
12 são crianças. Todas as primei-
ras segundas–feiras de cada mês,
as crianças assistem a uma pales-
tra com a endocrinologista Sueli
Keiko – especialista em diabetes
infantil. A médica conversa com
os pequenos e esclarece possíveis
dúvidas.
A dona-de-casa Mariana Ba-
tista, mãe de João Augusto Ba-
tista, 7 meses, relata que teve di-
abetes durante a gestação. Com
o nascimento do bebê o diabe-
tes desapareceu, mas passou para
João Augusto. A família é de ori-
gem humilde e os alimentos para
diabéticos são, em geral, muito
mais caros. “O João sempre ma-
mou no peito e continua maman-
do. Mas agora ele está naquela
fase de comer papinha. E tudo
deve ser exatamente como a
médica manda. O preço da co-
mida diet do meu filho é um
absurdo!”, desabafa Mariana. A
mãe de João Augusto mede a
Adriana Caroliny Silvy
Especial para o PP
glicose do garoto no posto de
saúde do bairro onde moram e
recebe gratuitamente a insulina.
Ela faz parte de um programa
da Secretaria de Estado da Saú-
de que beneficia os diabéticos
com a distribuição de medica-
mentos.
Para Romeu Peters Maia
aceitar o diabetes da filha foi di-
fícil. Vitória Camille Maia, 5 anos,
sempre foi de comer muita bes-
teira fora de hora. Mas de repente
tirar tudo que ela gostava não foi
fácil. “Me emociono toda vez
que comento sobre esse assunto.
Minha esposa quase entrou em
depressão. Tivemos que mudar
muitas coisas em nossa rotina.
Nossa alimentação foi totalmen-
te revista e estamos nos adequan-
do”, avalia Romeu. Ele afirma
que o açúcar do café foi substi-
tuído pelo adoçante, cortaram
doces e refrigerantes e o pão só
pode ser de centeio ou integral.
O auxiliar de enfermagem
Fábio Moreira tem muita histó-
ria para contar. Num de seus plan-
tões, atendeu uma criança com
fraqueza, sonolência, parecia des-
nutrida. Imediatamente colocou
o paciente no soro glicosado. A
criança começou a piorar visivel-
mente. Depois de algum tempo,
a mãe do paciente lembrou de
avisar que o filho era diabético.
Mas já era tarde. O garoto
Bernardo Jungles, 12 anos, en-
trara em coma! Permaneceu vinte
e sete dias assim, mas recuperou-
se e hoje está bem.
Injeção de insulina: a visão incomoda, mas garante a boa saúde
Arquivvo
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
Primeira Pauta10
Vida
Lutar pela qualidade de vida
Cláudia Lopes
Dezoito reclusos do presídio
regional de Joinville concluíram
o ensino fundamental dentro da
carceragem. O projeto tido
como pioneiro foi firmado no
ano passado entre a Secretaria de
Estado da Educação e a Secre-
taria de Estado de Segurança Pú-
blica.
A primeira turma formou-se
no dia 15 de abril, após 11 me-
ses de aulas, pelo sistema tele-sala,
executado pelo CEJA (Centro
de Educação para Jovens e
Adultos). A formatura ocorreu
dentro do próprio presídio, com
a presença dos familiares dos
detentos, da psicóloga Waldirene
Dalfenbach que fez o acompa-
nhamento, da professora, do di-
retor da casa de detenção e da
imprensa. A proposta faz parte
do “Projeto de Humanização”
da Secretaria de Segurança Pú-
blica. Nesta primeira fase os alu-
nos foram divididos em duas
turmas, sendo uma no presídio
masculino e outra no feminino.
“Foi maravilhoso trabalhar aqui
dentro, corria alguns riscos,
como de possíveis rebeliões, mas
foi tudo normal, a diferença desta
sala de aula para as outras é que
eles não tem a liberdade. Mas
minhas aulas eram normais, in-
clusive as provas eram sem con-
sulta”, testemunha a professora
Silvia Gonçalves da Silva.
Na foto em pé, da esquerda para a direita: a professora Silvia Gonçalves da Silva, os alunos Adriano
Vasco, Nelson de Oliveira, Estela Rubia, o então diretor do presídio José Adilson Toledo, os alunos Marilu
Piana Munari, Carlos Roberto Fernandes, a psicóloga Waldirene Dalfenbach, e a aluna Patrícia Macha-
do. Agaixados os alunos Josué Vasco, Ocimar B. Nascimento Teixeira, Elias Alves dos Santos. Alguns
alunos não compareceram na formatura por motivos particulares.
Foto:RicardoWegrzynovski
Ricardo Wegrzynovski
Foto:RicardoWegrzynovski
Falta de trabalho e moradia afligem a dignidade humana
A busca pela qualidade e res-
peito à vida é o ideal do Centro
de Direitos Humanos Maria da
Graça Braz, de Joinville. No cen-
tro trabalham voluntários que
buscam amenizar problemas
como a violência, preconceito,
desemprego, miséria, fome, po-
breza, problemas comuns no co-
tidiano no cotidiano da cidade.
“A filosofia de trabalho do
CDH é a vida digna para todos”,
comenta Irmã, diretora da insti-
tuição. Treze Centros realizam
esse trabalho em Santa Catarina
e mais de 300 em todo o Brasil.
O Maria da Graça Braz, de
Joinville, é responsável pela co-
ordenação estadual. Entre os
desafios para este ano estão a
promoção da campanha contra
a guerra pela paz, contribuição
na Campanha Fome Zero, pro-
moção dos direitos humanos
econômicos, sociais e culturais e
o apoio às ações do governo
popular.
Questões coletivas relaciona-
das ao desemprego, violência
doméstica, discriminação e tor-
tura também são muito comuns.
O CDH atende aproximada-
mente 15 casos por dia, encami-
nhados pelo Fórum, Prefeitura,
Câmara de Vereadores, Sindica-
tos e Hospitais. As questões jurí-
dicas são atendidas pela
advogada Cynthia Pinto da Luz.
Os atendimentos no CDH
são realizados por voluntários que
dedicam parte de seu tempo ou,
em alguns casos, integralmente
em diferentes áreas. No Centro
trabalham três pessoas, mas há
grupos que atuam em projetos
específicos como o Conselho
Carcerário da Comunidade e a
Casa Abrigo, que se reúnem na
sede e realizam diversas ações.
Conselho Carcerário
A reintegração de apenados
é outra iniciativa coordenada por
Irma Kniess através de um gru-
po de voluntários, formando o
Conselho Carcerário da Comu-
nidade de Joinville. O grupo,
composto por profissionais de
diferentes áreas, reúne-se no Cen-
tro de Direitos Humanos Maria
da Graça Brás e conta com o
auxílio da advogada da Institui-
ção Cynthia Maria Pinto da Luz.
“O Conselho tem como objeti-
vo servir como um instrumento
de conscientização da população
em geral acerca do problema
que existe e agrava-se cada vez
mais”, afirma Cynthia.
A Lei de Execução Penal,
criada em 1984 prevê a forma-
ção nas comarcas do conselho
da comunidade e diz em seu ar-
tigo 4º que o estado deverá re-
correr à cooperação da comu-
nidade nas atividades de execu-
ção da pena e da medida de se-
gurança. O conselho tem o ob-
jetivo observar o cumprimento
das condições determinadas na
sentença da lei, resguardando os
direitos do preso.
Para Cynthia a criação de um
Conselho da Comunidade em
cada cidade é importante para
que se possa repensar o modelo
de sociedade em que se vive. Os
membros do conselho visitam
mensalmente o presídio, entrevis-
tam os presos, apresentam rela-
tórios sobre as condições da ca-
deia ao juiz corregedor, promo-
ve o apoio religioso, jurídico,
auxílio na busca de recursos ma-
teriais e principalmente, na ori-
entação do preso que alcança a
liberdade e não encontra opor-
tunidade de emprego e recupe-
ração, rejeitado por seu passado.
A gerente de marketing
Leonir Zacarias de Souza faz
parte do Conselho Carcerário da
Comunidade há um ano e vê a
iniciativa como fundamental
para a sociedade. “As pessoas que
saem da prisão precisam se inserir
na sociedade e ter a oportunidade
de recomeçar, para não voltar a
cometer crimes”. conclui.
A origem do CDH
Segundo a diretora da Insti-
tuição, Irma Kniess, o cresci-
mento de Joinville na década de
setenta resultou em muitos pro-
blemas provenientes das greves
nas grandes empresas e às inva-
sões nos mangues. Surge então
o Centro de Direitos Humanos
(CDH), criado em 1979, por um
grupo de lideranças populares,
operários e religiosos. Entre 1994
e 1997 aconteceram 36 ações e
assembléias com até duas mil
pessoas, na sua grande maioria
pela defesa da moradia. O alto
índice de desemprego levava à
perda de residências e a invasão
de terras, quando as famílias viam
a possibilidade de desapropriação
procuravam ajuda no Centro.
Atendimento: seg. à sex., na
Rua Plácido Olimpio de Olivei-
ra, 660, das 8h-18h. Tel.: 455
3447.
Uma formatura diferente
Em Santa Catarina há 13 Centros de Direitos Humanos e Joinville sedia a coordenação estadual
Primeira Pauta
Joinville/SC, 16 de maio de 2003
Empresas rejeitam proposta cultural
Cultura não é reconhecida
Desde a comemoração dos
150 anos de Joinville há um cer-
to empenho em transformar o
município em pólo cultural. Pes-
quisas históricas, a Cidadela Cul-
tural Antártica, o Teatro Juarez
Machado, a orquestra filarmô-
nica de Joinville, a restauração
de cemitérios, o Centreventos
Cau Hansen e a popularização
dos Museus formam um con-
junto de ações do governo mu-
nicipal na direção deste objeti-
vo de transformação.
Em relação à Cidadela, por
exemplo, havia um claro movi-
mento do governo municipal
em transformá-la numa grande
fábrica de cultura, turismo e
lazer. Hoje aquele espaço abri-
ga a sede da Conurb, escritóri-
os de engenharia, academia e até
uma panificadora. João O. Sell,
da administração da Cidadela,
Falta apoio aos movimentos artísticos na maior cidade do estado
Sabrina Passos
Um comboio cultural atra-
vés de um palco móvel, mon-
tado em uma carreta de
quatorze metros de comprimen-
to levará cultura às comunida-
des de sessenta e nove cidades
de Santa Catarina. Serão sessenta
profissionais envolvidos, direta
e indiretamente. Durante dez
meses, a caravana, apresentará
a peça teatral, Os Saltimbancos,
de Sérgio Bardotti e adaptação
de Chico Buarque de Holanda.
O projeto da Schiavini Escola
para Atores, de Joinville, apro-
vado pelo CNIC (Conselho
Nacional de Incentivo a Cultu-
ra), após três meses de sua apro-
Escola de atores de Joinville cria projeto para divulgar a arte cênica no estado
Luiz Fernando Bertoldi vação, não conseguiu arrecadar
os recursos destinados para a
execução do “Teatro na Escola
e na TV” como será chamado.
Apresentações diárias,
workshops e um programa de
Tv fazem parte do projeto. Mas
sem o valor de R$ 1,465 milhão,
continuará a existir apenas no
papel. “Nosso objetivo é aten-
der a necessidade de milhares
de crianças carentes da rede pú-
blica, fazendo com que estas te-
nham acesso à cultura e ao lazer
através de um comboio cultu-
ral”, explica Sandra Schiavini,
uma das idealizadoras do “Te-
atro na Escola e na Tv”. Com
base na lei Roaunet, de 1991, a
captação dos recursos é realiza-
da através do débito do impos-
to de renda, que prevê ao patro-
cinador deduzir na declaração
sobre renda/pessoa jurídica, os
valores doados.
Para arrecadar os recursos li-
berados, a escola contatou du-
zentas e vinte empresas em todo
o país.
Do total, quinze são catari-
nenses. Das respostas recebidas,
sessenta e nove foram de recu-
sas. Só em Joinville, oito se ne-
garam a participar do projeto.
Brasmatic Entretenimento e a
Caixa Econômica Federal de
Joinville foram às únicas que ain-
da estão no processo de análise
do projeto. Dohler S/A Comér-
cio e Industria, Tigre S/A tu-
bos e Conexões, Embraco-
Empresa Brasileira de Com-
pressores S/A, Schulz S/A,
Vonpar Refrecos S/A e a
Amanco Brasil recusaram a par-
ceria cultural. Os departamen-
tos de marketing de todas as
que se recusaram a destinar
parte do imposto de renda à
escola alegaram não apoiar o
projeto, porque já financiam ou-
tros trabalhos de incentivo a cul-
tura, principalmente projetos de
capacitação profissional de seus
funcionários. “A falta de conhe-
cimento, juntamente com a falta
de vontade em apoiar uma idéia
de incentivo cultural voltada para
o sul do país me deixa indigna-
da”, afirma Sandra Schiavini.
Segundo o Ministério da cul-
tura, no Brasil, a Petrobrás Dis-
tribuidora, é a maior investidora
em projetos de incentivo a cul-
tura. A empresa destina anual-
mente R$ 24,5 milhões. Em se-
gundo lugar, está a Eletrobrás
com participação de R$ 18,5
milhões. No sul do país, a maior
financiadora ocupa o décimo
quarto lugar no ranking nacional,
Copel Distribuidora S/A, com
R$ 3 milhões em recursos.
explica que a Conurb precisava
de espaço e por isso foi sediada
ali. Além de exposições incons-
tantes nos galpões da Cidadela,
apenas a Associação Joinvilense
de Teatro ocupa aquele espaço
ativamente, no sentido de uso
cultural. Nove grupos de teatro
formam a associação, que no
ano passado conseguiu emplacar
um projeto para a realização de
espetáculos de teatro todos os
finais de semana. Segundo Ilaine
Melo, presidente da associação,
a Prefeitura e a Fundação Cul-
tural acreditavam que haveriam
investimentos privados em di-
reção à Cidadela, e isso não
ocorreu.
Para Silvestre Ferreira,
teatrólogo e diretor de teatro, a
Cidadela é hoje um espaço al-
ternativo e os espetáculos tem
conseguido um bom público. A
concessão do teatro é resultado
de uma parceria com a Funda-
ção Cultural, que oferece, além Borges de Garuva: equipamentos culturais vazios
do espaço, luz e som mínimos.
Em troca, a associação adminis-
tra o lugar e dirige os espetácu-
los. Ilaine Melo define Joinville
como uma cidade industrial que
passa por um processo cultural
recente. Mas logo a população
vai cobrar os espaços
construídos com o dinheiro pú-
blico. Mesmo aqueles criados
para fins de promoção do go-
verno, devem ser usados de ma-
neira eficaz.
Na garantia que a cidade não
venha a se constituir num aglo-
merado humano consumista e
sem memória, há aqueles que
acreditam no potencial cultural
da cidade. “Por baixo da capa
oficial de falsas obras, de uma
política cultural voltada para
eventos esporádicos e ocos e de
equipamentos culturais vazios,
movimentam-se artistas e inte-
lectuais inquietos, indivíduos cri-
adores que refletem as nossas
identidades, a nossa problemá-
tica como sociedade tão recen-
te e sem espírito”, desabafa o
teatrólogo Borges de Garuva.
Segundo Borges parece
existir um conjunto bastante
desconexo de aspirações e
modos de encarar o fazer ar-
tístico, da parte do governo,
dos próprios artistas, e até do
público. “Temos muita gente
séria por aqui, construindo dis-
cretamente a sua obra, como
uma contribuição para a his-
tória do lugar e da humanida-
de. Foi sempre o ‘tempo’ que
deu valor às obras. O resto é
Roberto Carlos, é Hollywood,
é Egüinha Pocotó”, diz.
Foto:RicardoWegrzynovski
Cultura
11
“Nosso objetivo é
atender a necessi-
dade de milhares
de crianças
carentes”
Sandra Schiavini
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  • 1. Cipla Edição nº 29 Joinville, SC 16 de maio de 2003 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 5º Fase B/2003 Cipla Nas mãos dos funcionários Enquanto o desemprego cresce cada dia mais no país inteiro, uma cooperativa de funcionários tenta salvar a empresa da falência. Página 3 EMPRESA PODE CONTROLAR A ÁGUA DA CIDADE Páginas 6 e 7 UMA FORMATURA BEM DIFERENTE Página 10 A troca de terras do município por terrenos estratégicos na cidade é uma prática legalizada. O problema, ago- ra, é que nessas terras estão as nas- centes de água de Joinville. Dezoito reclusos do presídio de Joinville conseguem se formar no pri- meiro grau. A iniciativa pioneira é da Secretaria de Estado da Educação e da Secretaria de Estado da Segurança Pública. Página 8 ADEJ PERDE CONTROLE DO ESTACIONAMENTO ROTATIVO Página 11 JOINVILLE SEM APOIO PARA A CULTURA Foto: Ricardo Wegrzynovski
  • 2. Joinville/SC, 16 de maio de 2003 Primeira Pauta2 Opinião A última edição do Primei- ra Pauta nos trouxe um pano- rama da fome na cidade de Joinville. Mostrou-a de forma diferente, mais próxima. Mos- trou-a não apenas nos confins do nordeste, onde a população sente o vazio no estômago, , mas aqui, na cidade que “não tem favelas”, cidade alienada. Nesta edição, preparada em paralelo com a 28, não focamos apenas um assunto, mas resol- vemos abrir um leque para ou- tras questões da cidade. Em vários e-mails recebidos durante as últimas semanas o assunto mais comentado foi a “próxi- ma guerra americana”. Segun- do os internautas, a guerra não seria mais pelo petróleo, mas pela água. Se é ou não verdade não me cabe, ao menos por hora, divagar, ficar preocupa- do com Bush e seus “falcões”. No entanto, assusta-me a ques- tão das nascentes de água potá- vel de Joinville. Na matéria que abre esta edição, o advogado e estudan- te de jornalismo Marcos Schetter aprofunda a questão do escambo entre área da nascente do Piraí e terreno do Centre- ventos. A questão é analisada pelo professor universitário Afonso Imhoff numa excelen- te entrevista concedida a Juniane Schlichting. Além do problema das nascentes de água da cida- de o professor aborda também a questão da guerra no Iraque, o posicionamento dos jornalis- tas e a municipalização da CASAN. Enquanto a crise no oriente médio é acompanhada pelo mundo todo, aqui as pes- soas tentam resolver seus pró- prios problemas. Com a pas- sagem do controle da CIPLA Vida digna para todos Adriano Ferreira para os funcionários no final do ano passado, varias coisas reto- maram seu rumo, mas muito mais tem de melhorar ainda, como nos conta Michelle Cas- tro. Outra mudança de aconte- ceu no estacionamento rotativo de Joinville, antes controlado pela ADEJ (Associação dos Defici- entes Físicos de Joinville), agora assumido por uma empresa de Jaraguá do Sul. Mas como nos conta Daniela Torbes e Eduar- do Martins, essa mudança tem alguns detalhes que desagradam à população em geral. Assim como a nova gestão da CIPLA, a coleta seletiva de lixo ainda não engrenou por aqui. A Cristiane Schmitz mostra que a questão é mais complexa do que parece, envolve galpões, empresas e os catadores de lixo, conhecidos como carrinheiros. Grandes empresas locais tam- bém perdem pontos quando o assunto é cultura. Um grande projeto teatral direcionado às escolas de periferia não conse- guiu ate agora nenhum patrocí- nio, apesar de se enquadrar na Lei Rouanet. Luiz Bertoldi mos- tra mais sobre o projeto criado pela escola Schiavini. Outro mico da cultura local é o Complexo Cultural Antarctica. Mico repre- sentado pelo poder público, pois há varias pessoas tentando de- senvolver suas iniciativas pela cultura por lá Criado para ser um fomentador da cultura na região, hoje abriga escritórios de órgãos burocráticos da prefeitura, como foi conferir Sabrina Passos. Tantos problemas cansam, por isso é gratificante ver uma associação como o Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz. Claudia Lopes nos traz um pouco do trabalho rea- lizado por eles, cuja filosofia é a frase que abre esse editorial. Charles Herberts A guerra no Iraque fora pla- nejada para durar apenas uma se- mana, durou algumas semanas. E agora o que nos espera? As conseqüências são globais. Pelo porte da economia que possui, o Brasil deveria ser ple- namente auto-suficiente. A gran- de mídia diz que é. As conseqü- ências decorrentes deveriam re- sultar numa distribuição da ren- da nacional de forma justa. Bem, isso já é outro assunto. Mas, co- loco tal para mostrar que o Bra- sil não está sofrendo conseqüên- cias da guerra. Ainda. O que di- zer se os Estados Unidos tive- rem um déficit ainda maior do que o atual? Os custos da guerra para os norte-americanos resul- tarão em estrondosos US$ 1,5 trilhão de dólares. E o Brasil, in- diretamente, sofrerá conseqüên- cia, por exportar mais da meta- de de seus produtos para os EUA. Posso ser mais especifico. Santa Catarina é um exemplo ex- portador. Consolidada por po- derosas empresas de médio por- te terá prós e contras. Os “con- tras” dizem respeito ao setor avícola, que possui seu maior mercado importador no Orien- te Médio, a região do conflito. É bem verdade que os empresári- os catarinenses preveniram-se ao exportar seus produtos antes do inicio da guerra, para evitar os altos custos do transporte aéreo e marítimo. Como “pró” posso citar o setor de produtos manu- faturados elétricos (motores, compressores etc.) O Brasil produz 90% do pe- tróleo que consome. O restante 10% podem provir de paises de fora do conflito. E Santa Catarina, evidentemente, não fica A grande mídia esconde o que realmente está acontecendo fora disso. Mais diretamente o eixo Jaraguá do Sul – Joinville produz bens de consumo elétri- cos, o que certamente trará be- nefícios à região. As empresas têm como prin- cipio político não comentar as conseqüências econômicas da guerra no Iraque, pois escondem seus lucros com nefasto cinismo sobre as desgraça alheia. Primei- ro foi o apagão. Agora, a Guer- ra. O que virá depois? Mais “guerras preventivas” norte-ame- ricanas sobre outros paises, um a um? Enquanto continua a ocu- pação e a crise política estabele- cida com a ocupação pelos EUA, as exportações catarinenses da região de Joinville continuam normais, com o incremento de novos mercados como China e Índia. Os problemas mais deli- cados dizem respeito à questão da logística. Voltando ao titulo deste co- mentário: há crise mesmo? A grande mídia brasileira – e, até, internacional – afirma em um suspeito consenso, que não há crise. O dólar cai, o risco Brasil diminui, as exportações crescem. Será isso tudo ilusão? Alem da simples menção dos problemas diários mostrados pela mídia (a fome, o crime “organizado”- ou a policia desorganizada? -a corrupção alastraste etc.)quando é que ela fará questão de discuti- lo séria e comprometida com a sociedade? A verdade é que to- dos nós precisamos fazer uso da nossa massa encefálica, do senso critico. Há crise ou não há? Há. O Brasil vive uma crise latente, não declarada. Aparen- temente não há crise. Mas o povo sente o aumento inflacio- nário, mês-a-mês. Não podemos confiar na grande mídia. Repito: há um suspeito consenso. Crise, onde? EXPEDIENTE Jornal Laboratório do Curso de Comunicação So- cial – Jornalismo – do Insti- tuto Superior e Centro Edu- cacional Luterano Bom Je- sus/IELUSC. Edição nº 29, 16 de maio de 2003. www.ielusc.br Diretor Geral: P. Dr. Tito L. Lermen Diretor do Curso: Samuel Pantoja Lima Professor Responsável: Juciano de S. Lacerda DRT-PB 1.177 Samuel Pantoja Lima DRT-SC 00383-JP Editor: Adriano Rodrigo Ferreira Editor Adjunto: Edson Alexandre Schulz Editores de texto: Antônio Rosa Júnior Samara Zuchetti Reportagens: Carlos Eduardo Martins Charles Herberts Claudia Fernanda Lopes Cristiane Schmitz Daniela Rangel Torbes Juniane Schlichting Luiz Fernando Bertoldi Marco Schetert Michelle Silva de Castro Sabrina dos Passos Colaboração: Adriana Carolina Silvy Fotografia: Mauricio T. de Souza Ricardo Wegrzynovski Diagramação: Ricardo Wegrzynovski Contato com a redação: Curso de Comunicação So- cial – Jornalismo. Rua: Ale- xandre Dohler, 56, Centro, 89201-260, Joinville – SC. Tel.: (47) 433-0155. primeirapauta@ielusc.br EDITORIAL
  • 3. Primeira Pauta Joinville/SC, 16 de maio de 2003 3 Emprego Após quatro meses da nova administração na Cipla, trabalha- dores já recebem salários em dia e o faturamento aumentou cer- ca de 30%. A empresa, fundada em 1963 e que quase pediu concordata em 1994, trocou de administradores no ano passado. Após greve iniciada em 24 de outubro, os irmãos Batschauer assumiram em ata assinada, em 29 de novembro, o compromis- so de transferir 100% das ações para os trabalhadores. “A gente pegou a empresa arrombada, com o cofre zerado. Começamos da estaca zero com uma dívida de 500 milhões”. É assim que o atual diretor admi- nistrativo, Carlos Castro, descre- ve a situação da empresa quan- do a Comissão de Transição as- sumiu. Castro foi eleito pelos tra- balhadores para assumir o co- mando da empresa, junto com os outros três membros da co- missão de transição: Nicolau Monteiro, diretor de produção, José Onírio Martins, diretor fi- nanceiro e Ideraldo Luiz Lescowisz, diretor co- mercial. Pos- teriormente, essa comis- são de transi- ção transfor- mou-se no Conselho de Administra- ção Unificado com o objetivo unir a Cipla e a Interfibras. Atu- almente o conselho conta com 18 membros. O conselho recebeu um pra- zo inicial de três meses para “ar- rumar a casa”. O prazo acabou e o conselho prorrogou mais 180 dias, até agosto de 2003 com possibilida- de de mais prorroga- ção. Essa possibilida- de é confir- mada por Castro: “As coisas vão melhoran- do aos pouquinhos. Para a gente dizer que já está legal, vai levar pelo menos uns dois anos, no mí- nimo”. Paulo Rigotto, ex-funci- onário da empresa critica o pra- zo estipulado para o conselho: “Dá para ajeitar a empresa, mas isso há longo prazo. Levou mais ou menos dez anos para chegar à situação que está hoje, não se- rão em três meses como deram o prazo. É impossível”. Dentro desses quase cinco meses em que a empresa está sob administração dos funcioná- rios, já obteve conquistas citadas com orgulho pelo diretor admi- nistrativo. A primeira delas foi conseguir um capital de giro de R$ 500 mil reais junto a Mercedes-Benz, com negocia- ções de moldes. Em seguida veio o pagamento de salários e férias em dia, antes não pagos. O pró- ximo passo serão os impostos: em fevereiro o INSS começou a ser pago e, em maio, o conse- lho pretende começar a pagar o imposto de renda. E assim, a Cipla retoma o pagamento dos tributos. Segundo Castro, essas con- quistas só foram viáveis por focar dois objetivos: “Tudo o que o trabalhador produz é para pagar fornecedor e salário”. Ele afirma estar esperançoso sobre o futuro da empresa. “Os me- lhores técnicos da área de plásti- cos estão em Joinville, aqui nessa empresa. É um desperdício o que acontecia aqui, o que os Batschauer faziam”. Sobram crí- ticas do conselho e dos funcio- nários sobre o modo como os antigos administradores condu- ziam a empresa. Marcos Carva- lho, funcionário da Cipla duran- te treze anos, fala sobre o pro- blema administrativo: “Eles que mataram com a empresa. Es- banjaram dinheiro e compraram um monte de empresas falidas. Além disso, Batschauer era inco- erente, sem postura. O discurso dele era divergente da prática.”. Paulo Rigotto conta uma histó- ria que exemplifica a má admi- nistração: “Havia uma empresa fabricante de brinquedos em Blumenau que faliu. A Cipla comprou todos os moldes e poucos foram aproveitados”. Correndo contra esse passado desfavorável, o grupo luta hoje pela estatização da empresa. Para isso fez um abaixo assinado que já está na casa das 50 mil assina- turas. A idéia é levar o abaixo assinado para audiência com o presidente da república. Enquan- to a data da audiência não é con- firmada, outras bandeiras políti- cas são levantadas no conselho: a redução de jornadas, a auto- gestão dos trabalhadores, a críti- ca a mais-valia e execução dos aumentos salariais propostos pelo movimento sindical. PauloRigottoeMarcosCarvalhosãopseu- dônimoscriadosparapreservaçãoasfon- tes, conforme solicitado no processo de entrevista. Michelle Castro Autogestão na Cipla é referencial de luta sindical e política em quatro meses Cooperativa salva empresa da falência Funcionário na produção de caixas de descarga na Cipla Foto: Ricardo Wegrzynovski Arte:Léo “Tudo o que o trabalhador produz é para duas coisas: pagar fornecedor e salário” Carlos Castro
  • 4. ntrevista Juniani Schlichting “Água: o petróleo do séc. XXI” “O que deveria ser patrimônio natural passou pela orla do sistema capitalista” Afonso Imhoff é professor de política, sociologia e estu- dos de problemas brasileiros na Universidade da Região de Joinville (Univille). Graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Joinville, pós-graduado em Arqueologia Pré-Histórica pela Universidade Federal do Paraná e também com especi- alizações nas áreas de Histó- ria Moderna e Contemporânea, Ciências Sociais, Antropologia e Sociologia. O antropólogo fala sobre a água, assunto cor- rente em fóruns sociais (Áfri- ca, Brasil, EUA e Itália) e no Fórum Mundial da Água (Ja- pão), realizados entre 16 e 23 de março deste ano. A pers- pectiva do debate aponta para 4 Primeira Joinville/SC, 1 d uma visão sobre os recursos hídricos como sendo o petró- leo do século 21. Nesta entre- vista Imhoff, discorre sobre a “Guerra do Petróleo” e a pos- sível “Guerra da Água”, além de falar sobre o papel da co- municação nestes aconteci- mentos. P.P: O ambientalista Leonardo Morelli afirma que a água é o petróleo do século 21 e que, se deixarmos a água virar uma mercadoria, o Brasil pode- rá ser o Iraque deste século. Qual a sua opinião? Afonso: Penso que isso não é imediato, mas o que eu acabo de dizer é contraditório, pois tam- bém acreditava que a Guerra no Afeganistão não seria, tão pou- co a Guerra do Iraque. Leonar- do tem toda razão em dizer que E Foto: Ricardo Wegrzynovski precisamos tomar cuidado nes- ta questão da água como mer- cadoria, da transformação de nossos bens naturais em produto. P.P: Qual atitude a sociedade pode ter para evitar isso? Afonso: Se a sociedade não estiver “empoderada” com seus instrumentos, na marcha dos acontecimentos, a derrota será muito grande. Então, tentando responder tua pergunta: deveria a sociedade estar consciente, es- tar “empoderada”, ter poder de decisão, influência e poder de escolha das suas prioridades para sobrevivência do planeta. P.P: Como a sociedade pode se “empoderar”, ou seja, deter poder? Afonso: Através do voto, do poder decisório, do poder de influência, do poder propria- mente dito, porque não se expli- ca o poder. Através da própria consciência, da informação. As pessoas precisam ser informadas. P.P: Aconteceu entre os dias 16 e 23 de Março, em Kyoto no Japão, o Fórum Mundial da Água, paralelo a isso nos EUA, na Itália, na África e aqui no Brasil em Cotia/SP realiza- ram-se Fóruns Sociais da Água. Como o senhor vê essa “consciência” que vem fazendo parte de grupos da população ou da população de modo geral? Afonso: Vejo o seguinte, há um despertar muito lento em relação à água. Há mais de 30 anos na nossa cidade, Joinville, eu tenho visto propagandas, pu- blicidades, campanhas, palestras conscientizadoras nas escolas a respeito da água, dos rios e te- nho visto resultados muito dimi- nutos. O que houve em São Pau- lo e em termos mundiais (Fórum Mundial e Social da Água) ou a conferência que aconteceu em Porto Alegre, estou me referin- do ao Fórum Mundial Social, são gritos de alerta, mas eu faço sempre perguntas: até que pon- to isso não são momentos? Veja bem, eu não sou pessimista, sou e pretendo ser realista, até que ponto isso internaliza a luta das pessoas, me questiono se esses “momentos” efetivamente tra- zem resultados. P.P: Em Joinville várias áreas de preservação contendo nascentes, estão lo- calizadas em terras que pertencem à Cia H. Carlos Schneider, que já afir- mou somente ter interesse por áreas que tenham nascentes. Qual reflexo disso para o município? A f o n s o : Está aí a razão de eu estar insis- tindo nessa questão do po- der. Essas pes- soas, esse grupo econômico que é difundido em toda cidade nesta questão da água. Todos os o r g a n i s m o s universitários e todas as massas críticas sabem que essa família é proprietária de vastas áreas onde a água existe, a água potável, então isso pode representar ou ser um risco. Tomara que, amanhã, a água fosse declarada um patrimônio do interesse da coletividade e fosse, aos devidos proprietários, dada a liberdade de gerir os seus negócios, seus recursos despendidos nesta localidade, de forma que o município fosse proprietário da água em si. Caso contrário existe um risco que nós cidadãos corremos de termos a nossa água a bel prazer de um preço exorbitante e ir de canequinha mendigar pingos d´água. P.P: A Cia. Schneider, represen- tada pela Sra. Sibylla Schneider Dietzold (vice-presidente) fala nesta questão do patrimônio - Reserva Par- ticular de Patrimônio Natural (RPPN) – do por que eles nunca te- rem transformado em reserva e a res- posta foi única: isso é irreversível, eu não posso fazer e depois desfazer. O que o senhor pensa a respeito? Afonso: Os proprietários a que você se refere, estão vendo a água (ou o petróleo, como di- ria Morelli) correndo ali saben- do que a população amanhã ou depois estará em 700 ou 800 mil e que a nossa água hoje gerada pela Casan será insuficiente, en- tão “nós” (Ciser) estamos aqui com o nos- so terreno, com a proteção na- tural e quere- mos uma inde- nização, isto é, queremos que o poder público compre as nos- sas terras pelo preço do mer- cado, e quem dita naquele momento o mercado é a alta necessidade da água, o poder público não vai chegar e desapropriar por pre- ços mínimos. Isso é uma esper- teza muito grande, isso é uma coi- sa muito brasileira. Veja Brasília. Praticamente quando Juscelino disse onde seria construída, as pessoas logo apresentaram as es- crituras, ou seja, o governo fe- deral teve que comprar aquilo que já era do governo numa certa época. E isso é o que pode acon- tecer aqui em Joinville, aquilo que deveria ser patrimônio natural, social e ambiental passou inteli- gentemente para orla do sistema capitalista, as pessoas estão espe- culando sobre as terras com o “avental” de dizer que aquilo está sendo preservado para o bem do meio ambiente, do eco-siste- ma. Então o que a gente sabe, o “Há mais de 30 anos em Joinville tenho visto campanhas conscientizadoras a respeito da água, dos rios, e tenho visto resultados diminutos” Afonso Imhoff antropólogo fala sobre a situação da água
  • 5. 5ra Pauta de maio de 2003 que é voz corrente é que pratica- mente essa família já era deten- tora de praticamente quase to- das as terras de Joinville, eles têm uma grande imobiliária né, e de onde vem a propriedade dessas terras? Como elas foram requeridas, como no Brasil as terras foram requeridas pelas classes dominantes, pelas oligar- quias? Elas foram legitimadas pela honra que os cidadãos pro- prietários detinham, principal- mente era considerado o sobre- nome, mais ainda as origens eu- ropéias. No caso típico de Joinville, as famílias se abastece- ram de terras para depois disponibiliza-las em loteamentos, se nós fizermos uma história dos loteamentos de Joinville, nós va- mos perceber que as origens des- sas propriedades são um tanto, historicamente, nebulosas. P.P: Qual a sua visão quanto a municipalização da Casan? Afonso: Cada um gera seus propósitos, primeiro era a estadualização no Brasil todo, que assim viriam grandes empre- sas que poderiam comportar grandes somas em dinheiro, e empréstimos no exterior para fazer todo saneamento básico. Coisa que praticamente todo mundo esqueceu. Fizeram asfal- to aqui em Joinville, quase todos os lugares estão pavimentados e não fizeram tratamento de esgo- to. Logo quando isso estourar, vão quebrar todo asfalto para gerar novo tipo de esgoto para cidade. Agora a moda é munici- palizar educação, água e por que não energia elétrica também? Penso que tirar a estadualização da água é um perigo muito gran- de, porque qual é o capital mon- tante que o município vai ofere- cer, será que é uma elite munici- pal que pretende aplicar seus re- cursos numa distribuidora de água e dali refazer seus capitais? Quais os reais argumentos que serão ditos para defender que a municipalização da água é o melhor método. Duvido muito que a instância municipal terá re- cursos imediatos, mas nós temos questões prioritárias a serem tra- tadas. Não haveria nesse momen- to interesses de elites locais municipalizar a água tendo em vista que ela é um grande petró- leo e assim gerar recursos com um grupo acionário e isso ser al- tamente lucrativo, enquanto o da Casan já está constituído, estruturado numa empresa esta- tal, com empregados efetivados, afinal é uma empresa pública, não estariam querendo fazer uma empresa particular do mu- nicípio e daí então quem tem as correntes, as nascentes de água poderia fazer uma boa entrada, poderia ser um capitão-presiden- te desta empresa. P.P: Qual a sua visão sobre a co- bertura da mídia na guerra? Afonso: Em qualquer dis- cussão tornou-se comum achar as causas da guerra, e isso já é uma grande coisa: a população outra vez só está recebendo, por- que a massa em si não está con- seguindo depreender os fatos, ela somente recebe da mídia. A mídia pauta a consciência das pes- soas, infelizmente essa é a verda- de. No entanto, essa pauta tam- bém não é unilateralmente manipuladora, há espaço sim para verdade, o que eu quero me reportar é o espetáculo que é transmitido pela mídia televisiva, é como espetáculos fulminantes, como exuberan- tes, espetáculos propriamente ditos e a gente não sabe ainda o que passa no seio da comunidade brasileira, se tem alguma repri- menda moral, ética dessa popu- lação, o que nós estamos vendo são passeatas: aqui em Joinville nós tivemos domingo, nós tive- mos em Blumenau, em Florianópolis, em São Paulo, no Rio, em Brasília, mas ainda eu não tenho condições de dar um veredicto final e ver o que está passando na cabeça das pessoas. Por que qual a condição das pes- soas? Se eu falei na questão da água que falta um “empodera- mento” e esse “empoderamen- to” é uma boa consciência, é uma boa informação. E onde é que nós temos boa informação? Va- mos colocar a coisa no nosso nível aqui, se nós trabalharmos em meios de comunicação qual é o poder do profissional deter- minar aspectos da verdade para o dono do jornal, da tv, da rá- dio? Onde é que está o código de ética, isso também já é uma falta gerada por uma autocensu- ra. Nos Estados Unidos o que mais existe é a autocensura dian- te da guerra, porque o emprego está em jogo, todo mundo está amordaçado por uma pauta explicita ou implícita que existe. A mídia poderia, focalizar a ques- tão da guerra, fazer grandes de- bates no lugar dos seus tradicio- nais eventos diários, que são as novelas. Qual é o momento que uma rede de televisão, pode pro- porcionar uma ou duas horas de debate, explicar didaticamente o que está acontecendo, trazer gran- des personalidades das universi- dades, especialistas em planeja- mento estratégico da escola su- perior de guerra para discutir isso, mesmo que fosse unilateral, não tem isso. Então, eu não pos- so esperar muito da população, eu não posso saber o que está passando na ca- beça das pesso- as, a não ser aquilo que pas- sa nos telejornais. Eu me preocupo muito em dar um veredicto um pouco mais p r o f u n d o . Como é que essa população estaria recebendo tudo isso? Será que simplesmente como uma massa que vai ao campo de fu- tebol, assiste ao espetáculo e tem uma opinião? Uma mera opi- nião? E a partir de que parâ- metro uma grande massa de pelo menos 100 milhões de lei- tores brasileiros, tem uma idéia clara, uma idéia racional, não ilu- sória acerca da guerra. P.P: O jornalista Élson Faxina, esteve no auditório do Bom Jesus/Ielusc e falou sobre a questão do jornalista de hoje, somente estar levando informação para população, o que ele chamou de “office-boy da informação”. Faxina falou do jornalista como construtor de conhecimento ou pelo menos é o que de- veria ser. È nesse sentido que o senhor se refere quando fala que o jornalista está preocupado com a informação? Afonso: Sem dúvida, coin- cide plenamente. Todos os pro- fissionais que tiveram o ensejo de fazer um bom curso têm o su- premo dever de ser sacerdotes leigos, e ajudarem a população a terem senso crítico e não con- senso. Porque consenso a socie- dade brasileira sempre teve: na escravidão, no extermínio dos ín- dios, consenso no machismo, na manipulação do futebol, nos es- portes, então tudo é consensual no Brasil. O que nós temos que fazer, que é o que diz o jornalista que tu te referiste, é sermos real- mente produtores de conheci- mento, isso é nosso dever. P.P: Ainda na questão da guer- ra, referindo-se as coberturas que a mídia tem feito: qual a sua análise des- ses especiais, dessas séries sobre a guer- ra que as TVs abertas vêm fazendo? Afonso: Em primeiro lugar “não esperes que a televisão privada seja um veículo educativo, porque não é da filosofia do capitalista” Foto: Ricardo Wegrzynovski “Não sou pessimista, sou e pretendo ser realista” eu vejo com muita tristeza, mas também alguém me disse um dia “não esperes que a televisão pri- vada seja um veículo educativo, porque não é da filosofia do ca- pitalista, do dono das emissoras oferecer educação, porque não é nesse caso uma mercadoria fér- til em marketing”. Mas, de qual- quer forma, sabendo que socie- dade cobra da mídia, as igrejas cobram, as instituições cobram engajamento maior desses canais de televisão, então eles fazem algo, eu chamaria isso - infeliz- mente eu tenho um nome muito grosseiro para isso - de média: média com o governo, média com a sociedade e isso se dá em função do poder. Por que para quem interessa termos cidadãos mais críticos? Será que interessa realmente ao governo, às institui- ções a pedagogia onde ênfase é a formação de cidadãos mais crí- ticos? Acho que é um discurso muito da boca pra fora que as elites aceitam, comungam, mas não estão nem aí com a questão crítica, porque se nós formos crí- ticos nós não somos infantiliza- dos, como a televisão infantiliza, como os espetáculos culturais infantilizam. A televisão tem um grande propósito, quanto mais ela infantilizar o telespectador mais ela vai ter marketing, mais ela vai ter patrocínio, este é o jogo do capital que está dentro da mídia.
  • 6. Joinville/SC, 16 de maio de 2003 Primeira Pauta6 Meio ambiente Empresa pode controlar nascentes de Joinville No dia 27 de março de 2002, foi encaminhado à Câmara dos Vereadores de Joinville um pro- jeto de lei que autoriza o Execu- tivo Municipal a permutar áreas de terra com a empresa Hacasa Administração e Empreendi- mentos Imobiliários, de propri- edade de Carlos Schneider, dono também da Cia. Industrial H. Carlos Schneider (Ciser Parafu- sos e Porcas). O projeto de lei beneficia uma negociação com o terreno onde foi construído o Centre- ventos Cau Hansen e uma área de 18.503.800,00 m2 localizada na Serra do Piraí (Botucas). A região é responsável por 35% do abastecimento de água da cidade. Além da área localizada na Estrada do Piraí, avaliada R$ 425.587,40, o município entrega- rá ao empresário um terreno de 406,50 m2, pelo valor de R$ 12.181,50, e uma área de 1.487,54 m2, no valor de R$ 44.626,20, ambos localizados na rua Aubé, próximos ao museu Fritz Alt. Seria uma negociação normal, não fosse a avaliação pelo valor abaixo do preço de mercado dos terrenos localiza- dos na rua Aubé, conforme opi- nião do proprietário da imobili- ária Gurgel, Daniel Felipe Holanda Gurgel Pereira, 21 anos, que tem outras áreas nas proxi- midades para a venda, e pela negociação de área de terras que concentra riqueza vegetal e hídrica de importância vital para o abastecimento de água de nossa cidade. O terreno onde está localiza- do o Centreventos, de 17.067,31 m2, foi declarado de utilidade pública pelo Decreto nº 9.410 (de 08/12/1999), e avaliado em R$ 972.836,67. Atualmente o Projeto de Lei nº 66/2002, encontra-se na Câ- mara dos Vereadores com a Engenheira Agrônoma e Vereadora Maria Cadorin (PTB). “Fiscalizarei a negociação, cum- prindo meu papel de represen- tante da população”, afirmou a vereadora. A primeira pergunta que se faz quando se tem conhecimen- to da permuta autorizada pelo Executivo Municipal, é o que le- varia um especialista em negóci- os permutar um terreno locali- zado na Avenida Beira Rio, por área de pouco valor econômico na região do Piraí, onde o metro quadrado apresenta uma avalia- ção de R$ 0,023 (vinte e três mi- lésimos de real). Entre as vantagens do negó- cio para o empresário, está prin- cipalmente na possibilidade de construir Pequenas Centrais Hi- drelétricas. O número de autori- zações concedidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a construção de pe- quenas centrais hidrelétricas (PCHs) aumentou cerca de 500% em dezembro do ano passado em relação ao mês anterior, quando foram autorizadas dez usinas. Hoje o Brasil conta com 210 pequenas hidrelétricas, ge- rando 900 MW. Metade das PCHs está no Sudeste. O proje- to de uma PCH custa em média R$ 600.000,00 e, uma vez apro- vado pela Aneel, passa a valer R$ 2.000.000,00. A energia produ- zida por uma pequena central de energia pode ser facilmente ne- gociada e a demanda seria consumida no próprio municí- pio. A construção das PCHs tem sido incentivada pelo governo, inclusive com financiamento pelo BNDES, por ser uma fonte de energia alternativa de baixo im- pacto de poluição. As características hidrológicas, topográficas e geológicas da re- gião do Piraí, são altamente fa- voráveis à construção de PCHs, segundo o geólogo Henrique Correa, 51 anos. Para ele, pro- vavelmente a região também apresente água mineral. A permuta possibilitará ao empresário um enorme poder de barganha com o município, uma vez que já é proprietário de terras que reúnem as nascentes da Serra do Quirirí, que alimentam o rio Cubatão, responsável pe- los outros 65% da demanda hídrica de Joinville. Para o ambientalista Sérgio Dll’acqua, vice-presidente da ONG APREMA (Associação de Pre- servação e Equilíbrio do Meio- ambiente de Santa Catarina), está clara a motivação econômica do empresário. Segundo ele é um contra-senso a permuta, uma vez que o executivo reúne esforços para municipalizar a água em Joinville ao mesmo tempo em que se desfaz de terras que apre- sentam nascentes de água que ali- mentam o rio Piraí, um dos res- ponsáveis pelo abastecimento de Joinville. O geólogo Fernando Tavares, 40 anos, da Fundema (Fundação para o Desenvolvimento do Meio-Ambiente), não vê proble- Marco Schettert O contraste entre as nascentes de água e a poluição Foto: Ricardo Wegrzynovski 1 Autorização não-onerosa para explorar o potencial hidráulico (Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995 e Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996); 2 Descontos superiores a 50% nos encargos de uso dos sistemas de transmissão e distribuição (Resolução 281, de 10 de outubro de 1999); 3 Livre comercialização de energia para consumidores de carga igual ou superior a 500 KW (Lei nº 9648, de 27 de maio de 1998); 4 Isenção relativa à compensação financeira pela utilização de recursos hídricos (Lei nº 7.99 de dezembro de 1989, e Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996); 5 Participação no rateio da Conta de Consumo de Combustível – CCC, quando substituir geração de óleo diesel, nos sistemas isolados (Resolução nº 245, de 11 de agosto de 1999); 6 Comercialização da energia gerada pelas PCHs com concessionárias de serviço público, tendo tarifário o valor normativo estabelecido pela Resolução nº 22, de 1º de fevereiro de 2001. Condições para construção de PCHs Prefeitura quer municipalizar água, mas se desfaz de terras onde brotam águas do Rio Piraí
  • 7. Primeira Pauta Joinville/SC, 16 de maio de 2003 mas quanto à exploração da água pelo município, pois a legislação municipal e federal garante a ex- ploração da água mesmo em ter- reno de propriedade privada. Henrique Correa, membro do Comitê de Bacias do Cuba- tão, acredita que a exemplo do que já acontece nos EUA e Eu- ropa, no futuro alguns valores subjetivos do meio ambiente se- rão objetivos, como o valor do oxigênio ou o valor de conser- vação da água, que terá um va- lor do mercado. Destacou ainda o princípio do poluidor pagador, que consiste numa compensação entre a poluição causada por de- terminada empresa em relação a um programa de preservação ambiental desenvolvido por esta mesma empresa. Bromélias A vegetação da região de Joinville pode ser classificada de uma forma geral, como floresta ombrófila densa, parte integran- Reciclagem enfrenta problemas em Joinville Infra-estrutura da coleta seletiva facilita ação de atravessadores Cristiane Schmitz Com alguns meses de fun- cionamento, a parceria entre a Prefeitura, Recicla e Engepasa já colheu bons resultados, entretan- to, o número de trabalhadores informais, os chamados carri- nheiros, ainda é responsável pela parcela mais significativa da co- leta de toda a cidade. Segundo a Recicla, são 2200 catadores de papel, que carregam em média 150 kg/dia em seus carrinhos ou carroças. As constantes migrações des- tes trabalhadores e a falta de or- ganização da maioria dificultam a criação de uma legislação que ampare o trabalhador e o siste- ma da coleta. Segundo Pedro Ivo Bismarck, engenheiro sani- tarista da Secretaria de Infra-es- trutura Urbana de Joinville, os atravessadores, como são cha- mados os donos de galpões que atuam clandestinamente, com- pram o material dos catadores por preços abaixo do mercado e cobram aluguéis dos carrinhos e de locais para dormir. Isso au- menta o número de catadores nas ruas sem critério algum para a coleta. “Os catadores de papel já sabem os horários dos caminhões, passam um pou- co antes e acabam vendendo o material por um preço bem mais baixo”, comenta Bismarck. Marcos Tadeu de Marchi, coordenador da Recicla, afirma que a importância destes traba- lhadores para a coleta da cidade é fundamental. O sistema de reciclagem de Joinville ainda não é capaz de canalizar todo o lixo produzido através da coleta fei- ta pela Engepasa. O número de galpões não comporta tanto material, por isso seria necessário o aluguel de mais galpões e mais contratações. A implantação do sistema de reciclagem necessita de um alto investimento financeiro, entretan- to, lembra de Marchi, investir na idéia e na participação da popu- lação já daria um grande retor- no. “Joinville precisa de uma campanha muito forte, e ela não pode ser só hoje e amanhã”, afir- ma. Uma das conseqüências que ele aponta é a quantia de lixo não orgânico encontrado entre a co- leta seletiva: 15 a 20% do mate- rial encontrado é lixo não aproveitável. Sobre as condições do lixo não reciclável, realizou-se no dia 18 de março o Fórum Lixo e Cidadania, em Florianópolis, pretendendo divulgar os resul- tados do Programa Lixo Nos- so de Cada Dia. A campanha iniciada pelo Ministério Públi- co e a FATMA (Fundação do Meio Ambiente) há quase dois anos, tem como objetivo dar uma destinação correta ao lixo orgânico. Em 2001 eram 37 o número de municípios adequa- dos ao programa, hoje, são 241. O fórum convocou os prefeitos das cidades ainda em processo de adequação para regularizarem o destino do lixo em suas cidades nos próximos dias. Caso contrário, o Minis- tério Público, vai acusar as pre- feituras de crime ambiental, através de ações públicas. Foto:RicardoWegrzynovski te do domínio da Mata Atlânti- ca. A Floresta caracteriza-se pela sua grande variedade de espéci- es (biodiversidade), formando uma vegetação exuberante de valor incalculável. Apenas para se ter uma idéia - uma vez que por lei a vegetação natural de uma área como esta não pode ser re- tirada -, atualmente são vendidas nas floriculturas bromélias, cujos preços variam entre R$ 10,00 a R$ 20,00, ou seja, pensando so- mente na riqueza vegetal, a per- muta não é um bom negócio para a cidade das flores. Em razão das condições de escassez em quantidade e ou qua- lidade, a água deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico. Esse fato contribuiu com a adoção de novo paradig- ma de gestão desse recurso ambiental, que compreende a utilização de instrumentos regulatórios e econômicos, como a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Foto: Ricardo Wegrzynovski 7 Poluição e má gestão do patrimônio natural A falta de organização da maioria dificulta a criação de uma legislação que ampare o trabalhador
  • 8. Joinville/SC, 16 de maio de 2003 Primeira Pauta Em virtude de suspeitas de fraude, a Associação dos Defici- entes Físicos de Joinville (Adej), responsável pela administração do Estacionamento Rotativo no cen- tro da cidade, teve o contrato suspenso em agosto de 2002. A nova empresa, a cartão Joinville, tem um preço de R$ 0,20 a mais que a Adej, e não tem fins sociais. De agosto a dezembro de 2002, os motoristas ficaram isen- tos de pagar o estacionamento nas ruas da área central. Foi aberto, então, um novo processo licitatório. A empresa Cartão Jaraguá Comércio e Serviço Ltda. venceu a licitação com um valor fixado a R$0,70 por hora de es- tacionamento. No dia 7 de de- zembro o contrato foi assinado entre a empresa, o prefeito Mar- co Tebaldi e o então presi- dente da Companhia de Desen- volvimento e Urbanização de Joinville (Conurb), Romualdo França Junior. A Adej participou da licitação mas, mesmo ofere- cendo um valor menor, de R$ 0,50, e não tendo ficado prova- do a denúncia de fraude, perdeu a concorrência. Uma moção elaborada pelo vereador do PT, Marcos Aurélio Fernandes, e aprovada pela câma- ra de vereadores solicitara à Conurb mais tempo para a licita- ção e sugerira que o dinheiro ar- recadado fosse revertido para as entidades com fins sociais da ci- dade. O presidente da câmara de Adej perde estacionamento para empresa privada Sem o dinheiro do estacionamento a entidade pode até fechar Daniela Torbes e Carlos Eduardo Martins Foto: Maurício Teixeira de Souza 8 Trânsito Estacionamento no Centro de Joinville: com a nova empresa passou a ser mais caro vereadores, Darci de Mattos, afir- mou que não havendo compro- vação das denúncias, a única pre- judicada com a decisão seria a Adej. Para o vereador do PT, Francisco Manoel Bento, a Conurb poderia ter continuado o convênio com a entidade, até a investigação final por parte do ministério público. Durante o período em que a Adej administrou o estaciona- mento, a entidade ampliou o nú- mero de atendimentos terapêuti- cos mensais de 550 para 1.027. Com a perda, viu-se forçada a reduzir seu horário de funciona- mento e número de deficientes atendidos. Segundo a fisioterapeu- ta Beatriz Rangel, a administração do rotativo por parte da Adej era vista como uma possibilidade concreta de se implantar um cen- tro de reabilitação para deficien- tes em Joinville, que é caren- tenesseseg- mento. Usuári- os estão in- satisfeitos com o aumento do pre- ço e querem saber pra onde vai esse dinheiro arrecadado. “É ina- ceitável esse aumento, o povo não pode aceitar esse assalto calado, precisamos gritar, exigir nossos direitos de consumidores”, diz o morador Roberto Manssur. A Adej arrecadava no total R$ 130mil mensais, o que cobria suas despesas com folha de pagamen- to e manutenção da administra- ção do rotativo e ações sociais previstas no contrato com a Conurb. O lucro líquido que era de aproximadamente R$ 30 mil era investido no atendimento de reabilitação, na empregabilidade do deficiente físico e em ações que o setor de assistência social da entidade costuma fazer, tais como doação de cadeiras pra lu- gares públicos, como a rodoviá- ria por exemplo. Com uma taxa maior, a arrecadação e lucro da Cartão Joinville também são mai- ores. Os funcionários recebem por seis horas de trabalho, o va- lor R$ 360,00 fixos, mais R$ 36,00 para cobrir eventuais furos de caixa e não recebem comissão por número de cartões vendidos. Apesar da insatisfação da popu- lação e da Adej ter recorrido ju- dicialmente questionando a deci- são, a empresa continua atuando com o aval da Conurb e da pre- feitura da cidade. O assessor par- lamentar do vereador Marcos Aurélio, Luciano Brittes diz que eles estão trabalhando na apura- çãodaspossíveisilegalidades, tan- to na licitação quanto na exe- cução do serviço. “A situação demanda tempo e muito estudo”, justifica. Há algum tempo, o verea- dor pediu o material da licita- ção pra a Conurb, mas não re- cebeu nada e pensa em entrar com um pedido busca na Pro- curadoria da República. Espe- ra logo ter boas notícias para a população. O estacionamen- to rotativo serve para organi- zar o fluxo de veículos e a or- dem do trânsito no Centro, mas poderia ter uma função soci- al. “O estacionamento é um bem público e nada mais justo que esse dinheiro gerasse bene- fícios para a comunidade local”, diz o vendedor Jorge Barbosa. Mesmo oferecendo um valor menor, a Adej perdeu a concorrência
  • 9. Primeira Pauta Joinville/SC, 16 de maio de 2003 9 Saúde Pic...Pic...Pic...Pic... São quatro agulhadas por dia! Duas picadas de manhã, uma para medir a taxa de glicemia e outra para aplicar uma injeção de insulina, e duas de noite com o mesmo objeti- vo. Há um ano, a pequena Bruna Rafaela, 9 anos, descobriu que ti- nha Diabetes. De acordo com a mãe da menina, Hedy Maris, a garota sentia muita sede, toma- va bastante água, fazia muito xixi e emagreceu exageradamente. Num exame rotineiro de sangue, o pediatra de Bruna diagnosti- cou um aumento absurdo de açúcar. O convívio diário com aquelas picadinhas seria inevitá- vel. Bruna Rafaela é aluna da quar- ta série do ensino fundamental e leva uma vida normal. É a única diabética da família toda. Apren- deu a medir o nível da glicose e, na falta de sua mãe, também sabe aplicar a insulina. Quando o açúcar no sangue está baixo, a pequena é liberada pelos pais para comer um doce. Por ser criança, a taxa de glicose oscila muito. Mas quando a adolescên- cia chegar, o nível de açúcar no sangue se equilibrará. A menina faz natação e brinca sempre que sobra tempo. A mãe revela que nos dias em que Bruna brinca e gasta energias o índice glicêmico baixa. Todos os me- ses ela tem consulta médica, faz os exames sanguíneos de roti- na e mantém a médica sempre informada. O diabetes é uma doença que chega sem avisar e sem idade cer- ta. O idoso é um alvo perfeito. Mas quando atinge uma criança, fica difícil de lidar, até porque não desperdiçam uma doçura. A endocrinologista Rejane Baggenstoss explica que o dia- Diabetes na infância é assunto de gente grandebetes geralmente causa emagre- cimento, fome e sede. O trata- mento de crianças, diz a médica, deve ser feito utilizando insulina sempre. Nos idosos, o primeiro passo é fazer uma dieta. Se não resolver, é necessário o uso de medicação. Caso não obtenha o resultado desejado, então a insu- lina é a solução. Baggenstoss revela que para as crianças o diabetes não tem como ser prevenido. Para as ou- tras pessoas a prevenção se dá através de uma dieta balancea- da, evitando o consumo exces- sivo de açúcar e gordura. De acordo com a endocrinologista, as pessoas têm diabetes por uma deficiência de uma substância que coloca o açúcar para dentro das células, gerando energia. Essa substância é conhecida como in- sulina. O diabetes não tem cura, mas pode ser controlado atra- vés de uma alimentação adequa- da, uso da insulina regular e con- trole médico. Em Joinville os diabéticos têm apoio. A Adijo – Associa- ção dos Diabéticos de Joinville- é uma instituição filantrópica e não–governamental criada para ajudar os doentes. De acordo com a presidente da Adijo, Dione Emilia Mendes Kinas, os diabéticos encontram na associação toda a orientação que necessitam. A entidade ofe- rece massagens, massoterapia, gi- nástica, ioga, fisioterapia, terapia ocupacional, culinária dirigida aos doentes, exames de glicemia, palestras com profissionais da área de saúde, eventos e exercí- cios monitorados. A associação possui 268 pes- soas cadastradas. Dessas, apenas 12 são crianças. Todas as primei- ras segundas–feiras de cada mês, as crianças assistem a uma pales- tra com a endocrinologista Sueli Keiko – especialista em diabetes infantil. A médica conversa com os pequenos e esclarece possíveis dúvidas. A dona-de-casa Mariana Ba- tista, mãe de João Augusto Ba- tista, 7 meses, relata que teve di- abetes durante a gestação. Com o nascimento do bebê o diabe- tes desapareceu, mas passou para João Augusto. A família é de ori- gem humilde e os alimentos para diabéticos são, em geral, muito mais caros. “O João sempre ma- mou no peito e continua maman- do. Mas agora ele está naquela fase de comer papinha. E tudo deve ser exatamente como a médica manda. O preço da co- mida diet do meu filho é um absurdo!”, desabafa Mariana. A mãe de João Augusto mede a Adriana Caroliny Silvy Especial para o PP glicose do garoto no posto de saúde do bairro onde moram e recebe gratuitamente a insulina. Ela faz parte de um programa da Secretaria de Estado da Saú- de que beneficia os diabéticos com a distribuição de medica- mentos. Para Romeu Peters Maia aceitar o diabetes da filha foi di- fícil. Vitória Camille Maia, 5 anos, sempre foi de comer muita bes- teira fora de hora. Mas de repente tirar tudo que ela gostava não foi fácil. “Me emociono toda vez que comento sobre esse assunto. Minha esposa quase entrou em depressão. Tivemos que mudar muitas coisas em nossa rotina. Nossa alimentação foi totalmen- te revista e estamos nos adequan- do”, avalia Romeu. Ele afirma que o açúcar do café foi substi- tuído pelo adoçante, cortaram doces e refrigerantes e o pão só pode ser de centeio ou integral. O auxiliar de enfermagem Fábio Moreira tem muita histó- ria para contar. Num de seus plan- tões, atendeu uma criança com fraqueza, sonolência, parecia des- nutrida. Imediatamente colocou o paciente no soro glicosado. A criança começou a piorar visivel- mente. Depois de algum tempo, a mãe do paciente lembrou de avisar que o filho era diabético. Mas já era tarde. O garoto Bernardo Jungles, 12 anos, en- trara em coma! Permaneceu vinte e sete dias assim, mas recuperou- se e hoje está bem. Injeção de insulina: a visão incomoda, mas garante a boa saúde Arquivvo
  • 10. Joinville/SC, 16 de maio de 2003 Primeira Pauta10 Vida Lutar pela qualidade de vida Cláudia Lopes Dezoito reclusos do presídio regional de Joinville concluíram o ensino fundamental dentro da carceragem. O projeto tido como pioneiro foi firmado no ano passado entre a Secretaria de Estado da Educação e a Secre- taria de Estado de Segurança Pú- blica. A primeira turma formou-se no dia 15 de abril, após 11 me- ses de aulas, pelo sistema tele-sala, executado pelo CEJA (Centro de Educação para Jovens e Adultos). A formatura ocorreu dentro do próprio presídio, com a presença dos familiares dos detentos, da psicóloga Waldirene Dalfenbach que fez o acompa- nhamento, da professora, do di- retor da casa de detenção e da imprensa. A proposta faz parte do “Projeto de Humanização” da Secretaria de Segurança Pú- blica. Nesta primeira fase os alu- nos foram divididos em duas turmas, sendo uma no presídio masculino e outra no feminino. “Foi maravilhoso trabalhar aqui dentro, corria alguns riscos, como de possíveis rebeliões, mas foi tudo normal, a diferença desta sala de aula para as outras é que eles não tem a liberdade. Mas minhas aulas eram normais, in- clusive as provas eram sem con- sulta”, testemunha a professora Silvia Gonçalves da Silva. Na foto em pé, da esquerda para a direita: a professora Silvia Gonçalves da Silva, os alunos Adriano Vasco, Nelson de Oliveira, Estela Rubia, o então diretor do presídio José Adilson Toledo, os alunos Marilu Piana Munari, Carlos Roberto Fernandes, a psicóloga Waldirene Dalfenbach, e a aluna Patrícia Macha- do. Agaixados os alunos Josué Vasco, Ocimar B. Nascimento Teixeira, Elias Alves dos Santos. Alguns alunos não compareceram na formatura por motivos particulares. Foto:RicardoWegrzynovski Ricardo Wegrzynovski Foto:RicardoWegrzynovski Falta de trabalho e moradia afligem a dignidade humana A busca pela qualidade e res- peito à vida é o ideal do Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz, de Joinville. No cen- tro trabalham voluntários que buscam amenizar problemas como a violência, preconceito, desemprego, miséria, fome, po- breza, problemas comuns no co- tidiano no cotidiano da cidade. “A filosofia de trabalho do CDH é a vida digna para todos”, comenta Irmã, diretora da insti- tuição. Treze Centros realizam esse trabalho em Santa Catarina e mais de 300 em todo o Brasil. O Maria da Graça Braz, de Joinville, é responsável pela co- ordenação estadual. Entre os desafios para este ano estão a promoção da campanha contra a guerra pela paz, contribuição na Campanha Fome Zero, pro- moção dos direitos humanos econômicos, sociais e culturais e o apoio às ações do governo popular. Questões coletivas relaciona- das ao desemprego, violência doméstica, discriminação e tor- tura também são muito comuns. O CDH atende aproximada- mente 15 casos por dia, encami- nhados pelo Fórum, Prefeitura, Câmara de Vereadores, Sindica- tos e Hospitais. As questões jurí- dicas são atendidas pela advogada Cynthia Pinto da Luz. Os atendimentos no CDH são realizados por voluntários que dedicam parte de seu tempo ou, em alguns casos, integralmente em diferentes áreas. No Centro trabalham três pessoas, mas há grupos que atuam em projetos específicos como o Conselho Carcerário da Comunidade e a Casa Abrigo, que se reúnem na sede e realizam diversas ações. Conselho Carcerário A reintegração de apenados é outra iniciativa coordenada por Irma Kniess através de um gru- po de voluntários, formando o Conselho Carcerário da Comu- nidade de Joinville. O grupo, composto por profissionais de diferentes áreas, reúne-se no Cen- tro de Direitos Humanos Maria da Graça Brás e conta com o auxílio da advogada da Institui- ção Cynthia Maria Pinto da Luz. “O Conselho tem como objeti- vo servir como um instrumento de conscientização da população em geral acerca do problema que existe e agrava-se cada vez mais”, afirma Cynthia. A Lei de Execução Penal, criada em 1984 prevê a forma- ção nas comarcas do conselho da comunidade e diz em seu ar- tigo 4º que o estado deverá re- correr à cooperação da comu- nidade nas atividades de execu- ção da pena e da medida de se- gurança. O conselho tem o ob- jetivo observar o cumprimento das condições determinadas na sentença da lei, resguardando os direitos do preso. Para Cynthia a criação de um Conselho da Comunidade em cada cidade é importante para que se possa repensar o modelo de sociedade em que se vive. Os membros do conselho visitam mensalmente o presídio, entrevis- tam os presos, apresentam rela- tórios sobre as condições da ca- deia ao juiz corregedor, promo- ve o apoio religioso, jurídico, auxílio na busca de recursos ma- teriais e principalmente, na ori- entação do preso que alcança a liberdade e não encontra opor- tunidade de emprego e recupe- ração, rejeitado por seu passado. A gerente de marketing Leonir Zacarias de Souza faz parte do Conselho Carcerário da Comunidade há um ano e vê a iniciativa como fundamental para a sociedade. “As pessoas que saem da prisão precisam se inserir na sociedade e ter a oportunidade de recomeçar, para não voltar a cometer crimes”. conclui. A origem do CDH Segundo a diretora da Insti- tuição, Irma Kniess, o cresci- mento de Joinville na década de setenta resultou em muitos pro- blemas provenientes das greves nas grandes empresas e às inva- sões nos mangues. Surge então o Centro de Direitos Humanos (CDH), criado em 1979, por um grupo de lideranças populares, operários e religiosos. Entre 1994 e 1997 aconteceram 36 ações e assembléias com até duas mil pessoas, na sua grande maioria pela defesa da moradia. O alto índice de desemprego levava à perda de residências e a invasão de terras, quando as famílias viam a possibilidade de desapropriação procuravam ajuda no Centro. Atendimento: seg. à sex., na Rua Plácido Olimpio de Olivei- ra, 660, das 8h-18h. Tel.: 455 3447. Uma formatura diferente Em Santa Catarina há 13 Centros de Direitos Humanos e Joinville sedia a coordenação estadual
  • 11. Primeira Pauta Joinville/SC, 16 de maio de 2003 Empresas rejeitam proposta cultural Cultura não é reconhecida Desde a comemoração dos 150 anos de Joinville há um cer- to empenho em transformar o município em pólo cultural. Pes- quisas históricas, a Cidadela Cul- tural Antártica, o Teatro Juarez Machado, a orquestra filarmô- nica de Joinville, a restauração de cemitérios, o Centreventos Cau Hansen e a popularização dos Museus formam um con- junto de ações do governo mu- nicipal na direção deste objeti- vo de transformação. Em relação à Cidadela, por exemplo, havia um claro movi- mento do governo municipal em transformá-la numa grande fábrica de cultura, turismo e lazer. Hoje aquele espaço abri- ga a sede da Conurb, escritóri- os de engenharia, academia e até uma panificadora. João O. Sell, da administração da Cidadela, Falta apoio aos movimentos artísticos na maior cidade do estado Sabrina Passos Um comboio cultural atra- vés de um palco móvel, mon- tado em uma carreta de quatorze metros de comprimen- to levará cultura às comunida- des de sessenta e nove cidades de Santa Catarina. Serão sessenta profissionais envolvidos, direta e indiretamente. Durante dez meses, a caravana, apresentará a peça teatral, Os Saltimbancos, de Sérgio Bardotti e adaptação de Chico Buarque de Holanda. O projeto da Schiavini Escola para Atores, de Joinville, apro- vado pelo CNIC (Conselho Nacional de Incentivo a Cultu- ra), após três meses de sua apro- Escola de atores de Joinville cria projeto para divulgar a arte cênica no estado Luiz Fernando Bertoldi vação, não conseguiu arrecadar os recursos destinados para a execução do “Teatro na Escola e na TV” como será chamado. Apresentações diárias, workshops e um programa de Tv fazem parte do projeto. Mas sem o valor de R$ 1,465 milhão, continuará a existir apenas no papel. “Nosso objetivo é aten- der a necessidade de milhares de crianças carentes da rede pú- blica, fazendo com que estas te- nham acesso à cultura e ao lazer através de um comboio cultu- ral”, explica Sandra Schiavini, uma das idealizadoras do “Te- atro na Escola e na Tv”. Com base na lei Roaunet, de 1991, a captação dos recursos é realiza- da através do débito do impos- to de renda, que prevê ao patro- cinador deduzir na declaração sobre renda/pessoa jurídica, os valores doados. Para arrecadar os recursos li- berados, a escola contatou du- zentas e vinte empresas em todo o país. Do total, quinze são catari- nenses. Das respostas recebidas, sessenta e nove foram de recu- sas. Só em Joinville, oito se ne- garam a participar do projeto. Brasmatic Entretenimento e a Caixa Econômica Federal de Joinville foram às únicas que ain- da estão no processo de análise do projeto. Dohler S/A Comér- cio e Industria, Tigre S/A tu- bos e Conexões, Embraco- Empresa Brasileira de Com- pressores S/A, Schulz S/A, Vonpar Refrecos S/A e a Amanco Brasil recusaram a par- ceria cultural. Os departamen- tos de marketing de todas as que se recusaram a destinar parte do imposto de renda à escola alegaram não apoiar o projeto, porque já financiam ou- tros trabalhos de incentivo a cul- tura, principalmente projetos de capacitação profissional de seus funcionários. “A falta de conhe- cimento, juntamente com a falta de vontade em apoiar uma idéia de incentivo cultural voltada para o sul do país me deixa indigna- da”, afirma Sandra Schiavini. Segundo o Ministério da cul- tura, no Brasil, a Petrobrás Dis- tribuidora, é a maior investidora em projetos de incentivo a cul- tura. A empresa destina anual- mente R$ 24,5 milhões. Em se- gundo lugar, está a Eletrobrás com participação de R$ 18,5 milhões. No sul do país, a maior financiadora ocupa o décimo quarto lugar no ranking nacional, Copel Distribuidora S/A, com R$ 3 milhões em recursos. explica que a Conurb precisava de espaço e por isso foi sediada ali. Além de exposições incons- tantes nos galpões da Cidadela, apenas a Associação Joinvilense de Teatro ocupa aquele espaço ativamente, no sentido de uso cultural. Nove grupos de teatro formam a associação, que no ano passado conseguiu emplacar um projeto para a realização de espetáculos de teatro todos os finais de semana. Segundo Ilaine Melo, presidente da associação, a Prefeitura e a Fundação Cul- tural acreditavam que haveriam investimentos privados em di- reção à Cidadela, e isso não ocorreu. Para Silvestre Ferreira, teatrólogo e diretor de teatro, a Cidadela é hoje um espaço al- ternativo e os espetáculos tem conseguido um bom público. A concessão do teatro é resultado de uma parceria com a Funda- ção Cultural, que oferece, além Borges de Garuva: equipamentos culturais vazios do espaço, luz e som mínimos. Em troca, a associação adminis- tra o lugar e dirige os espetácu- los. Ilaine Melo define Joinville como uma cidade industrial que passa por um processo cultural recente. Mas logo a população vai cobrar os espaços construídos com o dinheiro pú- blico. Mesmo aqueles criados para fins de promoção do go- verno, devem ser usados de ma- neira eficaz. Na garantia que a cidade não venha a se constituir num aglo- merado humano consumista e sem memória, há aqueles que acreditam no potencial cultural da cidade. “Por baixo da capa oficial de falsas obras, de uma política cultural voltada para eventos esporádicos e ocos e de equipamentos culturais vazios, movimentam-se artistas e inte- lectuais inquietos, indivíduos cri- adores que refletem as nossas identidades, a nossa problemá- tica como sociedade tão recen- te e sem espírito”, desabafa o teatrólogo Borges de Garuva. Segundo Borges parece existir um conjunto bastante desconexo de aspirações e modos de encarar o fazer ar- tístico, da parte do governo, dos próprios artistas, e até do público. “Temos muita gente séria por aqui, construindo dis- cretamente a sua obra, como uma contribuição para a his- tória do lugar e da humanida- de. Foi sempre o ‘tempo’ que deu valor às obras. O resto é Roberto Carlos, é Hollywood, é Egüinha Pocotó”, diz. Foto:RicardoWegrzynovski Cultura 11 “Nosso objetivo é atender a necessi- dade de milhares de crianças carentes” Sandra Schiavini