1. CBD0275 - Introdução à Pesquisa
em Ciência da Informação
Aula 02 - Ciências humanas e ciências naturais
Prof. Rogério Mugnaini (mugnaini@usp.br)
2. Construção do saber
• Diversas maneiras do ser humano, desde os primórdios, de dispor do
saber:
• Saber espontâneo/ experiência pessoal: funcionamento das coisas;
Intuição/ senso comum: caráter aparente de evidência reduz a vontade de
verifica-lo;
Tradição: princípio de transmissão do saber, que muitas vezes não se baseia em
experiência racionalizada;
Autoridade: papel essencial na transmissão da tradição, sem provas
metodicamente elaboradas.
3. Construção do saber
Intuição/ senso comum
• Ter um diploma equivale a tornar-se um ‘desempregado instruído’;
Taxa de desemprego é inversamente proporcional ao nível de escolaridade
• Segurados sociais são preguiçosos
Quais são as condições de trabalho?
Saberes originários de observações imediatas e sumárias da realidade
“*...+ vasto conjunto de concepções
geralmente aceitas como
verdadeiras em determinado meio
social recebe o nome de senso
comum” (Cotrim, 2002, p.46).
Enquanto a ciência moderna rejeita o senso comum, a
ciência pós-moderna busca reconhecer seus valores,
dado seu potencial em produzir conhecimento, pois
aliado ao conhecimento científico, dispõe de uma
dimensão utópica e libertadora (Santos, 2002).
apud Francelin, 2004
4. Acesso aberto a publicações científicas (Open Access).
Educação aberta e recursos educacionais abertos.
Ferramentas e materiais científicos abertos:
a) Software Livre,
b) Hardware Aberto,
c) Insumos,
d) Protocolos.
Ciência cidadã (Citizen Science):
a) Computação compartilhada (volunteer computing),
b) Inteligência distribuída (volunteer thinking),
c) Sensoriamento voluntário (volunteer sensing),
d) Diálogo com a sociedade,
e) Pesquisa direta.
Ciência X senso comum
“Ciência aberta é hoje um termo guarda-chuva,
que engloba diferentes significados, tipos de
práticas e iniciativas, bem como envolve distintas
perspectivas, pressupostos e implicações. Aí estão
incluídas desde a disponibilização gratuita dos
resultados da pesquisa (acesso aberto), até a
valorização e a participação direta de não
cientistas e não especialistas no fazer ciência, tais
como ‘leigos’ e ‘amadores’ (ciência cidadã).”
Nesse contexto, os dados da pesquisa passam a
ser disponibilizados, não apenas viabilizando a
reutilização, mas também o escrutínio, que pode
certificar a integridade das evidências obtidas a
partir dos dados de pesquisa.
(Albagli; Clinio; Raychtock, 2014, p. 435)
5.
6. O saber racional
Filósofos gregos (Platão e Aristóteles os mais conhecidos) desenvolveram os instrumentos da lógica, especialmente:
• a distinção entre sujeito (que procura conhecer) e objeto (a ser conhecido), assim como as relações entre ambos;
• O princípio de causalidade (relação de causa e efeito).
Séc. XVII, com Bacon (experimentação e razão), o pensamento científico moderno começa a se objetivar:
• Indução : das particularidades, para o geral;
observação dos fatos -> descoberta de relação entre os mesmos -> generalização da relação
• Dedução: permite construir novos conhecimentos, chegando, por dedução, à aplicação dos mesmos.
Séc. XVIII, princípios da ciência experimental materializa-se em muitas aplicações:
• Muitas descobertas no campo da natureza física;
• Enquanto que no domínio do que hoje chama-se de Ciências Humanas (CHs), o procedimento especulativo dos
filósofos predominava, mas mesmo assim exerciam grande influência na sociedade.
Séc. XIX , a ciência triunfante:
• Ciências Naturais (CNs) evidenciam muitas descobertas, que saem dos laboratórios (pesquisa fundamental) e
apresentam aplicações práticas (pesquisa aplicada), mudando radicalmente a vida na sociedade;
• O método empregado nas CNs se mostra tão eficaz, que passa a ser aplicado ao ser humano, na segunda metade
do século;
Construção do saber
7. Positivismo
• Empirismo: conhecimento parte da
realidade como os sentidos a percebem, e
ajusta-se à realidade;
• Objetividade: conhecimento deve
respeitar integralmente o objeto do qual
trata o estudo; cada um deve reconhecê-lo
tal como é;
• Experimentação: a observação de um
fenômeno leva o pesquisador a supor tal
ou tal causa ou consequência: é a
hipótese;
• Validade : controle da experimentação e
isolamento, para garantia da precisão
matemática da mensuração, que
reproduzida nas mesmas condições, atesta
a validade dos resultados, permitindo sua
generalização;
• Leis e previsão: o conhecimento positivo é
determinista
Construção do saber
8. CNs x CHs
Objetos se distinguem
consideravelmente.
Durkheim: um dos pais do positivismo
nas CHs, estimava que se devia
“considerar os fatos sociais como
coisas”, pela via da observação e
experimentação
A experimentação supõe que se possa
identificar fatores (variáveis) que, por
sua inter-relação, permitem a explicação
do fenômeno.
O objeto estudado tem reações. E o
pesquisador não está livre de exercer
influências.
Bernard: “o observador deve ser o
fotógrafo do fenômeno”. O pesquisador,
frente aos fatos sociais, tem
preferências, preconceitos, inclinações.
É um ator envolvido!
9. CNs x CHs
A construção do saber nas CHs difere das
CNs, pelo fato de sua “medida do
verdadeiro” ser diferente. Nas CHs fala-se
em um “verdadeiro relativo ou provisório”.
A ideia da generalização de resultados
obtidos na experimentação – tão comum
nas CNs – que indicam a definição de leis,
não são comuns nas CHs – que nos melhor
dos casos podem ser chamadas de teorias.
10. Realidade Social como Objeto Científico
Contexto Histórico
• História das Idéias – Iluminismo (século XVIII)
• Revolução Industrial – Surgimento das Cidades Industriais; Deslocamento do eixo
econômico para o setor manufatureiro
• Estruturação da sociedade de classes – Burguesia e Proletariado
• Reestruturação do setor agrícola – Fim do regime de subsistência; produção em alta
escala. Expropriação de terras, expulsão do campesinato em direção aos centros
urbanos.
• Revolução Francesa – Estruturação do sistema democrático representativo como modelo
político.
• 1848 – Revoluções Burguesas baseadas nos ideais franceses de 1789.
• Primeiros conflitos entre capital e trabalho. Contra o liberalismo total; Estado como
mediador, melhores condições de vida e trabalho.
• Criação de modelos organizativos para o aumento e eficiência da produção baseados nos
princípios da divisão do trabalho.
11. Ciências Sociais versus Ciências Naturais
• Visão Orgânica da Sociedade – “Corpo Social” é harmônico com
partes interligadas e interdependentes.
• Problemas sociais entendidos como anomias. Intervenção necessária
para a garantia do desenvolvimento (Ordem e Progresso)
• Método Comparativo coloca as questões raciais no centro das
reflexões.
• Determinismo biológico (raça) e geográfico (meio) para o
desenvolvimento político, econômico, social e cultural.
• Darwinismo Social, Eugenismo e Evolucionismo – Transposição de
métodos e conceitos das ciências naturais.
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Métodos de pesquisa
Artigo de Turato (2005), com os seguintes objetivos:
Oferecer maior clareza de critérios no julgamento da pertinência do caminho percorrido pelos pesquisadores
qualitativistas, desde o plano de pesquisa, passando pela coleta de dados, até a interpretação dos resultados.
Fornecer subsídios àqueles acadêmicos que pretendem elaborar seus projetos de investigação qualitativa,
para que o façam no rigor esperado para qualquer geração de conhecimentos em ciência.
Sendo assim, apresenta definições concernentes, um comparativo entre as metodologias quáli e quânti;
finalizando com uma diversificada lista de elaborações conceituais, próprias dos vocabulários de cada
método.
(TURATO, 2005)
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Ciências Naturais – a Física, a Química, a Biologia e as numerosas ciências
derivadas, dentre elas as Ciências Médicas – métodos quantitativos ou
explicativos.
Ciências do Homem e da Cultura – métodos qualitativos ou
compreensivos.
(TURATO, 2005)
Métodos de pesquisa
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Concepção do método qualitativo de
pesquisa
Deve-se, assim, evitar assertivas destes tipos: método de pesquisa que não lança mão de recursos como
números, cálculos de percentagem, técnicas estatísticas, tabelas, amostras numericamente representativas,
ensaios randômicos, questionários fechados ou escalas de avaliação.
Tentar definir pela via da negação não constitui obviamente uma definição.
Também não é o caso de dizer, como se costuma concluir de modo intuitivo, que o método qualitativo é
usado para estudar a "qualidade" de um objeto [...] mas sim a concepção trazida das Ciências Humanas,
segundo as quais não se busca estudar o fenômeno em si, mas entender seu significado individual ou
coletivo para a vida das pessoas.
“... se não é diretamente o estudo do fenômeno em si que interessa a esses pesquisadores, seu alvo é, na
verdade, a significação que tal fenômeno ganha para os que o vivenciam”
(TURATO, 2005)
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As características dos métodos qualitativos
1. Interesse do pesquisador volta-se para a busca do significado das coisas, porque este tem um
papel organizador nos seres humanos;
2. O ambiente natural do sujeito é inequivocamente o campo onde ocorrerá a observação sem o
controle de variáveis;
3. O pesquisador é o próprio instrumento de pesquisa, usando diretamente seus órgãos do
sentido para apreender os objetos em estudo, espelhando-os então em sua consciência onde
se tornam fenomenologicamente representados para serem interpretados;
(TURATO, 2005)
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As características dos métodos qualitativos
4. O método tem maior força no rigor da validade (validity) dos dados coletados, já que a
observação dos sujeitos, por ser acurada, e sua escuta em entrevista, por ser em
profundidade, tendem a levar o pesquisador bem próximo da essência da questão em estudo;
5. Se a generalização não é a dos resultados (matematicamente) obtidos, pois não se pauta em
quantificações das ocorrências ou estabelecimento de relações causa-efeito, ela se torna
possível a partir dos pressupostos iniciais revistos, ou melhor, dos conceitos construídos ou
conhecimentos originais produzidos.
(TURATO, 2005)
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Comparação dos tipos de método
Abordagem qualitativa: fenomenologia e compreensão
• analisam o comportamento humano, do ponto de vista do ator, utilizando a observação naturalista e não controlada;
• são subjetivos e estão perto dos dados (perspectiva de dentro, insider), orientados ao descobrimento;
• são exploratórios, descritivos e indutivos;
• são orientados ao processo e assumem uma realidade dinâmica;
• são holísticos e não generalizáveis.
Abordagem quantitativa: positivismo lógico
• são orientados à busca da magnitude e das causas dos fenômenos sociais, sem interesse pela dimensão subjetiva e utilizam
procedimentos controlados;
• são objetivos e distantes dos dados (perspectiva externa, outsider), orientados à verificação e são hipotético-dedutivos;
• assumem uma realidade estática;
• são orientados aos resultados, são replicáveis e generalizáveis.
(SERAPIONI, 2000)
20. Referências complementares às listadas no Moodle
• ALBAGLI, Sarita; CLINIO, Anne; RAYCHTOCK, Sabryna. Ciência Aberta: correntes
interpretativas e tipos de ação. Liinc em Revista, v. 10, n. 2, 2014.
http://dx.doi.org/10.18617/liinc.v10i2.749.
• FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas:
ressonâncias e paradoxos. Ciência da Informação, v. 33, n. 3, 2004.
http://dx.doi.org/10.18225/ci.inf..v33i3.1030.
• SERAPIONI, Mauro. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em
saúde: algumas estratégias para a integração. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, p.
187-192, 2000. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000100016.
• TURATO, Egberto Ribeiro. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde:
definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde pública, v.
39, p. 507-514, 2005. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102005000300025.