Metamorfoses do Trabalho e a Busca por Novos Sentidos
1. Metamorfoses do
Trabalho e Automação
UMA ANÁLISE DOS PRINCIPAIS CONCEITOS DIVULGADOS POR ANDRÉ GORZ
PROF. MARCELA CARNEIRO
OUTUBRO DE 2023
2. A relação entre progressos tecnológicos e
a utilização do tempo
Os progressos tecnológicos levantam questões quanto ao conteúdo
e o sentido do tempo disponível.
Atividades de lazer possuem uma racionalidade inversa às
atividades econômicas. Não são produtoras, mas consumidoras do
tempo disponível.
As categorias da racionalidade instrumental - eficácia, rendimento
e desempenho -, são inaplicáveis às atividades de lazer.
Ver “A vida acelerada do capitalismo digital”.
3. Uma sociedade mais dividida
Repartição desigual das economias de tempo de trabalho.
Minoria com mais exigências de tempo de trabalho, maiores
rendimentos e poderes econômicos.
Maioria expulsa das atividades econômicas ou mantidos em sua
margem.
Uma elite profissional que compra tempos disponíveis a um preço
muito inferior ao preço que ela mesmo pode vendê-lo, para se
afastar o mínimo possível da dedicação ao trabalho. Classes
hiperativas.
4. O ressurgimento da classe servil
A desigual repartição do trabalho da esfera econômica e a desigual
repartição do tempo levam a uma estratificação da sociedade
diferente das classes sociais.
Renasce uma classe servil, mão de obra precária, de tempo parcial
ou paga por tarefa.
O fim da utopia industrialista: Liberação da penúria, da injustiça e
do mal-estar.
É preciso mudar de utopia.
5. Sobre o capitalismo industrial
O capitalismo industrial só pôde desenvolver-se a partir do
momento em que a racionalidade econômica emancipou-se de
todos os outros princípios de racionalidade, para submetê-los ao
seu único domínio.
6. A submissão do vivo ao inerte
A eliminação do fator humano, a substituição do trabalho vivo é
uma exigência da racionalização econômica, que requer a
submissão do vivo ao inerte.
Em ambos, técnica de dominação e imperativos de racionalização
estão inextricavelmente confundidos.
Ver a metáfora do homem-máquina exteriormente dominado na
cena de autoconhecimento de Robocop.
7. O trabalhador funcional e o consumidor
socializado
Persuadir os indivíduos de que os consumos que lhes são propostos
compensam os sacrifícios com os quais devem aquiescer para obtê-
los e que constituem um nicho de felicidade privada que permite
escapar da sorte comum.
A regulação pelo mercado substitui a coerção pela incitação e leva
à coincidência fundamental: O trabalhador funcional e o
consumidor socializado.
Valor de troca sempre superior ao valor de uso.
9. A anti-utopia weberiana
A visão weberiana da sociedade-máquina totalmente burocratizada,
racionalizada, funcionalizada, na qual cada indivíduo funciona como
uma engrenagem, sem procurar compreender o sentido da tarefa parcial
que executa, tende a se realizar em uma versão cibernética, na qual o
doutrinamento e a militarização dão lugar aos cuidados personalizados
dos indivíduos pelas solícitas redes de informática.
10. A última metamorfose
O instrumento de trabalho sofre a última metamorfose, a máquina,
ou melhor, o sistema automático de maquinaria.
Movido por um autômato que se move a si mesmo, composto de
órgãos mecânicos e intelectuais, de modo que os próprios
trabalhadores não são mais que seus membros conscientes.
11. A racionalização do trabalho
Uniformização das
Máquinas
Uniformização dos
Produtos
Uniformização dos
Trabalhadores
12. A ideologia dos “recursos humanos”
Prepara a instrumentalização – a colonização -, pela racionalidade
econômica das aspirações não-econômicas.
Um trabalho mais satisfatório e autônomo, graças a uma certa
recomposição das tarefas, com o repartir o trabalho entre colegas, variar
o ritmo da execução ao longo da jornada e controlar os próprios
resultados. Mais cooperação, menos absenteísmo e mais rendimento.
13. A gestão do conhecimento como
ideologia
A empresa como um lugar de aperfeiçoamento pessoal para seus assalariados.
Mais máquinas, menos empregados, uma elite com privilégios corporativos
em contrapartida ao desemprego, a precariedade do emprego, a
desqualificação e a insegurança da grande maioria.
O núcleo estável do pessoal deve ter uma flexibilidade funcional, a mão de
obra periférica uma flexibilidade numérica.
14. Núcleo estável
Mão-de-Obra Periférica I
Mão-de-Obra Periférica II
Mão-de-Obra Externa I
Mão-de-Obra Externa II
A organização estrutural
dos trabalhadores
15. Núcleo estável
Aceitação da mobilidade profissional.
Em curto prazo: Mudança de posto e acréscimo das
competências;
Em longo prazo: Reciclagem, modificação do plano de carreira.
Qualificação doméstica que a firma garante, completa e estende.
16. Mão de obra periférica I
Empregada a título permanente nos trabalhos de escritório, de
vigilância, de manutenção e no teste das instalações.
Não possui grandes qualificações, pode ser renovada, completada ou
substituída à vontade por recrutamento entre os desempregados.
17. Precariamente empregada, com frequência em tempo parcial.
Trabalhadores provisórios, temporários, número que a emprsa
pode ajustar em resposta às flutuações de mercado.
Mão de obra periférica II
19. Pessoal sem nenhuma qualificação especial: Limpeza, transporte,
alimentação etc.
Mão-de-Obra flutuante, ocasional, de inúmeros subcontratados.
Mão de obra externa II
20. Uma ideologia corrompida do trabalho
A ideologia do trabalho duro e a
moral do esforço individual
acobertam um egoísmo
supercompetitivo e o carreirismo:
Os melhores vencem e os outros
que se virem.
21. Uma ideologia por menos trabalho?
Nessas condições, os valores de solidariedade, de equidade e de
fraternidade pedem a divisão equitativa dos empregos e das riquezas
produzidas: Isto é, uma política de redução metódica, programada,
massiva da duração do trabalho, sem respectiva perda de renda.
Todo mundo deve poder trabalhar menos para que todos
possam ganhar sua vida trabalhando.
22. A perda de sentido do trabalho
Quando o trabalhador é mediado por números em seu teclado e
sua tela... A espessura do mundo é abolida, o trabalho como
atividade material é abolido, resta apenas uma atividade
puramente intelectual ou, melhor, mental. Triunfo da
matematização da natureza.
A realidade aprendida é despojada de todas as qualidades
sensíveis, o vivido, do pensar originário desprezado. O trabalho
desapareceu porque a vida retirou-se do universo. Não há mais
ninguém, só números que perseguem números em silêncio, sem
discussão, porque insensíveis, mudos.
23. A cultura técnica é incultura de tudo o que não é técnico. Aprender
a trabalhar é desaprender a encontrar e mesmo a buscar um
sentido às relações não instrumentais com o meio ambiente e os
outros.
A perda de sentido do trabalho
24. Ponha o trabalho em seu devido lugar
O tempo da vida não precisa mais ser gerido em função do tempo
do trabalho; é o trabalho que deve encontrar seu lugar, um lugar
subordinado, em um projeto de vida.
A qualidade de vida depende da intensidade das trocas afetivas e
culturais, das relações fundadas na amizade, no amor, na
fraternidade, na ajuda mútua, e não na intensidade das relações
mercantis.