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Um dos polêmicos pontos que está sendo levantado na campanha para a Presidência da 
República é a questão da autonomia do Banco Central. É o tipo de proposta que vem 
revestida de uma linguagem aparentemente técnica, mas que esconde uma perigosa 
submissão de uma sociedade já desprovida de autonomia suficiente para fiscalizar coisas 
que mexem com o bolso e com o cotidiano das pessoas. 
Em recente artigo que escrevi para a Christian Aid, onde tratamos do tema entre Tributos e 
Ética, destaquei que o Brasil vive hoje sob o império da financialização da economia, no 
qual, como simples cidadãos, não temos nenhum controle sobre as decisões 
macro-econômicas tomadas nos gabinetes dos que mexem com a economia nacional. 
Por isso, defendo cada vez mais uma proposta de controle social da política econômica que 
não deve e nem pode ser assunto privado de uma dezena de economistas e tributaristas 
investidos de um poder de alterar - segundo os ventos de mercado - taxas, juros e outros 
índices que afetam diretamente os salários, o crédito e as dívidas tanto públicas 
(entendendo-se aqui as dívidas dos entes federativos) quanto privadas - aquelas que o 
assalariado comum contrai para garantir seu consumo básico e sua sobrevivência. 
Todos nós sabemos que bancos e instituições financeiras vivem e lucram com o manejo do 
capital de forma implacável, inexorável, beneficiando os mais abastados e sacrificando a 
base da pirâmide social. O Brasil virou um paraíso dos bancos. O setor financeiro tem agido 
- sob o dogma do livre mercado - com liberdade e qualquer iniciativa de controle de seu 
apetite é imediatamente rechaçada a partir do poder que seus ativos tem sobre empresas, 
governos e mesmo indivíduos. 
Mas tudo isso acontece ainda num país onde o Banco Central ainda tem alguma orientação 
técnico-política do Governo Federal. 
Agora imaginem um Banco Central autônomo, regendo suas políticas e decisões por critérios 
completamente desvinculados de qualquer orientação política. Sabe quem vai mandar muito 
mais do que já manda? O setor financeiro. Como se sabe, a derrocada dos chamados bancos 
estatais, na onda privaticista que infectou os gestores brasileiros dos últimos 30 anos, 
fragilizou e internacionalizou o capital financeiro do país. Hoje, as regulações do capital 
brasileiro não são definidas por interesses brasileiros, mas sim ao sabor do mercado 
internacional onde estão as matrizes dos principais grupos financeiros que atuam no país. 
Um Banco Central independente estará ainda mais suscetível a esse controle que é muito 
mais perigoso do que o modelo atual. A financialização da economia será ainda mais voraz e 
numa selva de feras em busca de mais lucro, a sociedade brasileira estará à mercê do 
capital especulativo em detrimento do capital produtivo. Salários, juros, índices de 
indexação, divida pública e privada, investimento social, entre outros pilares da complexa 
estrutura econômica e da relação entre agentes econômicos serão regulados perigosamente
pelas nervosas agencias de regulação financeira, pelos bancos e, sempre, sob perspectiva 
tecnocrata. 
A sociedade brasileira não pode abrir mão da sua soberania. Precisamos ampliar o poder de 
monitoramento da sociedade através de uma reforma política ampla. Esta proposta tem 
mobilizado as pessoas em torno do projeto de uma Constituinte exclusiva que altere a 
configuração do Estado brasileiro, superando os limites de uma simples democracia 
representativa. Os vícios do Estado brasileiro tem apenas contribuído para excluir das 
esferas decisórias a sociedade civil, transferindo à representação política uma procuração 
em branco. Ou, usando a analogia do que se pretende com a autonomia do Banco central, 
um cheque em branco. A conta, lembremos, é paga pelo cidadão comum! 
++Francisco de Assis da Silva

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  • 1. Um dos polêmicos pontos que está sendo levantado na campanha para a Presidência da República é a questão da autonomia do Banco Central. É o tipo de proposta que vem revestida de uma linguagem aparentemente técnica, mas que esconde uma perigosa submissão de uma sociedade já desprovida de autonomia suficiente para fiscalizar coisas que mexem com o bolso e com o cotidiano das pessoas. Em recente artigo que escrevi para a Christian Aid, onde tratamos do tema entre Tributos e Ética, destaquei que o Brasil vive hoje sob o império da financialização da economia, no qual, como simples cidadãos, não temos nenhum controle sobre as decisões macro-econômicas tomadas nos gabinetes dos que mexem com a economia nacional. Por isso, defendo cada vez mais uma proposta de controle social da política econômica que não deve e nem pode ser assunto privado de uma dezena de economistas e tributaristas investidos de um poder de alterar - segundo os ventos de mercado - taxas, juros e outros índices que afetam diretamente os salários, o crédito e as dívidas tanto públicas (entendendo-se aqui as dívidas dos entes federativos) quanto privadas - aquelas que o assalariado comum contrai para garantir seu consumo básico e sua sobrevivência. Todos nós sabemos que bancos e instituições financeiras vivem e lucram com o manejo do capital de forma implacável, inexorável, beneficiando os mais abastados e sacrificando a base da pirâmide social. O Brasil virou um paraíso dos bancos. O setor financeiro tem agido - sob o dogma do livre mercado - com liberdade e qualquer iniciativa de controle de seu apetite é imediatamente rechaçada a partir do poder que seus ativos tem sobre empresas, governos e mesmo indivíduos. Mas tudo isso acontece ainda num país onde o Banco Central ainda tem alguma orientação técnico-política do Governo Federal. Agora imaginem um Banco Central autônomo, regendo suas políticas e decisões por critérios completamente desvinculados de qualquer orientação política. Sabe quem vai mandar muito mais do que já manda? O setor financeiro. Como se sabe, a derrocada dos chamados bancos estatais, na onda privaticista que infectou os gestores brasileiros dos últimos 30 anos, fragilizou e internacionalizou o capital financeiro do país. Hoje, as regulações do capital brasileiro não são definidas por interesses brasileiros, mas sim ao sabor do mercado internacional onde estão as matrizes dos principais grupos financeiros que atuam no país. Um Banco Central independente estará ainda mais suscetível a esse controle que é muito mais perigoso do que o modelo atual. A financialização da economia será ainda mais voraz e numa selva de feras em busca de mais lucro, a sociedade brasileira estará à mercê do capital especulativo em detrimento do capital produtivo. Salários, juros, índices de indexação, divida pública e privada, investimento social, entre outros pilares da complexa estrutura econômica e da relação entre agentes econômicos serão regulados perigosamente
  • 2. pelas nervosas agencias de regulação financeira, pelos bancos e, sempre, sob perspectiva tecnocrata. A sociedade brasileira não pode abrir mão da sua soberania. Precisamos ampliar o poder de monitoramento da sociedade através de uma reforma política ampla. Esta proposta tem mobilizado as pessoas em torno do projeto de uma Constituinte exclusiva que altere a configuração do Estado brasileiro, superando os limites de uma simples democracia representativa. Os vícios do Estado brasileiro tem apenas contribuído para excluir das esferas decisórias a sociedade civil, transferindo à representação política uma procuração em branco. Ou, usando a analogia do que se pretende com a autonomia do Banco central, um cheque em branco. A conta, lembremos, é paga pelo cidadão comum! ++Francisco de Assis da Silva