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•F CONCEITO 1
Desvendando as palavras
Antropologia: estuda as diferentes
culturas do homem, os diversos grupos
sociais, culturais ou étnicos e as trans-
formações ocorridas em função da inte-
ração entre os grupos.
Ciência política: estuda os sistemas de
poder, as instituições e os partidos polí-
ticos de um país, o comportamento e as
políticas públicas em suas diversas fases
(elaboração, implantação e avaliação).
Sociologia: Investiga as relações so-
ciais, as estruturas e a dinâmica das
sociedades modernas, analisando os
processos históricos de transformação
das organizações sociais.
Sem dúvida, ao chegarmos neste ponto, podemos perceber que
o c o n h e c i m e n t o científico p o s s u i características essenciais que, ao
m e s m o tempo, o c o n s t i t u e m e, consequentemente, o d i s t i n g u e m dos
d e m a i s saberes.
REFLEXÃO
Mas, se é verdade que a investigação científica dos fatos supõe a transformação
de qualidades em quantidades, de subjetividade em objetividade, parcialidade em
imparcialidade, em se tratando das Ciências sociais, como isto se aplica?
Para compreendermos melhor essa questão, a proposta é avançarmos um pouco
mais em nossa reflexão. Portanto, vamos em frente!
As assim chamadas ciências sociais: a
constituição de um campo de conhecimento
Se c o n s i d e r a r m o s , c o m o sugerem alguns autores, que o conheci-
m e n t o científico teve lugar no século X V I I , c o m a instauração de
m é t o d o s de investigação rigorosos, o m e s m o não se pode dizer das
Ciências Sociais. E s t a s se constituíram c o m o u m c a m p o de conheci-
m e n t o somente no século X I X , a partir de u m contexto histórico de-
t e r m i n a d o . M a s não v a m o s antecipar tal narrativa, afinal de contas
não se pode c o m e ç a r u m a história de trás p a r a frente. Portanto, pri-
m e i r o v a m o s entender o que são as Ciências Sociais, do que t r a t a m ,
os seus m é t o d o s e especificidades.
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às
disciplinas de Antropologia, Ciência Política e Sociologia. Há, contudo,
especialistas que consideram este leque mais amplo, englobando ou-
tras áreas do conhecimento, tais como a Psicologia, a Etnologia, a Ge-
ografia H u m a n a , a E c o n o m i a , a Administração e as Ciências Jurídicas.
Todavia, a designação usualmente m a i s aceita é aquela que reconhece
apenas três disciplinas como parte constitutiva desse campo científico.
As disciplinas Sociologia, Antropologia e a Ciência Politica, estudam
fenómenos muito semelhantes, ou seja, fatos que resultam da vida e m
sociedade. Mas, embora estas áreas do conhecimento sejam muito pró-
x i m a s entre si, não são totalmente iguais. Dado o recorte aqui proposto,
trataremos e m nossos estudos mais especificamente de elementos da
análise antropológica e do método sociológico.
No que diz respeito à Antropologia, pode-se dizer que tal ciência
estuda o h o m e m a partir daquilo que o constitui e m sua humanidade,
isto é, a produção de cultura (conforme veremos no capítulo 2). Neste
sentido, o eixo da análise antropológica funda-se n a compreensão de
13» CAPÍTULO 1
aspectos microcósmicos da sociedade, tais como religião, costumes,
::adições, dentre outros - dos indivíduos ou de pequenos grupos -, n a
:entativa de entender os significados culturais que possuem. Seu foco,
portanto, está predominantemente no estudo da cultura, à medida que
• parte do princípio que entendendo a cultura dos grupos, consegue-se
entender a lógica da sociedade.
Para isso, busca investigar aspectos macrocósmicos, partindo, geral-
mente, do conhecimento de coletividades c o m o objetivo de entender
: comportamento grupai e/ou individual. Seu foco está, via de regra,
-.a investigação das estruturas da sociedade, procurando compreender
;orno estas influenciam os grupos ou indivíduos no que se refere a seu
comportamento, seus costumes e sua cultura.
Diante do exposto, é possível perceber que as disciplinas Antropólo-
g a e Sociologia apesar de serem campos de conhecimento muito pró-
c m o s , possuem algumas diferenças, tanto no que diz respeito ao seu
: peto quanto a sua abordagem. Todavia, para além de situarmos as
acsciplinas que c o m p õ e m o quadro das ciências sociais, outra questão
ce igual relevância é a compreensão dos fenómenos por elas estudados.
QT CONCEITO
Desvendando as palavras
M i c r o c o s m o : s.m. Mundo pequeno,
mundo abreviado; miniatura do universo.
0 próprio homem como expressão do
universo.
M a c r o c o s m o : s.m. Filosofia. 0 Univer-
so, em oposição ao homem, considera-
do este como um mundo em miniatura,
ou microcosmo.
A investigação científica da sociedade
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas
-u concepção do fato e n a relação entre a concepção e o fato. Isto porque,
Í: contrário das demais ciências, as ciências sociais lidam não apenas com
o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos indivíduos, mas do
mesmo modo com as interpretações que são feitas sobre a realidade. Elas
tascam investigar as ações dos indivíduos e m sociedade, suas crenças, sen-
rmentos, representações, seus símbolos, linguagem, seus valores e cultu-
• , as aspirações que os a n i m a m e as alterações que sofrem.
ET EXEMPLO
Vamos entender melhor tal pers-
pectiva; pensemos, por exemplo, em
uma situação simples: quando de-
senhamos um coração ou cantaro-
lamos uma música com essa pala-
vra, geralmente o sentido imediato
que lhe é atribuído é amor, bem
: c r paixão ou algo semelhante. Esta percepção não é a mesma se estivermos
~~ - ~ contexto hospitalar. Nesta ambiência o coração é um órgão do corpo com
. • : :es bem definidas.
'. ----- ..stração que nos ajuda a compreender melhor as proposições postas é o sig-
Mfcado que construímos acerca de determinados sinais e/ou adereços empregados
C A P Í T U L O 1 • 1 9
CONCEITO
Desvendando as palavras
Epistemologia: A epistemologia estuda
a origem, a estrutura, os métodos e a va-
lidade do conhecimento, sendo também
conhecida como teoria do conhecimento.
Sincrônico: adj. Que se passa ao mesmo
tempo; que é da mesma época; síncrono.
Quadro sincrônico: quadro que repre-
senta, em várias colunas, os fatos acon-
tecidos ao mesmo tempo em diferentes
países.
E T AUTOR
Roberto da Matta
Roberto da Matta (nascido em 29 de
julho de 1936) é um grande antropó-
logo brasileiro, preocupado em ana-
lisar dilemas relacionados ao tema
indivíduo/sociedade. É graduado em
Filosofia e Doutor em Sociologia, com
pós-doutorados na Alemanha e Esta-
dos Unidos, Pesquisa principalmente a
questão da aprendizagem.
B F AUTOR
Pedro Demo
É graduado em Filosofia e Doutor em
Sociologia, com pós-doutorados na Ale-
manha e Estados Unidos. Pesquisa prin-
cipalmente a questão da aprendizagem.
no corpo. Sobre isso, vale lembrar a tatuagem, cuja visão estética mudou ao longo do
tempo, o uso de brincos por indivíduos do sexo masculino, e mesmo o hábito de usar
calças compridas entre mulheres. Sem dúvida, poderíamos citar inúmeros exemplos,
mas, por ora, esses são suficientemente esclarecedores quanto a alguns aspectos
que envolvem a investigação da vida social.
O objeto de estudo das Ciências Sociais são as relações que os ho-
m e n s estabelecem entre si vivendo e m sociedade; isto é, não é algo ob-
jetivo, antes resultam de valores, costumes e representações histórico-
culturais. De outro modo, i n d i c a m t a m b é m a constante mudança dos
acontecimentos analisados pelos cientistas sociais, seja pelo seu dina-
m i s m o e sua transformação no tempo e no espaço, seja porque são tam-
b é m subjetivos, u m a vez que partem de significações dadas socialmen-
te. Daí advém o fato de as Ciências Sociais não serem, portanto, como as
ciências naturais, u m a vez que aquelas l i d a m c o m fenómenos distintos
daqueles estudados por biólogos, físicos ou químièos.
Nas Ciências Naturais o objeto de estudo é a própria natureza, u m a
realidade dada, exterior ao h o m e m ; e o sujeito do conhecimento se põe
fora dela para estudá-la. Já nas ciências h u m a n a s , o objeto de estudo é
o próprio h o m e m , vivendo e m sociedade, ou seja, o h o m e m nas suas
relações c o m os outros homens e c o m a própria natureza.
Decerto, no que se refere ao objeto de estudo e, consequentemente,
ao método de investigação, as Ciências Sociais diferem bastante das C i -
ências Naturais. T a l diferença, aliás, suscita intensos debates quanto à
validade e o rigor científico do conhecimento produzido pelas ciências
sociais. Os argumentos utilizados têm como princípio epistemológico a
dificuldade de reconhecê-las como verdadeiras ciências, n a medida e m
que elas tratam c o m eventos complexos, de difícil determinação, u m a
vez que envolvem valores e significados socialmente dados. Outra ques-
tão reside no fato de estar o pesquisador social, de alguma forma, envol-
vido com os fenómenos que pretende investigar dificultando a objetivi-
dade e a neutralidade científica.
A análise de Roberto Da Matta, célebre antropólogo brasileiro, ofe-
rece u m a compreensão valiosa sobre o tema. Ele coloca as principais
controvérsias no tocante à comparação entre as Ciências Sociais e Ciên-
cias Naturais nos seguintes termos:
• As chamadas Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos iso-
láveis. Tais fenómenos seriam, por isso mesmo, recorrentes e sincrônicos,
na medida e m que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos den-
tro de condições de controle razoáveis, e m u m laboratório.
• A simplicidade, a sincronia e a repetitividade asseguram outro ele-
mento fundamental às Ciências Naturais, qual seja: o fato de que a prova
ou o teste de u m a dada teoria possa ser feita por dois observadores dife-
rentes, situados e m locais diversos e até mesmo com perspectivas opos-
tas. O laboratório assegura de certo modo tal condição de objetividade.
2[j • CAPÍTULO 1
• E m contraste, as chamadas Ciências Sociais estudam fenómenos complexos, situa-
dos e m planos de causalidade e determinação complicados. Nos eventos que constituem a
matéria-prima do antropólogo, do sociólogo, do historiador, do cientista político, do eco-
nomista e do psicólogo, não é fácil isolar causas e motivações exclusivas. M e s m o quando
B sujeito está apenas desejando realizar u m a ação aparentemente inocente e basicamente
simples, como o ato de comer u m bolo. Pois u m bolo pode ser comido porque se tem fome,
porque se quer comemorar u m aniversário, porque se gosta de doces etc.
• Entre as Ciências Sociais e as Ciências Naturais temos u m a relação invertida, a saber:
nas Ciências Naturais os fenómenos podem ser percebidos, divididos, classificados e expli-
:ados, objetivamente, dentro de condições de relativo controle e m laboratório; nas Ciências
Sociais os eventos estudados têm determinações complicadas e que podem ocorrer e m am-
bientes diferenciados, pois o laboratório é a sociedade, tendo por causa disso, a possibilidade
de mudar seu significado de acordo com o ator, as relações existentes e m u m dado momento.
• Se as ciências da natureza aspiram instaurar as leis objetivas gerais, universais e ne-
cessárias dos fatos, como estabelecer leis objetivas para o que é essencialmente subjetivo,
como, por exemplo, a expressão dos sentimentos? C o m o estabelecer leis universais para
i-ZO que é particular, como é o caso de u m a sociedade h u m a n a ?
• Os fatos que f o r m a m a matéria-prima das Ciências Sociais são, pois, fenómenos
Inmplexos, geralmente impossíveis de serem reproduzidos, embora p o s s a m ser obser-
-•ados. Podemos observar funerais, aniversários, rituais de iniciação, trocas comerciais,
proclamações de leis etc. Mas, além de não podermos reproduzir tais eventos, temos de
enfrentar a nossa própria posição, histórica, biográfica, educação, interesses e precon-
.ricos. O problema não é o de somente reproduzir e observar o fenómeno, m a s substan-
. i mente o de como observá-lo.
As observações do autor deixam, pois, evidente que as Ciências Sociais não podem ser
; n ; .ladradas e m modelos de cientificidade de outras ciências, pois possuem u m a racionali-
fbde e especificidades próprias, relativas ao seu objeto de estudo. Nesse sentido, tal campo
ãe saber não comporta métodos ou técnicas rígidas e rigorosas, n e m fórmulas de aplicação
m r diata que garantam a obtenção de resultados objetivos e exatos. Assim, o que mais impor-
r : i interpretação dos fenómenos, ou seja, não apenas os fatos por si só, mas a forma como
§e constituem esses fatos. O sujeito (o pesquisador) deve ser considerado no contexto no qual
esces fatos ou fenómenos se apresentam, pois ele também faz parte do objeto que investiga,
teca que se possa interpretar, analisar, investigar nessa área do conhecimento, é necessário
— suporte teórico que fundamente determina- # % • • . / • 
I " J , 1 . O sujeito (o pesquisador)
. . DC lies metodológicas, não podendo ser con-
5 c e a d a apenas a aplicação de determinada téc-
- ... r , i s isto não garante por si só a obtenção de
«saltadosválidos. fatos ou fenómenos se
Por último, cabe esclarecer, que os valores
:K~eiam as pesquisas sociais, tornando-se .. . . ,
também faz parte do
Btncil evita-los, u m a vez que, como diz o
« r sociólogo Pedro Demo, ao contexto do ° b Í e t ° <*Ue ÍOWCStíga.
co da pesquisa pertence t a m b é m o sujeito. Mas, embora, esse seja u m dos obstáculos
Iiéncias Sociais, não significa que seja impossível superá-lo. As pesquisas sociais exis-
:s e o conhecimento que delas resultam nos demonstram isso.
CAPÍTULO 1 •
ET AUTOR
Wright Mills
Charles Wright Mills
( 1 9 1 6 - 1 9 6 2 ) sociólo-
go americano. Foi pro-
fessor de Sociologia
das Universidades de
Maryland e Columbia. Ficou principal-
mente conhecido por seu livro A ima-
ginação Sociológica, publicado original-
mente nos EUA, em 1959. Nele, o autor
faz um apelo para que sociólogos não
deixem a imaginação e a criatividade de
lado, ao exercerem sua profissão, em
favor de uma pretensa objetividade e
neutralidade do trabalho científico.
U COMENTÁRIO
Imaginação sociológica
A construção de imaginação sociológi-
ca implica, pois, uma mudança de pers-
pectiva, no estabelecimento de relações
entre as diferentes instâncias daquilo
que constitui o individual e o social.
As Ciências Sociais no cotidiano: proble-
mas sociais e sociológicos
T u d o o que foi visto até aqui nos ajuda a compreender a constituição das
Ciências Sociais enquanto conhecimento científico específico, distinto
das ciências da natureza. Mas, embora já tenhamos percorrido boa par-
te do c a m i n h o no que diz respeito ao entendimento desse campo de sa-
ber, cabe ainda apresentarmos u m a perspectiva relevante quanto a sua
aplicação no cotidiano.
Certamente, e m algum momento de sua trajetória académica você já
se perguntou por que estamos estudando isso? Parece-nos óbvio que tal
indagação envolve a ideia de aplicabilidade de u m conhecimento quan-
to a sua utilidade prática no cotidiano. No caso das ciências sociais, u m a
explicação possível para tal questão é a compreensão daquilo que o emi-
nente sociólogo Wright Mills c h a m o u de imaginàção sociológica.
A imaginação sociológica remete ao processo através do qual o indi-
víduo consegue estabelecer conexões entre sua experiência pessoal e a
sociedade e m que vive. Isto significa dizer que os indivíduos só podem
compreender sua existência social percebendo-se parte de u m contexto
histórico-cultural determinado. Assim, é possível perceber que nossas
ações influenciam e são influenciadas pela dinâmica da sociedade, o
que permite enxergar além da estrita esfera dos problemas individuais
para os problemas sociais.
Para melhor compreensão dessa abordagem, desafiamos vocês a
exercitarem a imaginação sociológica agora mesmo. Pensemos, por
exemplo, nas motivações pessoais que fizeram c o m que se inscrevessem
em u m curso universitário. Pode ser qualquer u m , a título de ilustração,
citamos Administração, Direito, Pedagogia, T u r i s m o , Psicologia, dentre
outros. V a m o s lá...!
Para alguns de vocês as motivações para ingresso no ensino superior
resultam da expectativa de ascensão profissional; para outros, significa
a possibilidade de assegurar u m posto de trabalho no serviço público;
há ainda aqueles que sempre s o n h a r a m c o m determinado ofício, m a s
n u n c a tiveram oportunidade de fazê-lo até o momento.
Percebem? Certamente alguns de vocês se viram representados nos
exemplos dados, mas não pensem que estão sozinhos, talvez exista alguém
do seu lado que compartilhe a m e s m a expectativa. Ousamos afirmar que
talvez existam milhares de indivíduos no Brasil e mundo afora cujo repertó-
rio biográfico se assemelha ao de vocês. Entretanto, isto não é mera coinci-
dência, essas similaridades ocorrem porque a história de vida de cada u m
de nós está conectada, u m a vez que expressam não apenas problemas de
ordem puramente individual, mas, sobretudo, porque são problemas so-
ciais. Isto significa dizer que elas existem e se realizam a partir de u m a dinâ-
mica social mais ampla, tornando-nos parte de u m coletivo.
22 • C A P Í T U L O 1
(...) a imaginação
sociológica nos permite
compreender as
ÍVUÍSÇ=:--;$ -v-que
estabelecemos.
1 mesmo modo, a imaginação sociológica nos permite compre-
- ; e : as relações sociais que estabelecemos. E s s a compreensão auxi-
^a-nos no entendimento do outro, daqueles c o m quem interagimos,
- : seu pensar e no seu agir,
- — a n u i n d o , desta forma, as
reiras sociais e favorecen-
> o maior conhecimento de
, mesmos.
Ha. contudo, u m ponto a
ísrtarecer. Já sabemos que
•Énos problemas que nos afetam individualmente são compartilhados
fm outros tantos indivíduos, constituindo-se, por a s s i m dizer, proble-
roas sociais. Entretanto, existe u m a diferença entre problemas sociais e
: - : lemas sociológicos.
j problema social designa comumente algo que atinge u m grupo,
m u m a categoria de indivíduos, as drogas, por exemplo. Entretanto, a
:aassifieação de u m problema social pode ser subjetiva, afinal de con-
tas, o que é u m problema para u m a cultura pode não ser para outra. E m
as palavras, o problema social é u m a situação que afeta u m número
íificativo de pessoas e é julgada por estas ou por u m número signifi-
co de outras pessoas como u m a fonte de dificuldade ou infelicidade
t:: nsiderada suscetível de melhoria.
Ja os problemas sociológicos são o objeto de estudo da Sociologia
• q u a n t o ciência, a qual se debruça sobre esses para compreender suas
características gerais. C o m o vimos anteriormente, a Sociologia estuda
• fenómenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais
:i_ r.ão, lançando mão de u m a observação sistemática e pormenorizada
uai organizações e relações sociais.
U AUTOR
A ,-iolência urbana, por exemplo, pode ser um problema sociológico, uma vez
cue pode despertar o interesse dos sociólogos para desvendar os motivos
ce tal fenómeno social, mas ao mesmo tempo trata-se de um problema so-
cai, haja vista afetar toda a coletividade. No entanto, caberia à Sociologia
aoenas explicá-la, e não necessariamente resolvê-la. (RIBEIRO, 2 0 1 0 )
O sociólogo Sebastião Vila Nova ilustra b e m essa questão ao afir-
—ar que problemas sociológicos são questões ou p r o b l e m a s de ex-
r.icação teórica do que acontece n a vida social, isto é, n a sociedade,
: :mo por exemplo: o casamento, a família, a m o d a , as festas c o m o
: carnaval, o gosto pelo futebol, a religião, as relações de trabalho,
i r rodução cultural, a violência u r b a n a , as questões de género, desi-
r-aidade social etc.
O problema sociológico é u m a questão de conhecimento científico
: _e se suscita e resolve no âmbito da Sociologia. Ao contrário do que pa-
-r; e. formular corretamente u m problema destes constitui tarefa muito
Sebastião Vila Nova
I q K B B H P ' Sebastião Vila Nova,
pesquisador e soció-
logo alagoano. É autor
de diversos livros, en-
tre os quais, Introdução à sociologia, sua
obra mais conhecida, publicada em vá-
rias edições, sendo a primeira, em 1981.
C A P Í T U L O 1 • 23
E T CURIOSIDADE
Socialização
Para análise sobre pro-
cesso de socialização
sugerimos A Guerra do
Fogo, de Jean-Jacques
Annaud. Filmado no Ca-
nadá, narrativa fílmica se passa em uma
época anterior ao uso da linguagem oral.
difícil, e m regra só acessível a q u e m é especialista da ciência e m causa e
que seja dotado de u m a imaginação viva e treinado n a pesquisa.
E m outras palavras, n e m todas as questões suscitadas acerca das
matérias de que se ocupam as Ciências Sociais constituem problemas
científicos, mas podem ser problemas sociais. Só são problemas cientí-
ficos as questões formuladas de tal modo que as respostas a elas confir-
mem, a m p l i e m ou modifiquem o que se tinha por conhecido anterior-
mente. Isto significa dizer que apenas os cientistas estão e m condições
de enunciá-las e resolvê-las; que a sua formulação como a sua solução
pressupõem u m esforço metódico de pesquisa.
Podemos concluir, portanto, que todo problema social pode ser u m
problema sociológico, mas n e m todo problema sociológico é u m pro-
blema social.
A sociedade em nós: individucre sociedade
Conforme vimos, nossas vivências pessoais estão e m estreita conexão
c o m as experiências de outros tantos indivíduos; isto porque nascemos
e vivemos e m sociedade. Entretanto, diferente de formigas, abelhas e
outros a n i m a i s e m que tal processo é reduzido ao mais ínfimo porme-
nor por instintos hereditários rígidos, a relação indivíduo e sociedade
depende de u m aprendizado ao qual c h a m a m o s socialização.
Por socialização compreendem-se os processos através dos quais os
seres h u m a n o s são induzidos a adotar os padrões de comportamento,
normas, regras e valores do seu m u n d o social. Eles c o m e ç a m n a infância
e prosseguem ao longo da vida. A socialização é u m processo de aprendi-
zagem que se apoia, e m parte, no ensino explícito e, t a m b é m e m parte,
na aprendizagem latente - ou seja, n a absorção espontânea de formas
consideradas evidentes de relacionamento c o m os outros. E m b o r a este-
j a m o s todos expostos a influências socializantes, os indivíduos variam
consideravelmente e m sua abertura deliberada ou involuntária a elas.
W REFLEXÃO
Para entendermos melhor tal processo, pensemos nos
primeiros momentos de nossa vida. Quando nascemos,
somos apenas um corpo biológico equipado de alguns
poucos instintos necessários à nossa sobrevivência:
chorar ao sentir fome ou sede, dor ou frio; sugar o leite
materno; realizar necessidades fisiológicas e movimen-
tos motores involuntariamente como os de agitar as
pernas e os braços em resposta a algum estímulo do
meio externo, ou virar a cabeça na direção da sonoridade de um objeto, por exemplo.
24 • CAPÍTULO 1
Na medida em que vamos crescendo e tomamos consciência de nós e dos outros, interagi-
- 5 com u m mundo que já existia antes de nós, e aqueles instintos, tão necessários nos primei-
• i anos de nossa vida, vão sendo moldados e m função das exigências culturais presentes no
- rerior da sociedade e m que vivemos. Aos poucos, vamos percebendo que chorar para saciar
i : ' : me não é mais tão eficiente, porque vamos entendendo que existem horários determina-
pta para a alimentação. Percebemos também que nossas necessidades fisiológicas não podem
*r7 realizadas em qualquer lugar, descobrindo, a partir da intervenção de outras pessoas, que
scsre u m local específico onde tais necessidades podem ser satisfeitas sem constrangimentos.
Um conjunto variado de outras formas de nos comportar vai sendo introduzido, de
pado a ajustar-nos aos padrões culturais vigentes e m nosso ambiente social. Podemos per-
s ò e r . assim, que vamos ingressando gradualmente e m u m m u n d o dominado por manei-
B i de pensar, de agir e de sentir anteriores ao nosso nascimento, e as quais nos são trans-
n i r i d a s através de u m longo processo de aprendizado que nos a c o m p a n h a do nascimento
H £ boa parte de nossa vida adulta.
Neste sentido, é t a m b é m através do processo de socialização que o sujeito aprende os
ãerr.entos socioculturais do seu meio, tornando possível a perpetuação da sociedade e a
tmr.smissão da sua cultura de geração e m geração. A s s i m , a socialização pode t a m b é m
-e- ; :ncebida como u m elemento essen-
ca interação entre os indivíduos n a
snecida e m que as pessoas desejam fazer
«a--e: a sua autoimagem através da obten-
ção do reconhecimento dos outros. Daí
x impossibilidade de vivermos e m total
«•lamento, u m a vez que nos tornamos
h u m a n o s e m referência a outro ser
tamano. É, pois, da relação entre os indi-
que nasce a sociedade, ao m e s m o
que é a partir da sociedade que se
::uem os indivíduos.
E também através do
processo de socialização
que o sujeito aprende os
elementos socioculturais
do seu meio, tornando
possível a perpetuação da
sociedade e a transmissão
da sua cultura de geração
em geração.
Algumas histórias emblemáticas de seres h u m a n o s que foram submetidos ao total iso-
íto social podem nos ajudar a compreender melhor essa questão. Vejamos:
m e n i n a s l o b o
.ta Capitolina, escultura de bronze, entre
: séculos XI e XII
Amala e Kamala, também conhecidas como as
meninas lobo, foram duas crianças selvagens en-
contradas na índia no ano de 1920. A primeira
delas tinha um ano e meio e faleceu um ano mais
tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de
idade, e viveu até 1929. Elas eram como lobos;
crianças, muito estranhas, mas com uma história
interessantíssima. Suas idades presumíveis eram
de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e
C A P Í T U L O 1 • 25

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  • 1. •F CONCEITO 1 Desvendando as palavras Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos sociais, culturais ou étnicos e as trans- formações ocorridas em função da inte- ração entre os grupos. Ciência política: estuda os sistemas de poder, as instituições e os partidos polí- ticos de um país, o comportamento e as políticas públicas em suas diversas fases (elaboração, implantação e avaliação). Sociologia: Investiga as relações so- ciais, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das organizações sociais. Sem dúvida, ao chegarmos neste ponto, podemos perceber que o c o n h e c i m e n t o científico p o s s u i características essenciais que, ao m e s m o tempo, o c o n s t i t u e m e, consequentemente, o d i s t i n g u e m dos d e m a i s saberes. REFLEXÃO Mas, se é verdade que a investigação científica dos fatos supõe a transformação de qualidades em quantidades, de subjetividade em objetividade, parcialidade em imparcialidade, em se tratando das Ciências sociais, como isto se aplica? Para compreendermos melhor essa questão, a proposta é avançarmos um pouco mais em nossa reflexão. Portanto, vamos em frente! As assim chamadas ciências sociais: a constituição de um campo de conhecimento Se c o n s i d e r a r m o s , c o m o sugerem alguns autores, que o conheci- m e n t o científico teve lugar no século X V I I , c o m a instauração de m é t o d o s de investigação rigorosos, o m e s m o não se pode dizer das Ciências Sociais. E s t a s se constituíram c o m o u m c a m p o de conheci- m e n t o somente no século X I X , a partir de u m contexto histórico de- t e r m i n a d o . M a s não v a m o s antecipar tal narrativa, afinal de contas não se pode c o m e ç a r u m a história de trás p a r a frente. Portanto, pri- m e i r o v a m o s entender o que são as Ciências Sociais, do que t r a t a m , os seus m é t o d o s e especificidades. Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às disciplinas de Antropologia, Ciência Política e Sociologia. Há, contudo, especialistas que consideram este leque mais amplo, englobando ou- tras áreas do conhecimento, tais como a Psicologia, a Etnologia, a Ge- ografia H u m a n a , a E c o n o m i a , a Administração e as Ciências Jurídicas. Todavia, a designação usualmente m a i s aceita é aquela que reconhece apenas três disciplinas como parte constitutiva desse campo científico. As disciplinas Sociologia, Antropologia e a Ciência Politica, estudam fenómenos muito semelhantes, ou seja, fatos que resultam da vida e m sociedade. Mas, embora estas áreas do conhecimento sejam muito pró- x i m a s entre si, não são totalmente iguais. Dado o recorte aqui proposto, trataremos e m nossos estudos mais especificamente de elementos da análise antropológica e do método sociológico. No que diz respeito à Antropologia, pode-se dizer que tal ciência estuda o h o m e m a partir daquilo que o constitui e m sua humanidade, isto é, a produção de cultura (conforme veremos no capítulo 2). Neste sentido, o eixo da análise antropológica funda-se n a compreensão de 13» CAPÍTULO 1
  • 2. aspectos microcósmicos da sociedade, tais como religião, costumes, ::adições, dentre outros - dos indivíduos ou de pequenos grupos -, n a :entativa de entender os significados culturais que possuem. Seu foco, portanto, está predominantemente no estudo da cultura, à medida que • parte do princípio que entendendo a cultura dos grupos, consegue-se entender a lógica da sociedade. Para isso, busca investigar aspectos macrocósmicos, partindo, geral- mente, do conhecimento de coletividades c o m o objetivo de entender : comportamento grupai e/ou individual. Seu foco está, via de regra, -.a investigação das estruturas da sociedade, procurando compreender ;orno estas influenciam os grupos ou indivíduos no que se refere a seu comportamento, seus costumes e sua cultura. Diante do exposto, é possível perceber que as disciplinas Antropólo- g a e Sociologia apesar de serem campos de conhecimento muito pró- c m o s , possuem algumas diferenças, tanto no que diz respeito ao seu : peto quanto a sua abordagem. Todavia, para além de situarmos as acsciplinas que c o m p õ e m o quadro das ciências sociais, outra questão ce igual relevância é a compreensão dos fenómenos por elas estudados. QT CONCEITO Desvendando as palavras M i c r o c o s m o : s.m. Mundo pequeno, mundo abreviado; miniatura do universo. 0 próprio homem como expressão do universo. M a c r o c o s m o : s.m. Filosofia. 0 Univer- so, em oposição ao homem, considera- do este como um mundo em miniatura, ou microcosmo. A investigação científica da sociedade O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas -u concepção do fato e n a relação entre a concepção e o fato. Isto porque, Í: contrário das demais ciências, as ciências sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos indivíduos, mas do mesmo modo com as interpretações que são feitas sobre a realidade. Elas tascam investigar as ações dos indivíduos e m sociedade, suas crenças, sen- rmentos, representações, seus símbolos, linguagem, seus valores e cultu- • , as aspirações que os a n i m a m e as alterações que sofrem. ET EXEMPLO Vamos entender melhor tal pers- pectiva; pensemos, por exemplo, em uma situação simples: quando de- senhamos um coração ou cantaro- lamos uma música com essa pala- vra, geralmente o sentido imediato que lhe é atribuído é amor, bem : c r paixão ou algo semelhante. Esta percepção não é a mesma se estivermos ~~ - ~ contexto hospitalar. Nesta ambiência o coração é um órgão do corpo com . • : :es bem definidas. '. ----- ..stração que nos ajuda a compreender melhor as proposições postas é o sig- Mfcado que construímos acerca de determinados sinais e/ou adereços empregados C A P Í T U L O 1 • 1 9
  • 3. CONCEITO Desvendando as palavras Epistemologia: A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a va- lidade do conhecimento, sendo também conhecida como teoria do conhecimento. Sincrônico: adj. Que se passa ao mesmo tempo; que é da mesma época; síncrono. Quadro sincrônico: quadro que repre- senta, em várias colunas, os fatos acon- tecidos ao mesmo tempo em diferentes países. E T AUTOR Roberto da Matta Roberto da Matta (nascido em 29 de julho de 1936) é um grande antropó- logo brasileiro, preocupado em ana- lisar dilemas relacionados ao tema indivíduo/sociedade. É graduado em Filosofia e Doutor em Sociologia, com pós-doutorados na Alemanha e Esta- dos Unidos, Pesquisa principalmente a questão da aprendizagem. B F AUTOR Pedro Demo É graduado em Filosofia e Doutor em Sociologia, com pós-doutorados na Ale- manha e Estados Unidos. Pesquisa prin- cipalmente a questão da aprendizagem. no corpo. Sobre isso, vale lembrar a tatuagem, cuja visão estética mudou ao longo do tempo, o uso de brincos por indivíduos do sexo masculino, e mesmo o hábito de usar calças compridas entre mulheres. Sem dúvida, poderíamos citar inúmeros exemplos, mas, por ora, esses são suficientemente esclarecedores quanto a alguns aspectos que envolvem a investigação da vida social. O objeto de estudo das Ciências Sociais são as relações que os ho- m e n s estabelecem entre si vivendo e m sociedade; isto é, não é algo ob- jetivo, antes resultam de valores, costumes e representações histórico- culturais. De outro modo, i n d i c a m t a m b é m a constante mudança dos acontecimentos analisados pelos cientistas sociais, seja pelo seu dina- m i s m o e sua transformação no tempo e no espaço, seja porque são tam- b é m subjetivos, u m a vez que partem de significações dadas socialmen- te. Daí advém o fato de as Ciências Sociais não serem, portanto, como as ciências naturais, u m a vez que aquelas l i d a m c o m fenómenos distintos daqueles estudados por biólogos, físicos ou químièos. Nas Ciências Naturais o objeto de estudo é a própria natureza, u m a realidade dada, exterior ao h o m e m ; e o sujeito do conhecimento se põe fora dela para estudá-la. Já nas ciências h u m a n a s , o objeto de estudo é o próprio h o m e m , vivendo e m sociedade, ou seja, o h o m e m nas suas relações c o m os outros homens e c o m a própria natureza. Decerto, no que se refere ao objeto de estudo e, consequentemente, ao método de investigação, as Ciências Sociais diferem bastante das C i - ências Naturais. T a l diferença, aliás, suscita intensos debates quanto à validade e o rigor científico do conhecimento produzido pelas ciências sociais. Os argumentos utilizados têm como princípio epistemológico a dificuldade de reconhecê-las como verdadeiras ciências, n a medida e m que elas tratam c o m eventos complexos, de difícil determinação, u m a vez que envolvem valores e significados socialmente dados. Outra ques- tão reside no fato de estar o pesquisador social, de alguma forma, envol- vido com os fenómenos que pretende investigar dificultando a objetivi- dade e a neutralidade científica. A análise de Roberto Da Matta, célebre antropólogo brasileiro, ofe- rece u m a compreensão valiosa sobre o tema. Ele coloca as principais controvérsias no tocante à comparação entre as Ciências Sociais e Ciên- cias Naturais nos seguintes termos: • As chamadas Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos iso- láveis. Tais fenómenos seriam, por isso mesmo, recorrentes e sincrônicos, na medida e m que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos den- tro de condições de controle razoáveis, e m u m laboratório. • A simplicidade, a sincronia e a repetitividade asseguram outro ele- mento fundamental às Ciências Naturais, qual seja: o fato de que a prova ou o teste de u m a dada teoria possa ser feita por dois observadores dife- rentes, situados e m locais diversos e até mesmo com perspectivas opos- tas. O laboratório assegura de certo modo tal condição de objetividade. 2[j • CAPÍTULO 1
  • 4. • E m contraste, as chamadas Ciências Sociais estudam fenómenos complexos, situa- dos e m planos de causalidade e determinação complicados. Nos eventos que constituem a matéria-prima do antropólogo, do sociólogo, do historiador, do cientista político, do eco- nomista e do psicólogo, não é fácil isolar causas e motivações exclusivas. M e s m o quando B sujeito está apenas desejando realizar u m a ação aparentemente inocente e basicamente simples, como o ato de comer u m bolo. Pois u m bolo pode ser comido porque se tem fome, porque se quer comemorar u m aniversário, porque se gosta de doces etc. • Entre as Ciências Sociais e as Ciências Naturais temos u m a relação invertida, a saber: nas Ciências Naturais os fenómenos podem ser percebidos, divididos, classificados e expli- :ados, objetivamente, dentro de condições de relativo controle e m laboratório; nas Ciências Sociais os eventos estudados têm determinações complicadas e que podem ocorrer e m am- bientes diferenciados, pois o laboratório é a sociedade, tendo por causa disso, a possibilidade de mudar seu significado de acordo com o ator, as relações existentes e m u m dado momento. • Se as ciências da natureza aspiram instaurar as leis objetivas gerais, universais e ne- cessárias dos fatos, como estabelecer leis objetivas para o que é essencialmente subjetivo, como, por exemplo, a expressão dos sentimentos? C o m o estabelecer leis universais para i-ZO que é particular, como é o caso de u m a sociedade h u m a n a ? • Os fatos que f o r m a m a matéria-prima das Ciências Sociais são, pois, fenómenos Inmplexos, geralmente impossíveis de serem reproduzidos, embora p o s s a m ser obser- -•ados. Podemos observar funerais, aniversários, rituais de iniciação, trocas comerciais, proclamações de leis etc. Mas, além de não podermos reproduzir tais eventos, temos de enfrentar a nossa própria posição, histórica, biográfica, educação, interesses e precon- .ricos. O problema não é o de somente reproduzir e observar o fenómeno, m a s substan- . i mente o de como observá-lo. As observações do autor deixam, pois, evidente que as Ciências Sociais não podem ser ; n ; .ladradas e m modelos de cientificidade de outras ciências, pois possuem u m a racionali- fbde e especificidades próprias, relativas ao seu objeto de estudo. Nesse sentido, tal campo ãe saber não comporta métodos ou técnicas rígidas e rigorosas, n e m fórmulas de aplicação m r diata que garantam a obtenção de resultados objetivos e exatos. Assim, o que mais impor- r : i interpretação dos fenómenos, ou seja, não apenas os fatos por si só, mas a forma como §e constituem esses fatos. O sujeito (o pesquisador) deve ser considerado no contexto no qual esces fatos ou fenómenos se apresentam, pois ele também faz parte do objeto que investiga, teca que se possa interpretar, analisar, investigar nessa área do conhecimento, é necessário — suporte teórico que fundamente determina- # % • • . / • I " J , 1 . O sujeito (o pesquisador) . . DC lies metodológicas, não podendo ser con- 5 c e a d a apenas a aplicação de determinada téc- - ... r , i s isto não garante por si só a obtenção de «saltadosválidos. fatos ou fenómenos se Por último, cabe esclarecer, que os valores :K~eiam as pesquisas sociais, tornando-se .. . . , também faz parte do Btncil evita-los, u m a vez que, como diz o « r sociólogo Pedro Demo, ao contexto do ° b Í e t ° <*Ue ÍOWCStíga. co da pesquisa pertence t a m b é m o sujeito. Mas, embora, esse seja u m dos obstáculos Iiéncias Sociais, não significa que seja impossível superá-lo. As pesquisas sociais exis- :s e o conhecimento que delas resultam nos demonstram isso. CAPÍTULO 1 •
  • 5. ET AUTOR Wright Mills Charles Wright Mills ( 1 9 1 6 - 1 9 6 2 ) sociólo- go americano. Foi pro- fessor de Sociologia das Universidades de Maryland e Columbia. Ficou principal- mente conhecido por seu livro A ima- ginação Sociológica, publicado original- mente nos EUA, em 1959. Nele, o autor faz um apelo para que sociólogos não deixem a imaginação e a criatividade de lado, ao exercerem sua profissão, em favor de uma pretensa objetividade e neutralidade do trabalho científico. U COMENTÁRIO Imaginação sociológica A construção de imaginação sociológi- ca implica, pois, uma mudança de pers- pectiva, no estabelecimento de relações entre as diferentes instâncias daquilo que constitui o individual e o social. As Ciências Sociais no cotidiano: proble- mas sociais e sociológicos T u d o o que foi visto até aqui nos ajuda a compreender a constituição das Ciências Sociais enquanto conhecimento científico específico, distinto das ciências da natureza. Mas, embora já tenhamos percorrido boa par- te do c a m i n h o no que diz respeito ao entendimento desse campo de sa- ber, cabe ainda apresentarmos u m a perspectiva relevante quanto a sua aplicação no cotidiano. Certamente, e m algum momento de sua trajetória académica você já se perguntou por que estamos estudando isso? Parece-nos óbvio que tal indagação envolve a ideia de aplicabilidade de u m conhecimento quan- to a sua utilidade prática no cotidiano. No caso das ciências sociais, u m a explicação possível para tal questão é a compreensão daquilo que o emi- nente sociólogo Wright Mills c h a m o u de imaginàção sociológica. A imaginação sociológica remete ao processo através do qual o indi- víduo consegue estabelecer conexões entre sua experiência pessoal e a sociedade e m que vive. Isto significa dizer que os indivíduos só podem compreender sua existência social percebendo-se parte de u m contexto histórico-cultural determinado. Assim, é possível perceber que nossas ações influenciam e são influenciadas pela dinâmica da sociedade, o que permite enxergar além da estrita esfera dos problemas individuais para os problemas sociais. Para melhor compreensão dessa abordagem, desafiamos vocês a exercitarem a imaginação sociológica agora mesmo. Pensemos, por exemplo, nas motivações pessoais que fizeram c o m que se inscrevessem em u m curso universitário. Pode ser qualquer u m , a título de ilustração, citamos Administração, Direito, Pedagogia, T u r i s m o , Psicologia, dentre outros. V a m o s lá...! Para alguns de vocês as motivações para ingresso no ensino superior resultam da expectativa de ascensão profissional; para outros, significa a possibilidade de assegurar u m posto de trabalho no serviço público; há ainda aqueles que sempre s o n h a r a m c o m determinado ofício, m a s n u n c a tiveram oportunidade de fazê-lo até o momento. Percebem? Certamente alguns de vocês se viram representados nos exemplos dados, mas não pensem que estão sozinhos, talvez exista alguém do seu lado que compartilhe a m e s m a expectativa. Ousamos afirmar que talvez existam milhares de indivíduos no Brasil e mundo afora cujo repertó- rio biográfico se assemelha ao de vocês. Entretanto, isto não é mera coinci- dência, essas similaridades ocorrem porque a história de vida de cada u m de nós está conectada, u m a vez que expressam não apenas problemas de ordem puramente individual, mas, sobretudo, porque são problemas so- ciais. Isto significa dizer que elas existem e se realizam a partir de u m a dinâ- mica social mais ampla, tornando-nos parte de u m coletivo. 22 • C A P Í T U L O 1
  • 6. (...) a imaginação sociológica nos permite compreender as ÍVUÍSÇ=:--;$ -v-que estabelecemos. 1 mesmo modo, a imaginação sociológica nos permite compre- - ; e : as relações sociais que estabelecemos. E s s a compreensão auxi- ^a-nos no entendimento do outro, daqueles c o m quem interagimos, - : seu pensar e no seu agir, - — a n u i n d o , desta forma, as reiras sociais e favorecen- > o maior conhecimento de , mesmos. Ha. contudo, u m ponto a ísrtarecer. Já sabemos que •Énos problemas que nos afetam individualmente são compartilhados fm outros tantos indivíduos, constituindo-se, por a s s i m dizer, proble- roas sociais. Entretanto, existe u m a diferença entre problemas sociais e : - : lemas sociológicos. j problema social designa comumente algo que atinge u m grupo, m u m a categoria de indivíduos, as drogas, por exemplo. Entretanto, a :aassifieação de u m problema social pode ser subjetiva, afinal de con- tas, o que é u m problema para u m a cultura pode não ser para outra. E m as palavras, o problema social é u m a situação que afeta u m número íificativo de pessoas e é julgada por estas ou por u m número signifi- co de outras pessoas como u m a fonte de dificuldade ou infelicidade t:: nsiderada suscetível de melhoria. Ja os problemas sociológicos são o objeto de estudo da Sociologia • q u a n t o ciência, a qual se debruça sobre esses para compreender suas características gerais. C o m o vimos anteriormente, a Sociologia estuda • fenómenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais :i_ r.ão, lançando mão de u m a observação sistemática e pormenorizada uai organizações e relações sociais. U AUTOR A ,-iolência urbana, por exemplo, pode ser um problema sociológico, uma vez cue pode despertar o interesse dos sociólogos para desvendar os motivos ce tal fenómeno social, mas ao mesmo tempo trata-se de um problema so- cai, haja vista afetar toda a coletividade. No entanto, caberia à Sociologia aoenas explicá-la, e não necessariamente resolvê-la. (RIBEIRO, 2 0 1 0 ) O sociólogo Sebastião Vila Nova ilustra b e m essa questão ao afir- —ar que problemas sociológicos são questões ou p r o b l e m a s de ex- r.icação teórica do que acontece n a vida social, isto é, n a sociedade, : :mo por exemplo: o casamento, a família, a m o d a , as festas c o m o : carnaval, o gosto pelo futebol, a religião, as relações de trabalho, i r rodução cultural, a violência u r b a n a , as questões de género, desi- r-aidade social etc. O problema sociológico é u m a questão de conhecimento científico : _e se suscita e resolve no âmbito da Sociologia. Ao contrário do que pa- -r; e. formular corretamente u m problema destes constitui tarefa muito Sebastião Vila Nova I q K B B H P ' Sebastião Vila Nova, pesquisador e soció- logo alagoano. É autor de diversos livros, en- tre os quais, Introdução à sociologia, sua obra mais conhecida, publicada em vá- rias edições, sendo a primeira, em 1981. C A P Í T U L O 1 • 23
  • 7. E T CURIOSIDADE Socialização Para análise sobre pro- cesso de socialização sugerimos A Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud. Filmado no Ca- nadá, narrativa fílmica se passa em uma época anterior ao uso da linguagem oral. difícil, e m regra só acessível a q u e m é especialista da ciência e m causa e que seja dotado de u m a imaginação viva e treinado n a pesquisa. E m outras palavras, n e m todas as questões suscitadas acerca das matérias de que se ocupam as Ciências Sociais constituem problemas científicos, mas podem ser problemas sociais. Só são problemas cientí- ficos as questões formuladas de tal modo que as respostas a elas confir- mem, a m p l i e m ou modifiquem o que se tinha por conhecido anterior- mente. Isto significa dizer que apenas os cientistas estão e m condições de enunciá-las e resolvê-las; que a sua formulação como a sua solução pressupõem u m esforço metódico de pesquisa. Podemos concluir, portanto, que todo problema social pode ser u m problema sociológico, mas n e m todo problema sociológico é u m pro- blema social. A sociedade em nós: individucre sociedade Conforme vimos, nossas vivências pessoais estão e m estreita conexão c o m as experiências de outros tantos indivíduos; isto porque nascemos e vivemos e m sociedade. Entretanto, diferente de formigas, abelhas e outros a n i m a i s e m que tal processo é reduzido ao mais ínfimo porme- nor por instintos hereditários rígidos, a relação indivíduo e sociedade depende de u m aprendizado ao qual c h a m a m o s socialização. Por socialização compreendem-se os processos através dos quais os seres h u m a n o s são induzidos a adotar os padrões de comportamento, normas, regras e valores do seu m u n d o social. Eles c o m e ç a m n a infância e prosseguem ao longo da vida. A socialização é u m processo de aprendi- zagem que se apoia, e m parte, no ensino explícito e, t a m b é m e m parte, na aprendizagem latente - ou seja, n a absorção espontânea de formas consideradas evidentes de relacionamento c o m os outros. E m b o r a este- j a m o s todos expostos a influências socializantes, os indivíduos variam consideravelmente e m sua abertura deliberada ou involuntária a elas. W REFLEXÃO Para entendermos melhor tal processo, pensemos nos primeiros momentos de nossa vida. Quando nascemos, somos apenas um corpo biológico equipado de alguns poucos instintos necessários à nossa sobrevivência: chorar ao sentir fome ou sede, dor ou frio; sugar o leite materno; realizar necessidades fisiológicas e movimen- tos motores involuntariamente como os de agitar as pernas e os braços em resposta a algum estímulo do meio externo, ou virar a cabeça na direção da sonoridade de um objeto, por exemplo. 24 • CAPÍTULO 1
  • 8. Na medida em que vamos crescendo e tomamos consciência de nós e dos outros, interagi- - 5 com u m mundo que já existia antes de nós, e aqueles instintos, tão necessários nos primei- • i anos de nossa vida, vão sendo moldados e m função das exigências culturais presentes no - rerior da sociedade e m que vivemos. Aos poucos, vamos percebendo que chorar para saciar i : ' : me não é mais tão eficiente, porque vamos entendendo que existem horários determina- pta para a alimentação. Percebemos também que nossas necessidades fisiológicas não podem *r7 realizadas em qualquer lugar, descobrindo, a partir da intervenção de outras pessoas, que scsre u m local específico onde tais necessidades podem ser satisfeitas sem constrangimentos. Um conjunto variado de outras formas de nos comportar vai sendo introduzido, de pado a ajustar-nos aos padrões culturais vigentes e m nosso ambiente social. Podemos per- s ò e r . assim, que vamos ingressando gradualmente e m u m m u n d o dominado por manei- B i de pensar, de agir e de sentir anteriores ao nosso nascimento, e as quais nos são trans- n i r i d a s através de u m longo processo de aprendizado que nos a c o m p a n h a do nascimento H £ boa parte de nossa vida adulta. Neste sentido, é t a m b é m através do processo de socialização que o sujeito aprende os ãerr.entos socioculturais do seu meio, tornando possível a perpetuação da sociedade e a tmr.smissão da sua cultura de geração e m geração. A s s i m , a socialização pode t a m b é m -e- ; :ncebida como u m elemento essen- ca interação entre os indivíduos n a snecida e m que as pessoas desejam fazer «a--e: a sua autoimagem através da obten- ção do reconhecimento dos outros. Daí x impossibilidade de vivermos e m total «•lamento, u m a vez que nos tornamos h u m a n o s e m referência a outro ser tamano. É, pois, da relação entre os indi- que nasce a sociedade, ao m e s m o que é a partir da sociedade que se ::uem os indivíduos. E também através do processo de socialização que o sujeito aprende os elementos socioculturais do seu meio, tornando possível a perpetuação da sociedade e a transmissão da sua cultura de geração em geração. Algumas histórias emblemáticas de seres h u m a n o s que foram submetidos ao total iso- íto social podem nos ajudar a compreender melhor essa questão. Vejamos: m e n i n a s l o b o .ta Capitolina, escultura de bronze, entre : séculos XI e XII Amala e Kamala, também conhecidas como as meninas lobo, foram duas crianças selvagens en- contradas na índia no ano de 1920. A primeira delas tinha um ano e meio e faleceu um ano mais tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de idade, e viveu até 1929. Elas eram como lobos; crianças, muito estranhas, mas com uma história interessantíssima. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e C A P Í T U L O 1 • 25