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A afro - brasilidade
Na musica contemporânea.
Como podemos definir a identidade
negra na musica brasileira e em que
contexto poderíamos entender
determinadas músicas como afro-
brasileiras? Ou seja, musicas que são
brasileiras (e não estamos falando de
“tipicamente”), mas que trazem também
a diáspora (aqui entendida como conceito
de memória).
Entende-se como memória
toda a bagagem cultural de
ordem imaterial e espiritual
(valores simbólicos como a
dança, musica, religiosidade,
etc.) como também
pequenos objetos culturais
de devoção ou não,
reproduzidos aqui no Brasil
por nossos ancestrais
africanos. A esse conjunto
chamamos de Diáspora.
Vamos levantar a seguinte questão: podemos
enquadrar o rap brasileiro como musica afro-
brasileira assim como o samba, o axé da
Bahia, etc.?
Antes de seguirmos em frente precisamos
entender que não se trata de “classificar” ou
“por em prateleiras” o assunto, mas
simplesmente refletirmos sobre nossa
pluralidade cultural que nos conduzirá a uma
compreensão mais democrática de nossa
diversidade étnica.
Algo que herdamos de nossa
ancestralidade africana: a
musicalidade! Alguns acadêmicos já
defendem que somos muito mais
musicais que literários.
Assim como o continente africano
onde as atividades durante milênios
de anos eram ritmadas pelas canções
e sons para dar impulsão ao corpo em
trabalhos pesados isso
ficou bastante evidente durante o
longo período de escravidão em
que os africanos foram
submetidos longe de sua terra
natal. Nunca se precisou tanto da
musica, do ritmo para que o
corpo suportasse as longas horas
de privação de proteínas,
trabalhos forçados e castigos de
longa exposição.
É esta musicalidade que vemos no
Blues norte-americano que por sua
vez herdou do canto dos escravos
(que cantavam para aliviar a dor dos
trabalhos forçados em campos de
algodão por exemplo). Esta mesma
forma de cantar, tão triste e bela ao
mesmo tempo, que observamos ao
andarmos em bairros periféricos
dos Estados unidos onde a maioria
da população negra encontra-se em
igrejas protestantes entoando esta
mesma musicalidade carregada de
dor e sofrimento do canto dos
escravos entendidas no contexto
contemporâneo como musica
Gospel.
Se existia algo que o
senhor de escravos
jamais poderia tirar
do escravo africano
era a sua memória.
E é esta memória
que suportou a
longa viagem pelo
oceano que aportou
em terras estranhas
toda a bagagem
imaterial de cultural,
religiosidade e
musicalidade onde
mais tarde, símbolos
e ritos seriam
reconstituídos
graças a esta
memória.
Memória esta que
chamamos de
diáspora. Porque
traz todos os valores
culturais de uma ou
mais etnias).
É por isso que podemos ver o rap como mais
um elemento desta diáspora. Assim como todo
o movimento hip-hop que só pelo simples fato
de ser considerada (ou já foi considerado) uma
“sub” cultura ou “cultura marginal” sustenta
nossa tese.
É importante observar que a cultura hip-hop é
uma cultura urbana. Boa parte de expressões
artísticas nessa urbanidade, trazem consigo a
africanidade (afro brasilidade no caso daqui e
afro americanidade no caso norte-americano).
Em outras palavras: é preciso eliminar o
equivoco de que só porque o rap brasileiro
tem influências do rap americano não
signifique que ele não pertença a raízes da
diáspora africana.
Assim como o rap brasileiro o rap americano (como
também todo o movimento hip-hop já mencionado),
também pertence à diáspora africana. Por isso
podemos dizer que o rap norte-americano é também
afro-americano porque traz em si memórias da
diáspora.
Mas como esta memória se dá no rap que fala
apenas em questões raciais e sociais?
Parece que já temos
a resposta:
O ritmo do rap
talvez não seja
diretamente ligado a
matriz africana por
ser de bases
eletrônicas e por
isso bastante
contemporâneo,
mas suas letras
denunciam isso por
que:
Fala de questões
raciais:
Como o racismo e a
condição do negro
nas relações de
poder na sociedade
contemporânea.
Assim como uma
busca de uma
identidade
visibilizada e
estimada para que
ele próprio sinta
orgulho de suas
origens e história.
Mc Sombra – Rap que funde regionalismo e
letras politizadas com doses de ironia.
E de questões sociais:
Como o negro está inserido
materialmente e espiritualmente na
sociedade capitalista-globalizada-
contemporânea e até que ponto a
história, arbitrariamente construída
pela visão politica ocidental, deixou o
negro (mulato, pardo, as várias etnias
indígenas pan-americanas e demais
etnias consideradas sub-humanas),
excluídas desse mesmo sistema de
consumo e sobrevivência por não
serem europeias, na maioria dos
casos em total estado de miséria
social e econômica.
Além do mais, estas letras
testemunham a permanente violência
urbana na qual o jovem negro é
vitima todo o momento em nossa
sociedade veladamente racista.
Outros grupos étnicos que são vistos
como marginais pela sociedade
também vem no rap sua forma de
protestar contra as injustiças de seu
povo e o descaso das autoridades
como o grupo de jovens rappers da
etnia indígenas Gurani-Kaiowas
pertencentes ao grupo de rap Bro
mc’s.
Quando falamos do funk carioca e o de
São Paulo a coisa fica ainda mais
complexa.
Geralmente suas letras são explicitas
com forte teor sexual, violento e
apologético ao reverenciar facções
ligadas ao narcotráfico. As mulheres são
retratadas (segundo opinião do senso
comum) como “objetos” no sentido
passivo ou até mesmo ativo quando
cantado pelas próprias mulheres.
Outro fator que pesa muito ao se criticar
negativamente a musica do funk é
relacionado aos “erros da língua
portuguesa” em suas letras.
É preciso entender que dada à realidade
que estes compositores vivem e na qual a
dinâmica cultural machista em que estão
inseridos (assim como todos nós) estas
letras respondem imediatamente o que
estes artistas apreendem do mundo. A
violência na qual são obrigados a
vivenciar no dia a dia da comunidade. A
forma como o corpo feminino é visto
como parte de um sistema de consumo
assim como é bem retratado nas letras do
funk ostentação; a própria liberação
sexual dessas mulheres que durante
séculos foram oprimidas sexualmente e
socialmente obedientes a normas de
etiquetas do tipo “menina de família”;
Na web, é comum encontramos reproduções que criticam o funk sem que as pessoas
que a postam praticam o mínimo de relativismo cultural onde o que está sendo
julgado sem o mínimo respeito é a cultura do Outro e não os próprios gostos e a
própria cultura daquele que o posta.
Quanto às letras com seus “graves erros de concordância” e
demais erros normativos da língua: bem, é também preciso
entender que estamos falando aqui de uma poética e a poética
vem antes da escrita, e não de norma culta da língua portuguesa
que nada mais é que, se tratando da letra do funk, seus detratores
buscam formas de desqualificar essa musicalidade.
Afinal, você queria que aquele musico que foi obrigado a se
afastar da escola muito cedo para sustentar sua família escrevesse
letras como um Chico Buarque, no sentido culto da palavra?
Elas Gostam Assim
Mc Gui
Vida suave, ai que vida tranquila
Ela quer cordão de ouro pra falar
que é bandida
Ostentação, nois tá esbanjando
Vem com nóis, parceiro, vem
Oh, vem com nóis tamo folgando
Tá de Veloster, nóis mete aquela
Lacoste
O cê tá de i30, nóis põe aquela
Hollister
Tô no contato em busca do cifrão
Tô no corre todo dia pra manter a
condição
Elas gostam assim
Elas gostam assim
Ela que o camarote pra fogar com
os MCs
Elas gostam assim
Elas gostam assim
Ela que o camarote pra fogar com
os MCs
De RR de IX35, olha pro nosso
bonde
Todo mundo tá sorrindo
E aê, parceiro, se liga no meu
papo
Vem com nóis, parceiro vem o
Vem que é o bonde dos bravo
De RR de IX35, olha pro nosso bonde
Todo mundo tá sorrindo
E aê, parceiro, se liga no meu papo
Vem com nóis, parceiro vem o
Vem que é o bonde dos bravo
Vale lembrar que a batida do funk carioca em
especial, carrega em si a batida como memória
dessa diáspora africana. Ao isolar estas batidas
da musica do funk, percebemos serem as
mesmas daquelas batidas feitas pelos ogãs (ou
ogans) dos terreiros afro-brasileiros. Muito
mais evidente que a própria batida do funk
norte-americano.
É importante ao amante do funk fazer uma
pesquisa histórica sobre a história do funk. Ele
descobrirá que, tanto como o funk americano
como o funk carioca tem muito em comum.
Antes de fecharmos deixo aqui o
conceito de um filósofo chamado Martin
Heidegger que via na obra de arte um
testemunho da ação humana sobre o
mundo. E no caso do rap e do funk
carioca estas letras não estão no mundo
para incentivar o jovem a “levar ao pé da
letra” o que está ali, mas justamente o
contrário. Seu testemunho é como o
holocausto foi. Não se deve repeti-lo.
Estas letras existem para dar visibilidade
aos invisíveis e só através dessa
visibilidade podemos dizer que a
igualdade é respeitar as diferenças.
Acima de tudo estas letras são politicas e
não apologéticas no sentido estrito da
palavra.
Em resumo: a musicalidade afro-
brasileira na contemporaneidade é
entendida assim porque ela trás
visibilidade aos invisíveis e é por isso que
para muitos ela deveria permanecer
invisível porque sua mensagem é
também politica.
Atividades:1) Pesquisa musical:
Inicialmente, com orientação do professor, os
alunos farão uma pesquisa sobre musicas
começando pelos sambas datando a época em
que estes foram compostos, juntos com o
professor analisarão as letras e traçarão um
parâmetro histórico e politico dessas canções
assim como tentar entender por este meio
como as relações raciais estavam sendo
tratadas no período.
No segundo momento, os alunos agora farão
pesquisas com letras que fazem parte do
mundo do funk (carioca), rap nacional e
internacional. Também trarão à discussão
estilos musicais e suas letras de fora, como o
blues, jazz, rap americano etc.
2) laboratório de produção musical:
Os alunos se dividirão em grupos onde cada grupo
produzirá sua própria canção com letras originais
compostas pelo próprio grupo. A proposta do
professor é que estes alunos tragam experiências de
seu cotidiano para a linguagem da musica.
Material de apoio:
Por ser bastante extensivo o professor poderá agregar outros elementos como por
exemplo outros grupos de rap e funk. Abaixo apenas deixo relacionado as minhas
próprias pesquisas para servir de norte.
Bro Mc´s - https://youtu.be/oLbhGYfDmQg
https://youtu.be/4E8sEPfTz5I
http://www.tecmundo.com.br/musica/22283-bro-mc-s-grupo-de-rap-
indigena-compoe-letras-em-guarani.htm
Câmbio Negro: https://www.vagalume.com.br/cambio-negro/sub-raca.html
https://youtu.be/pg0xuzcX60k
Facção Central: https://youtu.be/SF35eKjezdA
https://www.letras.mus.br/faccao-central/183847/
Glory - https://www.vagalume.com.br/john-legend/glory-feat-common-traducao.html
https://youtu.be/HUZOKvYcx_o
História do samba: https://youtu.be/LsukHVgW3x8
https://youtu.be/N45k0NMBr-A
debate com apoio de artigos:
http://www.geledes.org.br/interno-da-fundacao-
casa-e-finalista-de-concurso-nacional-de-poemas/
http://www.geledes.org.br/funk-racismo-e-
periferia-fica-ligado-que-contagiante-nao-e-batida-
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A afro brasilidade na musica contemporânea.

  • 1. A afro - brasilidade Na musica contemporânea.
  • 2. Como podemos definir a identidade negra na musica brasileira e em que contexto poderíamos entender determinadas músicas como afro- brasileiras? Ou seja, musicas que são brasileiras (e não estamos falando de “tipicamente”), mas que trazem também a diáspora (aqui entendida como conceito de memória).
  • 3. Entende-se como memória toda a bagagem cultural de ordem imaterial e espiritual (valores simbólicos como a dança, musica, religiosidade, etc.) como também pequenos objetos culturais de devoção ou não, reproduzidos aqui no Brasil por nossos ancestrais africanos. A esse conjunto chamamos de Diáspora.
  • 4. Vamos levantar a seguinte questão: podemos enquadrar o rap brasileiro como musica afro- brasileira assim como o samba, o axé da Bahia, etc.? Antes de seguirmos em frente precisamos entender que não se trata de “classificar” ou “por em prateleiras” o assunto, mas simplesmente refletirmos sobre nossa pluralidade cultural que nos conduzirá a uma compreensão mais democrática de nossa diversidade étnica.
  • 5. Algo que herdamos de nossa ancestralidade africana: a musicalidade! Alguns acadêmicos já defendem que somos muito mais musicais que literários. Assim como o continente africano onde as atividades durante milênios de anos eram ritmadas pelas canções e sons para dar impulsão ao corpo em trabalhos pesados isso ficou bastante evidente durante o longo período de escravidão em que os africanos foram submetidos longe de sua terra natal. Nunca se precisou tanto da musica, do ritmo para que o corpo suportasse as longas horas de privação de proteínas, trabalhos forçados e castigos de longa exposição.
  • 6. É esta musicalidade que vemos no Blues norte-americano que por sua vez herdou do canto dos escravos (que cantavam para aliviar a dor dos trabalhos forçados em campos de algodão por exemplo). Esta mesma forma de cantar, tão triste e bela ao mesmo tempo, que observamos ao andarmos em bairros periféricos dos Estados unidos onde a maioria da população negra encontra-se em igrejas protestantes entoando esta mesma musicalidade carregada de dor e sofrimento do canto dos escravos entendidas no contexto contemporâneo como musica Gospel.
  • 7. Se existia algo que o senhor de escravos jamais poderia tirar do escravo africano era a sua memória. E é esta memória que suportou a longa viagem pelo oceano que aportou em terras estranhas toda a bagagem imaterial de cultural, religiosidade e musicalidade onde mais tarde, símbolos e ritos seriam reconstituídos graças a esta memória. Memória esta que chamamos de diáspora. Porque traz todos os valores culturais de uma ou mais etnias).
  • 8. É por isso que podemos ver o rap como mais um elemento desta diáspora. Assim como todo o movimento hip-hop que só pelo simples fato de ser considerada (ou já foi considerado) uma “sub” cultura ou “cultura marginal” sustenta nossa tese. É importante observar que a cultura hip-hop é uma cultura urbana. Boa parte de expressões artísticas nessa urbanidade, trazem consigo a africanidade (afro brasilidade no caso daqui e afro americanidade no caso norte-americano). Em outras palavras: é preciso eliminar o equivoco de que só porque o rap brasileiro tem influências do rap americano não signifique que ele não pertença a raízes da diáspora africana. Assim como o rap brasileiro o rap americano (como também todo o movimento hip-hop já mencionado), também pertence à diáspora africana. Por isso podemos dizer que o rap norte-americano é também afro-americano porque traz em si memórias da diáspora. Mas como esta memória se dá no rap que fala apenas em questões raciais e sociais?
  • 9. Parece que já temos a resposta: O ritmo do rap talvez não seja diretamente ligado a matriz africana por ser de bases eletrônicas e por isso bastante contemporâneo, mas suas letras denunciam isso por que: Fala de questões raciais: Como o racismo e a condição do negro nas relações de poder na sociedade contemporânea. Assim como uma busca de uma identidade visibilizada e estimada para que ele próprio sinta orgulho de suas origens e história. Mc Sombra – Rap que funde regionalismo e letras politizadas com doses de ironia.
  • 10. E de questões sociais: Como o negro está inserido materialmente e espiritualmente na sociedade capitalista-globalizada- contemporânea e até que ponto a história, arbitrariamente construída pela visão politica ocidental, deixou o negro (mulato, pardo, as várias etnias indígenas pan-americanas e demais etnias consideradas sub-humanas), excluídas desse mesmo sistema de consumo e sobrevivência por não serem europeias, na maioria dos casos em total estado de miséria social e econômica. Além do mais, estas letras testemunham a permanente violência urbana na qual o jovem negro é vitima todo o momento em nossa sociedade veladamente racista.
  • 11. Outros grupos étnicos que são vistos como marginais pela sociedade também vem no rap sua forma de protestar contra as injustiças de seu povo e o descaso das autoridades como o grupo de jovens rappers da etnia indígenas Gurani-Kaiowas pertencentes ao grupo de rap Bro mc’s. Quando falamos do funk carioca e o de São Paulo a coisa fica ainda mais complexa. Geralmente suas letras são explicitas com forte teor sexual, violento e apologético ao reverenciar facções ligadas ao narcotráfico. As mulheres são retratadas (segundo opinião do senso comum) como “objetos” no sentido passivo ou até mesmo ativo quando cantado pelas próprias mulheres.
  • 12. Outro fator que pesa muito ao se criticar negativamente a musica do funk é relacionado aos “erros da língua portuguesa” em suas letras. É preciso entender que dada à realidade que estes compositores vivem e na qual a dinâmica cultural machista em que estão inseridos (assim como todos nós) estas letras respondem imediatamente o que estes artistas apreendem do mundo. A violência na qual são obrigados a vivenciar no dia a dia da comunidade. A forma como o corpo feminino é visto como parte de um sistema de consumo assim como é bem retratado nas letras do funk ostentação; a própria liberação sexual dessas mulheres que durante séculos foram oprimidas sexualmente e socialmente obedientes a normas de etiquetas do tipo “menina de família”;
  • 13. Na web, é comum encontramos reproduções que criticam o funk sem que as pessoas que a postam praticam o mínimo de relativismo cultural onde o que está sendo julgado sem o mínimo respeito é a cultura do Outro e não os próprios gostos e a própria cultura daquele que o posta.
  • 14. Quanto às letras com seus “graves erros de concordância” e demais erros normativos da língua: bem, é também preciso entender que estamos falando aqui de uma poética e a poética vem antes da escrita, e não de norma culta da língua portuguesa que nada mais é que, se tratando da letra do funk, seus detratores buscam formas de desqualificar essa musicalidade. Afinal, você queria que aquele musico que foi obrigado a se afastar da escola muito cedo para sustentar sua família escrevesse letras como um Chico Buarque, no sentido culto da palavra?
  • 15. Elas Gostam Assim Mc Gui Vida suave, ai que vida tranquila Ela quer cordão de ouro pra falar que é bandida Ostentação, nois tá esbanjando Vem com nóis, parceiro, vem Oh, vem com nóis tamo folgando Tá de Veloster, nóis mete aquela Lacoste O cê tá de i30, nóis põe aquela Hollister Tô no contato em busca do cifrão Tô no corre todo dia pra manter a condição Elas gostam assim Elas gostam assim Ela que o camarote pra fogar com os MCs Elas gostam assim Elas gostam assim Ela que o camarote pra fogar com os MCs De RR de IX35, olha pro nosso bonde Todo mundo tá sorrindo E aê, parceiro, se liga no meu papo Vem com nóis, parceiro vem o Vem que é o bonde dos bravo De RR de IX35, olha pro nosso bonde Todo mundo tá sorrindo E aê, parceiro, se liga no meu papo Vem com nóis, parceiro vem o Vem que é o bonde dos bravo
  • 16. Vale lembrar que a batida do funk carioca em especial, carrega em si a batida como memória dessa diáspora africana. Ao isolar estas batidas da musica do funk, percebemos serem as mesmas daquelas batidas feitas pelos ogãs (ou ogans) dos terreiros afro-brasileiros. Muito mais evidente que a própria batida do funk norte-americano. É importante ao amante do funk fazer uma pesquisa histórica sobre a história do funk. Ele descobrirá que, tanto como o funk americano como o funk carioca tem muito em comum.
  • 17. Antes de fecharmos deixo aqui o conceito de um filósofo chamado Martin Heidegger que via na obra de arte um testemunho da ação humana sobre o mundo. E no caso do rap e do funk carioca estas letras não estão no mundo para incentivar o jovem a “levar ao pé da letra” o que está ali, mas justamente o contrário. Seu testemunho é como o holocausto foi. Não se deve repeti-lo. Estas letras existem para dar visibilidade aos invisíveis e só através dessa visibilidade podemos dizer que a igualdade é respeitar as diferenças. Acima de tudo estas letras são politicas e não apologéticas no sentido estrito da palavra. Em resumo: a musicalidade afro- brasileira na contemporaneidade é entendida assim porque ela trás visibilidade aos invisíveis e é por isso que para muitos ela deveria permanecer invisível porque sua mensagem é também politica.
  • 18. Atividades:1) Pesquisa musical: Inicialmente, com orientação do professor, os alunos farão uma pesquisa sobre musicas começando pelos sambas datando a época em que estes foram compostos, juntos com o professor analisarão as letras e traçarão um parâmetro histórico e politico dessas canções assim como tentar entender por este meio como as relações raciais estavam sendo tratadas no período. No segundo momento, os alunos agora farão pesquisas com letras que fazem parte do mundo do funk (carioca), rap nacional e internacional. Também trarão à discussão estilos musicais e suas letras de fora, como o blues, jazz, rap americano etc. 2) laboratório de produção musical: Os alunos se dividirão em grupos onde cada grupo produzirá sua própria canção com letras originais compostas pelo próprio grupo. A proposta do professor é que estes alunos tragam experiências de seu cotidiano para a linguagem da musica.
  • 19. Material de apoio: Por ser bastante extensivo o professor poderá agregar outros elementos como por exemplo outros grupos de rap e funk. Abaixo apenas deixo relacionado as minhas próprias pesquisas para servir de norte. Bro Mc´s - https://youtu.be/oLbhGYfDmQg https://youtu.be/4E8sEPfTz5I http://www.tecmundo.com.br/musica/22283-bro-mc-s-grupo-de-rap- indigena-compoe-letras-em-guarani.htm Câmbio Negro: https://www.vagalume.com.br/cambio-negro/sub-raca.html https://youtu.be/pg0xuzcX60k Facção Central: https://youtu.be/SF35eKjezdA https://www.letras.mus.br/faccao-central/183847/ Glory - https://www.vagalume.com.br/john-legend/glory-feat-common-traducao.html https://youtu.be/HUZOKvYcx_o
  • 20. História do samba: https://youtu.be/LsukHVgW3x8 https://youtu.be/N45k0NMBr-A debate com apoio de artigos: http://www.geledes.org.br/interno-da-fundacao- casa-e-finalista-de-concurso-nacional-de-poemas/ http://www.geledes.org.br/funk-racismo-e- periferia-fica-ligado-que-contagiante-nao-e-batida- mas-tambem-o-instrumento-de-luta/