O documento discute os métodos e técnicas de pesquisa em ciências sociais. Afirma que as ciências sociais foram constituídas no século 19 com influência do positivismo, mas que seu modelo de tratar fatos humanos como coisas naturais tem limitações para estudar seres humanos. Também discute desafios como a dificuldade de quantificação e experimentação em ciências sociais devido à subjetividade dos seres humanos.
2. GIL, Antonio Carlos. Metodos e Técnicas de Pesquisa Social. Capítulo 1.
Editora atlas,
“O ser humano, valendo-se de suas capacidades, procura conhecer o mundo que o
rodeia. Ao longo dos séculos, vem desenvolvendo sistemas mais ou menos
elaborados que lhe permitem conhecer a natureza das coisas e o comportamento
das pessoas. Pela observação o ser humano adquire grande quantidade de
conhecimentos. Valendo-se dos sentidos, recebe e interpreta as informações do
mundo exterior. Olha para o céu e vê formarem-se nuvens cinzentas. Percebe que
vai chover e procura abrigo. A observação constitui, sem dúvida, importante fonte
de conhecimento”. (GIL, p. 02)
3. “Outra forma de conhecimento é derivada da autoridade. Pais e professores descrevem o
mundo para as crianças. Governantes, líderes partidários, jornalistas e escritores definem
normas e procedimentos que para eles são os mais adequados. E à medida que segmentos
da população lhes dão crédito, esses conhecimentos são tidos como verdadeiros”. (GIL, p.
02)
“Essas formas de conhecimento, entretanto, não satisfazem aos espíritos mais críticos.
Alegam que a observação casual dos fatos conduz a graves equívocos, visto serem os
homens maus observadores dos fenômenos mais simples. As religiões são as mais
variadas e fornecem informações contraditórias. A poesia é subjetiva, assim como o
romance. Pais, professores e políticos também não podem ser tidos como guias de toda
confiança, posto que o argumento da autoridade na maioria das vezes acaba por deixar
transparecer sua fragilidade. O conhecimento filosófico, a despeito de seus inegáveis
méritos, não raro avança para o terreno das explicações metafísica e absolutistas, que não
possibilitam sua adequada verificação.” ( GIL, p.03)
4. “Pode-se considerar a ciência como uma forma de conhecimento que tem por objetivo
formular, mediante linguagem rigorosa e apropriada - se possível, com auxílio da
linguagem matemática -, leis que regem os fenômenos. Embora sendo as mais variadas,
essas leis apresentam vários pontos em comum: são capazes de descrever séries de
fenômenos; são comprováveis por meio da observação e da experimentação; são capazes
de prever - pelo menos de forma probabilística - acontecimentos futuros”. ( GIL, p.04)
“A partir destas características torna-se possível, em boa parte dos casos, distinguir entre o
que é ciência e o que não é. Há situações, entretanto, em que não se torna possível
determinar com toda clareza se determinado conhecimento pertence à ciência ou à
filosofia. Estas situações ocorrem sobretudo no domínio das ciências humanas, o que é
compreensível, visto que há autores que incluem a filosofia no rol dessas ciências”. ( GIL,
p.05)
5. “As ciências empíricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e sociais. Dentre
as ciências naturais estão: a Física, a Química, a Astronomia e a Biologia. Dentre as
ciências sociais estão: a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia e a
História. A Psicologia, a despeito de apresentar algumas características que a aproximam
das ciências naturais, constitui também uma ciência social. Isto porque, ao tratar do
estudo do comportamento humano, trata-o sobretudo a partir da interação entre os
indivíduos”. (GIL, p.05)
6. “As ciências sociais foram constituídas principalmente no século XIX, graças à
influência da orientação positivista. Tanto é que Augusto Comte, o Pai do
Positivismo, é considerado também o Pai da Sociologia. Assim, as ciências
sociais, fundamentadas na perspectiva positivista, supõem que os fatos
humanos são semelhantes aos da natureza, observados sem idéias
preconcebidas, submetidos à experimentação, expressos em termos
quantitativos e explicados segundo leis gerais. Mas esse modelo proposto para
as ciências sociais logo passou a ser questionado, pois ficaram claras as suas
limitações para o estudo do homem e da sociedade”. (GIL, p.06)
“Isto não significa, que a pretensão de estudar cientificamente o homem e a
sociedade deva ser abandonada. Torna-se necessário, porém, reconhecer que
os objetos das ciências humanas e sociais são muito diferentes dos das
ciências físicas e biológicas e ressaltar algumas das dificuldades daquelas
ciências”. (GIL, p.06)
7. “Emile Durkheim (1973), um dos pioneiros da investigação científica nas Ciências Sociais,
estabeleceu em. As regras do método sociológico que a primeira e mais fundamental regra
para o sociólogo é tratar os fatos sociais como coisas. Trata-se de clara tentativa de adotar
nas ciências sociais procedimentos semelhantes aos das ciências naturais, plenamente
consoantes com a doutrina positivista”. (GIL, p.06)
“Também é difícil discordar da alegação de que o grande adiantamento de uma ciência
pode ser determinado pela precisão de seus instrumentos de medida. Contudo, o
problema da quantificação em ciências sociais, se analisando com a merecida
profundidade, mostrar-se-á bem menos crítico do que aparenta”. (GIL. P.06)
8. “É impossível negar que o cientista social lida com variáveis de difícil quantificação.
Também é difícil discordar da alegação de que o grande adiantamento de uma ciência
pode ser determinado pela precisão de seus instrumentos de medida. Contudo, o
problema da quantificação em ciências sociais, se analisando com a merecida
profundidade, mostrar-se-á bem menos crítico do que aparenta. Mas os fatos sociais
dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que sentem,
pensam, agem e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes
maneiras. Da mesma forma o pesquisador, pois ele é também um ator que sente, age e
exerce sua influência sobre o que pesquisa”. (GIL, p.06)
“Não há como deixar de admitir que a experimentação representa uma das mais
notáveis contribuições ao desenvolvimento da ciência. Isto não significa, no entanto, que
se deva superestimar o papel do experimento controlado. A guisa de exemplo, pode-se
lembrar que a Astronomia e a Geologia não devem sua respeitabilidade à utilização de
procedimentos experimentais. A Embriologia, até há bem pouco, desenvolveu-se
independentemente da experimentação”. (GIL, p.07)
9. “Não há como negar as limitações das ciências sociais; não apenas em relação à
objetividade, mas também à generalidade. Se as pesquisas nas ciências naturais com
freqüência conduzem ao estabelecimento de leis, nas ciências sociais não conduzem mais
do que à identificação de tendências. Em relação à criminalidade, por exemplo, pesquisas
poderão indicar áreas em que sua ocorrência é maior, fatores que contribuem para a
maior incidência de delitos criminais ou efeitos de medidas preventivas. O máximo que um
pesquisador experiente pode almejar é a construção de teorias, que provavelmente não
serão tão gerais quanto ele gostaria que fossem”. (GIL, p.08)