O documento discute a relação de ajuda segundo Carkhuff, definindo-a como um processo de promoção da mudança construtiva e do autoconhecimento da pessoa. A ajuda visa ajudar a pessoa a desenvolver suas capacidades e potencialidades de forma autônoma, através de um acompanhamento que estimula a autoexploração e tomada de decisões. O animador escuta ativamente, reflete o entendimento de volta e incentiva a ação, respeitando o protagonismo da pessoa no processo.
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
Relação de ajuda segundo Carkhuff
1. João Miguel Pereira – Psicologia Pastoral, Seminário Conciliar de Braga, 2020
Síntese sobre a relação de ajuda, segundo Carkhuff
Ajudar é, para Carkhuff, “o acto de promover numa pessoa uma mudança construtiva no
comportamento, de modo a aumentar a dimensão afetiva da vida individual e a tornar possível um
maior grau de controlo pessoal nas atividades que a pessoa deverá desenvolver”. Visa ajudar a pessoa
a crescer em todas as próprias capacidades e potencialidades tornando-se cada vez mais ela mesma.
Para isto, é necessário que a pessoa tome progressiva consciência quer das suas capacidades, quer das
suas carências. Ao mesmo tempo, em linha com a corrente da psicologia humanística, deve haver uma
valorização dos valores intrínsecos que a pessoa é chamada a fazer emergir desde dentro de si mesma
e a progressivamente desenvolver na sua vida. Contemporaneamente deve existir o desenvolvimento
das várias funções psíquicas: intelectual, afetiva, social e moral.
Ajudar é facilitar o processo de aprendizagem, isto é, de mudança, no qual o individuo é o
protagonista capaz de promover em si um processo de transformação e de melhoramento cujo fruto
será a aquisição de novas habilidades ou conhecimentos. As instituições e as estruturas têm, por isso,
uma função secundária. Neste processo de aprendizagem, o indivíduo vai buscar elementos ao próprio
quadro de referência, não a modelos externos ou a disposições que venham de fora, sem serem
assumidos como próprios. A aprendizagem afeta a pessoa por inteiro, todos os seus setores.
A pessoa é apoiada no processo gradual, cada vez mais profundo, de exploração e
conhecimento de si mesma e de um compromisso concreto cada vez mais alargado. Aqui, o
acompanhante é um animador que estimula essa exploração e que conduz à tomada de decisões
operativas. Ele acolhe cada elemento que emerge durante o colóquio e transforma-o em motivo de
reflexão que é proposta ao indivíduo e aprofundada com sucessivas intervenções. O indivíduo deve
ficar aberto e recetivo ao raciocínio cada vez mais aprofundado, bem como aos frutos que daí vão
brotando, e também aos diversos feed-back que podem chegar seja do ambiente, seja do próprio mundo
interior, durante e depois do colóquio.
Neste colóquio, o animador deve começar por manifestar interesse, abertura e acolhimento pelo
indivíduo e por aquilo que ele possa ter a dizer1
. Trata-se de um envolvimento construtivo. Esta
resposta primordial do acompanhante à presença do indivíduo (acompanhado) vai estimular neste um
processo de autoexploração (para chegar a esclarecer em que ponto ele se encontra em relação a si
mesmo, ao próprio mundo, às pessoas para ele significativas, às situações por resolver). O animador
1
Prestar atenção fisicamente: É oportuno que seja mantida uma frequente comunicação com o olhar, embora evitando fixar
continuamente a pessoa para a não colocar em embaraço. Observação e empatia: perceber os comportamentos não-verbais para
compreender cada vez mais a fundo o estado de ânimo da pessoa. Isto serve para o animador formar uma primeira impressão da mesma
sem constituir, ao início, uma base atendível para formular avaliações e juízos sobre a pessoa, pois deverá ser verificada em base a outros
dados. Escutar com autenticidade: a pessoa, acolhida com bondade e escutada com atenção e interesse sincero, experimenta
concretamente o benefício de sentir-se digna de consideração, sente-se cada vez mais interessada em continuar o colóquio e estimulada
em empenhar-se para superar as dificuldades, dispondo-se finalmente a escutar o animador com igual atenção.
2. vai depois “personalizar”, isto é, vai dirigindo o diálogo na direção do que lhe parece ser o cerne da
questão. Ele faz isso devolvendo ao indivíduo o que lhe parece ter compreendido da mensagem2
, seja
verbal ou não verbal (sentimentos e estado de espírito3
). Isso poderá fazer-se questionando: “o que me
quer dizer é que…?”; “se bem compreendi, você disse-me…?”. Estimula, assim, o indivíduo a refletir
sobre si mesmo (auto-compreensão), de modo que ele compreenderá cada vez mais claramente em que
ponto ele se encontra naquele momento. A pessoa é ajudada a tomar consciência do problema que a
perturba, das suas potencialidades e do tipo de empenho que pode e entende assumir em relação à meta
que ela mesma se propõe. Verbalizando os seus pensamentos e sentimentos, o individuo vai
progressivamente conquistando uma visão mais clara sobre os mesmos, descobrindo cada vez mais
profundamente o que o habita interiormente4
. As pausas densas de reflexão são positivas no colóquio:
ajudam a pessoa a ir mais profundo em si mesma e no caso do acompanhante, estes silêncios são por
ela percebidos como máxima atenção e interesse por ela mesma. Finalmente, o animador estimula
diretamente a pessoa à ação, para iniciar o processo de recuperação, que deverá levar a mesma pessoa
da situação em que se encontra no presente até às metas que os dois vão gradualmente esclarecendo e
amadurecendo com unidade de intenções. É importante que a sessão termine com essa definição de
uma meta e do caminho para alcança-la: “Você quer… (meta) e isso traduz-se em… (passos)”. Claro
que a meta não há de ser demasiado abstrata ou idealista; tem de ser ambiciosa mas também realista
(tendo em conta o ponto em que a pessoa se encontra). Ao mesmo tempo, o incentivo do animador é
relevante para que a pessoa não desista antes, sequer, de tentar. Para isso, o animador pode realçar as
capacidades e qualidades que o indivíduo manifestou ter durante o diálogo, apontando-as como fortes
recursos para o sucesso do alcance da meta desejada. O animador não deve salientar excessivamente
as carências da pessoa, contudo sem deixar de centrar nela a razão dos seus sucessos ou fracassos5
(pois há uma forte tendência para culpar os outros). Agora, o encontro pode considerar-se concluído6
.
No tempo que vai até ao colóquio seguinte, a pessoa deverá empenhar-se no propósito estabelecido,
ficando aberta ao feed-back que lhe chega a partir das próprias reações interiores (feed-back subjetivo)
e do ambiente (feed-back objetivo), na sequência da mudança introduzida no próprio comportamento.
Essas reações serão retomadas no encontro seguinte e avaliadas seguindo o mesmo processo.
2
Não se trata de um reproduzir o que se ouviu “tipo gravador”, mas sim de um modo de participação que por um lado certifica a pessoa
da atenção e interesse efetivo do animador no seu problema, fazendo uma espécie de ressonância, e por outro lado oferece ao animador
a possibilidade de verificar até que ponto percebeu o mundo interior do indivíduo. O animador abster-se-á de responder com elementos
de interpretação, avaliação, preconceito, comentários ou adivinhar aquilo que não consegue reformular.
3
Pode acontecer que o animador não consiga individuar o sentimento de que a pessoa é animada. Nesse caso, pode questionar a pessoa
sobre como se sente. É oportuno que a questão seja precedida de uma breve reformulação do conteúdo que está na base desse sentimento:
“Você disse-me que … . Como é que isto o faz sentir-se?”.
4
O animador ajuda a pessoa a tomar consciência dos motivos que estão na base do seu estado de espírito. Isto confere um significado
racional aos sentimentos, a pessoa consegue compreender com clareza as próprias reações, enfrentá-las, dissipar a ansiedade, fazer uma
exploração ainda mais profunda empenhando-se em superar as dificuldades.
5
O animador deve poupar-se a salientar as carências ou os erros cometidos pelo sujeito no campo operativo (comportamentos, ações,
intervenções, omissões, etc.), evitando colocar sob acusação as intensões ou as motivações. Ele deve estimular o indivíduo a procurar,
ele mesmo, o grau de responsabilidade pessoal.
6
O ideal é o colóquio não se alongar mais que 45/50 minutos.
3. Resposta do teste, Questão 3
Ao nível biológico, a sexualidade não é algo exclusivo da espécie humana. Sendo que é sobre
a dimensão biológica que assenta todo o edifício da sexualidade humana, é um erro considera-la apenas
do ponto de vista biológico. No que a esta dimensão se refere, a sexualidade tem duas missões: a
procriativa e a do prazer.
Mas a sexualidade humana está também marcada pela dimensão psicológica. Ela não é mera
pulsão (instinto), em busca de prazer e de procriação (como acontece nos entes infra-humanos), mas é
uma realidade dinâmica que abrange todas as dimensões da pessoa e está marcada pelo desejo de
estabelecer relação entre pessoas.
Nessa abertura para a relação com o outro está a grande diferença da sexualidade humana. Ela
não é apenas instintiva. Por isso, ela possui uma dimensão dialógica de abertura à alteridade e todas as
relações interpessoais são marcadas pela sexualidade dos humanos.
Na realidade, a pessoa é um ser sexuado. Toda a sua existência está marada pela sua
sexualidade, tal como as suas relações com os outros. Não há nada na personalidade de um indivíduo
que não seja trespassado pela sua dimensão sexual e pela forma saudável ou enferma como a
sexualidade está nele desenvolvida.
Na sociedade atual verifica-se uma liberalização sexual. Todos os tabus foram desfeitos, nunca
antes, como hoje, falar da sexualidade foi tão banal. O apelo à dimensão sexual do homem foi adotado
como recuso útil aos média e à publicidade. Todavia, o que a sexualidade ganhou em extensão, perdeu
em qualidade. A conjugação harmoniosa de sexo, eros e ágape foi reduzida apenas a um deles: ao sexo.
Podemos dizer que houve uma “hipergenitalização” da sexualidade, o que faz com que a mentalidade
corrente, mesmo entre os adultos, seja a de uma sexualidade infantil ou pré-adolescente. A sexualidade
genitalizada (reduzida ao prazer sexual, ao impulso sexual) é utilizada como impulsionador do
consumo (as campanhas de publicidade cada vez se servem mais de mecanismos de apelo à dimensão
sexual: p/ex. com corpos esbeltos e cada vez mais despidos) e de alienação (utilizando o isco do sexo,
o homem é pescado esquecendo-se do resto do mundo que o rodeia).
É por isso necessária uma educação sexual que alargue o horizonte do homem contemporâneo
de uma sexualidade genital (infantil) para uma sexualidade integral (madura). Desde logo, que
consciencialize que a sexualidade humana só o é verdadeiramente humana quando aberta à dimensão
meta-sexual do amor (V. Frankl). Uma sexualidade que seja reduzida à dimensão do prazer acaba por
caminhar para uma frustração sexual e existencial que resulta no auto-falimento e na infelicidade. Esta
educação deve nascer logo com a relação entre mãe e filho. Na primeira infância aprendem-se
comportamentos que não se podem aprender mais tarde. Depois, também a relação entre os pais não
pode ser escondida aos filhos: as palavras cordiais, os gestos afetuosos, a tolerância e a compreensão
4. recíproca, a troca de um beijo ou um carinho, são fatores importantíssimos na pedagogia sexual. Daqui
nasce a compreensão da sexualidade que não reduz o partner a mero “objeto sexual” para obtenção
egoística de prazer. A sexualidade vivida de modo egoísta, como procura de prazer e não como
expressão de amor origina filhos indesejados, casamentos apressados, abortos, conflitos e divórcios. É
por isso urgente formar a capacidade de amar. Afinal, numa onda de inflação do sexo, da sexualidade
livre, desinibida e indiscriminada, o futuro ato sexual assumirá sempre mais o valor de um aperto de
mão que se dá facilmente, tantas vezes indiferenciado.